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Sonhos da infância de Joãozinho da Gomeia foram retratados na primeira ala da Grande Rio

A Acadêmicos da Grande Rio, quinta escola a entrar na Marquês de Sapucaí, trouxe o enredo “Tatalondirá, o canto do caboclo no quilombo de Caxias”. Que abordou a história de Joãozinho da Gomeia, o rei do Candomblé. A ala 1, nomeada de “Noites de Inhambupe”, falava sobre as visões infantis de medo de Joãozinho da Gomeia enquanto sonhava com elementos e símbolos da cultura popular.

A ala, composta por fantasias distintas e confeccionadas de forma artesanal, com retalhos, palha e plástico, era colorida e com cabeças que representavam vários bichos. Os componentes tinham o rosto pintado, e alguns usavam calças e outros saias.

Paulo Rocha, componente da ala explicou o significado da fantasia. “Quando Joãozinho da Golmeia era criança, ele não entendia o dom que ele tinha, e sentia medo das visões que tinha enquanto sonhava, achava que eram monstros. Por isso eu estou fantasiado de aranha”, conta.

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Jocelina Angélica Vieira, que desfila na escola há 4 anos, disse gostou da fantasia, mas ficou um pouco receosa.

“Eu gostei, mas achei a cabeça um pouco pesada, tive um pouco de medo de virar, porque não queria fazer uma apresentação feia, mas acho que dificultou um pouco na execução dos passos”, desabafou.

Análise da bateria do Tuiuti no Carnaval 2020

Por Matheus Mattos

Quarta bateria da noite, o Paraíso da Tuiutí apostou num andamento alto pro desfile. As variações de surdos, principalmente nas paradinhas, engrandeceram a passagem da Super Som na Sapucaí. Ainda no primeiro recuo, pôde-se notar um leve descompasso entre frente e cozinha.

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No geral, as bossas trabalham as conversas das marcações e explosão no ataque da cozinha. A bossa do primeiro refrão, que foi a mais executada, trabalha com eficiência tal observação. Porém, no momento em que as caixas zeram o ataque dentro da bossa, mais especificamente no trecho “No Morro do Tuiutí”, algumas sobravam.

A paradinha executada no “Todo 20 de Janeiro” baseou-se nas frases do surdo de terceira, que destacou o entrosamento dos ritmistas e a afinação equilibrada do instrumento.

Mesmo dentro do segundo recuo, a Super Som não poupou convenções.

No caso das cordas, o violão de 7 cordas se destacou pela diversidade de informações no dedilhado e boa execução de cada arranjo. Os músicos fizeram um bom aproveitamento das cordas graves e das agudas. Notou-se também um arpejo do Cavaco no começo da segunda estrofe e dobradinhas em trechos específicos, como na retomada da bossa.

Na luta pela volta nas campeãs, Tuiuti faz um desfile esteticamente perfeito mas erra nos quesitos de chão

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Por Victor Amancio. Fotos de Allan Duffes, Isabel Scorza e Magaiver Fernandes

De volta ao Grupo Especial o carnavalesco João Vitor realizou um grande desfile no Paraíso do Tuiuti e se depender do seu trabalho estético a escola pode sonhar com uma vaga nas campeãs. Problemas de evolução, fazendo a escola correr para não estourar o tempo máximo e algumas fantasias com difícil leitura podem atrapalhar a escola que passou com alegorias belíssimas. Mestre Ricardinho passou bem com as bossas bem encaixadas e realizadas. Foi um outro ponto positivo da escola.

Comissão de frente

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O coreógrafo Márcio Moura levou na comissão de frente 15 bailarinos em procissão ao dia 20 de janeiro, data que se comemora o dia do Santo e data de nascimento do Rei. Bailarinos usaram um artifício com uma máscara de senhoras, estas que religiosas, seguiam em procissão. Em um certo momento surge o “caboclo encantado” que dançou junto com as senhoras e os homens da comissão.

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O tripé representava uma capela no alto do morro e ele se abriu revelando o santo e o final da coreografia da comissão acontecia com o encontro do touro coroado com o São Sebastião que o desencanta o transformando no Rei Dom Sebastião que por sua vez retira a flecha do peito do santo. Bem realizada com fantasias bonitas e agradando o público a comissão se apresentou bem nos três módulos e deve garantir a pontuação para o quesito. O trecho final com a emoção do encontro dos personagens principais do enredo foi singelo e forte.

Mestre-sala e Porta-bandeira

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O casal Marlon Flores e Danielle Nascimento, representando Dom João Manuel e a Princesa Joana da Áustria, se apresentou bem. Danielle se destacou na dança fazendo giros graciosos e com velocidade. Colocando força nos passos a porta-bandeira fez uma belíssima passagem pela avenida. O casal realizou uma apresentação sincronizada com referências ao orixá Oxóssi, representação de São Sebastião no candomblé, na dança.

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Harmonia

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O componente do Tuiuti cantou, mas faltou vibrar mais durante o desfile. Nino do Milênio e Celsinho Mody fizeram o samba crescer, porém o público interagiu pouco com a escola de São Cristóvão. Faltou potência no canto da comunidade.

Enredo

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Desfilando o enredo “O Santo e o Rei: Encantarias de Sebastião” o Paraíso do Tuiuti trouxe seis setores para contar as coincidências e ligações na trajetória do santo padroeiro da escola e do rei português. O desfilei iniciou com o nascimento de Dom Sebastião, no dia 20 de janeiro, coincidentemente no dia em que o santo é festejado. João Vitor desenvolveu bem o enredo nas alegorias e nos dois últimos setores da escola. Nos dois primeiros houve dificuldade para compreensão do que estava sendo passado. Nos três últimos setores, o conjunto de fantasias, que eram auto-explicativas, contribuíram para a funcionalidade do tema.

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Evolução

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Tendo uma evolução irregular e correndo para não estourar o tempo, a escola pecou no quesito e por conta da correria foi difícil dos componentes evoluírem. Na saída do primeiro recuo a frente da bateria foi aberto um buraco.

Samba-Enredo

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Com o samba bem cadenciado, aliado a uma letra e melodia muito boas, o Paraíso desfilou com um belo samba. Durante os ensaios de rua era perceptível a crescente do samba. Como falado no quesito harmonia, a dupla de cantores foi fundamental no desempenho, embora, a comunidade não tenha mostrado o mesmo nível de canto dos ensaios de rua.

Fantasias

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O conjunto de fantasias da escola teve um ótimo acabamento e beleza estética. O setor 4 com a 18ª e 19ª ala veio com fantasias de muito bom gosto. O problema do quesito foi na leitura dos dois primeiro setores que apesar da dificuldade estavam bonitas. João Vitor fez um ótimo trabalho confirmando seu potencial e espaço entre os grande carnavalescos.

Alegorias

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O conjunto alegórico do carnavalesco foi o maior destaque do desfile. João acertou em cada alegoria apresentada. Todas eram de fácil entendimento e bem acabadas. Destaque para o segundo carro que representava a batalha de Alcácer e Quibir, em tons de terra a alegoria impressionou pelo tamanho e acabamento. O último como um grande altar com a imagem do santo encantou quem assistia o desfile. O bom gosto e a realização foram excelentes.

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Outros destaques

Fantasia do terceiro casal da escola era belíssima que teve como inspiração o samba exaltação da escola.

Componentes da Grande Rio aprovam novo padrão visual proposto por Leonardo Bora e Gabriel Haddad

A Acadêmicos do Grande Rio escolheu o ano de 2020 para reinventar-se. Com o enredo “Tatalondirá – O canto do caboclo no quilombo de Caxias”, a escola resgatou suas velhas raízes e contou a história de Joãozinho da Gomeia, o rei do Candomblé. A escolha da agremiação de Caxias agradou seus componentes, que aprovaram o enredo forte e de raízes africanas. Quando entrevistados, os integrantes se mostraram radiantes e saudosos, pois a escola que entrou na Avenida na madrugada deste domingo estava diferente.

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“Esse enredo resgatou a Grande Rio do passado. Aquela Grande Rio pé no chão e com muita garra. Foi um achado. Estamos muito empolgados, cantamos forte o samba e mostramos que a agremiação é capaz. Quando João começou a habitar em Caxias, eu estava nascendo”, afirmou a compositora Márcia Nunes, de 58 anos, com sua fantasia que representava todos os políticos que já visitaram o pai de santo.

Desfilando pela terceira vez na escola de Caxias, Victor Alexandre, 24 anos, contou que aprovou a proposta de mudança da identidade da escola.

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“A agremiação esse ano está muito diferente de tudo o que eu já vi. O trabalho dos carnavalescos está maravilhoso, com um acabamento perfeito”, Victor participou da ala coreografada, intitulada “Balé Afro”, e usou um traje que retratou roupas de tribos africanas.

A diferença da Grande Rio era visível em seu conjunto de fantasias e alegorias, criadas pelos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. O componente Rafael Mendes desfilou na vigésima sexta ala com roupas típicas dos festejos de quadrilha.

“Meu traje representava uma festa junina. O São João na Gomeia. Achei linda. O acabamento dos carros também foi muito bem feito. Eles estavam enormes e impressionantes”, afirmou.

Alegoria do Tuiuti recria batalha épica em plena Sapucaí

 

tuiuti desfile 2020 106Fechando o segundo setor da escola, a alegoria “O Encantamento de Dom Sebastião na Batalha de Alcácer Quibir” foi um dos destaques do desfile da Paraíso do Tuiuti. Todo o carro, incluindo grandes esculturas de cavalos, foi coberto por uma textura artística que, com a iluminação especial, reproduziu com perfeição os areias do deserto marroquino. Na região se desenrolou a batalha que levou à derrota do exército comandado por Dom Sebastião e o misterioso desaparecimento do monarca. Com o trágico resultado da batalha, o Rei, que ganhou uma figura central na alegoria, passou a viver nas lendas e no imaginário popular pelos mais diversos recantos do mundo.

O embate entre soldados mouros e cristãos foi representado pelas composições da alegoria da Tuiuti.

Alexandro Borges, 37 anos, desfila há 11 anos na Sapucaí. Ele aceitou o convite para integrar a segunda alegoria da Tuiuti após conhecer a proposta da escola.

“Fiquei encantado com o trabalho desenvolvido pelo carnavalesco João Vitor Araújo. Assim que eu vi o volume e a textura do carro, tive a certeza de que viríamos pra disputar o título, não só pra ficar entre as campeãs. A escola está com sangue nos olhos”, afirmou o componente.

Alexandro representou um soldado mouro: “Fui vencedor na batalha no deserto do Marrocos e agora quero vencer na avenida também!”

Álvaro Junior, de 44 anos, desfilou pela primeira vez na Sapucaí. Ele contou como foi preparada a performance executada no carro. “Ensaiamos duas vezes por semana por mais de dois meses. Já simulamos a batalha na Cidade do Samba. A alegoria ficou maravilhosa com esse cenário tão realista do deserto. Entro orgulhoso para esse desfile. Os cristãos perderam a batalha mas na Tuiuti todos vieram pra ser vitoriosos. Eu tenho certeza de que a escola volta no desfile das campeãs”, apostou Álvaro.

Fotos: Desfile do Paraíso do Tuiuti no Carnaval 2020

Grandiosidade e emoção no conjunto alegórico do Paraíso do Tuiuti

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O carnavalesco João Vitor Araújo estreou na Paraíso do Tuiuti com um conjunto de alegorias que fez a comunidade de São Cristóvão confiar no retorno da escola entre as campeãs. O jovem artista afirmou que este é o carnaval de sua vida.

Para narrar a ligação entre o monarca Dom Sebastião e o santo padroeiro da cidade do Rio, João Vitor apostou na imponência e grandiosidade, como já se podia ver no abre-alas. A alegoria que abriu o desfile da azul e amarela era composta por três chacis acoplados. Nas cores da escola, o carro intitulado “Sob as Bênçãos do Santo e para a Glória de Portugal: Viva o Rei Desejado” trouxe uma das marcas do trabalho do carnavalesco: as esculturas caprichadas.

Fernando Oliveira, 38 anos, veio de São Paulo para estrear como desfilante no carnaval carioca. Vestido como cavaleiro de Sebastião, o componente contou que tem um carinho especial pela Paraíso do Tuiuti: “É uma escola que sempre chamou a minha atenção e vem crescendo bastante. Achei que era a hora de eu participar dessa história. Vendo a alegoria na concentração, sinto que escolhi o momento certo para a minha estreia na Tuiuti”, disse o paulista.

A segunda alegoria representou o encantamento de Dom Sebastião na Batalha de Alcácer Quiber, e manteve o padrão de qualidade e grandeza do conjunto da escola.

O terceiro carro seguiu a linha definida pelo carnavalesco e apresentou um visual diferenciado das demais alegorias. Em tons de prata, azul e verde, João Vitor criou o palácio marinho de Dom Sebastião. O desenho e o acabamento das esculturas se destacava, deixando as composições orgulhosas. Luís Augusto Martins, de 36 anos, foi convidado para representar uma criatura do fundo do mar.

“Fiquei muito impressionado com a qualidade do material das fantasias e com o acabamento do carro. Com a iluminação especial, tenho certeza de que vai criar um grande impacto na avenida. A escola está luxuosa, volumosa, tem tudo pra surpreender e alcançar as primeiras colocações”, contou.

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A alegoria seguinte trouxe um visual sombrio para representar a lenda maranhense do touro negro coroado, que se enfeita com as vestes do Rei. Rosa Tomas, 49 anos, vive no Caribe há 25 anos, mas retornou para desfilar no carro.

“Essa alegoria tem uma relação com o sobrenatural, a magia. Eu digo que é um carro do além, ele mexe muito comigo. Era um sonho pra mim desfilar num carro tão impressionante”, revelou Rosa.

Para fechar o desfile com a mesma grandiosidade apresentada desde o abre-alas, o carnavalesco trouxe uma imponente figura de São Sebastião, o Santo protetor de Dom Sebastião. O carro chamado “O Cortejo vai Subir pra Saudar Sebastião” representou um grande altar onde a cidade do Rio de Janeiro pede proteção. A alegoria trouxe votos de paz e de respeito às diferenças. A questão social estava clara na fantasia de Leonardo Diniz, 46 anos, que interpretou Dom Sebastião dos Pobres. Na capa do destaque havia imagens de crianças que foram vítimas da violência no Rio de Janeiro.

“Quando cheguei à concentração, várias crianças vieram me perguntar o que eram estas fotos, e pude perceber a comoção de cada uma delas. A imagem de São Sebastião neste carro vai provocar uma emoção semelhante em todo o público da Sapucaí”, apostou o figurinista.

Mangueira casa plástica requintada com desfile tecnicamente perfeito

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Por Diogo Sampaio. Fotos de Allan Duffes, Isabel Scorza e Magaiver Fernandes

Como seria caso Cristo retornasse hoje em dia? Onde iria nascer? Qual seria sua aparência? Propondo esses questionamentos, a Estação Primeira de Mangueira trouxe para Marquês de Sapucaí o “Jesus da Gente”, um moleque pilintra, do Buraco Quente, que tem rosto negro, sangue indígena e corpo de mulher.

Em uma apresentação tecnicamente perfeita, aliada com uma excelente plástica, a Mangueira se credenciou com uma das grandes favoritas ao título, no seu caso, ao bicampeonato. Terceira agremiação da primeira noite de desfiles do Grupo Especial, a Verde e Rosa encerrou sua passagem pela passarela do samba com 67 minutos.

Comissão de Frente

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Intitulada “Seu Nome é Jesus da Gente”, a comissão de frente assinada pelos coreógrafos Priscilla Mota e Rodrigo Negri trazia uma síntese do enredo, com a encenação das possíveis situações de vulnerabilidade que Jesus Cristo passaria caso nascesse no Brasil dos dias atuais. Os integrantes vestiam figurinos feitos de jeans estilizados, com a presença de alguns acessórios como bonés e bandanas complementando as caracterizações. Eles usavam como elementos de apoio cubos espelhados, com leds em verde e rosa nas arestas, que se transformavam em diversas coisas ao longo da performance.

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Com uma coreografia teatralizada, que mesclava passos de hip hop com street dance, a comissão tinha seu primeiro grande momento quando os componentes formavam a imagem da santa ceia. Seu segundo momento de destaque acontecia quando os cubos eram abertos e formavam um painel, simulando um muro com o nome de Jesus escrito nele. Nesse momento, Cristo junto com seus “discípulos” era enquadrado pela polícia, que o revistava e o agredia.

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Na sequência, já com Cristo ausente, vinha o terceiro momento da comissão, em que os cubos viravam caixas de som e formavam uma espécie de paredão funk durante a passagem do refrão “Favela, Pega a Visão”, com direito a efeitos de fumaça. O momento final acontecia quando atrás do paredão aparecia uma representação do Morro da Mangueira, com Jesus ressurgindo no alto da favela, trazendo agora a imagem do sagrado coração em seu peito.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

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Com uma fantasia nomeada de “Margem Poética”, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus Olivério e Squel, desfilou vestido com as cores verde, o rosa, o dourado e o branco. Enquanto o figurino dele era mais tradicional, o dela ousava ao abrir mão do uso de costeiro e chapéu, além de trazer a parte de cima da roupa em modelo espartilho e “tomara que caia”. Apresentando uma dança de ritmo cadenciado, sincronizada e com gestos graciosos, a dupla não cometeu falhas expressivas nos módulos de julgamento, apesar do vento forte ter atrapalhado Squel durante performance para segunda cabine.

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Harmonia

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Todas as alas entoaram o hino mangueirense do início ao fim, mesmo com as arquibancadas frias durante a apresentação. Até mesmo alas coreografadas, como a 05, “O Joio e o Trigo”, cantaram os samba a plenos pulmões. A interação com o público não é quesito, mas pode influenciar a avaliação do julgador.

Enredo

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Através do enredo “A Verdade Vós Fará Livre”, a Mangueira propôs um questionamento acerca de como seria a volta de Jesus à Terra no contexto da realidade atual, de uma sociedade marcada pelo preconceito e pela intolerância. No decorrer de cinco atos, o desfile retratou o nascimento, a vida adulta, os algozes, o martírio e a ressurreição de Cristo. Com uma plástica refinada e de fácil leitura, a mensagem era transmitida ao público sem dificuldades, não sendo preciso recorrer ao roteiro de desfiles ou a textos de apoio para ter uma clara assimilação do que estava passando pela Avenida.

Evolução

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A Mangueira não apresentou falhas no quesito, mesmo com um ritmo um pouco mais lento no início. As alas se apresentaram bem arrumadas e enfileiradas, mas com componentes soltos e alegres. Também não houve encontro ou embolamento de componentes entre elas.

Samba-Enredo

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A obra composta por Luiz Carlos Máximo e Manu da Cuíca foi conduzida com segurança pelo intérprete Marquinhos Art’Samba, que manteve o rendimento dela mesmo diante dos problemas com o sistema de som da Sapucaí. O entrosamento entre o carros de som e a bateria foram outro ponto alto, assim como o canto forte dos componentes da escola.

Alegorias e Adereços

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Um dos grandes destaques da apresentação mangueirense foi o conjunto alegórico apresentado. Rico em detalhes e com excelentes acabamentos, os carros eram cenográficos, mas carnavalizados. A quarta alegoria, chamada de “O Calvário”, pode ser mencionada como uma das de maior impacto junto ao público ao trazer a figura de um jovem menino crucificado em uma gigantesca cruz.

Fantasias

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Assim como o conjunto alegórico, as fantasias foram outro ponto alto da apresentação. Volumosas, criativas e de boa leitura, podem ser citadas como destaques as roupas da alas 03 (“O Bom Pastor”), 04 (“Milagre da Multiplicação”), 09 (“O poder de Roma” – passistas) e 13 (“A intolerância é uma cruz” – baianas).

Outros Destaques

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Logo na abertura da escola, antes da comissão de frente, um grupo de pessoas representando os mais diversos credos religiosos vinha trazendo uma faixa com os dizeres: “Independente da sua fé, o respeito deve prevalecer”.

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Algumas alas da Mangueira, com viés mais crítico, tiveram grande comunicação com o público, dentre as quais se destacou a número 17, “Maria Madelena Ano 2000, que trazia uma representação atualizada como se fosse uma drag queen.

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Outro ponto foi a sempre aguardada passagem da rainha da “Tem que respeitar meu tamborim”, Evelyn Bastos. Mantida em segredo até a hora do desfile, a fantasia da beldade fazia alusão a Jesus Cristo, com direito até a uma coroa de espinhos na cabeça. Causa estranheza a rainha do samba no pé não ter sambado em nenhum momento. O personagem é legal, mas fez muita falta o ritmo que é próprio da rainha mangueirense.

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Ala da Mangueira trouxe componente carregando cruz escrita “Bandido Morto”

Terceira escola a pisar na Marquês de Sapucaí na noite de domingo, a Estação Primeira de Mangueira falou a respeito de um Jesus da gente. Como se fosse nascido e criado na comunidade da escola nos dias atuais. A campeã do carnaval 2019 desfilou com enredo “A Verdade Vos Fará Livre”, utilizando a história do Cristo que exaltou os humildes e condenou o acúmulo de riquezas. De um Jesus que insurgiu-se contra o comércio da fé, desafiou a hipocrisia dos líderes religiosos de seu tempo, foi torturado, padeceu e morreu.

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O Jesus da Mangueira levanta a voz em favor da dignidade humana e é contra o pensamento de extermínio. A verde e rosa relacionou a questão da violência e do encarceramento com as mazelas oriundas da escravidão. Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cerca de 65% da população carcerária do Brasil é preta ou parda. A 15ª ala da Mangueira foi inspirada em uma frase popular, utilizada inclusive em campanhas eleitorais: Bandido Bom é Bandido Morto.

A componente Carla Regina, de 35 anos explicou que o enredo é necessário nos tempos de intolerância.

“Esse enredo fala muito da gente. Jesus vem só trazendo um carma que a gente já carrega. Nossa ala veio vestida de ‘bandido’. Tem várias pessoas que são tidas como bandidos, pagando por coisas que não fizeram. Enquanto bandidos de verdade estão soltos por aí. Essa é a uma das nossas formas de protesto. Nem todo mundo é bandido”.

Composta por uma calça azul e parte de cima com tons bege, marrom e dourado, a fantasia da ala ainda possuía os dizeres “fé no pai” na altura do peito. Os componentes vinham apenas com os olhos e as mãos à mostra, com uma coroa de estrelas sobre a cabeça, carregando nas costas uma cruz escrito “Bandido Morto”.

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Para Carla, Jesus seria vítima de preconceito se voltasse nos dias atuais como um morador do Morro da Mangueira.

“O Jesus vindo da Mangueira seria mal julgado, por ser de comunidade, infelizmente a gente é muito rotulado nesse tipo de situação. Na verdade ele já foi visto como bandido lá atrás, julgado de ladrão. Provavelmente porque ele não tem interesses. Quem não tem interesses e luta pelo povo geralmente é tido como bandido”. Ela afirma não temer que as pessoas façam julgamento ou discordem da proposta da ala. “A gente não está preocupado com o julgamento, ele já tá vindo desde o início. A gente quer tocar na consciência das pessoas”, desabafou a componente.

Cortejo sobe e Tuiuti saúda padroeiro São Sebastião em sua última alegoria

O último trecho do samba-enredo do Paraíso do Tuiuti serviu de inspiração para a última alegoria da escola de São Cristóvão. Para encerrar o desfile, o cortejo subiu e saudou Sebastião. Com um enorme altar saudando a cidade do Rio de Janeiro. Que foi fundada durante o reinado de Dom Sebastião, outro homenageado do enredo.

No topo da alegoria havia o sincretismo religioso entre Sebastião e Oxóssi. A figura emocionava o público desde o setor 1 até a dispersão. Os componentes também se mostravam muito emocionados ao ver santo e orixá lado a lado. Desfilando pela primeira vez no Tuiuti, Ana Laidley afirmou ser um privilégio participar do espetáculo proposto pela escola.

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“É uma experiência inacreditável, me sinto privilegiada. Fiz uma oração ainda na concentração, pedi proteção para que tudo fosse muito bonito em nossa homenagem ao padroeiro”, contou.

A alegoria focou na parte mais religiosa do enredo, e nela, vieram beatas e guardiões num grande altar. Completando 5 anos de Paraíso do Tuiuti, Gustavo Krelim contou o que representava sua composição do carro.

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“Viemos representando guerreiros guardiões no último carro. Achei super legal do carnavalesco fechar com nosso padroeiro, super bem amarrado tanto a parte de Portugal quanto a do Rio de Janeiro e fazendo esse link com o Tuiuti. Fico muito feliz com essa costura”, concluiu Gustavo.