O lançamento do livro “Mestre-Sala e Porta-Bandeira, uma arte essencialmente nossa”, de Bruno Chateaubriand, foi realizado na última terça-feira, no hotel Fairmont, em Copacabana. O evento reuniu casais de mestre-sala e porta-bandeira de diversas escolas do Grupo Especial e da Série Ouro, que estiveram presentes para serem homenageados.

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Fotos: Maria Clara/CARNAVALESCO

O livro aborda a importância da arte do mestre-sala e da porta-bandeira e como essa dança se destaca pelo seu alto grau de complexidade técnica, além de carregar um enorme poder simbólico. Cada passo, gesto, e até mesmo o posicionamento do pavilhão, são carregados de significados profundos que remetem a rica história e tradição do carnaval brasileiro.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, Bruno conta sobre como essa história começou, também comenta sobre o conteúdo do livro e o que podemos esperar dessa obra.

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“A história do livro, ela começou de uma matéria minha na Veja Rio em 2022, e aí veio aquela coisa que jornalisticamente a gente fala, a gente vai abrindo novas camadas, a pesquisando e fui vendo que tem trabalho sim, mas tem trabalho muito mais de universitários, tem TCC, mas assim, obras publicadas tinha do Aydano André Motta das porta-bandeiras, ele falando de grandes nomes aí dessa arte, mas só porta-bandeira, e aqui a gente dá o lugar de fala também para os mestres-salas. A gente fala, por exemplo, dos casais que já têm mais de 50 anos e estão na ativa: Selminha, Claudinho, Julinho, Rute. Os quatro têm mais de 50 e representam grandes pavilhões: Beija-Flor e Viradouro. Fala da artesania, dos talabartes, como surgiu o talabarte, fala um pouquinho desse lugar também das ponteiras, dos mastros, dos sapatos, que os sapatos são super importantes para os meninos, para os homens. Tem todo esse cuidado, mas esse livro, ele é, como eu disse, é a primeira camada de um estudo, para abrir um debate e para a gente começar a democratizar ainda mais esse poder de fala deles, que eles não tenham medo de falar. E eu sou um canal, sou simplesmente um canal para eles”, citou Bruno.

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O livro conta com algumas entrevistas de personagens fundamentais que contribuíram para a construção da rica história da dança do mestre-sala e da porta-bandeira, entre os entrevistados destacados, temos alguns nomes notáveis como Helena Theodoro, Manoel Dionísio, Vilma Nascimento, o pesquisador Felipe Ferreira e a carnavalesca Maria Augusta.

Manoel Dionísio comentou sobre as danças dos mestres-salas e porta-bandeiras, abordando a relação entre esses profissionais e os coreógrafos, além de expor a sua visão sobre essa situação e como ela pode ser aprimorada.

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“Olha, esse livro do Bruno, ele tem muito a ver com o carnaval em respeito a mestre-sala e porta-bandeira do nosso carnaval, mas eu espero que também esse livro incentive aos casais para dialogarem com os coreógrafos, porque eu não sei se são os coreógrafos ou se são eles mesmo que estão querendo mudar a história, porque do jeito que está não pode ficar. Esse livro dá um incentivo para que esses dançarinos do samba se conscientizem em dois momentos: Se posicionar mediante o seu coreógrafo, não é brigar com o coreógrafo, mas dialogar com ele, porque tem coisa que o coreógrafo manda fazer e que eles sabem que não devem fazer, mas porque que eles fazem? Porque se eles não fizerem o que o coreógrafo mandou, dependendo de como chegar no presidente ‘ah ele não quis me obedecer’, ele vai perder a escola dele. A coisa hoje está no comodismo. O mestre-sala está fazendo a coisa, mesmo errada que o coreógrafo manda fazer, mesmo errada eles fazem para não perder o espaço na sua escola de samba. Acho que esse quesito vai ser extinto, porque já tentaram tirar três vezes, eu participei das três, eu não sei se eu vou ter a oportunidade de participar da quarta vez”, comentou Manoel Dionísio.

Bruno também destacou sua preocupação com o formato atual das coreografias para mestre-sala e porta-bandeira, tanto no Grupo Especial quanto na Série Ouro. Ele também pontua sobre a diferença entre o que vem da quadra e o que é apresentado na passarela do samba, sugere que há uma necessidade de repensar e reavaliar essa abordagem, indicando que a metodologia de julgamento pode estar impondo um modelo específico aos casais.

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“O formato, ele está muito engessado nos dois lugares, tanto no Grupo Especial quanto na Série Ouro. Você repara que hoje a metodologia de julgamento ela vem engessando a arte dos casais e isso a gente repara no desfile, porque quando você vai em uma quadra você vê uma porta-bandeira e um mestre-sala dançando de forma livre, respeitando a energia corporal individual deles, e quando você vai para a passarela do samba, aí já tem um ensaiador, já tem um coreógrafo e uma série de questões limitadores para aquele movimento. Vejo que existe aí hoje um movimento, inclusive, isso é um capítulo que na adaptação desse livro vai entrar: ‘o que vem da quadra e o que vem da passarela do samba, e está muito diferente’. Eu acho que isso precisa ser repensado no momento que você tem uma banca julgadora que vem toda de uma escola de um Theatro Municipal, não que isso não seja importante, as culturas se fundem, existe essa questão de você meio que se apropriar culturalmente de outros movimentos planetários, mas quando você fala de arte, a gente tem que tomar muito cuidado quando você se torna impositivo num lugar só, e isso que é a preocupação, quando você vê uma banca toda de julgadores de uma escola de um Theatro Municipal. Você está meio que impondo que os casais se engessem para aquele modelo e aquele movimento, mas isso é uma opinião muito individual minha. Eu acho que inclusive isso precisa ser repensado, precisa ser reavaliado e isso não é crítica, não estou fazendo jamais crítica a nada, eu acho que as coisas acontecem e a gente precisa repensar: ‘É por esse caminho? Qual o caminho?’, isso aqui tem uma importância tão grande, os casais são contratados para Europa, Estados Unidos, Canadá, para Ásia, pelo Brasil todo, então para onde vamos? Isso é muito importante”, abordou Bruno.

Entre os grandes nomes que estiveram presentes no lançamento, Selminha Sorriso foi um deles e suas palavras expressaram a alegria e a importância que ela atribui a esse projeto para a história do carnaval. Também enfatiza a relevância de tantas mulheres que passaram por esse caminho, deixando um legado muito importante de porta-bandeira.

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“Eu me sinto lisonjeada não só em meu nome, mas em nome de todos os casais de todos os tempos. Imagina que quantas mulheres maravilhosas passaram por essa história e deixaram esse legado para que nós estivéssemos hoje elevando cada vez mais a arte do bailado da porta-bandeira. É um personagem tão importante, tão digno, tão maravilhoso ter recebido essa missão porque é uma missão você conduzir uma história de vida contida num pavilhão de uma escola de samba. Então, a minha mensagem para ele foi de gratidão em nome de todas e de todos nós, as mulheres que sofreram, as mulheres que lutaram, que sofreram perseguição, que foram discriminadas, porque eram sambistas, né? Porque eram mulheres, eram a maioria pretas e sambistas. Elas deixaram para nós muita coisa. Então, estar nesse livro eternizando a história delas, assim como as nossas, é uma razão de agradecimento, de emoção”, disse Selminha.

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da atual campeã do carnaval, Imperatriz Leopoldinense, Phelipe Lemos e Rafaela Teodoro, abordaram a importância do livro para o futuro de quem deseja se tornar mestre-sala e porta-bandeira.

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“Eu acredito que enriquece muito a nossa dança, não só para gente que está atuando, mas para inspirar jovens talentos, crianças, adolescentes. Eu já olhei rápido, com curiosidade, que a gente está doida para ler, né? Mas eu já estou aqui olhando os tópicos e eu vi que tem bastante coisa interessante sobre realmente a arte, porque às vezes a gente fica muito órfão das informações de o que é uma dança de mestre-sala e porta-bandeira, que muitos acham que é um giro, um rodopio, e vai muito mais além disso. E o Bruno foi muito feliz com tudo que os tópicos que eu já vi aqui, que ele colocou no seu livro para essa nova geração, para gente, para enriquecer cada vez mais a nossa arte, e é muito gratificante ter alguém que ama e que cuida do casal de mestre-sala e porta-bandeira, porque o Bruno é apaixonado pelos casais de mestre-sala e porta-bandeira e ter alguém que luta ao nosso favor, que briga, é muito legal”, revelou Rafaela Theodoro.

Em complemento, o mestre-sala, Phelipe, citou: “Eu acho que esse tipo de conteúdo é importante para que as novas gerações que estão vindo por aí possam ter base e conhecimento do que vão estar fazendo, não vão fazer por osmose ou simplesmente por paixão. Acho que a gente pode unir a paixão e o conhecimento na mesma intensidade. Então, parabéns para o Bruno por ter conseguido colher tanto conhecimento e colocar isso no livro para que a gente possa passar para as futuras gerações”.

O casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela, Marlon e Squel, compartilharam a relevância do lugar de fala que o Bruno está disponibilizando para as pessoas envolvidas nessa expressão artística tão única e que na maioria das vezes é muito desvalorizada.

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“Eu sou muito grata por toda a possibilidade que existe quando a pessoa nos dá o direito de falar, quando a gente tem o poder da fala, esse lugar de fala que é nosso, quando tem alguém interessado pela nossa arte, toda vez que isso acontece é para a gente celebrar, é para a gente agradecer que alguém se interessou pela nossa arte, pela nossa cultura, é uma arte tão desvalorizada, as pessoas não nos reconhecem enquanto artistas, enquanto trabalhadores, então quando uma pessoa chega com essa disposição em nos mostrar, em nos enaltecer, falar da nossa história, é sempre um dia de celebração e eu sou muito grata ao Bruno por esse momento”, compartilhou Squel.

O mestre-sala também expressou sua gratidão ao Bruno por registrar essa história em um livro, facilitando para todos que desejam conhecer mais sobre o trabalho de ser mestre-sala e porta-bandeira.

“É um registro extremamente importante, como a minha porta-bandeira colocou, a gente luta muito, é um trabalho árduo, é um trabalho onde duas pessoas trazem 40, 50 pontos para uma escola de samba, um exército de milhares e milhares de torcedores e quando a gente tem pessoas como o Bruno que nos enaltece, registra essa história em livro para ficar eternamente para todos que queiram, para todos que possam conhecer um pouquinho e ver o tanto como é trabalhoso ser mestre-sala e porta-bandeira, isso para a gente é de um prazer inestimável. Então eu estou extremamente feliz, nós estamos muito felizes e a gente tem certeza e espera que isso só seja o primeiro de muitos”, abordou Marlon.

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Estreando em 2024 na Série Ouro, Laye Ribeiro, porta-bandeira da escola União do Parque Acari, comentou sobre a sua felicidade de fazer parte de um evento que lança um livro que luta pelos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Ela também revelou um pouquinho sobre a sua preparação para o desfile desse ano.

“Foi como eu falei para o Bruno ainda pouco, é maravilhoso ter alguém que luta por nós casais, sabe? O evento é maravilhoso, eu estou mega feliz de estar participando, é o primeiro ano do União do Parque Acari na Série Ouro. Estou muito feliz por estar aqui. Saindo daqui, por exemplo, hoje saindo daqui eu estou indo direto para a Sapucaí para ensaiar. Eu e o Vinícius a gente tem se dedicado muito, a gente tem batalhado bastante, a gente tem o apoio da nossa coreógrafa Vânia Reis e assim, a gente está lutando muito para alcançar o almejado em trazer as notas máximas para a escola”, comentou Layne.

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O casal da Mocidade, Diogo Jesus e Bruna Santos, expressaram a importância do livro na preservação e resgate da tradição do mestre-sala e porta-bandeira, garantindo que a dança desses casais seja sempre lembrada e documentada para as futuras gerações.

“A dança do casal de mestre-sala e porta-bandeira já vem de uma tradição. Então ele está falando no livro sobre essa tradição, de quando começou, falando agora da nova roupagem do casal de mestre-sala e porta-bandeira, mesmo que continue com a mesma tradição, mas que tem tido a sua inovação, então é muito importante ele estar fazendo esse livro para a gente sempre ser lembrado e é sempre bom ter registrado essa nossa história”, revelou Bruna Santos.

“Para a gente é uma importância enorme, porque é um resgate de uma história, uma continuação também de uma história. O Bruno está vindo com a edição desse livro, espero que não acabe por aí, espero que venham outras edições, venham novos escritores e novas contações de história, e que nunca acabe. E é isso, a nossa dança é essa”, comentou Diogo Jesus.

Marcinho Siqueira, mestre-sala da Vila Isabel, compartilhou sua perspectiva sobre o momento atual, destacando a necessidade de retomar aspectos importantes e relevantes da arte do mestre-sala e porta-bandeira que ao longo do tempo foram um pouco esquecidos.

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“A gente se vê num momento em que a gente precisa retomar certas, como é que eu vou dizer, partes importantes e relevantes da nossa arte que foram com o passar do tempo um pouco deixadas de lado, né? Deixadas de lado. Então eu acho que o livro serve muito para poder ensinar quem está chegando agora e relembrar quem já está fazendo a arte de muita coisa que a gente deixou de lado com o passar do tempo e a gente retomar isso acho que é importante”, compartilhou Marcinho Siqueira.

A porta-bandeira da Inocentes de Belford Roxo, Jaçanã Ribeiro, expressou a sua emoção em finalmente ter um livro para contar a história de mestre-sala e porta-bandeira, porque sempre foi muito grande a carência de literatura e informações sobre esse tema, o que torna o trabalho do Bruno importante para preencher essa lacuna e preservar a memória dessa tradição.

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“Bem, eu acho que está sendo uma suma importância para gente ter essa literatura salvaguardada, né, pelo Bruno Chateaubriand, contando um pouco da importância do casal de mestre-sala e porta-bandeira, e que pouca gente já sabe, né, porque carnaval é aquela coisa mista de N coisas, são passistas, musas, bateria, baianas, que são as mães do carnaval, e para as pessoas entenderem um pouquinho da nossa história, o que significa mestre-sala e porta-bandeira, o que é realmente mestre-sala e porta-bandeira numa escola de samba, e está sendo muito grandioso para gente. Hoje está sendo um momento, assim, pra guardar na memória, porque é bem emocionante a gente ter uma coisa para contar e que realmente, porque não tem muitas coisas que são referentes a mestre-sala e porta-bandeira, quase não se tem literatura”, citou Jaçanã.

Bruno compartilhou com o CARNAVALESCO o que podemos esperar na continuação do livro em 2025. Ele planeja lançar a segunda parte que incluirá fotos e mais dez capítulos. Também mencionou que já tem esses capítulos prontos, mas que não será um livro muito extenso, sua intenção é proporcionar uma leitura que seja rápida e que permita aos leitores concordar, discordar, questionar e buscar compreensão sobre os temas abordados.

“Em 2025 vem a segunda parte com fotos e mais dez capítulos. Eu estou com esses capítulos prontos, mas eu não queria um livro grosso, eu não queria um livro gigantesco, eu queria um livro que fosse acessível, que não fosse passando aquela mensagem: ‘ah é um livro intelectualizado demais, pretensioso demais’. Não, é um livro para que eles possam olhar aquilo ali rapidamente, fazer aquela leitura rápida e com aquilo falar assim: ‘Mas eu concordo com isso? Eu discordo disso, isso aqui não é assim, qual é a nomenclatura disso?’. Não existe nomenclatura para muita coisa ainda, né? Então, inclusive, ano passado na transmissão da Série Ouro na Band, eu citei uma coisa, falei assim: ‘ah a pegada de segurança’, ninguém tinha falado de pegada de segurança ainda. Aí depois tiveram porta-bandeiras que vieram falar comigo: ‘Não, mas aquilo não era pegada de segurança, a pegada de segurança é assim’. É estimular exatamente esse lugar, porque eu perguntava; ‘Qual é o nome disso?’ no simpósio que a gente fez ano passado aqui e eu falava: ‘eu chamo de pegada de segurança’, aí as porta-bandeiras falavam: ‘ah não, tá certo, é pegada de segurança’, mas esse ano eu venho com uma nova nomenclatura, pegada de mão invertida, exatamente para estimular, para que eles ajudem a colocar no papel uma nomenclatura. Já existe um sindicato, acho que pouca gente sabe disso. Existe um sindicato que protege a dança dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Tem todo o movimento que existe uma associação também dos casais de mestre-sala e porta-bandeira. Tem todo o movimento já acontecendo, mas eu acho que a gente precisa sair um pouco da cadeira e falar: ‘Vamos contribuir um pouco mais com isso aqui? Vamos fazer mais isso?’ E o objetivo é esse”, afirmou Bruno.