A ala “Um alafin Americano: Kawòó Kábiyèsi, Obama!”, homenageia o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos, eleito em 2008, ele ainda conseguiu a reeleição em 2012. Em seus mandatos à frente da Casa Branca, Barack Obama buscou ampliar leis e medidas de combate à discriminação e à desigualdade social. Com um forte senso de justiça, o político mantém até hoje a chama por uma sociedade mais igualitária.
Na homenagem do Tuiuti, Obama desfila acompanhado de Xangô, o poderoso senhor da justiça e alafin de Oió, o maior dos reinos iorubás. A ala possui três fantasias diferentes, a maioria dos componentes desfila representando Xangô, com uma fantasia toda em tons de fogo, nas laterais, algumas fileiras representam uma espécie de guardiões, com elementos nas mãos, no centro tem ainda uma representação de Obama. À frente da ala, vem ainda uma representação de Orunmilá, que através de um adereço no alto da fantasia, traz uma foto adesivada de Barack Obama,
Diego Santos, natural do Rio de Janeiro, desfila homenageando Xangô, ele conta que é uma energia muito legal e que poder contar a história de Barack Obama na Avenida é um momento muito especial.
“A importância pra mim é muito grande, além de Xangô ser o orixá da justiça, no desfile ele vem interligado ao ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, ele que para todo mundo é um exemplo de força e perseverança, ele serviu como referência, muito por conta dele vimos que o negro pode chegar onde ele quiser”, destaca o componente.
Luiz Guilherme, de 33 anos desfila no Paraíso do Tuiuti há alguns anos, para ele, o enredo deste ano é muito importante pois resgata os valores do negro na sociedade e reafirma a força do povo negro.
“A importância desse enredo para nós brasileiros é muito necessário, vir na ala que representa Obama é muito especial, ele é muito importante para os negros, a representatividade é enorme, ele mostrou que nós temos valor, hoje nós estamos conquistando mais espaços e buscando nosso espaço na sociedade, estamos nos firmando como cidadão, tenho certeza que esse será um legado que será levado pra frente, com certeza vai evoluir muito para negritude”, contou Luiz.
Desfilando em diversas escolas de samba por ano, Samile Cunha acumula vários figurinos no carnaval, que são registrados com riqueza de detalhes. Neste ano, a destaque desfila na segunda alegoria do Paraíso do Tuiuti, com a fantasia “A Justiça de Xangô”.
O segundo carro da escola, chamado “O Dragão do Mar: Kawòó Kabiyèsi, Francisco José do Nascimento!”, homenageia o líder jangadeiro, que foi um abolicionista conhecido como Chico da Matilde. Chamado de Dragão do Mar por sua bravura, ele conduzia sua jangada pelo mar para alertar e impedir o tráfico negreiro. Na alegoria, Francisco navega em um mar de fogo, fazendo referência a Xangô, orixá seguido por aqueles que têm senso de justiça e que lutam por ela.
Em entrevista, Samile fala sobre a responsabilidade de representar como Xangô na avenida, mesmo não sendo filha de Santo do orixá, ela conta que é um prazer vestir essa fantasia e que foi um presente de Paulo Barros.
“É um tributo a Xangô, a gente representa o fogo e a justiça. Vir representando Xangô é uma energia muito forte, ao mesmo tempo que tem a responsabilidade pelo carnaval e pela escola, eu to veiculando uma energia que é do axé, que é candomblé, eu não sou filha de Xangô, mas tenho o maior prazer de estar trajando essa roupa, Paulo Barros me olhou e me deu esse figurino”, destacou Samile.
Depois de um primeiro dia bem agitado em São Paulo, com bem cotadas tendo desafios, teremos nesta noite de sábado (23) seis campeãs buscando mais uma glória.
Das sete escolas, seis já conquistaram o título do carnaval de São Paulo. Inicialmente pela Vai-Vai, maior campeã, que volta ao Grupo Especial depois de disputar o acesso em 2020.
Depois teremos a sequência Gaviões, Mocidade, e atual campeã, Águia de Ouro. Na reta final da noite, Barroca buscando seu primeiro título, Rosas de Ouro e por fim Império de Casa Verde.
Vai-Vai – 22h30
Dois anos longe da elite, um devido à queda para o Grupo de Acesso, e em 2021 por não ter desfile, a Vai-Vai finalmente volta de fato ao Grupo Especial. A escola vai trazer o enredo ‘Sankofa’. De volta para o ninho, a agremiação fala sobre usar conhecimentos antigos para construir um futuro melhor, tudo desenvolvido por Chico Spinoza.
São 15 títulos do Grupo Especial, vem de título no Grupo de Acesso, algo inédito. E foram dez vice-campeonatos, ou seja, é uma escola que costuma estar nas cabeças, apesar do ano de 2019 ter sido negativo.
Fundação: 1930
Melhor resultado: 15 títulos do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1978, 1981, 1982, 1986, 1987, 1988, 1993, 1996, 1998, 1999, 2000, 2001, 2008, 2011 e 2015), Segunda divisão (2020) e Cordão (1934, 1940, 1941, 1942, 1943, 1944, 1947, 1967 e 1970)
Gaviões da Fiel – 23h35
A segunda escola é a bicampeã Gaviões, agremiação oriunda da torcida organizada do Corinthians, e vai trazer um enredo forte: ‘Basta’. A ideia é falar sobre a intolerância, desigualdade social, ou seja, um forte recado da situação que o mundo vive desde todo o processo de escravidão.
Desde 2012, a escola vem ficando entre o meio e parte debaixo do Grupo Especial de São Paulo entre o 7ª e 11ª, entre 2009 e 2011 que ficou em 4ª e 5ª lugar, melhores períodos vividos nos últimos tempos da Gaviões.
Fundação: 1969
Melhor resultado: 4 títulos do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1995, 1999, 2002 e 2003), Segunda Divisão (1991, 2005, 2007) e Bloco Especial (1976, 1977, 1978, 1979, 1981, 1982, 1983, 1984, 1985, 1986, 1987, 1988)
Mocidade Alegre – 00h40
Buscando voltar ao caminho da glória, a Mocidade vai cantar Clementina de Jesus com o enredo: ‘Quelémentina, Cadê Você?’. Uma homenagem para a cantora que marcou muito nas raízes do samba brasileiro, e como diz a proposta da agremiação: ‘uma mulher negra na alma e na cor, “uma flor de raiz africana” com Edson Pereira desenvolvendo o carnaval.
Desde 2014 sem conquistar o carnaval, vinha em sequência excelente de títulos entre 2004 até 2014, sendo um tricampeonato. Foi vice em 2015 e 2018, ficou no 3ª lugar em 2016 e 2020, e as piores colocações foram 2017 e 2019 como 6ª e 8ª.
Fundação: 1967
Melhor resultado: 10 títulos do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1971, 1972, 1973, 1980, 2004, 2007, 2009, 2012, 2013, 2014), Segunda Divisão (1970) e Bloco Especial (1969)
Águia de Ouro – 1h45
A quarta escola é justamente a atual campeã, a Águia conquistou seu primeiro título em 2020, e finalmente mostrou suas garras. Para 2022 traz um enredo de reflexão: ‘Afoxé de Oxalá – No ‘Cortejo de Babá’, Um Canto de Luz em Tempo de Trevas’. O carnavalesco segue Sidnei França buscando o bicampeonato da agremiação.
Em 2018 esteve no Grupo de Acesso, foi campeão, e em 2019 já foi sexto lugar. A escola foi encaixando seu carnaval, sendo que teve bons resultados entre 2013 até 2015, porém veio o rebaixamento, que não abalou…
Fundação: 1976
Melhor resultado: Campeão do Grupo Especial em 2020
Títulos: Primeira Divisão (2020) e Segunda divisão (1998, 2009, 2018)
Barroca da Zona Sul – 2h50
A única escola que não foi campeã do Grupo Especial e que estará na pista neste sábado para domingo é a Barroca. E o enredo desenvolvido pela dupla Rodrigo Meiners e Rogério Sapo será: ‘A evolução está na sua fé… Saravá Seu Zé’. Vai cantar Zé Pilintra, uma das entidades mais importantes dos cultos afro-brasileiro.
Voltando para o Especial em 2020, e ficou na 10ª colocação. A agremiação viveu muito tempo entre a segunda e terceira divisão do carnaval paulista. Desde 2006 até o retorno em 2020, e a ideia é ir amadurecendo para manter-se neste grupo.
Fundação: 1974
Melhor resultado: 5ª lugar em 1982, 1985 e 1990
Títulos: Segunda Divisão (1976, 1987, 2002) e Terceira divisão (1975, 2015, 2017)
Rosas de Ouro – 3h55
Fotos de Felipe Araujo/Divulgação Liga-SP
A roseira chega com o enredo ‘Sanitatem’. O carnaval desenvolvido pelo carnavalesco carioca, Paulo Menezes, trará a cura para o Anhembi, isso através de rituais e aproveitando claro esse momento pós-pandemia onde a palavra mais escutada era justamente da cura para todos.
Sete vezes campeã do carnaval, a Rosas viveu um longo período sem títulos de 1994 até vencer em 2010. E agora vive um novo jejum, será que agora chegou a hora de curar a roseira? Chegou a ser vice-campeã três vezes seguidas em 2012, 2013 e 2014…
Fundação: 1971
Melhor resultado: 7 vezes campeã do Grupo Especial
Títulos: Primeira Divisão (1983, 1984, 1990, 1991, 1992, 1994, 2010), Segunda Divisão (1974), Terceira divisão (1973)
Império de Casa Verde – 5h
Fechando os desfiles do carnaval de São Paulo em 2022, teremos a Império de Casa Verde, escola que é vizinha do Sambódromo do Anhembi. Para esse ano o enredo é: ‘O Poder da Comunicação’. Vai abordar o desenvolvimento da telecomunicação, a chegada da comunicação virtual que vivemos atualmente e vai homenagear Carlinhos Maia, influenciador digital.
Os imperianos são tricampeões do carnaval, a última vez foi em 2016. No geral vem tendo desempenhos razoáveis, a melhor colocação foi em 2017 com o quarto lugar. Depois teve um sexto e quinto, já em 2020 na 9ª colocação foi a pior nos últimos 10 anos.
Fundação: 1994
Melhor resultado: 3 vezes campeão do Grupo Especial
Títulos: Segunda Divisão (2011), Quarta divisão (1997), Quinta divisão (1996) e Sexta divisão (1995)
Fiel companheiro do espectador das arquibancadas do Sambódromo da Marquês de Sapucaí, o Roteiro dos Desfiles não poderia ficar de fora do carnaval mais aguardado de todos os tempos, após dois anos de pandemia. Com um bonito designer e todas as informações das escolas de samba, a revista foi bem avaliada pelo público da primeira noite de desfiles da Série Ouro.
Emocionada por pisar pela primeira vez no solo sagrado da Avenida Marquês de Sapucaí, a carioca Roberta Reis teceu elogios ao Roteiro de Desfiles, sobretudo por sua importância para os estreantes, como ela.
“Acho o Roteiro dos Desfiles super importante porque ele fala do enredo de todos as escolas, ainda mais para alguém como eu, que está vindo para a Sapucaí pela primeira vez e não conhece. Achei toda a revista muito linda, principalmente as figuras e acho que vale muito a pena ler”, disse Roberta Reis.
Veterana no Sambódromo, Nádia Binader, carioca da Ilha do Governador, conta sempre curtir o tradicional Roteiro dos Desfiles. Animada por retornar à avenida, ela reforça a importância da revista para o entendimento dos enredos.
“Eu uso muito o Roteiro dos Desfiles, até porque a gente não conhece todos os enredos, todos os sambas e aí, a gente aproveita bastante ele. Eu estava agora dando uma olhadinho, inclusive”, contou.
O mineiro Hebert Silveira, pela vigésima segunda vez na Sapucaí, destacou a importância da revista como material histórico, que pode ser guardado e usado posteriormente, como memória dos desfiles ou de recordação.
“Eu acho o Roteiro muito bom porque você consegue ter noção da execução do desfile do enredo e a gente entende na hora que está passando. Para quem não conhece o samba, é possível ver a letra. Além disso, ele serve como uma documentação, para poder guardar e ter isso como uma lembrança”, ressaltou o belo-horizontino.
Porém, engana-se quem pensa que o Roteiro de Desfiles só faz sucesso a nível nacional. O casal Caio Gonçalves e Paula prova justamente o contrário. Ele, paulista com residência em Londres e ela, espanhola da cidade de Madrid, curtiram a revista, na estreia da dupla na avenida.
“Eu achei o Roteiro muito bom. É nossa primeira vez na Sapucaí, tanto a minha quanto a dela. A gente não conhecia o Roteiro e agora, nós pegamos já pra ler sobre as escolas e achamos super legal. É super importante para entender a ideia, a estrutura e é bem útil. Gostamos bastante”, afirmou Caio, em concordância com Roberta.
A proposta do panorama pré desfile é informar o que se aguarda das baterias do Grupo Especial no geral, além de pontuar o que se espera de uma a uma individualmente. Muitas das vezes, além da produção sonora, uma bateria busca passar algum aspecto cultural envolvido ao enredo da escola de forma musical, agregando inestimável valor ao ritmo. A intenção desse conteúdo, portanto, visa garantir ao leitor uma quantidade de informações mínimas, no intuito de guiar os sambistas e apreciadores de ritmo, proporcionando uma absorção musical mais fluída de cada bateria.
No dia do desfile oficial após a passagem de cada escola será publicado um texto, analisando a bateria pela pista e pontuando as passagens pelos módulos de julgadores. Numa análise que, além de exaltar fatores positivos e mencionar peculiaridades de cada ritmo, também fará ponderações de caráter técnico, levando em conta as apresentações das baterias para os jurados. No final de cada dia de desfile será gravado um vídeo contendo um apanhado geral sobre os ritmos, resumindo as passagens de cada bateria como quesito.
Paraíso Tuiuti
A estreia de Mestre Marcão na bateria Super Som do Paraíso do Tuiuti apresentará um ritmo pautado pela concepção musical requintada, além de uma sonoridade acima da média. Na parte de trás do ritmo, os surdos de terceira darão o balanço junto a um trabalho ressonante de caixas de guerra e repiques. Tudo musicalmente entrelaçado por um acompanhamento de peças leves de qualidade, que propiciará boa fluência na conversa rítmica. O conjunto de paradinhas da bateria do Tuiuti terão elevado grau de dificuldade, se aproveitando da melodia do samba para produzir arranjos musicais refinados.
Portela
A bateria Tabajara do Samba de Mestre Nilo Sérgio exibirá seu ritmo identitário, com caixas rufadas tocadas embaixo dando um molho peculiar. O swing das terceiras contribuirá com o ritmo, que ainda contará com peças leves complementando com eficiência no preenchimento da sonoridade. As paradinhas irão mesclar concepção envolvente e complexidade. O destaque sonoro deverá ficar com a bossa do refrão de baixo, que tem tudo para propiciar um balanço único, devido a construção musical feita com esmero. No refrão do meio, uma paradinha unirá o autêntico ritmo portelense à movimentos dançantes.
Mocidade Independente de Padre Miguel
A bateria Não Existe Mais Quente (NEMQ) de Mestre Dudu levará para a Avenida um ritmo vinculado à sua identidade. O valor sonoro das afinações invertidas de surdos se fará presente, dando amparo musical às caixas tocadas com uma acentuação rítmica genuína. O acompanhamento das peças leves também exibirá características identitárias, como a subida ”cascavel” dos chocalhos, além de uma ala de tamborins de notável nível técnico. Paradinhas terão grau de dificuldade elevado, além de interação. A musicalidade da bossa da cabeça do samba merece menção, bem como movimentos sincronizados na paradinha do refrão de baixo.
Unidos da Tijuca
A bateria Pura Cadência de Mestre Casagrande trará para a Sapucaí um ritmo pautado por arranjos musicais explorando as variações melódicas do samba tijucano. Uma afinação de surdos caprichada é aguardada, bem como o tradicional toque de caixas de guerra ressonante, uma das marcas da bateria da Unidos da Tijuca. O bom acompanhamento das peças leves auxiliarão no preenchimento da sonoridade, sem contar a contribuição musical nas bossas. Parte dos tamborins entrarão no corredor da bateria da Tijuca, o que ajudará nas retomadas. As paradinhas terão boa concepção musical, além de movimentos dançantes.
Acadêmicos do Grande Rio
Foto: Reprodução / Instagram
A bateria da Acadêmicos do Grande Rio de Mestre Fafá se apresentará evidenciando uma educação musical destacada. O equilíbrio entre os naipes será notado, assim como a fluência rítmica entre as diversas peças. Cada naipe tocará respeitando a integridade rítmica. Os arranjos musicais serão baseados nas nuances da obra, se aproveitando da melodia do samba para produção sonora. O ritmo da cozinha da bateria da Grande Rio servirá de base musical para um trabalho de valor sonoro de destaque no acompanhamento das peças leves. As paradinhas aliarão boa concepção musical, coesão e espontaneidade.
Unidos de Vila Isabel
A bateria Swingueira de Noel de Mestre Macaco Branco exibirá um ritmo com as características genuínas da bateria da Unidos de Vila Isabel. As terceiras funcionarão como centradores, dando estabilidade ao toque de caixas reto, além do som tradicionalmente inconfundível dos taróis da bateria da Vila. Tudo isso entrelaçado com um acompanhamento de peças leves de qualidade. As paradinhas serão de grau de complexidade elevado e proporcionarão balanço em alguns trechos do samba. A concepção musical da bossa da segunda do samba merece exaltação, assim como a sonoridade da paradinha da cabeça do samba.
Considerações Finais
As baterias do Grupo Especial do Rio de Janeiro prometem apresentações de alto impacto audiovisual, com nível rítmico pautado pela excelência musical. Concepções musicais extremamente bem elaboradas serão notadas, assim como uma construção sonora baseada em riqueza de detalhes. Isso tudo comprova o nível de ritmo exemplar que será obtido pelas baterias. Nem o processo de pandemia, que prejudicou a continuidade dos ensaios e fizeram as escolas se adaptarem, foi capaz de impedir o franco desenvolvimento rítmico geral. A busca, além de apresentar uma musicalidade aprimorada, será pela interação e vibração popular. É aguardado, portanto, um trabalho rítmico primoroso, assim como contagiante, engrandecendo cada vez mais nossa cultura de baterias.
Júnior Escafura, integrante da comissão de carnaval da azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira, possui um vínculo muito especial com a escola. Passando a compor o time em 2019, juntamente com Claudinho Portela e Higor Machado, Escafura também é diretor de harmonia do Império Serrano.
Com passagens em escolas como a Imperatriz Leopoldinense e a Estácio de Sá, o retorno de Escafura para a Portela foi muito bem visto. Portelense desde que era criança, ele acompanhou de perto seu pai sendo presidente da escola. O diretor recebeu a equipe do site CARNAVALESCO e falou sobre o desafio de estar de frente na direção de harmonia, sobre o julgamento do quesito e também sobre as lembranças que têm com a “Majestade do Samba”.
Qual é o maior desafio de um diretor de harmonia?
“O diretor de harmonia tem que ser aquela pessoa que mais possui tranquilidade dentro de uma escola de samba. O desafio de ser um diretor é você trazer a escola, trazer o componente para o seu lado e fazer ele entender que também é um dos diretores de harmonia da escola. Quando os integrantes compram a sua ideia, compram a briga da agremiação, ele vai desempenhar um papel muito importante, pois ajuda a harmonia”.
O que você pensa sobre o julgamento do quesito harmonia? Tem que subdividir como é em samba, ou seja, canto dos componentes e carro de som?
“Nos últimos anos o quesito harmonia tem sido motivo de bastante polêmica sobre o julgamento. Porque os jurados têm despontuado muito as escolas em função do carro de som. E a gente que trabalha diretamente com os componentes percebemos que eles ficam frustrados quando veem o resultado da nota de harmonia e a escola não recebeu um 10. Isso os deixa se sentindo culpados e é muito ruim para o diretor. Eu entendo que se os jurados estão focando muito no carro de som, temos que pensar em subdividir o quesito, ou talvez mais para frente criar o quesito “carro de som”. Quem sabe? É uma experiência que pode ser feita e estudada, pois as escolas trabalham muito. É difícil ver alguma ala passar sem cantar, porque as agremiações melhoraram bastante esse trabalho de harmonia”.
Foto: Emerson Pereira/Divulgação
Fazendo uma comparação você concorda que após os dois meses com o samba escolhido o ensaio de rua é o melhor caminho para realmente treinar toda escola?
“O ensaio de rua por si só tem uma pegada de avenida, pois você está tirando o componente do lugar habitual de ensaio (a quadra). Os integrantes já começam a achar que é desfile, e assim você motiva mais o componente , tendo mais espaço para trabalhar e mais evolução. Porque o canto, eles já estão acostumados a ensaiar, mas um trabalho de evolução na quadra não dá pra fazer muito bem, pois não se tem espaço. No ensaio de rua, acabamos tendo isso como aliado e assim trabalhar bem o componente para que ele tenha uma evolução satisfatória do jeito que a escola precisa. Fazer o andamento certo das alas, a estratégia para o desfile, e na rua conseguimos ter isso de modo melhor”.
Qual é sua maior lembrança do desfile de 1995 ?
“O desfile de 1995 é o carnaval da minha vida, inesquecível. Meu pai era presidente da Portela e a lembrança que eu tenho é de sair da Sapucaí com a escola aclamada como campeã de ponta a ponta. Saímos convictos que seríamos campeões naquele ano, porque era a imprensa, o público que lotava o Sambódromo e os componentes da Portela emocionados. É um carnaval que a gente se considera campeão só por causa do desfile, e por isso temos muito orgulho de 1995”.
O que te faz lembrar seu pai na Portela?
“Do meu pai eu lembro a alegria dele, pois ele era uma pessoa muito alegre. O grande mérito dele na minha opinião, quando assumiu a agremiação ele a uniu. Tinham muitas pessoas que estavam afastadas da Portela, como o Noca, Paulinho da Viola, João Nogueira, Nega Pelé (que se tornou rainha de bateria neste ano) e também vários outros que estavam distantes da escola. Quando ele assume, convida todos eles para voltar e quando estamos unidos somos muito fortes. Isso foi mérito do meu pai e a maior lembrança que tenho da gestão dele, pois quando a Portela está unida e caminhando com todos do mesmo lado é difícil segurar”.
Essa pressão de ser um Escafura e sempre estar cotado para vir como presidente é fácil de lidar ou mexe muito com você?
“Na Portela eu estou desde criança e como o meu pai foi presidente da escola é natural que eu venha sendo apontado como o futuro líder daqui. É motivo de orgulho e felicidade que tenho, pois as pessoas me enxergam como um líder da escola. Fico muito feliz de ter esse carinho, principalmente dos segmentos mais antigos, como a velha guarda e portelenses que me viram crescer. Consigo lidar muito bem com isso, pois não tenho essa pressão e sim uma responsabilidade. Se isso um dia vier a acontecer preciso estar preparado, pois venho há anos caminhando ao lado do meu pai, mesmo sendo novo aprendi muita coisa. Passei por diversos departamentos dentro da escola, fui diretor de quase todos os setores. Venho me preparando para isso, mas quando acontecer tenho que estar preparado para ser um grande presidente, honrar o nome do meu pai, da minha família e dos outros grandes líderes que a Portela teve”.
O que pensa sobre o próximo pleito portelense?
“Penso que a Portela está caminhando para o centenário e que ela precisa estar unida e forte. Todo mundo do mesmo lado, isso que tem que ser a eleição da escola. As pessoas precisam entender que temos que ter um pouco menos de vaidade, e a agremiação tem que ser a principal responsável. A bandeira da Portela, o pavilhão da escola que é sagrado, é mais importante que qualquer pessoa. A eleição tem que ter o clima de harmonia, clima feliz e todo mundo unido, pois estamos caminhando para os 100 anos e seria muito lindo ter todos no mesmo lado, para que a gente faça um carnaval inesquecível”.
O samba de 2022 foi muito criticado, mas vem rendendo muito. Gilsinho e Nilo Sérgio foram fundamentais nessa transformação?
“Aconteceu uma crítica, porque a Portela tem uma torcida muito grande, e tínhamos grandes sambas aqui. Toda a disputa da escola é um pouco polêmica, porque sempre tem grandes sambas e compositores. Dificilmente vai ter um samba que é escolhido por unanimidade. Esse ano, por exemplo, o samba que ganhou era o preferido dos segmentos da escola, do carnavalesco, pois era o que mais atendia a proposta que vamos apresentar na avenida. As pessoas vão ver o carnaval da Portela e vão entender o porque ele foi escolhido. O Nilo, Gilsinho e o trabalho de harmonia muito forte da escola foram fundamentais sim. A comunidade por si só caminha muito bem, eles compram o samba e não tem jeito. O componente vem para a briga, a Portela é assim, pois quando começam a criticar ela se transforma. Quanto mais criticam o samba-enredo, a gente não fica satisfeito em só cantar, e sim em berrar. O ensaio técnico foi a prova disso e surpresa para muita gente, mas para mim não. Pois eu conheço isso aqui e estou desde que nasci, sei muito bem qual é a raiz da escola. Mesmo com a crítica nos unimos e fomos para dentro para fazer um belo carnaval”.
Qual é o tamanho do desafio na Harmonia do Império Serrano?
“Ser diretor de harmonia do Império Serrano é um desafio muito grande, porque é uma escola muito tradicional e que hoje está na Série Ouro. Mas ela não é de lá, é uma das maiores campeãs do carnaval. Então fui pra lá com a responsabilidade e também sabendo que ela está fazendo um investimento grande para disputar o título que dá o acesso ao grupo especial. É um carnaval muito parelho na Série Ouro, as escolas têm muita dificuldade e o Império também. O presidente Sandro Avelar quando assumiu, uniu a escola e isso foi primordial para o bom trabalho que a agremiação está fazendo. Trouxe grandes nomes como Leandro, Patrick e também o Vitinho como mestre que vai ser considerado como um dos grandes mestres de bateria do carnaval carioca, aposto muito nisso. Vejo hoje um Império muito motivado e feliz. É um orgulho estar trabalhando lá e ajudar a escola a fazer um grande carnaval e sei que a responsabilidade é enorme”.