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Em Cima da Hora exalta a potência de ‘Esperança Garcia’, mas peca na parte plástica

Quarta escola do sábado de carnaval da Série Ouro, a Em Cima da Hora trouxe para a avenida o enredo “Esperança, Presente!”, em homenagem àquela que hoje é considerada a primeira advogada do Brasil: Esperança Garcia. Uma mulher negra, escravizada, que escreveu uma carta denunciando a violência e os horrores das estruturas racistas de um Brasil colonial e provinciano. O ponto alto foi a bateria de mestre Capoeira e a exibição do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Porém, as falhas na parte plástica e na sequência das alas podem tirar décimos da agremiação, que fechou o seu desfile com 54 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

Comissão de frente

A comissão de frente, coreografada Leandro Azevedo, desfilou representando “A Desonra desperta a justiça por grandes negros e negras”. Eram 14 pessoas ao todo, sendo dois feitores, 11 escravizados e a Esperança Garcia, personagem principal do enredo da escola. Alguns componentes estavam com os pulsos acorrentados e/ou com uma espécie de “tronco” amarrado nas costas, sendo açoitados pelo chicote dos feitores. O segmento realizou uma apresentação bem marcante, com movimentos bem sincronizados e expressivos.

MATÉRIAS ESPECIAIS DO DESFILE
* Componentes da Em Cima da Hora ressaltam a importância de representar a história de Esperança Garcia
* Passistas da Em Cima da Hora mostraram a importância da leitura na luta pela liberdade
* Baianas da Em Cima da Hora fazem homenagem para mulheres pretas

As vestimentas dos integrantes eram “de época”, em tons pasteis e terrosos, sendo Esperança a única a vestir branco. Quando o samba-enredo dizia “Sou a palavra que arde”, a protagonista do enredo exibiu um cartaz escrito: “Carnaval também é voz pra calar a escravidão”, que é um trecho do refrão. Ao final, Esperança Garcia foi coroada pelo grupo, que colocou nela uma roupa de advogada e um cabelo ‘black power’. A ideia inicial, segundo constava no livro abre-alas, era trazer um elemento alegórico chamado de “Dos maus tratos ao empoderamento negro”, que acabou não passando pela avenida.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal, Jhony Matos e Jack Gomes, veio com a fantasia “Trovões da Esperança!”, em referência aos trovões do orixá Xangô, que anunciam justiça. Foi uma espécie de clamor de Esperança à sua ancestralidade religiosa. A roupa dos dois possuía as cores da Em Cima da Hora, azul e branco, além de muito brilho e pedrarias prateadas. O casal realizou uma bela apresentação, demonstrando boa sintonia ao longo dos giros e rodopios. A troca de olhares entre eles foi precisa para que a dança fosse bem executada. A exibição de Jhony e Jack em frente às cabines de jurados durou cerca de 1’50”.

Samba-Enredo

O carro de som foi liderado por Igor Pitta, ao lado de 3 cantores de apoio, 2 cavacos e 2 violões. Os intérpretes conduziram bem o samba-enredo da escola na pista, procurando manter a empolgação da comunidade de Cavalcanti. A obra da Em Cima da Hora foi composta em parceria por Gilmar L Silva, Julio Cesar, Marcio de Deus, Moisés Santiago, Orlando Ambrosio, Richard Valença, Rogério de Cavalcante e Serginho Rocco.

Harmonia

A Em Cima da Hora apresentou oscilações no canto ao longo da avenida. Em geral, a escola entoava com mais vigor o refrão principal “Ainda que seja o lugar do folião…”, mas diminuía a intensidade no decorrer do samba-enredo. Destaque para o bom canto da ala 3, intitulada “Ojuobá”. Por outro lado, a ala 5 “Fazenda de Algodões” deixou a desejar em harmonia, passando com vários integrantes sem cantar boa parte do samba.

Evolução

A escola de Cavalcanti realizou sua evolução de forma dinâmica, com a comissão de frente se apresentando na frente do primeiro módulo de julgamento já na segunda passada do samba. A ala que veio atrás da bateria desfilou com certos espaços em seu miolo, abrindo pequenos buracos na pista. A penúltima ala da Em Cima da Hora, dos Ciganos, também apresentou o mesmo problema de evolução. A bateria saiu do recuo com 42 minutos. A partir de então, a escola passou a desfilar em ritmo mais cadenciado até concluir a sua apresentação.

Enredo

O enredo “Esperança, Presente!” conta a história de uma mulher que, após ter sido separada do marido e sofrer diversas agressões, escreveu uma carta relatando os abusos e pedindo ajuda ao governo da capitania do Piauí, em 1770. Em ato de extrema coragem e resistência, Esperança clamou por justiça diante da série de violências que ela, suas companheiras e filhos vinham sofrendo. O texto é considerado o primeiro habeas corpus do Brasil, cuja autora, Esperança Garcia, foi reconhecida em 2022 pela Ordem dos Advogados do Brasil como a primeira advogada brasileira.

De acordo com o carnavalesco Marco Antônio Falleiros, no primeiro setor do desfile da Em Cima da Hora foi traçado um paralelo entre a primeira advogada do Brasil e Xangô, orixá da justiça. Esperança é representada como braço firme e verbo vivo em defesa das negras e negros escravizados. A trajetória de vida de Esperança foi relatada no segundo setor, que vai do afastamento de sua família, passando pelas terríveis violências sofridas até a redação de sua carta.

Por fim, o setor final abordou a relação de Esperança Garcia com a Literatura Afro-Brasileira, realizando uma diplomação simbólica como advogada que lutou e resistiu contra o racismo, machismo e as desigualdades sociais. Entretanto, além do elemento alegórico da comissão de frente que não desfilou conforme previsto no roteiro de desfiles, algumas alas da escola vieram fora da ordem proposta pelo carnavalesco. Um exemplo foi a ala dos passistas, “O poder da leitura e da escrita”, que não estava logo atrás da bateria, conforme o roteiro.

Alegorias

O carro abre-alas da azul e branco de Cavalcanti foi chamado de “O meu canto é por Justiça! Eu me chamo Esperança!” e mostrou a relação entre Esperança e Xangô, representado pelo destaque central Edimilsom Araújo. Mais acima, a destaque Janaína Guerra vestida de “Fogo da Justiça”. As composições da escada simbolizavam as “Obás de Xangô” e as composições das laterais eram as “Filhas de Xangô”. Búzios e chifres de marfim decoravam o carro que tinha as cores vermelho, dourado e branco.

A segunda alegoria da Em Cima da Hora ganhou o nome de “Onde o verbo me invade, sou palavra que arde! A Resistência da Esperança!”. O cotidiano de trabalho e as violências sofridas por Esperança foram retratados no carro, que trazia como destaque o “Capitão do mato” e como composições os “Escravos da fazenda”. E por fim, o terceiro carro alegórico levava o mesmo nome do enredo: “Esperança, Presente!”. A alegoria exaltou a figura da grande homenageada Esperança Garcia, deixando a mensagem de que ainda é tempo de evocar a justiça com sabedoria. Um grande buraco na parte superior da alegoria deixava as ferragens e a madeira de revestimento aparente. A velha guarda da escola desfilou na parte frontal do carro.

Fantasias

Segunda ala a desfilar, as baianas da Em Cima da Hora vieram vestidas de “Labaredas do Fogo da Justiça!”, trazendo o oxé (machado duplo) de Xangô. Três componentes da ala vieram sem o chapéu, comprometendo a uniformidade das baianas. A ala “Resistência Negra” passou pela avenida sem nenhum chapéu, sem três costeiros e com algumas camisetas aparentes embaixo da fantasia. Já na ala “Piauí, Bandas Esquecidas – Trabalho no chão duro e na terra batida” eram as bermudas dos integrantes que estavam aparecendo por debaixo do tecido amarelo.

Outros destaques

A rainha Anny Santos e o rei Jorge Amarelloh sambaram à frente da bateria Sintonia de Cavalcanti. Jorge, vestia a fantasia “A Santa Fé que Engana”, em tons de branco e prata com um grande costeiro que imitava asas. Anny, desfilou trajada de “Laços Africanos”. Raissa Oliveira veio como rainha da escola à frente do carro-abre alas, fantasiada de “Justiça”, em dourado e marrom. A Em Cima da Hora esquentou com o antológico samba de 1976, “Os Sertões”, escrito por Odeor de Paula.

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