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Egbé Iyá Nassô: Comissão de frente da Unidos de Padre Miguel une ancestralidade e tecnologia no retorno ao Grupo Especial

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Comissão de frente da Unidos de Padre Miguel é comandada por Sérgio Lobato Foto: Carnavalesco

A comissão de frente da Unidos de Padre Miguel promete ser uma das grandes atrações do carnaval deste ano, marcando o aguardado retorno da escola da Vila Vintém ao Grupo Especial após 52 anos. O Boi Vermelho trará o enredo “Egbé Iyá Nassô”, idealizado pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato, que celebra a trajetória da africana Iyá Nassô e seu legado no Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, o mais antigo em funcionamento do Brasil. Assinada pelo coreógrafo Sergio Lobato, a comissão já vem chamando a atenção pelo capricho das performances apresentadas no minidesfile e no ensaio técnico.

O coreógrafo falou ao CARNAVALESCO sobre o trabalho que vem desenvolvendo na escola da Vila Vintém. “É uma honra, agradeço a todos os Orixás por esse momento que estou vivendo junto com a escola. Poder trazer a minha experiência e aprender com eles tem sido um grande prazer. Nosso objetivo é fazer um grande espetáculo, abrindo os corações e os olhos de todos, para que possam olhar com muito carinho para nós”, declarou.

O coreógrafo revelou ainda que a exibição da comissão de frente foi dividida em três partes. “No minidesfile, apresentei a encenação dos filhos de santo indo à uma festa de Xangô para a entrega do amalá. No ensaio técnico, trouxe os filhos de santo com o amalá, os Orixás, Xangô e a mãe de santo representando Iyá Nassô. Já no desfile oficial, será um outro trabalho, mas dando continuidade à nossa busca de falar da Casa Branca”, explicou.

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Com coreografia de Sergio Lobato, grupo usa tripé e iluminação cênica para celebrar o legado de Iyá Nassô e o Terreiro da Casa Branca Foto: Carnavalesco

Para retratar o Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, Lobato promete utilizar recursos cenográficos como o tripé e a iluminação. Sobre o uso do tripé, Lobato afirma ser a favor desde que o elemento cenográfico tenha fundamento no enredo apresentado. “Eu sou a favor do tripé, mas também respeito quem prefere não utilizá-lo. Acredito que ele precisa ter um fundamento. Para nós, o tripé é uma coxia de teatro. A Sapucaí é uma arena aberta, por isso que, quando precisamos trazer uma surpresa, um elemento novo, um personagem novo, é fundamental ter o nosso carro. Ele compõe o nosso palco”, argumentou. Ele também revelou que o tripé e os figurinos estão sendo pensados pelos carnavalescos da escola em diálogo com a proposta de apresentação do segmento para o desfile oficial.

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Com coreografia de Sergio Lobato, grupo usa tripé e iluminação cênica para celebrar o legado de Iyá Nassô e o Terreiro da Casa Branca Foto: Carnavalesco

Outro elemento confirmado na exibição da comissão de frente da UPM é a iluminação. Pioneiro no uso da iluminação cênica, Lobato foi o responsável pela primeira comissão a apagar as luzes da Sapucaí e utilizar efeitos especiais do tripé, quando estava na Unidos da Tijuca, no carnaval de 2023. Para ele, a experimentação da luz é um recurso que enaltece o espetáculo. “É muito legal que a Rio Carnaval, a Liesa e a Prefeitura nos oportunizem o uso da iluminação, com profissionais maravilhosos que nos apoiam, assim como os iluminadores da escola. A iluminação ajuda a destacar movimentos e cenas, chamando a atenção para o que precisa sobressair no espetáculo”, destacou o profissional, que trabalhou em escolas como São Clemente, Viradouro, Ilha, Portela, Salgueiro e Tijuca, entre outras.

Lobato guarda segredo sobre os detalhes que serão exibidos pela comissão de frente da UPM. A expectativa é grande entre o público e os torcedores da escola da Vila Vintém, já que o carnaval de 2025 marca a volta do Boi Vermelho ao Grupo Especial. “O público pode esperar muita garra, muita energia, faca nos dentes, muito canto e muito espetáculo”, finalizou o coreógrafo.

Voando alto no Anhembi, Gaviões da Fiel realiza o seu melhor desfile e sonha com título

Os Gaviões da Fiel realizaram o seu melhor desfile após 13 anos, quando na oportunidade fazia um enredo sobre Dubai. Agora, com um tema totalmente diferente, a “Torcida que Samba” mostrou ao público presente no Anhembi uma temática africana, levando máscaras do continente contadas pela divindade Orunmilá. Um desfile ótimo plasticamente, alegorias que se destacaram pelo seu realismo e fantasias com acabamento impecável. Por sinal, uma superação foi enfrentada. A escultura de Xangô, que foi levada pela ventania nesta última semana, foi reconstruída com perfeição. Ernesto Teixeira conduzindo o samba, comissão de frente e casal também foram destaques. Um conjunto de quesitos para colocar a Fiel Torcida na briga pelas primeiras posições. Os Gaviões levaram o enredo “Irin Ajó Emi Ojisé”, assinado pelos carnavalescos Rayner Pereira e Júlio Poloni.

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Comissão de frente

Nomeada como “Me fiz emi caminheiro”, a comissão de frente coreografada por Helena Figueira, teve como personagens “Orunmilá”, “Exu” e “Filhos da Profecia”. Uma coreografia bastante criativa criada pela coreógrafa Helena Figueira. Os bailarinos, com uma criativa fantasia, carregavam cada uma máscara diferente nas mãos e, em determinado momento, em posições sincronizadas, mostravam para o público. O outro personagem, Exu, percorria o tempo todo a pista e o elemento alegórico, mas o ponto alto da dança era quando o integrante de Orunmilá aparecia de dentro da árvore do tripé, se fazendo o caminheiro em andamento aos locais em que vai o enredo vai contar a história.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Wagner Lima e Carolline Barbosa, juntamente aos seus guardiões, desfilaram com a fantasia “Máscara Kanaga”. A dupla realizou um desempenho de alto nível, assim como fez nos ensaios técnicos. Catol não sentiu o peso da fantasia e executou todos os passos com maestria.

Enredo

O tema “Irin Ajó Emi Ojisé”, assinado pelos carnavalescos Júlio Poloni e Rayner Pereira tinha como objetivo mostrar a viagem de Orunmilá pelo continente africano concedendo máscaras, interagindo e tendo acontecimentos variados com outras entidades, como Nanã, Xangô, Aluvaiá, Exu e Ewá. Para quem estudou sobre o tema, ficou perfeitamente entendido nas alegorias.

Alegorias

O primeiro carro, nomeado “No Pântano de Nanã”, desfilou com o tradicional gavião, símbolo da entidade e, acima, uma escultura gigante da orixá Nanã, fazendo alusão ao encontro de Orunmilá com Nanã dentro do tema.

A segunda alegoria, “No Palácio de Xangô”, teve como principal figura a escultura do próprio orixá no topo do carro. Vale destacar que esse objeto teve que ser totalmente reconstruído, pois foi o mais afetado na ventania de 100 km/h que afetou o Anhembi.

A terceira alegoria, chamada “Exu e Aluvaiá em Ato de Libertação”, levou duas esculturas de dois negros gritando com uma caravala atrás. Aparentemente, dentro do enredo, é quando Orunmilá encontra a África em fúria.

Ewá e a Profecia – Uma alegoria toda marrom, que é a orixá da beleza, fechando todo o ciclo da viagem de Orunmilá

Harmonia

Após tantas tentativas de ajustar o canto, os Gaviões conseguiram e funcionou bastante no desfile. Uma prova disso é o apagão que a bateria “Ritimão”, comandada por mestre Ciro, fez um apagão obrigando a escola a antar alguns versos da obra, principalmente os finais. Um samba que teve certa de dificuldade por suas palavras africanas em sequência, mas a comunidade entrou com vontade e fez valer o quesito.

Fantasias

Um conjunto de ótimo nível foi apresentado no Anhembi pela escola alvinegro. Foi usado ótimos materiais de alto gabarito e todas se destacaram. A escola tinha uma dificuldade de reproduzir o que estava nos pilotos, mas desta vez seguiu fiel.

Samba-enredo

O cantor Ernesto Teixeira, interpretando o seu primeiro samba-enredo afro história, fez um belo trabalho junto à comunidade fiel e a bateria “Ritimião”. A sinergia na hora da bossa vale um destaque especial. Também é gigante o trabalho do diretor musical Rafa do Cavaco, que criou todo o desenho das cordas e guia a todo momento a ala musical no canto, principalmente na ajuda para Ernesto.

Evolução

A comunidade evoluiu de forma satisfatória. Destaque para o movimento que os componentes faziam no refrão levantando os braços, jogando os braços para frente com o balançar do corpo em sintonia. O andamento foi linear, a escola não parou por um longo tempo na pista em nenhum momento, e isso fez com que o tempo fosse satisfatório e sem correria.

Outros destaques

A bateria “Ritimão, vestidos de “Ogãs” realizaram bossas obrigatórias para o jurado avaliar, com destaque para o apagão. Vale citar que eles não pararam para se apresentar para os módulos, como fazem todos os anos.

Rainha de bateria, Sabrina Sato, foi para a pista com um ‘look’ dourado. A artista sempre leva o público ao delírio com a sua presença quando está com a Fiel Torcida. A ala das baianas desfiou vestida de “Máscara Gueledé”. Corinthiana fanática, Alessandra Negrini esteve presente, desfilando ao lado da ala musical.

Mocidade Alegre traz linda estética e conta com grande atuação do casal de mestre-sala e porta-bandeira

Atual bicampeã do carnaval paulistano, a Mocidade Alegre foi a terceira agremiação a desfilar no sábado de carnaval no Grupo Especial. Esteticamente, a escola do bairro do Limão veio impecavelmente bonita para apresentar o enredo “Quem Não Pode Com Mandinga, Não Carrega Patuá”. Também vale destacar a ótima apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da instituição, Diego Motta e Natália Lago.

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Comissão de frente

Com o nome “Mandinga: o chamado e a consagração dos ancestrais” e coreografada por Jhean Allex, os componentes fizeram uma dança ritualística emulando as bolsas de mandinga – ler mais sobre elas no quesito “Enredo”. Com diversos integrantes fazendo uma coreografia cheia de energia, alguns personagens ganharam destaque: Bexerin (sacerdote islâmico) e uma sacerdotisa vodu parecem comandar os demais. No alto tripé, chamado “Altar da Ancestralidade”, inteiro em tons terrosos e em amarelo (cores que apareceram com muita frequência na exibição), aparecia uma baiana – outra figura bastante presente na exibição. A aparição da baiana, por sinal, era sempre muito apupada pelos torcedores. Vale destacar, entretanto, que pedaços de um pano branco (provavelmente da saia da baiana) podiam ser visto na abóbada dourada do elemento alegórico.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

A jovialidade e o excelente entrosamento de Diego Motta e Natália Lago, novamente, se fez presente. Com cores um pouco mais escuras (dourado e preto), ambos executaram todas as obrigatoriedades nos quesitos em cada um dos módulos com leveza e a simpatia que lhe são característicos. Vale destacar que, no desfile, eles também mostraram uma característica nova: na segunda cabine de julgamento, ambos pareciam estar com ainda mais energia, fazendo com que o pavilhão da Morada girasse com bastante força.

Enredo

Estreando como carnavalesco da Mocidade Alegre, Caio Araújo assumiu um projeto que, quando iniciado, ainda continha a companhia de Jorge Silveira. Contando a história de objetos muito utilizados para simbolizar, professar, cultuar e compartilhar a fé (e a própria cultura de um grupo de pessoas), a divisão da escola foi, antes de mais nada, bastante correta e intuitiva. A Morada do Samba iniciou o próprio desfile na África, ventre da humanidade – como deixa claro o nome do primeiro setor: “África, Terra das macumbas ancestrais”.

No segundo, intitulado “Cruzos e as promessas da doutrina branca”, são contadas histórias ligadas às religiões professadas na Europa na época das Cruzadas e, posteriormente, das Grandes Navegações – como escapulários e medalhas da Agnus Dei e cruzes em geral. Logo depois, um quê de sincretismo entre as duas tradições religiosas surge no setor “Quem não tem balangandã não vai ao Bonfim”, que conta como os nkisi (bolsas sagradas de africanos chegados ao Brasil) empoderaram tais pessoas até a Revolta dos Malês e transformaram a Bahia em um local de sincretismo único no planeta.

No quarto setor, “Fios de ancestralidade e resistência: a força da mandinga”, o momento mais contemporâneo, de liberdade e orgulho religioso é abordado – com exaltação à tolerância entre todos os credos. Praticamente fazendo uma autocitação, o quinto e último setor, “Uma mandinga para a terça-feira” celebra a confluência de saberes religiosos em locais de fé com uma imagem bastante conhecida de quem acompanha o carnaval paulistano: a presidente da escola, Solange Cruz Bichara Rezende, rezando agarrada em diversos itens religiosos a cada apuração – tradicionalmente realizada na terça de carnaval na cidade de São Paulo.

Alegorias

Com um início africano, uma passagem pela Europa cristã e um final de desfile falando de sincretismo religioso (sobretudo na Bahia), a divisão cromática da agremiação era bastante intuitiva. O começo cheio de tons terrosos e remetendo ao solo sagrado africano; o terceiro, com cores mais claras, dando um belo contraste na pista. Por fim, se o sincretismo nada mais é do que a junção/mistura de crenças, nada mais natural que utilizar todas essas cores – com direito a um acréscimo bastante potente do dourado, advindo do material com que se faz inúmeros artefatos religiosos: o ouro.

O abre-alas, “África, Terra das macumbas ancestrais”, contou histórias de Daomé e Mali, sobretudo. Não se deixa enganar pelo nome do segundo carro: os “Altares das Irmandades Negras” falam sobre o sincretismo de religiões afro com as tradições católicas, recriando a fé existente nos mais diversos grupos. Mais focado em uma região específica, “Quem não tem balangandãs não vai ao Bonfim”, a terceira alegoria, descreve a Bahia como uma espécie de paraíso religioso em que o sincretismo é natural – e mais calcado no prateado, com iluminação verde. Por fim, o último carro, “Mandingas para mais uma vitória”, foca na própria história da escola, conhecida pela força e por enredos de cunho afro e religioso – vale destacar, entretanto, que a figura principal utilizada para falar da própria Morada do Samba é a de uma baiana, natural de um local que teve grande influência no carnaval como um todo e, também, no desfile em questão.

É importante destacar que situações pouquíssimas comuns à Mocidade Alegre aconteceram. O segundo carro alegórico, quando se aproximava da segunda cabine de jurados, apagou – e reacendeu cerca de um minuto depois. Já a última alegoria, no final do desfile, sofreu com um apagão do motor – exigindo muito mais merendeiros para empurrá-lo. Por fim, no primeiro tripé, “A riqueza das tradições culturais africanas e o poder mágico das palavras”, era possível ver ao menos uma das rodinhas que davam sustentação ao elemento.

Fantasias

Outra característica história da Mocidade Alegre foi confirmada e respeitada em 2025: o extremo bom gosto no conjunto de fantasias. É bem verdade que boa parte delas abusava dos supracitados tons terrosos e amarelo/dourado, mas nada que deixasse as indumentárias cansativas e/ou repetitivas. Vale destacar, também, o acabamento quase sempre impecável de todas elas. Havia uma, entretanto, (a ala 16, “Pavilhão: Nosso Maior Amuleto de Proteção”), que apresentava alguns costeiros aparentemente mais baixos que a média.

Harmonia

A combinação esquenta potente e samba-enredo de qualidade é quase sempre receita de sucesso no quesito. Some a esse cálculo o fato do chão da Mocidade Alegre ser, historicamente, forte. O quesito, como é possível imaginar, também não deverá apresentar problema algum para a agremiação do bairro Limão por conta de algumas atuações inspiradas. Igor Sorriso, sempre altivo e cada vez mais com a cara da escola, comandou os igualmente competentes Lucas Donato, Fernandinho SP, Jéssica Américo, Talita Uliana, Fabinho Pires e Kiko Melodia. A Ritmo Puro, de mestre Sombra, confirmou as altas expectativas desde o lançamento do CD: com andamento mais cadenciado, o facilitou o canto e a dança dos componentes – além, é claro, da já rotineira excelente exibição, com direito a quatro apagões na primeira passada do refrão de cabeça. Também vale destacar a presença de Eder Miguel, vocalista da banda Doce Encontro, executando a mesma introdução da faixa da agremiação no disco.

Samba-Enredo

Desde a final da eliminatória interna da escola elogiado, a canção ganhou ainda mais repercussão por conta do tratamento dado a ela. Melódico por natureza, a Morada do Samba, por meio da Ritmo Puro, comandada por mestre Sombra, tratou de deixar a música com um formato ainda mais especial e suingado com um andamento mais cadenciado, favorecendo a dança e o canto. A aposta, que se mostrou certeira desde o primeiro instante, se confirmou no Anhembi. Quem também teve boa atuação foi o carro de som, capitaneado mais uma vez por um Igor Sorriso cada vez mais à vontade na escola do bairro do Limão e com um luxuoso carro de som, composto por cantores do nível de Lucas Donato, Jéssica Américo, Talita Uliana, Fabinho Pires e Kiko Melodia. Cabe destacar o verso “Os balangandãs, pra enfeitar, abençoar”, que permitiu a ginga de toda a agremiação.

Evolução

O quesito teve alguns destaques bastante positivos e outros pontos de atenção. É importante destacar o quanto os integrantes das alas entre os segundo e terceiro carros tiveram bastante liberdade para evoluir além da dança do samba, interagindo dentro das próprias alas – nada que prejudicasse o quesito, de maneira bastante ensaiada. Em dois momentos, entretanto, a impressão é que a escola teve ao meno uma oscilação no andamento – ainda que curta: quando o primeiro tripé da agremiação estava na frente da segunda cabine de jurados, por volta de 17 minutos, a Morada pareceu evoluir mais lentamente por cerca de dois minutos.

Outros Destaques

A rainha Aline Oliveira da da “Ritmo Puro” reinou à frente dos ritmistas da Morada do Samba.

Comissão de frente criativa e instrumentos de sopro na bateria marcam desfile do Império de Casa Verde

O Império de Casa Verde desfilou neste sábado pelo Grupo Especial de São Paulo no carnaval de 2025. A criativa comissão de frente, a beleza do conjunto alegórico e a proposta ousada da bateria “Barcelona do Samba” foram os principais destaques do desfile, encerrado após 63 minutos. O Tigre Guerreiro foi a segunda escola se apresentar com o enredo “Cantando Contos. Reinos da Literatura”, assinado pelo carnavalesco Leandro Barboza.

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Foto: Agência Enquadrar

Comissão de Frente

Coreografada por Anderson Rodrigues, a comissão de frente do Império foi intitulada “História da Carochinha” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba. No primeiro ato, o Tigre, que é o protagonista da coreografia, adentra “Um Reino das Entrelinhas”, que é o elemento alegórico onde toda atuação ocorre, para combater os Empoeirados da Literatura, que são os responsáveis por espalhar o inverso mal contado da literatura infantojuvenil. Uma vez vitorioso do confronto, o Tigre é coroado Rei Soberano da Avenida por personagens famosos, agora com interpretações mais inclusivas. No segundo ato, os personagens se apresentam para o público em suas novas versões: Preta de Neve, Cinderela gorda, Hermione protagonista, Harry Potter coadjuvante, Coringa herói, Batman corrupto e Riobaldo e Diadorim, do livro. Chamou atenção especialmente os atores que interpretaram os cangaceiros que se beijaram e o momento em que Coringa “acerta” um golpe no Batman. A coreografia é criativa, bem executada e é o elemento do desfile que melhor define a proposta do enredo, fazendo do quesito o principal destaque do desfile.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal do Império, formado por Rodrigo Antônio e Jéssica Gioz se apresentou representando a “Cinderela e o Príncipe”. O casal teve atuação de gala no primeiro e no terceiro módulo, cumprindo todas as obrigatoriedades com elegância e criatividade na coreografia. A forma como Rodrigo conduz a dança é majestosa, consolidando cada vez mais a qualidade da parceria de anos com Jéssica. A única observação é o fato de que no segundo módulo, onde o casal se esforçou para fazer também uma apresentação de alto nível, eles foram atrapalhados pela equipe de câmeras da transmissão oficial em duas oportunidades ao se aproximarem demais, obrigando o apresentador do quesito a afastá-los para não prejudicar a dança para aquele jurado.

Enredo

O enredo do Império apresentou duas versões dos reinos da literatura. Uma delas, contada pelos Empoeirados da Literatura, é a versão que apresenta os personagens populares com características questionáveis dentro da realidade da sociedade contemporânea. A Cinderela é sempre magra? O Coringa é realmente um vilão? Por que o Peter Pan não quer crescer? São questionamentos como esses que levam ao outro lado dessa história, contado pelo Tigre-Rei dessa Avenida. Ele apresenta uma releitura das histórias dando justas características a personagens, que deveriam representar a verdadeira face da sociedade. Nas histórias do tigre, Hermione é a protagonista, o Batman é corrupto, os Sete Anões vivem em harmonia com a ‘Preta de Neve’ e o amor no sertão encontra a liberdade para se expressar por Riobaldo e Diadorim. Todas essas representações foram divididas pelos setores dentro dos “universos” que os englobam, como a literatura clássica dos contos de fadas, a literatura contemporânea e as histórias em quadrinhos.

A proposta do enredo na Avenida, porém, teve uma abordagem longe da ideal. Com exceção da comissão de frente, que resume com maestria a ideia central, a sutileza excessiva com a qual as versões dos contos do Tigre-Rei são apresentadas nos destaques de chão faz muitas delas passarem praticamente despercebidas.

Alegorias

O Império se apresentou um conjunto de quatro alegorias e um tripé. O Abre-alas foi nomeado de “Reino dos Contos de Fadas”, e abordou estereótipos que as histórias clássicas difundiram ao longo de seus séculos de existência. O segundo carro representou os “Heróis e vilões na Gotham City das desigualdades”, com o questionamento da verdade por trás da narrativa dos personagens de histórias em quadrinhos. O terceiro carro, chamado de “Sítio do Pica-pau Amarelo e Harry Potter – Um encontro na biblioteca de alquimias”, questionou a verdadeira importância dos personagens da literatura contemporânea. O tripé veio em meio a ala “Quilombo Imperiano” e exaltou a Velha Guarda da escola. O desfile foi encerrado com o carro “Bosque dos Apaixonados”, representando os romances retratados em diferentes livros ao longo da história.

Dentro da proposta do enredo, as alegorias cumprem seu papel de apresentar os diferentes “Reinos da Literatura”. O acabamento do conjunto é irretocável, se destacando especialmente pela riqueza de movimentos que todos os carros apresentam até mesmo em detalhes menores, como os rostos presentes nas laterais do Abre-alas. Outro elemento de grande destaque no desfile imperiano.

Fantasias

As fantasias do Império foram distribuidas pela Avenida de duas diferentes formas. As alas tradicionais vieram com componentes caracterizados de acordo com as versões originais das histórias retratadas pelo enredo, enquanto a versão do Tigre-Rei, que contesta a maneira como esses contos foram apresentados para o público, foi apresentada ao longo da Avenida nas roupas dos destaques de chão.

As roupas dos componentes na Avenida apresentaram acabamento impecável riqueza de detalhes, com as alas convencionais, que representaram a versão original das histórias literárias, se destacando pela facilidade da leitura. As fantasias dos destaques de chão, usados pelo desfile para apresentar a versão alternativa do Tigre-Rei, porém, em sua maioria não conseguiram transmitir a real mensagem a qual pretendiam para o público. Algumas das ideias tinham um desenvolvimento simples demais, fazendo com que a proposta passasse facilmente despercebida por olhares menos atentos, enquanto outras tiveram interpretações dúbias.

Harmonia

O canto da comunidade da Casa Verde oscilou ao longo da Avenida. Algumas alas cantavam com mais força, com destaque para a ala que representou Riobaldo e Diadorim, mas outras continham componentes que intercalavam versos cantados, como na ala do Zorro. O coral respondeu aos apagões aplicados ao longo da Avenida, mas como ocorriam nos refrões, foge dos momentos em que os desfilantes foram observados cantando de forma mais discreta.

Samba-enredo

A obra que conduziu o desfile do Império é assinada por André Diniz, Gustavo Clarão, Darlan Alves, Fabiano Sorriso, Evandro Bocão e Marcelo Casa Nossa, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Tinga. A letra busca narrar exatamente a proposta do enredo ao apresentar Tigre Soberano, que é o “Rei dessa Avenida”, questionando o inverso mal contado pelos contos de fadas, livros e histórias em quadrinhos mais populares.

O desempenho da ala musical comandada por Tinga foi de alto nível e a atuação em conjunto com a bateria contribuiu para animar o público, e dentro de sua proposta, o samba cumpre seu papel de narrar o enredo. A leitura da obra na Avenida, porém, passou por vários momentos muito discreta, tendo em vista a falta de clareza da apresentação da proposta pelo conjunto visual da escola.

Evolução

Tecnicamente, um desfile problemático do Império. Em ao menos duas oportunidades fora do momento do recuo da bateria, nos minutos 23 e 24, a escola parou por alguns minutos. O fluxo do cortejo foi inicialmente lento, com o último carro demorando para entrar na Avenida. Na parte final do desfile, a evolução acelerou de forma considerável para evitar problemas no fechar dos portões, que ocorreu com uma pequena sobra após 63 minutos. Em função do volume de algumas fantasias, parte das alas demonstraram dificuldades para evoluir pelo Anhembi, sendo outro fator agravante para o quesito.

Outros destaques

Musicalmente falando, o desfile imperiano foi fantástico. A bateria “Barcelona do Samba” incorporou instrumentos de sopro ao conjunto, como saxofone e trompete, fazendo com que o clima do desfile ganhasse ares de um tradicional carnaval de rua. Ideias criativas como essa sempre são bem-vidas e espera-se ver mais ideias criativas como essa no futuro. A rainha Theba Pitylla veio fantasiada de Mulher-Gato e levantou o público com muito samba no pé.

Águia de Ouro abre o sábado de carnaval com a força do canto da Vila Pompeia

O Águia de Ouro abriu o sábado de carnaval realizando um grande tributo musical em homenagem ao Benito di Paula. Foi um enredo contado em homenagem às suas músicas, desde a comissão de frente representando o seu famoso piano até a última alegoria, onde desfilou o homenageado junto do seu maior sucesso, que foi “Charlie Brown”. O desfile teve como aspectos positivos a comissão de frente, o casal João e Monalisa e o canto da comunidade, além de empolgar o público que estava na ansiedade pela primeira agremiação na pista. Entretanto, a escola sofreu com alguns problemas de acabamento nas alegorias e falhas na evolução. O desfile terminou em 1h03 com o enredo “Em Retalhos de Cetim, A Águia de Ouro, do Jeito Que a Vida Quer”, assinado pelo carnavalesco André Machado.

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Foto: Agência Enquadrar

Comissão de frente

A ala, coreografada por Ruy Oliveira, teve como significado “Benito Di Paula – Embalando o coração do sambista” – O elenco era integrado pelo próprio homenageado Benito e personagens representando “Teclas de Piano” – Os bailarinos vestiam fantasias com brilho nas cores branca e preta, nas cores do elemento alegórico que acompanhava a comissão de frente, que representava um piano. A coreografia era bem criativa, onde os componentes se alinhavam e interagiam com os outros integrantes que representavam Benito. Haviam dois, sendo que um ficava mais pelo chão e outro na pista. Um ponto alto da encenação foi quando as “Teclas de Piano” pegavam notas musicais e faziam efeitos especiais como se elas tivessem flutuando nas mãos. Sendo assim, foi o destaque principal do desfile, pois teve fácil leitura, exaltando a musicalidade do homenageado.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal João Camargo e Monalisa Bueno, com fantasia de “Herança cigana”, teve um belo desempenho nesta noite. Com uma bela fantasia, Monalisa carregava um véu cigano, sem o tradicional adereço de cabeça que as porta-bandeiras usam. A dupla, pelo segundo ano juntos, realizaram um grande desempenho juntos, priorizando os movimentos obrigatórios, ao invés das próprias coreografias dentro do samba.

Enredo

Assinado pelo carnavalesco André Machado, o enredo “Em Retalhos de Cetim, a Águia de Ouro do jeito que a vida quer”, o desfile consistiu em homenagear Benito di Paula através de suas músicas. A ideia foi feita de forma correta, principalmente olhando a questão dos carros alegóricos. A ideia de colocar o artista na última alegoria junto ao seu maior sucesso, que é a canção “Charlie Brown”.

Alegorias

A primeira alegoria da Pompeia desfilou representando “Retalhos de cetim” – Um carro bem carnavalizado e colorido, com máscaras e instrumentos que remete à folia. Vale ressaltar o símbolo maior, a águia, que teve a suas asas em forma de piano. Porém, nesta mesma alegoria houve um erro: Foi observado uma sacola plástica no carro, o que representa um item anônimo.

O segundo carro alegórico teve como ideia o “Amigo do sol e da lua”, onde tinha duas esculturas de crianças com metade de faces de sol e lua, remetendo ao clássico do Benito di Paula.

O terceiro carro foi nomeado “Sanfona Branca” – Uma grande homenagem ao Luiz Gonzaga, que foi um artista muito importante na carreira do artista. Pessoas maquiadas realizando coreografias deram o tom desta alegoria.

“Eh! Meu amigo Charlie Brown” foi a alegoria que fechou o desfile da escola. Nela, uma grande escultura do personagem de quadrinhos e desenhos animados “Charlie Brown”, além do cão Snoopy, que é o seu melhor amigo nas histórias. A ideia do carro foi contar a história da principal obra da história do Benito di Paula.

Harmonia

A força do canto da Vila Pompeia se fez presente no desfile. É ‘chover no molhado’ discorrer sobre a potência da harmonia que a agremiação sempre imprime. A parte mais cantada foi o refrão principal, que é bem ‘chiclete’ e até a arquibancada jogou junto, além do refrão do meio – São duas partes em que a melodia se eleva e o canto dos componentes vai para cima.

Fantasias

A escola optou por vestimentas simples para o desfile. Não usaram materiais de luxo e, nitidamente, quiseram fazer roupas confortáveis para o componente vestir e evoluir com certa tranquilidade. Entre todas, vale destacar o colorido da ala das baianas.

Samba-enredo

A obra foi muito bem interpretada pelos intérpretes Douglinhas Aguiar e Serginho do Porto. Em mais um ano juntos, a dupla mostrou novamente grande entrosamento. A sinergia com a “Batucada da Pompeia” de mestre Juca merece destaque.

Evolução

Um quesito que o Águia de Ouro teve um certo incômodo no desfile. No segundo módulo, ocorreu um problema com o tripé da Águia e a ala de trás, tendo que correr acelerar para corrigir. Em outro momento, esse mesmo elemento alegórico ficou distante do carro da comissão de frente, podendo dar buraco. Não teve, mas correu perigo. Além disso, após os 30 minutos, os componentes tiveram que acelerar consideravelmente o passo.

Outros destaques

A “Batucada da Pompeia”, de mestre Juca se destacou pelo bom andamento que deu para a comunidade e a bossa do refrão do meio. O baião do Luiz Gonzaga. A ala das baianas, nomeada “Em retalhos de cetim a cabrocha jurou desfilar pra mim”, teve uma bela fantasia toda colorida. Victor Hugo e Marcus Prado desfilaram como destaques no tripé.

Serrinha é resistência! Império Serrano encerra os desfiles da Série Ouro com emoção, raça e festa

Mesmo após perder suas fantasias às vésperas do Carnaval, o Império Serrano mostrou sua força e grandeza ao encerrar os desfiles da Série Ouro em 2025. A verde e branca, que tem na superação uma de suas marcas registradas, emocionou o público e elevou o espírito da festa. Afinal, como diz seu próprio enredo: “O que espanta miséria é festa”.

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Antes da escola entrar na avenida, o intérprete Kleber Simpatia emocionou o público com um discurso carregado de significado. Diante das dificuldades enfrentadas pelo Império Serrano, ele reforçou a importância da garra e do amor pelo pavilhão, afirmando: “A sua fantasia está na sua alma”. A frase sintetizou o espírito do desfile, mostrando que, mais do que adereços e luxo, o verdadeiro brilho da escola estava na força de sua comunidade.

Inspirado na trajetória e no legado de Beto Sem Braço, compositor icônico que deixou sua marca na história do samba, o enredo celebrou a cultura popular e a arte como instrumentos de resistência.

O esquenta já começou de forma emocionante, com toda a Sapucaí entoando em coro alguns dos sambas mais emblemáticos da história da escola. Ao som de “Heróis da Liberdade” (1969), “Aquarela do Brasil” (1964) e “Bum-Bum Paticumbum Prugurundum” (1982), o público se rendeu à tradição da verde e branca, transformando o momento em uma verdadeira celebração do legado imperiano.

Última a desfilar na noite, a verde e branca entrou na avenida com a responsabilidade de fechar os trabalhos com chave de ouro. O dia já amanhecia quando o Império Serrano tomou a Sapucaí, presenteando o público com um desfile marcado por nostalgia, euforia e, acima de tudo, esperança. Sem a pressão da competição, a comunidade imperiana brilhou e foi protagonista de uma apresentação emocionante, reafirmando que, na Serrinha, a resistência e a festa andam sempre juntas.

‘Esse carnaval é o maior desafio da minha carreira’, diz diretor de carnaval do Salgueiro

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Wilsinho Alves, diretor de carnaval do Salgueiro Foto: Carnavalesco

O CARNAVALESCO conversou com o diretor de carnaval do Salgueiro, Wilsinho Alves. Diretamente da Cidade do Samba, o bate-papo abordou as expectativas para o desfile do Salgueiro de 2025 e o atual momento profissional de Wilsinho.

“Esse carnaval é o maior desafio da minha carreira como diretor de Carnaval. Já estou há 20 anos de Carnaval, mas esse Carnaval representa uma grande esperança para o salgueirense. A gente tem muita expectativa nesse carnaval. É um carnaval de grande investimento do Salgueiro. O salgueirense pode esperar um Salgueiro que vai gostar de ver”, disse o diretor.

Em 2025, a Academia do Samba escolheu o enredo “Salgueiro de Corpo Fechado” e, para levar à avenida as práticas mágico-religiosas do Brasil, apostou no luxo e no requinte.

Nesse sentido, segundo Wilsinho, as alegorias foram, para o Carnaval de 2025, construídas do zero, permitindo que cada uma tivesse uma estética marcante e diferente das outras. Já as fantasias contam com materiais nobres como rabo de galo, faisões de Guiné e plumas.

“A gente tem fantasias um pouco menos volumosas, mas muito luxuosas. Vamos com menos volume, menos cangalha, menos peso, o que permite ao componente evoluir, cantar mais”, complementou.

A duas semanas do desfile, os trabalhos do barracão estão adiantados, com figurinos recebendo os últimos retoques e carros já finalizados.

“Houve muito trabalho desde muito cedo para chegar hoje, a 15, 14 dias do carnaval, e ter as alegorias finalizadas e as últimas fantasias botando a arte plumária. A gente tem mais de 70% das fantasias já ensacadas. O restante termina até o fim dessa semana, porque a gente tem entrega nesta semana e no início da próxima. Até terça-feira da semana que vem, a gente vai estar com todas as fantasias entregues”, garantiu Wilsinho.

A maior novidade da escola em 2025, porém, é o retorno do carnavalesco em ascensão Jorge Silveira à Marquês de Sapucaí. Egresso da tradicional Escola de Belas Artes (EBA) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Jorge foi assistente de Max Lopes e Rosa Magalhães e assinou sozinho desfiles da Viradouro e São Clemente. Foi no Carnaval de São Paulo, no entanto, que o artista fez história, ao conquistar o bicampeonato pela Mocidade Alegre (2023 e 2024). Jorge foi quatro vezes vencedor do prêmio Estrela do Carnaval, oferecido pelo CARNAVALESCO: o de Melhor Enredo, em 2019, 2020 e 2023, pela São Clemente, e o de Melhor Carnavalesco, em 2023, pela Mocidade Alegre.

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“Eu já tinha trabalhado com o Jorge na época em que fiz a Viradouro e ele era assistente do Max, um cara que vivia o dia todo praticamente no barracão. Eu vi seu trabalho como assistente de outros carnavalescos, depois como carnavalesco, e sugeri o nome do Jorge para a presidência. Na conversa, ele acabou seduzindo o André (presidente do Salgueiro) porque ele fala as coisas corretas e age de maneira correta. Jorge é um cara muito inteligente, muito participativo. Ele acompanha cada etapa do processo”, detalhou Wilsinho, cuja carreira, por outro lado, é longeva.

Wilson Alves Filho, o Wilsinho, é sucessor direto de Wilson Vieira Alves, o Wilson Moisés, ex-presidente da Vila Isabel de 2006 a 2010, morto em 2022. Wilsinho começou sua trajetória na Viradouro, em 2002, mas foi na escola de Noel que ganhou proeminência, ao assumir os cargos de superintendente-geral de carnaval, em 2005, e diretor de carnaval, em 2007. Em 2006, conquistou o campeonato do Grupo Especial com o enredo “Soy loco por ti, América”.  Ocupou a presidência da Vila de 2010 a 2014, sendo responsável pelo título de 2013, “Festa no Arraiá”. Em 2015, retornou à Viradouro, como diretor de carnaval. Tem passagem também, nessa mesma função, por União da Ilha (2017 e 2018) e Império Serrano (2022 e 2023), conquistando, por essa última, em 2022, o campeonato na Série Ouro, segunda divisão do carnaval carioca. Desde o carnaval de 2024, colabora com o Salgueiro, no Grupo Especial, e União de Maricá, na Série Ouro. A agitada rotina foi tema da conversa na Cidade do Samba.

“Eu passo na União de Maricá cedo, passo o dia todo aqui no Salgueiro e no fim da noite geralmente eu dou uma passada lá para ver como é que estão as coisas. Eu não consigo estar obviamente em dois lugares ao mesmo tempo. Na União de Maricá, eu tenho uma trinca de pessoas que me ajudam muito, que fazem parte da minha equipe há muitos anos: o Júnior Cabeça, na direção de harmonia, o Foca, na direção de barracão, e o Júlio, na direção de ateliê. Sinceramente eu acho que eu não faria novamente a dupla jornada. É extremamente cansativo. Eu fiz ano passado e fui convencido a fazer novamente esse ano. Não é fácil botar um carnaval na rua, imagina dois. Realmente você perde espaço, perde tempo da sua vida pessoal, mas tenho certeza que vão ser dois projetos de que eu vou me orgulhar muito e que terão grandes resultados”, prometeu Wilsinho.

O título salgueirense, em particular, é bastante aguardado pois, se a União de Maricá, criada em 2015, sagrou-se campeã da Série C em 2018 e vice da Série Prata em 2023, ascendendo à Sapucaí em 2024, o Salgueiro não vê um título desde 2009, quando homenageou o tambor. Com fé numa excelente colocação, o diretor de carnaval da Academia do Samba, no entanto, não sente a pressão pelo título, que, em sua opinião, deve ser encarado pela escola e pela comunidade de forma natural.

“Eu não posso sentir essa pressão porque eu cheguei ao Salgueiro só ano passado, mas eu entendo o desejo das pessoas. Está na hora realmente do Salgueiro voltar a vencer. A escola já está há 15 anos de jejum, com grandes carnavais nesse período, obviamente. O desejo de ser campeão, todo mundo tem que ter, a ambição de ser campeão, todo mundo tem que ter, mas a gente não pode se sentir pressionado, nem a equipe que trabalha, nem a comunidade, os desfilantes em geral. Tem que se encarar com naturalidade. Eu tenho certeza que vai dar tudo certo esse ano e a gente vai estar na disputa pelo título”, finalizou Wilsinho.

Niterói transforma Sapucaí em quadrilha e se credencia pelas primeiras posições

A Acadêmicos de Niterói entrou na avenida como a sétima e penúltima escola a pisar na Marquês de Sapucaí nesta segunda noite de desfiles da série Ouro, com o enredo “Vixe Maria”, sobre a festa de São João de Maracanaú, das maiores do país. E a escola apresentou todos os elementos de uma grande festa junina num desfile de alto nível de fantasias e sobretudo alegorias, dos melhores conjuntos do ano. Tiago Martins foi muito feliz no colorido que empregou em todos os setores da agremiação, assim como na concepção das excelentes alegorias apresentadas pela Niterói. A escola ainda conta com um contingente reduzido de componentes, o que resultou numa evolução rápida com a totalidade da escola chegando no setor final antes do tempo mínimo e dando uma segurada por mais alguns minutos. O canto da escola foi satisfatório, mas algumas alas não acompanharam. Comissão de frente e casal de mestre-sala e porta-bandeira abriram com muita competência o desfile da Niterói, arredondando o conjunto que faz a escola sonhar com sua melhor colocação em sua curta trajetória. Fechando os quesitos de alto nível da agremiação, o samba se mostrou gostoso de ouvir durante o desfile e rendeu muito bem, com desempenho firme do veterano Nêgo.

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Comissão de Frente

A comissão comandada por Fábio Batista apresentou uma grande quadrilha num palco itinerante como um pau de arara. A coreografia foi toda realizada em cima do tripé, e foi uma bela comissão. Efeitos de fogo nas laterais do palco, um sanfoneiro que na parte final da coreografia evoluía na parte de cima da pilastra. Uma comissão alegre e dinâmica que teve boa recepção do público em todas as cabines. No segundo módulo de jurados o led do balão presente no tripé apagou, enquanto nas demais cabines passou normalmente aceso.

LEIA AQUI: Alegoria da Acadêmicos de Niterói celebra a fé na festa junina

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Vinicius e Jack Pessanha desfilaram com uma fantasia representando os noivos da festa junina, e mostraram todo o entrosamento conquistado após quase três décadas de parceria. No embalo dos 40 pontos obtidos no ano passado, eles se apresentaram com muita firmeza e similaridade rítmica entre ambos, realizando uma dança limpa e fluida, além da elegância nos movimentos. Apenas no terceiro módulo num movimento
de muita proximidade entre os dois, Jack resvalou com a bandeira na cabeça da fantasia de Vinícius. Nos demais módulos a apresentação foi realizada sem erros.

Enredo

Niterói apresentou seu enredo dividido em três setores. No primeiro “A Quadrilha Niterói Chegou!”, representado pela comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira, primeira ala e o abre-alas trazendo uma grande fogueira. No segundo setor “O surgimento da festa junina”, a origem dessa manifestação em festas da alta sociedade europeia, a chegada ao Brasil e suas comidas típicas. No terceiro setor, “Fé na Festa”, a parte de devoção da festa junina, a celebração aos santos e ao Padim Padre Cícero. Um enredo desenvolvido com clareza e de maneira bem amarrada por Tiago Martins falando da história desta manifestação popular, dos seus símbolos maiores e da ligação com a religiosidade, porém o São João especificamente de Maracanaú acabou ficando escondido no enredo.

Alegorias

A escola trouxe três alegorias, a primeira denominada “A grande fogueira”, simbolizando o surgimento deste elemento tão tradicional das festas juninas. Um belíssimo abre-alas, bem iluminado e com muito capricho em cada detalhe da alegoria, das melhores alegorias do grupo neste carnaval, o único senão foi uma das lâmpadas da lateral do carro passar apagada. O segundo carro “Feitos por Maria, a herança do interior da festa”, trazendo quitutes e rendas apostou em muitos componentes nas laterais da alegoria e agradou, porém apresentou problemas mais evidentes de acabamento no topo. A terceira e última alegoria mostrou “A fé junina”, e teve uma concepção mais simples, mas de leitura imediata com muitas velas e esculturas de santos, e este carro passou intacto em termos de acabamento. Pequenas falhas num excelente conjunto de alegorias trazidas pela Niterói.

Fantasias

Se o conjunto de fantasias da Niterói impressionou menos que as alegorias, teve um grande acerto em sua leitura, a grande maioria de captação imediata. Bastante uso de figuras quadriculadas, tradição nas roupas juninas e muito colorido. Algumas alas tiveram problemas de elementos caindo durante o desfile, como a ala 16, “Viva São Pedro” que teve a parte traseira tombando em várias fantasias. Ainda assim, no geral a escola trouxe fantasias bonitas.

Evolução

Enxuta e sem problemas para evoluir na pista, a escola avançou com tranquilidade chegando no setor final com 43 minutos, e passou a segurar o ritmo para não terminar antes do tempo mínimo de 45 minutos. Niterói ficou alguns minutos parada, o que tirou um pouco da fluidez da evolução da escola, terminando sua apresentação em 52 minutos. Foi uma evolução compacta e sem espaçamentos por parte da agremiação azul e branca.

Harmonia

Na maior totalidade de suas alas a Acadêmicos de Niterói apresentou um canto satisfatório, sem maior explosão, mas com os componentes sustentando o samba, sobretudo nos dois refrãos que tiveram força semelhante. Algumas alas deixaram a desejar, fazendo o conjunto ter alguma irregularidade. O número pequeno de componentes também contribuiu para um canto que soou mais morno. A escola acabou tendo mais êxito em sua parte artística do que nos quesitos de chão.

Samba

O samba da Niterói se mostrou bastante funcional na avenida e passou de forma agradável em todo o desfile da escola. A obra de Totonho, Julio Pagé, Osmar Fernandes, Gabriel Machado, Mano Gaspar, Marcelinho Santos, Romeu D’Malandro, Edu Casa Leme, Soares do Cavaco e Flavinho Avellar mostrou força principalmente nos dois refrãos, ambos com uma subida nas notas que alavancou o canto dos componentes, e bem sustentados pelo intérprete Nego que esteve em mais uma boa apresentação de sua carreira, em entrosamento com seus auxiliares do carro de som. Destaque também para o trecho antes do refrão principal, “Santo Antônio dê meu par / Padim Ciço estou de pé / é São Pedro o pai do tempo / guia o povo São José / eis o que vem de berço / devoção à fé junina / visto amor e saio à rua / pra viver a minha sina”.

Outros destaques

Uma das fantasias mais criativas da escola foi da ala das baianas, vestida de plantação de milho, um efeito que funcionou bastante. Todos os destaques de alegorias estavam extremamente bem vestidos, ornando bem com os carros e contribuindo para o ótimo visual da escola.

A Voz que Embala a Resistência da Unidos de Padre Miguel no Carnaval 2025

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Com garra e talento, Bruno Ribas fortalece o canto da escola vermelha e branca da Vila Vintém Foto: Divulgação / UPM

De volta ao Grupo Especial do Rio de Janeiro, a Unidos de Padre Miguel tem no comando de seu carro de som, Bruno Ribas, consagrado cantor do Carnaval que carrega carisma, talento e emoção em sua voz. A agremiação da Vila Vintém levará para a Sapucaí no Carnaval 2025 um enredo afro carregado de muito axé, resistência e ancestralidade com o samba que vem sendo cantado pelo intérprete com o sentimento de um momento muito especial em sua carreira.

“Primeiro carnaval que eu vou para a avenida cantar um samba afro, que está ligado à África, e, além disso,  eu sou oriundo da família de Xangô, sou o décimo segundo homem da minha família que é filho de Xangô e tudo combina, tudo tem o seu momento exato para acontecer na vida, e esse é um presente que os deuses me deram. É um momento muito legal, de muita alegria e aqui há muita esperança plantada em dar sequência ao trabalho, mas respeitando todo mundo e fazendo o carnaval para estar lá em cima e não estar lá simplesmente para se manter. Esse é o rumo e o sentimento no qual me encontro com a UPM”, declara Bruno Ribas. 

Com o enredo “Egbé Iyá Nassô”, uma homenagem à sacerdotisa africana considerada fundadora do primeiro templo afro-brasileiro, a Unidos de Padre Miguel é a primeira escola a desfilar no domingo de carnaval. O impacto do posicionamento no dia do desfile na Marquês de Sapucaí, é visto por muitos como bastante significativo, podendo influenciar diversos aspectos da competição e da experiência do público. Sobre esse assunto, o intérprete comenta que “a posição de desfile hoje não conta muito, já contou. Há décadas atrás tinha um mito em relação a ser a primeira escola, hoje não. Hoje, a gente tem plateia cheia em qualquer horário, hoje a gente tem televisão em qualquer horário, a gente tem também a qualidade do desfile, o sarrafo está muito alto. Não tem muita contrariedade. Já desfilei em último lugar, o meio, em primeiro, já desfilei em todos e pra mim é o momento que você passa naquela avenida e conduz aquela emoção’’.

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Com garra e talento, Bruno Ribas fortalece o canto da escola vermelha e branca da Vila Vintém Foto: Divulgação / UPM

O entrosamento entre a bateria da Unidos de Padre Miguel e o intérprete é um dos pontos-chave para o sucesso da escola. A harmonia entre o ritmo cadenciado dos ritmistas e a voz potente do intérprete, gera a fluidez do samba-enredo e o envolvimento do público e dos componentes. A sincronia entre Bruno Ribas e Mestre Dinho, a parceria se destaca pelo alto nível de precisão. Bruno Ribas, tem a habilidade de conduzir o samba com segurança, respeitando as nuances da bateria “Guerreiros” de Mestre Dinho. Essa conexão permite uma boa execução, como as tradicionais bossas e paradinhas. ‘’É perfeito! Eu tenho um um carinho de chamar o Dinho de primo e a gente se entende muito, bem como o Marcelo, a gente também se entende muito, esse trio funciona muito bem e tem trazido bons frutos’’, destaca o cantor.

Bruno Ribas, reconhecido como um dos principais intérpretes do Carnaval carioca, tem em Neguinho da Beija-Flor um verdadeiro mestre. Assim como seu ídolo, Ribas é conhecido por sua potência vocal, sua capacidade de conduzir o canto da escola com precisão e seu carisma contagiante. Ele busca, em sua interpretação, a mesma entrega e emoção que Neguinho sempre demonstrou em sua longa carreira na Beija-Flor que se encerra nesse ano de 2025. Questionado por quem seria o seu sucessor ideal na agremiação de Nilópolis, Neguinho citou em vários momentos o nome de Bruno, que se sente muito grato pela lembrança de sua maior referência no samba, mas entende que não é um veredito. 

“E o mesmo que receber o Oscar, porque eu só tenho um ídolo que é o Neguinho da Beija-flor, e ele falar de mim não quer dizer que a escola de samba tenha que me contratar, mas é de tamanho carinho, uma tamanha consideração, de tamanho respeito, reconhecimento por algo que eu busquei de inspiração nele e me fez ser o cantor que eu sou hoje, foi olhar para ele, foi seguir os passos dele e graças a Deus estou aqui hoje fazendo 25 anos de cantor no Carnaval. É muito importante ressaltar que o Neguinho é o meu único ídolo, é a minha maior referência como cantor, é o maior cara do mundo para mim’’, ressalta Ribas.

Além do talento vocal, a influência de Neguinho em Bruno Ribas também pode ser notada na postura cênica e na conexão com a comunidade. Ambos compartilham o dom de transformar o samba-enredo em um espetáculo emocionante, criando um elo entre a escola e o público. Com grande repertório e uma voz icônica, Bruno Ribas promete elevar ainda mais o nível do desfile da Unidos de Padre Miguel no Grupo Especial, garantindo que o samba ecoe forte na Sapucaí e seja apresentado ao público um grande espetáculo no Carnaval 2025.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Niterói no Carnaval 2025

Um desfile excelente da bateria da Acadêmicos de Niterói de mestre Demétrius. Um ritmo da “Cadência de Niterói” que contou com uma ótima fluência entre os naipes, afinação acima da média de surdos e um leque de bossas simplesmente recheado de levadas nordestinas, o que ajudou a conectar o tema da escola a sonoridade da bateria.

A parte de trás da bateria da Niterói contou com uma excelente afinação de surdos, além de marcadores de primeira e segunda tocando com precisão. Surdos de terceira deram um balanço envolvente em ritmo e bossas. Um naipe de repiques extremamente técnico tocou com coesão junto de caixas de guerra com ótima ressonância, servindo de amparo musical para todos os naipes do ritmo.

Na cabeça da bateria da azul e branca de Niterói, um excelente naipe de cuícas fez um trabalho de destaque, contribuindo com um carreteiro volumoso. Tudo isso junto de uma ala de chocalhos bastante virtuosa e técnica. Um trabalho bem destacado envolvendo as peças leves, que ajudou na profundidade musical do grande ritmo niteroiense.

Bossas absurdamente musicais se mostraram amplamente vinculadas à nordestinidade solicitada pelo samba-enredo da escola. No refrão do meio, uma levada de forró fez o triângulo ressoar junto da zabumba, numa construção musical caprichada. Já na segunda do samba, a melhor elaboração sonora foi apresentada numa paradinha que começava com forró, virava um baião no início do refrão principal e terminava na segunda passada do estribilho, executando um toque junino impactante. A constituição de todo esse arranjo é bastante dançante e musical, o que certamente ajudou a impulsionar a evolução dos desfilantes pela pista, além de garantir interação popular.

A bateria “Cadência de Niterói” dirigida por mestre Demétrius tem motivos de sobra para ficar orgulhosa e contente após um desfile de grande qualidade, que pode ser capaz de garantir boa pontuação, além de sonhar em disputar eventuais premiações. Um ritmo da bateria da Niterói com uma musicalidade nordestina praticamente visceral, com um conjunto de bossas requintado. Notável o equilíbrio e a equalização de timbres diferenciada, que permitiu uma exibição grandiosa de todo o ritmo.