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Série Barracões SP: Barroca conta o próprio Jubileu de Ouro na ótica de Pé Rachado

Carnavalesco da agremiação, Pedro Alexandre, o Magoo, destacou que desfile terá componente emocional muito forte para exaltar a verde e rosa

O número cinquenta tem um ar quase que cabalístico. Por ser “fechado”, simples, a metade de uma centena… as explicações são inúmeras para que tal numeral tenha tanta força. Por consequência, completar um aniversário de meio século de vida é motivo de muitos festejos. Para uma escola de samba não é diferente. E, em 2024, quem fará uma grande festa de aniversário para si própria é o Barroca Zona Sul. Fundada no dia 07 de agosto de 1974, a verde e rosa apresentará o enredo “Nós nascemos e crescemos no meio de gente bamba. Por isso, que somos a Faculdade do Samba. 50 anos de Barroca Zona Sul” no segundo horário da sexta-feira de carnaval – 09 de fevereiro. Para contar mais sobre tudo que estará no desfile, o CARNAVALESCO conversou com exclusividade com Pedro Alexandre, popularmente conhecido como Magoo.

Uma nova ótica

Para entender o enredo, é necessário ter um mínimo conhecimento sobre a fundação da agremiação – e, também, do carnaval de São Paulo. Tudo porque o desfile será desenvolvido através da ótica de Sebastião Eduardo do Amaral, popularmente conhecido como Pé Rachado. Ele, ex-presidente do Vai-Vai e com passagens por escolas de samba do quilate de Nenê de Vila Matilde e Camisa Verde e Branco, queria fundar a própria agremiação por conselho de um dos maiores sambistas da história: Angenor de Oliveira, o Cartola. As cores não são à toa: a escola-madrinha do Barroca é a Estação Primeira de Mangueira – a instituição pela qual o carioca torcia.

A morte de Pé Rachado, por sinal, é um momento de passagem na história contada na avenida. “O enredo comemora os 50 anos de Barroca Zona Sul. Nós vamos contar de uma forma um pouco diferente: tudo vai ser contado pela ótica do fundador da escola: Sebastião Eduardo do Amaral, o Pé Rachado. Todo o enredo, toda a história da desses 50 anos de Barroca Zona Sul e até antes: como que foi o processo de fundação da escola, com a participação da Mangueira e do Cartola. Tudo vai ser contado pelo fundador. Ele faleceu em 1990, então ele não chegou a ver a Barroca no Sambódromo. Daí por diante, já começa aquela coisa lúdica: ele contando diretamente do céu, como seria a visão dele ele enxergando todos os bons momentos do Barroca, aquele período no qual a escola passou por uns problemas, ficou alguns caindo e até essa fase da retomada, nos dias de hoje. Vai ter umas coisas que pega pela emoção. O pessoal que é mais antigo da escola, a gente passa o resumo do enredo pra eles, como vamos fazer… vai ser um enredo marcado pela emoção. Quem gosta do Barroca Zona Sul vai se identificar com pelo menos algum trecho desse desse desfile”, afirmou Magoo.

Como o pontapé inicial, por lógica, é a própria fundação do Barroca, nada mais natural que o enredo vá se desenrolando de maneira cronológica. E, conforme isso acontece, o desfile relembra todos os momentos da instituição. “A gente dividiu o desfile para não ficar uma coisa maçante e nós dividimos por períodos. Tem um período que é o dos tempos da Tiradentes, os carnavais marcantes nessa avenida. Tem um trabalho de pesquisa: como que o pessoal se vestia naquela época, as fantasias, o estilo… depois, tem os primeiros desfiles no Anhembi: como que foi, as referências. Depois, tem essa fase da retomada da escola. A gente dividiu dessa forma para contar a história por meio de fantasias e alegorias. É para mergulhar mesmo, para ter uma identificação daquelas pessoas. Pra falar que lembra desse desfile, de algum detalhe… a gente tomou um cuidado para trazer todos esses elementos certinho e o pessoal se identificar”, comentou Magoo.

Setorização natural

Não há muito segredo quanto à setorização barroquense em 2024. Cada setor representa, basicamente, uma “fase” da escola. E os primeiros remetem não apenas à fundação da escola – como, também, a uma era que traz saudade em muitos foliões paulistanos. “Tem a primeira fase, que foi a fundação do Barroca. A gente já começa com as primeiras alas contando a fundação do Barroca Zona Sul. Vem abre-alas, baianas e comissão contando esse evento. Daí já entra a parte de avenida Tiradentes, os desfiles lá, depois os primeiros desfiles no Sambódromo… tem elementos que a gente vai distribuir em esculturas e nas próprias alegorias que vão remeter a esses períodos. No final, tem aquela surpresa da retomada do Barroca: tem uns elementos que a gente está levando que, quem já viu, curtiu pra caramba. Tomara que tenha esse efeito Legal na avenida, principalmente da parte da retomada como um momento de choque”, relembrou Magoo.

Aqui, é importante destacar: quando o carnavalesco fala em “retomada da escola”, ele não está brincando. A agremiação chegou a desfilar na União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP), instituição que reúne as escolas do samba abaixo da terceiro divisão paulistana. E isso também será relembrado. “Não foram 50 anos de alegria. Nenhuma escola tem só vitórias, só períodos bons. Todas as escolas de samba têm o seu período ruim e o Barroca tem um período muito complicado, que ela foi caindo de grupo e foi pra rua. Desfilou no Butantã, perdeu quadra… o Barroca passou por um período muito conturbado. Aí, um grupo de pessoas começou o passo a passo, ano após ano, subindo e melhorando. Em termos de estrutura, a agremiação conseguiu a sua quadra, onde está até hoje. Isso é um orgulho pro pessoal: ver a escola chegar no fundo do poço e depois só subir e chegar no Especial, já há três anos estabelecida no Grupo Especial. Até os mais novos de Barroca têm muito orgulho da escola que ficou tão pra baixo e teve forças para renascer e voltar a ficar entre as grandes do carnaval de São Paulo”, exaltou o carnavalesco.

Surgimento do enredo

Em diversas entrevistas, Ewerton Rodrigo Ramos Sampaio, o Cebolinha, presidente do Barroca desde 2014, destacou que, desde quando ele assumiu a escola, todo o esforço era para que o desfile do Jubileu de Ouro fosse o melhor possível. Pois bem: chegou a apresentação dos 50 anos. E, para desenvolver o enredo, o carnavalesco pediu um encontro com pessoas históricas da agremiação. E foi nessa ocasião que o fio condutor do desfile surgiu. “Na primeira reunião que eu tive com o presidente, o Cebolinha pediu para que eu falasse no que eu gostaria de ajuda. Eu respondi que a única coisa que eu quero é uma reunião com as pessoas mais antigas da escola. Não uma reunião, um bate-papo. Entrar lá e conversar. Eu começava a perguntar da história do Barroca e eu, até então, tinha alguma coisa na minha mente, uma linha de pensamento, eu já tinha feito uma pesquisa e tal, mas a partir dessa conversa eu comecei a perceber o que o barroquense acha importante, o que que ele acha legal, o que que ele se orgulha, os momentos marcantes da história da agremiação. Foi aí que eu mudei bastante coisa que eu tinha na minha cabeça. Foi aí que eu via o respeito que eles tinham pelo Pé Rachado. Eles falavam coisas como “Ah, se o ‘Pé’ tivesse vivo nessa época”… e, nisso, eu imaginei ele próprio contando a história da instituição. Foi daí que surgiu a ideia. Esse bate-papo foi importantíssimo para o desenvolvimento desse enredo”, destacou Magoo.

Exaltação aos baluartes

Gravada no final de 2023, a entrevista foi realizada dias antes da morte de Gerado Sampaio Neto, o Borjão, dos grandes nomes da história barroquense. No dia 05 de janeiro, a verde e rosa perdeu um dos grandes nomes da própria história. E, na ocasião, ele foi muito citado como uma das pessoas que mais colaboraram para manter o Barroca ativo – e, também, pela transformação da agremiação. “Além de pessoas como o Cebolinha, Borjão e Fernando Negão, tem o João Neguinho, vice-presidente, uma pessoa importantíssima. Tem as pessoas-chave de cada departamento, os cabeças. Normal um ou sair por coisa de família, por exemplo… mas esse grupo, na sua maioria, permanece – e esse grupo, que permanece unido, é o pessoal que toma as decisões do Barroca, Zona Sul. É um pessoal que sofreu na pele os momentos ruins, mas eles batalharam. O presidente Cebolinha tem uma participação gigantesca nisso, o Borjão também – o nome do Borjão e o respeito que a comunidade tem por ele e tem outros personagens, a própria Velha Guarda da escola, baianas… tem vários segmentos da escola e a gente vai fazer uma homenagem especial para eles”, pontuou o carnavalesco.

Muito comentado, o momento da “retomada” começou em 2014, quando Cebolinha (filho de Borjão) assumiu a presidência do próprio pai. E, na visão do carnavalesco, eles são a síntese do que é a agremiação. O profissional que estava na agremiação desde 2020 e que foi substituído por Magoo também foi citado com muito respeito e admiração. “O próprio Presidente Cebolinha e o Borjão eu tinha mais contato e conhecia de fora. Quem tá no mundo do carnaval acaba sabendo um pouquinho de cada escola. Eu acompanhei mais ou menos essa essa luta. Uma coisa que eu tinha em mente é que o Barroca é uma escola que o pessoal arregaça as mangas, vai para cima… e eu vi que esse grupo existe mesmo. Você olha e tem um pessoal fanático, que respira Barroca Zona Sul e isso é muito legal. É muito legal você conviver com essas pessoas. O Rodrigo Meiners é meu amigo, ele faz parte dessa retomada e ele foi um dos grandes responsáveis por isso. Ele fez carnavais muito bons aqui no Barroca Zona Sul, ele já deixou o nome dele na história da escola. Ele foi o carnavalesco que se destacou e ele deixou muita coisa boa no barracão do Barroca Zona Sul. Chegando aqui, eu só tive a certeza daquilo que eu deduzia, e com o tempo eu comecei a perceber que eu virei mais um desses. Um operário que respira a escola. É impressionante isso, vai contagiando, contagiando, contagiando…. foi bem legal mesmo chegar aqui e fazer parte desse desse time, fazer parte do Barroca Zona Sul nesse período”, destacou.

Na prática

Pensando no desfile em si, Magoo detalha os números envolvendo a apresentação barroquense. “São quatro alegorias, mas só o o abre-alas são três bases acopladas. A gente vem em uma média de 2.000 2.100 componentes, mais ou menos, divididos em dezoito alas. Não viremos com tripés, mas tem umas umas surpresinhas nos carros, uns efeitozinhos que a gente vai fazer que vai ser vai ser bem legal”, explicou.

Perguntado sobre como é a rotina enquanto carnavalesco, Magoo destaca que está se entregando de corpo e alma para produzir o desfile – sobretudo no barracão. “Eu gosto bastante de colocar a mão na massa, eu não fico muito só acompanhando. Gosto de forrar, fazer a escultura… sou bastante presente no barracão; na parte de fantasias, muito dessas alas foram feitas aqui na Fábrica do Samba, tem um time muito bom comigo que me ajuda visitando ateliê e etc – às vezes eu mesmo vou pro ateliê e visito. Sobre o meu dia a dia: eu chego muito cedo (por volta das 08h) aqui no barracão e vou no final da noite embora. No final de semana também estou aqui. Na quadra eu não tenho uma frequência muito grande, é muita responsabilidade aqui no barracão. Em 90% do tempo eu estou para o lado da Zona Oeste, aqui é onde – fico mais aqui do que na minha casa, na minha casa eu só vou para tomar banho, comer e dormir. O resto é vivendo o Barroca Zona Sul – e a tendência até o carnaval é ir aumentando”, afirmou o carnavalesco.

Recados

Em tom confessional, Magoo destacou o quanto o envolvimento que teve com os barroquenses foi importante não apenas para a produção do desfile, mas para ele como pessoa. “Contar essa história de 50 anos… é uma responsabilidade muito grande, porque eu não vivi esses 50 anos. Eu não estava no Barroca em nenhum desses momentos dos 50 anos. É por isso que a minha estratégia foi conversar com quem viveu Barroca, focar no sentimento de cada um, o que é importante. Não para mim, um leigo que, de fora, poderia perfeitamente fazer uma pesquisa, montava um texto em cima disso, mas ia ser uma coisa fria. Falar do Barroca sem falar de emoção, não é falar de Barroca. Eu tive que viver e sair, conviver com essas pessoas. No meio de uma conversa, tirar uma coisinha aqui, outra acolá, compor tudo e escrever esse enredo. Até agora, está todo mundo gostando, todos estão curtindo muito. Está dando super certo e tomara que na avenida seja a celebração desse projeto. Que a gente conte da melhor forma possível e termine o desfile com todo mundo se sentindo homenageado”, confidenciou.

Por fim, instigado a deixar um recado para todos que acompanham carnaval, Magoo destacou que o nível do Grupo Especial será altíssimo e que o Barroca, em especial, merece destaque. “A gente conversa bastante com o pessoal de outras escolas e eu tenho a convicção que vai ser um espetáculo muito bom. Vai, se não for o melhor, vai ser um dos melhores carnavais que São Paulo já teve. O nível está muito alto. É o profissionalismo: você não vê mais aquela coisa que tinha alguns anos de alguma escola estar bem abaixo. Todo mundo tem seus trunfos. Quem desfila pode ter certeza que vai participar de um grande espetáculo, independentemente da escola que você esteja. Para quem não desfila, que vai acompanhar pega o seu ingresso, assista ou desfile: vai valer a pena. O carnaval de São Paulo vai estar muito legal em 2024. E, para o pessoal do Barroca Zona Sul… é uma coisa que já virou jargão: você conversa com todo carnavalesco do Rio e de São Paulo e eles falam que vamos fazer o melhor carnaval da nossa história. Balela, né? Isso aí todo mundo fala. Mas tenha certeza que nós estamos fazendo um carnaval para o barroquense se orgulhar. O barroquense, quando falar qual desfile foi marcante para eles, ele vai identificar esse desfile em 2024. A gente quer fazer um desfile de celebração mesmo, que eles sintam o orgulho de ser Barroca Zona Sul”, finalizou.

Ficha técnica
Componentes: 2000
Alas: 18
Alegorias: 04

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