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Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos de Padre Miguel no desfile

A bateria da Unidos de Padre Miguel (UPM) fez um ótimo desfile, sob o comando de mestre Dinho. Um ritmo que apresentou um leque amplo de bossas, com bastante integração cultural ao que o samba e o tema da escola pediam. Paradinhas foram bem recebidas por público e julgadores, evidenciando o grande trabalho da bateria “Guerreiros”.

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A cozinha da bateria contou com uma afinação de surdos relativamente grave, sem contar a segurança e firmeza dos marcadores de primeira e segunda, tanto em bossas, como no ritmo. As caixas de guerras intercalaram polegadas e batidas distintas. Algumas caixas eram tocadas embaixo, de forma reta, dando amparo musical, enquanto outras consolidaram o ritmo efetuado o toque em cima. Repiques de qualidade técnica inegável contribuíram tanto na sonoridade da parte de trás do ritmo da UPM, como em bossas.

A cabeça da bateria da Unidos apresentou uma qualidade técnica extremamente elevada. Cuícas corretas e coesas foram notadas, assim como os agogôs de qualidade técnica deram leveza à parte da frente do ritmo. Uma ala de chocalhos de imenso valor musical tocou de forma entrelaçada a um naipe de tamborins simplesmente espetacular. O “Bonde do Pateta” deixou o eterno e saudoso ex-diretor Eduardo Amorim orgulhoso, passando com “Alegria nos Punhos” e agregando valor sonoro a um trabalho simplesmente primoroso envolvendo as peças leves.

Uma bossa baseada em pressão foi executada na cabeça do samba, gerando impacto sonoro pelos tapas em conjunto ressoando, junto a marcadores precisos. Vale ressaltar a contribuição luxuosa do naipe de tamborins no arranjo musical. Foi executada de maneira firme, proporcionando um swing envolvente após a retomada.

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A paradinha do refrão principal deu pressão ao ritmo da Unidos, graças aos tapas ritmados nos primeiros versos da segunda passada do estribilho. O acerto ainda consiste em permitir que os últimos versos do refrão fossem cantados em coro, fazendo ecoar o trecho “A nossa escola não deve nada a ninguém, respeite o povo da Vila Vintém”. A bossa ainda é finalizada com o peculiar conjunto de cinco tapas consecutivos (Tum-Tum-Tum-Tum-Tum!), tradicional pelas bandas de Padre Miguel. As vezes somente a finalização era exibida, enquanto o refrão era cantado em coro, permitindo interação popular.

No final da segunda do samba-enredo, também baseada em simplicidade musical, foi possível notar uma bossa chamada pelos repiques solistas (tanto por repiniques, como por repiques mor). A retomada foi baseada numa subidinha curta dos tamborins, num movimento muito bem executado e alinhado. Uma construção musical que mesclou singeleza e precisão rítmica, num arranjo simples e bastante funcional.

Breques apresentados em sequência cobriram a primeira da obra de inegável bom gosto musical. Tudo começa com a bateria “Guerreiros” fazendo uma nuance rítmica muito bem produzida, com destaque para os tamborins e surdos no verso “Vi camelo no agreste sultão cabra da peste”. Finalizando os beques seguidos veio o mais arrojado, tanto em complexidade, quanto no impacto musical. O verso “Romance de cavalaria” recebe o amparo de naipes remetendo ao toque de cavalaria, contando com a técnica refinada e eficácia dos tamborins, além dos caixeiros seguros e surdos de terceira envolventes. Uma batida que mostrou imensa capacidade musical e foi bem executada. A retomada com três pancadas dos surdos permitiu impacto sonoro, evidenciando o trabalho acima da média dos marcadores, com convenções que uniram requinte e pressão.

Outro breque simples, mas profundamente eficaz mostrou qualidade musical e fluidez rítmica pela pista. No trecho “O beduíno segue os passos do vaqueiro”, a bateria da Unidos tocou em ritmo de Xaxado, apresentando um invariável balanço. O ritmo era retomado logo em seguida, numa construção musical que se revelou um acerto principalmente cultural, ao proporcionar uma sonoridade plenamente integrada ao que o samba e o tema da escola solicitavam.

A paradinha do refrão do meio exibiu uma sonoridade destacada, além de apresentar plena integração com a obra. Se aproveitou do bom balanço dos surdos para consolidar o ritmo, sem contar tapas em contratempos.

As apresentações da bateria da Unidos de Padre Miguel nos módulos de jurados foram muito boas, sendo a melhor delas na segunda cabine. Na apresentação do último módulo, mestre Dinho mostrou toda sua bagagem e experiência, começando a lançar as convenções logo após sair do segundo recuo, já que o tempo para apresentação da bateria “Guerreiros” para o julgador seria pequeno, por causa do horário de desfile próximo do limite de estourar.

Alegorias coloridas são destaques no desfile da Vila Maria

As histórias da agremiação e do bairro foram contadas nesta noite. Quarta escola a desfilar, a Unidos de Vila Maria teve como principal destaque as suas alegorias. Uma grande ideia contar o enredo separando os carros alegóricos com o nome do enredo. Nitidamente a comunidade estava feliz em passar cantando os seus melhores momentos. Destaque também para o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Edgar Carobina e Lais Moreia, que suportaram a pista molhada. Porém, a escola sofreu muito com a evolução. Houve desencontro entre alas, alguns espaçamentos e a famosa ‘correria’ no final para não estourar o tempo. Apesar de um belo desfile estéticamente e no canto, o andamento deixou a desejar. Provavelmente a ‘Vila mais famosa’ sofrerá com o quesito. A comunidade teve o cronômetro batido com 1h04. O enredo da agremiação é intitulado como “Vila Maria. Minha Origem. Minha Essência. Minha História! Muito Além do Carnaval!”. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Comissão de frente

A ala, comandada pelo coreógrafo Renan Banov, desfilou representando a comédia. A proposta da apresentação foi mostrar a alegria em receber os fundadores e toda a agremiação que estava por vir no desfile. Na dança, os componentes evoluíram de um lado para o outro e interagindo com o público. Havia também integrantes com dois triciclos.

Outro grande momento da coreografia foi quando um componente mostrava uma placa escrita “aplauso” para a arquibancada.

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Vestimentas: Toda a ala, componentes e elementos estavam inteiramente em verde, azul e branco, que são as cores da Vila Maria.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Edgar Carobina e Lais Moreira, vestidos com uma bela fantasia de azul e prata, novamente tiveram um grande desempenho em seu desfile. A apresentação foi marcada pela simpatia que ambos esbanjaram. Analisando a dupla em frente a cabine do recuo, notou-se muitos sorrisos, beijos do mestre-sala na mão da porta-bandeira e uma grande delicadeza ao mostrar o pavilhão. O casal fez o giro horário e anti-horário.

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Eles têm como principal característica realizar esse movimento com rapidez e intensidade, mas devido à pista molhada pela chuva que havia caído antes, tal manobra foi feita devagar.

Harmonia

A harmonia da escola funcionou bastante. É fato que os componentes não ‘gritaram’ o samba, mas cantaram forte e com garra. Respeitaram o carro de som e a bateria, cantando de forma linear. Todos os setores cantaram o samba de maneira praticamente igual, mas o segundo predominou perante aos demais.

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As partes do samba mais cantadas foram o refrão principal e o do meio, além da primeira parte, que tem como versos destaques – “A fé nos guia… Senhora Maria… A proteção vem da nossa padroeira… Divina luz da Candelária clareia”. Essa parte tem uma forma melódica que sobe demais o tom, onde dá essa sensação de força.

Enredo

O desfile da escola seguiu uma cronologia com o nome do enredo nos setores: “Vila Maria. Minha Origem. Minha Essência. Minha História! Muito Além do Carnaval!” Minha origem – Se mostrou por meio do carro abre-alas, onde levou o contexto de anjos e céu resgatando baluartes que fundaram a escola. Nessa alegoria havia fundadores e o antigo pavilhão da agremiação, que era chamada de Unidos do Morro de Vila Maria. Minha essência – É mostrado pelo segundo carro com sua religiosidade. Nele, toda o desenho da igreja Nossa Senhora da Candelária, que é a padroeira do bairro. A Unidos de Vila Maria tem o catolicismo muito forte na sua comunidade. Minha história – Representa todos os enredos históricos da agremiação. Muito além do carnaval – O desfile é fechado com alegoria que o contexto se trata dos projetos sociais que a entidade realizada durante o ano todo.

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Evolução

Esse quesito a Vila Maria deixou muito a desejar. Nos minutos 30 a 34 ficou muito parada e retardou demais o desfile, além de mostrar muitos espaçamentos entre alegorias e alas, uma ala e outra e demais falhas. Houve um momento em frente ao recuo em que a ala das passistas teve a fileira desorganizada. Duas ou três passistas ‘correram’ e as demais ficaram.

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Por essa paralisação citada, os componentes tiveram que evoluir muito rápido. A famosa ‘correria’. Nitidamente houve muita discordância entre integrantes do departamento de evolução. Não se sabe se a Vila Maria será punida, mas olhando no primeiro momento, o quesito realmente não funcionou.

Dito isso, segundo apurou o CARNAVALESCO, o sinal dos rádios de comunicação caiu. Atrapalhou bastante no andamento.

Samba-enredo

A Vila Maria optou por uma estratégia diferente este ano. Nos últimos carnavais a escola estava levando obras mais ‘cadenciadas’. Porém, desta vez, usou uma melodia para frente que permitiu os componentes brincarem mais. O intérprete Wander Pires se destacou novamente por fazer os seus ‘cacos’ diferenciados. A sincronia com a ‘Cadência da Vila’ na bossa do refrão do meio onde os componentes interagem no grito chamou atenção.

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Fantasias

A escola apresentou boas vestimentas. Optou por mostrar leveza e alegria no desfile e o colorido predominou. O acabamento foi mostrado de forma satisfatória. Não teve muito material luxuoso, mas para a leitura do enredo, tudo serviu de forma válida. Destaque para as baianas, que estavam vestidas de “Unidos do Morro de Vila Maria”, cujo era o primeiro pavilhão de fundação da entidade.

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Alegorias

Alegoria 1 – O abre-alas representou o céu e a homenagem aos fundadores falecidos da escola. Todos juntos se reúnem para desfilar novamente com a Vila Maria, que no início era Unidos do Morro de Vila Maria. É um carro alegórico com escultura de um anjo na parte central. Na parte final, uma grande imagem de um ostensório. Vale destacar que a entidade tem o catolicismo muito forte em sua história. A ideia de trazer os baluartes para abrir os desfiles foi muito bem pensado e casa com a comissão de frente, que transmite a alegria do carnaval.

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Alegoria 2 – O segundo carro alegórico mostrou um marco do bairro da Vila Maria, que é a igreja da Nossa Senhora da Candelária. Vale destacar que a réplica é otimamente feita. Foi uma reprodução total da paróquia, tanto dentro quanto fora. No centro da alegoria havia encenações típicas de uma igreja católica, como batizados, casamento e missa. Dentro disso, ainda dançavam entre os bancos. O intuito de mostrar a fé da comunidade foi feito de forma satisfatória e a igreja, que é um dos pontos principais do bairro, foi construída de maneira impecável.

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Alegoria 3 – A terceira alegoria se tratou de um ‘mix’ de enredos da história de Vila Maria. Houve referências aos enredos de Japão, China, circo, e, principalmente, uma encenação da cena da novela “Gabriela”, que faz alusão ao enredo “A seguir cena dos próximos capítulos”, que deu acesso à escola ao Grupo Especial.

Alegoria 4 – O último carro alegórico levou para a avenida os projetos sociais que a agremiação faz. A Unidos de Vila Maria é uma escola referência nisso e fez questão de mostrar em seu desfile. Ou seja, notou-se esculturas de Papai Noel, árvores de natal e renas, simbolizando presentes. Na frente da alegoria uma grande escultura de Pierrot, além de colombinas e arlequins nos lados esquerdos e direitos com as cores da escola.

A Vila Maria não teve problemas com suas alegorias e suas esculturas e cores foi o grande destaque do desfile da ‘mais famosa’.

Outros destaques

A bateria ‘Cadência da Vila’, regida pelo mestre Moleza, novamente mostrou a sua versatilidade. Arriscou bossas sem hesitar e isso é o que privilegia a batucada, pois o regulamento exige tal ousadia. Destaque para o ‘breque’ no refrão do meio, onde as caixas predominavam e os ritmistas gritavam ‘hey’. Arrancou aplausos e gritos do público.

A Vila Maria levou um tripé de elefante no meio da ala ‘Circo da Vida’. Outro tripé foi levado. Dessa vez, uma grande escultura de Nossa Senhora de Aparecida dentro da ala ‘Romeiros’. A ‘Torcida da Vila soltou serpentinas da arquibancada monumental e levou bexigões para fazer a festa.

Baianas da Estácio se emocionam com o resgate do figurino clássico

Estacio004 2As baianas da Estácio de Sá desfilaram toda de branco e com saias enormes como a tradição pede. Elas representavam as “Estrelas do Céu” simbolizando paz e luz. A exigência pela reafirmação da identidade da ala pela fantasia foi da presidente do segmento, Maria Luiza Matos, de 68 anos, para o carnavalesco Mauro Leite. A líder estava emocionada ao ver suas companheiras vestidas adequadamente, foi como se o sonho tivesse virado realidade.

“Eu pedi ao carnavalesco uma baiana tradicional como há muito tempo a gente não vem e ele nos presenteou. Eu amo baiana tradicional, branca. É por isso que eu estou emocionada”, comentou Maria.

Para a presidente da ala, é uma emoção enorme voltar para Sapucaí na época correta do carnaval com todas as integrantes vivas, apesar das ocorrências de afastamento de poucas pessoas por motivos de saúde. É o sentimento de família que move o trabalho de Maria Luiza.

Estacio001 3“Ver as baianas formadas mexe conosco. Depois da pandemia fizemos um carnaval mais ou menos, mas agora a gente vê minhas amigas todas vivas. Eu acho que não tem coisa melhor. A nossa ala é uma ala de família. Nós nos reunimos uma vez por mês para fazer almoço, para estarmos todas juntas. A Estácio tem esse diferencial. Se uma precisa, a outra está lá socorrendo. Nessa reunião, participam direção de carnaval, harmonia, velha guarda, nosso presidente. Tudo que acontece a gente sente muito”, explicou a presidente.

O objetivo de sentirem verdadeiras estrelas foi alcançado com sucesso. Leia Ferreira, de 62 anos, é uma estreante na Estácio de Sá, mas está desde 2016 desfilando como baiana. Devota de Santo Antônio, agradece a ele pelo casamento e pela habilidade na cozinha.

“A ala das baianas é a coisa mais linda que tem na escola de samba. Aqui nós estamos representando a Tia Ciata. É ancestral. Ser baiana é orgulho, prazer, felicidade”, refletiu Leia.
A baiana foi desfilar na vermelho e branco pela identificação com sua cidade natal.

“A Estácio está levando São Luís do Maranhão ao Sambódromo e eu sou maranhense. Olha que orgulho eu estar junto com escola levando nas costas a minha ilha querida, São Luís do Maranhão. A Estácio está trazendo toda cultura folclórica e toda beleza que existe na ilha”, completou a desfilante.

Estacio002 2Para Regilene de Fátima, de 60 anos, figura presente há muito tempo na ala, não existe escola de samba sem baianas. Falar das festas juninas do Maranhão significa um intercâmbio cultural necessário para mostrar a riqueza do país. Crente em Nossa Senhora de Fátima, Regilene mostra o que estar em movimento independentemente da idade, a aeroviária começou recentemente a cursar um faculdade de Direito.

Katia Braga, de 68 anos, está no seu 4º carnaval de baiana da Estácio de Sá. Ela ressalta a força familiar que a ala desempenha na escola de samba. Com objetivo de ser uma das estrelas no desfile, a desfilante se produziu e passou bem maquiada para brilhar cada vez mais. Katia mostra também como o carnaval em um potencial sincrético.

“Meu santo padroeiro é São Jorge, porque eu sou espírita eu sou muito conectada a Ogum”, comentou.

A desfilante confessou que já teve muita vontade de fazer parte de um grupo de quadrilhas juninas.

“Eu adoro festa junina. Hoje, eu sinto falta daquele movimento de festa junina de rua muito forte, aquela cultura folclórica de rua. Eu curti muito! Meu sonho era desfilar naquelas quadrilhas, mas eu nunca consegui. Ser baiana já está ótimo”, revelou Katia.
As baianas vieram no segundo setor do desfile, “O encontro no céu”. Com uma vestimenta repleta de estrelas em prata de brilhava, elas ornavam com toda composição na frente e na alegoria que viria atrás.

Samba ‘antigo’ do Rosas de Ouro funciona e contagia o Anhembi

Com base no que foi visto em ensaios técnicos, a Harmonia da Rosas de Ouro trazia muitas dúvidas para o desfile da agremiação, quinta a desfilar na sexta-feira de carnaval no Sambódromo do Anhembi. A escola, entretanto, teve justamente em tal quesito um dos grandes trunfos para um grande desfile realizado para apresentar o tema “Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”. Com um enredo forte e um samba com uma história bastante peculiar, a escola, que desfilou em 62 minutos (três a menos que o limite do tempo regulamentar) teve um pequeno deslize na comissão de frente. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Harmonia

A temporada de ensaios técnicos da Roseira, acompanhada pelo CARNAVALESCO em na totalidade, foi bastante irregular. No primeiro, um “sacode”, como definiu Royce do Cavaco; nos dois seguintes, entretanto, o canto foi bem mais fraco. O trabalho da direção de Harmonia da Roseira, capitaneado por Júlio Cesar Teixeira, Fernando e Bruno Raimundo Amaral, porém, mostrou-se primoroso na avenida.

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Cantando desde a primeira ala a entrar no Anhembi, a Rosas de Ouro fez com que as barulhentas caixas de som da passarela se tornassem algo secundário. Era possível verificar o quão alto a agremiação, em todas as alas, veio disposta a cantar alto o samba escolhido – e tão querido pela comunidade.

Os harmonias não tiveram muita preocupação, também, com o alinhamento de componentes em cada ala. Sem grandes percalços, os staff mostravam semblante satisfeito com o desempenho da agremiação na avenida.

Enredo

Referendado por citações de grandes eminências afrodescendentes, como Silvio Almeida e Djamila Ribeiro, o enredo “Kindala! Que o amanhã não seja só um ontem com um novo nome”, remete à uma única palavra – que, no dialeto banto, significa “agora”, provando a urgência de discutir a questão afro e a inclusão de cada um deles na sociedade. Sempre convocando cada um dos desfilantes e espectadores a lutar contra o racismo, a Roseira veio dividida em cinco setores – intitulados com versos do samba-enredo e que deixam clara a interdependência entre cada um deles.

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No primeiro deles, “O Negro É o Pai da Humanidade”, são dissecados aspectos relativos ao continente africano, remetendo à ancestralidade e diversos tópicos existentes no tema. No segundo, “Mas Veio A Escravidão”, os motivos e momentos em que os afrodescendentes eram aprisionados. O terceiro, “Lá Em Palmares Um Grito De Liberdade”, uma imensa exaltação ao local onde milhares de escravos fugidos se juntaram para buscar uma vida em sociedade liberta. O quarto, “Lutou, Construiu A Nossa Riqueza”, relembra diversas personalidades que venceram o preconceito – como Machado de Assis e Pixinguinha. Por fim, no último, “E A Gente Tem Que Repensar”, uma imensa reflexão sobre a condição dos afrodescendentes na sociedade (e todas as mazelas nas quais eles estão inseridos, com direito a preconceitos) é abordada.

Na prática, cabe destacar que, sobretudo nos dois últimos setores, a associação era ainda mais imediata por conta das diversas personalidades afrodescendentes que estavam, de alguma forma, representadas. Glória Maria, Martin Luther King, Nelson Mandela e outras tantas celebridades marcaram presença na azul-e-rosa com os rostos estampados em algum momento da exibição.

Samba-Enredo

A história da canção levada para a avenida pela Roseira em 2023 é raríssima. O samba-enredo foi escrito originalmente para o desfile em 2006, quando a escola trouxe o enredo “A Diáspora Africana. Um Crime Contra Raça Humana” – também de temática afro. Segundo colocado na disputa, ele seguiu tendo muito carinho por parte da comunidade. Eis que, ao voltar a olhar para temáticas afro, a azul-e-rosa adaptou a canção para, enfim, leva-la ao Anhembi.

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O resultado não poderia ser melhor. A obra, de grande qualidade melódica, caiu como uma luva na voz do histórico (e em mais uma grande noite para a carreira) Royce do Cavaco. Tudo ficou ainda melhor com outra grande apresentação da “Bateria com Identidade”, de mestre Rafa.

Evolução

A Harmonia foi o grande destaque positivo e a Evolução… também correspondeu bem. Com alegorias que tinham componentes coreografados, algo que surgiu na década de 2000 e, pouco a pouco, passou a perder um pouco de espaço, os integrantes que estavam em tal posição se movimentaram bem e trouxeram dinamismo para a agremiação.

A Roseira, por sinal, mostrou bom equilíbrio entre alas coreografadas e mais leves. As sem coreografia, porém, se destacaram. Não era raro observar integrantes se movimentando com bastante agilidade, pulando, batendo no peito e fazendo outros movimentos de satisfação com o que está sendo apresentado na passarela.

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O quesito foi tão bem desenvolvido pela escola que até mesmo o recuo de bateria, calcanhar de Aquiles de muitas escolas paulistanas, foi realizado com bastante eficiência. Os ritmistas entraram no local com uma fresta pequena, foram até a parede da região e retornaram para a passarela. O movimento, além de garantir muitos aplausos da Arquibancada Monumental, permitiu que a ala seguinte se aproximasse com mais tranquilidade – mesmo assim, cabia mais velocidade para tais componentes. Ao todo, a escola ficou cerca de 100 segundos paralisada para que todo o movimento fosse concluído – tempo menor que o de muitas coirmãs.

Alegorias

O carro abre-alas, concebido como “As Várias Áfricas Que Habitavam a África”, destacou a pluralidade do local, inspirada no antigo império ganês. Búfalos e um baobá eram as esculturas mais destacadas. O segundo carro, “Palmares”, é autoexplicativo: maior símbolo de resistência dos escravos brasileiros, o quilombo foi encenado com esculturas de afrodescendentes e uma escultura de Zumbi defendendo o território que o tinha como principal símbolo. No terceiro, “Lutou, Construiu A Nossa Riqueza”, trouxe os africanos que chegaram ao Brasil fantasiados focando nos conceitos de folclore e religiosidade. Oxalá, tambores e o Maracatu Elefante ganharam destaque com grandes esculturas. Por fim, a alegoria “Resistir Para Existir” representa uma imensa comunidade, local que serve de espelho para todos – nas palavras do enredo. O carro inteiro foi inspirado na Favela da Brasilândia, onde surgiu a agremiação. Celebridades afrodescendentes e o Punho de Mandela tinham bastante espaço na composição.

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Na avenida, um detalhe chamou atenção. O último carro, representando a Brasilândia, teve uma execução pouco mais futurista que o visto na localidade. Ademais, tudo que estava previsto veio à avenida.

Fantasias

Nos primeiros setores, além de cores, materiais e acabamentos impecáveis, também foi observado extremo bom gosto na concepção das fantasias. E assim foi, na realidade, durante boa parte da exibição. A partir da Ala 15, intitulada “A Música Como Resistência”, os adornos por sobre o tecido mantiveram a qualidade, mas a parte mais próxima da pele de cada componente teve uma queda no luxo – algo que já estava previsto nos protótipos apresentados pela escola, entretanto.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Com uma fantasia representando a realeza africana, Everson Sena e Isabel Casagrande exaltaram diversos poderosos comandantes de nações africanas, como Osei Tutu, Taharga, Cleópatra e Makeda.

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A fantasia, majoritariamente em tom pastel, com a saia de Isabel com detalhes rosas, chamou atenção por unir bom gosto sem chamar atenção por cores berrantes e/ou brilho. Cabe mencionar, também, a dança de Everson e Isabel. Mais cadenciada que o de outras duplas, ambos optaram pela segurança, mas cada sequência de giros era extensa. Por fim, cabe ressaltar que Everson, em determinados momentos, preferia ter mais segurança na mão a desfraldar o pavilhão em um primeiro instante.

Comissão de Frente

Embalada por uma célebre frase de Emanoel Araújo, artista plástico e intelectual morto em 2022 (“O navio negreiro sempre foi o grande vilão da história”), os componentes, coreografados por Helena Figueira de Moura Ramos, vieram com figurino com riqueza de detalhes na pintura corporal representando o “povo feito de ferro”, em alusão à resistência dos que eram forçados a embarcar em navios negreiros – representado pelo tripé do segmento. A coreografia, dividida em dois atos (no navio negreiro e fora dele), apostou na expressão, representando a dor e a luta.

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A coreografia, bastante expressiva e já conhecida pela evolução em cada ensaio técnico, superou-se no Anhembi. Com um figurino todo especial e combinando com o tema do tripé, em corem bem escuras e fortes, todos executaram a contento o que foi treinado. Chamou atenção o fato de todos estarem pisando na avenida ao fazer uma apresentação especial para a cabine de julgadores e, quase sempre, apenas nesse momento, executando diversos movimentos no próprio navio negreiro.

No tripé, entretanto, um raro deslize na no desfile da Roseira: os olhos dos esqueletos que decoravam o elemento alegórico se escureceram – quando, obviamente, deveriam estar ligados.

Outros destaques

Das mais premiadas baterias do carnaval de São Paulo, a Bateria com Identidade, capitaneada por Mestre Rafa, deu seu costumeiro show. Com diversas bossas, marcando quase todas as passagens do samba, a agremiação fez um movimento bastante ousado no recuo da bateria (leia mais no quesito “Evolução”).

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As fantasias também trouxeram novidades. A ala 02, intitulada “Reinos, Impérios e Etnias”, tinha, nas laterais, componentes com letras que formavam a palavra “Kindala” – que deu origem ao enredo como um todo.

Com gritos de ‘é campeã’, Unidos de Padre Miguel faz desfile beirando a perfeição e sonha com o Grupo Especial

A Unidos de Padre Miguel entrou na Marquês de Sapucaí com muita garra e mostrou que está disposta a brigar novamente pelo título da Série Ouro. O desfile provou que a escola tem estrutura e uma comunidade apaixonada que almeja chegar ao Grupo Especial. Vários foram os destaques positivos desta noite, a começar pelo samba, muito elogiado no pré-carnaval, foi impulsionado pelo desempenho de Bruno Ribas e seu entrosamento com a bateria de mestre Dinho. O conjunto visual foi um bálsamo para os olhos e impressionou pela riqueza no acabamento, cada ala que pisou na avenida tinha um detalhe único, assim como as alegorias. Vale destacar ainda a apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira. O desfile da Unidos uniu a técnica com emoção e conquistou o público que soltou gritos de “é campeã”. * VEJA AQUI FOTOS DO DESFILE

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Apresentando o enredo “Baião de Mouros”, assinado pelos carnavalescos Edson Pereira e Wagner Gonçalves, a vermelho e branco da Vila Vintém retratou a influência árabe, Moura e muçulmana no nordeste brasileiro. A escola foi a quinta a cruzar a passarela do samba na primeira noite de desfiles da Série Ouro. A agremiação terminou sua apresentação com 55 minutos aclamada pelo público.

Comissão de Frente

A comissão de frente coreografada por David Lima foi intitulada “De repente, um encantador de serpente” e apresentou um ótimo cartão de visitas, a qualidade das fantasias e o bom acabamento do elemento cenográfico marcaram o início da apresentação. A comissão trabalhou com mítica árabe do encantamento de serpentes, em um primeiro momento os componentes tentam encantar, porém, sem sucesso, até que o Rei do Baião surge com sua sanfona e as cobras sobem do carro, o momento recebeu uma boa resposta do público. No segundo momento, as mulheres que estavam escondidas no elemento saem fantasiadas de odaliscas. A dança foi aguerrida e com muitos detalhes, foi possível observar a sincronia presente entre todos os componentes. Como preocupação fica o fato do chapéu do “Rei do Baião” ter descolado em frente ao segundo módulo de julgamento, na última apresentação o item continuou em evidência.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira são figuras carimbadas na Unidos de Padre Miguel, indo para o décimo carnaval juntos, a sintonia entre eles foi nítida, assim como o companheirismo. A apresentação da dupla foi um dos pontos altos do desfile, muito seguros, o bailado mesclou movimentos clássicos com coreografias em alguns momentos. A belíssima fantasia contribuiu para engrandecer ainda mais a apresentação, representando “A Descoberta da América Pelos Turcos”, o figurino mesclou o dourado com o vermelho, cor da escola. No verso do samba que diz “Respeita o povo da Vila Vintém”, o casal apontou para a comunidade e ao finalizar a apresentação, Jéssica realizou uma bandeirada, em todos os setores a apresentação do casal foi exitosa e arrancou aplausos do público.

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Harmonia

Uma grande exibição da comunidade da Vila Vintém, com o samba na ponta da língua o resultado foi uma harmonia extremamente vigorosa, a letra do samba diz para respeitar o povo da Vila Vintém e foi exatamente esse o recado que eles deram, desde as primeiras alas o canto foi muito forte, os componentes estavam com muita animação e espontaneidade. Em sua predominância, as alas cantaram do início ao fim, o orgulho dos componentes estava presente em cada frase do samba que era entoado, a escola festejou na avenida e contagiou o público. A presença de Bruno Ribas no comando do carro de som trouxe ainda mais garra para o samba, seu estilo vibrante casou perfeitamente com a bateria de mestre Dinho e com o samba, que desde os primeiros acordes mostrou sua força.

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Enredo

Os carnavalescos Edson Pereira e Wagner Gonçalves foram os responsáveis por desenvolver o enredo “Baião de Mouros”, a escola mostrou a influência árabe na cultura nordestina. Os carnavalescos optaram por orientar o enredo através da musicalidade, o que eles consideram ser a maior interferência entre as duas culturas, sendo assim, a narrativa adotada entre as interseções árabo-nordestinas foram contadas através de um repente.

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O desfile foi dividido em três setores, sendo o primeiro denominado “No Caminho da Estrela”, o segundo, “Sopram o Vento e a poeira da História” e o terceiro “Na Caminhada, na Cavalgada: A Meca Apoteose”. A leitura do quesito foi muito direta, os carnavalescos recorreram a analogias, além do uso de signos e símbolos de conhecimento geral, o que ajudou a contar a narrativa da melhor forma, por exemplo, foi observado o uso de xilogravuras, incensos, cactos e camelos nas alegorias.

Evolução

A escola da Zona Oeste levou para avenida 2500 componentes, apesar de extremamente numerosa, a evolução foi correta. Os componentes estavam extremamente organizados e cada um sabia seu papel dentro das alas, foi uma evolução fluida e coesa, mas sem perder a empolgação e descontração que pede um desfile de carnaval. Porém, vale destacar que no final do desfile a escola precisou apertar o passo e a bateria não se apresentou no último módulo de julgamento.

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Samba-Enredo

O samba, de autoria de Myngal, Chacal do Sax, Alexandre Rivero, Robertinho, Maykon Rodrigues, Rafael Faustino, Gabriel Simões e Felipe Mussili, foi um grande destaque da escola durante o desfile, com refrões fortes e melodia potente, o componente se sentiu à vontade para cantar e extravasar. A letra da obra mexe muito com o brio da comunidade, principalmente o refrão “A nossa escola não deve nada a ninguém, respeite o povo da Vila Vintém”, nessa parte o samba explodia e a escola se contagiava. Fazendo sua estreia esse ano pela escola, o intérprete Bruno Ribas demonstrou total entrosamento com o carro de som e também com a bateria do mestre Dinho.

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Alegorias e Adereços

A escola contou com três alegorias e um tripé, como de costume, os carros chamaram atenção pelo tamanho, acabamento caprichado e a fácil leitura. Antes do abre-alas, a escola trouxe para a avenida um pede passagem, denominado “Bravo boi Mouro: Saara e Sertão, Unidos”, onde mostrou o boi, símbolo da Unidos de Padre Miguel, entrelaçado com a cultura árabe, apesar de grandioso, um dos chifres da escultura apresentou uma pequena falha de acabamento. Logo em seguida, a primeira alegoria, chamada “O encanto das mil e uma noites sertanejas”, causou impacto assim que entrou na avenida, muito colorida e com elementos que faziam ligação entre o nordeste e o saara, o carro impressionou pela qualidade das esculturas e o ótimo uso de cores.

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A segunda alegoria, “Armorialma”, levou uma proposta ousada para avenida, o uso do preto tomando conta de quase todo o carro em contraste com o vermelho na parte traseira proporcionou um efeito interessante, dentro do enredo ela representou o espírito mágico dos folhetos do romanceiro popular do Nordeste, como a xilogravura. Foi interessante observar como cada carro tinha uma proposta diferente do outro, o último por exemplo abusou do uso da cor rosa, denominado “O Boi é Mouro… Na Mesquita de Padre Miguel”, ele representou o conjunto de ligações culturais árabe-nordestinas que se encontram no carnaval da Mesquita de Padre Miguel, a escultura de um enorme boi de “braços” abertos chamou atenção de todo o público presente na avenida.

Fantasias

Assim como em seus carros alegóricos, a Unidos levou para a avenida um belo conjunto de fantasias, no total foram 22 alas, além das composições em alegorias. Foi interessante observar a mistura de tecidos, a presença de bordados e o contraste de texturas presentes nos figurinos. Marca da escola, as fantasias eram muito volumosas e com acabamento beirando a perfeição, porém, mesmo com o volume, os componentes estavam soltos e conseguiam evoluir com muita facilidade. A ala de baianas, que vieram no setor de abertura e representavam a poesia nordestina, com uma roupa predominante rosa, as soluções utilizadas nas saias foi diferente e causou um efeito interessante. O conjunto de fantasias no geral foi de tirar o folêgo, podendo destacar as seguintes alas: “Medievo Cantador”, “O mourisco andaluz”, “Pandeiro e camanjá” e “Máscaras de boi – os beduínos da rua da Mesquita”.

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Outros Destaques

A escola teve uma comunicação excepcional com o público presente no Sambódromo, durante o esquenta o samba de 2022 foi cantado e o público correspondeu cantando em alto e bom som.

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Sempre presente no desfile da Unidos, a ala das crianças mais uma vez roubou a cena, os pequenos da Vila Vintém estavam fantasiados de “Aladim Raimuidim”, o figurino lembrou um grande tapete voador, as crianças se divertiram e encantaram o público.

Céu da Estácio de Sá celebra a amizade de São Luís e São João e dos componentes

Estacio001 2O segundo carro da Estácio de Sá é o “Um encontro no Céu”. A alegoria representa a amizade de São Luís e São João selada quando os dois se encontram em um céu repleto de estrelas. Os destaques centrais Zezito Ávila, Waldeck e Rômulo interpretam, respectivamente, Santidade, São Luís e São João Batista e os outros integrantes da composição desfilam de anjos.

Para encenar essa aproximação entre as figuras divinas, foi construído um Céu todo em branco e prata com uma escultura de um anjo na frente do carro. O brilho da alegoria fica a cargo de cascata de espelhinhos cortados em retângulos partindo das plataformas dos componentes mais altos. O colorido vem dos desfilantes que ficam na frente, no primeiro andar. Uma desses desfilantes é Telma Fonseca, de 44 anos.

“Eu estou essa alegoria linda. Ela está no prata, mas quando todo mundo subiu no carro deu um colorido lindo! O Céu é tudo e todo mundo quer chegar lá, procurando ser uma boa pessoa e ajudando o próximo”, disse a componente.

Estacio002 1Nas laterais dos carros, anjos coreografados em branco e com maquiagem bem marcada compõem a imagem desse Céu festivo idealizado pelo carnavalesco Mauro Leite. Como o enredo é essa provável amizade, os anjos são não só amigos na arte como também na vida. Luiza Narcísio, de 22 anos, está desfilando pela primeira vez na Sapucaí e veio com uma amiga do peito do seu lado.

“Eu estou muito animada e honrada. É a primeira vez que eu vou desfilar no carnaval do Rio, no Sambódromo, e estou muito feliz que seja pela Estácio, primeira escola de samba e berço do samba. O coração está batendo forte. A minha melhor amiga está aqui do meu lado e para mim isso representa muito”, contou Luiza.
O clima de amizade realmente cercou o carro. Do outro lado da alegoria, Henri Salgado, de 27 anos, também estreante, se apresentou ao lado de uma amiga de longa data.

“É alguém que está sempre do meu lado e me apoia seja no momento bom, seja no ruim. É um laço que nós criamos ao longo da vida”, declarou o componente. Este carro veio logo após as baianas que estavam tradicionalmente vestidas de branco. Deste modo, foi possível ver um tapete branco construído nesse setor para coesão estética.

‘Tem que ter muito respeito com a nossa escola’: Para superar as dificuldades financeiras, componentes da Estácio apostam na força da comunidade

Estacio004‘Tem que ter muito respeito com a nossa escola’, assim o intérprete Tiganá deu o grito de guerra no início do desfile da Estácio de Sá em 2023. Em meio a diversas dificuldades enfrentadas pela escola no pré-carnaval, em entrevista ao Site CARNAVALESCO, componentes da escola afirmaram confiar na força da comunidade para superar os obstáculos. No carnaval de 2023, a Estácio de Sá apresentou o enredo

Há dez anos no Berço do Samba, a funcionária pública Michele do Carmo, estaciona de coração, acredita na capacidade da comunidade da São Carlos. Para ela, a nota 10 no quesito Harmonia já está garantida para a Vermelha e Branca.

-“A Estácio é a minha escola do coração, a comunidade segura a escola, está sempre presente todos os anos, independente de qual grupo ela esteja. Desfilar no grupo de acesso não é fácil, mas a comunidade e os integrantes são muito fies, são os mesmos todos os anos.”, afirmou.

Estacio001 1Baiana da escola do São Carlos há oito anos, a aposentada Benedita Ferreira faz questão de frisar o papel da comunidade na escola. Vestida de “Estrela do Céu”, a carioca define a história da Estácio como diferencial.

“A comunidade sempre pode fazer a diferença, ajudando a escola, cantando do começo ao fim. A comunidade participa o ano todo, não só no carnaval, mas na quadra, para fazer a diferença na escola. O diferencial da Estácio é a posição que nós estamos, uma escola antiga, o berço do samba e, por isso, temos obrigação de fazer a diferença.”, ressaltou.

A visão de Benedita é compartilhada por sua amiga baiana Marta Arruda, há nove anos na Estácio. Para Marta, a comunidade está com garra para buscar o título da Série Ouro e conquistar o tão sonhado retorno ao Grupo Especial.

Estacio002“A Estácio é o berço do samba, onde tudo começou. Nós queremos voltar para o Grupo Especial, pois é o lugar da Estácio. O Morro de São Carlos está torcendo para que o jurado possa ver aquilo que a Estácio tem de melhor. A torcida é forte para subir, a comunidade está vindo com muita garra”, frisou.

Visivelmente animada, a psicóloga Thais Michelini ressaltou com muita importância o papel da comunidade da escola no momento de dificuldade enfrentado pela Estácio de Sá. Segundo a carioca, a comunidade do Morro de São Carlos tem o poder de fazer a diferença no desfile da Vermelha e Branca. “A comunidade, com certeza, vai fazer a diferença, nós estamos aqui para isso, ganhar e levar a escola para frente. A comunidade que leva a escola para frente sempre”, concluiu.

Tambores de Crioula, Pandeirões e Caixas do Divino: Bateria da Estácio traz elementos da cultura maranhense para celebrar o São João da cidade de São Luís

Estacio001No carnaval de 2023, a Estácio de Sá homenageou o São João da cidade de São Luís do Maranhão, no enredo “ São João, São Luís, Maranhão! Acende a fogueira do meu coração”, desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Leite. Como forma de homenagear a cultura do estado, a bateria “Medalha de Ouro”, de Mestre Chuvisco levou para a avenida diversos instrumentos da cultura local, como tambores de crioula, pandeirões e caixas do divino.

Em entrevista ao Site CARNAVALESCO, Mestre Chuvisco comentou sobre a introdução dos instrumentos maranhenses na bateria da Estácio de Sá. Para o experiente mestre de bateria, a entrada desses elementos agrega novidades para o público e os jurados, além de estar agregado ao enredo da escola.

“Como todos sabem, o Maranhão é muito rico ritmicamente, em vários ritmos no estado e nós procuramos trazer alguns, o máximo desses ritmos para a bateria, não só tocando como mostrando os instrumentos na frente da bateria, mostrando a percussão do Maranhão. São coisas diferentes que estamos tentando trazer para avenida, mostrar para o público, para os jurados. São coisas diferentes que ninguém viu ainda”, afirmou Mestre Chuvisco.

Grande parte dos ritmistas que se apresentaram com Tambores de Crioula, Pandeirões e Caixas do Divino na Marquês de Sapucaí vieram do Maranhão para o Rio de Janeiro desfilar na Estácio de Sá. Segundo Mestre Chuvisco, a integração entre eles e a escola foi tamanha que os maranhense já adotaram a Vermelha e Branca como escola do coração.

“Eles pegaram firme com a gente nos ensaios, pegaram a ideia e ficaram com a gente toda semana ensaiando, vestiram a camisa da Estácio e posso dizer que viraram Estácio de Sá”, enfatizou o mestre.

Ritmistas se emocionam ao pisar na Marquês de Sapucaí

A emoção de pisar na Marquês de Sapucaí é inesquecível para qualquer sambistas. Para os maranhenses que vieram desfilar na Estácio de Sá, a emoção não foi diferente. Componente da Turma do Quinto, escola de samba do estado nordestino, Silvestre comentou sobre a emoção de desfilar pela Estácio com seu instrumento, o Tambor de Crioula.

É a realização de um sonho, estar aqui representando minha escola de samba do Maranhão, a Turma do Quinto. Tambor de Crioula, Bumba meu Boi, nossa cultura corre no sangue, na veia. Eu não poderia perder essa oportunidade e quero agradecer ao Mestre Chuvisco, que fortaleceu na minha vinda. Eu participei da criação de algumas das bossas também”, frisou o maranhense.

Também do Maranhão, a chefe de cozinha Roseane desembarcou no Rio de Janeiro com seu Pandeirão para desfilar na Estácio de Sá. Ao site CARNAVALESCO, ressaltou o sentimento de desfilar na Vermelha e Branca. “Estar aqui representa mostrar um pouco da nossa cultura, nossas brincadeiras do Maranhão, nossa cultura, o Bumba meu Boi, Cacuriá, o Tambor de Crioula”.

Do Rio de Janeiro, porém participante de diversas manifestações culturais do Maranhão, Cris Isidoro, reforça o sentimento de seus colegas de ala. “O sentimento é maravilhoso, uma família maravilhosa, fomos todos bem recebidos. Eu quero vir ano que vem novamente”, concluiu.

Fotos: desfile da Acadêmicos de Niterói no Carnaval 2023

Componentes da Ala ‘O mundo anda muito sério’ da Vigário Geral levam o nome da ala ao pé da letra

Vigario001 2A primeira ala da Vigário Geral representa a falta de tempo dos adultos com as crianças no dia a dia da vida. Os desfilantes são muito saudosistas em relação ao tempo de infância, apesar da correria, estão sempre levando a vida de uma forma mais brincante. Suas fantasias representam muito bem a questão das brincadeiras com cores que lembram a infância.

Os detalhes das fantasias remetem às brincadeiras de criança. A ala usa um chapéu colorido, um macacão verde e azul, uma gola branca e preta, além de um pião acoplado à fantasia.

Juçara, técnica em enfermagem aposentada de 63 anos, anda sempre lado a lado com as brincadeiras em sua rotina. Para ela, o fator lúdico torna a vida mais divertida.

“Brincava muito com meus filhos. Fazia cavalinho, soltava pipa, ensinei a jogar bolinha de gude (…) O lúdico você faz, não espera acontecer. Tudo na minha vida eu faço brincando: comida, arrumar casa (…) Sinto muita falta das brincadeiras: brincar de pipa, rodar pião, ciranda, todas as brincadeira”, disse Juçara.

Vigario002 2Marlene Souza, auxiliar de serviços gerais de 57 anos, mantém vivas as brincadeiras de criança com seu neto. Apesar de ser uma pessoa mais séria, Marlene sente falta do divertimento da sua infância.

“Brinco (com meu neto) de pega-pega, de esconde-esconde (…) Eu sinto muita falta (das brincadeiras), não tem mais. Amarelinha, pique-esconde, adorava pião. Não tem mais essas brincadeiras”, falou Marlene.

Célia Alves, tosadora e banhista de 48 anos, não tem filhos. Apesar disso, Célia sente falta do fator lúdico no dia a dia das pessoas. Segundo ela, a internet é um fator decisivo para isso.

“Sinto (falta do fator lúdico) no dia a dia. A gente perdeu um pouco do lúdico com a internet, eu acho. Acho que as crianças estão perdendo muito, antigamente a gente ficava na rua, brincava de pique-esconde, taco (…) Hoje tem coisas que não se brinca mais, até por causa da violência (…) A internet também acabou com isso”, expressou Célia.

Vanessa Cristine Fonseca, babá de 42 anos, desfilou ao lado de seu filho de 20 anos para relembrar o tempo da infância. Vanessa também acha que a informática contribuiu para a diminuição das brincadeiras de sua época.

“Brincava bastante (com meu filho), inclusive o trouxe aqui porque o tema do samba de Vigário Geral é brincadeira de criança. Eu brincava com ele do que ele mais gostava: até hoje é a bola. Como o próprio samba fala: ‘Beber água da bica, soltar pipa’. Essas coisas são mais difíceis de você ver hoje. Hoje em dia é muito informatizado”, falou Vanessa.