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Carro abre-alas da Inocentes traz a ancestralidade de Oyá Igbalé

Inocentes03bSegunda escola a desfilar na Sapucaí nesta noite de quinta-feira, a Inocentes de Belford Roxo apresentou o enredo “A meia-noite dos tambores silenciosos”, sobre um rito de preservação da tradição afro-brasileira, que ocorre anualmente no carnaval de Recife. Em desfile pelas ruas da capital pernambucana é celebrada a liberdade e os espíritos ancestrais ao silêncio dos tambores.

A agremiação da baixada fluminense trouxe para o seu desfile a entidade Oyá, na qualidade de Oyá Igbalé, que é ligada à ancestralidade e aos Eguns. Trata-se do primeiro orixá invocado na celebração retratada pelo enredo da Inocentes, estando presente na comissão de frente, na ala das baianas e no carro abre-alas.

O abre-alas da Azul, Vermelho e Branco trazia na parte superior da alegoria, uma caprichada escultura de Oyá Igbalé, toda vestida de branco. Na parte frontal, havia uma grande escultura da cabeça de um búfalo, que passou pela avenida do samba soltando fumaça pelas narinas.

Inocentes03aO carro tinha a predominância da cor vermelha, possuindo nas laterais dez esculturas de dentes de marfim com um búzio nas pontas. O destaque central, Marcos Lerroy, veio com uma luxuosa fantasia branca e prateada simbolizando um babalorixá. O destaque mais acima, Satu Salgueiro, representava as borboletas de Oyá.

A alegoria, batizada de “Tambores para o ancestrais”, estava grandiosa e muito bem acabada. Reginaldo Gomes, presidente da escola, explicou ao site CARNAVALESCO que Oyá Igbalé é a entidade responsável por fazer a comunicação entre o aiyé (céu) e o òrum (terra), trabalhando com a energia das pessoas que já morreram.

As composições do abre-alas vieram em cima dos “queijos” laterais, que simbolizavam atabaques africanos, entre as esculturas de dentes de marfim, com uma fantasia dourada e vermelha, com muito glitter e alguns búzios. Na cabeça, uma coroa dourada com penas listradas em branco e preto dava um toque especial à fantasia delas.

Ana Lúcia, 46 anos, trabalha na prefeitura de Belford Roxo e confessou estar emocionada antes de entrar na Sapucaí. “Depois de dois anos, com tudo parado, com essa pandemia. Graças a Deus estamos voltando com força total, com muita garra, muita felicidade… É uma sensação inexplicável”.

A servidora pública Tatiane Nunes, 46 anos, também estava ansiosa para o desfile da Inocentes. Terceiro ano saindo pela escola, ela elogiou a temática do enredo e comentou a importância de se respeitar as mais diversas religiões. “Eu respeito todas as religiões, tenho a minha fé, independente de religião, eu acredito em todos”.

Bateria da Estácio homenageia título mundial de 1981 do Flamengo em desfile que celebra o clube rubro-negro

Estacio01aSe existe algum título que foi memorável não só para os torcedores do time, como também para a história do Clube Regatas do Flamengo, foi a vitória conquistada no Mundial de Clubes em 1981. Fazendo referência a este feito tão honroso, a bateria da escola presta homenagem através de seu figurino inspirado nos trajes japoneses, país onde o título foi concedido.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, alguns ritmistas da escola, também torcedores apaixonados do clube, dividiram um pouco da emoção por terem desfilado em homenagem ao Flamengo.

“Foi uma sensação inexplicável! Além de eu ser muito estaciano desde que eu nasci, eu também sou flamenguista para caramba, por isso a emoção foi muito forte, mas quebramos tudo na Sapucaí”, contou Rodrigo Fernandes, parte dos tamborins da Medalha de Ouro.

Estacio01cO mesmo relato de emoção foi dado pelo ritmista Lohan, de 26 anos, responsável por tocar uma das caixas na escola.

“Sem explicação nenhuma, emoção muito grande. Quebramos tudo já ali no setor 1, é Estácio e Flamengo, não tem jeito, estou em casa”, desabafou.

O senhor Otair Mariano, de 60 anos, também integra a bateria na parte do repique. Flamenguista doente, também se mostrou bastante emocionado com a homenagem prestada pela escola ao seu time amado.

“Não tem nada melhor do que unir os dois amores da minha vida, Estácio de Sá e Flamengo. Estava com a mão coçando para voltar a tocar, porém melhor do que só voltar, é voltar tocando para o meu Flamengo”.

Em retorno à Sapucaí, Lins Imperial faz desfile com destaque na estética para se firmar na Série Ouro

Após 10 anos sem pisar no solo sagrado da Sapucaí, a Lins Imperial abriu a segunda noite de desfiles da Série Ouro se destacando no geral em alegorias e fantasias, e contando de forma bastante leve a história do humorista Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum. Alguns pontos em evolução, como a abertura de alguns buracos, devem fazer com que a escola perca alguns décimos. A harmonia também esteve um pouco irregular com as alas cantando bastante o samba e outras nem tanto. Com o enredo “Mussum pra sempris – traga o mé que hoje com a Lins vai ter muito samba no pé”, a escola encerrou seu desfile com 55 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE

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Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Comissão de frente

Coreografada por Carlos Bolacha, a comissão de frente apresentou três figurinos diferentes, “Sambista da Lins Imperial”, “Os originais do samba” e “Kid Mumu da Mangueira”, todos representavam o ritmo de verdade que sempre esteve no morro. Pois Mussum nunca negou de onde veio carregando no nome, suas origens. A coreografia de avanço apresentava um passo malandreado, quando se iniciava a apresentação nos módulos, os bailarinos subiam no elemento cenográfico que representava ao mesmo tempo o morro do Lins e um palco. Na troca de figurinos, surgiam os originais do samba com ternos nas cores amarelo e preto. No final da apresentação, o homenageado surgiu no alto do morro com uma de suas paixões, vestido de Flamengo. Uma coreografia leve com algumas pequenas surpresas, como ponto negativo, a qualidade de acabamento do elemento cenográfico deixava a desejar um pouco.

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Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da Lins Imperial, Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso, vestiu a fantasia ” A exuberante natureza do morro da Cachoeirinha” trazendo a paisagem da localidade na década de 1940, quando Mussum nasceu, conforme os relatos orais de moradores. Na apresentação nos três módulos, o vento era bastante intenso gerando algumas dificuldades para a porta-bandeira que quase chegou a enrolar a bandeira algumas vezes, mas segurou bem o desafio. A coreografia mais tradicional trazia a pontuação em alguns momentos de alguns poucos trechos do samba como “onde parecia um céu no chão” em que havia uma pequena referência para o alto.

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Harmonia

O canto da escola foi irregular. No início, nas primeiras alas como “samba, inspiração de Carlinhos” cantavam pouco o samba, a partir da metade do segundo setor com as alas “LP dos Originais do samba”, ”Primeira Bienal do samba – Elis Regina, parceira de um bamba partideiro original”, e ainda “Cadê Tereza? Pega ela peru”, o canto melhorou. Depois, nos últimos setores havia alas com mais canto e outras com pessoas se limitando a cantar trechos como o refrão principal e o trecho que vem logo antes “Mussum… um trapalhão que inspira tanta gente”.

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Enredo

A Lins Imperial apresentou o enredo “Mussum pra sempris – traga o mé que hoje com a lins vai tem muito samba no pé”, com o objetivo de homenagear um de seus filhos mais ilustres. Se utilizando do “Poema de sete faces” de Carlos Drummond de Andrade, a escola pretendeu mostrar as diversas faces do multiartista Carlinhos, nome de batismo do eterno Mussum. O enredo foi contado de forma leve, com as fantasias tendo uma fácil leitura e bem irreverente como era o artista. No primeiro setor, “Da Cachoeirinha, lá vai Carlinhos ser estrela na vida!”, aludindo à conexão que há entre o humorista e a Lins Imperial. Já no segundo setor, “Carlinhos do Reco-Reco e o Sucesso dos Originais do Samba”, retratando sua paixão pelo samba. No terceiro Setor “Carlinhos da Mangueira e do Flamengo”, rememora a ligação do homenageado com a Estação Primeira de Mangueira e o Flamengo. Por fim, no quarto Setor “O Astro Mussum”, retrata a face humorística que ganhou a TV, o circo e o cinema. E no último setor, “Mussum Pra Sempris”, celebra Mussum eternizado nos corações e nas redes de muitos brasileiros.

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Evolução

A evolução da escola teve alguns problemas de buraco, em frente ao primeiro módulo de julgamento houve um espaçamento quando a bateria de mestre Átila parou e a ala que vinha a frente avançou, chegando a contar a distância entre duas caixas do sistema de som da Avenida entre as duas partes da escola. Mais para o final, a escola chegou a evoluir de forma mais rápida quando passou do setor 8, também no final do desfile após apresentação da bateria no terceiro módulo de julgamento. Ainda assim, foi uma evolução bastante solta, com os componentes privilegiando o samba no pé e não formando fileiras tão rígidas. Destaque para as alas “escolinha do professor” e “os amigos trapalhões”.

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Samba-enredo

Lucas Donato e Rafael Tinguinha fizeram sua estreia como intérpretes oficiais na Sapucaí cantando um samba bastante leve, irreverente que teve um bom andamento apresentado pela bateria de mestre Átila, estreante na escola que não deixou que a obra ficasse muito arrastada. Dos trechos mais cantados se destacaram o refrão principal e o trecho que vem logo antes e que começava em “Mussum o trapalhão que inspira tanta gente”. A utilização de expressões do contexto do humorista homenageado como “mé” e “pra sempris” foram uma boa sacada e interagiam com o público que se divertia.

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Fantasias

Grande destaque do desfile da Lins Imperial, o conjunto de fantasias trouxe soluções estéticas de muito bom gosto, leves, de fácil entendimento e com materiais que reluziam e produziam um bonito efeito principalmente para quem olhava da arquibancada. Destaque para as baianas “Dona Malvina, mulher-referência de Carlinhos” que representavam justamente Dona Malvina, mãe de Mussum, trazendo a foto da matriarca . A bateria de mestre Átila “Um coração que pulsa em verde e rosa” fez uma referência ao coração apaixonado de Carlinhos pela Mangueira. Os compositores, departamento feminino e a velha-guarda vieram com o figurino intitulado “menestréis do reino das palavras de Carlos Drummond de Andrade “, fazendo alusão ao Carnaval de 1987 da Mangueira, último campeonato que Carlinhos participou pela escola. A ala de passistas “ o reino encantado de Monteiro Lobato” homenageou o título da Mangueira de 1967, o primeiro que Mussum esteve envolvido.

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Alegorias

As alegorias estavam um pouco irregulares, ainda que se possa destacar a beleza do Abre-Alas “O Morro da Cachoeirinha, onde nasceu Carlinhos”, representando como o nome já diz o Morro da Cachoeirinha, uma das comunidades do Complexo do Lins, ponto de interseção entre Antônio Carlos Bernardes, o Mussum, e a Lins Imperial. Também a segunda alegoria “TV, circo e cinema – O astro Mussum” que trazia imagens das produções de Mussum em espetáculos da dramaturgia e até cenas de bastidores. Como destaque negativo o tripé “Carlinhos do Reco-Reco e o sucesso dos Originais do Samba”, tinha pouca iluminação e teve problemas com o plástico que em um momento ficou solto representando perigo de queda para um componente. O último carro com o rosto de Mussum virado para cima, era coerente com a proposta de celebrar o artista eternizado nos corações e nas redes, por meio de memes e emojis. Mas esteticamente, o artifício não produziu um bom efeito.

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Outros destaques

A bateria de mestre Átila realizou uma bossa no trecho do samba “ No quintal de folhas secas, tocou surdo de Primeira” fazendo alusão ao toque consagrado dos surdos da bateria Tem Que Respeitar meu Tamborim. Neste momento os ritmistas também faziam coreografia, seguindo o balanço da bossa, se movimentando de uma lado para o outro, posicionados de frente para o público. A rainha de bateria Danny Fox e o rei Johnathan Avellino chamaram bastante atenção do público pela simpatia e pela fantasia “Mangueira teu cenário é uma beleza”. O ator Hélio de La Peña, amigo do humorista homenageado, também participou do desfile.

Casal da Inocentes comemora retorno à Sapucaí com figurino imponente

Inocentes02a 2Após dois anos de carnaval paralisado devido à pandemia do Covid-19, que impossibilitou o encontro entre os seres, a festa está de volta e neste ano de 2022, passou pela avenida no segundo dia de desfiles, a Inocentes de Belford Roxo e seu enredo que promoveu um encontro de humanidades. A escola entregou uma aula de ancestralidade na Sapucaí por meio do enredo ‘A meia-noite dos Tambores Silenciosos’.

Trata-se de um ritual que trabalha com o encontro e a troca de energias entre òrunàiyé (òrun – reino espiritual e àiyé reino da matéria). É momento sagrado para os povos de origem Banto e é òrunàiyé que o primeiro casal representou na avenida na sua apresentação no segundo dia de desfiles na Marquês de Sapucaí.

Após muita superação através de harmonia e garra, o casal formado pelo mestre-sala Douglas Valle e a porta-bandeira Jaçanã Ribeiro apresentou lindo espetáculo na avenida. Em entrevista para a equipe do site CARNAVALESCO, falaram da importância da temática.

“É uma honra estar dentro desse enredo e essa fantasia traz a lembrança de que meia noite é o começo do ritual, então hoje estamos representando o início de tudo. Muito feliz” disse Douglas.

Inocentes02c 1“Essa penumbra significa todo o nosso enredo. Significa a lembrança de que a meia noite os Tambores Silenciosos fazem homenagem aos seus mortos que sofreram no trajeto dos navios negreiros que desembarcaram no Brasil”, contou Jaçanã.

Fora a coreografia do casal, a representativa veio de forma luxuosa na fantasia de ambos. Predominantemente negras, as duas fantasias vieram com detalhes nas cores prata e azul. Também receberam um colorido especial nas abundantes penas que formavam a saia da porta-bandeira e as costas do mestre-sala. Na cabeças, os dois usaram um adereço que remetia ao fogo de uma vela . Outro destaque da fantasia está no grande relógio prateado, branco e preto que envolvia a cintura de Jaçanã. A hora registrada era a meia-noite.

Componentes da Inocentes celebram enredo que enaltece negritude

Inocentes01aCom o enredo ‘Noite dos Tambores Silenciosos’, a Inocentes de Belford Roxo apresenta na avenida um desfile que aborda distintas ancestralidades pretas vindas do continente africano. Chama atenção a quinta ala da escola, pois é inspirada e apresenta uma tradição distante do cotidiano carioca. Trata-se da Coroação dos Reis Negros.

É sabido que entre os séculos XVI e XIX povos pretos de todos os pontos da África foram escravizados e comercializados para Europa e Américas, os povos de origem Banto estão dentro do conjunto de cativos transportados ao Brasil.

Ocorre que os Banto, diferentemente de outros, não foram catequizados pela igreja católica em solo brasileiro, pois já traziam do Centro-Ocidental da África a relação com o catolicismo. Isso ocorreu, porque o antigo reino do Congo, famoso por sua fortuna e relações comerciais, buscava estreitar laços com novos povos. Portugal, em 1483, foi um dos interessados e elaborou uma visita diplomática ao Congo e por meio de Diogo Cão, enviou um navio para estudo de caso.

Constatada a riqueza e influência congolesa na região Centro-Ocidental do continente, Portugal tenta iniciar conversas para um novo acordo comercial. A ideia era expandir o comércio de cativos e o antigo Congo era uma das nações mais fortes desse mercado, porém, por alguma razão que não se sabe ao certo o encontro acabou de forma conflituosa e com parte dos portugueses presos no Congo. Enquanto por sua vez, os portugueses fugidos do reino levavam alguns presos congoleses. Em solo português, os congoleses foram tratados muito bem, receberam aulas de português e foram inseridos na sociedade. Deste modo, importaram novos hábitos, como o catolicismo.

Após uma temporada, Portugal tentou nova investida no reino mani Congo, mas dessa vez levava nos navios os congoleses aportuguesados junto a tripulação. Com os novos diplomatas entrando no diálogo entre os povos, o laço político-comercial foi consolidado. Os congoleses estavam tão satisfeitos com o acordo conquistado, que o mani Congo (o rei) da época solicitou formalmente um pedido para ser convertido ao catolicismo.

Inocentes01bComo na visão congolesa o mundo era divido em dois, uma parte visível e outra invisível. O lado visível é vivo através do povo (preto) e o invisível pelos ancestrais que já se foram e moram do outro lado do mar. Ocorre que com a chegada dos portugueses, eles vieram a descobrir um povo vindo do outro lado do mar e assim a chegada dos brancos foi interpretada como um encontro com os ancestrais que eram mais sábios e generosos, portanto, cabia aos que ainda estavam em vida o respeito e subserviência.

Com um desenrolar da relação de imposição entre Portugal e Congo, a religião católica acaba sendo imposta no reino africano, todavia, não é o mesmo catolicismo encontrado em Portugal e Europa, porque os povos Banto mantiveram vivos muitos traços de sua religiosidade local. Surge aí o catolicismo negro. Por outro lado, o estreitamento de laços também trouxe traços portugueses a ritos congoleses e é aí que entra a ala 5 da Inocentes de Belford Roxo.

A ala que leva o nome de ‘irmandade dos homens pretos’, faz referência a irmandade nascida em salvador, na Bahia. Essa irmandade ficou marcada na história como sendo uma confraria católica criada para receber os pretos que queriam cultuar sua fé, mas eram impedidos pelos seus senhores de frequentar as mesmas igrejas que eles.

A história é representada na ala através de uma fantasia predominantemente branca, com acessórios negros na cabeça e uma peça que cobre peitoral e ombros dos componentes. A fantasia também é rica em detalhes dourados. Seus componentes carregaram um estandarte que levava a imagem de Santo Antônio de Categeró, ex-escravo muçulmano que se converteu ao cristianismo e tornou-se nome forte da peregrinação em nome de Jesus.

A memória resgatada pela ala traz alegria e orgulho aos componentes dela. Como conta a equipe do site CARNAVALESCO, Adriano dos Santos Silva e Edna Conceição de Oliveira.

“Me sinto muito feliz de estar representando nosso povo. Seja do nosso bairro ou não, a gente já sofreu muito, então hoje é uma data feliz”, falou Adriano.

“Não é só essa ala que é importante. Nosso enredo é importante para defender nossa cor. Nosso país tem muito preconceito com a gente, então fico feliz da nossa escola defender a gente e eu estar desfilando nessa ala”, contou Edna Conceição.

Herdeiros do samba, Lucas Donato e Rafael Tinguinha se emocionam ao pisar pela primeira vez na Sapucaí como intérpretes oficiais

Materia Lins04b 1Com o enredo “Mussum Pra Sempris- Traga o Mé que hoje com a Lins vai ter muito Samba no Pé”, a Lins Imperial abriu a segunda noite de desfiles da escolas de samba da Série Ouro. Em seu retorno à Sapucaí após dez anos, a Verde-Rosa do Lins de Vasconcelos promoveu a estréia, como intérpretes oficiais, de dois jovens que carregam o samba na veia, desde o berço, Lucas Donato e Rafael “Tinguinha”.

Neto de Jorge Lucas, histórico compositor do Império Serrano, sobrinho de Roberto Ribeiro e autor de diversos sambas-enredo no carnaval do Rio de Janeiro, Lucas Donato se emocionou ao pisar pela primeira vez, como intérprete oficial, no solo sagrado. Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, o cantor falou com orgulho sobre carregar essa pesada herança familiar na avenida.

“Para mim, é uma grande honra seguir o legado do meu avô, do meu tio Roberto Ribeiro e toda minha família. Independente da escola, tudo é carnaval e para mim, é muito honroso estar nesse momento histórico da Lins Imperial, que, depois de dez anos, volta a Marquês de Sapucaí. É muito honra, felicidade, alegria pela minha nova vida”, contou.

Outro da intérprete da escola, Rafael, popularmente conhecido como “Tinguinha”, também traz consigo uma imensa herança familiar na bagagem. Filho do premiado cantor Tinga, da Vila Isabel, de quem carrega o apelido, Rafael disse ter contado com o apoio do apoio em todos os momentos de sua carreira na música.

“Meu pai sempre me apoiou e me apoia muito, em todos os momentos, com certeza. O apoio da família é muito importante. A gente, tanto eu quanto o Lucas, estamos pisando pela primeira vez na Sapucaí como intérpretes oficiais e para gente, é uma honra, ainda mais depois desse momento difícil que a gente passou, toda luta para poder chegar até aqui. E, inclusive, quando chegou a nossa hora, não teve carnaval. Estamos muito felizes aqui hoje”, afirmou.

Materia Lins04a 1Jovens, ambos não assistiram ao vivo às obras do homenageado do enredo da escola, o humorista Mussum. Porém, demonstram muito orgulho e reverência ao cantar sua vida e obra na avenida. Tinguinha, inclusive, afirma assistir vídeos antigos do humorista na internet.

“Eu acompanhei um pedaço da história do Mussum, vi muitos vídeos antigos dos trapalhões, até porque sou um pouco mais novo. Não peguei muita coisa, mas os vídeos que eu acompanhei na internet, vi o quanto ele era importante, ainda mais para nós de pele preta. Estou muito feliz de estar representando essa pessoa tão enigmática quanto o Mussum”, contou Rafael.

“Muita alegria e felicidade de falar de um ícone, não só da música, como da arte. É uma grande honra e é maravilhoso estar aqui hoje”, completa Donato.

Os Originais do Samba na Sapucaí! Histórico grupo que revelou Mussum é retratado no desfile da Lins Imperial

Materia Lins03aDe volta à Marquês de Sapucaí após mais de dez anos, a Lins Imperial contou a vida e obra do humorista Mussum, nascido na comunidade do Lins de Vasconcelos, na abertura da segunda noite de desfiles da Série Ouro. Responsável pela revelação do artista para o mundo, o grupo “Os Originais do Samba” foi retratado pela sexta ala da Verde-Rosa.

Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, os componentes da ala, intitulada “Os LP dos Originais do Samba”, falaram sobre suas recordações do gênio de humor e o sentimento de representá-lo na avenida. Para retratar o grupo de pagode, que já foi chamado de “Os Sete Modernos”, os carnavalescos da escola, Eduardo Gonçalves e Ray Menezes, colocaram um disco de vinil, o famoso “LP”, no ombro das fantasias da ala.

Mais veterana entre os entrevistados, a carioca Nádia Veríssimo, técnica em contabilidade, recordou com muita emoção as obras de Mussum, de quem guarda ótimas lembranças, que remetem à sua juventude.

Materia Lins03b“O enredo da Lins Imperial é muito lindo. Mussum é alegria, é divertimento.O Mussum fez parte da minha infância, acompanhei muito os trabalhos dele, não só no Originais do Samba. A comédia foi um dos marcos principais da década de 70, 80 e 90. O falecimento do Mussum acabou com uma geração de comediantes do tipo “pastelão”. Ele e o Zacarias eram as principais pessoas que alegravam nossos dias na televisão, junto com Chico Anysio, também. Eu não perdia nenhum filme no cinema. A minha infância e das minhas sobrinhas foram enriquecidas pelo Mussum.”, recorda Nádia.

Diferente de Nádia, o publicitário Jorge Nogueira, carioca de Guadalupe, não assistiu os grandes sucessos de Mussum ao vivo. Porém, assim como muitos brasileiros, associa a imagem do humorista ao seu maior sucesso na carreira, o programa “Os Trapalhões”.

“Os Originais do Samba não eram da minha época, sou mais novo. Mas, eu gosto muito do Mussum, já vi muita coisa dos trapalhões, principalmente. Desfilar aqui hoje, na Lins Imperial, homenageando ele é uma grande honra.”, disse.

Já a contadora Cristina Crespo, de 54 anos, também se considera uma grande fã do humorista Mussum. Emocionada por representar a escola de sua comunidade na Avenida Marquês de Sapucaí, relembrou a época em que assistia as obras do artista. “O Mussum faz parte da minha infância, eu acompanhei muito, ouvia Os Originais do Samba, assistia sempre os trapalhões. Eu adorava o Mussum.”

O astro Mussum! Segundo carro da Lins Imperial retratou as mais variadas facetas do artista

Materia Lins02bO segundo carro da Verde e Rosa do Lins trouxe à Sapucaí as mais variadas facetas em que Mussum assumiu no decorrer de sua vida, contou em sua composição com personagens que tiveram sua inspiração para a arte no humorista, principalmente, por ser um negro tendo lugar de destaque nos anos 70.

Em suas apresentações pelo grupo em que fez parte, Mussum se destacava pela forma em que manuseava com habilidade o instrumento reco-reco e a forma com que contava suas histórias. Com isso, chamou atenção de produtores de espetáculos, de cinema e televisão.

No programa Bairro Feliz, o humorista possuía um quadro em que se passava em uma escola de samba, interpretando um sambista chamado Mumu da Mangueira, que pôde levar sua paixão pelo samba e pela Estação Primeira de Mangueira para todo o país.

Materia Lins02aMussum sempre foi inspiração por onde passou, desde os mais velhos até os mais novos, Hélio De La Peña, em entrevista ao site CARNAVALESCO, falou da importância do ator para a cultura nacional.

“O Mussum é uma grande referência da comédia brasileira, é um dos grandes destaques negros da cultura brasileira, uma coisa raríssima, foi o comediante negro que mais levou bilheteria ao cinema brasileiro. Na televisão, é a estrela máxima e para mim ele tem uma importância muito grande porque eu cresci o vendo na televisão”, elogiou.

“Mussum foi a minha grande referência, um cara que além de comediante, foi um grande músico, uma figura com um coração enorme, enfim uma pessoa que marcou sua passagem por aqui”, concluiu.

Camisa Verde e Branco faz desfile seguro, mas pequenos problemas podem comprometer

Segunda escola da noite, o Camisa Verde e Branco teve alguns problemas com a plástica e iluminação das alegorias. Ala das crianças e harmonia foram destaques.

Comissão de frente

Coreografada pelo Robson Bernardino, a comissão de frente do Camisa Verde e Branco veio composta por Curandeira/Rezadeira, Índios/ Místicos e Seres das Matas. Os bailarinos que representavam os Índios, traziam em suas costas animais da fauna, e isso causou uma espécie de “coreografia mútua”, independente se olhava de frente ou costas, causava a mesma sensação. Coreografia distinta apresentada pela comissão.

A coreografia contou com a interação ao público, requisito exigido em regulamento, especificamente no trecho “Axé meu Camisa, AXÉ”.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O Emerson Ramires e a Janny Moreno, primeiro casal da escola, entraram na avenida representando o símbolo maior da escola, com a fantasia intitulada como: “Trevo, a erva sagrada e a fé cristão”.

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Na própria fantasia da Janny continha as fotos de personalidades do samba. No braço esquerdo, continha um adereço que representava um terço. Outro destaque também pro quesito foi as guardiãs do casal, mulheres que também seguravam terços.

No trecho: “Clareia”, o casal fez uma coreografia específica, batendo com os pés no chão. Ótimo entrosamento e criatividade com os passos. Cumpriu com todos os requisitos do regulamento.

Enredo

A escola apresentou o enredo: “Rezadeiras: Na fé do trevo, eu te benzo, na fé do trevo, te curo”, tema que buscou realizar uma grande homenagem às rezadeiras (mulheres que buscam a cura através da fé e reza).

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Pra simplificar a absorção do tema ao espectador, a escola dividiu o seu desfile em três atos. O primeiro busca familiarizar o sambista com o ambiente das rezadeiras, por isso nota-se terços, água e até ervas, representada na ala 4 (Ervas de Benzer).

O que facilita a compreensão pro restante do desfile, como a representação dos caminhos que as benzedeiras fazem para alcançar as bênçãos de Deus e o paralelo que a escola faz entre as bênçãos nos terreiros para o templo do samba. Nessa parte final, a escola trouxe uma homenagem à Estação Primeira de Mangueira, que é a escola madrinha do Camisa, e abençoa as agremiações que é madrinha.

Fantasias

Por ser um tema que fala muito sobre a natureza, e no próprio enredo tem uma homenagem ao “trevo”, as fantasias da escola trouxeram uma diversificação da cor verde. Pra alcançar uma espontaneidade do componente no início do desfile, todo o primeiro setor esteve com fantasias mais leves, sem costeiro, sem adereços de mãos. Aliás, a escola não optou por usar qualquer objeto nas mãos dos desfilantes.

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Um destaque ficou por conta da ala 10 (afilhadas), que é uma homenagem às escolas que o Camisa Verde Branco é madrinha (como a Colorado do Brás, Império de Casa Verde e Imperador do Ipiranga)

As fantasias foram bem distribuídas, elementos de composição (como plumas, penas) não tiverem repetições logo em sequência. O que visualmente ganhou destaque.

Alegorias

As alegoria da agremiação apresentou alguns problemas de plástica e problemas com as luzes. O abre-alas e a última alegoria estavam com parte da iluminação apagada.

A escola entrou com três alegorias no desfile. A primeira apresentou uma grande presença de elementos de florestas, uma representação à fauna e a flora. O carro foi composto por uma estrutura central e um tripé logo na frente.

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Já a segunda alegoria representa a materialização da fé, ela fez referências aos altares das casas das rezadeiras, com todo o sincretismo. E, na terceira, toda a estética faz uma alusão às escolas de samba, e as cores presentes são da própria escola.

Harmonia

A escola teve um desempenho tranquilo. Algumas alas cantaram forte o samba, e corresponderam aos apagões propostas pela bateria.

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Samba

O intérprete Tiganá estava solto. Dançou, andou e evoluiu com a escola, e até interagiu com as arquibancadas. Musicalmente, o carro de som fez um desfile seguro, não utilizou muita variações vocais e seguiu um estilo de valorizar o samba.

Evolução

A escola ficou um tempo considerável parada enquanto o casal se apresentava na segunda torre de jurado, o que causou um pequeno acelerar na escola pra corrigir a questão. A entrada no recuo foi realizado sem problemas. Os componentes desfilaram soltos e evoluíam bem conforme desfilavam.

Outros destaques

A ala das crianças foi um destaque a parte. Todas as crianças surpreenderam pela animação, alegria e espontaneidade. Ver crianças no chão, e não em alegorias, é difícil de notar.

Morro da Casa Verde apresentou enredo facilmente compreensível e pode defender permanência no grupo

Atual campeã do Grupo de Acesso 2, o Morro da Casa Verde abriu a noite de desfiles do Grupo de Acesso 1. A proposta narrativa da escola foi de fácil compreensão, o que tornou o entendimento do desfile mais fácil. Porém, houve alguns problemas de evolução que pode atrapalhar o rendimento da agremiação.

Evolução

O início do desfile foi seguro, a escola optou por andar mais cadenciado. Porém, quando a bateria entrou no recuo, a ala de frente andou antes do espaço ser preenchido. O que fez a escola alguns desfilantes andarem com mais intensidade.

Enquanto o segundo setor passava em frente ao setor C, logo no minuto 0:25, a escola ficou um tempo considerável parada, o que divergiu com o modo de andar da escola, adotado no início.

Enredo

O Morro da Casa Verde optou por fazer uma grande homenagem aos orixás: Oxalá “Epá Babá”, Oxossi caçador “Okê Arô”, Obaluaê curandeiro “Atotô”, e São Jorge Guerreiro, padroeiro do terreiro da escola, por isso o tema “Sob a proteção de Oxalá, festa no terreiro de bambas para caçador, curandeiro e padroeiro”.

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Resumidamente, cada setor contava uma história e falava sobre um orixá em específico. Primeiro setor (Criação da terra por Oxalá), Segundo setor (Oxóssi), Terceiro setor (Obaluaê) e Quarto setor (Salve Jorge).

A escola optou por não seguir uma ordem cronológica, o que deixou o tema mais próprio. Dito isso, a identificação rápida e associação do público com os orixás, não foi complicada. Tanto as fantasias, quanto as alegorias, deixaram explícita a ideia da comunicação. Por ser uma homenagem, o entendimento do enredo foi simples.

Harmonia

O samba por si só exigiu um comprometimento e uma atenção maior do componente com a correta pronúncia da letra. Por exemplo, a diferença na forma de falar “ayê” e “Laroiê”. Houve setores da escola que cantaram mais, outros menos, mas nada que afetasse tanto o desempenho do quesito.

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Samba

Como já citado acima, o samba trouxe elementos de religião africana, o que enriqueceu a obra, e fugiu das rimas óbvias. Juninho Branco, o intérprete oficial, fez um desfile seguro, valorizou o cantar e optou por poucos cacos.

Comissão de frente

A comissão de frente da escola representava o momento em que Exú anuncia que foi criada a luz sob as trevas, no caso, o sol que governa o dia, e a lua que governa a noite. A coreografia foi dividida entre 4 personagens: Exú, Sol, Lua e Trevas. O componente que representou Exú, evoluiu praticamente todo o momento durante a coreografia. O Sol e a Lua evoluíam em momentos específicos, assim como as Trevas.

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A interação com o público e as arquibancadas foi notada em 3 atos, durante uma passagem do samba. Destaque para a coreografia no trecho do refrão principal, que contou com uma interação maior com os sambistas que assistiam. Fantasias coloridas com faisões. Coreografia mais clássica, e Exu sempre centralizado.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

O primeiro casal da agremiação, Leonardo Silva e Mariana, bailaram de forma segura, sem correr riscos. A dupla apresentou minuetos, girou nos dois sentidos exigidos pelo regulamento (horário e anti-horário) e apresentou o pavilhão para a segunda torre de jurados do quesito.

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Dentro do enredo, ambos representavam “ A paz de Oxalá”, e por isso suas fantasias tinham pequenos detalhes que representavam Oxalá. Fantasia toda em branco.

Um ponto de destaque é que a escola pisa no Sambódromo pela primeira vez com o pavilhão novo. Pra esse ciclo de carnaval, o Morro da Casa Verde optou pela mudança do logo, o que resultou numa cara mais moderna, e o símbolo esteve presente no pavilhão. O desenho das faixas e a organização das cores se mantém da mesma forma em comparação ao pavilhão do desfile anterior.

Fantasias

Como comentado no parágrafo de “Enredo”, as associações das fantasias com o tema não foi um problema. A escola equilibrou as composições de mãos em algumas alas. Por exemplo: As primeiras e últimas alas continham adereços de mãos, o restante da escola ficou livre pra evoluir. Em relação às cores, grandiosidade e tamanho do adereço de mão, a ala Ala 4 (Oxalá) chamou a atenção.

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Notou-se alguns componentes desconfortáveis com o adereço de cabeça. Conforme evoluíam, eles saiam de posição. Pela combinação do vermelho com o dourado, detalhes do adereço de cabeça e costeiro, aliado às cores da terceira alegoria, a última ala se destacou.

Alegorias

A escola optou por três alegorias no desfile. Carro 1: “Orum, templo da criação de Olorum e Oxalá”, que representou o templo sagrado e morada de Olorum e Oxalá. A alegoria continha cores como; prata, lilás e azul. Ela trouxe placas de LED no pé dos componentes de composição na lateral. O carro 2 : “Salve as matas de Oxóssi”, já trouxe elementos de matas, indígenas, onças, e claro, Oxóssi. No carro 3: “No terreiro de bambas, um altar para exaltar nosso padroeiro, São Jorge guerreiro. Ogunhê”, a agremiação trouxe um grande altar pra exaltar São Jorge e Ogum, com lua, guardiões, guerreiros, soldados e iansã.