Ziriguidum de Fernando Pinto nos “Elos da eternidade” da Ponte
Desfilando pela segunda vez na Unidos da Ponte, o casal Daniele Nascimento, 40 anos, e Heitor Nascimento, 41, vestia a fantasia “Fernando Pinto e o Ziriguidum pra lá do Século XXI”. Representando uma capacidade de pensar o futuro através do carnaval.
A fantasia era leve, permitindo que o componente brincasse carnaval com facilidade. A leitura clara, remetendo ao estilo desenvolvido por Fernando Pinto no desfile campeão na Mocidade Independente de Padre Miguel, em 1985. Os detalhes futuristas prateados eram homenagem aos artistas que, assim como o consagrado carnavalesco, trataram em suas obras as transformações. O capacete e a saia em forma de nave espacial eram feitos com material simples mas com bom acabamento. Cores cítricas reforçavam as referências ao desfile da escola da Zona Oeste.
Emocionado, Heitor declarou que seu amor pela ponte vem desde a adolescência.
“Estreei na escola no ano passado e agora não deixo mais de desfilar. O amor pela Ponte eu não consigo explicar, é como time de futebol”, explicou o morador da comunidade de São João de Meriti. Sua esposa Daniele ressaltou a leveza e beleza da fantasia.
“Deu pra evoluir muito bem pois a fantasia é bem leve. Nós desfilamos com muita garra”, contou.
Unidos da Ponte leva Monalisa em uma de suas alas
Com o enredo “Elos da Eternidade” a Unidos da Ponte prestou homenagem ao pintor Leonardo da Vinci em uma de suas alas. Com acabamento primoroso, a roupa possuía diversos tons de azul e detalhes em dourado. Dando um ar de nobreza ao figurino. Os componentes traziam nas mãos um adereço que também era feito com bastante capricho, reproduzindo a famosa pintura “Monalisa”. Destaque para o chapéu feito com um material que lembra veludo, com forte contraste com o branco e dourado que compõem o visual.
Com 65 anos, Bebel Rosa desfilou na ala “O Sorriso de Monalisa”. A roupa representava o retrato da Gioconda, simbolizando as obras de artes que se tornaram eternas. Em conversa com o site CARNAVALESCO a desfilante explicou a importância da fantasia.
“Essa fantasia significa para mim a importância da arte. É uma roupa maravilhosa. Linda, leve, bem feita e com muito capricho. Não tem cola, é tudo costurado na máquina. Não tem nada despencando, nada espetando e nem arranhando. Dá pra sambar a vontade e o adereço é leve. Pra quem sabe sambar, nada atrapalha”, contou a foliã.
Vigário Geral abre o desfile da Série A com problemas estéticos e com comissão de frente empolgando
Por Victor Amancio. Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini
Depois de 21 anos, a Vigário Geral voltou a desfilar na Sapucaí. Chegando da Intendente e abrindo o primeiro dia de desfiles, depois de uma chuva forte, a escola apresentou problemas estéticos com carros e fantasias com problemas de acabamento.
Destaque do desfile foi a comissão de frente que durante as suas apresentações levantou o público, sendo o ponto alto. O samba, de fácil aprendizado, cresceu na voz do interprete Tem-Tem Jr, que segurou e chamou o componente para dentro do desfile. A Vigário desfilou com o enredo “O conto do Vigário”.
Comissão de Frente
Do coreógrafo Handerson Big a comissão fez boas apresentações, salvo no primeiro módulo onde o chapéu de um dos integrantes caiu durante a execução. A comissão trazia ovelhas e um pastor que durante a apresentação se tornava um juiz, fazendo referência, aparentemente, ao juiz Sérgio Moro. No início da comissão esse líder coordena as ovelhas vestidas com a blusa do Brasil que levantavam placas com frases ditas por políticos do país e uma parcela da população como: “Meu partido é o Brasil”, “Não a ideologia de gênero”, “Fim da velha política” e etc, as ovelhas no ponto alto da apresentação se rebelam contra o juiz e encerram a coreografia com ele preso. Bem executada e dançada foi um dos destaques da escola.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Jefferson Gomes e Paulinha Penteado veio com a fantasia representando o Cruzeiro do Sul. Por conta da pista molhada o casal pareceu inseguro e com falta de sincronia. Fazendo uma coreografia bonita, dançando afro em um trecho da apresentação e usando referências do samba, como no trecho “Pra santo que nem olha para favela”, fazendo um gesto tapando os olhos.
Harmonia
Abrindo o carnaval da Série A e enfrentando a Sapucaí depois da chuva a escola cantou bem apenas com alguns componentes passando sem cantar. O intérprete Tem-Tem Jr segurou bem a responsabilidade de levar a escola e fez uma apresentação positiva, sem deixar o samba cair. Bateria e carro de som sincronizados, sem erros perceptíveis.
Enredo
O enredo foi bem desenvolvido, com fantasias de fácil leitura e entendimento. Os carros e o tripé faziam referências diretas ao enredo, um ponto positivo para escola. Contudo, um ponto pode prejudicar a escola, as alas 21 e 22 ao invés de estar uma seguida da outra como sugeria o roteiro de desfile foram separadas pela presença da musa Akua Apraku, que inicialmente viria após essas duas alas.
Evolução
Evoluindo bem, sem correria ou lentidão a escola desempenhou bem o papel do quesito, salvo alguns componentes que não evoluíam e apenas andavam durante o desfile, atrapalhando a escola e o quesito. No final do desfile isso aconteceu com mais frequência, em especial com a ala 13, que passou quase por completa sem evoluir.
Samba
O samba deu conta do enredo da escola, tem letra fácil e funcionou para o desfile. O refrão funcionou sendo o trecho mais cantado pela escola e foi possível ver o público acompanhando nesse trecho.
Fantasias
Fantasias com materiais funcionais que deram um efeito visual positivo para escola e melhoraram a parte visual que veio desfalcada por conta da crise financeira que atinge as escolas. Palha, acetato foram materiais usados no desfile e deram um efeito bonito. Por mais que os materiais foram um acerto, a escola teve problema com fantasias caindo e desmontando ao decorrer do desfile como as alas 2, 6, 11 e 14.
Alegorias
O maior problema da escola que passou com os carros mal acabados. O abre-alas tinha ferro exposto na asa da arara central do carro e fios expostos. De fácil leitura o primeiro era acoplado e trazia na parte da frente o paraíso e a parte de trás a chegada do colonizador. O segundo carro tinha uma escultura relativamente grande, mas o braço parecia estar solto e dava para perceber os ferros que o seguravam.
O tripé que vinha no final do desfile, com muitos problemas estéticos, agradou o público por conta da crítica direta ao presidente Jair Bolsonaro, um palhaço com faixa presidencial e fazendo o símbolo de arma com uma das mãos. De forma geral os carros apresentaram a proposta do enredo e cumpriram a missão do enredo.
Outros Destaques
A rainha Eligi Oliveira levantou o público em uma das bossas quando a bateria abria para sua entrada, ela sambou bem e desempenhou de forma majestosa seu papel.
Capatazes de Maria Conga se tornaram demônios perseguidores no desfile da Rocinha
Segunda escola a pisar na Marquês de Sapucaí, a Rocinha apresentou na avenida a história de Maria Conga, princesa congolesa retirada de seu país para ser escravizada no Brasil. Ela fundou um Quilombo na cidade de Magé para proteger negros fugidos de seus senhorios. A sétima ala da agremiação retratou os capitães do mato, homens que a perseguiram, inconformados com a luta de Maria pela liberdade e direito dos negros.
Intitulada “Demônio Perseguidor”, a ala trouxe uma fantasia sombria e de tons escuros. Uma criatura verde, parecida com um dragão, adornou os ombros do componente. A integrante Rosannea Pereira, que comemorou seu aniversário de 58 anos na Avenida junto com a agremiação, afirmou que gostou muito da representatividade desse ser místico como um monstro que vagava atrás dos negros
“Essa ala é muito importante para o contexto da vida de Maria Conga e é bacana porque foi citada no samba da escola”, disse a componente Alessandra Rodrigues, de 40 anos. O traje, formado por uma calça cinza, blusa marrom e chapéu preto, remeteu exatamente às roupas usadas pelos capitães do mato. Como adereço, os integrantes carregaram nas mãos um chicote, objeto cruel utilizado para castigar os escravizados.
Alegoria da Vigário Geral relembra o grande golpe do Santo do Pau Oco
A segunda alegoria da Acadêmicos de Vigário Geral era uma referência ao período colonial em que os comerciantes contrabandeavam ouro dentro de imagens de santos para fugir dos impostos feitos pela Coroa. Assim como os escravos, que escondiam o ouro no cabelo para comprar sua alforria. O site CARNAVALESCO conversou com os componentes da alegoria sobre esse ‘jeitinho brasileiro’ que se perpetua até hoje.
Para Raquel Careiros, 32, as coisas não mudaram muito. “Tem tudo a ver com a atual política brasileira, onde todo mundo faz cara de santo, mas no fundo todo mundo tem alguma coisa a esconder.”
A alegoria denominada Santo do Pau Oco trazia um santo no alto do carro, que estava revestido de um amarelo cor de ouro. Com um acabamento aparentemente prejudicado. Na parte inferior do carro havia velas juntos aos santos e anjos que compunham a alegoria.
Na frente da alegoria, uma grande escultura que mostrava com clareza as imperfeições e defeitos do acabamento. Os destaques presentes no carro representavam também a riqueza contrabandeada e o quinto, o imposto real.
“Essa história que o carro traz a gente acaba vendo que é uma coisa que ainda acontece hoje em dia, mesmo que de uma forma diferente. Como o próprio samba diz, ‘a gente acende vela pro santo que nem olha pra favela’, só olham pra gente em época de eleições, prometendo favores. E o enredo também vem contando que o povo sonhava com uma nova história, uma nova eleição.”, contou Allan Pelloso, 32.