Com o enredo “O vendedor de orações”, o carro escolhido pela União da Ilha para abrir o desfile da escola foi “O milagre de Zacarias”. O abre-alas retrata o negro Zacarias, que depois de fugir e ser novamente capturado e levado de volta ao cativeiro, pediu para rezar aos pés da imagem de Nossa Senhora, até então encontrada por pescadores dali. Após a reza, por milagre, as correntes de Zacarias se quebraram, uma vez que santa teria lhe dado tal liberdade.
A alegoria composta por componentes em ambos os lados e na sua parte superior, chama atenção por seus tons vermelhados e ótimo acabamento. O abre alas conta com componentes fantasiados de Nossa Senhora Aparecida, além de apresentar uma escultura da santa na sua parte central.
Em entrevista ao CARNAVALESCO, a componente do carro Aline Grassano de 40 anos, revelou a ansiedade em estar de volta a Sapucaí depois de dois anos. Antiga moradora da Ilha do Governador, a policial civil que desfila há 15 anos na escola, contou um pouco sobre a representatividade de sua fantasia e juntamente do enredo.
“O carro é uma homenagem a Nossa Senhora Aparecida, por isso viemos com a santa na cabeça. Eu nasci dia 12 de outubro, não tinha como eu deixar de participar desse desfile. Sou devota de Nossa Senhora, é uma santa que fez muito milagre e que vai proteger e iluminar o desfile da nossa União da Ilha”.
Kátia Lepletier de 49 anos, também integrante do carro, contou que a escola está bem confiante nessa retomada do carnaval pós pandemia.
“Parece que é a primeira vez que to desfilando. O rapaz da escola disse que eu fui a primeira do carro a subir e eu sigo aqui intacta graças a minha enorme vontade de desfilar e representar Nossa Senhora Aparecida – Oxum”, desabafou a advogada.
Quando questionada quanto a representatividade do enredo, afirmou: “É um enredo que retrata a padroeira do Brasil. Temos muita fé e devoção, e eu acredito que tudo que é feito dessa forma, tem tudo para dar certo”, concluiu.
O componente Paulo Junior de 39 anos, também mostrou opinião quanto ao quesito representatividade.
“É um enredo forte que retrata a espiritualidade do brasileiro. Depois de dois anos longe da Sapucaí, estou muito emocionado e com o coração batendo muito forte, principalmente por ser a minha primeira vez desfilando na União da Ilha”, revelou o documentalista.
A Porto da Pedra foi a primeira escola na noite em que as bandeirinhas começaram a tremular na arquibancada. Muito esperada por ter um dos melhores sambas da safra de 2022, o Tigre apresentou alegorias de destaque, uma comissão de frente com coreografia forte e de marcante caracterização, além do já destacado primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira Rodrigo e Cintya. Mas, a iluminação do Abre-alas da escola que passou apagado em todos os módulos, deve fazer a Vermelha e Branca de São Gonçalo perder décimos preciosos. Com o enredo “O caçador que traz alegria”, a Porto da Pedra foi a quarta agremiação a desfilar, encerrando seu desfile com 55 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILES
Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO
Comissão de frente
A comissão de frente do coreógrafo Paulo Pina, representou a ancestralidade do candomblé, preservando a essência da religião pelas palavras dos mais sábios. O figurino se chamava “partículas de ancestralidade” e o tripé, grande e imponente, significava as raízes que alimentam os galhos, as folhas e os frutos de uma árvore. O tripé apresentava em palha a imagem da homenageada que se mexia, segurando “a flecha de Odé”, que acendia em um LED verde. A coreografia dos bailarinos fez algumas referências a palavras que o samba citava como “flecha”, “cabeça” e havia uma transformação na roupa em que a saia marrom subia e aparecia o verde das folhas, os componentes se transformavam em caçadores retirando flechas do elemento alegórico. O único ponto negativo foi o fato de que estas flechas eram para emitir um laser verde, mas em todos os módulos o efeito não funcionou com alguns componentes.
O primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, Rodrigo França e Cintya Barboza, representou as raízes do candomblé que atravessaram além-mar e trouxeram a ancestralidade das terras africanas para São Gonçalo do Retiro na Bahia. Na coreografia Cintya girava inúmeras vezes e impressionava pela intensidade e vitalidade, ainda que com bastante classe. No primeiro módulo, quase que a bandeira deu uma pequena enrolada, mas a porta-bandeira conseguiu evitar a tempo e manteve a continuidade da apresentação. Já Rodrigo, acompanhava os movimentos da porta-bandeira com entrosamento, mantendo sempre o contato no olhar. A dupla fez um passo de religião de matriz africana no trecho do samba “Roda Yaba´”.
Como era esperado pela qualidade da obra e pelos ensaios, a comunidade cantou a plenos pulmões o samba. Com destaque para diversas alas como as alas do primeiro setor 3, “retiro de São Gonçalo”, e a ala 4 “encantamento”. Do segundo setor, o destaque de canto foi para a ala 6 “Oxum”, e no quarto setor as alas “eterno aprendiz” e “Títulos e Honrarias”. Não se viu alas com grande quantidade de componentes que não cantavam o samba.
O enredo “O caçador que traz alegrias” apresentou a vida de Mãe Stella de Oxóssi, usando da oralidade e da memória da mãe de santo. Dividida em quatro setores, a Porto da Pedra reconstruiu a trajetória da pequena Stella de Azevedo com o dia que recebeu a maçã do pé do fruto do Orixá, a presença de Xangô em sua caminhada e o dia de sua consagração como Mãe de Santo, além de seu legado como enfermeira sanitarista, defensora da educação e cultura, e sua luta na libertação do candomblé às narrativas homogêneas. A escola apresentou o enredo de forma cronológica e linear.
A evolução da Porto da Pedra em geral se deu sem correrias em um ritmo fluido, durante boa parte da Sapucaí, mas próximo ao setor 3, aconteceu um buraco entre a ala de passistas e a bateria, próximo às cabines 1 e 2 de julgamento. Na entrada da bateria no segundo recuo, houve uma pequena demora para a ala “Renascimento-Yaô”, que vinha logo atrás, preencher o espaço, por pouco não se tornando um problema maior para a escola. Por fim, na parte final do desfile, a agremiação evoluiu com um pouco mais de rapidez para não estourar o tempo, finalizando no tempo máximo de 55 minutos.
Samba-enredo
O samba, um dos trunfos da Porto da Pedra para 2022 se confirmou na Sapucaí com grande atuação do intérprete Pitty de Menezes e seu carro de som. Entre as partes mais cantadas pelos componentes e que geraram maior integração com as arquibancadas , o refrão do meio “O santo dança, o céu relampejou…”, e os últimos versos anteriores ao refrão principal “Roda yabá é ginga!Canta pra firmar curimba!”, além, é claro, do refrão principal “No toque do Aguerê…”.
Fantasias
As fantasias estavam um pouco mais abaixo da qualidade que foi vista nos carros, ainda sim, de fácil leitura, apesar de o enredo ser um pouco mais denso e tocando em algumas nomenclaturas mais específicas das religiões de matriz africana. Destaque para as fantasias no último setor que traziam soluções criativas para homenagear a intelectualidade de Mãe Stella de Oxóssi. As baianas, segunda ala do desfile, representaram Eugênia Anna dos Santos, Mãe Aninha de Xangô, a matriarca do Ilê Axé Opô Afonjá. Já a ala de passistas veio fantasiada como “Folhas e Ervas de Oxóssi”, festejando a iniciação de Stella de Oxóssi. A ala de compositores “o dom das palavras” trouxe os ensinamentos importantes para compor os mais belos sambas em homenagem à Mãe Stella de Oxóssi.
Alegorias
Ao mesmo tempo, trunfo e calcanhar de aquiles da escola, a Porto da Pedra trouxe boas soluções e elementos alegóricos com boas soluções e de fácil entendimento, mas o carro Abre-Alas “Mata virgem deixa serenar”, que trazia o Tigre de São Gonçalo como Odé Kayodé, o ser mais puro e profundo das florestas, passou em todos os módulos apagado. Destaque para o terceiro carro alegórico “Legado de Mãe Stella” apresentando Mãe Stella de Oxóssi, mulher negra, determinada, reservada de olhar sereno. Nela, estava presente a velha-guarda, “os griôs”. Como surpresa, a alegoria tinha o efeito de soltar balões e apresentava muitas referências à paixão de Mãe Stella aos livros com algumas frases da mãe de santo.
Outros destaques
O mestre Pablo, comandante da Ritmo Feroz, veio fantasiado de Tigre, devidamente maquiado, inclusive, chamando atenção pela beleza da caracterização. A bateria veio representando os “Ogãs”, responsáveis em zelar pelo andamento do Xirê, os cuidados dos iniciados, a comunicação entre zeladores, Iaôs e os Orixás.A rainha de bateria Tati Minerato, que interagia bastante com o público e era lembrada em alguns momentos pelo intérprete Pitty de Menezes veio de “Agbara dos Ogãs” representando a potência e a força necessária para os ritmistas do Tigre de São Gonçalo dobrarem o couro dos instrumentos. O intérprete Wantuir, com passagem marcante pela Porto da Pedra no passado, esteve presente no desfile próximo ao carro de som.
A Baterilha dos Mestres Keko e Marcelo fez uma grande apresentação. A afinação de surdos proporcionou uma base de sustentação rítmica sólida, fazendo com que o balanço formidável dos surdos de terceira fosse percebido. As caixas de guerra com acentuação rítmica característica tocaram de forma ressonante. O complemento das peças leves se deu de modo sublime.
A ala de tamborins produziu uma sonoridade coesa exemplar. O naipe de chocalhos ecoou com firmeza, dando volume a cabeça da bateria. As paradinhas tem alto grau de complexidade e uma concepção musical acima da média. A utilização de um sino em duas bossas tocado por Mestre Keko empolgou o público, além de contar visualmente com a simpatia dos jurados.
A subida identitária na cabeça do samba em forma de breque acrescentou valor sonoro a apresentação da bateria da União da Ilha. A execução das paradinhas nos módulos de julgadores ocorreu de forma precisa. Infelizmente no último módulo de julgador, com o tempo próximo do estouro, a apresentação contemplou somente uma paradinha, com a bateria seguindo adiante para encerrar seu desfile.
A bateria Ritmo Feroz do excêntrico Mestre Pablo fez uma ótima apresentação. A boa afinação de surdos serviu de base para o ritmo. O swing proporcionado pelos surdos de terceira embalaram a bateria da Unidos do Porto da Pedra, inclusive utilizando duas macetas nas paradinhas. O acompanhamento das peças leves auxiliou a preencher a musicalidade. A ala de chocalhos desfilou com uma só fila na cabeça da bateria e os demais ritmistas perfilados dentro cozinha.
O naipe de tamborins executou o desenho rítmico de forma segura, com coesão e produzindo uma sonoridade notável. A convenção rítmica dos agogôs também merece menção positiva, se baseando nas nuances da obra. As bossas foram executadas com precisão, mesmo possuindo grau extremo de dificuldade. Tudo com uma concepção musical marcada pela complexidade e pautada pela ousadia rítmica.
A paradinha de maior destaque sonoro foi a do refrão do meio, onde era possível ouvir um solo envolvente de ritmistas que tocaram timbal. O timbal, inclusive, tem participação fundamental na musicalidade da bateria, assim como em bossas. As apresentações da bateria da Porto da Pedra nos módulos de jurados ocorreram sem problemas evidenciados da pista de desfile.
A estreia de Mestre Branco Ribeiro na bateria Ritmo Meritiense foi excelente. A boa afinação de surdos foi notada. Marcadores tocaram com firmeza, ditando o andamento do samba. O arranjo musical envolvendo os surdos no final da primeira do samba propiciou uma fluidez musical, tudo pautado na melodia do samba.
O balanço produzido pelas terceiras merece menção positiva. O acompanhamento de peças leves ocorreu de forma sólida. A ala de tamborins executou a convenção rítmica de modo preciso, produzindo bom volume e agregando na musicalidade da bateria da Unidos da Ponte. Chocalhos tocaram de forma firme, assim como cuícas e agogôs auxiliaram no preenchimento musical do ritmo.
Foi possível notar a bateria tocando de forma mais leve na segunda, valorizando ritmicamente os traços melódicos do samba da Ponte. As paradinhas aliaram concepção musical acima da média, além da execução irretocável de frente para os jurados. As passagens da bateria pelos módulos de julgadores aliou precisão, boa musicalidade e certa ovação popular.
A bateria Sintonia de Cavalcante de Mestre Wando fez uma boa apresentação na abertura dos desfiles. Surdos de terceiras deram balanço ao ritmo, além de executarem paradinhas usando duas macetas. As frigideiras no meio da bateria acrescentaram molho, ampliando a sonoridade. Agogôs executaram o desenho rítmico pautados pela melodia do samba. Cuícas corretas preencheram a musicalidade com solidez, bem como a ala de chocalhos segura deu valor sonoro ao ritmo da bateria da Em Cima da Hora.
O naipe de tamborins executou o desenho rítmico com limpeza e exatidão, dando bom volume à parte de frente do ritmo. As paradinhas tiveram boa execução em frente aos módulos de julgadores. Assim como as passagens pelos julgadores ocorreram sem problemas evidenciados na pista de desfile.
A bossa principal da escola, que era mais extensa, foi desmembrada em outras duas, configurando um acerto musical que proporcionou dinamismo ao som produzido pela bateria da tradicional Em Cima da Hora. O destaque musical acabou sendo a paradinha com alusão à batida funk.
A bateria Ritmo Folgado (RF) de Mestre Demétrius fez uma apresentação muito boa. A afinação privilegiada de surdos deu sustentação e amparo musical aos demais naipes. O bom balanço dos surdos de terceira foi notado. O toque destacado das caixas de guerra da bateria da Cubango serviu como base rítmica. O acompanhamento das peças leves auxiliou no preenchimento da sonoridade, elevando a qualidade do ritmo.
Uma ala de tamborins com toque chapado, limpo e ressonante foi conduzida por um diretor de impressionantes quinze anos de idade. Tudo sincronizado com um naipe de chocalhos que tocou de forma firme e segura. As paradinhas misturaram complexidade de execução e boa concepção musical. A execução das bossas nos módulos de julgadores esteve ritmicamente impecável.
As passagens da bateria da Cubango por todos os jurados foram consistentes e equilibradas. O destaque musical ficou com a paradinha com solo de atabaques e agogôs de duas campanas (bocas), tanto pelo som quanto pela proposta cultural. Os atabaques tocavam com baquetas, o que remete ao Aguidavi, vareta de aspecto sagrado para percussão nos rituais de Candomblé.
Terceira escola a pisar na Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a Unidos da Ponte apresentou um desfile irregular, alternando bons e maus momentos. Com problemas de evolução e erro na apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, a escola meritiense atravessou a pista em 56 minutos, um a mais que o permitido no regulamento. Outrora criticado, o samba da escola apresentou desempenho satisfatório na avenida. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Fotos de Allan Duffes e Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO
O desfile da escola começou com certo atraso, devido ao acidente ocorrido na dispersão da Em Cima da Hora, o que pode ter ocasionado um certo esfriamento nos componentes. Em seu esquenta, a Unidos da Ponte relembrou sucessos antigos, como “Oferendas” e “Eles verão a Deus”.
Coreografada por Valci Pelé, a Comissão de Frente da Unidos da Ponte veio representando o “O Anjo Bom da Bahia”. O grupo contava com 11 componentes homens e 4 mulheres, sendo uma representante da própria homenageada do enredo, Irmã Dulce, com as vestes características da mesma. Além da homenageada, outros integrantes da comissão representavam os desfavorecidos, com quem a Santa sempre teve relação, ao longo da vida.
Na apresentação, a Comissão de Frente da escola meritiense apostava na dramaticidade, com uma apresentação muito expressiva, na busca de impactar pela emoção. Os desfavorecidos faziam gestos expressivos que remetiam a sofrimento e fome, sendo esses ajudados pela componente que representava a Santa Dulce. O ponto alto da coreografia ocorria quando quatro componentes, anteriormente vestidos com tiras de saco plástico pretas, se transformavam em anjos, com uma bela roupa branca brilhosa e abriam as asas. Além disso, ao final da apresentação, a Irmã Dulce saia pelo alto do tripé, com luzes de led nas mãos.
Entretanto, no desenrolar da apresentação da Comissão, ao longo da avenida, ocorreram algumas falhas de execução na coreografia. No setor 6, a sanfona carregada pela Irmã Dulce, em um dos momentos da coreografia, ficou presa na porta do elemento cenográfico. Na última cabine, na hora da troca de roupas dos anjos, a asa de um dos componentes agarrou e não abriu.
O elemento cenográfico trazido pela Comissão, um barraco de palafitas que, no final se transformava em uma igreja, se mostrou bastante funcional na ideia. Porém, ao longo das apresentações, a cruz da igreja foi tombando para trás.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Ponte, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, vestia uma bela fantasia em tons de branco com bege, que representava a santíssima trindade cristã, “Em nome do pai, do filho e do espírito santo”. Emanuel, que era o segundo mestre-sala da escola, assumiu o posto principal há poucos dias do desfile oficial, já que o antigo ocupante da posição, Yuri Souza, sofreu um acidente.
A dupla, que já desfila junta como segundo casal da Portela, no Grupo Especial, fez uma apresentação bem irregular ao longo da avenida, com falhas na execução. Logo na primeira cabine, do setor três, a mais grave das falhas, na qual a porta-bandeira se desequilibrou e caiu, na frente dos jurados. Nas outras cabines, talvez devido ao ocorrido, o casal apresentou certa insegurança na execução dos movimentos, com algumas falhas na sincronia.
A Harmonia da Unidos da Ponte também apresentou desempenho irregular na Avenida Marquês de Sapucaí, com muitas alas passando com componentes mudos ou cantando apenas o refrão do samba. Além disso, a escola apresentou certo esfriamento na avenida, talvez pelo atraso no início do desfile. De destaque positivo no quesito, a ala 18 da escola da Baixada, que representava “A Bahia de Todos os Santos”, com muita animação e cantando o samba.
O carro de som da escola de São João de Meriti, capitaneado por Charles Silva, teve bom desempenho na avenida. Os cantores conseguiram dar animação ao samba da Ponte, apesar de sua característica muito melódica, como em forma de oração.
Enredo
Com o enredo “Santa Dulce dos Pobres- O Anjo Bom da Bahia”, a Unidos da Ponte propunha contar a história de Irmã Dulce, baiana canonizada recentemente pela Igreja Católica. Ao longo do desfile, o enredo da escola mostrou uma certa dificuldade de compreensão, com algumas alas, sobretudo a partir do segundo setor, dando um certa “embolada” no enredo, perdendo um pouco da linearidade da história a se contar.
Evolução
O quesito evolução foi mais um problema para a escola meritiense. Com os carros apresentando alguns problemas de condução na pista, a escola alternou momentos muito parada, com buracos e momentos de correria.
No setor 4, o abre-alas da escola travou na pista, precisando ser empurrado por diversas pessoas. Com isso, as baianas avançaram, abrindo buraco na frente do módulo de julgadores.
No fim do desfile, mesmo sem a bateria entrar no recuo, devido aos momentos em que ficou excessivamente parada, a escola precisou apertar o passo e correu. Mesmo assim, no fechamento do portão, a Unidos da Ponte ultrapassou um minuto do tempo máximo permitido.
Samba
O samba da Unidos da Ponte, composto por Diego Nicolau, Richard Valença, Sandra de Sá e parceiros, teve bom desempenho no desfile da escola da Baixada. Apesar de sua característica mais “pra baixo”, a obra conseguiu sustentar o desfile da escola durante todo o tempo. O refrão principal da escola, sobretudo o trecho com referência mais clara à homenageada do enredo, “Santa Dulce dos pobres, Maria”, foi bem cantado na avenida.
Fantasias
As fantasias da Unidos da Ponte também mostraram certo desnível entre si, ao longo da avenida, com algumas alas contrastando fantasias com soluções mais elaboradas, como a ala do Sagrado Coração de Jesus e outras mais simples, como a segunda ala, “O vaso escolhido por Deus”.
Outra fantasia a se destacar foi a da ala das baianas da Unidos da Ponte, representando o ingresso de Irmã Dulce na congregação das Irmãs Missionárias, com uma bela roupa em tons de laranja e amarelo e a imagem de uma santa na saia. A ala das passistas de escola da Baixada Fluminense representou as “Pombas da Paz”, na Avenida Marquês de Sapucaí.
Alegorias
As alegorias da Unidos da Ponte, de forma geral, apresentaram bom nível no desfile, sobretudo se contrastadas com o último desfile da escola, em 2020. Ainda assim, algumas falhas de acabamento podiam ser notadas na pista.
O abre-alas da escola, representando os primeiros contatos de Irmã Dulce com a religião, majoritariamente em tons de dourado, com belas composições, sobretudo os elementos que representavam Jesus Cristo, com muita teatralidade nos gestos.
A segunda alegoria, “Estenda as Mãos para Acalentar os Filhos Teus”, representava o início do trabalho social de Irmã Dulce, no subúrbio da cidade de Salvador, onde a santa chegou a transformar um galinheiro em hospital.
A última alegoria, representando “A Bênção Senhora de São Salvador”, que aborda a canonização de Irmã Dulce, com referência a cidade de origem da homenageada e representa a pluralidade de religiões. No carro, os carnavalescos da escola fizeram uma homenagem ao ator Paulo Gustavo, falecido em decorrência da Covid-19, que era devoto da santa e doador para o mantimento das Obras Sociais da Irmã Dulce. Entretanto, nessa alegoria, ocorreram as principais falhas de acabamento, com uma escultura passando, inclusive, com a cabeça “amassada”
Outros destaques
A bateria da Unidos da Ponte, comandada por mestre Branco Ribeiro, representou Santo Antônio, de quem Irmã Dulce era devota. Os ritmistas estavam com uma roupa de fácil leitura e comunicação com o público, devido a popularidade do santo. Ao longo da avenida, na realização de uma das bossas, era lançada uma “chuva de fogo” no meio dos ritmistas.
Com a segunda alegoria representando “Morada de Xangô”, que fala sobre o Ilê Axé Opô Afonjá, a casa da força de Xangô. Com esculturas do orixá e de seus 12 obás, o carro alegórico veio com detalhes em vermelho, branco e dourado como cores predominantes.
Axé! É o que se aplica no significado do segundo carro da Porto da Pedra. Com um trecho do samba dizendo: “Seis para defender, seis para julgar”. Houve uma cisão com o Candomblé da Barroquinha e o Candomblé da Boa Morte, e Mãe Aninha foi quem fundou o Opô Afonjá. Dividindo o poder masculino dentro do terreiro, ela criou o ministério de Xangô tendo 12 ministros.
Para um dos componentes da alegoria, o artista plástico Gustavo Trelling, de 33 anos, desfilar na Porto da Pedra é uma grande felicidade. Com a fantasia representando guerreiros africanos, ele explica sobre a sua função no carro: “Venho como guerreiro africano. Aqui estamos em quatro semi-destaques e um destaque central”.
Animados, era isso que definia o estado dos integrantes que estavam neste carro alegórico. A energia que emanava dos mesmos estava muito forte e a administradora Marcele Bizzo, de 36 anos, era uma dessas pessoas. “A mistura de culturas, a energia do espírito carnavalesco é algo imprescindível e muito legal de se ver também”, conta a integrante. A fantasia da administradora representava a realeza de Xangô.
A tradição dos 12 ministros de Xangô se mantém no Axé Opô Afonjá até hoje. Em entrevista para a equipe do site CARNAVALESCO, a professora de indumentária da Escola de Belas Artes da UFRJ, Samile Cunha, de 61 anos, é destaque da alegoria “Morada de Xangô” e vem representando uma ekedi de Xangô.
Ela revela o conhecimento sobre os ministros de Xangô: “Temos vários artistas e escritores que foram ministros do orixá. Muniz Sodré, Iltásio Tavares que faleceu recentemente também era ministro de Xangô e intelectuais ao longo de todo o século que foram ogãs”.