Tida como a principal defensora do ritmo tradicional do samba paulistano, a bateria do Vai-Vai deu o tom na gravação do samba-enredo da agremiação para o CD e para as plataformas digitais de 2025. Com o enredo “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”, homenageando o dramaturgo José Celso Martinez, o samba-enredo, composto por Naio Denay e Francis Gabriel, teve bom rendimento quando cantado pelos integrantes do Bixiga. A alvinegra encerrará os trabalhos do Grupo Especial do carnaval de São Paulo, sendo a última escola a desfilar no sábado de carnaval – 01 de março, embora já desfile com o Sol do dia 02 já nascendo.

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Fotos: Will Ferreira/CARNAVALESCO

Batucada forte

Roberto Lopes, popularmente conhecido como mestre Beto, foi bastante técnico e detalhista ao falar, com orgulho, dos ritmistas da agremiação. Comandante da Pegada de Macaco, bateria da escola, desde 2015, escolhido e nomeado pelo eterno mestre Tadeu (com quem dirige os componentes do segmento desde então), primeiro exaltou a origem da instituição: “A bateria Pegada de Macaco, com mestre Tadeu e mestre Beto, virá com andamento 150. É uma bateria que vinha com andamento 154, 156 – e nós vamos vir com andamento 150 porque o samba não pede para vir para frente. Mas, no horário que a gente desfila, a gente não pode vir pra trás – e o Vai-Vai é uma escola que não desfila para trás, já tem uma tradição e eu pretendo cumpri-la juntamente ao mestre Tadeu, dando continuidade à época do cordão, à época dos tambores de Pirapora. A bateria do Vai-Vai é isso: é uma das baterias mais tradicionais do mundo”, comentou – já explicando o motivo pelo qual o andamento da agremiação é tradicionalmente mais rápido que o de outras tantas coirmãs.

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Roberto Lopes, popularmente conhecido como mestre Beto

Também chamou atenção o fato do Vai-Vai levar mais naipes que outras coirmãs para a gravação do samba-enredo – cuícas e agogôs, que não estiveram presentes em todas as gravações, estavam no momento em que Zé Celso foi homenageado: “Às vezes, para a gravação o mestre não utiliza, ou às vezes a escola também não tem agogô e não tem cuíca. Você não é obrigado a levar cuícaagogô ou timbau. Você tem os itens e os instrumentos que você é obrigatório apresentar, sem eles você já entra perdido. O Vai-Vai sempre teve agogô, sempre teve cuíca, sempre teve pandeiro, sempre teve muita coisa. Quando eu assumi, quando o mestre Tadeu me deu oportunidade, lá em 2015, eu só mudei o agogô de duas bocas (que tem na Mangueira) e introduzi o agogô de quatro bocas – comandados pela Cintia, que é a nossa diretora de agogô Fazemos isso para contentar também o ritmista ou diretor de bateria: eu trago, com a concepção do mestre Tadeu, todos os naipes na gravação que vão para a avenida. A não ser que não pudessea utilizar na gravação por um critério da Liga-SP, aí gente respeitaria. Eu trago todos e eu acho que engrandece tanto o carnaval quanto o ritmo e você dá uma autoestima para o ritmista”, explicou.

Confiança

Com cada vez mais compositores para assinar uma única obra, surpreende ver apenas dois poetas para musicalizar um enredo. Naio Denay e Francis Gabriel conseguiram o feito. Naio, por sinal, mostrou muita cumplicidade com o parceiro: “Eu tô concorrendo no Vai-Vai desde 1985, ganhei logo no meu primeiro ano. Então, para mim, é só mais um. Ao contrário do Francis, que há quatro anos concorre e essa foi a primeira vitória dele. Acho que ele tem mais a falar do que eu sobre a emoão de ganhar aqui no Vai-Vai”, pontuou.

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Compositores Naio Denay e Francis Gabriel

O parceiro, de bate pronto, exaltou o dramaturgo: “É um tema que está à altura do Bixiga! É um tema gigante, com uma escola gigante. Acho que o Bixiga volta forte, tá vindo para brigar pelo título. A escola abraçou o samba e eu acho que vai dar golaço. O samba é a cara do Vai-Vai, o refrão é a cara do Vai-Vai e estamos ansiosos. Estamos confiantes”, afirmou.

A cara da escola

Muito se fala sobre o quanto um samba-enredo pode ou precisa ter a cara da instituição que o apresentará. A escolha do Vai-Vai, aparentemente, foi feita muito por conta da identidade alvinegra. Diretor musical e arranjador da agremiação, Danilo César Alves passou por tal ponto ao falar da faixa: “Foi muito bom mesmo, a gravação foi boa. O samba é espetacular, o samba é muito Vai Vai, e tem essa característica do Vai Vai: aquele samba para frente, um samba que faz com que a bateria tenha bossas espetaculares. O grande destaque é a bateria, é a bossa da bateria, a bateria está fazendo umas bossas muito interessantes de acordo com a melodia do samba. o que o destaque é esse mesmo, é o samba junto com a bateria que é a pegada do Vai Vai”, destacou.

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Diretor musical e arranjador da agremiação, Danilo César Alves

Naio concordou: “Samba realmente com cara do Vai-Vai. Há alguns anos o Vai-Vai começou a deixar de lado essa tradição de samba pegado – e, nesse ano, a gente vem retornando com essa pegada do samba característica do Vai-Vai. Eu tenho certeza que é o samba que vai acontecer na avenida, é o samba que vai pegar fogo. E é a última escola, então pode ter certeza que a avenida vai estar cheia, ninguém vai embora! A gente também vai passar e eu tenho certeza que vai pegar”, prometeu.

Danilo voltou a falar sobre as características da canção em geral: “É um samba alegre, é um samba para frente – que, pelo horário do nosso desfile (e nós fechamos o carnaval) vai bater de encontro com o que a gente quer: que é fazer um grand finale, é fazer o fechamento sensacional do carnaval, com uma grande bateria para frente, que é a cara do Vai-Vai. Aquela bateria para frente com uma pegada, como diz o mestre Tadeu, aquela pegada Vai-Vai, com harmonia, com a galera toda cantando bem o samba. O samba muito cantante, então vai ser uma coisa espetacular, um grand finale”, destacou.

Para melhorar ainda mais

Luiz Robles, um dos integrantes da direção de Carnaval e de Harmonia vaivaiense, revelou quais foram os cuidados dos dirigentes para tornar a canção ainda mais efetiva: “A gente fez a escolha do samba e já fizemos algumas alterações na letra. E aí, já no primeiro ensaio, como a gente tinha soltado internamente a gravação, mesmo que aquela meia suja ainda, a comunidade começou a trabalhar esse canto. E hoje, chegando aqui na gravação, a gente entende que a evolução está sendo muito satisfatória. A música já pegou, a galera já entendeu e assimilou essa mudança. Está sendo muito satisfatória a evolução para nós, como direção de Harmonia – e a coordenação que eu tenho. Está sendo satisfatório o canto, sim. Até porque a gente está trabalhando isso muito forte nesses primeiros ensaios. A gente está focando muito no canto, mesmo. A gente deu uma parada daquela evolução que a escola está acostumada a fazer. Estamos fazendo os ensaios e estamos focados no canto”, destacou.

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Luiz Robles, um dos integrantes da direção de Carnaval e de Harmonia

Depois das melhorias, a faixa

Para gravar a canção, Luiz Felipe, intérprete alvinegro, falou sobre o que costuma fazer nas horas anteriores a um evento tão especial: “Eu me concentro muito, principalmente. Eu busco me concentrar bastante. Gosto de ficar quieto, sozinho no meu canto, ouvir músicas que me acalmam (MPB, João Bosco, Emílio Santiago, Fundos de Quintal) e músicas que eu aprendi com a minha mãe – as músicas internacionais. Eu faço isso e também faço bastante exercício vocal, bebo água, faço outros exercício, inalação e etc”, destacou.

Para a gravação, mestre Beto deu mais informações sobre a canção vaivaiense: “Nós vamos vir com um breque de três, que é uma passagem, e nós vamos vir com duas bossas cumprindo o critério de julgamento – que são, no mínimo, dezesseis compassos para você atingir a nota dez. A gente sempre desfilou pra cumprir o critério de julgamento”, revelou.

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Luiz Felipe, intérprete do Vai-Vai

O comandante-mor dos ritmistas aproveitou apra falar um pouco mais sobre os critérios de avaliação: “Eu vou contar uma história rápida para vocês: antes, o critério de julgamento permitia você fazer quanto você quisesse (ou permitia você não fazer, ou permitia você fazer fora do campo auditivo e visual do jurado) de bossas. Hoje, no critério de julgamento, você é obrigado a fazer o arranjo na frente do jurado ou no campo auditivo e visual dele. Você tem que fazer no mínimo dezesseis compassos: com quinze compassos você não atinge o dez, com dezesseis compassos você atinge, mas pode não atingir, e com mais de dezesseis você atinge o dez. Cumprindo-se esse critério de julgamento, feito pela Liga-SP e assinado por todos os presidentes, a bateria do Vai-Vai, mesmo assim, continua sendo tradicional: ela cumpre o critério, ela faz a bossa – ou ela faz a passagem, ela faz a convenção, seja nomenclatura que você quiser”, relembrou.

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O intérprete aproveitou para falar que seus planos, quase sempre, são mudados para eternizar canções: “Eu busco sempre estar bem na técnica. Só que aí, chega a da hora, você vai incorporando o samba gravando… aí não vem mais a técnica, só vem aquela empolgação. Você sente a comunidade, você sente o samba. Por causa disso, fica meio técnica e meio emoção”, dividiu-se LF.

E no desfile?

Já pensando em março de 2025, Robles destacou que o Vai-Vai sacudirá o Sambódromo: “A gente até fez uma projeção e estamos podendo trabalhar muito próximo do carnavalesco, com as fantasias muito mais leves, para que o componente possa evoluir e dançar muito mais do que o habitual. A gente já está projetando um balancê, uma dança e um canto muito forte por conta do horário que a escola vem. A gente está projetando que a gente consiga fazer um desfile realmente apoteótico no canto, na Evolução e no visual que a escola vai apresentar”, finalizou.