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Série Barracões: União do Parque Acari promete levar a resistência no corpo e na alma em sua estreia na Sapucaí

Após atraso no pagamento da subvenção e a danificação de mais de 600 fantasias, por conta das chuvas do meio do mês de janeiro, o carnavalesco André Tabuquine, no terceiro ano consecutivo na União do Parque Acari, não se abate e promete um carnaval grandioso para a agremiação que faz a sua estreia na Sapucaí e na Série Ouro em 2024. Com o enredo “Ilê Aiyê, 50 Anos de Luta e Resistência”, a Acari se baseia na questão religiosa que originou o bloco Ilê Ayiê e na ancestralidade baiana e africana, para falar da resistência de um povo sofrido, mas de maneira alegre. Após garantir a 3ª colocação na Série Prata, a agremiação, que tem apenas cinco anos, se viu abraçada pela comunidade para estrear na Sapucaí, apresentando algo inédito, como André revelou ao site CARNAVALESCO.

Fotos: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

“Eu já estou no meu terceiro carnaval consecutivo na Acari. E aí, por ser uma escola nova na Série Ouro, a gente precisava fazer alguma coisa inédita e de grande repercussão. E eu já tinha algumas coisas elaboradas na gaveta, e então mostrei um leque de enredos para a agremiação. E aí eles foram analisando, eu fui explicando cada um deles, um dos mais favoráveis para a gente era realmente o sobre o bloco Ilê Aiyê. E também, como não falar de um bloco que realmente faz sucesso e é sucesso no mundo inteiro? Sendo um bloco completamente de resistência, não só no Brasil, como no mundo. Pelas lutas sociais, por direitos que nós temos, entendeu? A diretoria abraçou esse enredo. E a gente começou as pesquisas”, disse o carnavalesco.

Engana-se quem pensa que a idealização do enredo se deu apenas para celebrar os 50 anos do Ilê Aiyê, o que chamou a atenção de André para a idealização do enredo foi a história e os elementos que originaram a criação do bloco, como a espiritualidade, uma vez que a ialorixá Mãe Hilda foi uma das responsáveis pela fundação do bloco, com seu filho “Vovô”, que estará presente no desfile.

“Foi a questão do bloco começar realmente dentro de uma casa de candomblé e ter esses guias espirituais. E a mãe Hilda levantou a bandeira e teve a autorização de falar. Porque foi uma época que há 50 anos, era uma luta do caramba, do povo preto em buscar os seus direitos. Então ela topou com os seus filhos e conseguiram fazer a fundação do bloco. Então, isso daí foi o que realmente me chamou mais a atenção, a parte religiosa”, afirma André.

O artista não esconde as dificuldades que tem em construir um carnaval na Série Ouro, ainda mais em um ano no qual houve atraso no pagamento da verba municipal para as escolas. Em um barracão novo, no qual a agremiação divide com a Acadêmicos do Cubango, o trabalho segue.

“A gente sabe que tem a grande dificuldade para quem sobe da Intendente Magalhães para a Sapucaí, e ainda abrir o desfile é um pulo enorme, e a questão financeira é muito grande. As dificuldades de barracão, financeiramente, que dependem dos órgãos públicos, tudo é realmente difícil, mas a gente está tentando driblar todas essas dificuldades que a gente está tendo agora”, disse o carnavalesco.

Além dos percalços financeiros que muitas escolas da Série Ouro enfrentam, a Acari foi afetada pelas fortes chuvas do meio de janeiro, tendo sua quadra alagada um mês antes do desfile oficial. Muitas fantasias prontas e materiais que seriam usados no desfile foram danificados, a agremiação chegou até a pedir doações em suas redes sociais para reparar os danos causados pelas chuvas.

“A Acari vem homenageando esse bloco de resistência. A Acari é resistência depois dessa situação fatal que aconteceu na nossa comunidade, por conta das chuvas, a gente perdeu 640 fantasias, assim, você vê que é duro. Deu para recuperar bastante coisa, mas isso nos impactou de diversas formas, até emocionalmente, para a escola. Por isso que se o bloco é resistência, imagine a União do Parque Acari depois dessa enchente toda, né? A comunidade abraçou a escola, apesar de ter sido muito afetada também, muitos moradores perderam suas casas, teve gente que perdeu a vida. Mas aí a gente conseguiu dar a volta por cima. A quadra está a todo vapor, fazendo e refazendo o lance de algumas fantasias, reparando as perdas, e então a gente vai levantar a bandeira da resistência e a importância que o negro tem na sociedade, o bloco nos ensina isso, isso é muito importante. Tivemos muitos materiais também que eram do barracão, mas estava lá estocado para decoração, mas foi tudo perdido e a gente está negociando com fornecedores para comprar novamente, algumas partes estão chegando e o barracão está aí agora a todo vapor”.

O carnavalesco, que não se deixa abalar pelas dificuldades, disse contar com uma equipe parceira que o ajuda na busca de soluções para os problemas e que o segredo é sempre ter truques para, mesmo assim, sentir prazer com seu trabalho na avenida.

“O truque é, primeiro, ter o conhecimento, óbvio, o conhecimento de materiais alternativos, de fácil acesso, fácil compreensão e que vão dar um efeito legal no desfile. E eu estou nessa caminhada já tem um tempo já, e assinando sozinho na Série Ouro, realmente é uma responsabilidade muito maior, e dá um prazer. É gostoso ver a sua arte ser exposta. O Rio de Janeiro no carnaval para o mundo inteiro, apesar das dificuldades”, afirma o carnavalesco.

Prometendo um carnaval grande e surpreendente, a escola já tem fantasias entregues e o barracão da Acari segue na concepção dos carros alegóricos, restauração de diversas esculturas. André revelou também que diversas estampas que viram nos carros da escola, foram desenhadas por ele, dando uma originalidade ao desfile.

“O boom do desfile, na verdade, vai ser o início da escola, a cabeça da escola que vai vir bem grande e impactante, com algumas surpresinhas aí também no meio do desfile. Nós vamos vir com três alegorias, porém a gente vai vir com um acoplamento, então o abre alas é acoplado, chegando aí a quase quarenta e poucos metros. Todas as fantasias de alas e as composições vão ter até mesmo o tecido do Ilê Aiyê. A gente conseguiu uma parceria com o artista Mundão que cedeu as estampas do Ilê Aiyê, que são estampas exclusivas, e a gente colocou nas alas, colocamos também nas alegorias e nas composições. Quer dizer que vai ter o Ilê Aiyê e a Bahia no Rio de Janeiro e no nosso desfile. Aguardem que a escola vem bastante colorida, mas dentro do contexto de cada enredo deles”, conta André.

Conheça o desfile da União do Parque Acari

A União do Parque Acari irá abrir os desfiles oficiais na Sapucaí em 2024, na sexta-feira, dia 09 de fevereiro. Dividida em três setores, com em torno de 1500 componentes, divididos em 23 alas, um elemento cênico na comissão de frente e 3 alegorias.

“O primeiro setor vai ser a religiosidade, o segundo setor a negritude africana e encerrando no terceiro com a ancestralidade baiana”, revelou o carnavalesco.

1º Setor: Neste primeiro setor vem toda essa parte espiritual que a mãe Ilda transformou realmente nesse bloco. Ela vai ser homenageada, óbvio, que é a matriarca, o orixá dela, Obaluaê, que é Azanzú na nação de Candomblé Jeje, a qual ela pertence. Então aí vai ter isso nessa religiosidade. A cabeça da escola vem toda branca, ouro e palha, toda essa parte de reluzir, espelho, luz, da africanidade”.

2º Setor: “Na segunda parte vai ser a parte da negritude africana, no qual a gente vai vir homenageando a deusa do ébano, eles têm uma noite da beleza da deusa do ébano, na qual eles escolhem a dançarina, pra eles é a dançarina, para gente é como se fosse uma rainha de bateria, né? Então essa deusa do ébano, a gente vai homenagear ela no carro alegórico, onde vem personalidades negras do carnaval, desfilando com a gente. Então eu venho contando nas alas os enredos do Ilê Aiyê, para a gente é enredo, para eles são temas. Cada ano o bloco faz os seus temas, então eles fazem as músicas, os cânticos, de acordo com o tema. Então, foi escolhido 23 temas delas que foram transformados em alas”.

3º Setor: “E vamos encerrar com a festividade baiana no bloco e a Ladeira do Curuzu, no qual também vem o pessoal do bloco Ilê Aiyê desfilar com a gente. Eu venho contando nas alas os enredos do Ilê Aiyê, para a gente é enredo, para eles são temas. Cada ano o bloco faz os seus temas, então eles fazem as músicas, os cânticos, de acordo com o tema. Então, foi escolhido 23 temas delas que foram transformados em alas. Um carro coreografado, que vem com 30 e poucas pessoas, fora os destaques, simbolizando como se eles estivessem subindo a ladeira, realmente festejando, depois descendo, fazendo aquela brincadeira toda”.

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