As baianas do Arranco de Engenho de Dentro serão a primeira ala a entrar na Marquês da Sapucaí neste primeiro dia de desfiles da Série Ouro. Elas passam pela Avenida representando as Mães do Samba, aquelas que trazem a herança do semba e deixam em evidência a ancestralidade para o carnaval. Elas estavam vestidas todas de branco, com detalhes de estamparia a geométrica e cabeça com um arranjo de capim dourado. Dentro da escola de samba, essas senhoras significam a tradição e resistência, segundo a coordenadora da ala Jennifer Christie de 40 anos.
“Elas são as matriarcas do samba, o simbolismo de Tia Ciata. Elas deixam um legado de resistência para todas as escolas de samba e tradição. Eu espero que a juventude saiba que ser baiana também é empoderamento feminino, luta, ancestralidade e combate ao racismo e machismo. É a força da mulher”, disse a coordenadora.
Com o passar dos anos, há a queda do interesse das pessoas em participar da ala. Jennifer acredita que isso é resultado da falta de renovação de pessoas, a crise econômica e os reflexos da pandemia de COVID-19. Para atrair mais mulheres para a ala das baianas, a coordenadora afirma que é necessário um trabalho de base, com crianças e adolescentes.
“É um trabalho de base. As escolas de samba precisam ir nas escolas de educação infantil ao ensino médio. Levar o grupo de baianas e explicar quem a Tia Ciata e o poder do matriarcado das mulheres do samba”, argumentou Jennifer Christie.
O amor por representar esse segmento é nítido para Damiana Pereira de 59 anos, que há cinco desfila como baiana. Ela diz se sentir flutuando ao “incorporar” a baiana através da fantasia. Para ela, as baianas vão além da idade.
“Baiana representa a bondade, a mãe, a prosperidade, a cultura de um povo. Todo que é de axé, de alegria e de saúde está nas baianas. Não é só a idade que transparece nas baianas, é o espírito da baiana que fica e fica o legado para as outras desfilarem com alegria e com amor”, comentou Damiana.
Já Noelma Luíza, de 58 anos, já é baiana de escola de samba há 10 anos, embora seja sua primeira vez no Arranco. Insulana, ela tem em si a vontade de desfilar no máximo de escolas possíveis representando o segmento. A desfilante acha importante um olhar mais atencioso às baianas pelas agremiações.
“Baiana é um segmento importante em toda escola, é a tradição e é o coração da escola de samba. Eu escolhi ser baiana por ser a oportunidade da época, eu queria desfilar pela Ilha. Eu agarrei com unhas e dentes e estou aqui há 10 anos nessa vibe de desfilar em várias escolas como baiana”, contou Noelma.
Sabedoria, carinho, simpatia e espírito maternal são características que Regina Dalva, de 71 anos, acredita que sejam as mensagens que as baianas passam para o carnaval. Ela relata que em casa não conseguiu converter suas filhas e netas em baianas, mas revela que várias companheiras de ala tem linhagem de baianas na família.
“Nós somos as mães do samba e elas estão bem representadas. As baianas que têm devem ser preservadas com muito amor e carinho, porque é paixão! Eu conheço muitas que tem mãe e filha baianas, desfilam desde pequena na ala”, disse Regina.