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Integrantes da Beija-Flor comemoram resgate da escola no desfile de 2020

Após amargar o 11º lugar no carnaval de 2019, a Beija-Flor de Nilópolis realizou um desfile digno para se reerguer com a ajuda do “povo da rua” e de sua comunidade. O último carro da escola representou muito bem o que o enredo pretendia apresentar, entre o real e a imaginação. A alegoria “Nas asas do Beija-Flor o voo mágico na rua do Marquês” possuía diversas esculturas prateadas, entre elas, um grande Beija Flor na parte da frente junto à Praça da Apoteose e um grande diamante ao centro.

Com muita iluminação e brilho, realçando ainda mais as esculturas do carro. A presença da velha guarda se fez essencial por conseguir retratar a imagem de tradicionalismo e ápice para o desfile. Na iluminação, diversos LEDs azuis faziam referência direta com as cores de Nilópolis. Apesar da imagem luxuosa, o carro aparentava falhas de acabamento principalmente na pintura e formatação das esculturas ao redor da alegoria.

Integrantes da Velha Guarda que estavam presentes no carro, afirmaram que era muito interessante a concepção da obra e o brilho era o diferencial. Mário Castro, que foi durante 27 anos integrante da bateria nilopolitano gostou muito da alegoria.

“O carro era muito bonito, luxuoso e com uma boa iluminação. O balanço dele foi muito interessante no funcionamento na avenida. Escola estava linda. Desfilamos como Beija-Flor”.

Outro componente do carro, Pelezinho, afirma que está na agremiação há 57 anos, desde quando a escola era pouco conhecida.

“Estou na Beija-Flor antes mesmo das pessoas saberem o que era a escola. O carro estava muito bonito e fizemos um desfile tranquilo”, contou.

Abre-alas da Tijuca homenageou o Rio de Janeiro

Unidos da Tijuca foi a quarta escola a desfilar na Sapucaí na noite de segunda-feira. Com o enredo ‘Onde Moram os Sonhos’, a escola veio contando a história da arquitetura e urbanismo, tendo como intuito mostrar a capacidade de criação do homem em diversos espaços que servem de abrigo para diferentes atividades.

A escola abriu o desfile com um enorme abre-alas que fazia uma homenagem à cidade do Rio de Janeiro, mostrando a construção do Cristo Redentor. O pavão, símbolo da escola, esteve presente em todo o carro na cor branca. Dois gigantes animais vieram na parte frontal da alegoria, e nas suas penas fitas métricas estavam representadas.

A cor escura foi predominante em todo o carro. Mas segundo Rafael Mota, 36, a cor foi proposital para indicar a poluição da cidade.

“A característica do carro preto significa que estamos trazendo a arquitetura e o urbanismo de uma maneira prejudicial. A gente vem mostrando a poluição, abrindo desfile de uma maneira mais triste”, explicou ele. Os componentes do carro representam operários construindo a imagem do Cristo Redentor.

Durante o desfile, a imagem localizada no topo do carro se erguia, rodava para os dois lados da Avenida e fazia um sinal de agradecimento ao público.

Mocidade traz alas sobre resistência das minorias em homenagem à Elza Soares

A Mocidade Independente escolheu uma das mulheres mais ilustres do bairro de Padre Miguel para homenagear no carnaval de 2020. “Elza Deusa Soares” é o titulo do enredo que narra a trajetória da cantora que se tornou porta-voz da luta contra opressões como o racismo, o machismo e a lgbtfobia. Aos 89 anos de idade, a cantora se mantém ativa em sua carreira artística, lançando discos e fazendo shows.

A ala 24 foi batizada de “Alvo – Não é bala perdida, é bala autografada”, fazendo alusão ao caso da menina Agatha, atingida por um tiro enquanto voltava pra casa, no Complexo do Alemão. A fantasia trouxe a cabeça do componente envolvida por um alvo vermelho e amarelo. Na parte de baixo, um tecido preto e branco com barracos desenhados, mostrando que os moradores das comunidades tem sido alvo principal da violência urbana.

Junior Romano, de 45, se mostrou empolgado com o enredo.

“Estava mais que na hora da Mocidade trazer essa bela história da mulher negra e guerreira nascida na Vintém”.

A Ala 25, “Canto de luta – Porta-voz LGBT” falava sobre a força da voz de Elza ecoando contra todo o preconceito e a violência sofrida pela comunidade LGBT. O figurino era brilhante e colorido, com predomínio da cor amarela. Estrelas rosas davam um toque especial na fantasia, que ainda contava com um escudo representando a resistência LGBT. “Elza é nossa. Elza é da Vila Vintém, assim como eu. Ela está a altura da Mocidade”, confessou Kelly Fermont, de 50 anos, que sai na escola há mais de dez anos.

A ala seguinte se chamava “Canto de Resistência – Porta-Voz das mulheres”, que mostrou como a cantora se tornou instrumento de denúncia diante dos casos de violência contra as mulheres. O figurino era preto e dourado, fazendo referência ao cabelo black power, que se tornou marca da cantora. No peito do componentes, um punho cerrado em rosa simbolizando o feminismo presente nas músicas de Elza. E na cabeça, uma boca aberta com a palavra “Basta” saindo de dentro. Vânia Estela, 45 anos, sendo 30 só de Mocidade, classificou sua fantasia como “A resistência da mulher brasileira, que luta, quer vencer”.

Na ala 27 “Canto que Reverbera – A carne mais barata não está mais de graça”, fez uma relação direta com a música ‘A Carne’, lançada por Elza em 2002. A roupa era uma caixa de som preta e cinza, com vários barracos coloridos e um punho negro cerrado na cabeça dos componentes.

Cléber Luis, de 40 anos, contextualizou sua vestimenta.

“Nossa ala vem falando sobre a favela, aonde Elza foi a resistência negra”. Ele ainda exalta a escolha do enredo deste carnaval. “Foi um excelente samba escolhido a dedo. Ela merece. Nascida e criada dentro da Vila Vintém, dentro da comunidade”.

Ousadia: Baianas da Tijuca representam símbolo arquitetônico de Brasília

Com um enredo sobre arquitetura, a Unidos da Tijuca escolheu a ala das baianas para representar um dos maiores símbolos arquitetônicos do país: a catedral de Brasília, que foi inaugurada em 1970 e é considerada o primeiro monumento da moderna capital do Brasil.

Na saia das matriarcas, a catedral estava representadas nas cores branca e em diferentes tons de azul e passavam a impressão de que as baianas flutuavam refletindo a leveza dos traços modernistas e a luminosidade dos vitrais. Na cabeça, a catedral também estava representada de cabeça para baixo.

“Apesar de muito pesada, essa fantasia está linda e a gente vai passar bem. A emoção é a mesma da primeira vez, quando toca a bateria, o coração acelera e arrepia tudo”, contou Jessica Marconino, 25, que é baiana na escola há quatro anos.

Fotos: Desfile da Unidos da Tijuca no Carnaval 2020

Alegoria da São Clemente retratou a fábrica das fakes news em redes sociais

A São Clemente levou para a Avenida uma alegoria que representava a fábrica de fake news, retratando uma máquina que propaga mentiras e revelava a capacidade dos vigaristas de se adaptarem aos tempos modernos da tecnologia onde tudo gira em torno das redes sociais. Na última alegoria da agremiação um personagem já conhecido por representar a mentira estava presente: o Pinóquio. Ele representava a divulgação de falsas notícias nas plataformas digitais como instrumento para influenciar as decisões políticas dos últimos anos. E assim como nas histórias infantis, o boneco possuía uma cor de madeira com pequenos detalhes verdes.

O laranja e o preto foram cores predominantes da alegoria. Haviam engrenagens espalhadas em todo o carro para passar a ideia de que a propagação de notícias falsas não param nunca. Nas laterais do carro haviam duas imensas telas de celulares que representavam a divulgação de fakes news nas redes sociais e durante o desfile mensagens falsas que viralizaram apareciam na tela.

No alto da parte posterior do carro, uma gaiola trazia um vigário aprisionado. A mensagem pretendida era mostrar que ainda há esperança de que a malandragem não triunfará.

Os componentes do carro representavam operários dessa grande fábrica de mentiras, que abastecem as redes sociais com informações fakes todo o tempo. O carro era composto apenas por figuras masculinas, alguns utilizavam fantasias na cor alaranjada e outros no alto do carro estavam com fantasias brancas com listras.

Crítica e arte da São Clemente trouxeram uma sátira carnavalizada para Sapucaí

A São Clemente optou por seguir a interpretação de uma vertente de carnaval para além de uma espaço de manifestação artística, uma oportunidade ampla de manifestação social e política. Se posicionar e assumir um lugar de denúncia, mas claro carnavalizando a ideia. Com o enredo “O Conto do Vigário” desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Silveira a preta e amarela da Zona Sul trouxe um enredo de amplitude temática, desde de uma abordagem mais histórica para o surgimento da atuação dos “vigaristas” como voltada para uma análise crítica do cenário político da sociedade brasileira e de escândalos famosos do mundo atual.

Todas as alas da escola marcaram esta posição de forma contundente, irreverente e com uma linha de crítica em forma de sátira. Dentre as alas que mais afirmaram tais questões estão a “Seu voto por dentadura” que representou a ruína da política nacional que facilmente aceita troca seu voto por reles dentaduras, a “La Garantia Soy Yo” a que retrata a pirataria de produtos muito comercializados no país.

Mara Nascimento, 47 anos, é uma veterana de Sapucaí mas que desfilou pela primeira vez na São Clemente. A estreante desfilou na ala 14, “Seu voto por dentadura”

“O desfile estava perfeito. Era tudo o que queríamos. Criticar com arte e humor. Eu adorei mesmo e achei o melhor enredo. A minha fantasia é bem clara e auto-explicativa, desse povo vendido, que vai atrás de fake news. Eu achei a fantasia ótima, apesar de parecer pouco prática não é mesmo, é bem tranquila de usar. Ela é bem colorida, gostei disso, bem Brasil mesmo em todos os sentidos” contou.

Tatiane Flor, 36 anos, pisou na Avenida pela primeira vez com a São Clemente e integrou a ala 5, denominada “Lote Funerário” e ressaltou a importância da crítica forte do enredo.

“É mesmo uma crítica bem forte tanto do enredo como da nossa fantasia, uma crítica em relação a este momento horrível que estamos passando nesse país. Mesmo com tom de diversão, nós entramos na Avenida para fazer mesmo um protesto. Gostei bastante da fantasia, estava muito bonita e divertida e a proposta também”, explicou.

Componentes da Mocidade enaltecem a representatividade de Elza Soares

Penúltima escola a desfilar na Sapucaí, na segunda noite de apresentações do Grupo Especial, a Mocidade Independente de Padre Miguel homenageou a voz marcante de Elza Soares, eleita a cantora brasileira do milênio pela Radio BBC, em 1999. Emocionada com a homenagem, Elza passou pela Avenida em um carro que exaltava sua superação em todas as adversidades que passou na vida.

Elza começou a ser reconhecida na carreira pública quando se apresentou no show de calouros do cantor e compositor Ary Barroso, nos anos 50. Na ocasião, quando perguntaram de que planeta ela teria vindo, Elza respondeu sem titubear. ‘Vim do planeta Fome.’

Com o nome de “Você tem fome de quê? Que filhos do planeta fome não percam a esperança em seu cantar”, o quinto e último carro da agremiação remetia a esse famoso episódio da trajetória da cantora. Muitas cores compunham a alegoria que trazia a grande homenageada da noite. A alegoria tinha bocas famintas, com mãos abertas saindo de dentro delas.

Em cima das mãos, havia pratos servindo de suporte para os destaques, que também vestiam fantasias bem coloridas. No centro do carro, uma enorme boca aberta, como se uma caixa de som saísse da sua garganta, lembrando toda a potência do grito de resistência e de luta de Elza Soares.

Daniele Barcelos, de 36 anos, que fez sua estreia na Avenida como destaque da quinta alegoria da Mocidade, e conversou com o site CARNAVALESCO sobre a experiência.

“No final é o banquete de tudo que Elza fez, tudo que ela vivenciou. E hoje ela tá aqui provando, tá se alimentando… É o banquete total. Fico lisonjeada pelo que a escola está fazendo, pela vida e história de Elza. Uma mulher guerreira, que foi até pra guerra.”

No alto do carro, cachos de banana davam um tom de brasilidade. Na parte traseira, a palavra “sucumbir” veio escrita em meio a dois punhos negros cerrados, representando a força e o poder da homenageada. Joyce Barcelos, de 28 anos, também saiu pela primeira vez como destaque e contou sobre sua admiração pela história da cantora: “A Elza é uma superação”, disse Joyce que emendou.

“Sei o quanto ela foi uma guerreira, o quanto ela sofreu. O quanto ela deu a volta por cima. O enredo fala muito disso, do que ela passou na vida dela, da fome. E que ela deu a volta por cima, que ela conseguiu ser um exemplo pra todos nós”, conclui.

Componentes da Tijuca comemoram a volta ‘pra casa’ de Paulo Barros

A Unidos da Tijuca, quarta escola a entrar na Avenida, na noite da última segunda-feira, trouxe para a Sapucaí o enredo “Onde Moram os Sonhos”, desenvolvido pela comissão de carnaval composta por Hélcio Paim, Marcus Paulo e Paulo Barros, que está de volta à escola após cinco anos. O anúncio oficial do retorno foi feito pela escola em junho, e deixou os Tijucanos muito felizes.

Maria Gomes, que desfila na velha guarda há seis anos diz que adora o casamento entre Paulo Barros e a Tijuca. “Uma dupla que deveria ser inseparável, ele é Tijuca, não é? Ele é a cara da Tijuca! Deve ser Tijuca até no sangue!”, brinca.

Maria do Amaral, que desfila na Tijuca há três anos, esse ano estava na ala 9, Arquitetura Colonial. Para ela, Paulo Barros é um dos melhores carnavalescos da atualidade. “Vamos dar a César o que é de César, Paulo Barros é um talento! Nós adoramos o fato dele estar aqui. Eu acho ele muito criativo em qualquer escola que ele está, mas eu acredito que a Tijuca seja a menina dos olhos dele”, conta.

Deuzenir de Abreu, uma das componentes da ala 22, Vou de Bicicleta, se considera suspeita pra falar sobre a parceria entre o carnavalesco e a Tijuca.

“Adoro ele, acho que a ausência dele deixa o nosso coração um pouco balançado, eu acho que ele tem um DNA tijucano, o que eu sinto é que mesmo que ele saia, a tijuca não sai dele, onde ele estiver a gente vai torcer pra ele, mas a vinda dele pra cá foi uma festa”, narra a componente, que desfila na Tijuca há seis anos.

Ala das baianas da Mocidade relembrou 1976, último ano de Elza como intérprete

As baianas da Mocidade Independente lembraram na avenida um dos encontros mais emocionantes entre a homenageada Elza Soares e sua escola de coração, a verde e branca de Padre Miguel. As tradicionais senhoras representaram o carnaval de 1976, quando a cantora defendeu pela última vez um samba da escola, no histórico desfile em homenagem à Iyálorixá baiana Mãe Menininha do Gantois. O samba daquele ano, cantado por Elza com o saudoso intérprete Ney Vianna, apostava que a passarela iria se transformar num cenário de magia lembrando a velha Bahia. No carnaval da década de setenta, o desfile criado pelo talentoso carnavalesco Arlindo Rodrigues deu à verde e branca o terceiro lugar. Agora, o independente acredita no campeonato da escola.

Em sua estreia como baiana da verde e branca, Flávia Rodrigues, de 42 anos, afirmou ser difícil carregar o peso de reverenciar uma mulher que canta as dores do Brasil.

“Prestar essa homenagem à Elza e poder ver a emoção dela no nosso desfile é muito especial. Fiquei um pouco nervosa com esse momento. Vejo como uma retribuição, ela merece muito”, desabafou.

A mais experiente baiana da escola, Luzia Moreira, com 85 anos, recordou com emoção os momentos de Elza ao longo da história da mocidade. E garantiu que desfilaria com a mesma garra dos seus primeiros carnavais, em respeito à deusa da Vila Vintém.

“A linda roupa que vestimos nessa noite é branca e prateada para abrilhantar ainda mais o desfile. Elza merece que a Mocidade tenha feito sua melhor apresentação porque ela é mais que uma mulher da nossa comunidade, ela é a própria voz da nossa escola”, contou.

A roupa desenhada pelo carnavalesco Jack Vasconcelos reservou uma emoção particular para Dona Luzia, por ser parecida com que a baiana desfilou pela primeira vez na escola de Padre Miguel no histórico “A festa do divino”. Carnaval de Arlindo Rodrigues em 1974.