Acesso São Paulo: Mocidade Unida da Mooca e Estrela do Terceiro Milênio em alto nível visual
Por Gustavo Lima
O site CARNAVALESCO acompanhou os desfiles do Grupo de Acesso I, neste domingo, e a noite foi marcada pelo alto nível de disputa entre as escolas, o que já era esperado, pelas fortes e tradicionais agremiações que estão no grupo. Mocidade Unida da Mooca, Estrela do Terceiro Milênio e Vai-Vai foram as melhores, acompanhadas de Camisa Verde e Branco e Acadêmicos do Tucuruvi, essas cinco brigarão por uma vaga na elite do carnaval paulistano. Nenê de Vila Matilde e Leandro de Itaquera tiveram erros perceptíveis, e vão brigar para não cair. A Independente Tricolor não será julgada.
Independente Tricolor
Abrindo a noite dos desfiles do Grupo de Acesso I, a Independente Tricolor não será julgada em decorrência do incêndio que atingiu o barracão em outubro do ano passado. A agremiação utilizou apenas uma alegoria, e fantasias de anos anteriores foram reaproveitadas na maioria das alas, e mesmo assim, a escola desfilou descontraída e cantando forte. A comissão de frente vestia uma roupa escura com detalhes em laranja e dourado, aparentemente representando soldados do tempo. A coreografia da ala tinha bastante repertório e interagia com o público a todo momento. O casal vestia uma luxuosa fantasia nas cores dourado e preto, com bastante brilho, executando todos os movimentos previstos no regulamento. A única alegoria da escola, provavelmente feita depois do incêndio, trazia o símbolo da agremiação na parte da frente e esculturas de relógios no espaço de trás. A Independente Tricolor levou o enredo “Utopia. É preciso acreditar!”.
Estrela do Terceiro Milênio
Segunda escola a desfilar na noite, a Terceiro Milênio deu um show na passarela, o desfile foi aquém do esperado, pelo fato de a agremiação estar voltando este ano para o Grupo de Acesso I, depois de permanecer dois anos por lá. O canto da comunidade foi forte e com clareza em todos os setores. A comissão de frente fez a sua apresentação com vários personagens, simbolizando índios, as águas, e a personagem principal que vestia uma coroa, aparentemente representando a mãe d’água. A coreografia teve bastante repertório, os integrantes se cruzavam na pista o tempo, a ala usou um elemento alegórico que representava um barco.
O conjunto alegórico da escola foi ótimo, com destaque para o grandioso abre-alas, o azul predominava, representando o mar, com uma grande escultura de sereia. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel Vitro e Edilaine Campos, usou uma fantasia com tons de roxo e verde água, simbolizando os índios. A porta-bandeira teve dificuldades com o pavilhão por causa do vento, mas não chegou a enrolar. Todos os movimentos obrigatórios foram realizados pela dupla. As fantasias também foram destaque, a Estrela do Terceiro Milênio optou pelo uso de materiais ricos na maioria das alas. O enredo que a agremiação levou para a avenida foi “No coração da floresta, nascem as estrelas que brilham no meu carnaval”, uma homenagem à Amazônia e aos trabalhadores de Parintins.
Nenê de Vila Matilde
Uma das escolas mais tradicionais do samba paulistano, a Nenê de Vila Matilde, foi a terceira a desfilar e levou para a avenida a história da cerveja, e teve algumas falhas que pode comprometer o sonho da volta ao Grupo Especial. A comissão de frente mostrou uma dança onde os componentes exaltavam a personagem principal, que simbolizava uma deusa. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Cley Ferreira e Monalisa Bueno, usou uma fantasia em tons de amarelo, laranja e dourado, mostraram simpatia, uma coreografia clássica e cumpriram todos os movimentos.
O conjunto alegórico não deixou a desejar, a escola optou por alegorias de fácil entendimento, sem o uso de movimentos e esculturas grandes, mas com muitos componentes, o que deu vida aos carros alegóricos. Destaque para o abre-alas, com a famosa águia, que estava visualmente agradável. A escola optou pelo uso de materiais simples nas fantasias, mas não soube usá-los, pois dava para ver muitas vestimentas com elementos caídos ou soltos. O samba-enredo foi de difícil assimilação para os componentes, onde houve problemas com a harmonia em todos os setores.
Leandro de Itaquera
Quarta escola a desfilar, a Leandro de Itaquera levou para avenida o enredo sobre a savana africana. O começo do desfile foi arrasador, o chão da escola foi impecável, os componentes cantavam com garra e estavam emocionados, além da bateria, com as bossas e paradinhas que levantaram a arquibancada. A comissão de frente vestia uma roupa bege e fazia coreografias dentro do samba, cruzavam a pista e trocavam de posições. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, ostentaram o pavilhão mais pesado do carnaval, que é bordado a mão, característica da escola.
José Luís e Jussara Souza fizeram os movimentos corretos, mas claramente a porta-bandeira se sentia incomodada com o adereço de cabeça. A ideia de execução das alegorias foi acertada, mas era perceptível falhas no acabamento, principalmente no segundo carro. A evolução da escola foi fraca, houve vários buracos e correria desde o minuto 40 aproximadamente, pois a último alegoria estava cruzando o setor A e a agremiação precisava cruzar a linha de chegada.
Mocidade Unida da Mooca
Foi um desfile avassalador da MUM. Não pecaram em nenhum quesito, e o destaque principal foi o aspecto visual. Carros alegóricos com acabamentos surpreendentes e fantasias luxuosas, fizeram do módulo visual o ponto alto do desfile. Vale ressaltar a ideia que a escola teve de questionar o preconceito, trazendo alas com as frases “cadê o respeito?”, “a quebrada acordou”, entre outras. O samba também é bem afrontoso, o refrão principal se destacou, com a bateria fazendo paradinhas em alguns momentos deixando a arquibancada e a comunidade cantar em uma só voz.
A comissão de frente aparentemente representava guardiões, usando um tripé com um acabamento perfeito. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jefferson Gomes e Janny Moreno, usando uma fantasia nos tons de reto, dourado e vermelho, ostentaram o pavilhão da Mocidade com elegância e simpatia. Com movimentos suaves, realizaram todos os movimentos que se pede no regulamento. Ano passado a escola pecou muito em evolução apesar do bom desfile, mas desta vez, o problema foi corrigido, o que credencia a Mocidade Unida da Mooca ao acesso para o Grupo Especial.
Acadêmicos do Tucuruvi
Outra tradicional escola do carnaval paulistano, a Tucuruvi, foi a sexta a desfilar, com um enredo que homenageia Chico Anysio, sendo a comissão de frente o quesito destaque. A ala estava vestida de vários personagens de criação do humorista e mostrou muita simpatia e interação com o público, sorrindo bastante e acenando para o público na coreografia. Waleska Gomes e Luan Caliel, se destacaram pela coreografia, onde a porta-bandeira sorria de forma humorística, fazendo alusão ao enredo e a dupla realizou os movimentos conforme os itens de julgamento.
O desempenho da harmonia foi satisfatório, principalmente do segundo setor em diante, é um samba alegre que proporciona o componente brincar na avenida. Até pelo enredo com tom humorístico, a escola não se preocupou em usar fantasias luxuosas, escolheram materiais simples que foram usados corretamente. O mesmo se aplica nas alegorias, a Tucuruvi não optou pelo uso de carros alegóricos grandiosos recheado de luxo, todos tiveram uma fácil leitura, com destaque para a terceira alegoria, que representava a Escolinha do Professor Raimundo.
Camisa Verde e Branco
Penúltima escola a desfilar nesta noite, e uma das apresentações mais aguardadas da noite, o “Trevo da Barra Funda”, agremiação tradicional e uma das maiores campeãs do carnaval de São Paulo, passou fria, mas plasticamente bonita, com alegorias bem detalhadas na proposta do enredo e um ótimo acabamento. A comissão de frente usou costeiros beges e saias de cores diferentes, aparentemente representando os orixás. Os outros personagens simbolizaram uma espécie de guardiões.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Gabriel Vullen e Joice Prado, vieram com muita alegria, simpatia e elegância. Com a fantasia nos tons bege e vermelho, a dupla realizou uma coreografia clássica, introduzindo alguns passos do candomblé, cumprindo com os movimentos obrigatórios. A escola não cantou tão forte como se imaginava, mas os componentes ao menos demonstraram clareza no canto, o entrosamento com a bateria e ala musical foi satisfatório, destaque para o samba que foi bem interpretado pelo puxador Tinganá. Não teve problemas de evolução, não houve buracos e a agremiação passou no tempo. As alegorias focaram na representação dos orixás no candomblé, com destaque para a escultura da mamãe Oxum, no abre-alas. Talvez tenha ficado uma decepção pelo fato de o homenageado Carlinhos Brown não ter aparecido no desfile.
Vai-Vai
Encerrando os desfiles do Grupo de Acesso I, a maior campeã do carnaval paulistano, a Vai-Vai deu um show de canto, tanto na pista como nas arquibancadas. A escola teve uma recepção calorosa da torcida em todo o Anhembi, com bandeirinhas, dando um belo visual ao Sambódromo. A comissão de frente fazia alusão a todos os momentos da escola, com personagens vestidos de sambista boêmios coreografando pela avenida com cadeiras nas mãos. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Ana Paula Penteado e Pingo, usaram uma fantasia preta e branca com tons em dourado.
A bateria de mestre Tadeu, levantou a arquibancada por onde passou. O conjunto alegórico foi irregular, dava para notar algumas falhas de decoração, principalmente se tratando do último carro. O problema principal da escola foi a evolução, teve que dar uma leve corrida no final e apresentou um buraco entre o abre-alas e a ala das baianas, em frente ao setor monumental, além de algumas fantasias que teve o uso de materiais simples demais, o que não dá clareza à leitura das vestimentas.
União da Ilha abre buraco gigante, estoura tempo e se complica no Grupo Especial
Por Victor Amancio. Fotos: Allan Duffes, Isabel Scorza e Magaiver Fernandes
Sexta escola a passar na avenida na primeira noite do Grupo Especial, a União da Ilha fez o pior desfile da noite errando feio na evolução. Abrindo um buraco imenso entre o setor 6 e o setor 10 atrapalhando todo o resto da escola, que teve diversos outros espaços abertos entre alas. Correndo muito a Ilha ainda assim estourou um minuto do tempo máximo e deve perder um décimo. Nas fantasias foram utilizados recursos próximos das roupas do dia a dia com pouquíssima carnavalização desta forma trazendo um desfile mais próximo do real.
Comissão de frente
Coreografados por Leandro Azevedo o grupo de bailarinos se apresentou encenando a realidade vivida em muitas comunidades, onde o caminho mais fácil nem sempre é o caminho correto a ser seguido porém é o meio de sobrevivência. Crianças maltrapilhas iniciam a apresentação e saindo do tripé, que na parte de frente apresenta com uma mulher negra, sai uma menina fazendo alusão ao parto. Esta melhor vestida e acompanhada de uma mochila apresenta um livro mudando o rumo das outras crianças. Encerrando a comissão vislumbrando através da apresentação as crianças se tornando adultos com diversas formações e dando a ideia da educação sendo o caminho para salvar o futuro das crianças. A comissão não teve um momento de explosão, não caiu nas graças do público e a saída ainda atrapalhou a entrada do primeiro casal.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal da União da Ilha, Phelipe Lemos e Dandara Ventapane vieram representando seu Zé e Maria, em referência aos Exus que são os donos da rua. O casal enfrentou problemas na apresentação por conta do tripé da comissão de frente que demorava a sair da frente do módulo dos julgadores e atrasando a apresentação do casal. Por mais que eles tenham enfrentado esse problema a dupla dançou muito bem, com passos sincronizados e sem nenhum erro. Dandara com passos mesclando leveza e força confirma maturidade como porta-bandeira e Phelipe com seu gingado malandreado conduziu com maestria seu par. Dandara falou que o casal precisou improvisar na apresentação.
“A gente tem 4 anos de parceria, temos muita sintonia, hoje dançamos improvisando”, explicou Dandara.
Harmonia
Por mais dos grandes problemas de evolução a escola teve um canto forte. O trabalho de harmonia do mestre Laíla foi perceptível. O problema não afetou o canto da escola e Ito comandou jogando pra cima o componente.
Enredo
O enredo da União da Ilha retratou os principais problemas que afetam a sociedade mais pobre da população, mais precisamente o grupo sem privilégios que habita as comunidades e periferias. Fazendo um convite para o público conhecer essa realidade e apresentando as mazelas e alegrias vividas por esta parcela da sociedade a escola desfilou com 5 setores e não foi prejudicado pelas fantasias e alegorias que explicaram bem o enredo da escola.
Evolução
Impressão de iniciar o desfile de forma lenta e por conta de um problema com o segundo carro, que ficou sem sair do lugar por um tempo, a escola abriu um buraco do Setor 6 até o Setor 10. Depois de solucionado o problema os componentes precisaram correr para alcançar o resto da escola e a evolução se tornou um caos abrindo buracos em diversos outros pontos. Por conta dos erros a escola estourou um minuto do tempo máximo e dever perder um décimo por não cumprir a obrigatoriedade.
Samba-Enredo
O samba funcionou para o canto porém não passou bem para o público. Crescendo na voz e Ito a obra ainda foi abaixo do nível porém retratava bem o enredo da escola.
Fantasias
Diferente do que as escolas apresentam habitualmente a União da Ilha desfilou com fantasias muito próximas do real e com pouca carnavalização. Por mais que explicassem bem o enredo algumas tinham problemas de acabamento como as 19, 21 e 23 que passaram deixando pela pista pedaços da fantasia.
Alegorias
O realismo foi o caminho que os carnavalescos Fran Sérgio e Cahê Rodrigues optaram para desenvolver o enredo da União da Ilha. Os carros era bem próximos da realidade e as composições em sua maioria usavam roupas normais dando ainda mais realidade para o desfile. Bem acabados e retratando o enredo o erro ficou por conta dos problemas motores do segundo carro que atrapalhou a escola.
Evolução atrapalha melhor desfile da Grande Rio desde 2010 e acaba com pretensão de brigar pelo topo
Por Guilherme Ayupp. Fotos de Allan Duffes, Isabel Scorza e Magaiver Fernandes
Os sambistas clamaram, a Grande Rio demorou, mas atendeu. A escola optou por resgatar o seu DNA de enredos mais culturais como nos seus primeiros anos. O desfile da agremiação na madrugada deste domingo de carnaval deixou bastante claro que a escolha foi acertada. Cantando com a alma, evoluindo como há anos não se via e com uma plástica de extremo bom gosto, mesmo com um enredo denso.
Mas nem tudo foram flores. Se a escola evoluiu bem no aspecto da espontaneidade dos componentes, cometeu diversos erros de andamento, deixou abrir buracos e para tornar a situação ainda mais preocupante entrou com o seu abre-alas desacoplado na pista. Mesmo sem estar acoplado a escola ficaria com seis alegorias, já que levou cinco. Porém, o início tenso desembocou em uma evolução irregular, que pode afastar a escola do sonhado título. A Grande Rio se apresentou com o enredo ‘Tatalondirá: o canto do caboclo no Quilombo de Caxias’. A tricolor foi a quinta a desfilar e usou 68 minutos para sua apresentação.
Comissão de Frente
Proposta complexa, porém bem executada da dupla Hélio e Beth Bejani. A apresentação buscou sintetizar o rito mestiço diversificando o culto aos orixás, inquices e os caboclos. E um primeiro momento os dançarinos estavam reunidos na forma de Iansã e Oxóssi, os orixás que regiam a cabeça do célebre Pai de Santo. Eles estavam em pequenos elementos alegóricos, que em um segundo momento eram transformados em ‘ocas’, de onde saíam índios caboclos. No fim esses índios subiam no tripé e faziam um evolução com forte traço corporal, sobre a água. Um pajé nas cores da escola complementava a apresentação que era finalizada com a inscrição ‘Respeita o meu axé’. Uma forte apresentação.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Notória evolução da dupla Daniel Werneck e Taciana Couto. Mais entrosados, com os movimentos muito bem feitos e grande cumplicidade entre eles. As três apresentações nos cinco módulos de julgamento transcorreram sem erros. O casal reverenciou Exú, com figurinos que dialogam com o poema de Abdias Nascimento, mesclando elementos de Exu-Barra e Exu-Catiço. A roupa possuía um minucioso trabalho em búzios e miçangas.
Enredo
O desfile se iniciava com os delírios que conduziram um menino do interior baiano, nascido na cidade de Inhambupe, à visão fantástica de um homem coberto de penas, o Caboclo da Pedra Preta, guia e fio condutor do enredo. Na sequência da narrativa, João deixa a pequena Inhambupe e chega à mítica Salvador, cidade solar, cintilante, que festeja os caboclos, no 2 de julho; cidade onde Pai Jubiabá desafiava outros candomblés, promovendo ritos “impuros”, mistura de orixás, inquices e caboclos.
O desfile mostrou, na sequência, que João desembarcou no Rio de Janeiro e fincou as suas raízes na Baixada Fluminense, Duque de Caxias, transformando a “Nova Gomeia” em um cenário de festa e fartura. Baixavam os caboclos na Baixada, sob a proteção de Pedra Preta, no transe do Juremá. O rito do candomblé de Joãozinho misturava a matriz Angola, o culto da jurema sagrada (praticado nas regiões Norte e Nordeste) e as especificidades do candomblé de caboclo.
A relação de Joãozinho com o carnaval foi abordada no setor 4, ‘A rua: carne de carnaval’. Em seguida narrativa chegou a outro momento do enredo, dedicado aos palcos. João reinou nos grandes teatros e brilhou nos maiores cassinos. Para finalizar, o desfile entoará um canto de tolerância, em defesa da liberdade religiosa e da diversidade cultural.
Não é simples defender na avenida um proposta tão densa. Afinal é preciso estar atento ao fato de que muitas pessoas desconhecem certas especificidades das religiões de matriz africana. Foi por isso que os carnavalescos optaram por figurinos bem didáticos, principalmente nos setores iniciais. Depois que o desfile chegou nos aspectos mais conhecidos do homenageado a compreensão se tornou mais facilitada.
Alegorias e adereços
Conjunto imponente, como pedia o enredo. Na primeira alegoria estavam representadas as raízes ancestrais afro-ameríndias de Joãozinho da Gomeia. As soluções estéticas apresentadas foram muito felizes. Um xirê no terreiro da Gomeia foi representado na segunda alegoria do desfile. Para a terceira alegoria o conceito utilizado foi a transformação do terreiro da Goméia em uma aldeia indígena. Em seguida veio o quarto carro, com homenagem à diversidade de Joãozinho na relação com o carnaval. O encerramento foi com uma alegoria pedindo o fim da intolerância, com a presença de líderes de diversas religiões.
Fantasias
Extremo bom gosto de Leonardo Bora e Gabriel Haddad. Em uma noite que contou com Rosa Magalhães, Tarcísio Zanon, Marcus Ferreira, Leandro Vieira e João Vítor Araújo, a dupla de carnavalescos da Grande Rio deu nome e sobrenome. As alas possuíam requinte e bom gosto, aliando leitura e o emprego de diversos tipos de materiais.
Evolução
O calcanhar de Aquiles da Grande Rio em 2020. Ficou a sensação que este quesito pode comprometer o sonhado campeonato. Primeiro, a escola teve extrema dificuldade para colocar o abre-alas na avenida, ocasionando um buraco nos primeiros metros da pista. Mais à frente no segundo módulo um novo buraco e no setor 10, de novo um clarão. A escola provavelmente perderá décimos nos cinco módulos de julgamento.
Harmonia
Com grandes escolas desfilando na noite, a Grande Rio, que foi a quinta, até então apresentou a melhor harmonia do desfile. Alas passaram cantando o samba com uma força que a Grande Rio não apresentava há alguns anos. No final do desfile a agremiação foi ovacionada pelos setores finais.
Samba-Enredo
Cotado como obra mais completa da safra deste ano, o samba da Grande Rio superou todas as expectativas. Rendeu muito bem do início o fim. Mérito da atuação de gala do intérprete Evandro Malandro. Certamente foi a melhor atuação de sua carreira.
Outros Destaques
A bateria levantou a Sapucaí com um ritmo alucinante, com bossas muito criativas. Fafá incorporou o personagem. Ele veio caracterizado como Ramsés. Isto porque Joãozinho usou essa fantasia no baile do Municipal no ano de 1962.
Abre-alas da Ilha retrata o cotidiano e a diversidade das favelas
A União da Ilha do Governador foi a penúltima agremiação a desfilar na noite deste domingo, com o enredo “Nas encruzilhadas da vida, entre becos, ruas e vielas; a sorte está lançada; salve-se quem puder!”. O desfile é uma reflexão sobre os principais problemas que afetam as camadas mais pobres da população, que acaba se instalando em comunidades nas periferias das grandes cidades.
No entanto, o foco da escola insulana não foi os diversos problemas que as favelas cariocas têm em comum, e sim a superação através da solidariedade, da amizade, da força de vontade e determinação. Apesar de tantos pesares, a população da periferia aprendeu a ser feliz, transformando pequenos momentos de alegria em grandes festas, como é o carnaval. O abre-alas da Ilha mostra a favela e a diversidade de sua gente de fé, que é protegida por São Jorge, o Santo Guerreiro, que veio no alto do carro.
A alegoria foi batizada com o mesmo nome do primeiro setor da escola: Entre becos, ruas e vielas. São dois carros acoplados que formam uma grande favela, repleta de barracos, em meio a fios, roupas penduradas e muitas pessoas. Integravam o carro personagens cotidianos como manicures, vendedores, traficantes, donas de casa e até mesmo helicópteros da polícia com os dizeres “Agentes da Paz”, reproduzindo a realdade das comunidades cariocas. “É a nossa realidade atualmente. A favela propriamente dita com o seu dia-a-dia”, contou Katia Silene, de 48 anos, que há três anos desfila na Ilha.
A outra parte do abre-alas veio com vários carros e motos remetendo ao intenso fluxo das favelas. Quando Ito Melodia, o intérprete do samba dizia: ‘Senhor, eu sou a Ilha!’, os figurantes do carro batiam no peito para expressar o amor pela escola.
“O carro está retratando realmente a vivência do carioca e do pobre, de nós negros… Acho muito importante. Espero que os políticos entendam o recado do nosso carnaval, que a gente fez pra mostrar pra eles que com ou sem dinheiro a gente faz o carnaval”, alfinetou Bruna Montenegro, de 28 anos, que saiu pela primeira vez na Ilha.
Mangueira recria calvário de Cristo crucificando minorias da sociedade
Denominada de “O Calvário”, a quarta alegoria da Estação Primeira de Mangueira retratou a crucificação de Cristo. Uma gigantesca cruz no alto da alegoria revelou a figura de Jesus crucificado. Na parte superior, onde na cultura cristã ficam as iniciais “JNRJ”, foi colocada a palavra “Negro”. Justamente para levar a reflexão das políticas raciais e sociais.
Os tons escuros predominaram a alegoria, devido a associação inspirada nas partes mais trágicas dos evangelhos da bíblia.
As múltiplas cruzes da alegoria carregavam pessoas crucificadas, fazendo uma crítica a forma como a sociedade trata as minorias. O componente André Bento, 38 anos, explicou o que representavam as composições da alegoria.
“São 10 cruzes, representando a classe LGBT, mulheres, negros, índios e os catulados que são as religiões de matrizes africanas”. André ainda completou que sua fantasia representava a classe homossexual e o motivo da representação. “É a classe crucificada todos os dias. Morta seja pela intolerância ou por não aceitação da orientação sexual alheia”.
Com 12 anos de Mangueira, Fernanda Porrio, 47 anos, afirmou que enredos polêmicos estão agradando muito a comunidade mangueirense.
“O carnavalesco retratou como se Jesus nascesse novamente, mas agora, como menino um de nossos meninos de Mangueira. Enredos polêmicos estão conquistando toda nação mangueirense”, finalizou.
Grande Rio homenageia desfile de 1970 da Imperatriz em fantasia da velha guarda
A Acadêmicos do Grande Rio foi a quinta escola a entrar na avenida, com o enredo “Tatalondirá, o canto do caboclo no quilombo de Caxias”. A escola narrava a história de Joãozinho da Gomeia, o rei do candomblé. A ala 20, nomeada de “Realeza Nagô – Imperatriz Leopoldinense, ‘Oropa’ França e Bahia, 1970”, trouxe a velha guarda da escola em fantasias nas cores verde e branco, que faziam alusão ao desfile da Imperatriz Leopoldinense de 1970, quando João da Gomeia interpretou o Rei Nagô.
Carlos Alberto Nascimento, de 71 anos, tem 30 anos só de Grande Rio. O presidente da velha guarda da escola, achou a fantasia bonita e elegante. “O enredo está bonito, a mensagem está linda e a fantasia também. Com isso tudo a gente volta campeã se Deus quiser”, contou o baluarte.
Com mais de vinte desfiles em Caxias, Claudia Bertolina afirmou estar acostumada a vir luxuosa, mas entendeu a proposta dos carnavalescos para esse ano.
“Apesar de levinha é bem quente. Achei linda e dentro deste enredo que é maravilhoso”, finalizou.