Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara e Matheus Morais. Fotos de Nelson Malfacini

Um dos maiores momentos do carnaval finalmente chegou. Teve início na noite deste sábado, por volta das 19h, na Marquês de Sapucaí, os ensaios técnicos da Série Ouro. Quatro escolas do grupo desfilaram: União do Parque Acari, Arranco do Engenho de Dentro, Império da Tijuca e Estácio de Sá. As agremiações e a Liga-RJ, entidade que organiza o principal Grupo de Acesso, mostraram bastante pontualidade e respeito ao sambista, que compareceu em bom número nos primeiros setores da avenida e foi enchendo as frisas ao longo do evento. * VEJA AQUI FOTOS DO ENSAIO

Fotos: Nelson Malfacini/CARNAVALESCO

A missão de abrir os ensaios da Série Ouro coube ao Parque Acari, que no carnaval do ano passado ficou em segundo lugar no primeiro dia de desfiles da Intendente Magalhães. A escola fará seu primeiro desfile da história na Marquês de Sapucaí, levando o enredo “Ilê-Ayê – 50 anos de luta e resistência”, de autoria do carnavalesco André Tabuquine, para valorizar a cultura afro-brasileira através do cinquentenário do grupo musical. A agremiação não fez feio, mas mostrou que ainda precisa trabalhar seus quesitos se quiser permanecer no grupo de acesso.

“Foi para mim um ensaio muito produtivo, não só para mim como para toda a comunidade, a gente esperava realmente isso, a gente está vindo trabalhando para isso e mostrando que a escola veio e veio pra ficar. É uma coisa que todos almejavam já há muito tempo e agora o sonho se tornou realidade”, disse Xande Ribeiro, diretor de carnaval.

Comissão de Frente

Comandados pelo coreógrafo Valci Pelé, o grupo de bailarinos era formado por homens e mulheres pretos. Os rapazes usavam saias vermelhas e as moças usavam saias amarelas. Elas ainda usavam um top, já eles vinham com o tronco despido. Todos tinham pinturas brancas pelo corpo. O grupo mostrou uma dança bem sincronizada entre os componentes e acompanhando bem o samba, mas sem tanta força e vigor, tendo em vista o teor do enredo. Sempre é bom lembrar que raramente as escolas levam a coreografia oficial para o ensaio técnico.

“Hoje foi um test drive, eu estou na construção da coreografia há um mês e meio. Colocando em pauta o que colocamos na avenida hoje, eu acredito que faltam algumas coisas, limpeza, alinhamento…mas fizemos uma bela apresentação. O bacana da comissão é que ela é toda composta por passistas. São 15, hoje viemos com 14 porque uma pessoa adoeceu, mas iremos vir com 15. Vamos vir com um tripé, ainda está na construção com a galera de Parintins. Mas posso te dizer que virão surpresas, eu garanto! A União do Parque Acari merece, vieram da série prata e hoje estão estreando na Sapucaí. E o bloco Ilê Aiyê que completa 50 anos (tema do enredo) também merece, esse acolhimento e um belo desfile que o nosso carnavalesco André está realizando”, afirmou o coreógrafo Valci Pelé.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Vinicius Jesus e Layne Ribeiro, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, tiveram um bom desempenho no ensaio, mas também podem evoluir até o desfile oficial. A dupla fez uma dança bem tradicional, com alguns movimentos específicos encaixados no samba. O casal parecia ainda um pouco preso, não utilizando tanto o espaço da pista e sem tanta ousadia. O vento também parece ter atrapalhado um pouco a porta-bandeira. Há espaço para melhora da sincronia e força dos movimentos.

“Eu estou muito feliz, a escola vem dando todo o suporte para mim e para minha porta-bandeira. Meu primeiro ano como mestre-sala da União do Parque Acari, estou muito feliz! A Layne já estava e eu cheguei para dar todo suporte para ela também e todo apoio. A gente vem fazendo uma parceria super especial, não tenho o que reclamar, ela vem me dando todo o suporte. As vezes não dá para ensaiar por causa do meu filho, trabalho e faculdade, mas ela vem junto comigo falando ‘não pretinho hoje não, mas amanhã a gente ensaia’ e eu estou muito feliz”, disse o mestre-sala.

“Nossa é uma emoção incrível, eu estou muito feliz! Foi como o Vini falou, eu não ganhei só um parceiro, só um mestre-sala, eu ganhei um irmão e eu acho que isso é muito importante, a parceria se torna mais prazerosa, a gente tem trabalhado muito e eu tenho certeza que vai dar tudo certo se Deus quiser. Olha representando o Bloco Ilê Aiyê que é um bloco emblemático na Bahia, a gente vem trazendo uma grande surpresa”, completou a porta-bandeira.

Samba-enredo

O samba do Parque Acari tem uma pegada bem animada, com pode o enredo, mas não é dos melhores em termos de letra e melodia. Alguns versos são bem batidos e simples. A melodia, embora seja bem “pra cima”, não possui tantas variações. Além disso, o carro de som apresentou problemas durante o ensaio. Em vários momentos era difícil ouvir a voz do intérprete principal Leozinho Nunes. A voz de Tainara Martins, também intérprete oficial, acabou se sobressaindo, em conjunto aos cantores de apoio.

“É a primeira vez que o Parque Acari está na avenida estreando hoje, e a gente tem que agradecer a toda comunidade pelo o trabalho, o desempenho, é difícil chegar aqui, mas a escola está fazendo um bom trabalho, a comunidade veio alegre, veio leve, cantou, é um samba leve e a gente vai está na avenida isso aí ó, levinho. Tudo tem que melhorar sempre, tudo, carro do som, casal, comissão de frente, sempre todos tem que melhorar. Nunca vai está perfeito nada, a gente vai tentar sempre chegar no máximo possível da perfeição para que os jurados entendam, e a gente tenta tirar esse tão sonhado dez, né? E ficar no Grupo de Acesso. Eu já eu já conhecia os meninos (mestres) que eles eram ritmistas da minha antiga agremiação, que eu tenho maior carinho, que é a São Clemente. Já conhecia a bateria, o carro de som, a comunidade, porque eu sou um cara que eu rodo em todas as comunidades, eu vou cantar ali, vou cantar aqui. O entrosamento com a bateria é o melhor possível e só agradecer a minha comunidade do Amarelinho e do Acari”, comentou Leozinho Nunes.

Harmonia

Diretamente impactada pela qualidade e desempenho do samba-enredo, a harmonia do Parque Acari deixou bastante a desejar. O que se viu notou foi um baixo volume de canto dos componentes. Muitos pareciam nem saber o samba por completo. Apenas no refrão principal podia se ouvir um aumento no canto, mas ainda bem longe do que se espera para uma escola que quer permanecer no grupo. Mas é bom lembrar que ainda faltam mais de 30 dias para o desfile oficial e a agremiação pode usar esse tempo para melhorar sua harmonia.

Evolução

Ponto positivo da agremiação no ensaio técnico. O Acari mostrou uma boa organização de seu contingente de desfilantes. A evolução foi bem tranquila na primeira apresentação da escola na Sapucaí. O ritmo foi constante, sem qualquer tipo de lentidão ou correria. Nenhum buraco entre as alas foi notado na pista. Entretanto, um ponto que deve ser melhorado é a animação dos componentes, inclusive tendo em vista a pegada do enredo, que é uma celebração de 50 anos de um grupo afro-brasileiro, o Ilê-Ayê.

Outros destaques

A bateria dos mestres Daniel e Erik foi uma grata surpresa no ensaio técnico. Mostrando que evoluiu bastante, o grupo de ritmistas apresentou uma levada muito propícia para o samba-enredo, além de bossas bem encaixadas no samba que enriqueceram o trabalho. Esse é um quesito que pode ser essencial para a escola no dia do desfile oficial.

“Na minha visão foi bom, mas creio que o calendário foi algo que não favoreceu a gente por conta das festas de fim de ano, ficou tudo muito em cima, foi uma semana de correria. Mas foi bom demais, tô muito feliz com o rendimento da bateria, mas vamos melhorar e correr atrás da perfeição. Aperfeiçoar o geral. A base é essa aí, vamos com essas três bossas, vamos aperfeiçoar e trabalhar, ensaiar para chegar lá. Trabalhar como Leozinho é muito fácil, ele tem uma bagagem enorme. Para a gente que é estreante, trabalhar com um cara que tem experiência deixa tudo mais fácil, ele passa tranquilidade para gente trabalhar. Iremos vir de acordo com a roupa dos ritmistas do bloco Ilê Aiyê, vai ser bem levinha, revelou mestre Daniel Silva”.

“Concordo com o que o Daniel falou, a gente tá muito feliz, mas a gente pode melhorar bastante. Temos mais trabalho pela frente, vamos limpar tudo para que no dia do desfile a gente vir 100%. Ainda estamos encaixando as bossas certinho. Mosso foco é o conjunto da obra, nenhum naipe especial”, completou mestre Erik Castro.