Por Luan Costa e fotos de Nelson Malfacini

A Unidos de Padre Miguel foi a quinta escola a pisar na avenida no segundo dia de desfiles da Série Ouro. A escola entrou na avenida com gritos de ‘é campeã’ e saiu aclamada após realizar um desfile irretocável. O impacto visual esteve presente desde o início do desfile com a comissão de frente, o enorme tripé chamou atenção e mostrou que a escola estava disposta a conquistar o tão sonhado acesso ao Grupo Especial, na sequência, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira mantiveram o padrão. O que se viu em seguida foi uma escola extremamente bem vestida, com apuro estético de impressionar e acabamento de primeira. O conjunto alegórico manteve o nível e se destacou pelos detalhes. O único senão ficou por conta do som da avenida que esteve mais baixo que o normal, mesmo assim, o canto da comunidade, apesar de não ser explosivo, não foi afetado.

Apresentando o enredo “O Redentor do Sertão”, desenvolvido pelos carnavalescos Lucas Milato e Edson Pereira, a escola da Zona Oeste se apoiou na figura de Padre Cícero para viajar no imaginário místico popular do povo nordestino, pautado em três sentimentos: esperança, medo e fé. A narrativa trouxe luz às emoções do sertanejo, evidenciando a ligação de suas histórias de vida com as benfeitorias e obras do padre. A agremiação terminou sua apresentação com 53 minutos.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada por David Lima foi intitulada “Anunciação do Deus Menino” e representou o nascimento do menino Cícero. Crenças e relatos da região relacionam a figura de Ciço com a encarnação de Cristo, a volta do Deus vivo à Terra. Além dos bailarinos, a comissão veio acompanhada de um tripé, ele inclusive evidenciou todo o cuidado da escola com o quesito, extremamente bem acabado e com inúmeros detalhes, ele contribuiu diretamente para que as apresentações fossem excelentes.

Os quatorze componentes da comissão representaram a grande luz que irradiou durante o parto do personagem central do enredo. A indumentária toda em dourada brilhou na avenida e foi peça fundamental para dança, os componentes estavam em total sincronia e tudo deu certo. O grande ápice foi no momento que o nascimento de Cícero acontece, na parte da letra que diz “Chegou o Redentor da Zona Oeste”, a figura materna surge no tripé segurando um boneco nos braços.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Verdadeiros donos do pavilhão vermelho e branco da Unidos, a dupla Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira mais uma vez mostrou porque são considerados um dos melhores casais do grupo, extremamente seguros e com muita personalidade, eles encantaram o público presente na Sapucaí. A fantasia representou “A Sagrada Família”, fazendo uma alusão à imagem de José e Maria na história original do nascimento de Cristo em analogia com a história de Cícero.

Com a função de proteger o casal, os guardiões representaram os anjos da guarda. O bailado vigoroso em todas as apresentações, a garra e determinação estavam presentes no rosto da dupla, assim como o sorriso. Na parte do samba que diz “Pra vitória alcançar”, eles davam as mãos e levantavam, o gesto, feito com muita empolgação, animou o público.

Enredo

Coube a dupla de carnavalescos Lucas Milato e Edson Pereira desenvolverem o enredo “O Redentor do Sertão”, o boi vermelho exaltou um dos maiores símbolos de identificação e devoção do povo nordestino, Padre Cícero, no ano em que completaria 180 anos. O enredo apresentou uma narrativa a partir da visão do imaginário popular sobre a vida do religioso, com grande influência da literatura de cordel. O desfile foi desenvolvido a partir de três manifestações do povo sertanejo: a esperança, o medo e a fé. A leitura foi extremamente fácil e se mostrou acertada, a temática nordestina, apesar de passar com frequência na Avenida, foi mostrada de uma forma fora do habitual.

Alegorias e Adereços

O Boi Vermelho da Zona Oeste desfilou com três alegorias e dois tripés – sendo um da comissão de frente. Como de costume, o conjunto alegórico foi impactante, seja pelas formas, cores, volume e acabamento.

O abre-alas representou a visão que mudaria para sempre o povoado de Juazeiro: a Santa Ceia do Agreste, a escultura de Padre Cícero chamou atenção pelo tamanho, traços e movimento, o carro também contou com outras esculturas com excelente acabamento. A segunda alegoria, “O Apocalipse do Sertão”, teve uma estética oposta ao que vimos na abertura, mais soturna, ela retratou a seca que assolou o Cariri. A última alegoria, “O Redentor do Sertão”, acompanhou o nível das anteriores e finalizou o desfile com chave de ouro.

Fantasias

A escola levou para avenida 24 alas e o conjunto foi de tirar o folêgo, o capricho e cuidado em cada fantasia foi visto em toda a escola. O volume das fantasias impressionou, algumas alas tinham costeiros tão grandes que batiam na grade. O luxo e beleza não foi apenas jogado, todas as fantasias tinham fácil leitura e explicavam o enredo de forma didática. O encanto foi apresentado por todas as alas, do início ao fim, assim como o ótimo uso de cores. Destaca-se o cuidado com as baianas, as senhoras representaram a capela de Nossa Senhora das Dores e a roupa merece aplausos por tamanho capricho. Outra ala muito bem vestida foi a das crianças, a roupa que fez menção ao lobisomem parecia estar quente, mas causou um ótimo efeito.

Harmonia

O conjunto harmônico da vermelha e branca da Zona Oeste foi extremamente satisfatório, a presença de Bruno Ribas no comando do microfone principal foi um dos pontos positivos da noite, juntamente com a bateria de mestre Dinho que realizou diversas bossas, além de um enorme paradão. Apesar de coeso, o canto da comunidade não foi explosivo, o componente cantou o suficiente, mas ficou a sensação de que faltou algo a mais, as fantasias eram muito volumosas e foi observado que alguns componentes tiveram dificuldade para desfilar, por exemplo no início, com a primeira ala, “Menino Jesus do Sertão” e ala 17, “A cura vem da fé”.

Samba-Enredo

O samba de autoria de Cabeça do Ajax, Claudio Russo, Lico Monteiro, Miguel Dibo, Orlando Ambrósio, Richard Valença, Thiago Vaz e Waldir Corrêa passou pela avenida de forma satisfatória e a letra do samba contou com perfeição a narrativa do desfile, o começo da obra versou sobre o nascimento de Padre Cícero, os versos seguintes preveem o grande ícone que o menino Cícero se tornaria, o fim da primeira parte versa sobre o momento em que Cícero foi ordenado padre. Os dois últimos versos do samba citam um dos milagres mais simbólicos do padre, fato que fez com que ele fosse reconhecido internacionalmente. Interpretado por Bruno Ribas, o grande destaque ficou pelo trecho “Chegou o Redentor da Zona Oeste, traz um tanto do Nordeste, e tem o encanto popular, em romaria das candeias e das dores, vou curar os dissabores, pra vitória alcançar”.

Evolução

Um dos pontos altos do desfile da UPM foi a evolução, apesar de extremamente numerosa, a agremiação passou pela avenida de forma fluida, com alas compactas e organizadas. O andamento do desfile não foi comprometido em nenhum momento, o ritmo do início acompanhou o final. Sem sustos, a escola finalizou sua apresentação aos 53 minutos.

Outros Destaques

A Unidos se tornou uma escola muito aguardada e festejada pelo público, o esquenta da escola deu o tom de como seria o desfile, a comunicação da escola foi boa e contribuiu para o excelente desfile apresentado. Ao final do desfile foi observado que as arquibancadas gritavam ‘é campeã’ com muita empolgação.