São Clemente grava faixa com DNA irreverente e entrosamento de intérpretes
A obra da São Clemente para o Carnaval 2020, assinada pelo humorista Marcelo Adnet e companhia, não faltou irreverência, alegria e descontração na gravação do CD oficial da Liesa para os desfiles do ano que vem.
Com um currículo que inclui a direção musical de escolas como Mangueira e Viradouro, o maestro Jorge Cardoso contou como produziu os arranjos da São Clemente pretendendo facilitar que a faixa fique bem entrosada com o enredo.
“Para fazer os arranjos eu estudo o jeito da escola, o jeito da bateria, o cantor. A São Clemente é uma escola mais crítica, mais irreverente, mais brincalhona. Então a gente usa um arranjo mais solto para fazer um samba mais alegre como é a São Clemente. Pra isso, você coloca frases mais alegres. Nos espaços eu coloco elementos como cantos, contra cantos, coisas que remetem mais a alegria. Samba bem solto, eu diria bem carioca”, explicou.
Com menos de 10 dias desde a escolha do samba, a escola já vinha se preparando antes da final para a produção da faixa.
“A São Clemente é uma escola muito organizada, o nosso presidente é músico, veio da bateria, eu, diretor geral de harmonia da escola, também vim da bateria, nós temos conhecimento musical. Veio esse grande samba, grande obra e no decorrer das eliminatórias nós já vínhamos preparando para os três sambas finalistas umas convenções para a gente poder fazer uma boa gravação. Se você é organizado, já vem antes se preparando. E nós tivemos a felicidade de escolher um grande samba e uma grande melodia porque ela é primordial em desfile de escola de samba. Não adianta você escolher um samba com muita letra que não tenha melodia”, contou o diretor geral de harmonia, Marquinhos Harmonia.
Desde o carnaval passado dividindo o carro de som da Preta e Amarela da Zona Sul e esse ano com a entrada de Grazzi Brasil, Leozinho e Bruno Ribas mostraram, mais uma vez, um entrosamento muito grande quando foram gravar a voz guia para gravação dos instrumentos.
“A nossa sintonia já não é de agora, porque o Bruno é tio de um dos meus grandes amigos. A gente sempre ajuda um ao outro, é uma sintonia pura. Aqui não tem orgulho”, garante Leozinho.
“Isso é um misto de várias coisas. O principal de tudo é o respeito de um profissional para o outro e aquilo que a gente troca. É uma troca muito limpa. Nenhum tenta ser melhor que o outro. É cada um dentro de suas possibilidades e fazendo realmente o combinado com o outro. E com a Grazzi (Brasil) também é assim”, explica Bruno.
Sobre a irreverência do samba, Bruno também falou da facilidade em atingir esta qualidade devido ao direcionamento dado a obra.
“O samba ele é composto por muito sorriso. O tempo todo ele te passa essa sensação. É muito mais fácil você passar algo que é natural daquela situação. A gente não precisa de muita coisa para passar essa emoção”.
Com um andamento de 142 BPM (batidas por minuto), o samba foi trazido um pouco mais para trás para ficar mais agradável ao CD, como acontece com todas as obras. Mestre Caliquinho falou da opção da bateria também por valorizar o canto do samba e facilitar o aprendizado da obra.
“O intuito da fiel bateria e da São Clemente é valorizar o samba. A gente não quer esse negócio de fazer várias paradinhas, pois suja o CD. Isso eu aprendi com o presidente. Quando vai gravar você tem que mostrar o samba e colocar na boca do povo. É um samba pra cima, irreverente do jeito que a escola queria. É de fácil leitura e ficou fácil para gente fazer paradinha, para encaixar o ritmo. A galera da bateria ‘se amarrou’ neste samba”.
A São Clemente em 2020 vai abrir a noite de segunda feira no desfile das escolas de samba do Grupo Especial.
Marchinha ‘Eu sou gay’ com João Roberto Kelly e Milton Cunha promete fazer sucesso no carnaval
João Roberto Kelly e Milton Cunha estão juntos na marchinha ‘Eu sou gay’, que promete fazer muito sucesso no Carnaval 2020. O produtor Jimmy Ieger, personagem do Camarote do King, é o produtor do clipe.
A composição é mais um protesto contra a gestão do atual prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. Rei das marchinhas, Kelly, compôs a obra, e Milton Cunha entrou com todo seu talento na gravação. Aliás, o comentarista da TV Globo tinha feito o pedido da música há 10 anos para Kelly.
“Esse é o momento”, afirmou João Roberto Kelly. Ouça abaixo a marchinha.
Estudo da sinopse: Cubango 2020
Cubango: Luiz Gama – Um grito de liberdade e de igualdade no Carnaval 2020
Enredo: A Voz da Liberdade
Carnavalescos: Raphael Torres e Alexandre Rangel
Para o carnaval de 2020, a verde e branco de Niterói terá como enredo o patrono da
abolição Luiz Gonzaga Pinto da Gama. Negro, autodidata, intelectual, poeta, jornalista e
advogado, Luiz Gama foi um dos importantes personagens da história do Brasil dos quais pouco ou nada ouvimos falar, mas que a agremiação Acadêmicos do Cubango nos apresentará em seu desfile. A escola exibirá na avenida a vida de Gama a partir suas raízes africanas, por meio de sua mãe, Luiza Mahin, relacionando-o com as insurreições e o trabalho escravo até chegar a sua participação no Movimento Abolicionista de luta pela liberdade dos negros escravizados.
Apesar de Gama ser uma personalidade histórica que sofreu, através do tempo, com a
questão do apagamento histórico dentro do que conhecemos como História Oficial − tal qual sua mãe e muitos dos outros personagens negros e indígenas da história do Brasil −, o texto da sinopse é similar ao tipo de texto historiográfico. Isto porque os carnavalescos Raphael Torres e Alexandre Rangel, para apresentar o enredo da escola, fizeram uso de acontecimentos históricos, estudados e datados, que foram parte da realidade do período em que Luiz Gama viveu, os quais ele mesmo presenciou ou participou. Como, por exemplo, a Revolta dos Malês, ocorrida na Bahia em 1835, ou a questão do uso de mão-de-obra escrava em minas de ouro e fazendas de café, algodão e cana-de-açúcar. Como, também, o uso da carta autobiográfica no início do texto, que o homenageado escreveu para seu amigo, também jornalista, Lúcio de Mendonça.
Podemos encarar isso como uma forma de inserir o personagem na nossa história oficial,
visto que a existência de personagens como ele é sempre questionada por falta de dados precisos e registros oficiais, presentes nos documentos estudados por historiadores. Porém, o que devemos levar em conta com relação a isso é o fato de que poucos eram os negros que possuíam documentação, como certidão de nascimento ou de batismo, o que dificulta esse tipo de validação. Um bom exemplo é o caso da própria Luiza Mahin, mãe de Luiz Gama, cuja existência é atestada por meio da carta, mencionada anteriormente, em que ele fala sobre a vida da mãe. Por isso é de grande importância e relevância que personagens como Luiz Gama tenham sua história contada, para que sempre nos lembremos de sua existência e do que fizeram. Para que eles saiam da posição de marginalizados para a de heróis da nossa história tanto quanto os heróis dos livros didáticos.
E Luiz Gama pode ser visto, de fato, como um herói. Pois ele lutou verdadeiramente
pela liberdade de seus iguais, de uma forma que poucos negros naquela época poderiam fazer. Ele atuou como advogado, mesmo que não tenha se formado em advocacia – ou seja, um rábula −, defendendo inúmeros escravizados em causas judiciais. Uma relação interessante que podemos fazer entre a proposta do enredo, a partir da pessoa Luiz Gama, e alguma característica da agremiação é o fato da luta pela liberdade dos escravizados. Pois haveria indícios, a partir da história oral, de que no bairro sede da agremiação existiu um quilombo, fato mencionado no desfile de 2015, ou seja, um lugar de liberdade e resistência, o que nos remete a tudo pelo que Luiz Gama lutou durante sua vida.
Vemos também no texto da sinopse que a escola dará significativa importância para uma
possível relação entre quem foi Luiza Mahin e sua influência na vida e na personalidade de seu filho. Assim como, também, nas questões escravistas, pois Gama, além de filho de escrava foi ele mesmo vendido como escravo por seu próprio pai. É possível que vejamos na avenida representações de sua ancestralidade africana de realeza, a casa em que Luiz viveu na Bahia, os movimentos revoltosos em prol do povo negro e da abolição, locais de trabalho escravo e a atuação de Luiz Gama enquanto rábula e no movimento abolicionista. Poderemos ver também alguma relação entre sua luta pela liberdade e por direitos do povo negro e as condições atuais dos negros dentro da nossa sociedade.
Ressaltar a imagem de Luiz Gama no carnaval é falar sobre um negro, ex-escravo que
em pleno Brasil Império conseguiu ser um intelectual e influente jornalista. Falar de Luiz Gama é falar de luta, por liberdade, por direitos, por dignidade do povo negro, coisas que nos tempos em que vivemos estão cada vez mais postas em cheque dentro da sociedade brasileira. Falar de Luiz Gama é falar de esperança para tantos rostos semelhantes ao seu dentro das comunidades das escolas de samba, esperança também para que tenhamos uma sociedade melhor, mais igualitária em questões sociais e raciais. Falar de Luiz Gama é negar o apagamento de figuras de negros importantes na história do Brasil, que devem ser sempre lembrados e exaltados como heróis que foram.
Que o patrono da abolição faça do carnaval da Acadêmicos do Cubango um desfile
brilhante, como seu homenageado, e LIVRE de preconceitos!
Autora: Raphaela Vaz – [email protected]
Graduanda em História – UFRJ
Membro efetivo do OBCAR
Leitor orientador: Max Oliveira
Doutorando em História – PPHR/UFRRJ
Membro efetivo do OBCAR
Instagram: @observatoriodecarnaval_ufrj
Ouça o samba-enredo da Unidos de Bangu para o Carnaval 2020 na versão do CD
Compositores: Dudu Senna, Diego Nicolau, Richard Valença, Renan Diniz, Orlando Ambrósio, Lucas Donato, Lico Monteiro, Marcio de Deus, Jefferson Oliveira, Domenil, Denilson do Rozário e Telmo Motta
Intérprete: Igor Vianna
Ah! Saudade ressoou o meu tambor
Num pedaço de terra consagrado na memória
Ôô eu sou um Griô
Viaja o tempo nos rumores da história
Nesse chão debrucei toda força de um rei
Um ébano elo com a natureza
Mas a traição me tornou o alvo
Escravo de quem era minha certeza
Mar me leva, dor no mar
Sou o par da angústia
Tanto irmão à minha volta
Na revolta da maré
Nego tem que ter fé…
Ê… nego tem que ter fé
Sou eu, a mão que assina a própria sorte
Resistindo a natural pena de morte
Um dia fui escravo da tristeza
Hoje realeza livre do açoite
No samba fiz morada
Refúgio feiticeiro, a tez da noite
Na desfaçatez da madrugada
Guerreiro, Ogã ou Rainha
Juiz, defensor dessa gente
Na luta a vitória é minha
Nos braços não pesam correntes
Ie ie ê alafiá
Ie ie ê alafiá
Meu sangue é a retinta majestade
Eu sou Bangu, o Ilê da liberdade
‘Os telejornais alimentam o enredo da Mancha Verde todo dia’, diz o carnavalesco Jorge Freitas
A Mancha Verde, atual campeã do carnaval paulistano, optou em 2020 por um enredo com forte crítica social. ‘Pai! Perdoai, eles não sabem o que fazem!’ vai traçar um paralelo entre a vida de Cristo e as mazelas sociais que afundam o Brasil em uma crise que parece interminável. Ao site CARNAVALESCO, Jorge Freitas, responsável pelo desenvolvimento do enredo, fala sobre a temática e destaca que basta assistir aos telejornais diariamente para observar o enredo da escola.
“É uma filosofia da escola enredos com cunho social e político. Nosso desfile terá um paralelo da vida de cristo com a sociedade atual. As pessoas mudaram nesses anos todos mas os sentimentos ruins são os mesmos. Toda semana eu acrescento detalhes ao meu enredo vendo os telejornais. Tudo que está acontecendo vai estar no carnaval da Mancha. O amor pode mudar o mundo”, revela.
Organizado, Jorge Freitas se transformou no maior papa-títulos da história recente do carnaval de São Paulo. Contratado para o desfile deste ano, deu à verde e branca seu primeiro campeonato no Especial. O carnavalesco fala sobre o cronograma para o desfile de 2020, quando a Mancha lutará pelo bi.
“Começamos bem mais cedo. Dia 01 de junho apresentamos os nossos pilotos na Crefisa, que pe nossa parceira. Nosso cronograma está sendo seguido e em meados de janeiro estaremos com o carnaval pronto. Todos os setores estão trabalhando muito para que tenhamos um grande espetáculo em 2020”, explica.
Indagado sobre a parceria com a Crefisa, empresa que apoia a agremiação financeiramente, Freitas destaca que as escolas que querem ser competitivas precisam apostar em parcerias para investir em seus desfiles. Ele argumenta que nem sempre o aporte financeiro pode ser simplesmente apontado como gasto.
“Analisa-se muito o total, a quantia final. Há investimentos também ao longo do ano, para que o desfile ocorra bem. Ensaio por exemplo, há um aporte, mas não é gasto, é investimento para você ser mis competitivo. As escolas podem buscar parcerias que vão além da subvenção pública. Criar parcerias e projetos que durem todo o ano”.
Compositores do samba de 2020 da Grande Rio fazem apelo contra intolerância religiosa
Na retomada dos enredos culturais dos anos 1990, a Grande Rio promete um grande desfile misturando a temática afro, religiosa e ao mesmo tempo falando de sua própria terra. Não se pode esquecer que o líder religioso Joãozinho da Gomeia estabeleceu um terreiro em Duque de Caxias valorizando a cultura e as religiões de matriz africana. O samba vencedor para 2020 ficou a cargo dos compositores Derê, Robson Moratelli, Rafael Ribeiro e Toni Vietnã.
“Achei o enredo maravilhoso pois Joãozinho da Gomeia se tornou filho desse chão por adoção e levou a cultura, o axé para várias pessoas”, disse Robson Moratelli.
A parte mais comemorada pela parceria é a que faz um pedido pelo fim da intolerância religiosa ressaltando a diversidade de crenças presentes no Brasil: “Pelo amor de Deus, pelo amor que há na fé, eu respeito o seu amém, você respeita o meu axé”.
“A parte que mais curtimos foi o refrão principal pois damos um salve para o candomblé e mandamos uma mensagem ao mundo pedindo mais tolerância religiosa, respeito e harmonia entre as religiões respeito com a fé do próximo”, conta Robson Moratelli.
Robson também revelou que os compositores tiveram um cuidado para falar sobre Joãozinho de uma forma mais lírica, não tanto histórica e narrativa.
“O processo de confecção foi da seguinte forma: procuramos contar a história do Joãozinho da Gomeia de uma forma mais poética e não muito descritiva. Também tivemos o cuidado em não colocarmos demasiadamente palavras em yorubá para não dificultar o canto”.
Respeitando qualidade da obra, Mocidade grava samba com identidade de sua bateria
Qualquer indivíduo é capaz de identificar a sonoridade da bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel a léguas de distância. E quem for ouvir a faixa da escola no CD do Grupo Especial de 2020 vai se deparar também com essa inconfundível característica. A escola gravou as bases de ritmo para o CD sob o comando de mestre Dudu, que ao CARNAVALESCO disse ter buscado respeitar a identidade da bateria, valorizando a qualidade do samba escolhido.
“Ficamos muito felizes com esse samba. O CD é para comercialização. A nossa criatividade o público vai conferir na avenida. Tentei criar algumas coisas na nossa faixa, que o samba pedia. Coisas antigas até. Não vejo muita necessidade de implementar muitas coisas, mas as pessoas irão se surpreender ao ouvirem a nossa obra. Botamos a identidade das caixas, para dar a nossa cara. Gravamos em 140 BPM (batidas por minuto)”, afirma.
O intérprete Wander Pires participou da gravação colocando a voz-guia, que serve de referência para os ritmistas tocarem. Caminhando para o seu quarto desfile seguido pela Estrela Guia, enalteceu as figuras de Sandra de Sá, uma das compositoras da obra e da homenageada no Carnaval 2020, Elza Soares.
“Deus me deu mais uma vez a bênção de cantar um samba lindo, composto por uma grande cantora, a Sandra de Sá, em homenagem a outra grande voz de nosso país, a Elza Soares. Conversamos com o maestro sobre o tom, e mantivemos o mesmo da gravação dos compositores. Promete ser um dos sambas que pilota o CD das escolas de samba esse ano. Nossa diretoria nos dá total autoridade e autonomia para conduzir os trabalhos. Esse era o samba que a comunidade queria e foi um enorme acerto a sua escolha”, avaliou Wander.
A faixa da Mocidade recebeu o arranjo feito pelo experiente Alceu Maia, que há 25 anos participa como arranjados do álbum do Grupo Especial. Alceu destacou as nuances musicais do samba independente e revelou já ter feito trabalhos musicais com Elza Soares.
“É uma honra ser o maestro da faixa da Mocidade. Fui arranjador do primeiro disco do Wander Pires, na Polygram. Uma escola de muita tradição, a bateria fantástica. Foi fácil criar coisas pois o samba é muito bom. Eu trabalhei com a Elza várias vezes. Produzi recentemente o DVD da Joice Cândido, com participação da Elza. A cantora todo o Brasil conhece, mas a pessoa é muito especial. Uma homenagem muito merecida”, afirma.
O diretor de carnaval Marquinho Marino acompanhou de perto todas as etapas da gravação e destacou que sua principal preocupação foi não mexer em nada no samba que causasse algum estranhamento em sua divulgação posterior.
“Tentamos fazer a gravação da mesma maneira que o samba se consagrou. A bateria gravou dentro de suas características respeitando as características da obra. Wander Pires deu toda a sua qualidade à essa gravação. Não precisa fazer muita coisa. É respeitar a qualidade do sambando às características do intérprete e da bateria. E trabalhar”.