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O samba vence! Público celebra a volta dos mini desfiles na Cidade do Samba

Sucesso na primeira edição, os mini desfiles voltaram. Depois de alguns meses, a Cidade do Samba recebeu novamente o evento criado pela Liesa para o lançamento do álbum com a safra de sambas-enredo do Carnaval 2023. Ao longo da primeira noite, se apresentaram Império Serrano, Acadêmicos do Grande Rio, Mocidade Independente de Padre Miguel, Acadêmicos do Salgueiro, Unidos da Tijuca e Estação Primeira de Mangueira. O CARNAVALESCO ouviu o público sobre a percepção desta nova edição, realizada na semana em que se celebra o Dia Nacional do Samba. * CONFIRA AQUI GALERIA DE FOTOS DO PRIMEIRO DIA

Luciane: ‘eventos como o mini desfile, são emocionantes pela aproximação do torcedor para com a escola de samba’

O casal Luciane e Rosemberg Gonçalves, 60 e 53, moradores do Centro do Rio de Janeiro, demonstraram êxtase e brilho nos olhos ao longo da festa, além de aguardarem a passagem da escola do coração, Unidos da Tijuca. “Essa interação entre a escola de samba e as pessoas é fantástica. O samba faz parte da nossa cultura popular e nada mais representa o Brasil do que isso aqui que ocorreu hoje. E o samba abraça as pessoas, indiferente de classe social, raça ou qualquer outro ponto. O samba é isso”, garante Luciane.

Para ela, eventos como o mini desfile, são emocionantes pela aproximação do torcedor para com a escola de samba. “Só o samba possui essa capacidade de unir as pessoas e quando isso acontece, como nesta noite, é único. Eu vim aqui com o meu marido, em que compartilhamos esse amor para nos divertimos e também conhecer um pouco mais do que cada escola tem preparado para o próximo carnaval, além da Tijuca, claro”, exalta.

Rosemberg Gonçalves: ‘A essência do Rio de Janeiro é essa e deveriam ocorrer mais encontros ao longo do ano’

Gonçalves garante que esse amor ultrapassa as barreiras do carnaval e faz parte da sua vida. “Sou casado com a Luciane e compartilhamos juntos desse amor pelo carnaval e pelas escolas de samba. Inclusive, umas das coisas que mais me atraem é a bateria. Infelizmente nunca tive a oportunidade de desfilar, mas, se um dia acontecer, tenho certeza de que será o segmento que vou escolher. O mini desfile nos ajuda em colocar todo esse povo dentro do carnaval. Não costumo frequentar as quadras, apesar de morar no berço da boêmia carioca. Rodas de samba, partido alto, sempre frequento. A essência do Rio de Janeiro é essa e deveriam ocorrer mais encontros ao longo do ano todo”, diz.

Não temos tantos eventos, é preciso aproveitar

Já a dupla de amigos, Ricardo e Renata Sales, 66 e 44, são independentes de corpo e alma. “Sou de Padre Miguel e convivo desde pequena com essa energia que a escola de samba proporciona para quem ama a sua história, a sua comunidade. Para mim, a Mocidade Independente de Padre Miguel é um local em que eu tive a oportunidade de fazer grandes amigos, me divirto e extravaso. Sem isso, no dia a dia não temos tanta oportunidade para que pudesse acontecer”, diz a torcedora.

Renata, que é de Padre Miguel, fala que a paixão pelo carnaval não vem de hoje

Renata, que é de Padre Miguel, fala que a paixão pelo carnaval não vem de hoje. “É um amor de infância. Lógico que além da Mocidade, é muito importante conhecer mais dos enredos e de como se prepara cada escola para o desfile do ano seguinte. É uma oportunidade para quem não conhece o nosso carnaval, estar presente, mesmo que seja apenas um dia. Não temos tantos eventos de samba, é preciso aproveitar. O carnaval é o nosso maior bem. Para fechar, acredito que pessoas que nunca foram à Sapucaí, podem sentir mais vontade de estar por lá no grande dia”, pontua.

E é essa paixão que Ricardo expõe. Ele, que mora no Rio, mas é de João Pessoa, na Paraíba, sente-se feliz em poder viver momentos como esse. “Nosso samba vem de berço, faz parte da ancestralidade do povo brasileiro como ponto máximo da nossa cultura popular. Desde menino eu sou um apaixonado por carnaval e, mesmo de longe, acompanhava cada escola de samba que passava na televisão. Aqui eu consigo me libertar, em uma festa linda, cheia de energia e muito amor. É isso que o carnaval tem para nos oferecer: muito amor. Samba e carnaval são vida. Festas assim poderiam ocorrer todos os meses, afinal, assim como o futebol, o carnaval possui esse poder de unir as pessoas”, garante.

Ricardo: ‘Festas assim poderiam ocorrer todos os meses’

Da história de vida, também vem a paixão de Ivanir, 55, moradora de Duque de Caxias e hoje, componente da Grande Rio, sua escola de coração. “Eu sou nascida e criada no berço do samba, então faz parte de quem eu sou e das minhas raízes. O samba me trouxe amigos e muitas alegrias ao longo dos anos e poder celebrar essa festa, mais um ano, é uma das coisas que mais me deixam feliz. Com oito anos de idade eu fui porta-estandarte e rainha de bateria. Então, faz parte da minha história de vida. Já tem 43 anos que eu torço para a Grande Rio, mesmo antes dela se chamar assim, mesmo quando ainda era apenas um bloco. Essa paixão, ao longo dos anos, me tornou uma componente. Eu era passista e hoje faço parte da ala LGBTQIAP+ da agremiação”, finaliza.

Sambistas aprovam festa dos sambas de São Paulo para o Carnaval 2023 e os mini desfiles na Fábrica do Samba

A noite do sábado foi de muita folia na Fábrica do Samba, na Zona Oeste de São Paulo. Na data, foi realizada a festa de lançamento do CD triplo das escolas de samba paulistanas para o carnaval de 2023 com direito a uma apresentação das 34 agremiações filiadas à Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP). O CARNAVALESCO esteve presente e conversou com integrantes das 14 agremiações que formam o Grupo Especial, que desfilaram de acordo com a ordem a ser obedecida nas noites dos desfiles. Cada um deles avaliou a apresentação da respectiva escola.

Primeira escola a desfilar, a Independente Tricolor cantou o enredo “Samba no Pé, Lança na Mão, Isso é uma Invasão!”. Jeff Antony, mestre-sala da agremiação, destacou a garra dos componentes e a parceira de dança ao envergar o pavilhão da escola da Vila Guilherme. “Foi uma emoção muito grande voltar a estar aqui, ainda que para uma mini apresentação, depois desse tempo. Foi muito gratificante para quem prepara isso aqui com muito amor. Eu e a Taís [Paraguassu, porta-bandeira] estamos firmes e fortes. Vem uma escola aguerrida, com sede de mostrar para a própria comunidade que a gente é capaz e que, para vencer, só depende de cada um de nós”, afirmou.

Cantando forte na Fábrica do Samba, a Acadêmicos do Tatuapé apresentou o enredo “Tatuapé Canta Paraty. Patrimônio da Humanidade!”. Diego do Nascimento, mestre-sala da agremiação da Zona Leste, exaltou o conjunto da azul-e-branca. “Aqui, na verdade, a Tatuapé demonstrou que sempre está no páreo. Esse mini desfile mostra a força da comunidade, da escola, do nosso canto, do casal que a escola tem. Mais uma vez isso foi mostrado”, pontuou. Já Jussara de Sousa, porta-bandeira, focou na interação dos componentes com o samba-enredo. “Nós somos conhecidos como a ‘Escola que Canta’. Isso foi demostrado aqui, somos a ‘Escola da Emoção’. Nosso diretor de Harmonia trabalha muito o canto na quadra, nosso presidente faz um trabalho legal. E tudo isso é o resultado de tudo que está sendo desenvolvido. Esse é o nosso diferencial, é a escola que grita o samba”, orgulhou-se.

Com o enredo “Guaicurus”, a Barroca Zona Sul novamente foi elogiada pela qualidade do samba, ponto também destacado por mestre Fernando Negão, diretor de bateria da verde-e-rosa. Ele aproveitou para destacar que os ritmistas preparam surpresas para o público na noite do desfile. “Deu para executar tudo que estávamos planejando, sim. Temos algumas coisas para fazer ainda, estamos organizando, mas 80% a gente fez hoje. Vão ter algumas
surpresas. No desfile, faremos ainda mais aguerridos e mais fortes. Ajuda muita quando o samba é bom assim, quando casa com a bateria”, comemorou.

Cantando o próprio bairro no enredo “Vila Maria. Minha Origem. Minha Essência. Minha História! Fonte de Amor Muito Além do Carnaval”, a Unidos de Vila Maria utilizou o evento para fazer alguns testes, de acordo com César Calado, o Cesinha. “Nossa preocupação era com o número de integrantes. Gastamos as 400 pulseiras que foram disponibilizadas. Já sabíamos que a escola estava grande e não queríamos estourar o tempo, algumas vezes desligam até o som da ala musical com todo mundo na avenida. E cantamos o samba ao ar livre, já que ainda não fizemos o ensaio na rua. Aqui já serviu como um teste. Contar a sua própria história não é fácil, é uma responsabilidade dobrada. Ainda mais encantando e fazendo espetáculo em cima disso. Mas a nossa comunidade, que é apaixonada e devota pela escola, representou muito bem e deu uma demonstração do que estamos preparando”, destacou.

O Rosas de Ouro chamou atenção pela comissão-de-frente vibrante e que não parou de evoluir e apoiar os demais componentes mesmo após acabar a própria exibição no enredo “Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”. Helena Figueira, coreógrafa do setor, fez questão de reconhecer todo o trabalho feito pelos demais componentes. “Eu não sei se é o papel da comissão, mas eu acho que ela não existe isolada de uma escola e de uma comunidade. Ela faz parte e representa essa comunidade. É muito importante que a gente esteja completamente conectado, conhecendo e saudando a comunidade. Não somos estrelas, somos parte desse todo, um quesito a mais”, destacou. Ela também garantiu que a apresentação será bem diferente no desfile da Roseira. ”Estamos em processo. Viemos em coreografia de quadra, mais tranquila, que nada tem a ver com o projeto que vamos trazer na avenida”, finalizou.

Mestre Carlão, comandante da bateria da Tom Maior

Outra escola a vir com temática afro é a Tom Maior, que representará o enredo “Um Culto às Mães Pretas Ancestrais”. Mestre Carlão, diretor de bateria da escola, elogiou o samba-enredo da vermelho-e-amarelo. “Foi tranquilo. Ótima apresentação, é o que estamos ensaiando. Foi ótimo. É um tema que tem muita força, deixa todo mundo muito leve. Você viu hoje, a escola toda. Não é só a bateria, todo mundo cantando, um samba forte demais. É muito emocionante”, comemorou.

Sempre empolgando as arquibancadas, a Gaviões da Fiel Torcida cantará a religiosidade no enredo “Em Nome do Pai, dos Filhos, dos Espíritos e dos Santos… Amém!”, que fechará a primeira noite de desfiles no Anhembi. Famoso intérprete da agremiação, Ernesto Teixeira aprovou a apresentação da Torcida Que Samba: “Gostei do que fizemos, nosso samba é forte e o público que estava por aqui respondeu bem. Fiquei satisfeito”, destacou.

Grande destaque da noite, a Estrela do Terceiro Milênio realizou o lançamento dos protótipos no evento, e não na quadra – como é costume das escolas. Disputando pela primeira vez o Grupo Especial, a agremiação do Grajaú cantará o enredo “Me dê sua tristeza que eu transformo em alegria! Um tributo à arte de fazer rir”, do carnavalesco Murilo Lobo – que deu a ideia para a surpresa e comemorou o resultado. “Começamos com o pé direito! Estamos ensaiando forte na nossa comunidade, mas estar nessa festa, com o povo do samba, tem um brilho diferente. Resolvemos fazer algo novo para o público acompanhar com a gente. Trabalhamos muito duro na construção dos pilotos, e eu pensei em mostrar para todo mundo ao mesmo tempo ao invés de fazer uma festa. Eu pensei que era um espaço melhor para fazer, uma festa de congraçamento”, comemorou.

Porta-bandeira da Acadêmicos do Tucuruvi, Waleska Gomes preferiu focar na própria apresentação e também destacou a dificuldade de bailar após a chuva, que caiu em dois períodos na Fábrica do Samba no dia do evento. “Amei! Nota dez! É muito difícil ter uma dimensão agora, eu venho na frente da escola e não assisti vídeos. Preciso descansar, sentar e assistir a escola inteira. Aí, não vou dar passada de pano, não: vou ser sincera. Pelo que eu vivi, no calor do momento, foi maravilhoso. Sobre o piso em paralelepípedo: muda totalmente! Prende muito, tem que fazer mais força, dependendo do calçado escorrega. Mas somos artistas de rua, temos que estar prontos para chuva, vento, chão,
público, atraso… não tem muito o que fazer”, resignou-se.

A preocupação de Waleska foi compartilhada por Miriam Acedo, segunda porta-bandeira da Mancha Verde. Ela aproveitou para destacar o contato próximo com o público e com o restante da escola. “O piso é complicado, mas a gente vem preparada. Eu venho com algum tênis, então acaba não me atrapalhando. A gente já conhece. Quanto à apresentação, eu adoro o povo perto! Eu sou interior, nosso carnaval é isso, esse povo perto, a energia, a bateria perto, é muito gostoso, é gratificante”, destacou, após apresentação do enredo “Oxente – Sou xaxado, sou Nordeste, sou Brasil”.

O carnavalesco do Império de Casa Verde, Leandro Barboza fez elogios ao canto dos componentes e, também, ao samba-enredo que conduzirá o desfile de “Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical”. “Eu acho que o mini desfile mostra o que a escola vai apresentar, o termômetro do samba, a garra dos componentes. É a resposta do samba, e o que aconteceu hoje é o resultado disso tudo. Com esse samba, a gente já sai na frente. Pra mim, é um dos melhores de São Paulo e Rio de Janeiro. É o que a comunidade sempre
desejou e a diretoria apoiou”, ratificou.

Outra porta-bandeira a avaliar a dificuldade do bailado com o paralelepípedo escorregadio foi Natália Lago, da Mocidade Alegre. Após a apresentação do enredo “Yasuke”, ela também destacou a energia que o evento trouxe para todos os envolvidos. “Particularmente, eu não gosto. Temos que prestar bastante atenção para não torcer o pé, não machucar. Eu fico com receio, mas ele não escorrega. No Anhembi, se chover, vira um sabão. Estávamos concentrando, o pessoal já estava com a adrenalina a mil. O minidesfile coloca todo mundo para cima, uma energia muito boa”, pontuou.

Desde 1992 comandando a bateria da Águia de Ouro, mestre Juca é mais um a elogiar um dos sambas paulistanos – mas faz isso após exaltar a própria comunidade da Pompéia, que cantará o enredo “Um Pedaço do Céu”. “Pra melhorar dá sempre, mas acho que foi legal, com um andamento bacana, um ritmo legal, a escola cantando como sempre. Estamos no caminho certo. Aqui no Águia a gente não tem problema com canto, graças a Deus. A comunidade canta pra caramba, a bateria se encaixa legal. A nossa bateria toca pra escola,
principalmente durante o desfile. Tá no caminho certo. O samba é bom, é curto, tem refrões legais”, avaliou.

Nos primeiros meses na Dragões da Real, o carnavalesco Jorge Freitas foi outro profissional a elogiar os sambas-enredo. Ele, entretanto, exaltou igualmente as coirmãs, “Eu acho que, hoje, foi uma demonstração do que estamos fazendo nos últimos meses. O povo do carnaval pede o samba da Dragões, então acho que não só a Dragões se sente bem feliz como o carnaval de São Paulo, como um todo, com mais uma safra de samba bons – e da Dragões, em especial. É o meu primeiro carnaval aqui, mas tô muito animado com tudo que está acontecendo”, finalizou o hexacampeão do carnaval paulistano.

‘Carregada no dendê’, Mangueira domina primeiro dia dos mini desfiles do Grupo Especial na Cidade do Samba

A Cidade do Samba recebeu na noite do último sábado, pela segunda vez consecutiva, o lançamento dos sambas-enredo e a abertura do Rio Carnaval 2023. As seis agremiações (Império Serrano, Grande Rio, Mocidade, Tijuca, Salgueiro e Mangueira) que vão abrir o Grupo Especial no ano que vem passaram pela “avenida” montada no local. Em exibições niveladas por cima, houve uma série de pontos positivos nas agremiações. O destaque geral do primeiro dia ficou com a Estação Primeira de Mangueira. A Verde e Rosa passou como um trator. * CONFIRA AQUI GALERIA DE FOTOS DO PRIMEIRO DIA

Confira abaixo como foram todas apresentações, segundo a equipe do site CARNAVALESCO:

IMPÉRIO SERRANO: A escola da Serrinha teve a missão de abrir o primeiro dia dos mini desfiles. Rainha da escola, Quitéria Chagas veio na frente, esbanjando samba no pé. Imperiana de fato! O tripé de São Jorge foi a força para nação imperiana. O coreógrafo Junior Scapin trouxe a comissão de frente já com traços da coreografia de desfile. Muito vigor na dança. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Marlon Flôres e Danielle Nascimento dançou com fantasia, experientes, passaram com segurança, fundamental para escola, que depende da nota máxima dupla. Craque, Ito Melodia mostrou que está totalmente adaptado ao Império. O samba-enredo que homenageia Arlindo Cruz foi muito bem conduzido pelo carro de som. A comunidade da Serrinha cantou, mas ainda pode mais, é aprimorar nos ensaios até o dia do desfile. A estrutura da apresentação foi muito organizada. E o sacode ficou por conta da Sinfônica. Mestre Vitinho possui totais condições de fazer uma estreia espetacular no Grupo Especial. A bateria imperiana está encaixada e ainda dando show.

GRANDE RIO: Alegria define a Grande Rio. A atual campeã do Grupo Especial segue em outro plano. Com o mesmo time do título de 2022, a tricolor de Caxias promete novamente um grande espetáculo. A abertura teve a presença do mascote simbolizando Zeca Pagodinho com direito a copa de cerveja na mão. A apresentação no mini desfile foi de forte concorrente, deixando claro que a busca pelo bicampeonato é realidade. Inegavelmente, a Grande Rio possui um dos melhores conjuntos da atualidade. A comissão de frente, mais uma vez, fez coreografia com cara de traços do desfile oficial. Os coreógrafos Hélio e Beth Bejani sabem como poucos conduzir uma apresentação na pista. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Daniel e Taciana, foi esplêndido. A dupla estava exuberante, dançando o tempo inteiro. Na bateria, mestre Fafá é o maestro do carnaval. O andamento caxiense é um bálsamo para os sambistas. Aliado com a perfomance da bateria, o intérprete Evandro Malandro e a equipe do carro de som comandaram o samba-enredo com muita qualidade, dando ênfase nos momentos corretos. Como aconteceu na festa para o Carnaval 2022, a obra não explodiu no público, foi cantada com vontade pela comunidade, mas não sacudiu. Problema zero para quem chegou no desfile e foi um espetáculo que está na história do Sambódromo. A Grande Rio está como Zeca Pagodinho, seu enredo de 2023, deixando a vida levar e ela pode novamente comemorar na quarta-feira de cinzas.

MOCIDADE: Do “jeito Mocidade”, a Estrela Guia fez uma apresentação muito positiva. Foram pelo menos três destaques: a comissão de frente, do estreante coreógrafo Paulo Pinna, o intérprete Nino do Milênio e o desenvolvimento do samba-enredo entre os independentes. A Verde e Branco caprichou. Levou destaques fantasiados e componentes com objetos que remetem ao enredo. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diogo e Bruna, desfilou fantasiado. A ala de passistas foi dividida. Os homens vieram na frente e depois de algumas alas apareceram as meninas de Padre Miguel. Como falado acima, Nino do Milênio está totalmente identificado com a Mocidade. Bola certeira da direção independente. O cantor conduziu o samba e a comunidade com uma levada perfeitamente encaixada com a bateria. Estranhamente, a obra da Mocidade não está no ranking das melhores do ano, mas mostrou na Cidade do Samba todo seu potencial. Mestre Dudu é outro patamar. Merecidamente, a “Não Existe Mais Quente” recuperou seu lugar de direito no topo do Grupo Especial. Uma das favoritas em 2022, a Mocidade vacilou na pista. Os erros foram reconhecidos e agora é lembrar dos carnavais de 2017 até 2020 e recuperar o protagonismo e o espaço entre as melhores.

UNIDOS DA TIJUCA: A escola do Borel segue seu processo de recuperação e reforçou o desejo de frequentar novamente o ranking das seis primeiras do carnaval. Após o ótimo desfile em 2022, injustiçado no resultado, a agremiação, mais uma vez, conta com um samba-enredo que facilita o canto dos componentes. O carro de som com Wantuir e Wic consegue uma interação fantástica com o público. Sem mestre Casagrande, em viagem para Argentina, a “Pura Cadência” caminhou com perfeição e segurança. Sem dúvida, a bateria é um dos orgulhos tijucanos. Estreante, o mestre-sala Matheus mostrou potencial. Sua parceria, a porta-bandeira Denadir é exemplo de segurança na dança. Como no desfile deste ano, a harmonia tijucana funcionou muito bem. O canto da Tijuca é muito unifome entre os componentes. “Apimentados”, os tijucanos estão mordidos. Promessa de um banho de axé em 2023 na Marquês de Sapucaí.

SALGUEIRO: A Academia do Samba pisou na Cidade do Samba e surpreendeu positivamente. O Salgueiro é uma das escolas do Grupo Especial que nos últimos desfiles larga com segurança na apuração, porque possui quesitos muito fortes: comissão de frente, casal, bateria. Aliás, a largada da Vermelho e Branco é uma das mais fortes da folia. A comissão de frente, do coreógrafo Patrick Carvalho, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidclei e Marcella Alves, formam um conjunto impactante. No mini desfile, a comissão de frente dançou demais, unindo vigor e leitura da exibição. Já parecia apresentação oficial na Sapucaí. Já o casal é entrosamento do início ao fim. O vento chegou a assustar a porta-bandeira logo no início, mas com exímio talento ela seguiu plena na pista. Se o questionado samba-enredo de 2023 é considerado um perigo, os componentes jogaram para escanteio qualquer falatório. Impulsionados pelo intérprete Emerson Dias, os salgueirenses cantaram muito. A “Furiosa” é um primor de ritmo. Mestres Guilherme e Gustavo, em pouco tempo, já colocaram seus nomes no hall dos melhores do carnaval. O conjunto plástico do carnavalesco Edson Pereira dando certo é muito possível que o Salgueiro tenha um resultado favorável no ano que vem.

MANGUEIRA: Arrepiante! A Verde e Rosa pisou na Cidade do Samba com muita força e poder. Já na comissão de frente, a coreógrafa Claudia Mota contou somente com mulheres, negras e que desfilaram descalças. Um vigor impressionante na dança. O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Matheus e Cintya, foi espetacular. Ela estava totalmente incorporada, arrancando suspiros de emoção e aplausos do público. Ele, elegante, como sempre, conduziu sua dama perfeitamente. O canto mangueirense sacudiu. Mérito para os intérpretes Marquinho Art Samba e Dowglas Diniz, além da bateria “Tem Que Respeitar Meu Tamborim”. O samba-enredo é seguramente um dos melhores do ano. A Mangueira levou a sério o evento, trouxe componentes fantasiados e manteve o padrão de qualidade no alto do início ao fim do mini desfile. No fim da apresentação ainda teve o tradicional “arrastão”. Os sambistas saíram de alma lavada e que bom é ter a Estação Primeira como condutora da arte e cultura deste país.

Galeria de fotos: primeira noite dos mini desfiles do Grupo Especial para o Carnaval 2023 na Cidade do Samba

Por dentro dos ritmos: Saiba detalhes sobre a bateria da Vila Isabel para o Carnaval 2023

A bateria da Unidos de Vila Isabel realizou um primeiro ensaio na Avenida 28 de Setembro muito bom, segundo mestre Macaco Branco. Com a oportunidade do pontapé inicial dos trabalhos pela rua, ele julgou ser um bom parâmetro para testar a funcionalidade dos dois arranjos ensaiados, entre os três que pretende levar para a Avenida. Uma bossa no refrão do meio e outra paradinha no final da segunda até o refrão principal já se encontram a pleno vapor, ainda restando o arranjo musical que será encaixado na cabeça do samba futuramente. Macaco Branco se considera metódico, além de sempre aguardar o samba ser escolhido para só posteriormente desenvolver o trabalho, com o intuito de acompanhar a obra.

Mestre Macaco Branco, comandante da Swingueira de Noel

Sua filosofia musical foi aprovada com nota máxima pelo segundo ano consecutivo por julgadores. Mesmo aumentando a responsabilidade, ajuda a credenciar a bateria da Vila Isabel entre um dos ritmos mais aguardados do carnaval, o que é motivo de orgulho para o mestre. O ritmo da “Swingueira de Noel” possui como características uma afinação de surdo particularmente grave, bem como o surdo de terceira efetuando um papel de centrador, marcando.

Essa identidade musical é complementada com repiques dando molho, junto das caixas com levada reta aliadas a uma inconfundível batida de taróis, com toque genuíno de partido alto. Dentro desse processo de retomada do ritmo da Vila foi fundamental o trabalho naipe por naipe, separados por rodinhas de ritmistas, para que os toques evoluíssem nos aspectos de limpeza, clareza e também sincronia na pulsação rítmica. Uma didática musical que privilegiou a melhora individual, proporcionando impacto na evolução coletiva da bateria.

Discípulo musical de mestre Mug desde a infância, Macaco Branco faz questão de exaltar o valioso Amadeu Amaral, que dedicou grande parte da vida a moldar e lapidar a cara da bateria da Vila Isabel, desde que herdou o ritmo de mestre Ernesto. Mug era daquelas personalidades únicas dentro do mundo do samba. A pouca instrução, devido às realidades da vida, contrastavam com um conhecimento musical profundo, ouvidos extremamente apurados, além de uma interminável vontade de ensinar. Hoje percussionista, mestre de bateria e formado como produtor musical pelo IATEC, Macaco Branco absorveu tudo que foi possível com uma autêntica lenda da Unidos da Vila Isabel, creditando grande parte do seu sucesso ao saudoso mestre Mug.

O mestre também aproveitou para ressaltar a importância do projeto social Instituto Celeiro de Bamba, que possibilita a formação musical de vários integrantes da comunidade, entre outras atividades, com impacto direto nos moradores do bairro e adjacências. Movimentar a agremiação com iniciativas desse tipo dignificam o já auto-explicativo nome escola de samba. Ainda pegando carona nessa relação com a comunidade, Macaco Branco explica que a vitória do samba composto pela rapaziada do morro dos Macacos tem ajudado a reaproximar a escola de Noel de sua raiz. Sendo assim, foi importante ter vencido o samba que a maior parte da escola queria e a expectativa é que esse processo ajude a restabelecer vínculos que possam gerar frutos.

Mestre Macaco Branco ainda faz questão de deixar registrado o agradecimento ao trabalho do diretor musical Douglas Rodrigues e de todo o carro de som, além da satisfação de poder conduzir uma bateria para um ídolo da escola e do mundo do samba, como Tinga. A inegável qualidade musical da Vila Isabel fica ainda mais destacada com o casamento entre o ritmo da “Swingueira de Noel” e a voz potente de Tinga, sendo uma das molas propulsoras do grande primeiro ensaio técnico da Vila. O saldo foi positivo, muito além do esperado.

Elmo José dos Santos: ‘Mini desfile é o grande grito de carnaval das escolas de samba’

As 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro fazem neste sábado e domingo, na Cidade do Samba, os mini desfiles para o lançamento dos sambas-enredo e a abertura do Rio Carnaval 2023. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa, falou sobre a importância da realização do evento, pela segunda vez consecutiva.

“A segunda edição reafirma um marco do carnaval. Tudo começou na pandemia. As escolas não querem mais voltar para aquele sistema antigo no palco. Agora, elas podem colocar todo o povo para desfilar e defender a cultura popular. É um momento muito importante para o carnaval. O mini desfile é o grande grito de carnaval das escolas de samba. As escolas reafirmam que vão fazer um grande espetáculo. Elas estão muito empolgadas. Dessa vez, a Liga preparou uma queima de fogos antes de cada apresentação. No fim do dia, vamos ter aquele nosso tradicional arrastão do povo atrás da última escola. Mesmo com Copa do Mundo, nós estamos presentes e firmes vamos defender com unhas e dentes nossa bandeira do samba. Vamos celebrar o Dia Nacional do Samba. Por isso, eu celebro os grandes mestres do passado que fizeram muito no passado pelo samba”, disse Elmo.

Foto: Henrique Matos/Divulgação Liesa

O diretor de carnaval da Liesa também falou sobre o que será permitido fazer durante o mini desfile. “A única regra é que a bateria terá até 50 ritmistas. Combinamos que o limite será de 240 componentes por agremiação. O carro de som poderá ter até quatro cantores. Colocamos como opcional ter o tripé na frente de cada mini desfile. No mais, a gente deu liberdade para cada escola organizar seu mini desfile. Preparamos uma grande infraestrutura. Quem for de fora do Rio ou não puder ir poderá assistir uma grande transmissão no YouTube. O comando será do Milton Cunha”.

Para receber os mini desfiles, a Cidade do Samba ganhou ares de Sambódromo, com direito a relógio de cronometragem, pista pintada, áreas de concentração, dispersão e a tradicional queima de fogos, que anuncia a entrada das Escolas na Avenida. Segundo Elmo, os dois dias de espetáculo terão um início bem animado, com a folia do Cacique de Ramos meia hora depois da abertura dos portões, que acontecerá às 19h, no sábado, e às 18h, no domingo.