Freddy Ferreira analisa a bateria da Vigário Geral no desfile
A bateria da Acadêmicos de Vigário Geral fez um desfile muito bom, sob o comando de mestre Luygui. Num ritmo marcado pela pressão do impacto sonoro envolvendo os surdos, nos arranjos musicais plenamente integrados à melodia do samba-enredo da escola.
A cozinha da bateria contou com uma afinação de surdos grave, que deixava a bateria da Vigário particularmente pesada. Marcadores de primeira e segunda foram firmes e precisos. Os surdos de terceira deram um inegável balanço a “Swing Puro”, assim como caixas consistentes e repiques coesos auxiliaram de forma substancial no preenchimento da musicalidade.
A cabeça da bateria exibiu um trabalho privilegiado das peças leves. O naipe de agogôs tocou de modo sólido, pontuando a melodia do samba com sua convenção com qualidade. A ala de cuícas se apresentou corretamente, ajudando a complementar a sonoridade. Uma ala de chocalhos com nítido potencial musical tocou de forma atrelada e integrada a um naipe de tamborins profundamente técnico. O resultado permitiu que a musicalidade da parte da frente do ritmo da bateria da Vigário Geral fosse praticamente irretocável, diante de tamanha virtude sonora.
Viradas foram percebidas na segunda do samba e antes do refrão meio, auxiliando no dinamismo sonoro da bateria da Acadêmicos de Vigário Geral. Uma nuance rítmica envolvendo surdos complementou a versatilidade musical da bateria da Vigário, na primeira do samba. O arranjo curto, mas imensamente eficaz foi notado com a finalização de três tapas dos surdos em conjunto (Tum-Tum-Tum!), no verso “Teu sorriso encontrou essa fábrica de paz”. Outro movimento que exibiu versatilidade musical foi a virada do refrão do meio para a segunda do samba, que com um toque bem pontuado das caixas de guerra consolidou o ritmo propiciando posteriormente boa fluência entre os naipes.
A desafiadora paradinha do final da segunda do samba demonstrou bom gosto, sendo exibida pelos ritmistas sempre com alegria. A bateria diminui seu volume sensivelmente no trecho “lugar de fala”, enquanto nesse momento todos os ritmistas se abaixavam. No final do belo verso “A inocência é Mestre Sala e a vida é Porta-bandeira” todo o ritmo começa a se levantar enquanto efetua uma subida com aspecto progressivo, antes de finalizar a bossa com tapas ritmados, seguido de balanço de surdos e um molho incontestável do bom naipe de caixas de guerra. O arranjo musical do refrão principal era apresentado logo após esse, que termina com corte seco nos primeiros versos do estribilho.
A bossa do refrão principal começa com o surdo de primeira mais próximo do carro de som marcando o samba para os cantores. Em seguida, um tapa em conjunto de toda a bateria faz um efeito explosivo na palavra “escola”, que é acompanhado de um “Swing Puro” muito envolvente propiciado por caixas uníssonas e marcadores precisos, com um ritmo que fez jus ao apelido da bateria da Vigário. Os surdos são utilizados de forma a dar pressão no arranjo musical que permitiu sobretudo uma boa interação popular.
A melhor exibição da bateria da Vigário em frente a cabine de julgamento foi no segundo módulo, havendo uma boa recepção por parte do julgador, após uma apresentação irretocável. No primeiro módulo, de cabine dupla, a apresentação ritmicamente foi boa, mas acabou não dando tempo de exibir paradinhas exatamente em frente ao módulo, somente antes ou depois. O mesmo problema acabou sendo evidenciado no último módulo de jurado, onde uma exibição relativamente curta impediu a “Swing Puro” de curtir da maneira que merecia o grande sacode da bateria dirigida por mestre Luygui.
Tradição e resistência, as baianas do Arranco desfilam representando a herança do semba e as mães do samba
As baianas do Arranco de Engenho de Dentro serão a primeira ala a entrar na Marquês da Sapucaí neste primeiro dia de desfiles da Série Ouro. Elas passam pela Avenida representando as Mães do Samba, aquelas que trazem a herança do semba e deixam em evidência a ancestralidade para o carnaval. Elas estavam vestidas todas de branco, com detalhes de estamparia a geométrica e cabeça com um arranjo de capim dourado. Dentro da escola de samba, essas senhoras significam a tradição e resistência, segundo a coordenadora da ala Jennifer Christie de 40 anos.
“Elas são as matriarcas do samba, o simbolismo de Tia Ciata. Elas deixam um legado de resistência para todas as escolas de samba e tradição. Eu espero que a juventude saiba que ser baiana também é empoderamento feminino, luta, ancestralidade e combate ao racismo e machismo. É a força da mulher”, disse a coordenadora.
Com o passar dos anos, há a queda do interesse das pessoas em participar da ala. Jennifer acredita que isso é resultado da falta de renovação de pessoas, a crise econômica e os reflexos da pandemia de COVID-19. Para atrair mais mulheres para a ala das baianas, a coordenadora afirma que é necessário um trabalho de base, com crianças e adolescentes.
“É um trabalho de base. As escolas de samba precisam ir nas escolas de educação infantil ao ensino médio. Levar o grupo de baianas e explicar quem a Tia Ciata e o poder do matriarcado das mulheres do samba”, argumentou Jennifer Christie.
O amor por representar esse segmento é nítido para Damiana Pereira de 59 anos, que há cinco desfila como baiana. Ela diz se sentir flutuando ao “incorporar” a baiana através da fantasia. Para ela, as baianas vão além da idade.
“Baiana representa a bondade, a mãe, a prosperidade, a cultura de um povo. Todo que é de axé, de alegria e de saúde está nas baianas. Não é só a idade que transparece nas baianas, é o espírito da baiana que fica e fica o legado para as outras desfilarem com alegria e com amor”, comentou Damiana.
Já Noelma Luíza, de 58 anos, já é baiana de escola de samba há 10 anos, embora seja sua primeira vez no Arranco. Insulana, ela tem em si a vontade de desfilar no máximo de escolas possíveis representando o segmento. A desfilante acha importante um olhar mais atencioso às baianas pelas agremiações.
“Baiana é um segmento importante em toda escola, é a tradição e é o coração da escola de samba. Eu escolhi ser baiana por ser a oportunidade da época, eu queria desfilar pela Ilha. Eu agarrei com unhas e dentes e estou aqui há 10 anos nessa vibe de desfilar em várias escolas como baiana”, contou Noelma.
Sabedoria, carinho, simpatia e espírito maternal são características que Regina Dalva, de 71 anos, acredita que sejam as mensagens que as baianas passam para o carnaval. Ela relata que em casa não conseguiu converter suas filhas e netas em baianas, mas revela que várias companheiras de ala tem linhagem de baianas na família.
“Nós somos as mães do samba e elas estão bem representadas. As baianas que têm devem ser preservadas com muito amor e carinho, porque é paixão! Eu conheço muitas que tem mãe e filha baianas, desfilam desde pequena na ala”, disse Regina.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Lins no desfile
A bateria da Lins Imperial fez um desfile que deixou musicalmente a desejar, sob o comando de mestre Átila. Alguns desajustes sonoros puderam ser identificados, fazendo com que a passagem do ritmo da escola do bairro da Lins de Vasconcelos ficasse aquém do que poderia ter sido apresentado.

A cozinha da bateria exibiu surdos de terceiras com desenhos rítmicos que buscavam dar balanço ao ritmo da bateria da Lins Imperial. Marcadores de primeira e segunda ditaram o andamento, mas poderiam ter tocado com mais leveza, pois o excesso de força às vezes causou certa oscilação rítmica no entorno. Caixas de guerra e repiques completaram a sonoridade dos médios de modo correto.
A cabeça da bateria contou com uma ala de cuícas consistente. Um naipe de tamborins dando bom volume a sonoridade foi percebido, efetuando uma convenção simples, mas de forma eficaz. Uma ala de agogôs que pontuou a melodia samba com seu toque deu valor sonoro à parte da frente do ritmo. A ala de chocalhos, lamentavelmente, não apresentou nível técnico semelhante as demais peças leves, exibindo alguns desencontros rítmicos e certa inconstância durante o percurso.
Como forma de dar dinamismo sonoro ao ritmo foi realizada uma subida de três mais elaborada, praticamente em todas as passadas na cabeça do samba enredo. O arranjo, que é auxiliado pelo balanço dos surdos de terceira em certo momento, ajudou na versatilidade rítmica da escola do bairro do Lins de Vasconcelos. Foi o arranjo musical exibido de forma mais sólida durante o desfile, demonstrando sua funcionalidade.
A escolha musical foi fechar a bateria no refrão do meio aproveitando a unidade sonora de tapas consecutivos envolvendo todas as peças em conjunto: um, depois dois (o popular Tum, Tum-Tum!).
A bossa da cabeça do samba foi a de narrativa rítmica mais extensa (paradinha longa). Usou a acentuação de repiques solistas, utilizando tanto repiniques, quanto repiques mor. Se aproveitando do impacto sonoro provocado pela pressão dos surdos junto às demais peças para consolidar o ritmo. A retomada é marcada evidenciando o grau de dificuldade elevado do arrajjo, que só é finalizado na segunda passada do refrão do meio. Ao longo do desfile, infelizmente apresentou irregularidade na execução da convenção.
Na segunda do samba foram executadas duas paradinhas, quase sempre apresentadas em sequência. No trecho “Quem nasceu pra enfrentar o furor das multidões” foi possível perceber um balanço de Xaxado, conectado ao que a música pedia, além de representar um acerto cultural, já que atrela a nordestinidade do homenageado à musicalidade da Lins Imperial.
Já a bossa do final da segunda foi marcada por tapas em conjuntos de todos os naipes, antecedendo um solo envolvendo ritmistas com timbal já no refrão principal, que ainda abaixavam. Após isso, o ritmo era retomado de forma ousada e desafiadora durante a segunda passada do estribilho, complementado pelo balanço dos surdos. Algumas inconstâncias puderam ser percebidas durante a apresentação da convenção, tendo sido irregular sua execução pela pista. Mesmo com deslizes, o movimento teve retorno interessante do público.
As apresentações nas duas primeiras cabines apresentaram irregularidades sonoras no momento da execução de bossas. Mesmo realizada de forma ligeira devido a problemas na evolução da escola, a apresentação no último módulo acabou sendo a mais consistente, mas também só foi executada a subida de três mais elaborada e não os demais arranjos musicais dos dois primeiros. O desfile da bateria da Lins Imperial de mestre Átila se mostrou infelizmente inconstante.
Freddy Ferreira analisa a bateria do Arranco no desfile
A bateria do Arranco do Engenho de Dentro fez um desfile próximo de correto na abertura da noite de sexta-feira, sob o comando de mestres Marley e Cabide. Uma bateria “Sensação” pesada, graças ao timbre mais grave peculiar da escola do Engenho de Dentro.
A cozinha da bateria exibiu uma afinação particularmente grave, inserida nas tradições da bateria do Arranco. Marcadores tocaram de forma firme e precisa. Surdos de terceira deram balanço ao ritmo, que ainda contou com caixas de guerra e repiques corretos que auxiliaram a preencher a musicalidade, mesmo diante da dificuldade sobressair os médios diante de uma bateria com considerável peso.
Já a cabeça da bateria apresentou um trabalho de virtude sonora. Uma ala de tamborins que tocou de forma coesa, fazendo um desenho rítmico seguindo as nuances melódicas da obra da escola. Uma ala de chocalhos de inegável qualidade musical foi notada, junto de cuícas de nítida técnica, dando leveza à parte da frente do ritmo. Completando as peças leves, os agogôs fizeram uma convenção rítmica explorando a melodia, complementando a sonoridade.
Como forma de buscar dar dinamismo sonoro ao ritmo, a escolha musical foi logo após a subida fechar a bateria rapidamente, retomando o ritmo logo em seguida, no final do trecho “Engenho de Dentro” no início da primeira do samba-enredo. A versatilidade também é demonstrada posteriormente, no trecho “Corpo Alufá” quando a bateria “Sensação” utiliza o mesmo recurso de corte seco, seguido dessa vez de dois tapas, para retomar o ritmo na sequência, destacando ainda mais a bela melodia e letra da cabeça da obra do Arranco. Uma virada na segunda do samba também deu impacto sonoro a bateria do Arranco. No verso “Salve Paulo, Heitor, Caetano e Madureira” os surdos de terceiras conduzem com balanço até o momento de virada, num acompanhamento de bom gosto musical.
A construção musical apresentada no final da segunda do samba mostrou a pressão aliada ao ritmo da bateria “Sensação”. O último verso antes do refrão principal é cantado em coro, após um corte seco, com as terceiras em seguidas chamando o ritmo de volta, numa concepção desafiadora, mas bem executada. A finalização da bossa ainda incluiu toques ritmados entre todos os naipes, com conclusão de três tapas consecutivos de todas as peças, dando um aspecto particularmente explosivo ao ritmo do Arranco do Engenho de Dentro.
A bossa da cabeça do samba é iniciada ainda no último verso do refrão principal, quando repiques fazem um toque chamando o ritmo para efetuar o arranjo musical. A batida explosiva, tanto na constituição, como na retomada, ficou por conta da participação dos surdos, com demais naipes marcando o ritmo na paradinha, contando ainda com tapas em conjunto para finalizar com impacto sonoro. A ousadia rítmica em sua constituição fez ser a bossa mais complexa e de alto grau de dificuldade de execução.
A paradinha de maior destaque foi a da segunda passada do refrão do meio. A sonoridade envolvendo um arranjo musical que mesclou ritmo e uma concepção que remetia à bateria da Mangueira foi o ponto alto da musicalidade do Arranco. Na primeira parte da bossa, as terceiras usaram duas macetas para consolidar o ritmo. Posteriormente, uma subida de tamborins marcou o ponto de virada para a levada mangueirense que a azul e branca do Engenho de Dentro exibiu. No compasso seguinte da subida, marcadores fizeram o toque da primeira marcação da verde e rosa, enquanto as terceiras usaram a intenção musical do surdo mor. A bossa muito bem pensada ainda possui uma finalização que é uma batida clássica da Estação Primeira, se revelando um acerto cultural que atrela a sonoridade apresentada ao enredo em homenagem a Zé Espinguela.
A melhor apresentação em cabine de jurado da bateria do Arranco foi no último módulo. Foi possível notar um leve desajuste sonoro envolvendo os surdos na apresentação do segundo módulo no momento da finalização da cabeça do samba, mas como foi sutil, talvez não seja descontado pelo julgador por falta de percepção sonora. Vale ressaltar que o som no início da pista estava inconstante, fazendo com que os julgadores do primeiro módulo tivessem que erguer o corpo para frente, na tentativa da melhor audição possível. A apresentação na primeira cabine transcorreu sem maiores problemas evidenciados da pista de desfile.
Integrantes do Arranco desfilam orgulho e identidade com a homenagem a Zé Espiguela
O Arranco teve o desafio de ser a primeira a escola a desfilar pela Série Ouro no Carnaval 2023. Com um enredo que evoca suas raízes, a agremiação veio homenagear o sambista, jornalista e líder religioso Zé Espinguela, o precursor dos desfiles. Naquela época, a disputa foi entre os blocos que se tornariam a Portela, a Estácio de Sá e Mangueira.
O vínculo do enredo com o bairro foi importante para unir mais a escola nessa volta para a Sapucaí. A aposentada Rosângela Leonardo, de 65 anos, desfila no Arranco desde seus 16 anos e já teve oportunidade de estar na Sapucaí com essa sua escola do coração. Para ela, onde a azul e branco do Engenho Dentro estiver ela estará.
“As pernas tremem, dá um suadouro! Eu tomei calmante. No ensaio técnico quando eu cheguei no final eu estava gelada. Eu fui nascida e criada do lado de Arranco. Minha avó não deixava eu ir e ficava esperando a bateria acabar de bater para eu ir dormir. Eu tinha que ir com primos ou irmãos mais velhos e eles não queriam me levar. Eu ficava de castigo olhando a quadra sentada no quintal”, contou Rosângela.
Moradora do Méier, Gabriela Ribeiro, de 29 anos, se sente fazendo parte de um momento histórico para o Arranco. A responsabilidade de abrir o Carnaval da Sapucaí é um emoção, porém de forma positiva.
“A escola subiu depois de muitos anos, então é uma emoção legal. Eu me sinto fazendo parte de algo novo, importante e histórico. É a escola do bairro que eu nasci, eu frequentava na minha adolescência”, disse Gabriela.
João Carlos Martins, jornalista, de 26 anos, desfila na Beija-Flor há 10 anos, mas escolheu entrar no Arranco para ser começar o Carnaval com pé direito. Para sentir o clima da folia, chamou até um amigo do Sul para desfilar ao seu lado, em uma ala que representa a Portela.
“O Arranco tem uma tradição muito forte no carnaval e é muito bom ver essas escolas que têm uma história muito grande voltando para a Sapucaí. Ter o Arranco de volta, poder fazer um pouquinho parte da trajetória dessa escola e lutar pela escola ficar na Série Ouro vai ser muito importante. Estou muito feliz de estar aqui”, argumentou o desfilante.
A responsabilidade aumenta quando se faz parte de uma ala coreografada. Amanda Olivia, de 34 anos, faz parte da “Luz do axé no Rio de Oxóssi” sente a emoção e o calafrio de abrir o desfile. Além disso, reverencia a representatividade do enredo sobre Zé Espinguela.
“É muito desfilar em uma escola que acabou de subir depois de tantas dificuldade despois de 10 anos. É um orgulho poder estar pisando com o Arranco comemorando esse momento mágico”.
Acadêmicos do Tatuapé canta forte para homenagear Paraty
A paradisíaca cidade de Paraty não merecia nada menos que um tão estupendo desfile de carnaval. Já cantada por outras agremiações, em 2023, foi a vez da Acadêmicos do Tatuapé cantá-la com uma apresentação com forte canto da comunidade, apresentação muito segura do casal de mestre-sala e porta-bandeira e clara identificação do enredo. Apesar dos ótimos pontos, a escola teve um problema em um detalhe no carro abre-alas e uma Evolução irregular para defender o enredo “Tatuapé Canta Paraty! Do Caminho do Ouro à Economia Azul. Patrimônio Mundial, Cultura e Biodiversidade. Paraty Cidade Criativa da Gastronomia”, encerrado com 62 minutos. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
Harmonia
Comandada por Edu Sambista, o chão da agremiação da Zona Leste paulistana, mais uma vez, teve grande destaque. A região, conhecida pelas escolas de samba com forte canto dos componentes, honrou a tradição. Diversos staffs no corredor da passarela pouco se preocupavam com a execução do samba-enredo pelos componentes – Eduardo Santos, um dos presidentes da agremiação, que acompanhou boa parte do desfile na entrada do recuo da bateria, embora estivesse tranquilo, pedia para que os harmonias “não deixassem cair” o canto.
Outro desafio do segmento teve alguns poucos problemas. Por pelo menos três vezes, staffs precisaram pedir para que os componentes se atentassem ao alinhamento das alas. Nada, entretanto, que pudesse comprometer o ótimo desempenho do quesito.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Com a fantasia “Paraíso de Belezas Naturais, Preservação e Sua Biodiversidade”, Diego do Nascimento e Jussara de Sousa desfilaram representando tudo o que o cenário da cidade do sul fluminense traz para artistas – e, claro, para quem visita a cidade.
Dos casais mais celebrados do carnaval paulistano, o casal, mais uma vez, veio bastante leve e exalando carisma e segurança – combinação rara e bastante desejável para qualquer dupla. Vale destacar que os componentes, ao contrário de outros parceiros de segmento, giraram bastante, não economizando no bailado, sem interagir tanto assim com o samba-enredo. Importante destacar, também, a leveza de Jussara – que, em determinados momentos, sentia-se à vontade para girar mesmo com Diego observando-a, com olhar de quem está satisfeito com o que vê.
Enredo
Buscando sintetizar a rica história da cidade, a Acadêmicos do Tatuapé criou um enredo contando como a própria escola estudou, observou e interagiu com séculos de existência ao sintetizar o enredo “Tatuapé Canta Paraty! Do Caminho do Ouro à Economia Azul. Patrimônio Mundial, Cultura e Biodiversidade. Paraty Cidade Criativa da Gastronomia”.
Cada setor mostrava, de maneira bastante clara por meio das fantasias, qual ponto era o objeto de análise em questão. Nos primeiros espaços, segmentos exaltando índios, europeus e produtos que deram fama à cidade. Depois, a imensa lista de eventos que acontecem na cidade ganha espaço. O terceiro fazia menção a locais do município e, também, exaltava a fauna e a flora – em pontos bastante distintos de amarração complexa. Por fim, no final, surge o recado de preservação da natureza e da biodiversidade.
Samba-Enredo
Um dos tantos sambas elogiados pela crítica e pelo público, a canção que embalou todo o desfile teve desempenho bastante elogiável – como era notado em ensaios de quadra e técnicos. A música teve ótima condução da parte de Celsinho Mody, intérprete da agremiação, mais uma vez conclamando a escola e a arquibancada a cantar junto com os componentes.
Destaque também para a Qualidade Especial, bateria da Acadêmicos do Tatuapé, comandada por Mestre Higor. Executando dois apagões ao longo da apresentação, ela empolgou desfilantes e espectadores com diversas bossas. Uma delas, um breve apagão em um verso no qual todos cantavam um simples “Ê ê ê ê,”, movimento a instituição durante toda a exibição.
Comissão de Frente
Representando o mar, tão belo e abundante em Paraty (e obviamente intitulada “Belezas do Mar), o primeiro segmento da escola, coreografado por Leonardo Helmer, tinham peixes conduzidos pelo canto da sereia – citado no samba-enredo e com a personagem mitológica com uma fantasia diferenciada dos demais. Com todos os componentes com maquiagem artística, eles antecediam o quadripé “Portal: Paraty”, cheio de seres marítimos.
A fantasia, inteiramente azul e branca (cores da escola e do mar de Paraty, obviamente), tinha barbatanas que se movimentavam, trazendo dinamismo. A sereia, destacada, tinha um visual mais azul que branco. Em toda a performance, não foram observados erros de coreografia, com muitos sorrisos e segurança na dança de cada componente. Os bailarinos, por sinal, marcavam o samba-enredo em uma coreografia que durava uma única passagem do samba.
Fantasia
Tal qual tudo que foi idealizado pelo carnavalesco em protótipos, tudo foi visto na prática bem como imaginado. Se as partes mais próximas dos componentes não tinham tanto luxo, os complementos (como adornos, esplendores e costeiros) tinham materiais mais caros. Em momento algum foi visto problemas com o acabamento de fantasia alguma.
Alegorias
O carro abre-alas, acoplado com dois chassis e intitulado “Jazida do Mar Onde Canta a Sereia”, veio predominantemente azul e deixando clara a riqueza da biodiversidade do mar do local – e, por isso, tinha diversas esculturas de peixes, polvos e etc), com destaque para uma escultura de Netuno, deus grego dos mares. Também haviam escultura dos Tritões, filho da referida entidade da Grécia Antiga.
A cultura indígena marcou presença no Carro 02, com o nome “Ancestralidade Indígena: Arte Esculpida Pelas Mãos”. Com as pinturas características dos nativos, a escultura de uma cabeça de índio saindo da água tinha destaque, com roupas e acessórios típicos.
O famosíssimo Centro Histórico da cidade marcou presença no Carro 03, que ganhou o nome de “Centro Histórico, Lendas e a Gastronomia Criativa da “Veneza Brasileira”. A igreja de Santa Rita, ponto turístico do município, tem as ruas de pedra típicas e o sobe-e-desce das ondas – que deram origem ao apelido da cidade, de “Veneza Brasileira”.
A alegoria que fechou o desfile, com o nome “Paraíso de Belezas Naturais, Preservação e Sua Biodiversidade”, representava a abundante natureza da cidade, com e montanhas, cachoeiras, florestas, parques e, claro, o mar. O fato de ser considerada Patrimônio Mundial tombado pela UNESCO, órgão ligado à ONU, também ganha destaque.
No desfile, praticamente tudo que foi exibido estava a contento com o que era esperado. No carro abre-alas, que soltava divertidas bolhas de sabão, entretanto, houve um pequeno deslize: um dos peixes, que estava na lateral da alegoria, balançava mais que o normal por conta da queda de alguns detalhes que circundavam a escultura. Os demais carros não tiveram erros notados.
Evolução
O terceiro carro da escola chegou inteiro ao Setor C do Anhembi com mais de quarenta minutos de desfile. A apresentação, que tinha Evolução tão tranquila quanto o balanço das ondas de Paraty, passou a ter ritmo bem mais ágil, com passadas mais largas na exibição. No final, o encerramento do desfile com “apenas” 62 minutos (ou seja, três minutos antes do limite permitido pelo regulamento), deixou claro que tal andamento mais acelerado no terço final da apresentação não era algo tão necessário assim.
Outro ponto de observação da Acadêmicos do Tatuapé foi a entrada da Qualidade Especial no recuo de bateria. Com o carro abre-alas na metade do espaço destinado aos ritmistas, os componentes começaram o movimento. Graças ao elevado número de componentes (bem mais que os presentes no ensaio técnico), ficou a impressão de uma entrada mais morosa da escola no recuo. Para ocupar todo o local, “apenas” Muriel Quixaba, rainha de bateria da escola. A ala seguinte teve andamento tão moroso quanto. O descrito movimento inteiro durou cerca de 200 segundos.
Vale destacar, também, que o carro abre-alas não ficou parado, como o restante da escola, para que os componentes adentrassem no recuo. Eduardo dos Santos precisou chamar atenção dos staffs mais de uma vez para que isso acontecesse.
Outros destaques
Os harmonias da Acadêmicos do Tatuapé, boa parte deles vestidos de marujos, estavam tranquilos a ponto de conversar com alguns repórteres para pedir a opinião dos mesmos sobre os desfiles. Também vale destacar o alinhamento da Qualidade Especial, com alguns instrumentos que não eram surdos nas laterais – algo que não é tão comum nas escolas de samba paulistanas.
Apesar da parte musical inspirada, Lins Imperial faz desfile problemático em alegorias, evolução e harmonia
Por Diogo Sampaio
Nem mesmo o samba elogiado, o carro de som entrosado ou a bateria ousada, com várias paradinhas, foi suficiente para garantir uma boa apresentação da Lins Imperial na Avenida. A verde rosa do bairro de Lins de Vasconcelos foi a segunda escola a passar pela Marquês de Sapucaí nesta sexta-feira de Carnaval e acumulou problemas ao longo desta passagem. O primeiro deles ocorreu ainda na concentração, quando a barra de direção da segunda alegoria, intitulada de “A Lapa de Madame Satã”, quebrou e precisou ser rebocada, com apenas a parte do carro desfilando. Depois, os problemas prosseguiram nos chamados quesitos de chão, com uma harmonia de canto irregular e uma evolução repleta de falhas. Após ficar em ritmo lento no início, a escola precisou correr para cumprir o tempo, terminando o desfile no limite máximo de 55 minutos. * VEJA FOTOS DO DESFILE
Comissão de Frente
Com o nome de “Madame Satã em atos – Resistir para Existir!”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Carlos Bolacha trouxe uma síntese dos momentos mais marcantes da vida de João Francisco dos Santos, o Madame Satã. Acompanhada de um tripé, que trazia ao centro um palco em forma de chapéu, 11 integrantes vestidos de caveiras rosas interagiam com os personagens de casa fase, em uma dança teatralizada e bem-humorada.
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Logo no começo da coreografia, a comissão retratava a infância e juventude de João na região da Zona da Mata de Pernambuco, onde ele experimentou os primeiros delírios e infernos. Depois, em um segundo ato, a Mulata do Balacochê, fase em que Satã fez o seu debut como artista-travesti da Lapa e se afirmou como a Rainha Negra da Boemia Carioca, foi representada. Já em seu terceiro e último momento, a figura de João-Satã como entidade e amuleto de luta para os movimentos negro e LGBTQIAP+ ganhou destaque, sendo o grande ápice da apresentação quando as caveiras mostravam placas com grandes transformistas e travestis, que assim como Madame Satã quebraram barreiras e fizeram história. Entre eles, Rogéria, Lacraia e Jorge Lafond.
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No entanto, assim como outros quesitos, a comissão de frente da Lins teve falhas na execução. A principal foi na transição da primeira e segunda fase da apresentação, em que a figura do malandro se transformava na Mulata do Balacochê. Apenas na primeira cabine de jurados o efeito da troca de roupa funcionou.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jackson Senhorinho e Manoela Cardoso, vieram com uma fantasia intitulada de “O inferno do menino João”. O figurino de ambos era bastante luxuoso e trazia cores quentes, com predomínio do vermelho e do dourado. A dança dos dois foi marcada por passos coreografados, que faziam menção a letra do samba. Um exemplo disso era quando Jackson fazia o gesto do punho cerrado para o alto no momento em que a letra dizia o verso “Arte em forma de protesto!”.
Harmonia
A harmonia foi um dos calcanhares de Aquiles da apresentação da Lins Imperial. Apesar da qualidade do samba-enredo, o canto da escola deixou a desejar, sendo possível notar componentes sem nem mesmo mexer a boca em diversas alas, como na ala “João nas Ruas da Lapa”. Já em outras, o oposto era observado, com desfilantes berrando o samba a plenos pulmões, casos das alas “O Caranguejo da Praia das Virtudes” e “O Pasquim”.
Enredo
Para celebrar os seus 60 anos de fundação, que será completado no próximo dia 07 de março, a Lins Imperial apostou na releitura do tema apresentado no Carnaval de 1990 sobre Madame Satã, que na época terminou em 14º lugar no Grupo Especial. Desta vez, porém, a verde e rosa optou por uma abordagem contemporânea e em forma de manifesto. Esta proposta conseguiu ser transmitida no desfile, graças ao conjunto alegórico e de fantasias simples, mas de fácil leitura.
Evolução
Talvez o quesito mais problemático de toda apresentação. A agremiação começou em um ritmo lento, chegando a ficar parada em alguns momentos. Porém, com o relógio correndo e ainda com muita escola para passar, a Lins precisou apertar o passo a partir da metade do desfile, sendo necessário correr no trecho final para não estourar o tempo. Além disso, a verde e rosa abriu alguns clarões e buracos, um deles em frente a primeira cabine de julgamento, devido a dificuldade de locomoção da segunda alegoria.
Samba-Enredo
O samba-enredo da Lins Imperial foi um dos mais elogiados durante o período do pré-Carnaval e comprovou no desfile oficial o motivo de tamanha celebração. Composto por Claudio Russo, Genésio, Jefferson Oliveira, Kiko Vargues, Mateus Pranto, Naldo, Paulo César Feital, Pezão e Samuel Gasman, a obra foi muito bem defendida na Avenida pelos intérpretes Rafael Tinguinha e Lucas Donato, que demonstram excelente entrosamento entre si e com a bateria comandada por mestre Átila. Os cantores estavam confortáveis com o samba e deram o máximo para levantar o público.
Alegrias e Adereços
O conjunto alegórico da Lins foi marcado pela simplicidade e fácil leitura, mas também pelas falhas de acabamento. Com o título de “Os Delírios de João-criança em Glória do Goitá”, o abre-alas da agremiação abusou das cores quentes e fez uso de esculturas com figuras de Satanás para remeter ao clima abrasador do Nordeste e fazer uma conexão com as narrativas sobre o inferno, típicas da literatura de cordel de Pernambuco. Apesar de criativo, várias esculturas apresentavam falhas graves, com parte delas despencando na Avenida.
Na sequência do desfile, a segunda alegoria da Lins, após o problema na concentração, passou de forma incompleta pela Marquês de Sapucaí. Apenas a parte frontal do carro, em que a escola reproduziu o famoso momento em que João Francisco dos Santos ganhou o concurso no Teatro República, no baile de Carnaval promovido pelo Bloco Caçadores de Veados em 1938, atravessou a Avenida no desfile oficial. Devido a barra de direção quebrava teve muita dificuldade no trajeto e foi um dos fatores que comprometeram o quesito evolução.
Já a terceira e última alegoria, de nome “O encantamento de Satã”, trouxe uma espécie de celebração aos 60 anos da Lins Imperial e a vida de João Francisco dos Santos. O carro representou o que seria uma visita da águia da verde e rosa ao terreiro de Satã em Vila de Abraão, na Ilha Grande, onde o homenageado decidiu viver seus últimos anos. Elementos como o chapéu de palha, a navalha e as duas rosas vermelhas estiveram presentes, assim como referências a entidades da umbanda que João cultuava. Entre elas, Maria Arrepiada, Rosa Sapucaia, Preto Velho Benedito e Pai Francisco. Assim como os outros dois era possível notar diversas falhas de acabamento, principalmente na parte traseira.
Fantasias
Assim como as alegorias, as fantasias da Lins Imperial abusaram da criatividade e do uso de materiais baratos, mas que surtiram efeito, resultando em um conjunto leve e de fácil leitura. Uma das alas com o figurino de maior destaque foi a dos passistas, que vieram fantasiados de rufiões e cafetinas, personagens que faziam parte do cotidiano da Lapa boêmia de Madame Satã. Outra indumentária que chamou atenção foi a dos ritmistas da Verdadeira Furiosa, comandados por Mestre Átila. Eles vieram vestidos das duas forças que compõem a figura de João Francisco dos Santos. De um lado, traziam uma representação da artista-travesti Mulata do Balacochê; do outro, retratavam o tradicional malandro carioca.
Outros destaques
As baianas da Lins Imperial chamaram a atenção logo na abertura devido ao samba na ponta da língua e a não economia nos giros, desfilando soltas, sem fileiras rígidas. As senhoras vieram com uma fantasia representando o cenário infernal da infância do menino João. As cores quentes, bastante utilizadas ao longo de todo o primeiro setor da agremiação, novamente estiveram presentes com o intuito de transmitir o calor do aprisionamento na boca do inferno de Glória do Goitá, assim como as caveiras e o Satanás.
Alegoria do Arranco ressalta que “voz do samba é alforria”
O Arranco do Engenho de Dentro retornou ao segundo grupo das escolas de samba neste carnaval carioca, depois de 15 anos. O enredo “Zé Espinguela – Chão do Meu Terreiro” foi desenvolvido pelo estreante carnavalesco Antônio Gonzaga, e dialoga diretamente com a história do território onde são feitos os ensaios da escola. A agremiação abordou o legado deste sambista que é fundamental para a formação da cultura das escolas de samba.
A terceira alegoria do Arranco foi denominada “Onde a voz do Samba é Alforria” e representa uma espécie de quilombo do samba. As paredes do carro foram cobertas como se fossem barracos multicoloridos em tecidos africanos. Ao centro, uma grande escadaria com vários casais de mestre-sala e porta-bandeira trazendo pavilhões estilizados com as cores das escolas do grupo Especial e da Série Ouro.
O carro trazia, nas laterais, diversas esculturas de atabaques cobertos com palha. No alto do terceiro carro, Zé Espinguela coroa o seu legado. As frases “Toda escola é um quilombo” e “Salve o meu Brasil Terreiro” estampavam a alegoria. Na parte frontal da alegoria, havia um grande surdo que serviu de palco para o bailado de Lucinha Nobre que empunhava a bandeira do Brasil de Abdias do Nascimento, com a fantasia “A Bandeira do Samba”.
“Zé Espinguela teve a incrível ideia de promover um concurso de escola de samba, só por isso já vale que o nome dele seja lembrado, respeitado e falado. É um personagem que é pouco falado”, comentou Lucinha.
Lucinha Nobre, de 47 anos, depois de cinco anos comentando os desfiles durante a transmissão da Série Ouro, desfilou no Arranco à convite do carnavalesco Antônio Gonzaga. “Eu tô muito feliz de estar aqui representando esse novo Brasil, essa nova representação da bandeira do Brasil, que é a bandeira que a gente realmente acredita. Que é o Brasil que a gente quer, que é o Brasil que a gente merece. O Brasil dos pretos, dos sambistas e de quem gosta de carnaval”.
Lucas Guedes, de 25 anos, desfilou pelo segundo ano no Arranco e declarou: “O Arranco está reavivando uma memória que muitas pessoas já esqueceram, e a gente não pode deixar que a nossa cultura seja esquecida”. Ele ainda pontua: “Principalmente nos momentos atuais, em que a gente está tendo muita intolerância religiosa em todo país, e um enredo assim traz um resgate da nossa história”.
Luís Gustavo, de 43 anos, desfilou pela primeira vez no Arranco, representando um mestre-sala. Ele comenta: “Pra mim, particularmente, que estou desfilando pela primeira vez, acho que é um momento único para quem pode vivenciar isso”.
Independente Tricolor faz desfile seguro e alegorias luxuosas se destacam
A Independente Tricolor abriu a primeira noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval paulistano. O desfile da agremiação foi marcado pela regularidade. Uma escola bem organizada e sem erros notórios. O destaque principal vai para as alegorias, que levaram esculturas fenomenais. O carnavalesco Amauri Santos trabalhou com um realismo impressionante. Destaque também para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Jeff Antony e Thais Paraguassu, além de fantasias bem acabadas. A comissão de frente mostrou uma grande riqueza em sua coreografia, com um entendimento muito fácil do quesito após a visualização. A Independente Tricolor fechou o desfile com 1h04. O enredo da escola é intitulado como “Samba no pé, lança na mão, isso é uma invasão!”. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE
Comissão de frente
A ala mostrou personagens na espécie de soldados gregos. A comissão era muito bem encenada, visto que apresentou lutas cativantes dentro da apresentação. Como era a representação de uma guerra, vale destacar o semblante que os componentes faziam. Era tudo muito intenso e esse combate era feito com espadas. Dentro da ala haviam três personagens principais, onde um duelava contra o outro e, este terceiro, carregando dois martelos era o responsável por tentar intermediar e separar o duelo.
Em determinado momento da dança, os personagens se separaram para saudar o público. Portanto, a coreografia encenada por Arthur Rozas, cumpriu todos os requisitos dentro do manual do jogador. Soldados vestidos nas cores dourada, vermelho e azul.
Mestre-sala e Porta-bandeira
Vestidos de ‘Guardiões do Reino’, o casal Jeff Antony e Thais Paraguassu, tiveram um desempenho satisfatório. Analisando a dupla em frente à cabine do recuo de bateria, notou-se alta sinergia entre ambos. Realizaram os passo dentro do samba, toques de mãos e sorriso no rosto. Cumpriram a proposta de forma válida. A fantasia do casal era muito luxuosa, trabalhada no preto e uma cor clara (quase branca).
Harmonia
O canto da comunidade fluiu de forma satisfatória. É fato que não repetiram a mesma dose dos três ensaios técnicos, mas a harmonia se encontrou com o canto e a bateria da escola. Vale destacar que o início do desfile foi grandioso, mas teve uma queda com o passar da apresentação. Principalmente após o recuo de bateria.
Enredo
O quesito segue o que é proposto. Dá para notar nas fantasias e alegorias muitos deuses, reis e príncipes. Isso é o que realmente aconteceu na Guerra de Tróia. Houve também muitos soldados, guerreiros, lanças, espadas e demais armas usadas em conflitos dessa intensidade.
O que chamou atenção é que o carro de Tróia foi o terceiro a passar pela pista. Em tese, esperava ser o primeiro, visto que é o centro do enredo.
Evolução
Foi um dos pontos principais do desfile. A escola se preocupou em montar uma escola compacta e não deixar nenhum vestígio. Uma prova disso foi a estratégia de colocar guardiões na frente e atrás do casal em linha reta. Tal efeito permitiu que não deixasse buraco entre a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira.
O recuo de bateria, apesar de uma pequena lentidão para o abre-alas evoluir, a manobra foi feita de maneira correta e saiu como esperado.
Samba-Enredo
É uma obra cujo a melodia faz a comunidade cantar forte. Bem como o enredo, os componentes bravejaram e entoaram com muita força. Realmente foi como se eles fossem um guerreiro valente lutando pela escola na pista. Isso também se deve pelo fato de voltar ao Grupo Especial e abrir os desfiles, porém, como dito anteriormente, isso se perdeu ao decorrer do desfile. O intérprete Pe Santana teve um desempenho e se destacou nos ‘cacos’, onde colocou a comunidade para cima.
Fantasias
O acabamento das fantasias não deixou a desejar. Vale destacar que cada setor levou uma paleta de cores diferente e caprichou no luxo. A Independente apostou em costeiros volumosos e altos para preencher as alas e a pista. Como dito anteriormente, a tonalidade foi variada, mas o dourado predominou em várias partes. Vestidas de Afrodite, a deusa do amor, as baianas esbanjaram simpatia na cor dourada.
Alegorias
O abre-alas, que representa os guerreiros espartanos, teve como principal destaque a escultura de Ares, que ficava no alto do carro alegórico. Tal figura representa o Deus da guerra. A alegoria também tinha outras esculturas de guerreiros na parte lateral do carro. Vale destacar o incrível realismo que o carnavalesco Amauri Santos trabalhou nessas esculturas. As feições dos personagens eram bastante reais.
Um carro bem acabado e trabalhado no luxo. As cores branco e dourado predominaram quase que inteiramente a alegoria.
O segundo carro foi representando “Mistérios do mar de Poisedon”. Esta alegoria foi o destaque da agremiação na noite, visto que foi toda trabalhada em azul. Nas esculturas, havia quatro dragões se movimentando, sendo dois na parte de trás e dois na frente e, na parte alta, uma escultura de Poisedon, que é o deus dos mares e dos rios na mitologia grega.
A terceira alegoria levou “Tróia – O Reino de Príamo”. Este carro simbolizou uma espécie de castelo ou muralha. No desenho forrado havia formatos de tijolos.
Por fim, o último carro alegórico representou “A Invasão”. Esta alegoria simbolizou inteiramente o “Cavalo de Tróia”. Era um carro todo trabalhado no marrom no formato do animal. Na frente da alegoria também haviam encenações.
Outros destaques
A bateria ‘Ritmo Forte’, regida pelo mestre Cassiano Andrade foi representando o exército grego. A batucada se destacou por marcar muito bem o andamento do samba. Os surdos se destacaram perante aos outros naipes. As bossas foram realizadas de maneira estratégica e, na cabine de jurados, o repertório foi mostrado corretamente. Casal de mestre-sala e porta-bandeira foram cortejados por guardiões.