Unidos da Ponte fecha seu desfile com homenagem aos sambistas
A alegoria que fecha o desfile da Unidos da Ponte apresenta o carnaval como espaço de resistência e de perpetuação da história e da identidade dos sambistas. Em destaque duas grandes esculturas que, conforme explicou o carnavalesco Lucas Milato, são baluartes das escolas do samba, mas não representam personagens específicos.
A saia da alegoria é formada por recortes de imagens que contam a história da escola meritiense ao longo do tempo. A alegoria também prometia efeitos de confete e serpentina, para abrilhantar o fim do desfile da Ponte. Entre as muitas composições do carro, destacam-se “Os Discípulos do Samba”, como esclareceu o componente Carlos Silva, 45 anos. Carlos contou que ao todo, seriam 18 componentes com a fantasia.
No alto da alegoria o casal Eduardo Bordon, 35 anos, e Milla Lopes, 29 anos, tremulava a bandeira da escola de São João: “A emoção de fechar o desfile da Ponte com a bandeira é
muito grande, assim como a responsabilidade de botar a escola pra cima”, conta Milla.
“Nós vamos demonstrar todo o nosso amor por essa escola, sem deixar a animação cair. Vamos terminar o desfile em alto astral para comemorar na quarta-feira”, dizia Eduardo antes de cruzar a Avenida.
A velha guarda da Ponte também veio no último carro da escola. Sônia Maria de Oliveira, 64 anos, ressaltou a felicidade de entrar na Avenida após um ano inteiro de muito trabalho, ensaio e dedicação.
“Vou subir nesse carro cheia de emoção. O coração está batendo mais forte”, contou a integrante.
Rocinha surpreende em quesitos plásticos, mas peca em evolução
Por Diogo Sampaio. Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini
Segunda escola a cruzar a Marquês de Sapucaí na noite desta sexta-feira, a Acadêmicos da Rocinha apostou em uma estética simples e de fácil leitura para contar a trajetória de Maria Conga, através do enredo “A guerreira negra que dominou dois mundos”, o que rendeu no melhor resultado plástico da escola desde o desfile de 2017, quando homenageou o carnavalesco Viriato Ferreira. No entanto, problemas de locomoção no abre-alas e na última alegoria comprometeram a evolução da tricolor de São Conrado, que abriu dois buracos em frente a módulos de julgamento. A agremiação encerrou sua apresentação com 54 minutos.
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Comissão de Frente
A comissão de frente assinada por Junior Barbosa trouxe os dois mundos em que Maria Conga se consagrou: o terreno e o espiritual. A apresentação se iniciava com dez guerreiras quilombolas e uma rainha negra liderando, todas com fantasias leves e em tons alaranjados. Junto a elas, um elemento cenográfico representando o “Cruzeiro das Almas”, com quatro ogãs tocando atabaque.
Com uma coreografia de passos bem marcados, que remetiam a gestos e danças típicos dos pretos-velhos, a comissão tinha seu ápice quando a rainha quilombola entrava no “Cruzeiro das Almas” e saia de lá a Vovó Maria Conga de Aruanda, arrancando aplausos do público.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Representando o rei e a rainha da Tribo Congolonesa, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Rocinha, Vinícius Jesus e Viviane Oliveira, se apresentaram com uma fantasia em tons terrosos, repleta de pedrarias e cheia de elementos africanos, como dentes de sabre. Em seu segundo ano na agremiação, a dupla apostou em uma dança com bastante passos coreógrafos, em referência aos versos do samba.
Devido a pista molhada, Viviane economizou nos giros e chegou a ter problemas com a bandeira na primeira cabine de jurados, onde quase a enrolou em um dado momento da apresentação. O excesso de passos marcados também gerou certa lentidão ao casal.
Harmonia
Apesar do excelente samba, a harmonia da Rocinha teve um desempenho fraco, com a maior parte dos componentes pouco empolgados e sem cantar. Entre as raras exceções, esteve a ala de passistas da escola, que demonstrou ter o samba na ponta do pé e da língua.
Enredo
Através do enredo “A guerreira negra que dominou dois mundos”, a Rocinha prestou uma homenagem a Maria da Conceição, ou simplesmente Maria Conga. Filha de reis do Congo, que foi escravizada e traficada para o Brasil, onde sofreu com a opressão e o açoite até se tornar símbolo de resistência ao fundar o Quilombo de Maria Conga. Após sua morte, se consagrou no reino das almas como líder da linha dos pretos velhos de Iemanjá, cultuada em terreiros de Umbanda. História essa narrada de forma cronológica linear e traduzida de maneira clara por meio de fantasias e alegorias de fácil leitura.
Evolução
O quesito mais problemático da escola. Logo na abertura do desfile, devido ao problema de locomoção do abre-alas, abriu um buraco em frente ao primeiro módulo de jurados. Algo que se repetiu de forma mais grave com a última alegoria, que abriu um clarão que pode ser visto tanto na primeira como na segunda cabine de julgamento. A lentidão na entrada da escola fez com que a mesma precisasse acelerar o passo do meio para o final de desfile, o que deu um ritmo irregular para apresentação.
Samba-Enredo
O samba-enredo composto por Cláudio Russo, Fadico e Anderson Benson teve desempenho apenas regular na Avenida, apesar de ter sido uma das obras mais elogiadas da safra no pré-carnaval. O intérprete Ciganerey e seu carro de som o defenderam muito bem e demonstraram entrosamento com a bateria. Porém, o canto fraco das alas impossibilitou um rendimento maior.
Fantasias
Usando de matérias simples e baratos, como a palha e o capim desidratado, a Rocinha apresentou fantasias de fácil leitura e que tiveram efeito na pista. A criatividade das indumentárias também chamou a atenção.
Alegorias e Adereços
Assim como as fantasias, as alegorias da Rocinha também utilizaram de materiais alternativos, mas de efeito. Nesse caso, se destaca o segundo carro, todo feito em bambu. A fácil leitura e o acabamento sem falhas graves foram os grandes trunfos do conjunto.
Outros Destaques
Um dos grandes destaques da apresentação da Rocinha foi sua ala de baianas. As senhoras vieram representando as “Mães de Santo” com uma fantasia tradicional, branca e de renda. Elas evoluíram de forma leve e demonstraram excelente canto durante o desfile.
Fantasiadas de mães de santo, baianas abençoam desfile da Rocinha

Selma Geminiano, que fez sua estreia como baiana da escola, contou ao site CARNAVALESCO a emoção de homenagear a preta velha.
“Nosso enredo é uma homenagem a minha preta velha preferida, vovó Maria Conga. A fantasia leve, linda e gostosa é ótimo pra gente dançar muito”, explicou.
A saia era toda rendada, com filetes de palha envernizada no meio da barra. Sobre o ombro esquerdo, uma faixa branca e prata com um laço e búzios davam um toque diferencial no figurino. As senhoras da Rocinha ainda carregavam colares e pulseiras prateadas, dando um efeito semelhante a pérolas.
Em seu terceiro ano pela escola, Silvinha Poderosa contou a importância de Maria Conga.
“Maria Conga é uma grande preta velha da umbanda de Magé. Tem uma linda história que é importante e precisa ser contada. Então está sendo muito bem representada na Rocinha”.

“A baiana, ela é a mãe do samba, são as quituteiras dos barracões das escolas de samba, é uma ala muito importante. É muito gratificante desfilar numa escola como baiana”, acrescentou.
Maria Conga, alem de ter sido ‘a vó benzedeira, Preta Velha de Aruanda’, também é o nome de um Quilombo, que fica no município de Magé. O local foi reconhecido em 2007 pela Fundação Palmares como comunidade remanescente de quilombo.