Nesta sexta-feira começam os desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do carnaval de São Paulo no Sambódromo do Anhembi. O primeiro dia de desfiles teve todos os ingressos de arquibancada vendidos, ou seja, casa cheia no “sextou” do samba. Sete escolas passarão pela Avenida, sendo quatro campeãs, caso das tradicionais Camisa Verde e Branco e Rosas de Ouro, as bicampeãs Tatuapé e Mancha Verde, e um trio que sonha com título inédito formado por Dragões da Real, Independente Tricolor e Barroca Zona Sul.
Às 21h, o primeiro evento da noite é o desfile das Velhas Guardas de São Paulo, para depois às 23h15, o Camisa Verde e Branco voltar ao Grupo Especial, iniciando assim oficialmente as apresentações das agremiações. Se o cronograma oficial seguir conforme previsto, a última escola de samba, a Roseira, está programada para entrar às 5h45.
Vamos fazer um giro pelas sete escolas do primeiro dia de Grupo do Especial com enredo, curiosidades e mais detalhes para 2023:
Camisa Verde e Branco – 23h15
Abrindo a noite, a tradicional agremiação nove vezes campeã do carnaval chega com o tema “Adenla – O Imperador nas Terras do Rei”. Como diz o samba, o Camisa voltou e cumprirá a promessa feita para Oxossi, com direito a Adriano Imperador fechando o desfile. O carnavalesco Renan Ribeiro contou sobre o enredo e sua construção na ‘Série Barracões’ realizada pelo site CARNAVALESCO.
“O enredo não teve alteração nenhuma. Às vezes é até comum no processo por questões técnicas. Aí, a gente faz alguma alteraçãozinha aqui, outra ali – o samba, às vezes, também faz com que a gente mexa no texto. Mas isso não aconteceu, a gente não teve nenhuma alteração no projeto. Fizemos só uma amarração mesmo, de correção. O que ganhou força dentro do decorrer desses meses de trabalho foi a ideia de monumentar a construção que a negritude fez baseada nessa memória genética, que os reis homenageados plantaram na história da negritude. Esse era um dos links que faríamos e a questão das dinastias africanas que culminaram em reposicionamento social ficou mais presente. Isso tudo foi condensado e se tornou um amálgama para poder fazer com que a negritude tivesse no Adriano um exemplo disso: um enredo que busca mostrar o impulso de reposicionamento social, econômico, financeiro e político dentro da sociedade”.
O Camisa é uma agremiação de pavilhão pesado, mas que viveu longos 12 anos no Grupo de Acesso I. Retornou em 2024 após um desfile bem organizado no segundo grupo de São Paulo. Tem a missão de abrir os desfiles no Anhembi.
Fundação: 1953
Melhor resultado: 9 vezes campeã do Grupo Especial (1974, 1975, 1976, 1977, 1979, 1989, 1990, 1991 e 1993)
Último ano: Vice-campeã do Grupo de Acesso I
Barroca Zona Sul – 00h20
A Barroca Zona Sul cantará os 50 anos de sua história sob a ótica de Pé Rachado, um de seus fundadores, que deve vir em momentos do desfile. O enredo para 2024: “Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba. Por isso, que somos a Faculdade do Samba. 50 anos de Barroca Zona Sul”. O carnavalesco Pedro Alexandre, o Magoo, nos contou sobre o desenvolvimento do enredo.
“O enredo comemora os 50 anos de Barroca Zona Sul. Nós vamos contar de uma forma um pouco diferente: tudo vai ser contado pela ótica do fundador da escola: Sebastião Eduardo do Amaral, o Pé Rachado. Todo o enredo, toda a história da desses 50 anos de Barroca Zona Sul e até antes: como foi o processo de fundação da escola, com a participação da Mangueira e do Cartola. Tudo vai ser contado pelo fundador. Ele faleceu em 1990, então ele não chegou a ver a Barroca no Sambódromo. Daí por diante, já começa aquela coisa lúdica: ele contando diretamente do céu, como seria a visão dele ele enxergando todos os bons momentos do Barroca, aquele período no qual a escola passou por uns problemas, ficou alguns caindo e até essa fase da retomada, nos dias de hoje. Vai ter umas coisas que pega pela emoção. O pessoal que é mais antigo da escola, a gente passa o resumo do enredo pra eles, como vamos fazer… vai ser um enredo marcado pela emoção. Quem gosta do Barroca Zona Sul vai se identificar com pelo menos algum trecho desse desfile”.
É o quarto ano consecutivo da escola no Grupo Especial, e curiosamente nos três últimos ficou na 10ª colocação, escapando de ir para o sorteio da ordem dos desfiles, o que é um ponto importante.
Fundação: 1974
Melhor resultado: 5ª lugar em 1982, 1985 e 1990
Títulos: Segunda Divisão (1976, 1987, 2002) e Terceira divisão (1975, 2015, 2017)
Último ano: 10ª colocado no Grupo Especial
Dragões da Real – 01h25
Desde quando estreou na elite em 2012, é uma das escolas com maior regularidade no Grupo Especial. Apenas em quatro ocasiões não voltou para o desfile das campeãs. O carnavalesco e multicampeão no carnaval de São Paulo, Jorge Freitas, contou sobre o enredo afro que não é comum na agremiação.
“O processo nosso de criação era um anseio da agremiação, eu já tinha alguma ideia do que fazer já em outros carnavais com o tema afro e a proposta é bem simples. Quando a gente sair da avenida as pessoas veem uma África totalmente diferente dessa que está habitualmente aparecendo. Vamos falar de uma África triunfante, de uma África que é um grande continente de milhares de anos, não é de agora que nós vamos falar da África. Eu pedi logo no início das minhas explanações para os compositores, que eu não queria lamentar. Queria falar de algo que realmente a história não quis nos contar. Falar desse continente de riquezas culturais, de riquezas naturais e de riquezas espirituais. Então tudo isso vai ser demonstrado na avenida através da nossa plástica. O samba por si só já conta tudo isso e as pessoas ainda perguntam: ‘mas não tem nome de rei e rainha?’ Eles vão se fazer presente. Esses reis e rainhas vão estar ao longo de todo o nosso desfile. A gente já inicia com o nosso portal da ancestralidade e é uma tribo da África ocidental, os Dogons, que vão estar fazendo esse elo de ligação, é uma tribo que tem mais de mil anos. Eles já são bem apurados na questão do estudo das estrelas e do universo como um todo os astrônomos atuais e os cientistas, vieram descobrir isso através de aparelhos, que hoje são utilizados. A tribo há mais de mil anos já tinha qualidade de fazer o que hoje é descoberto. Então vamos abrir dessa forma”.
A Dragões sonha com seu primeiro título. Teve dois vice-campeonatos em 2017 e 2019, e no último ano retornou para as campeãs mesmo após desfile forte chuva, mas ainda não foi de acordo com o sonhado pela diretoria e comunidade da Tricolor.
Fundação: 2000
Participações no Grupo Especial:
Melhor resultado: Vice-campeã do Grupo Especial em 2017 e 2019
Títulos: Segunda Divisão (2011), Terceira divisão (2004), Quarta divisão (2003) e Quinta divisão (2001)
Último ano: 5ª colocado no Grupo Especial
Independente Tricolor – 2h30
Pela primeira vez permaneceu no Grupo Especial e foi quase voltando para as campeãs, após terminar o carnaval de 2023 em sétimo lugar. Esse ano contará a história do exército feminino, Agojies com o enredo: “Agojie, a Lâmina da Liberdade!”, o Amauri Santos falou sobre o enredo em entrevista ao site CARNAVALESCO.
“Como eu falo sempre para minha surpresa, o enredo é em homenagem a mulher, a mulher preta, em uma escola oriunda de torcida essa coisa aguerrida. Acredito que o fato de falar um pouquinho também de mulheres guerreiras tenha contribuído para que ele aceitasse esse enredo. Então dentro dessa pesquisa, encontrei as Ahosi, o único exército de mulheres do mundo que existiu do século 17 ao século 19”.
Após se manter no Especial, a agremiação mudou o discurso de superação e agora está no foco para a consolidação, mirando os desfiles das campeãs pela primeira vez sendo uma escola da elite.
Fundação: 1987 (refundada 2009)
Participações no Grupo Especial: Duas vezes em 2017 e 2022
Melhor resultado: 13ª lugar no Grupo Especial (2017)
Títulos: Terceira divisão (2014), Quarta divisão (2013) e Sexta divisão (2010)
Último ano: 7ª lugar no Grupo Especial
Acadêmicos do Tatuapé – 03h35
Após o susto em 2022, a escola da Zona Leste deu a volta por cima e conseguiu resultado positivo em 2023, terminando em quarto lugar, voltando para as campeãs. Apostando em em uma homenagem para a cidade baiana Mata de São João, o carnavalesco Wagner Santos falou sobre a escolha do enredo na Série Barracões do site CARNAVALESCO.
“O que eu tenho a dizer é que a gente vai fazer uma linda homenagem a cidade de Mata de São João, que é uma cidade pertencente ao estado da Bahia. Uma cidade visitada por muitos turistas e uma cidade que tem uma história rica, tem tradição, tem cultura, tem festa, tem lazer, também tem comida boa e praias belíssimas, afrodisíacas, que você pode levar sua família e curtir um maravilhoso fim de semana, bem tranquilo. A gente pretende, através do nosso desfile, fazer uma homenagem à Mata de São João através de um artesão, um caboclo filho da terra. Ele trabalha na modelagem de peças através do barro e ele vai contar a história da sua cidade, ele vai modelar a história da sua cidade e, através dessas modelagens, você vai conhecer toda a história de como surgiu a cidade, com a chegada dos primeiros imigrantes que lá encontraram com os nativos que habitavam a região, o conflito entre os grupos de escravos que chegaram para trabalhar na construção do Castelo d’Ávila e lá mantém as suas tradições”.
Campeã em carnavais recentes, 2017 e 2018, cantou Zimbábue e Maranhão, também fez homenagens para Atibaia e a Paraty, aos quais lhe rendeu o quarto lugar, evidenciando a boa reputação da escola ao homenagear lugares. Busca manter a boa regularidade na parte de cima que acontece desde o vice-campeonato de 2016.
Fundação: 1953
Melhor resultado: Bicampeão do Grupo Especial em 2017 e 2018
Títulos: Primeira Divisão (2017 e 2018), Segunda Divisão (2003), Terceira divisão (2010), Quarta divisão (1996), Quinta Divisão (1993) e Grupo de Seleção (1985)
Último ano: 4ª colocado no Grupo Especial
Mancha Verde – 04h40
Atual vice-campeã do carnaval, a Mancha Verde vai trazer um tema com uma temática um tanto diferente para o carnaval paulistano. Envolve a agricultura e todo seu processo no Brasil como uma das maiores fontes de renda e emprego do país. Com o nome do enredo de “Do Nosso Solo Para o Mundo”, André Machado, que foi o desenvolvedor do tema, contou sobre.
“Antes do último carnaval acabar, a gente já tinha idealizado e o presidente perguntou para mim um enredo falando sobre agricultura e eu achei interessante. A minha preocupação era apenas em relação que algumas escolas do Rio de Janeiro já falaram de agricultura e tinha que ser de uma forma diferente. Eu fui para casa, comecei a pesquisar e vi que realmente dava enredo, mas eu fiquei em dúvida de como abordar de uma forma diferente, principalmente pela internet, que tem como referência a Vila Isabel e Tijuca essa questão da comparação. Eu fiquei nessa neura de querer fazer uma coisa diferente e, do lado da minha cama, tem uma estante com um livro amarelo e até ele se destaca dos demais. O livro é a “Mitologia dos Orixás” e eu estava aqui no barracão, minha esposa fazendo uma faxina em casa e eu tinha começado a ler o livro, mas totalmente aleatório. Não peguei para poder desenvolver o enredo da Mancha e ela começou a foliar para ver e ela descobriu um capítulo sobre o orixá Ocô. Na mesma hora ela me ligou e falou assim: ‘você já viu o capítulo tal?’ Daí eu fui para casa correndo. Quando eu comecei a ler eu falei assim: ‘nossa, é tudo que eu precisava para poder desenvolver esse tema de uma maneira diferente. Tirei foto das páginas. Mandei pro Paulinho (Serdan) e ele disse que esse seria o nosso enredo”.
Campeão, vice, campeão e vice: essa é a sequência recente da Mancha Verde no carnaval de São Paulo, ou seja, vive uma grande fase. Antes ainda teve um terceiro lugar, portanto é uma escola que vem dando trabalho.
Fundação: 1995
Melhor resultado: Campeão do Grupo Especial em 2019 e 2022
Títulos: Primeira Divisão (2019 e 2022), Segunda Divisão (2014 e 2016), Terceira divisão (2002), Quarta divisão (2001), Blocos Especiais (1997 e 1998) e Grupo Especial de Escolas Desportivas (2006 e 2007)
Último ano: Vice-campeão do Grupo Especial
Rosas de Ouro – 05h45
Fechando a noite, tem homenagem especial. A Roseira vai cantar o Parque do Ibirapuera, um dos maiores pontos de turismo e lazer da cidade de São Paulo. Com o enredo: “Ibira 70 – A Rosas de Ouro é São Paulo no Carnaval 2024”. A perspectiva da escola é resgatar o histórico de homenagens para a cidade e assim se sair consagrada, como contou o carnavalesco Paulo Menezes, que está em seu terceiro carnaval à frente da agremiação da Brasilândia.
“Esse enredo surgiu coincidindo com aquilo que a gente estava pensando. Depois do carnaval a gente sentiu a necessidade de falar de alguma coisa ligada a São Paulo, porque a Rosas de Ouro em vários momentos abordou São Paulo e sempre foi feliz em temas ligados à cidade. A gente já tinha uma ideia formada a respeito disso e esse enredo surgiu e achamos que seria bacana falar, porque ia de encontro com aquilo que a gente estava pensando”.
A Rosas quer voltar a desfilar nas campeãs. Nos últimos três não teve grandes resultados, sendo que em 2022 e 2023 tomou sustos inclusive para manutenção no grupo Especial. A escola quer mudar o seu panorama e resgatar os tempos de campeã. Fecha os desfiles justamente pela colocação conquistada, a primeira acima dos dois rebaixados.
Fundação: 1971
Melhor resultado: 7 vezes campeã do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1983, 1984, 1990, 1991, 1992, 1994, 2010), Segunda Divisão (1974), Terceira divisão (1973)
Último ano: 12ª colocado no Grupo Especial