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Série Barracões: Inocentes promete levar a história dos trabalhadores informais com muita alegria e colorido para a Sapucaí

A Inocentes de Belford Roxo dará vez e voz para uma parcela da população que muitas vezes é esquecida ou até relegada. A escola da Baixada Fluminense contará a história dos trabalhadores informais do Brasil, desde a sua origem nos tempos do Império. Ambulantes e camelôs serão levados para a Marquês de Sapucaí para serem homenageados como um povo de luta e suor ao ganharem a vida. Personagens importantes serão lembrados, como Silvio Santos, Anísio Abraão David, Rick Chesther, entre outros, que também foram ambulantes. A azul, vermelho e branco promete contar essa história com bastante alegria, apostando em um colorido diferenciado.

O carnavalesco Cristiano Bara explica que o atual enredo é, na verdade, uma segunda opção da escola, após problemas com o anterior. A ideia foi levada pelo presidente da agremiação, Reginaldo Gomes, para ele. Cristiano conta que já tinha uma pesquisa feita sobre o tema desde os tempos de Beija-Flor, e que se aprofundou na história para desenvolver o carnaval da Inocentes:

“Em um primeiro momento, a gente teve um problema com o outro enredo. Tivemos que deixar de fazer ele para fazer esse próximo. O presidente me sugeriu uma ideia, ele gostaria de fazer alguma coisa sobre o começo ambulante. A gente começou as pesquisas, e como eu já tinha feito uma pesquisa bem forte sobre o Debret em um período que eu passei na Beija-Flor, quando eu fui ao Maranhão junto com uma comissão. Eu sabia que ele tinha documentado o começo ambulante no Brasil colonial. Aí foi onde a gente encontrou o caminho, um gancho para a gente começar a contar nossa história”, falou o artista.

Na extensa pesquisa de enredo, mesmo já tendo conhecimento de algumas passagens, Cristiano se deparou com uma história que não sabia. Ele conta que Debret foi um artista tão importante da época, que realizou trabalhos estéticos para a corte, e que poderia ser chamado de carnavalesco. Além disso, ele também deu as primeiras cores para a bandeira do Brasil:

“A gente tem uma história bem curiosa. Na realidade, o Debret era o carnavalesco da época, porque ele que cuidava de todos os eventos da corte. Ele que cuidava da decoração dos eventos, da parte estética. Tem um historiador que mostra até que ele construía carros alegóricos quando fazia alguma festa. Foi ele quem desenhou a primeira bandeira do Brasil. O verde e amarelo da nossa bandeira foi o Debret que desenhou. Ele tinha consciência de que quando ele veio na viagem, quando ele corta o Atlântico e veio à costa brasileira, ele ficou encantado com tudo que ele viu, a exuberância do verde. Colocou o verde das matas e o amarelo ele justificou com o ouro, porque ele sabia de toda a riqueza. Como ele tinha um conhecimento da história do continente africano e do europeu, com a relação do português com o Brasil, ele sabia que muito ouro foi pra lá, dizendo que o país era um lugar que tinha muito minério e muita riqueza. É um fato bem curioso saber que ele pintou os mercadores, como a preta que vendia caju. E depois descobrir que ele foi quem pintou a nossa bandeira, que a gente tem tanto orgulho, é muito interessante dentro da história que a gente descobriu na pesquisa do enredo”, disse o carnavalesco.

O artista entende que o grande trunfo da Inocentes é um somatório de fatores, que passam por uma estética bonita, colorida e diferente, pelo samba-enredo de qualidade, e por um forte fator humano que faz tudo funcionar:

“Eu acho que é primar por uma boa estética visual. A gente tem um grande samba, feito pelo Cláudio Russo, que é um mago do samba-enredo. É um enredo alegre, divertido, colorido, com a cara da escola. A escola é tricolor. A gente vem com um desfile muito colorido porque o enredo nos permite isso. Até a parte histórica no início também tem um colorido muito legal, porque tem a exuberância da fauna, da flora, no abre-alas. A gente tem uma representação do azul do Oceano Atlântico que eles cortaram para chegar ao Brasil. Temos embarcações, alguns mercados, o colorido do ver-o-peso, com todas as garrafinhas que vende. A gente tem o açaí, a baiana que vende o acarajé no mercado do modelo, os quitutes. Temos um mercado de BH que tem o queijo, o doce de leite, a cachaça. O ponto alto é a estética unida com o humano, porque qualquer espetáculo de carnaval, se a gente não tiver o humano pra fazer virar a realidade tudo aquilo que a gente sonhou, não funciona. A gente tem um humano bom e um colorido diferente pra mostrar o carnaval. É uma grande viagem para mostrar o ambulante através do tempo”, afirmou Cristiano.

Bara relata de que forma trabalha com sua dupla, o carnavalesco Marco Antônio. Ele explica que não há uma divisão exata de tarefas. Os dois participam e decidem todos os aspectos do desfile em conjunto:

“A gente na verdade divide todas as ideias e conversa o tempo todo. Não temos uma divisão concreta, do tipo ‘você cuida disso, eu cuido daquilo’. Não tem isso, a gente divide todo o trabalho, da pesquisa, do desenvolvimento, as cores, a gente vai conversando. Eu já trabalhei há um tempo com o Marco, muitos anos atrás ele era carnavalesco e eu tinha um ateliê. Fiz fantasias protótipos para ele e a gente hoje uniu essa convivência boa do passado e que estamos mantendo aqui”, comentou Bara.

Cristiano explica de que forma trabalhou com Cláudio Russo, compositor que foi contratado para fazer o samba-enredo da escola. O carnavalesco afirma que passou todo o projeto do desfile para Russo, mas que nem seria necessário por conta de sua extrema qualidade na composição:

“A gente deu todas as diretrizes pro Cláudio. Na realidade, a gente já vinha desenhando o enredo, então a gente passou os desenhos de fantasia e de alegoria para ele ter consciência de tudo aquilo que a gente ia mostrar na parte estética, para que ele pudesse construir um grande samba. A gente tinha sinopse, o enredo todo direitinho, e fomos dando subsídios. Mas nem precisa muita coisa para Cláudio Russo fazer um grande samba. Ele é o mago do samba enredo no carnaval hoje”, disse o artista.

O carnavalesco relata as dificuldades que enfrenta ao realizar seu trabalho no barracão da escola, localizado na Via Binário, na Zona Portuária do Rio de Janeiro. A precariedade da estrutura deixa tudo mais imprevisível, porém ele afirma que é possível administrar. Cristiano deixa um recado importante que tem tudo a ver com o enredo da Inocentes:

“Na realidade, eu já passei por todos os grupos. Há 13 anos eu já tinha feito a Inocentes, que era em outro barracão, que era aberto. Já passei por muitas dificuldades. Também já passei no Especial pela Beija-Flor e em São Paulo pela Vila Maria durante cinco anos. Então, a gente adquire experiência. É como se fosse um camaleão, se adaptando às cores do ambiente. É bem difícil. Já poderíamos ter uma cidade do samba da Série Ouro. Temos que lidar com as dificuldades. Se chove, molha tudo. Tenho um carro aqui, que tem uma baiana na frente toda de renda branca. A gente fica correndo para proteger. Quando para a chuva, ainda fica escorrendo água da laje. A gente vai administrando, é o que temos hoje para trabalhar. E vamos tentar entregar o melhor espetáculo possível na Sapucaí e mostrar que a gente é firme e forte, exatamente como os camelôs do nosso enredo. Eles acreditam e conseguem vencer no final. Temos vários exemplos para que a gente possa vencer as adversidades que temos no barracão”, afirmou Cristiano.

Bara cita sua longa experiência no espetáculo, mas afirma que o fator primordial para driblar as adversidades financeiras é o conjunto forte de trabalhadores que o ajudam, dando ideias boas e baratas, e também colocando a mão na massa para fazer o projeto ganhar vida:

“Esse ano farei 35 anos de carnaval. A gente acaba adquirindo experiência no caminho. Mas temos pessoas que trabalham com a gente que dão soluções muito legais também. Temos a Luana na decoração de alegorias. Temos a Maria que trabalha lá em Belford Roxo cuidando do ateliê. Temos um grupo unido para que a gente ache alternativas que tenham um visual muito bom, mas que não tenham um custo alto. É aquela velha brincadeira, de tirar da cabeça o que não se tem no bolso. A gente sabe da dificuldade, hoje as coisas estão muito caras. Mas conseguimos soluções muito legais para que a gente possa apresentar um grande espetáculo. As pessoas vão se encantar”, falou o carnavalesco.

Apesar de todas as dificuldades no processo de desenvolvimento das fantasias e alegorias, Cristiano procura não se deixar abater. O artista diz enxergar o carnaval de outra forma, dando ênfase ao sentimento verdadeiro por sua profissão:

“Eu não vejo carnaval como uma condição. Eu vejo como amor pela nossa profissão. A gente fica muito feliz com tudo que projetamos. Na verdade, a gente é vendedor de sonhos. E sonho não tem local, podemos sonhar em qualquer lugar. Ele pode se tornar uma realidade boa. Apesar de estarmos em um local ruim, a realidade que a gente apresentar na avenida será muito boa”, disse Bara.

O carnavalesco da escola explica que não tinha a intenção de trabalhar no desfile deste ano, mas acabou aceitando o pedido do amigo pessoal e presidente da Inocentes, Reginaldo Gomes. Por conta disso, ele prefere não dizer sobre o que será o seu futuro na folia carioca e deixa tudo em aberto:

“Na realidade, eu tinha uma ideia de não fazer carnaval por um ano para descansar. Eu estava morando em Arraial do Cabo. Aconteceu do Reginaldo ir lá. E eu já tinha trabalhado na Inocentes, sou amigo da família há 20 anos. Ele já tinha ido à São Paulo acompanhar um trabalho de um enredo sobre a China, que era maravilhoso. Ele me falou que a gente teria dificuldades por causa do tema. E me pediu para voltar para ajudar o Marco, fazer essa parceria, porque quanto mais gente melhor. Duas cabeças pensam melhor que uma só. Então, eu resolvi assumir essa volta para o carnaval. Se vou continuar aqui na Inocentes ou se vou alçar novos voos, vai depender de tudo que a vida promete para a gente. Não sabemos o amanhã. A gente sabe muito pouco de hoje. Não tenho uma ideia fixa do que vou fazer. Vou deixar o universo comandar tudo o que a gente precisa”, refletiu Cristiano.

Conheça o desfile da Inocentes

A Inocentes de Belford Roxo para 2024 vem com cerca de 2.200 componentes. Serão três carros alegóricos e três tripés, sendo um deles na comissão de frente e os outros dois ao longo do restante do desfile. A caçulinha da Baixada será a quarta escola a desfilar na sexta-feira de carnaval da Série Ouro. O artista Cristiano Bara explicou os setores de seu trabalho para o site CARNAVALESCO:

Setor 1: “Começamos a contar nossa história a partir do convite de D. João VI para a Missão Francesa vir para o Brasil. Debret ficou responsável de pintar o cotidiano do povo no Brasil Império e aí ele volta pra França e depois documenta isso no livro. No primeiro momento que a gente tem no Brasil de documentação do mercado ambulante, a gente chama de trabalhadores de ganho, mas na verdade eram os escravos de ganho, pois trabalhavam para os seus senhores. Tudo que era produzido nas fazendas, ele pegava e colocava para o escravo vender durante a tarde, à noite. Criava galinha, botava no cesto e vendia. E o Debret se encantou com isso, olhando da janela do ateliê dele, que era no Catumbi. Ele via isso e começou a pintar, foram as melhores pinturas dele, essas são as mais requisitadas pelas pesquisas, todo mundo é encantado com elas. Então, a gente começa a caminhada do nosso enredo, o conhecimento dele sobre o continente africano, o continente europeu, já ele foi convidado pela Coroa Portuguesa para poder vir para o Brasil. Era uma missão que tinha a ideia de trazer o neoclassicismo para o Brasil, que já vinha há muito tempo com o Barroco, com os jesuítas. Os jesuítas vão e eles chegam à missão e começam a modificar a arquitetura no Rio de Janeiro, começam a mudar as características da cidade e sair do barroco para o neoclássico”.

Setor 2: “Com isso, a gente vai mostrando a evolução do comércio. Aí chega a influência de mercador chinês, árabe, judeu, cada um com sua área. O judeu tinha uma área de venda de utensílio para a cozinha, panela de cobre, talheres, já o árabe vendia utensílio para costura, linha, agulha, alfinete, fita métrica, para poder trabalhar esse momento. O chinês trazia os tecidos, e a gente tinha o nosso o Caxeiro Viajante, que era o que viajava no lombo do burro e que transportava tudo que ele vendia, era um comércio de quinquilharias, vamos dizer assim. Com essas influências a gente criou as nossas feiras livres, que era a banquinha que eles colocavam tudo isso, que depois foi se transformando e virou os mercados que a gente tem espalhado pelo país. A gente tem Ver-o-peso, que tem mais de 400 anos, que é no Pará, a gente tem o Mercado Municipal de São Paulo, a gente tem o de Belo Horizonte, Então, a gente fala desse momento dos mercados numa alegoria. A gente mostra o mercado modelo na Bahia, tudo isso é influência desses mercadores, junto com o que a gente já tinha com os nossos escravos, com a influência africana, e foi evoluindo até a criação do mercado”.

Setor 3: “Após isso, a gente já começa uma viagem para os tempos modernos, indo para o grande problema das grandes cidades, que culminou no Rio de Janeiro. A Guarda Municipal tinha que botar ordem na cidade, e virou o grande bicho papão desse camelô. Com esse problema, a gente desenvolve o enredo, mostrando tudo. Tem o cara que vende no plástico, com a cordinha, porque ele quer escapar do rapa, começa e vai funcionando, mas precisa de uma ordem. E essa ordem vem com a ideia de construir o Camelódromo. A gente fala dos produtos piratas, os produtos dos sacoleiros, que compravam no Paraguai e traziam, coisas do cotidiano. Mostra também o Mercadão de Madureira no final. A gente mostra que o forte lá é a procura por produtos religiosos. Temos um carro que tem um trem que leva da Central até Belford Roxo, sede da escola. Então, a gente passa por todos esses mercados que também movimentam o mercado ambulante, o mercado das feiras livres. Também falamos do Silvio Santos, que já na época do problema com a Guarda Municipal, ele vendia na hora do almoço deles, do Rick Chesther, que ficou tão famoso e foi fazer até palestra nos Estados Unidos, do Anísio, presidente de honra da Beija-Flor, que foi camelô, vendedor de bala. Depois foi para o jogo do bicho e se tornou importante para o nosso carnaval. O crescimento do espetáculo, em grande parte, é graças a ele, junto com os demais que fizeram parte da Liga. A gente faz essa homenagem”.

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