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Letícia Guimarães será coroada rainha de bateria da Santa Cruz nesta sexta

Completando 15 anos de carnaval, Letícia Guimarães será coroada nesta sexta-feira, como rainha de bateria dos Acadêmicos de Santa Cruz, escola da Zona Oeste do Rio de Janeiro que integra a Série Prata do crnaval carioca. Apesar da experiência na folia, a personal trainer e estudante de biomedicina que foi rainha do carnaval em 2014, revela que está ansiosa pois vai desfilar pela primeira vez representando aquele que é considerado o verdadeiro carnaval do povão, na Intendente de Magalhães.

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Foto: Leo Cordeiro/Divulgação

“Nunca tive a oportunidade de estar na Intendente e quis o destino que este ano e que completo 15 Carnavais, o convite tenha acontecido pela Santa Cruz, uma escola pela qual eu sempre tive simpatia. Foi algo tão inusitado que, quando fui consultada sobre estar no desfile, fiquei sem reação tamanha a minha surpresa”, diz a futura majestade da bateria Tabajara do Samba, comandada por Mestre Riquinho.

Para receber a nova rainha de bateria, a verde e branca que falará sobre a Amazônia em 2023, realizará uma feijoada com início às 13h. A presença de personalidades da folia como a Corte do Carnaval, Jaqueline Maia, ex-rainha de bateria da Santa Cruz e da Estácio de Sá e Malu Torres, atual rainha de bateria da Inocentes de Belford Roxo, está confirmada

“Vai ser uma oportunidade para encontrar pessoas que sempre estiveram ao meu lado ao longo destes 15 anos de Carnaval, amigos e gente que eu admiro muito. Estou feliz demais por todo esse carinho que venho recebendo de todos da escola”, diz Letícia que este ano terá jornada tripla, desfilando também no Grupo Especial como musa da Mocidade Independente de Padre Miguel e na Série Ouro como rainha da escola Inocentes de Belford Roxo.

Com personalidades de sobra, Rhawane Izidoro vence a Rainha do Carnaval em São Paulo e Robério será o Rei Momo

Na noite da última quarta-feira, no Auditório Celso Furtado, Distrito do Anhembi, aconteceu o concurso da Corte do Carnaval de São Paulo de 2023. Foram seis concorrentes para Rainha do Carnaval e Princesas, e sete disputando para Rei Momo. A corte foi montada com Rhawane Izidoro (Imperador do Ipiranga), tornou-se a Rainha, Madu Fraga (Vai-Vai) como Segunda Princesa, Nathany Piemonte (Rosas de Ouro) de Primeira Princesa. Por fim, o Rei Momo ficou com Robério Theodoro, representando Mocidade Alegre e Pérola Negra.

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Fotos: Fábio Martins/Site CARNAVALESCO

A disputa foi muito acirrada principalmente para rainha, segundo os apresentadores Guto Melo e Patricia Liberato, a diferença para a vencedora da segunda colocada foi de um ponto e do terceiro lugar, de dois pontos. Ou seja, no detalhe. Além das três vencedoras, Paula Moraes (Dom Bosco), Domenica Anastácio (Águia de Ouro) e Aretha Raíssa (Camisa Verde e Branco) disputaram.

A disputa foi separada por traje de piscina, depois traje de gala, além do discurso e o momento de samba no pé com a Bateria Pegada da Coruja, da Terceiro Milênio, que representou no evento. Foram diversas personalidades do carnaval e da mídia entre os jurados. Todos os participantes foram coreografados por Ismael Toledo.

A Segunda Princesa: Madu Fraga

Conhecida como Madu Fraga, mas com nome de Maria Eduarda, a modelo representou o Vai-Vai e chamou muita atenção com seu samba no pé, carisma no sorriso, e a intensidade da torcida. A comunidade do Bixiga foi em peso apoiar a candidata, com faixa, canto, foi bonito, e a representante da Saracura que teve um look trabalhado no fogo, comentou para o site CARNAVALESCO sobre essa força.

Cortecarnaval et MaduFraga SegundaPrincesa

“Tenho uma torcida imensa, o Vai-Vai é uma torcida imensa, e sei que a comunidade estava comigo. Subimos a #MaduNaCorte, e eu consegui entrar, é muito gratificante representar cada menina da comunidade. É um sonho realizado, estou aqui, quero curtir muito essa corte, viver esse momento, como segunda princesa. Tenho certeza que essa corte vai estar incrível e vai representar muito bem o carnaval”.

Sem ter tido uma grande preparação, foram três semanas de foco na competição, Madu Fraga, Segunda Princesa do Carnaval de São Paulo, comentou sobre o que esperar dela na Passarela do Anhembi.

MaduTrajeFogo

“Pode esperar muita união, amor, vou fazer tudo com muito amor, gratidão, felicidade, alegria. Que o carnaval de São Paulo é isso e me divertir, estou aqui para me divertir. Foi o que fiz aqui na noite de hoje. E fazer o que eu sei, e é isso, quero que as pessoas se sintam representadas e viva o Carnaval de 2023”.

A Primeira Princesa: Nathany Piemonte

Do luto pessoal para a glória em poucos dias, a modelo Nathany revelou que teve uma perda familiar que lhe abalou na preparação. Mas teve um dos discursos mais marcantes e a roupa também dando força a mulher agradeceu toda a torcida que esteve presente e fez barulho em seu favor no concurso.

Cortecarnaval et NathanyBiquini

“Sempre importante (a torcida). Na verdade, tenho que agradecer muito a todos, pois essa semana não tem sido muito fácil para mim. Perdi meu padrinho, e eu tive que buscar forças onde não imaginei que eu tinha para estar aqui. E todas as pessoas me mandaram força, carinho, mensagem de apoio. Acho que esse foi o diferencial”.

Diferente das outras candidatas, Nathany revelou que teve uma preparação longa para o concurso, queria disputar antes da pandemia, mas como não ocorreu em 2021 e 2022, o sonho foi adiado em dois anos. A preparação também foi atrapalhada, mas como já havia vencido o prêmio ‘Rainha do Samba’, queria também levar o Rainha do Carnaval, não veio, mas como Princesa disse o que esperar dela.

Cortecarnaval et NathanyPiemonte PrimeiraPrincesa

“Pode esperar muita alegria, samba, humildade, quero representar o carnaval de São Paulo da melhor maneira possível. Mostrar para o Brasil que não é só no Rio que se faz samba, São Paulo também”.

Rainha do Carnaval: Rhawane Izidoro

Uma das grandes favoritas por tudo que tem construído no carnaval, a promotora de eventos, Rhawane Izidoro mostrou muita personalidade, fala convicta e que mexeu com os jurados, público, ao ser perguntada sobre a sua fala que levantou o público. A nova Rainha do Carnaval paulistano contou para o site CARNAVALESCO a sua motivação.

Cortecarnaval et Rhawane RainhaCarnavalSaoPaulo

“Usei minha história de 2022, estava com início de depressão, foi um dos motivos de raspar careca. Ia vir para o concurso com cabelo, mas me senti tão viva, nova, quando raspei. Não tem motivo de colocar uma coisa que não me pertence mais. E também achei arriscado, não sei aos olhos do jurado como eles veriam vendo todas as meninas com cabelões e uma careca. Mas deu certo, eu vim do jeito que me senti bem, passei confiança, e é isso, agora sou rainha do carnaval de São Paulo”.

A torcida da Rhawane, da Imperador do Ipiranga, era barulhenta, mas não era maioria, apesar de duas faixas chamarem atenção. Entretanto era visível ver que no final, as torcidas estavam unidas em prol da candidata.

Rhawane TrajeGala

“Humildade é tudo. É sobre sorrir, falar, ter carisma. Quando fazemos o que a gente gosta, sorrimos. E quem recebe esse sorriso de uma forma boa, automaticamente você contagia todo mundo. No meu anterior concurso, vim com uma torcida com 10 pessoas e no final estava o auditório todo gritando meu nome. É sorrir, fazer o que gosta”.

Inscrita somente no dia 25 de novembro, revelou que foram 15 dias corridos, intensos, mas que as coisas aconteceram no momento certo. Pois para seu reinado, a nova rainha também falou sobre o que esperar dela.

“Muito samba no pé, muita bolha, vou sambar daquele Anhembi de ponta a ponto. Com cabelo, sem cabelo, com coroa, sem coroa. Vou curtir esse carnaval como o melhor da minha vida”.

Rei Momo: Robério Theodoro

Representando duas escolas, o coreógrafo Robério Theodoro tinha uma enorme torcida, em geral da sua escola de coração, a Mocidade Alegre. Inclusive presença da Solange, presidente da sua agremiação. Com uma torcida bem barulhenta, e um discurso comovente, junto com sua roupa que homenageou todas as escolas, gerando o apoio de todos os presentes, e explicou o motivo.

Cortecarnaval et RoberioTheodoro ReiMomo

“Todas as escolas merecem essa homenagem. A disputa é da linha amarela para dentro da pista, fora a gente tem que se unir, somos amigos. Nada mais justo do que prestar essa linda homenagem a todas as escolas de samba”.

Assim como Nathany, Robério revelou que estava trabalhando para voltar a ser Rei Momo, que conquistou da outra vez em 2009 e foi da Corte junto com Camila Silva, do Vai-Vai. Portanto teve uma preparação de quase dois anos, esperando o novo concurso.

“Minha primeira experiência foi em 2009, fui Rei Momo juntamente com a Camila Silva do Vai-Vai e depois de treze anos, eu voltei a pisar neste palco, e deu tudo certo. Me entreguei de corpo e alma, mostrei o quanto o carnaval é importante em cima desse palco. Mostrei minha felicidade, paixão, amor, enfim, estou muito feliz. E pode esperar muita alegria, felicidade, muito samba no pé”.

CorteCarnavalSP

Foi a primeira vez que o Rei Momo teve mais concorrentes que o de Rainha. Disputaram com Robério Theodoro, o Babu (Nenê de Vila Matilde), David Silva (Mocidade Unida da Mooca), Robson Sambista (Primeira Líder), Fabiano Boaventura (Peruche), Kadu Nunes (Camisa Verde) e Rei Sorriso (Terceiro Milênio).

A corte do carnaval está formada

Quem passou o bastão da Corte foram Rei Momo Ricardo Lima e a Rainha Mariana Pedro, ambos representantes da Independente Tricolor, a Primeira Princesa Mariana Vasconcellos, do Vai-Vai, e a Segunda Princesa, Daniela Orcisse, que representou a Mocidade Unida da Mooca.

Concorrentes CorteCarnaval

Com isso, a Corte do Carnaval de 2023 foi formada com quatro representantes: Robério Theodoro (Rei Momo), Madu Fraga (2ª Princesa), Nathany Piemonte (1ª Princesa) e Rhawane Izidoro (Rainha), estarão nos ensaios técnicos a partir de agora, e claro, nos dias dos desfiles.

Terreirão do Samba é interditado

O Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro interditou na quarta-feira o Terreirão do Samba Nelson Sargento, voltado para a preservação do Samba e que recebe diversos eventos de cultura popular. O espaço cultural fica na Praça Onze, a poucos metros da Passarela do Samba, na Marquês de Sapucaí.

De acordo com a corporação, o local apresenta irregularidades relacionadas à segurança contra incêndio e pânico e não cumpriu as exigências de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado em 31 de dezembro de 2022, com os Bombeiros.

O comandante-geral da corporação, coronel Leandro Monteiro disse que está à disposição para auxiliar no que for necessário para a regularização do espaço, “a fim de garantir a segurança do público, preservar vidas e bens”.

O Terreirão do Samba é administrado pela Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro – Riotur. Procurada pela Agência Brasil, a empresa informou que não recebeu de forma oficial nenhum documento com parecer sobre a interdição.

Liga-RJ informa que reservas de frisas para os desfiles da Série Ouro foi um sucesso

A Liga-RJ, que reúne 15 escolas de samba da Série Ouro, considerou um sucesso o número de reservas das frisas do Sambódromo para os desfiles nos dias 17 e 18 de fevereiro, diante da quantidade de procura pelos ingressos. A estimativa inicial da entidade é que as reservas tenham alcançado 85%, mas como ainda não foi feito o balanço total, o percentual pode ser superado.

O presidente da Liga RJ, Wallace Palhares, disse que o resultado das reservas vai ser conhecido na próxima terça-feira e publicado nos sites da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e da Liga-RJ.

“A procura foi muito boa. No ano passado a gente não teve essa procura devido ao carnaval ter sido em uma data fora do período de fevereiro, mas este ano voltamos à procura que tivemos em 2020. O panorama que eu tenho é muito bom. Lógico que depois do balanço fechado a gente vai ter a certeza, mas o que tem até agora foi muito satisfatório”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Ele disse que não acredita em sobras na abertura de hoje para serem colocadas à disposição do público em uma outra rodada de reservas. “Acho que não vai ter dessa vez e vai esgotar tudo, provavelmente não vai sobrar”.

Para a fila A, que fica junto à pista dos desfiles, o ingresso custa R$ 1,4 mil. Já para as filas B, C e D, o preço é R$ 900. As frisas são boxes descobertos com seis lugares cada.

Pagamento

Quem conseguiu comprar os ingressos terá que fazer o pagamento nos dias 30 e 31 de janeiro. Caso isso não ocorra, vai perder o direito à reserva e os ingressos voltarão ao balcão de vendas. O pagamento deverá ser efetuado exclusivamente na Central de Vendas da Liesa, na Rua da Alfândega, 25, lojas B e C, no Centro, das 10h às 16h.

Arquibancadas

Segundo Palhares, as arquibancadas e cadeiras numeradas só estarão disponíveis à venda faltando de 15 a 20 dias para o carnaval, “mas por meio de ligações telefônicas e mensagens para a Liga-RJ, já se pode notar que há uma demanda grande pelos ingressos para esses setores do Sambódromo”.

“Nossos e-mails estão lotados, nossos telefones não param, todo mundo já procurando arquibancada”, disse.

Para o presidente da Liesa, o interesse crescente do público pelos desfiles da Série Ouro é resultado da melhor qualidade das apresentações das escolas. Ele reconhece que a antecipação na liberação das subvenções às agremiações pela Prefeitura do Rio de Janeiro também tem contribuído para a qualidade dos desfiles.

“O quanto antes sair [a subvenção] é melhor porque a gente vai atrás de preço menores. A gente tem mais opções de produtos no mercado. Quanto mais em cima [do carnaval], o mercado fica mais escasso. Cada vez que sair mais antecipado fica melhor para as escolas”, disse.

A média estimada de público nos desfiles da Série Ouro grupo é de 120 mil pessoas, entre espectadores das arquibancadas e camarotes, desfilantes, profissionais do carnaval e de diversas áreas.

A escola de samba campeã no grupo poderá ascender ao Grupo Especial em 2024 e desfilar entre as agremiações consideradas a elite do carnaval carioca.

Carlos Junior recorda o início no mundo do samba, revela problema pessoal e celebra nova fase da vida

Na noite do dia 18 de fevereiro, os Acadêmicos do Tucuruvi entrarão na Avenida para a apresentação do enredo “Da Silva, Bezerra. A Voz do Povo!”. A homenagem ao sambista conhecido como A Voz do Morro será conduzida com o samba cantado pelo intérprete Carlos Junior, que fará sua estreia na agremiação da Zona Norte. Considerado um dos mais importantes cantores do Carnaval de São Paulo na atualidade, o anúncio de Carlos Junior pela Tucuruvi, em junho de 2022, causou grande repercussão. A conversa do cantor com a equipe do site CARNAVALESCO, durante as gravações do programa Seleção do Samba, da Rede Globo, mostrou um lado muitas vezes ignorado pelas pessoas. O lado do homem por trás do artista, que é tão humano quanto cada um de nós.

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Fotos de Magaiver Fernandes/Site CARNAVALESCO

Relação com o bairro

Carlos Eduardo dos Santos tem 46 anos e sempre morou no bairro do Tucuruvi. O amor pelo samba é de família, que desfilavam pelo Zaca nos tempos da Avenida Tiradentes.

“Eu sempre morei aqui minha vida inteira. Eu nasci nesse bairro. Eu tenho minhas primas, grande parte da minha família, que era do samba, isso quando eu tinha cinco, seis anos, eles desfilavam na época que o Tio Horácio era o presidente, não era nem o Seu Jamil, lá pelos Anos 80. Eles falavam muito da Tucuruvi”.

Coração do Trevo, sambista forjado pelo Gafanhoto

Carlos Junior tem como escola do coração o Camisa Verde e Branco, algo que ele não esconde de ninguém. Mas em sua opinião, a escola de samba que é a principal responsável pela sua formação geral como um sambista foi a Tucuruvi.

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“A primeira escola de samba de Grupo Especial que eu conheci foi o Tucuruvi. Depois dela eu conheci a X-9, que era aqui perto, e aí eu fui pro Camisa, que era o meu amor mesmo. Tinha uma vontade enorme de desfilar no Camisa, mas para eu chegar lá eu tive que me preparar aqui, porque os meus amigos estavam aqui e eles sabiam tocar, mas eu não. Eu tive que vir para cá fazer uma escolinha. O Seu Jamil gostou muito de me ver tocando, e a gente foi fazendo a nossa escolinha aqui na Tucuruvi. Eu não tinha noção, naquela época, que eu seria puxador e compositor. Aqui foi um berço de aprendizado. Quando eu comecei a cantar foi no Camisa que abriu as portas, mas o aprendizado como sambista, não como cantor, como ritmista, ou até como passista, foi na Tucuruvi. Eu tinha um grupo de pagode, o Samba Jovem, que era aqui nessa rua, na Mazzei (onde fica a quadra da Tucuruvi), então a gente tocava de sábado aqui dentro, fazia uns pagodes. Eu convivi muito aqui”.

Estreia no Anhembi foi pela Tucuruvi

Durante seu aprendizado como ritmista, Carlos Junior entrou para a bateria de uma pequena escola que havia na região chamada Paraíso do Samba. Graças a essa experiência, o sambista pôde fazer sua estreia no principal palco do carnaval paulistano.

“A gente foi pra essa escola, a Paraíso do Samba, e descobrimos que ela também fazia parte daqui. Então começamos a sair aqui, eu saí dois anos. Na inauguração do Anhembi eu desfilei pelo Tucuruvi. Meu sonho era ser ritmista”.

A revelação do intérprete

O grupo de amigos com o qual Carlos Junior tocava seguem juntos até hoje por outros caminhos. Foi em 1997, após compor e cantar a pedido deles um samba concorrente para X-9 Paulistana, que o caminho em direção ao sucesso como intérprete começou, um ano depois, pela sua escola do coração.

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“Os caras vieram e falaram “Pow, Carlão, você que faz uns sambas lá pro Paraíso, não dá pra você fazer um samba lá no X-9 pra gente concorrer?”, aí eu fui lá e falei “Faço!”. Eu fui, fiz o samba, entreguei pra eles, e eles falaram que não tinha ninguém pra cantar. Então eu falei “Vou lá e canto”. Quando eu fui cantar, tinha uma galera do Camisa lá e perguntaram “Pow, você é Camisa ou X-9?”, daí eu falei “Eu sou Camisa”. “Então ano que vem você vai fazer samba no Camisa”. Aí em 1999 eu fiz samba pro Camisa e ganhei pro Carnaval de 2000”.

A depressão quase encerrou sua carreira

Para quem acompanha a brilhante carreira de Carlos Junior é difícil imaginar que o intérprete poderia simplesmente, de um dia para o outro, pendurar o microfone. Mas isso quase aconteceu após os desfiles de 2022, e um dos principais motivos foi a depressão, doença com a qual passou a lutar nos últimos anos.

“Quando eu saí do Império eu não tinha proposta nenhuma. A gente não pode ter vergonha de falar certas coisas. Eu tava numa depressão profunda, e diante dessa depressão eu não tinha mais condição de trabalhar no Império dentro da proposta que eles têm. O Império é uma escola muito competitiva, muito exigente, e eu não estava mais me sentindo, por conta da depressão, em condição de acompanhar o grupo”.

Alguns dos fatores que, na visão do cantor, contribuíram para o agravamento da depressão, foram a pandemia da Covid-19 e a inviabilização de sua estreia na Sapucaí pela Paraíso do Tuiuti, em função do pareamento das datas do Grupo Especial do Rio de Janeiro com os desfiles em São Paulo.

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“Eu te confesso que um dos gatilhos da minha depressão foi esse. Eu fiquei muito triste porque eu trabalhei muito, me empenhei muito para fazer aquele trabalho na Tuiuti. Porque ele começou na verdade em 2020. A pandemia chegou em fevereiro de 2020, logo depois que a gente desfilou. Eles me contrataram em março de 2020, aí cancelou-se o Carnaval diversas vezes, e aquilo foi me deprimindo, me deprimindo, afinal é o sonho de todo cantor desfilar na Sapucaí. Por mais que não dê certo, se você estreou já era. Fazia as viagens, viajei toda semana para o Rio de Janeiro. Não foi fácil viajar pra lá, deixar a família aqui, pegar estrada toda semana, para no final eu não desfilar. Eu fiquei muito mal”.

Em meio a carreira artística, Carlos Junior se dedicou também aos estudos em uma área diferente. No final de 2022, o cantor se formou em Psicologia pela Universidade de Guarulhos. Acontecimentos que antecederam o carnaval do ano passado fizeram com que Carlão repensasse sua carreira como intérprete de escola de samba.

“Eu nunca imaginei que eu seria puxador do Tucuruvi porque na pandemia me veio essa ideia. Eu já estava há alguns anos querendo parar de cantar, já tinha essa vontade. Aí veio a pandemia e eu falei: “Acho que pra mim já deu esse lance de competição, de cuidado com a voz, de disciplina e tal”. Antes do convite que recebi da Tuiuti, eu nunca tive o desejo enorme de desfilar como cantor de alguma escola no Rio. Não é marra não, é até um certo respeito. Eu acho que os cantores do Rio são fenomenais. Mas depois que não deu certo eu pensei que era o Homem lá de cima dizendo que não era para eu ir porque muita coisa aconteceu. Além de eu não desfilar eu quebrei a perna, e vários acidentes aconteceram quando eu fui pra lá. Eu tenho muito essa coisa da fé. Quando Deus não quer, não pode brigar. Sou muito grato a eles pela oportunidade, que infelizmente não deu certo. Mas eu acho que eu fico muito feliz aqui, mais tranquilo, porque meu filho é muito pequeno, tem cinco anos, então eu quero estar aqui perto com a minha família. Eu quero um ambiente muito familiar. Não quero aquilo de muita pressão, mas eu não deixei de ser competitivo”.

A saída do Tigre

Carlos Junior temeu que as consequências de seu quadro depressivo pudessem comprometer o Império de Casa Verde. Como uma das lideranças mais notáveis dentro da escola, as falas do intérprete tinham grande peso para a instituição, e a dificuldade em controlá-las fez com que tomasse uma decisão após um desabafo nas redes sociais.

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“Eu cheguei no presidente do Império e falei: “Eu estou muito doente. Eu estou falando coisas”. Eu esqueci que eu tinha que respeitar uma hierarquia, mas eu estava tão deprimido, porque eu tava querendo fazer o desfile lá Tuiuti que desabafei e isso me trouxe problemas. Então eu fui para ele e falei: “Essa é a primeira de muitas. Se eu continuar, vai ficar pior e vai chegar uma hora que você vai me demitir, então eu prefiro ir embora”. Eu sempre estive em escolas que tinham uma cultura de cuidado. Cuidado com o que você vai falar, cuidado com o que você vai fazer. Você conhece, Vai-Vai, Camisa Verde é uma cobrança, então eu sempre tive isso. Só que depois da pandemia eu me perdi. Eu já não tava mais tendo filtro, já não tava tendo mais cuidado. Eu achei que ia atrapalhar o Império. Só que eu só dei conta disso muito tempo depois. Aí as pessoas vão me falando que me apoiariam, outras vinham e falavam: ‘Carlão, cuidado. Você tá bem?’, e falei: ‘Acho que não. Não dá pra falar pra todo mundo como eu estou. Eu não estou bem. Me desculpe, eu não consigo mais fazer o trabalho'”.

O convite de um velho amigo

Uma vez fora do Império, Carlos Junior passou a refletir sobre os próximos passos da carreira. O quadro depressivo no qual se encontrava fez o intérprete estabelecer critérios importantes para qualquer convite que viesse de outras escolas. Foi quando Rodrigo Delduque, diretor de carnaval da Tucuruvi e um amigo de longa data da sua família, decidiu fazer a proposta.

“Quando eu saí (do Império), na minha cabeça eu falei: ‘Quem me convidar eu vou falar a verdade, que está convidando uma pessoa que não está bem, mas que estou trabalhando na minha recuperação. Eu preciso de alguém que tenha paciência com o que eu estou vivendo’. Eu precisava de uma escola que me pegasse e cuidasse de mim. E aí o Rodrigo, que é meu amigo de 15, 16 anos, falou comigo:’Qual a possibilidade de você ir pro Tucuruvi?’. Eu falei que seria legal, porque agora a vida da gente muda, eu tive filho recentemente. Aí ele falou que aqui termina cedo, e eu tava precisando disso, uma escola que comece cedo, que termine cedo, que eu tenha uma liberdade de poder fazer meus shows, porque você termina dez horas e vai fazer um showzinho fora. A proposta dele foi muito boa. Ele falou: ‘Quero que você me ajude com sua experiência. Você passou por Camisa, por Vai-Vai e Império, então você tem muito a ajudar’. Daí eu vim pra esse projeto aqui”.

O acolhimento oferecido por Delduque, a família e a proximidade de suas raízes foram fundamentais para a decisão de Carlão.

“Daí o Rodrigo virou e falou ‘O que você precisa?’. Eu preciso de um amigo que compreenda se eu falar alguma coisa a mais, se eu perder a paciência com alguma coisa, porque eu fiquei muito mal. Eu tava impaciente, tava reclamão, tava sem filtro, sem limite. Daí ele aceitou e falou: ‘Mano, aqui é uma escola de família. Se você tiver algum problema, pode falar comigo'”.

A recepção da comunidade do Zaca

O primeiro contato com a comunidade da Tucuruvi surpreendeu Carlos Junior, que o recebeu com pompas de uma grande estrela. Acostumado com a discrição de ser mais um entre grandes nomes em outras escolas, o intérprete passou a entender melhor a importância que tem para o Carnaval.

“Foi uma coisa fora do comum. Eu nunca quis ser tratado como um artista. Eu sempre me coloquei numa situação de cantor de samba-enredo. Eu acho que cantor de samba-enredo é operário. O cara fica duas horas lá que nem um doido, usando o cérebro, usando a garganta, usando o corpo inteiro. Não é um artista, porque você aparece em fevereiro e depois você some. Você não tem mídia, televisão. O que a gente tem é vocês do CARNAVALESCO, três ou quatro sites que ralam muito para ter uma abertura, seja no Rio ou aqui. Eu sei como é que é, o que a gente tem. Aqui eles me trataram como um artista, cara. Eu fiquei muito emocionado. Não querendo desfazer com as outras escolas, mas quando eu entrei no meio, tinha toda uma preparação assim que eu travei, fiquei travado, nunca tinha visto aquilo. Parece que a escola ela se mostrou assim, muito feliz, como se tivesse chegado o salvador da pátria. Eu fiquei até assustado. Falei: ‘Gente, eu sou só mais um. Não vou salvar nada aqui’. Daí falaram: ‘não, não. Você não sabe o que vai ser’. Então eu espero só responder a expectativa da escola.”

Apesar de sempre ter morado próximo à quadra da Tucuruvi, a carreira como intérprete se desenvolveu em lugares distantes de onde a família de Carlão se estabeleceu. Conhecer a força do velho vizinho está fazendo a diferença na motivação do cantor.

“Isso me surpreendeu muito, porque eu tava aqui do lado e não via. Eu tava sempre indo pra lá, fui pra Bela Vista, no Centro. Fui pra Casa Verde, para o outro lado. Quando eu cheguei aqui eu falei: ‘Pow, olha isso aqui cara’. Os caras estão aí, toda hora é show. É a Tucuruvi,  cara. É uma coisa grande. Se a gente se empenhar a gente chega igual a todo mundo”.

A importância de Carlos Junior para o Carnaval

Uma carreira marcada por prêmios individuais e glórias pelas escolas que passou. Tricampeão pelo Império de Casa Verde, campeão e vice pelo Vai-Vai e cantou no último grande resultado do Camisa Verde e Branco, o vice-campeonato de 2002. E mesmo quando levantou taças, foi responsável por atuações marcantes que contribuíram para fazer de Carlos Junior um dos grandes nomes da história do Carnaval de São Paulo. Mas o peso desses pavilhões impedia o intérprete de compreender sua real magnitude.

Graças ao reconhecimento da comunidade da nova casa, que tem a mesma idade que ele, o artista começou a entender a sua importância para samba paulistano. Como forma de retribuir o carinho recebido, Carlão quer ajudar a fazer os componentes de sua nova escola entenderem que sim, a Tucuruvi é uma escola grande.

“Hoje em dia a minha ficha está caindo. Quando você participa de escola grande, você é só mais um. Tucuruvi, apesar de ser uma escola tradicional no nome, ela não tem títulos, então você acaba dando uma de ‘ah, não é escola grande’, e a comunidade ela acaba se tratando como pequena. Foi uma coisa que eu senti aqui. Mas através deles eu senti o tamanho que eu construí nesses 22 anos. Mas eu quis também, logo depois, passar para eles nos ensaios que o que falta é o título, porque eles são tão grandes quanto eu, apesar de eu ser de 1976 como eles. Mas eu vejo a Tucuruvi, até pelo momento que o Carnaval vive, eu conto muito essa história. Águia de Ouro é uma grande escola, ganhou o seu primeiro título faz pouco tempo. Tatuapé é uma tradicionalíssima que ganhou seus dois primeiros títulos faz pouco tempo. A próxima pode ser nós, tudo depende do trabalho. Acho que a gente tem que aproveitar esse momento, e jamais ter o que chamam de espírito de vira-lata. Lógico que eu fiquei muito feliz que eles me acham tão grande, mas eu acho que aqui é muito maior do que eu, e é isso que eles têm que pôr na cabeça e no coração. A gente é grande também, mas a gente precisa trabalhar porque tem muita escola grande que não trabalha. Hoje você vai olhar pro Acesso e você tem quatro, cinco, seis escolas grandes que estão lá no Acesso por falta de trabalho. Se a gente não trabalhar, vai pra lá também. A gente tem que ter essa realidade. Não é que a gente é pequeno, é falta de trabalho e empenho. Se você se empenhar, se dedicar, dá o sangue, vai florescer alguma coisa, porque no nome é grande. Tucuruvi, Tatuapé, Mancha Verde, Império. Vai-Vai é muito grande, e tá no Acesso. É a Mangueira de São Paulo. Essa é a coisa que o componente do Tucuruvi precisa pôr na veia, no coração. Nós somos grandes. O que falta é a gente se preparar para ganhar o título. Depois disso o respeito vai ser igual”.

‘O nosso maior patrimônio tem que ser as pessoas’

Quanto ao andamento dos preparativos para o Carnaval de 2023, Carlos Junior explicou que o trabalho na Acadêmicos do Tucuruvi envolve um projeto sustentável em direção à glória do título do Grupo Especial. O intérprete acredita que o mais importante no momento é valorizar os componentes e trazê-los mais para o dia-a-dia da escola.

“Eu vejo no Tucuruvi muita vontade de fazer o certo, de chegar no topo do Carnaval, mas é lógico. O Seu Jamil declarou, está deixando tudo nas mãos do Rodrigo. Vai demorar para o Rodrigo pegar toda a experiência necessária. Falamos aqui do Águia de Ouro e do Tatuapé, são presidentes que já estão há muitos anos. Você pega a Mancha Verde, que ela caiu, voltou, se fortaleceu e buscou o campeonato. Águia de Ouro a mesma coisa, ela teve que cair para se refazer. É uma coisa que eu falo muito com o Rodrigo: ‘Rodrigo, a gente não pode cair irmão. A gente tem que apontar primeiro pra ver o que dá aqui’. Eu falo diretamente com o Rodrigo, com o Dione, que a gente tem que ter um objetivo mínimo agora, para que no próximo ano a gente possa galgar uma coisa maior. Acho que a única coisa que falta é isso. Objetivo. Aonde a gente quer chegar. É lógico que todo mundo quer ser campeão, mas vamos fazer a realidade, o real. Até onde a gente pode ir? Porque a gente pode até conseguir coisa maior, mas temos que ter o mínimo. E ainda eu vejo que é uma coisa que a escola não se importa muito com qual lugar ela quer chegar, e ela tem condições de chegar no primeiro lugar. Mas para isso, ela tem que ter um projeto, um objetivo e preparação. Eu fiz dois ensaios aqui em que eu peguei o microfone e já saí largando. Eu falei: ‘Óh, se a gente não se preparar nós vamos ser qualquer um. Pode ser sexto, décimo, último ou até terceiro. Se a gente não se preparar, bater na porta de cada um, e falar que lugar de sambista é na quadra, se a gente não estiver na quadra a gente não vai conseguir’. Não adianta aquela beleza do barracão. Não adianta ter dinheiro, porque se você vê quantas escolas tem o poder aquisitivo, mas não consegue título. Porque o maior patrimônio da escola são as pessoas. Eu acho que é isso que a escola tem que ficar atenta. O nosso maior patrimônio tem que ser as pessoas”.

Sobre tentar novamente cantar na Sapucaí

Questionado se aceitaria um novo convite para cantar por alguma escola do Rio de Janeiro no futuro, Carlos Junior não descartou a possibilidade. Mesmo assim, acredita que os últimos anos ensinaram uma importante lição de vida, está feliz na Tucuruvi e quer aproveitar esse momento de reconstrução pessoal.

“Se vier, e a gente estiver com saúde. Porque não sabemos o dia de amanhã. Acho que na cabeça de ninguém, no mundo inteiro, pensávamos que iríamos passar por uma pandemia, e para nós sambistas a gente nunca pensou que a gente ficaria um ano sem carnaval. A gente nunca passou pela nossa cabeça que ficaríamos sem desfilar, e ficamos. Muita coisa pode acontecer. Espero um dia poder ter a oportunidade de estar lá. Se pintar um convite, que eu faça um bom trabalho. Mas se não vier, não é uma coisa que irá me abalar, porque eu confio muito nas causas de Deus. Se não é para acontecer, não é para acontecer. Se você analisar, por exemplo, hoje o Tuiuti hoje tá com um novo cantor. Eu poderia estar lá e ser mandado embora junto com o que estava lá. Minha depressão poderia ficar pior, porque ninguém gosta de ser demitido. Por mais que você não queria estar no lugar, mas se vem a cartinha de depressão, machuca. Acho que Deus já estava me avisando. E hoje estou muito feliz aqui, muito mesmo. Ainda estou conhecendo todo mundo, mas é uma tranquilidade. Eu estou com uma paz muito grande, e era isso que eu precisava”.

Samba didático: Portela conta sua própria história no ano do centenário

Buscando a 23ª estrela no ano em que completa 100 anos, a Portela irá contar toda a trajetória de sua história com o enredo “O azul que vem do infinito”, desenvolvido pelos carnavalescos Márcia e Renato Lage. A dupla terá o desafio de fazer o desfile do centenário da azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira.

A temática se passa em cinco personalidades marcantes da Portela. Desde Paulo da Portela até o saudoso Mestre Monarco. Salve! A parceria do samba campeão e escolhido para representar a escola na avenida, é dos compositores Wanderley Monteiro, Rafael Gigante, Vinícius Ferreira, Bira, Marcelão e Edmar Júnior.

Emocionado, o compositor Wanderley Monteiro declara em entrevista para o site CARNAVALESCO o seu sentimento pela Águia Altaneira e o que tentou colocar no samba do centenário. “Portela, te amo muito além do infinito, onde estão todos esses baluartes, todo esse azul lindo que foi desenhado pelos nossos carnavalescos e tentamos retratar em nosso samba”.

O site CARNAVALESCO dá continuidade à série de reportagens “Samba Didático” entrevistando o compositor Wanderley Monteiro para que possa detalhar os significados e representações por trás do versos e expressões presentes no samba da Portela para o carnaval de 2023:

Prazer novamente encontrar vocês
Ali pelas bandas de Oswaldo Cruz
Nosso mundo azul ganha vez
E aquela missão nos conduz
Eu, Rufino e Caetano

“O samba procurou falar das 5 personalidades que marcaram época na Portela. Paulo, Natal, Dodô, David Correa e Monarco. Ele começa com a narrativa do Paulo. É Paulo da Portela reencontrando os amigos que com ele fundaram a escola. Eu, Rufino e Caetano, esse encontro não poderia ser diferente, ali em Oswaldo Cruz”.

No linho, no pano, pescoço ocupado…
Vencemos mesmo marginalizados

“Trio dos fundadores Paulo, Rufino e Caetano. O Paulo tinha uma máxima que o sambista precisava andar bem vestido com terno de linho e gravata. E tinha esse jargão, como Monarco falava muito: “o sambista colocava uma gravata, falavam que era o pescoço ocupado”. Colocamos isso no samba, porque acreditamos ser uma referência. Era como Paulo gostava que os sambistas andassem. O samba sempre foi muito marginalizado naquela época, ele foi perseguido. Tem até uma música que é do Campolino e do Tio Hélio da Serrinha, gravada pelo Zeca Pagodinho”.

No bailar, uma porta bandeira
A nobreza desfila humildade…
Natal nos guiou, deu Águia!
A Majestade…

“Aqui a gente fala da Dodô, nossa grande porta bandeira e a primeira da Portela. Lançada pelo nosso professor, Paulo da Portela. Natal é um dos presidentes mais emblemáticos da história da Portela e ele fazia tudo pela nossa escola. ‘Deu águia’, fazemos um trocadilho porque Natal também tinha uma banca de jogo do bicho. E a águia é um dos bichos desse jogo e o símbolo da Portela. As vitórias que Natal conseguia para a Portela, também é uma alusão ao jogo do bicho que ele tinha”.

“Abre a roda”, “malandro, que o samba chegou”
Andei na “Lapa”, também já “subi o Pelô”
“Macunaíma” falou: nas “maravilhas do mar”
‘A brisa me levou”

“Nessa fase do samba falamos sobre os grandes carnavais da Portela, alguns desses 100 anos. A gente cita a importância de David Corrêa falando dos sambas dele. “Abre a roda malandro que o samba chegou”, é Madureira samba de 2013. “Andei na Lapa, também já subi o Pelô”, é do ‘Lapa em Três Tempos’ e o ‘Pelô’ é o samba de 2012. Nos versos seguintes, citamos os sambas compostos por David Corrêa”.

Eis um “Brasil de glórias” que incandeia
A “vaidade” é um “conto de areia”
Eu vim me apresentar:
“Deixa a Portela passar!”

“Eis um Brasil de glórias que incandeia”, é um grande samba do Candeia. “A vaidade é um conto de areia”, Tributo a vaidade, que é um grande carnaval de 1991 e “Conto de areia”, é outro samba clássico da Portela, composto por Dedé da Portela. “Deixa a Portela passar”.

“Lendas e mistérios” de um amor
Casa onde mora a profecia
Clara como a luz de um esplendor
Cem anos da mais bela poesia

“Lendas e mistérios de um amor”, a gente fala sobre o enredo de 2009. “Casa onde mora a profecia”, é o samba dominando o mundo. “Clara como a luz do esplendor, cem anos da mais bela poesia”, é sobre Clara Nunes que é outra grande personagem da Portela. E óbvio que tinha que estar no nosso samba também. “100 anos da mais bela poesia”, é falar da Portela, de como ela é. Sempre valorizando, exaltando os seus compositores, seus poetas. Essa é a Portela”.

Vivam esse sonho genuíno
De fazer valer nosso legado
Vejo um futuro mais lindo
Nas mãos de quem sabe o valor do passado

“Vivam esse sonho genuíno de fazer valer nosso legado”. Aproveite esse sonho autêntico, legítimo dos nossos fundadores e vamos aproveitar esse legado que eles nos deixaram. “Vejo um futuro mais lindo nas mãos de quem sabe o valor do passado”, é acreditar que os dirigentes de hoje da Portela seguiram todos os ensinamentos dos nossos professores e vão dar um caminho a escola de continuar brilhando nesse cenário do carnaval e do samba. Acreditamos que eles valorizando, reconhecendo e seguindo todos aqueles ensinamentos vão levar a Portela cada vez mais longe, e continuando com a profecia de Paulo”.

Ser Portela é tanto mais
Que nem cabe explicação
Basta ouvir os Baluartes
Pra chorar de emoção

“Ser Portela é tanto mais que nem cabe explicação, basta ouvir os baluartes para chorar de emoção”. Vem a explosão do coração, da paixão pela Portela pelos seus integrantes, reverenciando os grandes baluartes da Portela. Os personagens que nos fazem ser um apaixonado pela escola. ‘Ouvir os baluartes’, estamos falando de todos”.

Cavaco e viola… A velha linhagem
A benção Monarco pra essa homenagem

“Cavaco e viola na velha linhagem, a benção Monarco a essa homenagem”, aí estamos homenageando Paulinho da Viola, Ary do Cavaco, Seu Jorge do Violão, Manaceia e todos os outros. A benção Monarco é todos os narradores do nosso enredo e nosso último baluarte que nos deixou em dezembro de 2021. Prestamos essa homenagem nominalmente a um dos grandes nomes da Portela que é o Monarco”.

O céu de Madureira é mais bonito
Te amo, Portela, além do infinito!

“O céu de Madureira é mais bonito, te amo Portela além do infinito”, é aquela coisa do portelense. O céu de Madureira realmente é mais bonito para a comunidade”.

Império Serrano almeja a volta de sua imponência com estrutura e organização

O Império Serrano, uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio de Janeiro, está de volta ao Grupo Especial em grande estilo. Sua comentada vitória na Série Ouro no carnaval de 2022 embalou a comunidade numa fácil mistura de emoções, dando ênfase à superação e à satisfação. Além de muita história, a escola acumula nove títulos na primeira divisão, sendo a quarta agremiação mais premiada do carnaval, em empate com o Salgueiro. Entretanto, nos últimos anos, o Reizinho de Madureira encarou uma realidade difícil. Problemas financeiros e administrativos marcaram suas passagens pela Marquês de Sapucaí. O rodízio de cargos altos como presidentes, intérpretes e coreógrafos, mostrou a fragilidade que pairava sobre a escola, que chegou a desfilar com fantasias inacabadas e alegorias problemáticas.

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Foto: Allan Duffes/Site CARNAVALESCO

Quando Sandro Avelar assumiu a presidência do Império, em 2020, levou a missão de reestruturar a agremiação como sua principal meta. Sem mais reciclagens, decidiu que tudo devia ser feito do zero. Contratou uma nova equipe e deixou os imperianos esperançosos com seus discursos. Devido à pandemia de Covid-19, os desfiles de carnaval em 2021 foram cancelados. Apesar da tristeza sentida por todos, talvez o Império do Samba tenha recebido mais tempo para redescobrir sua verdadeira essência, porque, no ano seguinte, confirmou as expectativas e, sendo a última escola a desfilar, encantou o público presente na Sapucaí.

A vitória e a oportunidade de retornar ao Grupo Especial não poderiam ter chegado num momento mais oportuno. No último domingo, a escola fez seu primeiro e único ensaio técnico no Sambódromo antes do dia oficial do desfile. Com um enredo que homenageia Arlindo Cruz, os componentes passaram pela Avenida radiantes, em perfeita harmonia e com muito samba no pé. O site CARNAVALESCO quis apurar detalhadamente o sentimento de confiança que une os desfilantes nesse resgate da agremiação, sabendo que eles agora enxergam um Império Serrano organizado e disposto a mostrar o seu melhor.

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Isabel Cristina, de 57 anos, é nascida e criada no Morro da Serrinha. Foto: Luisa Alves

Isabel Cristina, de 57 anos, é nascida e criada no Morro da Serrinha, e não protelou em dizer: “O que eu mais quero é que ela se firme nesse patamar de onde nunca deveria ter saído. Império é raiz! Não temos medo e vamos com tudo em 2023. Sou técnica de enfermagem e vi o mundo se acabar, mas isso que está acontecendo é a vida em sua mais pura forma”.

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Mauro Ramos faz parte da ala dos compositores. Foto: Luisa Alves

Mauro Ramos faz parte da ala dos compositores, e aos 70 anos ainda se empolga em comentar: “Estou muito feliz. Temos que rasgar a sola do sapato para homenagear Arlindo e mostrar para o mundo o que somos. Esquecemos muitas coisas, mas estamos com uma nova gestão e vamos conquistar todas de volta”.

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Vilma Almeida, de 64 anos, traz os laços familiares com ela. Foto: Luisa Alves

Vilma Almeida, de 64 anos, traz os laços familiares com ela. “Sou imperiana desde sempre, mas estou desfilando pela primeira vez. Escolhi esse ano porque meu irmão faleceu e tínhamos combinado de desfilar juntos. Ele se foi muito antes, mas a partir de agora o Império vai relembrar suas raízes”, afirmou. “Vamos abrir o carnaval de um jeito que ninguém vai esquecer o primeiro, depois da pandemia, em que o público não teve mais restrições”, continuou.

Essa é a força que o Império Serrano levará ao desfile. Não apenas a superação de maus momentos da escola, mas também as histórias individuais de quem a tornou exatamente o que simboliza: a realeza.

Alex Neoral e Marcio Jahú prometem comissão de frente unindo dança, movimento e surpresa na Vila Isabel

Após três anos à frente da comissão de frente da Viradouro, a dupla Alex Neoral e Marcio Jahú aguardam os minutos para estrelarem na escola de Noel. Marcio comentou a felicidade em estar de volta e agradeceu pela segunda chance que recebeu da agremiação.

“A Vila é uma casa onde eu já estive em outros momentos, está sendo um prazer estar de volta, na escola de Noel, na escola de Martinho. A responsabilidade de estar à frente da comissão é sempre muito grande, e quando a gente retorna, acredito que é mais um voto de confiança que a escola está dando, por isso me encontro muito feliz”.

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Foto: Nelson Malfacini/Site CARNAVALESCO

Alex, que já havia passado pela escola em 2018, afirmou estar muito contente em retornar não só para a Vila, como também a trabalhar com Paulo Barros, um profissional pelo qual ele tem total admiração e considera único.

“Já é a minha décima quarta comissão de frente, já passei por grandes escolas, estar agora na Vila não é um cenário tão diferente dos outros que já trabalhei, mas é uma escola de muita comunidade e tradição. É sempre uma responsabilidade enorme, mas eu fico muito feliz de estar voltando a trabalhar com o Paulo Barros, por ser um profissional que eu tanto admiro. A Vila é uma escola muito séria, que defende muito bem o quesito comissão de frente, tenho me sentido muito abraçado por todos”.

Em entrevista ao CARNAVALESCO, quando questionados quanto a troca de ideias com o Paulo Barros, só elogios. Ambos garantiram máxima afinidade com o carnavalesco e total abertura para sugestões e ideias. “Nós temos muita afinidade com o Paulo, realmente nos damos muito bem. A comissão é construída em conjunto, estamos sempre ouvindo do Paulo o que ele gostaria, e nós também damos sugestões, então o espaço de troca é sempre muito confortável”, garantiu Marcio.

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“Entre a gente não rola aquilo de quem é a ideia, é tudo construído com a mão dos três e com o apoio da direção da escola, que sempre nos escutam e depositam confiança na parceria”, concluiu.

Já Alex, fã declarado de Paulo, completou declarando que além da harmoniosa parceria, se sente sempre em aprendizado ao lado do artista. “Nossa troca é harmônica demais. Não é meu primeiro carnaval com ele, nós sempre funcionamos muito bem. Acredito que ele pense isso da gente também, mas é o que eu acho dele. Admiro muito a seriedade dele, é um modo Paulo Barros que só ele tem, é de dar aula, me sinto em aprendizado o tempo inteiro”.

Tendo um enredo talvez de início mal pré-julgado, cada vez mais o “evoé” vem caindo na graça dos sambistas, principalmente, depois do lançamento do samba. Durante a pesquisa do enredo para o processo coreográfico, os coreógrafos reforçaram a presença de uma temática alegre. Alex também revelou que o principal objetivo do enredo é retratar felicidade e diversão.

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“O assunto em questão, que são as festas religiosas pelo mundo, é um tema bem popular, de fácil compreensão, temos de aproveitar dessa vantagem para conseguir se comunicar bem com a plateia. Saber que o enredo tem tudo para funcionar, me toca de uma maneira esperançosa, de agora trabalhar para pontuar o quesito” comentou Marcio.

Quanto ao que podemos esperar da comissão de frente, a dupla prometeu surpreender. “O que vocês esperam de um trio como esse? ”, brincou Marcio. “Eu e o Alex temos uma característica em comum, que é o excesso de dança e movimento, trabalharemos sempre com isso, porém com o toque adicional do Paulo, que gosta de bastante surpresa”, completou.

“Existe um fator chamado energia, que é único do momento lá da Marquês de Sapucaí, e esse fator não se ensaia. Estamos fazendo o possível, que é se preparar e blindar para que não haja erros e entrar sabendo que vai dar certo, mesmo que seja com frio na barriga”, confessou Alex.

A Unidos de Vila Isabel será a terceira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, no dia 20 de fevereiro, com o enredo “Nessa festa, eu levo fé”.

Riotur conta com drones e mais de 100 câmeras para monitorar os desfiles de 2023

Para entrar na área da Marquês de Sapucaí em dias de ensaio técnico é necessário passar por uma revista no Setor 2, se for assistir no lado par, ou no Setor 3, se for acompanhar pelo lado ímpar. Ambulâncias e maqueiros estão dispostos em lugares estratégicos da Avenida para melhor atender o público e os desfilantes. Câmeras no entorno e dentro da passarela, além de drones, fazem o monitoramento das atividades das milhares de pessoas que passam por lá. Todo esse sistema operacional é gerido pela Riotur, comandado pelo diretor de operações Luiz Gustavo Mostof, e pela Liesa, liderado pelo Coronel Celso.

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Fotos: Matheus Vinícius/Site CARNAVALESCO

Durante os ensaios, que ocorrem aos finais de semana até o dia 12 de fevereiro, o sistema de monitoramento controla 30 câmeras. Porém, nos dias dos desfiles, entre 17 e 20 de fevereiro, haverá mais de 100. Todo esse trabalho é cruzado com cerca de 5000 câmeras do Centro de Operações da prefeitura do Rio de Janeiro e com o apoio dos órgãos públicos operacionais da cidade e do governo do estado – Guarda Municipal, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros.

“A gente distribui câmeras por toda Sapucaí. É um Big Brother. De modo que possamos, com as equipes no campo, tomar decisões operacionais que possam minimizar qualquer tipo de risco ou confusão que aconteça. Fora isso, o aspecto técnico de monitoramento de público ou de multidão passa a ser prioritário até por conta do entrelace que temos com órgãos públicos, Polícia Militar e Guarda Municipal, e com o trânsito também. Rapidamente, a gente consegue alinhar com esses órgãos e tomar decisões estratégicas”, explica Mostof.

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Equipe no comando do monitoramento do Sambódromo

Enquanto o público esperado para os ensaios técnicos é de 40 mil pessoas, os testes de luz e som dos dias 11 e 12 de fevereiro têm uma estimativa de 70 mil presentes. Este número representa quase o limite de foliões que a Sapucaí recebe no Carnaval: 72 mil somando os camarotes com as arquibancadas. Além disso, cada escola do Grupo Especial, por exemplo, leva para a Avenida entre 3 mil e 4 mil componentes. Todas essas pessoas serão atendidas por uma equipe de 20 mil trabalhadores, divididos entre funcionários da Riotur, da Liesa, do próprio Sambódromo, dos camarotes e dos fornecedores. Em resumo, cerca de 100 mil pessoas circularão pelo maior espetáculo a céu aberto da Terra.

Em um megaevento da proporção do carnaval é esperado pela equipe de operações que incidentes aconteçam embora se torça pelo contrário. Quando questionado sobre os procedimentos a serem feitos pela equipe da Riotur caso algo ocorra, o diretor Luiz Gustavo respondeu: “O procedimento sempre é isolar qualquer tipo de área em que esteja acontecendo. Fazer com que as equipes de pronto atendimento cheguem ao local imediatamente. Nós temos diversos postos médicos espalhados. No caso de alguma questão, rapidamente maqueiros chegam até onde a pessoa está passando mal ou outro tipo de confusão que aconteça e encaminham diretamente ao posto médico. E se tiver algum tipo de problema relacionado à saída de ambulância, a gente dá prioridade ao percurso. Todas as rotas de ambulância já estão pré-definidas. Caso haja algum tipo de questão maior que a normalidade, no aspecto operacional, faz parte a anormalidade. Quando se trabalha com um evento dessa magnitude, megaeventos, a gente tem que estar sempre preparado para situações adversas de uma maneira geral. A gente acaba, pelas câmeras, dando toda infraestrutura e todas as informações para a equipe de campo ficar mais segura na ponta”.

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Luiz Gustao Mostof reassumiu o cargo de diretor de operações da Riotur

Para esse suporte, as câmeras são posicionadas estrategicamente. No período de ensaios, as câmeras cobrem os corredores por onde o público chega, a pista do desfile, a praça de alimentação, mas principalmente os acessos. “Nós temos dois grandes acessos, pela Benedito Hipólito, acesso ímpar e acesso par, onde as pessoas são revistadas porque, obviamente, não pode entrar com nenhum tipo de armamento ou objeto cortante. Outras áreas cobertas são a dispersão e a concentração para tomar conta dos integrantes das agremiações. Em ambas as extremidades, além dessa cobertura de imagem, precisa ser feita uma estrutura de iluminação, banheiro e atendimento para dar algum conforto para os artistas do espetáculo”, contou Mostof.

De volta ao cargo neste ano de diretor de operações da Riotur, Luiz Gustavo Mostof diz que, para 2023, foram feitos ajustes na estrutura ao longo do Sambódromo, de acordo com as autorizações do Corpo de Bombeiros, principalmente, na questão de circulação interna. Isso facilitou, por exemplo, a movimentação das pessoas nos camarotes.

“Uma questão prioritária, até o presidente da Liesa e o próprio presidente da Riotur já falaram, é a atenção na pista, principalmente, na questão dos credenciados. Ano passado, parece que teve um probleminha relacionado a pessoas não credenciadas dentro da pista. Nós estamos com um olhar clínico e nós vamos ter algumas pessoas-chave para a gente manter, efetivamente, a pista de desfile para os artistas”, afirmou o diretor.

Abraçando ainda mais a tecnologia, uma novidade para o Carnaval 2023 é o uso de drones. O equipamento será usado para observar lugares que as câmeras podem ter dificuldade de cobrir. Afora isso, o sistema de iluminações cênicas testadas em 2022 será instalado de forma definitiva a partir deste ano. A proposta foi trazida pelo prefeito Eduardo Paes para tornar os desfiles das escolas de samba mais vibrantes e, de agora em diante, a ideia é aperfeiçoar. Luiz Gustavo aposta que em alguns anos os carnavalescos poderão “brincar” com as luzes nos seus carnavais.

“Tem, no Setor 10, uma sala de monitoramento com visão de toda passarela que a gente chama tecnicamente de house mix. Quem sabe, no futuro, tenha um profissional de cada escola brincando [com as luzes] durante o desfile”, instigou o diretor.

Toda essa operação é comandada diretamente da base da Riotur atrás do setor 11 da Marquês de Sapucaí. A complexidade do carnaval exige que a equipe esteja atenta a qualquer tipo de situação e com o mapeamento das providências a serem tomadas para estabelecer a ordem. A folia de 2023 está sendo planejada para ser um evento seguro e zeloso da pista às arquibancadas, da plateia aos componentes das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Entrevistão com Selminha Sorriso e Claudinho para celebrar 30 anos de parceria: ‘o samba tem que reverenciar as pessoas’

Amor, respeito, união e aprendizado. A relação do casal que é a cara do carnaval do Rio continua forte, mesmo após três décadas dedicadas ao samba. Desde o começo, na Estácio de Sá, o que move a união e química de Claudinho e Selminha Sorriso é o amadurecimento em cada etapa que atingiram. E que sem o amor, um pelo outro, e pela avenida, o objetivo de trazer a nota 10 para a Beija-Flor fica impossível.

Após uma série de treinos, o casal recebeu a equipe do site CARNAVALESCO em uma tarde agitadíssima no barracão da escola, na Cidade do Samba. Mesmo cansados, Selminha e Claudinho se produziram e bateram um papo, dentro de um agradável estúdio decorado pelas cores da bandeira, sobre a cumplicidade e o profissionalismo que se confundem com a história da ‘Azul de Branco de Nilópolis’.

Após 30 anos de parceria, qual o sentimento mais presente na relação entre vocês?

Selminha: “Respeito, porque tudo começa pelo respeito. Somos pessoas diferentes, pensamos diferente, agimos diferente, nos encontramos na arte da dança, na amizade e nossas diferenças são superadas pelo respeito que temos um pelo outro. Aí, além do respeito, tem o amor, né? Quase 31 anos juntos e o que nos move realmente é o amor. E para fazer essa manutenção é um respeitando o outro, o jeito um do outro, o pensamento, e se admirando. A gente se admira muito”.

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Claudinho: “A base do respeito mesmo, porque só assim a gente tem o caminho para chegar no nosso objetivo, que é trazer a nota 10 pra escola. Através do respeito, através do querer, da garra, da energia. E trabalhar para que a gente consiga nosso objetivo. Então o respeito é acima de tudo, para que a gente consiga encaixar essa nota 10 dentro do desfile para podermos ajudar a escola a ser campeã”.

Selminha: “Esse tempo todo a gente vem amadurecendo muito, entendendo quando um precisava que o outro puxasse um pouco mais. É essa coisa do remar, você tem o remo, mas quando você precisar que o outro reme um pouco mais. É um exemplo pra falar que um precisa um fortalecer o outro nessa trajetória de mais de 30 anos de parceria, da vida pessoal. Ninguém solta a mão de ninguém. Vamos juntos na fraqueza, na vitória, no aprendizado, no querer aprender. Uma das coisas que move a Selminha e o Claudinho é não se sentar na história. A gente não se acomoda, a gente sempre entende que precisa melhorar. E uma cobrança tão grande um do outro. Eu me cobro pessoalmente, minha licença poética é que eu me cobro muito. Mas tem uma cobrança de nós dois juntos. Claudinho tem a cobrança dele e também tem a cobrança do par. O tempo todo a gente entende que precisa melhorar, que é preciso crescer, que a história só se mantém quando você entende que você precisa aprender”.

Lá, no início, na Estácio, qual foi a maior dificuldade e quando veio o título em 1992, ele foi o responsável por todo o sucesso futuro de vocês?

Claudinho: Eu acho que sim, porque ali foi o pontapé de uma parceria. A gente veio de 1991 para 1992. Foi o grande boom da parceria, onde teve o encontro, onde a gente teve que ensaiar, porque a gente nunca tinha dançado juntos, Ela tinha outros parceiros, outros mestre-salas, eu tive outras parceiras. Era uma coisa onde a gente tinha que encaixar a conexão ali pra poder fazer um bom trabalho. E graças a Deus, a gente conseguiu ali em 1992 fazer bom trabalho, e conseguimos sair campeões juntos com escola”.

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Selminha: É, foi um ano diferente para todo mundo, o casal no seu primeiro ano formando par, a escola vindo de boas colocações, mas ainda não era aquela escola onde as pessoas apostaram que vinha um título, geralmente estavam ficando na mão de algumas escolas que não era a Estácio. A Estácio vinha no quarto, quinto e sexto. E a Mocidade era a grande estrela, era o grande bicho papão da história. E a Estácio veio com um casal iniciando, com um enredo maravilhoso, porque o enredo foi tudo. Ele deu à escola um samba que pegou muito na avenida, porque era uma história muito nossa. Aquele desfile foi inesquecível, imensurável o que eu senti, o que o Claudinho sentiu. Porque você olhar uma arquibancada, eu nunca vi isso em lugar nenhum, nunca tinha presenciado isso esses anos todos como porta-bandeira, em ver de ponta à ponta, o canto e a coreografia, de pessoas que não eram nem torcedores da escola. É isso, é a magia, o samba quando é bom e chega na avenida ele contagia. Quem é sambista, gosta de um bom samba, quer vibrar com aquilo ali”.

Claudinho: “Era um samba que poucos acreditavam, era normal, e na avenida, pra você ver como as coisas que acontecem na avenida são mágicas. Na avenida tudo se transformou. Um dia desses eu tava até passando na avenida, passei pelo Renato Lage, ele tocou nessa tese aí. Ele não esquece até hoje”.

Claudinho, quem é sua referência como mestre-sala? E por qual motivo?

Claudinho: “Cara, eu cresci vendo vários. Eu vim de uma escola de samba que na época se chamava Deixa Falar. Depois se transformou em Estácio de Sá. Cresci vendo Bicho Novo, Nadinho, Cheirosa, rapaziada que era ali do bairro do Estácio mesmo. Depois Chiquinho, Delegado, Lilico, essa rapaziada toda foi referência”.

Selminha, quem é sua referência como porta-bandeira? E por qual motivo?

Selminha: “É muito difícil citar nomes, porque acaba sempre deixando alguém. A minha primeira imagem de porta-bandeira foi da falecida Boneca, foi uma porta-bandeira da Unidos de Lucas, ela foi minha primeira imagem de uma fada, porque porta-bandeira é uma fada. Aquela imagem é muito forte até hoje dentro de mim. Na sequência houve grandes porta-bandeiras que eu admirei. Mas pra não ser injusta e dizer que todas porta-bandeiras estão representadas nela. Porque ela foi uma mulher que venceu todas as barreiras da sua época. Ela conseguiu transcender o preconceito da época, da mulher preta, sambista, da mulher que saía de manhã, de noite, chegava de madrugada. Todo o preconceito que existia, essa deusa, essa rainha, que não está mais entre nós, ela conseguiu vencer e abrir espaço para todas que vieram. Sei quem tem a tia Maria Helena, que eu amo, que me ajudou muito no nosso primeiro ano. Vou deixar assim, minha homenagem à tia Dodo Portela, e deixar um beijo no coração para o casal Maria Helena e Chiquinho, porque alguns dessa geração conseguiram ver eles dançarem. Alguns não viram Dodo, mas nós tivemos esse privilégio. Nesse casal, nessa rainha, homenageamos todos”.

Vocês trabalham como um dos maiores sambistas da história que é o Laíla. Ele mudou vocês de posição e levou o casal para frente do desfile e virou referência. Qual foi o maior aprendizado que vocês tiveram com o Laíla e como era enfrentar os puxões de orelha dele?

Selminha: O maior aprendizado dele era não esmorecer, buscar força mesmo quando você acha que não tinha. Seja na parte física, emocional ou na criativa. Foi um privilégio trabalhar com ele”.

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Claudinho: “Dele, muita coisa, porque ele, praticamente, no nosso início, quando a gente fez essa transição do Estácio para a Beija-Flor, foi um pai para gente. Nos ensinou todo o conhecimento que ele tinha, deu oportunidades de a gente fazer várias coisas, ensinou várias coisas pra gente dentro do carnaval. Ele era a referência do que era pra fazer dentro do carnaval. A gente só elaborava e ele dava o caminho de ‘vai embora, vai nessa aí’. Ele só olhava. Só no olhar sabia quando ele tava bravo e sabia quando ele estava tranquilo”.

Selminha: “O não puxão de orelha era um elogio, porque ele pouco elogiava e muito ensinava. Então, sabe aquele pai que não fala nada, está tudo bem? Era ele. Mas quando vinha falar, era alguma coisa que precisava melhorar. E algumas vezes, quando eu achava que ele tinha se excedido, ele ouvia. Muita gente achava que ele era uma pessoa que não ouvia, mas ele ouvia”.

Claudinho: “Ele tinha um ouvido e um olhar de águia. Ele era um cara que enxergava as coisas lá na frente. E ele gostava das coisas muito perfeitas. Era um cara visionário. Hoje, se você for ver lá o ranking dele, as histórias, você vai comparar… ele foi um cara pioneiro. Um cara que fez pelo samba muita coisa bonita”.

O mestre-sala vem sempre muito cobrado em cortejar mais a porta-bandeira do que dançar sozinho. Acha que falta mais esse “olhar” do mestre-sala para porta-bandeira?

Claudinho: “A dança mudou um pouco. Como a gente é um casal tradicional, a gente acompanha a tradicionalidade dos antigos, porque a gente não pode deixar morrer o que os antigos fizeram, os antepassados. O que a rapaziada fez, o que o Delegado fez… Tantas pessoas fizeram pelo samba, pela dança, defendendo o pavilhão, protegendo a porta-bandeira, fazendo o seu riscado na hora certa, no momento certo. Tudo tem começo, meio e fim. Ela tem cada momento de glamour, é a dança dos nobres. É a dança do cortejo, a proteção à sua porta-bandeira, proteção ao pavilhão, que é o símbolo maior da agremiação. A gente que é um casal tradicional, a gente acompanha esse legado que as ancestralidades deixaram para gente”.

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Ser uma das maiores mulheres do carnaval é muita responsabilidade, mas é muita pressão também. Como você encara essa missão de ter que entregar nota, ser cobrada e também ser adorada?

Selminha: “O mais legal dessa história é ser adorada. Bom, eu não me sinto assim. Eu acho que ver o carinho das pessoas, o respeito, é o que você entrega e você recebe o que você entregou. Quando eu recebo um elogio, um gesto de carinho, um abraço, eu fico muito agradecida. E tenho pra mim que aumenta a minha responsabilidade de entregar tudo que esperam de mim. A arte da dança com o Claudinho, porque sem ele eu não sou ninguém, não existe a porta-bandeira sem o mestre-sala e vice-versa, ser uma pessoa que as crianças gostam, e eu quero estar perto das crianças, porque é o público alvo, e sempre usar de empatia. A gente teve que entender na pandemia o quanto que precisamos um dos outros, o quanto somos frágeis aqui no plano terrestre, ninguém é forte sozinho, o barco precisa de várias mãos, de vários braços, pra chegar em algum lugar, então foi um grande ensinamento a pandemia pra mim. Eu tentei melhorar, eu já estava em um processo para melhorar como ser humano. Vou errar, vou continuar errando, mas a pandemia me deu essa noção de que eu preciso ser mais simpática, mais cortês, mais solidária, mais humana, mais amiga, mais mãe, mais parceira, e eu tenho gostado da Selminha desse jeito, me dá uma paz interior. Hoje eu quero menos do que antes. Hoje eu quero o suficiente. Esá tudo bem, se hoje não foi tão bem, há dias e dias, amanhã vai ser melhor. Eu também aprendi a agradecer mais do que eu peço”.

Em algum momento nesses 30 anos surgiu o convite para vocês saírem da Beija-Flor ou dançarem separados? Como foi e o que falaram?

Selminha: “Nunca fizeram isso com a gente, nunca ninguém convidou. Só em outras escolas, de outros estados, mas nunca sozinha, sempre juntos. Eu acho que as pessoas entendem essa relação muito forte com a Beija-Flor. Como se fosse sagrado. É uma relação de ancestralidade, de uma escolha dos deuses do samba, costumo brincar assim com as pessoas. Nós não somos estrela. A gente ocupa um papel de dois personagens que estão sempre aprendendo. Estamos construindo uma história, e uma história bem bonita”.

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Claudinho: “Não tem como mudar porque a gente veio da comunidade, a gente veio da favela. Chegar hoje, praticamente, mantendo essa história dentro da agremiação, junto da família, é uma coisa maravilhosa”.

Qual é o desfile inesquecível de cada um nessa parceria de 30 anos? E por qual motivo?

Selminha: “Pra mim, 2001, Agotimé. Porque foi meu primeiro ano como mãe. Eu exerci a função que meu coração escolheu e depois do meu sonho, veio o Igor, ele tinha 4 meses. Fora que era o enredo. Era o enredo e o samba, falar da rainha Agotimé. A rainha africana, que chegou no Brasil, foi vendida por um filho, o filho ficou com inveja do outro filho, enfim… É uma história que é nossa, porque ela veio pra cá e morou lá em São Luís do Maranhão, nós fomos até a casa dela, cheguei a visitar a casa. Pra mim foi esse desfile. Inesquecível”.

Claudinho: “Guiné, 2015. Aquela história toda do ‘Canta, Guiné Equatorial. Criança levanta a cabeça, e vai embora’. Esse ano pra mim, de todos eles, foi o que eu mais vi em mim”.

Acreditam que o julgamento do quesito nos próximos anos voltará a ser mais focado na dança ou a coreografia chegou para ficar e ganhar mais protagonismo?

Selminha: “Esse encontro com os julgadores recomeçou ano passado, foi justamente visando isso. Que a dança seja muito mais livre, muito mais evidenciada como a dança do povo preto, do que a dança clássica. Os julgadores se encantam, eles querem ver e julgar a dança preta, a dança da ancestralidade, da superação, a dança do reconhecimento que deu ao povo preto dignidade. Dois dançarinos de uma cultura preta popular de resistência. É legal que essa parte do ballet, do jazz, seja implementada ao casal pra lapidar. Houve uma evolução, muita coisa mudou. Para hoje, o que estamos vivendo, ter um coaching, ter um acabamento na mão, no pescoço, na finalização, é perfeito. Não pode mexer, tirar a originalidade. A criação tem que vir do casal, e a lapidação do casal”.

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Claudinho: “Se você mexe muito, você mata a tradição daqueles que deixaram a tradição pra gente”.

Selminha: “As agremiações estão muito equiparadas hoje em dia, elas vêm brigando pra ficar entre as seis, salvo uma outra, por dificuldade financeira ou administrativa mesmo. Nas grandes maiorias ficam em condição de ganhar. Você pega um desfile e fica ‘caramba, meu Deus, tudo lindo’. Carros lindos, roupas lindas. Já foi tempo que as escolas ganhavam de muitos décimos. A Beija-Flor já ganhou de um ponto e três décimos, era muita coisa, sobrou. Hoje é muito difícil, é de um décimo, dois, três. Por conta da grandiosidade do espetáculo, as escolas estão pegando muito dinheiro, investindo mesmo no carnaval, isso é muito importante”.

O que não pode faltar em um mestre-sala perfeito?

Claudinho: “Acho que a proteção do pavilhão, e a proteção da sua dama, eu acho que isso aí é o essencial e coisas que não podem faltar. Duas coisas valiosas, uma é o pavilhão, que representa toda a escola de samba, toda uma nação; e sua porta-bandeira que é a sua dama, sua namorada, sua ‘partner’”.

Você vem falando que vem aprendendo demais com os enredos da Beija-Flor. Qual é a diferença da Selminha de antes e depois desses enredos?

Selminha: “Eu sou hoje uma mulher que me encontrei quando eu conheci ‘Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor’ e que orgulho de ter me reconhecido e me encontrado mulher preta, moradora de comunidade, sambista, mãe solo… Esse orgulho que tenho hoje, por conhecer um pouco mais da minha história, da história da minha gente, eu devo ao samba, porque as escolas de samba sempre foram protagonistas da voz da nossa gente, que encontrou neste espaço pra contar, pra reivindicar, e para se homenagear também. Quantos enredos africanizados nós tivemos em homenagem a grandes personagens da nossa história, que a sociedade não vai fazer. Talvez hoje, mas antes não. Ocupar esse espaço da Selminha… dentro de mim, da Selminha que foi moradora da comunidade quando criança, dessa mulher que lutou, conseguiu estudar e se formar em direito, dessa mulher que hoje é primeiro-sargento do corpo de bombeiros. Eu tenho um trabalho com as crianças, que quer ser mais… Hoje apresentadora de programa de televisão, em tv aberta, e cheio de coisas acontecendo aí, que depois eu conto… Imagina que orgulho da minha mãe, que lá do plano espiritual sente de mim, que orgulho do meu filho deve sentir de mim, que orgulho de ver a mestra Ione Carmo, ouvindo um pouquinho da nossa história deve se sentir. Porque se eu soubesse o quão bom era estudar, o quão bom era saber, eu tinha estudado mais. Olha que eu aproveitei bastante as minhas oportunidades, mas poderia ter aproveitado muito mais, porque o saber não ocupa
espaço. Quanto mais conhecimento você tem, você pode ajudar a transformar uma história. E o que eu tenho aprendido, eu tenho compartilhado com os alunos do Instituto Beija-Flor modalidade carnaval, porque são várias modalidades neste instituto. Sou uma mulher que estou me encontrando quanto brasileira no enredo ‘Brava gente, o grito dos excluídos do bicentenário da Independência’ quanto brasileira, eu me encontrei. Descobri que as mulheres pretas não tinham protagonismo, elas eram invisibilizadas, que as lutas travadas pelo povo preto, pelos indígenas, para que tivessem realmente liberdade, a história não conta. Houve um apagamento dessa história”.

Passa na cabeça de vocês que um dia vai chegar o momento de parar? E quando acontecer como vocês querem que seja esse momento?

Selminha: “A gente nem se prepara para isso. A gente tem tanto gás, tanto amor, tanta credibilidade para estar onde estamos, que a gente nem pensa nisso. A escola ama a gente, acredita na gente. A cada ensaio, a gente percebe que dá pra continuar. E esse desejo de que dá pra continuar é tão forte que parece que os deuses do samba falam assim:’Deixa os caras, que foram eles que nós escolhemos para mostrar que não tem tempo, que não tem hora’. Que esse paradigma que umas pessoas constroem a vida dos outros tem que ser quebrado, imagina quantas pessoas podem fazer tantas coisas, aí vem o outro e fala ‘ah, mas você não acha isso?’ Eu pratico crossfit, futevôlei. A gente tem uma pegada tão boa de energia, de força física, e fazendo história. Serve para esses jovens que estão começando, porque Claudinho e Selminha fizeram, ‘a gente pode também’. Isso não é lindo? Ouvir o Neguinho cantar, com setenta e poucos anos. O samba tem que entender que o samba tem que reverenciar as pessoas e fazer história, porque elas servem como inspiração. Se eu estivesse começando falaria assim: ‘Cara, eu estou na era, dançando no mesmo patamar, no mesmo espaço que Claudinho e Selminha, eles têm 30 anos juntos, eu não era nem nascido’ Eu ia me orgulhar muito”.

Claudinho: “Eu te dou uma referência no samba, ‘Deixa Nilópolis cantar’.

Qual é a declaração que a Selminha fala olhando para o Claudinho? E qual é a declaração que o Claudinho fala para Selminha?

Selminha: “Eu agradeço por você existir na minha vida. Nós agradecemos muito o tempo todo. Porque ninguém solta a mão de ninguém, estamos juntos”.

Claudinho: “Agradeço também. É um casamento, na alegria, na tristeza, na saúde e na doença. Tem seus percalços? tem. Mas é importante. A gente foi amadurecendo e continuamos amadurecendo juntos”.