Acadêmicos de Niterói tem desfile marcado pela boa plástica, mas apresenta canto irregular e peca em evolução
Por Raphael Lacerda e fotos de Nelson Malfacini
A Acadêmicos de Niterói foi a penúltima escola a entrar na Marquês de Sapucaí nesta sexta-feira de desfiles da Série Ouro. Com o enredo “Catopês – Um céu de fitas”, do carnavalesco Tiago Martins, a agremiação se destacou pela boa plástica, mas teve um canto irregular e apresentou diversas falhas em evolução – que resultaram em buracos ao longo da Passarela do Samba. A agremiação também foi prejudicada pelo vazamento de áudio que ocorreu no som oficial da Sapucaí, em pleno desfile.
Comissão de Frente
Sob o comando do coreógrafo Fábio Batista, a comissão de frente representou o “corpo de fitas” e contou com um tripé. A equipe foi composta por 17 componentes – sendo dez homens e sete mulheres -, e apresentou uma coreografia bem entrosada, que contou com a nova iluminação do Sambódromo. Ao longo dos quatro módulos, o segmento se saiu bem e fez uma apresentação positiva.
Mestre-sala e Porta-Bandeira
A dupla formada por Vinícius Pessanha e Jack Pessanha desfilou com uma fantasia bem acabada, batizada de “Pluralidades” – representou as diversidades culturais religiosas dos negros às manifestações das congadas das Minas Gerais. A dupla fez uma boa apresentação na primeira cabine de jurados, com um bailado clássico e com pouca coreografia. A iluminação da Sapucaí também foi utilizada na apresentação do pavilhão. Já no terceiro módulo, o mestre-sala falhou e não conseguiu pegar a bandeira. Nos demais módulos, a conexão e sintonia entre a dupla foi positiva.
Enredo
A escola de Niterói levou para a Avenida o enredo “Catopês – Um céu de fitas”, e exaltou a fé e a cultura popular da Festa e Catopês, da cidade de Montes Claros, em Minas Gerais. A festa, que completa mais de 180 anos, teve início nas mãos dos negros das antigas fazendas na região do antigo Arraial das Formigas. Para abordar o tema, o carnavalesco Tiago Martins dividiu o desfile em três setores: “Andando pelas dobras do tempo”; “Fazer promessas em nome da fé” e “O legado da alma de Catopê”.
Alegorias
A escola desfilou com três alegorias e um tripé. O abre-alas, que representou os quilombos e as irmandades negras para a coroação dos reis e rainhas do congado e a religiosidade africana. O bom acabamento e a beleza da alegoria chamou a atenção. Apesar dos problemas na evolução dos carros, a estética deles foi um dos destaques do desfile. A plástica foi o auge da agremiação.
Fantasias
A escola levou para a avenida um desfile bastante colorido e com fantasias bem acabadas e bonitas. Entre elas, vale o destaque para a ala das baianas, que representou “O império do divino”. A ala oito, que representou “Os porta estandarte”, também se destacou com sua luxuosidade.
Harmonia
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a Acadêmicos de Niterói teve a harmonia prejudicada e foi desrespeitada por seguidos vazamentos de áudio no som oficial do Sambódromo. Sob o comando do intérprete Tuninho Jr, o carro de som de Niterói fez o seu papel e mostrou um bom entrosamento com a bateria do mestre Demétrius Luiz. A ótima condução do intérprete foi um dos pontos altos da escola. Apesar disso, o samba não teve um bom rendimento entre os componentes, que cantaram apenas alguns trechos. Alguns componentes chegavam a “pescar” os finais dos versos.
Samba-enredo
A obra foi composta por Júnior Fionda, Tem-Tem Jr., Júlio Pagé, Rod Torres, Marcelinho Santos, JB Oliveira, Marcus Lopes, Gilson Silva, Edu Casa Leme e Richard Valença. O samba-enredo não funcionou na avenida, e muitos componentes não cantavam. Apesar disso, o refrão principal “Niterói em louvação” marcava um ápice entre as alas e parte do público.
Evolução
O principal problema da Acadêmicos de Niterói nesta noite. Desde o início, o desfile foi marcado por problemas de evolução que resultaram em buracos. A última alegoria apresentou problemas ainda no início da Sapucaí, e ocasionou um buraco no primeiro módulo de jurados. A alegoria precisou ser empurrada em vários momentos ao longo da Avenida. Já na altura do setor 7, a agremiação novamente teve problemas e abriu mais um buraco, desta vez entre a ala 11 e a segunda alegoria. Por fim, no último módulo, o abre-alas e a segunda alegoria demoraram a evoluir, o que ocasionou mais dois espaços. As falhas impactaram no andamento da escola e no desempenho dos componentes.
Outros Destaques
Destaque para o entrosamento entre o carro de som e a bateria do mestre Demétrius Luiz, que apresentou um bom desempenho ao longo de toda a Marquês de Sapucaí.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Niterói no desfile
Um desfile muito bom da bateria da Acadêmicos de Niterói, comandada pelo consolidado mestre Demétrius. Uma conjunção sonora pautada pelo andamento confortável pelo equilíbrio foi produzida. É possível dizer, inclusive, que a base de trabalho de mestre Demétrius na “Cadência de Niterói” é a valorização do ritmo. Suas bossas costumas ser simples e práticas, todas intuitivas, além de bem ligados ao samba-enredo da agremiação. Uma pena somente um chapéu volumoso, desconfortável e alto que a bateria usou. O chapéu com volume acima do ideal impediu que as peças leves, que ficam na frente da bateria, tocassem no primeiro recuo. Pela pista, diretores e ritmistas foram aguerridos, garantindo a visualização de sinais com muito esforço e comprometimento.
Uma cozinha da bateria “Cadência de Niterói” com afinação privilegiada foi notada. Surdos de primeira e segunda foram educados e e precisos durante o desfile. Os surdos de terceira contribuíram com um balanço acima da média. Repiques coesos e ressonantes tocaram conectados a um naipe de caixa de guerras bastante sólido.
Na parte da frente do ritmo, uma ala de cuícas consistente foi percebida. Um naipe de chocalhos de qualidade técnica tocou interligado a uma ala de tamborins de nítida virtude musical, que executou um desenho rítmico simples, mas com bastante precisão.
Bossas simples, mas altamente funcionais foram exibidas. Arranjos com integração musical demonstrando bom gosto aliado a praticidade, que teve execuções impecáveis pelo ritmo da bateria da Niterói. Destaque para a bossa da cabeça do samba, tanto pelo impacto sonoro dos surdos, como pelo bom balanço produzido durante o arranjo musical.
A apresentação no primeiro módulo (cabine dupla) foi segura. A exibição no segundo módulo foi até superior que a anterior, com uma fluência rítmica notável entre os naipes. Já a última apresentação em cabine, mesmo ligeira, foi correta. Inclusive, deu a impressão de que era possível deixar a bateria mais alguns minutos em frente ao módulo. Um ritmo muito bom da “Cadência de Niterói”, em noite de bastante equilíbrio e consistência. Mestre Demétrius têm motivos de sobra para sair feliz da Sapucaí, com um grande desempenho de seu ritmo.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Ponte no desfile
Um grande desfile da bateria da Unidos da Ponte, sob o comando de mestre Branco Ribeiro. Uma conjunção sonora de bastante qualidade foi apresentada. Incluindo bossas potentes que acrescentaram sonoridade baiana à “Ritmo Meritiense”.
Uma bateria da Ponte muito bem afinada foi notada. Marcadores de primeira e segunda foram precisos durante o desfile. Já os surdos de terceira contribuíram com uma sonoridade envolvente. Pelos médios, um naipe de repiques coeso se exibiu em conjunto com caixas de guerra altamente ressonantes. É importante, inclusive, destacar o trabalho brilhante das caixas em bossas. Foi ela a cereja do bolo de um trabalho de concepção musical criativa de muito bom gosto, que conectou a “Ritmo Meritiense” à baianidade pedida pelo tema sobre o Dendê.
Uma parte da frente do ritmo com um desempenho elevado e a altura da cozinha da bateria da Ponte foi percebida. Um naipe de tamborins de alta profundidade técnica tocou entrelaçada com uma ala de chocalhos igualmente poderosa. A convenção rítmica dos tamborins tinha uma conexão louvável com a obra da escola e também buscava levadas baianas em alguns trechos. É possível dizer, inclusive, que o casamento musical entre tamborim e chocalho foi um ponto alto da cabeça da bateria. Cuícas sólidas e agogôs corretos, com batida pautada pela melodia, também auxiliaram no preenchimento da sonoridade das peças leves.
Bossas intimamente ligadas ao samba-enredo da escola de São João de Meriti foram exibidas com bastante capricho. Uma criação musical privilegiada foi apresentada, se aproveitando bastante da levada baiana que atrelou o ritmo da Ponte ao enredo do Dendê, numa escolha que poder ser considerada sábia.
A apresentação no primeiro módulo de julgadores (cabine dupla) foi satisfatória. Já na segunda cabine, a fluência rítmica foi até maior, garantindo uma exibição enxuta. A melhor apresentação se deu no encerramento, no último módulo de julgamento, onde com tempo de sobra por não ter entrado no recuo, a bateria da Ponte deu um verdadeiro e autêntico sacode. Mestre Branco Ribeiro, diretores e ritmistas certamente saíram satisfeitos após um grande desfile da “Ritmo Meritiense”.
Unidos da Ponte encerra primeira noite de desfiles com força da bateria, mas canto e evolução oscilam durante cortejo
Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini
A Unidos da Ponte foi a última escola a pisar na avenida na primeira noite de desfiles da Série Ouro. Impulsionado pela força da bateria, a azul e branca passou pela avenida de forma aguerrida e conseguiu levantar o público presente na Sapucaí, os ritmistas comandados pelo mestre Branco Ribeiro entraram na avenida dispostos a não deixar ninguém parado, a ver pela reação da galera, o objetivo foi alcançado. A bateria ainda ajudou a impulsionar o samba da escola, porém, mesmo assim o canto oscilou entre as alas, outro ponto de atenção foi a evolução que se mostrou problemática durante todo o desfile e alguns buracos foram observados em frente aos módulos de julgamento.
Apresentando o enredo “Tendendém – O axé do epô pupá”, desenvolvido pelo carnavalesco Renato Esteves, a escola de São João de Meriti levou para a avenida a saga do dendê desde a sua origem mítica em terras africanas até a chegada ao Brasil. A agremiação terminou sua apresentação com 53 minutos.
Comissão de Frente
A comissão de frente coreografada por Déia Rocha foi intitulada “Padê: O ponto de encontro afro-brasileiro na encruzilhada do Atlântico” e composta por 15 componentes. Através de uma visão lúdica a comissão de frente apresentou o prelúdio do enredo, onde Oyá demanda seus espectros do bambuzal e seus búfalos a missão de encontrar Elegbara para levar a mensagem e pedir permissão para que o desfile da Unidos da Ponte fosse de muito Axé. Por fim, Elegbara recebe o padê como forma de agradecimento. A fantasia foi simples, os componentes usaram um macacão preto com detalhes em laranja, já os pivôs tiveram a indumentária mais trabalhada, principalmente Elegbara. O tripé utilizado representou um bambuzal, os componentes saíram de dentro dele e no final, Oyá foi elevada, ganhando todo o destaque.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Os defensores do pavilhão azul e branco da ponte foram Emanuel Lima e Thainara Matias, o Casal de mestre-sala e porta-bandeira apresentou um dos reis do dendê Xangô em seu ritual sagrado do Ajerê, a fogueira de Xangô, a fantasia foi predominante vermelha, com detalhes em laranja e a leitura foi imediata. Ele representou o próprio Xangô e ela a faísca do ayê. A dança foi clássica, mas esbanjou força e ainda utilizou partes do samba para realizar pequenas coreografias, como na parte “Ê capoeira, ê meu ogum”, em que o mestre-sala apresentou movimentos oriundos da capoeira. A apresentação foi bem executada em todos os módulos de julgamento, vale ressaltar que em alguns momentos a iluminação cênica foi utilizada.
Enredo
O carnavalesco Renato Esteves foi o responsável por desenvolver o enredo “Tendendém – O axé do epô pupá”, se mantendo Fiel à tradição de enredos afros, a Ponte levou para a avenida a saga do dendê, desde sua origem mística em terras africanas, até a chegada ao Brasil através da diáspora. Essa história foi distribuída em quatro setores, o primeiro, denominado “Epô pupa derrama no candeal”, falou sobre a África Tribal e apresentou os reis do Dendê: Exu, Xangô, Ogum e Iansã, que são o grande panteão do Dendê. Em seguida veio o setor que falou sobre o Dendezeiro e todos os seus derivados que são utilizados nos cultos africanos, ele foi denominado “Igi-Opê, a faísca do Ayê”. O terceiro setor “Negrume, ajerê do mandingueiro” mostrou o plantio do Dendê na Bahia e como ele foi importante no processo de alforria dos escravizados, para finalizar, “Oferendas ao meu santo, o samba que desata o nó” que é quando a escola dá um salto no tempo até chegar nas Baianas Quituteiras do Acarajé e do comércio na Feira de São Joaquim.
Alegorias e Adereços
O carnavalesco Renato Esteves abusou do uso de cores em suas alegorias, o início do desfile da Ponte foi pautado nas cores quentes justamente para transportar o público para o universo do dendê. No total, foram três alegorias, que apesar de simples, contaram o enredo de forma clara. A primeira foi intitulada “Afefé de Eruexim” e trouxe a figura de Oyá, rainha do dendê na narrativa do enredo, a alegoria teve problemas para manter a direção no setor três, principalmente a parte da frente do carro, a escultura presente na parte traseira passou caída por toda a avenida. A segunda alegoria, “Yá é quituteira em São Joaquim” mostrou o encontro do dendê com a Bahia e o povo baiano, o carro retratou um grande mercado, o uso de materiais alternativos foi bem empregado, com destaque para garrafas plásticas penduradas na parte traseira . O último foi chamado de “Oferendas traz a Ponte em louvor aos orixás” e representou um grande terreiro, ele entrou na avenida ja com o dia claro e abusou do uso de estamparias, algo positivo. Porém, o acabamento apresentou falhas na parte superior.
Fantasias
A Ponte levou para avenida 17 alas, seguindo a estética vista nas alegorias, o carnavalesco Renato Esteves optou pelo uso de cores fortes na abertura da escola, o uso de materiais alternativos foi uma boa sacada para driblar as dificuldades impostas pelo orçamento, na ala 10, “Oxumarê creme de arroz e milho”, foram utilizadas colheres plásticas na cabeça. O bom uso de cores esteve presente durante todo o desfile, na ala nove, “Pra Exu e Pombagira tem marafo e dendê”, o vermelho tomou conta, já na ala 16, “Pra Nanã sarapatel”, o uso do lilás de fez presente. Apesar de materias alternativos, o conjunto de fantasias apresentado contou o enredo de forma clara, o destaque negativo ficou por conta da dificuldade que alguns passistas tiveram para sambar por conta da cabeça da fantasia, apesar de não ser pesada, ela era grande e em alguns momentos eles precisavam segurar para que ela não caísse.
Harmonia
A performance do intérprete Kleber Simpatia foi satisfatória, ele em todo momento incentivou o canto da comunidade e conduziu o microfone principal com muita garra, o entrosamento com a bateria também se mostrou eficiente, porém, nem isso foi o suficiente para que a harmonia dos componentes fosse a altura, o início do desfile se mostrou frio, nas alas do final o clima foi outro e os componentes passaram cantando, destaque para as alas 15, “Mamãe Oxum Omolocum”, e 16, “Pra Nanã sarapatel”. O grande destaque harmônico do desfile foi a bateria de mestre Branco Ribeiro, ele conduziu com maestria seus ritmistas, abusou das bossas e coreografias, o público foi junto.
Samba-Enredo
O samba de de autoria de Junior Fionda, Tem-Tem Jr., Carlos Kind, Léo Freire, Vitor Hugo, Léo berê, Marcelinho Santos, Jefferson Oliveira, Alexandre Araujo e Valtinho Botafogo passou pela avenida de forma eficiente, impulsionado pela bateria, a obra teve momentos de grande explosão, principalmente o refrão principal “Exu Obá… Laroyê! É a Ponte sem quizila, na mandinga do dendê”.
Evolução
Durante todo o desfile a agremiação sofreu com a evolução, problemas no carro abre-alas fez com que um buraco fosse aberto na altura do setor três (módulos um e dois de julgamento), logo depois, foi observado que os componentes não evoluíam de forma fluida, em alguns momentos a escola andava mais rápido, em outros mais lento. O maior problema da escola ainda viria, durante a apresentação da bateria no setor três, os componentes das alas da frente seguiram normalmente e um grande clarão foi deixado, a rainha Lili Tudão tentou ocupar o espaço, mas foi em vão. O mesmo erro se repetiu no módulo seguinte. A bateria não entrou no recuo e a apresentação na última cabine foi mais longa do que o habitual.
Outros Destaques
Na segunda alegoria da escola a presença dos carnavalesco da Grande Rio, Leonardo Bora e Gabriel Haddad, e da Beija-Flor, João Victor Araújo, chamou atenção, os três estavam muito animados e cantaram o samba com extrema empolgação.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Maricá no desfile
Um bom desfile da bateria da União de Maricá, comandada por mestre Paulinho Steves, estreando na Sapucaí. Uma conjunção sonora equilibrada foi exibida. Um dos pontos altos do ritmo da “Maricadência” foram as bossas, com integração plena com o melodioso samba da escola. Isso impulsionou a bateria para uma apresentação firme e até certo ponto impactante. Infelizmente no momento de subida da bateria logo após a introdução, um desencontro acabou ficando evidente. Foi preciso parar o ritmo, para poder subir novamente. Após o percalço, deu tudo certo pela Avenida Importante ressaltar que tudo ocorreu no primeiro recuo, ainda fora da pista de desfile, não afetando de modo algum o julgamento.
Uma bateria da União de Maricá com uma afinação de surdos acima da média foi percebida. Marcadores de primeira e de segunda foram firmes e bastante precisos. O bom balanço dos surdos de terceira ficou evidente, contribuindo com bastante swing nos graves. Repiques coesos tocaram conectados a um naipe de guerras com volume consistente.
Na cabeça do ritmo da “Maricadência”, um naipe de tamborins de elevada técnica musical executou um desenho rítmico pautado pelas nuances melódicas do poético samba maricaense. Uma ala de chocalhos extremamente consistente também auxiliou na sonoridade das peças leves, assim como cuícas seguras e agogôs corretos contribuíram no preenchimento musical da parte da frente do ritmo.
Bossas extremamente vinculadas à obra da Maricá se mostraram eficientes e impactantes. Todas se aproveitavam com muito bom gosto das variações da melodia do samba-enredo, consolidando o ritmo através das nuances. Simplesmente incrível o trabalho envolvendo os surdos, que por vezes faziam frases rítmicas sublimes dentro dos arranjos musicais, além de garantirem uma execução privilegiada por todo o cortejo. Uma ligação praticamente orgânica entre o ritmo da bateria e o samba da escola estreante na Sapucaí.
A apresentação no primeiro módulo (cabine dupla) foi segura e eficiente. Já a exibição na segunda cabine foi até superior a primeira, com um tempo de apresentação maior e um ritmo bem enxuto. Sem contar a apresentação no último módulo, que foi sem sombras de dúvidas, a melhor tanto musicalmente, quanto energeticamente. Uma “Maricadência” que pisou firme e com o pé direito pela primeira vez fazendo ritmo pela Sapucaí. Mestre Paulinho Steves, seus diretores e ritmistas estão de parabéns por uma estreia com esse grau de consistência e equilíbrio.
Saravá tia baiana do tabuleiro do acarajé, as baianas da Unidos da Ponte evocam a tradição do acarajé
As baianas da Unidos da Ponte vieram representando “Saravá tia baiana do tabuleiro do acarajé”, evocando a tradição das baianas do acarajé, que remonta ao período em que as mulheres escravizadas saíam para vender doces e salgados nas ruas durante o século XIX, no comércio do Dendê na Feira de São Joaquim, uma feira muito famosa de Salvador, onde a escola apresentou como o ganho, o que o próprio Samba diz, o ganho do atizo e como esse ganho em cima do Dendê floresceu para esse povo que é o baiano.
Essas baianas são símbolos da cultura e da culinária afro-brasileira, carregando consigo não apenas os sabores tradicionais, mas também a história e a resistência do povo negro. Com o enredo “Tendendém – O axé do epô pupá”, a escola levou os foliões pela fascinante saga do dendê, desde sua origem nas terras africanas até sua chegada no Brasil por meio da diáspora. Algumas baianas deram entrevistas exclusivas ao site CARNAVALESCO, compartilhando sobre a representatividade da fantasia que retrata as baianas que vendem acarajé, sendo rosa, branca, detalhes dourados e um chapéu com o acarajé na cabeça das baianas.
“Eu achei linda essa fantasia porque é cultura. Essa é a minha segunda vez desfilando na Unidos da Ponte e esse enredo está maravilhoso. A escola está bem animada, cantando, evoluindo”, comentou Regina Helena da Silva, de 69 anos.
As baianas destacaram a importância dessa representação para a cultura afro-brasileira e para a celebração do Carnaval, enfatizando a relevância histórica e cultural do acarajé como um símbolo da identidade baiana e afrodescendente. Elas expressaram sua honra em participar desse momento de celebração e reconhecimento de sua herança cultural, através da arte e da expressão carnavalesca. A fantasia proporcionou uma oportunidade única para compartilhar e valorizar as tradições ancestrais, enriquecendo ainda mais o desfile da escola.
Maria Fátima Carvalho da Silva, de 62 anos, que desfila pela primeira vez como baiana da Unidos da Ponte, filha de Iansã, contou sobre a importância da fantasia e desse momento em sua vida: “Primeiro lugar Iansã que é a deusa do Acarajé, é a matriarca e minha santa. Então nós temos que pedir o quê? Muita proteção, fé, paz, saúde, alegria, isso é o que ela mais quer da gente, e que ela esteja com todas as nossas conterrâneas baianas aqui, para nos representar e Acarajé para todos. Esse desfile está muito emocionante e quando chegar lá na frente, é que a gente vai ver como é que é isso”.