Análise da bateria da Inocentes no desfile de 2022
A bateria Cadência da Baixada fez uma boa apresentação, na estreia de Mestre Juninho. Uma bateria da Inocentes de Belford Roxo pesada, com afinação de surdos que amparou o ritmo de caixas e repiques sobre uma plataforma grave sólida. O bom balanço dos surdos de terceira foi notado. Um acompanhamento de peças leves que ampliou a sonoridade da cabeça da bateria, auxiliando na equalização.
Uma ala de tamborins firme e coesa, com quatro filas de ritmistas, o que para grupo de Acesso é praticamente um luxo. O naipe de chocalhos sincronizou corretamente o toque com os tamborins, além das cuícas que preencheram a musicalidade de modo consistente.
A paradinha de maior destaque, além de complexidade musical foi executada com terceiras usando duas macetas, fazendo referência sonora ao maracatu de baque virado, atrelando cultura musical ao enredo sobre a “Noite dos Tambores Silenciosos”. As bossas foram realizadas de forma correta nos módulos de julgadores.
Estácio: escola faz referência a rivalidade entre os times cariocas em uma de suas alas
Com enredo em homenagem ao Flamengo e toda sua nação rubro negra, não dá para deixar de fora a clássica rivalidade entre os clubes, o que fez com que a Estácio não deixasse de incluir essa “guerra” futebolística em seu desfile. A ala 17 da escola se chama “Os rivais”, e fez referência aos “antis”, também conhecidos popularmente por secadores, aqueles que torcem contra o time em qualquer oportunidade.
Apesar da homenagem ter sido responsável por tornar boa parte dos componentes presentes na escola neste ano flamenguistas, também foi possível encontrar torcedores apaixonados pela escola, que no momento se sacrificaram para homenagear um time não tão querido assim por eles.
Márcia Raposo, moradora do Estácio e tricolor apaixonada, contou em entrevista ao site CARNAVALESCO um pouco da sensação de estar desfilando em homenagem ao seu maior rival no futebol.
“Sou tricolor de coração, mas aqui no mundo do samba sou Estácio acima de tudo. Estar na ala “rivais”, me faz homenagear não só a minha escola, mas também de certa forma o meu time do coração. Qualquer rivalidade eu acho importante, cada hora um ganha, o importante é a disputa”.
Se encontramos rivais, também encontramos antigos rivais, que ocasionalmente acabaram se rendendo ao time, como foi o caso da Flaviana Rampine, de 35 anos. A moradora do Flamengo contou que sempre se titulou como botafoguense, mas que após conhecer seu namorado Thiago Sales, acabou “virando a casaca”.
Thiago também contou um pouco de sua relação com o Flamengo, seu time do coração. “Eu nasci botafoguense, apesar de gostar do Flamengo desde sempre. Sempre quis torcer, mas meu pai dizia que iria me deserdar”, brincou ao lembrar.
“Em 1992 no final do brasileirão, teve Flamengo e Botafogo, Flamengo foi campeão e ali eu não resisti, o amor falou mais alto. É fácil para quem é flamenguista falar sobre rivalidade, já que estamos sempre na frente. A rivalidade é bem prazerosa, até porque bem ou mal, ninguém chega perto”.
Senhoras do conhecimento! Ala das Baianas da Santa Cruz representam a energia de Nanã
A quarta escola a adentrar a Marquês de Sapucaí nesse início de sexta-feira, trouxe em seu samba enredo “Axé, Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz!” uma homenagem ao ator Milton Gonçalves.
Milton é declaradamente um ativista do movimento militante negro, com isso, o enredo contou como uma forma de luta antirracista, para poder contar a história de vida e as barreiras que enfrentou no decorrer de sua carreira. Jane silva, desfilante há 8 anos, em entrevista ao site Carnavalesco, contou a importância desse enredo.
“Milton é sinônimo de talento e luta, é símbolo de amor e de vida. Importante trazê-lo à Sapucaí porque pudemos mostrar que a cultura brasileira também produz excelentes artistas.”
A sétima ala da Verde e Branca de Santa Cruz, apostou em cores vibrantes e fortes que vieram remetendo a Nanã, orixá feminino que tem relação com a do homem na Terra. Na vida de Gonçalves, representou o acolhimento quando ainda jovem foi trabalhar em uma livraria. Maria Helena, que desfila desde 1998, destacou alguns pontos da fantasia.
“Nós viemos trazendo uma peça importante na vida de Milton. O conhecimento é a fonte da vida, sem eles nós não seríamos nada. Conhecimento nunca é demais! O mais importante a destacar nessa fantasia é a leveza em que nos foi entregue. Apesar de representar um orixá de peso, nossa fantasia veio o mais leve possível.”
Inocentes realiza bom desfile plástico, mas evolução problemática pode comprometer a briga pelo título
A Inocentes de Belford Roxo apresentou um belíssimo conjunto visual em seu desfile, com destaque para as fantasias, com cores variadas e bastante volume, a escola encantou visualmente, porém, a evolução deixou a desejar e pode comprometer uma melhor colocação da escola na apuração. Logo no início, o carro abre-alas apresentou dificuldades de se locomover pela avenida e ao menos dois buracos foram abertos, um no setor três e outro no último módulo de julgadores. Além do conjunto visual, a entrada da escola, com a comissão de frente e o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira também se destacou no desfile. * VEJA FOTOS DO DESFILE

Apresentando o enredo “A meia-noite dos tambores silenciosos”, assinado pelo carnavalesco Lucas Milato, a Inocentes de Belford Roxo levou para avenida um rito de preservação da tradição afro-brasileira, foi a segunda escola a cruzar a passarela do samba na segunda noite de desfiles da Série Ouro. A caçulinha da Baixada terminou sua apresentação com 54 minutos.
Comissão de Frente
Intitulada “O elo entre os dois mundos”, a comissão coreografada bailarina Juliana Frathane, contou com um total de 15 componentes, 10 homens e cinco mulheres, eles representavam o Ritual do Pátio do Terço, que é quando os ancestrais são louvados e os mundos se ligam, a dança contou com fundamentos da celebração ritualística dos Tambores Silenciosos. A apresentação se dividiu em dois momentos. Em uma primeira fase, 14 componentes vestidos com uma belíssima fantasia toda em preto, representavam os brincantes e devotos que acompanhavam o ritual.
O ápice da coreografia se deu quando uma integrante surgia surgia de dentro do elemento cenográfico representando Oya, nesse momento, Nesse momento o público nas frisas e arquibancadas aplaudiram com bastante entusiasmo., os 14 elementos trocavam de roupa através de artifício construído na própria fantasia, e passavam a representar e homenagear os ancestrais louvados no pátio do Terço. No tecido branco da fantasia, foi possível ver estampadas figuras de pretos que foram importantes ícones na luta contra a opressão, o que causou bastante comoção do público. No geral, a comissão se apresentou sem nenhum erro nas cabines de julgamento, porém, vale ressaltar uma luz apagada no elemento alegórico.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Douglas Valle e Jaçanã Ribeiro, passaram com a fantasia significando “A penumbra da meia-noite”, eles representaram a grande troca de energia que há entre òrun-àiyé no horário da meia-noite. Desfilando juntos pelo segundo ano consecutivo, pode-se destacar os movimentos em referência a alguns orixás, como por exemplo: em um determinado momento da coreografia, o casal se separa e ao se encontrarem com olhar fixo no parceiro, promovem o encontro dos punhos cerrados fazendo clara referência para Xangô.
Douglas ainda teve alguns movimentos em referência aos terreiros de religiões de matrizes africanas, inclusive, quando no trecho “é o vento de Oyá que evoca egun” o mestre-sala mexe a mão fazendo a ventarola de Oyá, assim como Jaçanã teve movimentos que sugeriam inspirações em outros orixás. De destaque negativo, fica a apresentação de Jaçanã no primeiro módulo de julgadores, por conta do vento, a porta-bandeira parecia estar um pouco tensa, nos módulos seguintes não foi observado o mesmo nervosismo, no último módulo, o mestre-sala precisou se esticar um pouco para ajudar ela a desfraldar o pavilhão logo no início da apresentação.
Harmonia
A harmonia da escola se mostrou coesa do início ao fim, todas as alas cantavam o samba, porém, o momento de maior destaque ocorria nos refrões, principalmente “Ora iê iê, Ora iê iê, como é bonito minha mãe seu abebe”, o carro de som impulsionou o canto dos componentes, que além de cantar com vigor, pareciam estar se divertindo, as alas de maior destaque foram as do início do desfile, a primeira representando os Ogans, contou com brincantes muito animados, o mesmo foi visto nas alas seguintes, com destaque para a ala de passistas, que representavam as danças e sons dos escravos. No geral, a escola se apresentou de forma uniforme, não observado nenhuma ala cantando pouco, vale mencionar que na última ala, “Raiz ancestral”, um componente desfilou de máscara.
Enredo
O desfile se iniciava com uma saudação a Oyá, através da representação da cabeça de um búfalo logo a frente do abre-alas, o primeiro setor mostrou o tambor como a comunicação entre homem e os orixás, o segundo setor da escola representou a realeza africana e a terceira alegoria apresentou uma perspectiva acerca do Pátio do Terço, local que hoje é o grande palco da Noite dos Tambores Silenciosos. No geral, o enredo da escola, que é um dos mais densos deste ano, se mostrou de fácil compreensão, o carnavalesco Lucas Milato levou a história do povo preto com muita competência.
Evolução
A evolução foi o grande destaque negativo da escola e tem tudo para ser o quesito a sofrer as maiores penalizações na apuração oficial, logo no ínicio, o carro abre-alas sofreu para conseguir entrar na avenida, era possível ver o esforço além do normal dos empurradores, mesmo assim, um espaçamento ocorreu na primeira cabine de julgadores, o carro seguiu com dificuldades, mas um novo buraco só foi observado na altura do setor oito, esse porém, muito maior que o primeiro, seguiu até o setor 10, na última cabine de julgadores. Após a entrada da bateria no segundo recuo, outro buraco foi observado, a ala de passistas precisou correr para preencher o espaço, mas o carro que veio atrás não conseguiu acompanhar, abrindo um novo buraco.
Samba-Enredo
A obra da parceria de Cláudio Russo foi bastante elogiada nesse pré-carnaval, muito valente, o samba possui refrões potentes, o que permitiu aos componentes um canto forte, porém, esse canto não foi visto em outras partes do samba. O entrosamento do carro de som da escola, comandado por Tem-Tem Sampaio, Luizinho Andanças e Silas Leléu, somado ao bom desempenho da bateria, cadência da baixada comandada pelo Mestre Julinho, impulsionou o canto da escola.
Alegorias e Adereços
A escola apresentou um conjunto de alegorias de extremo bom gosto, apostando no uso de cores fortes, o carnavalesco soube usar o preto, como pede o enredo, mas sem pesar a escola, o abre-alas, “Tambores ancestrais”, visualmente era muito impactante, logo na frente uma grande cabeça de búfalo chamava atenção, o segundo carro fez referência aos cortejos de coroação dos reis, apesar de bonito, quando entrou, o carro arrastou na grade do setor e uma da esculturas sofreu um pequeno dano. Vale destacar o tripé “Espelho da Yalorixá”, com uma iluminação caprichada, ele passou muito bem toda a avenida, a iluminação também foi o destaque do último carro, “O velho endereço de novos tambores”, o jogo de luzes apresentados causou um impacto interessante.
Fantasias
A Inocentes apresentou um conjunto de fantasias muito bem desenvolvido pelo carnavalesco Lucas Milato, as soluções encontradas por ele deram um visual muito bonito e impactante para escola, todas as alas eram extremamente volumosas, o uso de penas artificiais se mostrou uma opção, várias alas poderiam ser destacadas, mas vale o registro para íncrivel ala de baianas, representando Oya, a roupa, predominantemente branca, a roupa parecia ser leve, visto a boa evolução observada. No segundo setor destacaram-se a quinta ala, “Irmandade dos homens pretos” e a nona, coreografada, chamada “Realeza do congo”, no último setor, a ala dos Orixás arrancou bastante aplauso do público.
Outros Destaques
A bateria do mestre Julinho representou São Benedito, os 250 ritmistas da Cadência da Baixada realizaram bossas por toda a avenida, levantando o público. A rainha Natália Lage estava com uma fantasia muito bonita e esbanjou carisma.
Abre-alas da Santa Cruz trouxe ancestralidade de Milton Gonçalves
A quarta escola a desfilar na Marquês de Sapucaí homenageou o ator e diretor Milton Gonçalves. O primeiro carro retratou memórias de sua infância através da coroação dos reis negros e de suas raízes africanas, sob a proteção de Nossa Senhora do Rosário.
A primeira parte da alegoria representou o altar da Igreja Matriz de Monte Santo, cidade essa em que Milton Gonçalves nasceu. Era neste ambiente em que o também dublador assistia a coroação dos reis negros. Juntamente com os pés de café puderam remeter o trabalho árduo que sua família realizava na cidade mineira. Marco Aurélio, responsável pela alegoria, em entrevista ao site Carnavalesco, detalhou a alegoria.
“A parte da frente é a igreja em que o Milton morou, a do monte e veio representando as raízes ancestrais dele. Pudemos ver que por todo o carro temos características africanas. Mais a frente, nós mostramos os pretos velhos, que tiveram bastante presente na história dele.”
Em um segundo momento, o abre alas trouxe uma coroa em que faz referência ao símbolo da Verde e Branca de Santa Cruz. Contornando a parte inferior da coroa, apresentou o Oráculo de Ifá, porta voz dos Orixás. “Atrás veio mais uma característica forte da África que são os animais”, acrescentou Marcos.
Ala de passistas da Inocentes representa a realeza africana na avenida
A Inocentes de Belford Roxo levou para a passarela do samba o enredo “A meia-noite dos tambores silenciosos”, falando sobre as tradições afro-brasileiras que acontecem durante o carnaval pernambucano. Segunda a desfilar nesta noite de quinta-feira, a escola da baixada fluminense trouxe a ancestralidade do povo negro para celebrar a liberdade e a resistência africana.
A ala de passistas da Inocentes veio no segundo setor, sobre a realeza africana, representando as “Saudações ao rei”. Para saudar os reis pretos coroados, os escravos usavam o corpo como forma de expressão: dançavam e se entregavam ao som dos batuques.
A fantasia dos passistas era bem carnavalizada, repleta de cores e laços de fita. A roupa tinha a predominância de tons quentes, como vermelho e laranja, proporcionando um belo contraste com as fitas coloridas no costeiro dos componentes. Na cabeça, um chapéu da mesma tonalidade do restante da fantasia, que trazia ainda algumas penas brancas na parte superior.
Sônia Nunes, 37 anos, funcionária pública, é passista da Inocentes há cinco anos e elogiou a beleza e praticidade da fantasia: “O figurino é muito bom, leve, perfeito. Ótimo para a gente sambar, desenvolver bem e mostrar o nosso potencial, nas pernas, nos pés, no sorriso e cantando o samba-enredo”.
“Perfeita, leve. Suave para dançar, sambar”, declarou Diogo Moraes, 21 anos, bailarino profissional e passista da Inocentes. Jorge Diego, de 33 anos, foi mais um integrante da ala que se mostrou empolgado com a indumentária. “Achei a fantasia muito bonita e muito rica, super leve. Está bacana, gostei muito… Quase dois anos sem carnaval, então a ansiedade é muito grande. A saudade eu só vou matar quando tocar aquela sirene, soltarem os fogos…”.
Análise da bateria da Lins Imperial no desfile
A estreia de Mestre Átila na Lins Imperial foi regular. Alguns marcadores acabaram confundindo firmeza com excesso de força, principalmente nos surdos de segunda. O que ocasionou alguns desencontros e emboladas ao longo da Avenida. O problema se agravou próximo a entrada da bateria da Lins no segundo recuo, onde a bateria acabou atravessando o ritmo. Da pista de desfile foi possível perceber certos momentos de inconstância no som, até sendo notado um certo atraso.
O acompanhamento de peças leves auxiliou no preenchimento da musicalidade. Tamborins com bom volume e chocalhos corretos. Uma ala de cuícas dando valor sonoro a cabeça da bateria. A paradinha de destaque foi a do refrão do meio, quando os ritmistas viraram de frente para os jurados. O ritmo executado remetia à bateria da Mangueira, no enredo sobre o trapalhão mangueirense Mussum, cria da comunidade da escola do bairro do Lins de Vasconcelos.
A apresentação no primeiro módulo estava sendo realizada corretamente, quando a harmonia precisou puxar a escola para andar, prejudicando o final da apresentação. A melhor apresentação para os jurados ocorreu no último módulo, de cabine dupla. A nota negativa que merece ressalva é relativa ao excesso de pessoas com blusa escrito “bateria” na lateral da pista, que prejudicou a cobertura dos profissionais envolvidos, além de atrapalhar a própria galera do ritmo.