Walter Silva da Rocha desfilou pela primeira vez em 2009 e acredita que o trunfo ainda está guardado Foto: Carnavalesco
Há 16 anos atrás, o Acadêmicos do Salgueiro ganhava seu 9º título com o enredo “Tambor” e, de lá para cá, a escola tem se mostrado competitiva para ganhar sua 10ª estrela. Desta vez, a aposta é no enredo “Salgueiro de Corpo Fechado”, desenvolvido por Jorge Silveira.
A escola desfilará na segunda-feira, 3 de março, sendo a terceira a pisar na Sapucaí. Os componentes já estão ansiosos para verem o que o carnavalesco está planejando para o grande dia. Walter Silva da Rocha, de 40 anos, desfilou pela primeira vez em 2009 e acredita que o trunfo ainda está guardado, mas será emocionante.
“Acredito que a décima estrela venha. Nós estamos de corpo fechado, a comunidade está forte, cantando todo mundo junto. A gente vai merecer esse título. O trunfo está guardado para o desfile, este está guardado a sete chaves. O enredo é muito bom porque está contando sobre a proteção que todo mundo tem e todo mundo acredita, desde a Europa, desde os antigos tempos, até os dias de hoje, com patuás, guias, cruzes, medalhas. Estamos falando dessa proteção que todo mundo tem e todo mundo acredita. Eu espero um desfile maravilhoso e emocionante.”, comentou Walter.
Valéria Martins, de 62 anos, desfila no Salgueiro desde 2003 Foto: Carnavalesco
A engenheira civil Valéria Martins, de 62 anos, desfila no Salgueiro desde 2003 e atualmente faz parte da ala das baianas. Para ela, a chave é a identificação com o enredo.
“Nós esperamos que o Salgueiro ganhe a décima na segunda-feira. Estamos torcendo para isso. Eu acho que o trunfo é o enredo, já que está em alta falar da ancestralidade preta. Como o samba é por aí, de repente esse é o nosso trunfo. Alegoria muito bonita, carnaval e enredo muito bem elaborado. Acho que nós conseguimos sim. Eu me identifico muito com enredo, acho ótimo!”, afirmou a baiana.
Carla Muniz vai para seu 10º ano no Salgueiro Foto: Carnavalesco
O otimismo faz parte dos salgueirenses e empolgação dos componentes é contagiante. Carla Muniz, funcionária pública de 47 anos, tem expectativas de um desfile maravilhoso e entusiasmado em seu 10º ano no Salgueiro.
“Eu sou otimista e o Salgueiro vai fazer um carnaval maravilhoso para nós buscarmos a décima estrela. O trunfo do Salgueiro vai ser um carnaval com brilho, com muita fé, de corpo fechado, como o enredo. Eu espero do desfile alegria, emoção, muito entusiasmo, muito samba no pé, muito samba no gogó, evolução. Eu gostei do enredo porque remete à espiritualidade, mas remete à segurança do corpo, do espírito e da pessoa em relação à fé.”, declarou Carla.
E o segundo desfile de Jaqueline de Oliveira no Salgueiro Foto: Carnavalesco
Para Jaqueline de Oliveira, de 37 anos, a vantagem da agremiação é a crença de cada integrante em algum tipo de fé. Este é o segundo desfile dela no Salgueiro, mas ela torce pela escola desde 1993, quando a escola foi campeã com “Peguei um Ita no Norte”.
“Com certeza a décima estrela vem esse ano! A comunidade, a alegria e enredo que é muito bonito e fechado com escola são o trunfo. Todo mundo tem algum tipo de crença para fechar o corpo e eu acho isso muito importante para enfrentar os desafios desse mundo tão louco que estamos vivendo hoje em dia. Espero que o desfile seja maravilhoso e emocionante. Certamente será.”, destacou Jaqueline.
O torcedor salgueirense já pode contar com a animação de seus componentes e criar expectativas para a noite de segunda-feira. No mesmo dia, desfilarão também Tijuca, Beija-Flor e Vila Isabel.
Por muitos anos, a Estação Primeira de Mangueira, uma das escolas de samba mais tradicionais do carnaval carioca, tem encantado o público com seus desfiles grandiosos e sua bateria de ritmo inconfundível. No coração dessa batucada contagiante está uma figura que personifica o glamour, a paixão pelo samba e a tradição da escola: a Rainha de Bateria, Evelyn Bastos.
A trajetória de Evelyn é marcada por muito talento, samba impecável e símbolo de força feminina. “Ela representa tudo, ela é o símbolo, ela e o coração da escola. Sem ela ali, a escola não anda’’, declara Elizangela, componente da mangueira desde 2006, em entrevista ao CARNAVALESCO. A atual Rainha, que estreou em 2014 e se consolidou como uma das representantes mais queridas da comunidade, é nascida e criada no Morro da Mangueira e simboliza o espírito forte, engajado e orgulhosamente raiz da escola.
O senso de pertencimento e representatividade também é um dos pontos fortes que Evelyn reflete como rainha da bateria da Mangueira. ‘’Eu desfilo desde os 15 anos de idade e para mim ter uma mulher negra, que não é atriz, não é blogueira, a frente da bateria, para mim é tudo. Eu deixei de desfilar na escola do meu bairro, que é Vila Isabel, e passei para a Mangueira porque na minha opinião é a escola mais negra do Rio de Janeiro’’, conta a componente da escola há 3 anos, Mônica, de 57 anos.
“É muito mais que ser rainha de bateria, é usar esse posto para empoderar mulheres a acreditarem que todos os espaços são delas, dentro dos seus sonhos, das suas perspectivas, que podem ser tudo e não precisam se privar, se bloquear para chegar em determinado local’’, afirma Evelyn Bastos. O empoderamento feminino ganha um recorte racial quando a rainha de bateria cita o enfrentamento ao desrespeito e a pluralidade da mulher negra. ’’Elas podem ser elas em todos os lugares e que todo desrespeito perante a mulher negra não é um problema nosso, é um problema do outro. O que a gente precisa é enfrentar esse preconceito, cada mulher negra do seu jeito porque somos plurais, temos jeitos plurais. Nunca desistir, e sim, acreditar nos seus sonhos, acreditar em quem você é e passar esse respeito’’.
Além de seus samba sincronizado e energia contagiante na Sapucaí, a majestade da verde e rosa também se destaca por seu ativismo social, sua conexão com a comunidade e sua voz ativa pela preservação das tradições culturais do Carnaval . Desde 2024, à convite do Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, Gabriel David, ela está à frente da Diretoria de Cultura da Liesa. “Eu aceitei esse desafio do meu presidente Gabriel David porque a gente sempre teve muitas ideias semelhantes em outros trabalhos e recebi esse convite muito surpresa esse convite’’, diz Evelyn ao CARNAVALESCO.
Foto: Reprodução / Instagram
A liberdade para executar o seu trabalho como Diretora Cultural, foi o ponto-chave para aceitar o cargo, sobre isso ela diz que ‘’foi a primeira coisa que o Gabriel me garantiu. Inclusive, só aceitei ser diretora cultural na Liesa porque eu tenho autonomia e está sendo mágico. Todo lugar que a gente entra, a gente aprende muito, principalmente quando existe uma equipe muito boa e é um lugar onde estou me descobrindo cada vez mais e podendo expor todas as minhas ideias, as minhas crenças, o que eu acredito para a cultura da nossa gente e do Brasil’’.
O legado da Rainha de Bateria não se limita apenas ao desfile da Mangueira. Com passos firmes e o coração dedicado, Evelyn Bastos se destaca como uma verdadeira defensora do futuro do Carnaval, garantindo que o samba continue vivo e pulsante nas próximas gerações. O seu trabalho com as escolas mirins, não é apenas simbólico, ele tem impacto direto na formação cultural e social das crianças da comunidade .
Em 2025 os desfiles mirins tem o apoio da Liesa, e Evelyn ressalta a importância desta parceria. ‘’É o abraço e o carinho que a gente sempre precisou e que em algum momento foi esquecido, foi deixado para trás. É um resgate, é a gente esperançar e entender que o samba ele é perpétuo, entender essa perenidade é fundamental para gente, para Liesa e que bom a gente está vivendo esse momento’’.
Foto: J.M. Arruda / Divulgação
Uma realeza apaixonante, é assim que seus súditos mangueirenses se referem a ela. ‘’Falar da Evelyn é muito fácil porque a minha rainha é de se apaixonar. Ela é muito simpática, é uma pessoa que tem um entendimento racial fora de sério e especificamente esse ano, eu tenho admirado muito a entrega dela nos ensaios, como ela começa na pegada e ela termina da mesma forma. Tenho muito orgulho de ser um súdito da rainha Evelyn Bastos’’, declara Rosembergue, ritmista da bateria da Mangueira desde 2023.
Para o Carnaval 2025, a satisfação toma conta de Evelyn em representar à frente da bateria da verde e rosa por mais um ano, com um sentimento de felicidade carregando um legado repleto de identidade e ancestralidade. ‘’A cada ano eu me sinto presenteada. É uma satisfação tremenda, eu amo isso aqui e sempre friso que é um lugar onde minha mãe já passou, eu sempre fui muito feliz dentro da Mangueira que é um lugar onde estou desde que me entendo por gente. Eu me sinto contemplada pelos deuses, por Cartola, por Carlos Cachaça, por Zé Espinguela, por dona Neuma, dona Zica, por grandes nomes da mangueira, alguns que eu pude acompanhar, que eu pude dar um beijo na mão, pedir uma bênção e outros não mas que estão guardados na minha história porque sem eles a gente não teria como dar o primeiro passo’’. ressalta Evelyn, com brilho nos olhos.
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vermelha e Branca de Vila Vintém se consagra como o orgulho da escola Foto: Divulgação / UPM
A Unidos de Padre Miguel segue a todo vapor nos últimos preparativos para a grande estreia no Grupo Especial do Carnaval 2025. A escola será a primeira a desfilar no domingo, com o enredo “Egbé Iyá Nassô”. Um dos grandes responsáveis por essa conquista é o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, composto por Vinícius Antunes e Jéssica Ferreira, que atingiu a nota máxima no quesito em 2024.
Neste ano, o êxito promete se repetir. Desfilando pela 12ª vez consecutiva à frente da condução do pavilhão da UPM, o par segue com grande destaque e conquistando admiradores a cada apresentação. No último ensaio de rua, realizado na quarta-feira, na Praça Guilherme da Silveira, em Bangu, eles receberam inúmeros elogios da comunidade.
É notável a dedicação de Vinícius e Jéssica quando o assunto é excelência. Apaixonados pelo Boi Vermelho de Vila Vintém, eles esbanjam carisma e energia contagiantes. A jovem Camile, de 21 anos, moradora de Bangu e que desfila na escola desde criança, afirma ficar encantada com o trabalho do casal: “É uma leveza, é bonito de ver: a sincronia, a paixão. A UPM já encanta por si só, mas quando os integrantes estão engajados, é lindo! A alegria deles contagia. Tem muito a agregar.”
“Eles são fundamentais para nós. Se empenham ao máximo, são comprometidos e dão tudo pela escola”, reforçou a pensionista Kátia Nascimento, de 62 anos, que desfila há três anos na agremiação.
A expectativa é que todo esse empenho continue a render frutos na avenida. Sobre as notas, a ansiedade é grande, como descreve o passista Jackson Azevedo, de 25 anos, que desfila há nove na UPM: “É um casal em quem a escola apostou e que nos deixa confiantes. Com a experiência da coreógrafa Vânia Reis somada à deles, vamos manter a nota 40!”
Em conversa com o site CARNAVALESCO, Vinícius e Jéssica relembraram com emoção a trajetória na escola e compartilharam gratidão pelos torcedores: “Para nós, é primordial ter esse amor da escola. São mais de dez anos, e esse carinho só cresce. É recíproco! É o combustível do nosso sucesso”, disse o mestre-sala.
Primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vermelha e Branca de Vila Vintém se consagra como o orgulho da escola Foto: Divulgação / UPM
Jéssica completou: “Fui muito bem recebida há 12 anos, e esse carinho só aumentou. É importante demonstrar que estamos com a comunidade. Nunca os abandonaremos; lutaremos juntos”, afirmou a porta-bandeira, com um sorriso radiante.
A diretora Lara Mara destacou a identidade que o casal traz à escola: “Hoje, não vejo outro casal na UPM sem ser eles. Carregam o DNA da escola. São profissionais incríveis: o bailado da Jéssica tem leveza, e o riscado do Vinícius é impecável. É nota 40!”
Vânia Vieira, presidente da ala das Baianas, concorda: “Eles sempre deram orgulho à comunidade.” Após o ensaio vibrante, não restam dúvidas: orgulho é a palavra que define o sentimento da UPM por esse casal, que ainda tem muito brilho pela frente.
Com quatro títulos em cinco anos, a Viradouro chega ao Carnaval 2025 como favorita ao bicampeonato, algo inédito desde 2008. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o diretor-executivo, Marcelinho Calil, falou sobre a solidez do projeto da escola, a busca pela perfeição em cada detalhe e a resposta a críticas. Sem arrogância, mas com confiança, ele destacou o trabalho coletivo, a gestão familiar e a paixão pelo carnaval como pilares do sucesso. Durante a entrevista, Marcelinho citou o filósofo Aristóteles: “O todo é maior que a soma das partes”. Na Viradouro, cada detalhe – do texto do enredo à harmonia da bateria – é peça essencial para o todo brilhar.
O que explica a consistência da escola nos últimos anos?
“Não é algo recente. É a consolidação de um trabalho que começou há anos. Hoje, temos sinergia entre liderança e comunidade, ambiente profissional e poucos conflitos internos. Cada decisão, desde a escolha do enredo até o músico contratado, é discutida exaustivamente. O resultado é fruto de pequenas escolhas certas ao longo do tempo”.
Você considera este o ápice da gestão?
“Sempre buscamos o ápice no próximo ano. Em 2024, temos o que considero o melhor enredo até hoje: Malunguinho, com potência cultural e reparação histórica. João Gustavo (enredista) e Tarcísio (carnavalesco) são gênios em seus quesitos. Mas não paramos: até uma vírgula é revisada”.
Como responder a quem diz que o sucesso da Viradouro se deve apenas a recursos financeiros?
“Adoro ouvir isso! Quanto mais repetirem, mais mostram que não entendem nosso trabalho. Dinheiro não compra o que temos: disciplina, pesquisa e paixão. Ano passado, não fomos a escola que mais recebeu patrocínio, mas fizemos um carnaval impecável. O mérito é da equipe”.
Há soberba na gestão?
“Rimos disso. Soberba é falar que vamos ganhar sem mérito. Aqui, motivamos a comunidade, mas respeitamos os rivais. Já perdemos e aceitamos com respeito. Quem critica talvez não esteja feliz com o próprio trabalho”.
A bateria da Viradouro passou por mudanças. Como foi essa transformação?
“Foi uma decisão estratégica. Trouxemos o mestre Ciça, que adaptou o andamento ao samba e à identidade da escola. Não é sobre velocidade, mas sobre musicalidade. Ele é um mestre que entende o impacto da bateria no conjunto”.
Você se vê como referência no carnaval?
“Não penso nisso. Meu foco é interno. Mas é gratificante ver escolas seguindo nosso modelo. O que importa é consolidar a Viradouro como espaço de excelência e inclusão, com projetos sociais e formação de novos talentos”.
O que esperar do desfile de 2025?
“Um carnaval à altura do nosso legado. Não queremos ser melhores que 2024, mas sim melhores que as outras escolas. Malunguinho traz força, provocação e poesia. A comissão de frente será grandiosa, mas não comparamos com anos anteriores: cada desfile é único”.
Há pressão para vencer de novo?
“Não carrego esse peso. Recomeçamos do zero todo ano. Se não há bicampeão desde 2008, o problema não é nosso. Queremos fazer o melhor possível e deixar o julgamento aos juízes. Confiamos neles”.
O que define a Viradouro?
“Paixão. Somos uma família que ama carnaval, competição e transformação social. Ganhar é consequência de um trabalho que não para. E, seja em 2025 ou daqui a dez anos, seguiremos com a mesma sede”.
Alemão do Cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Carnavalesco
Alexandre Augusto Panzoldo nasceu no final dos anos 1970 em uma família de classe média, na Mooca, cidade de São Paulo, de uma dona de casa e um engenheiro, ambos descendentes de italianos. Sem vínculo familiar direto com o mundo da música, o pai comprava LP ‘s de Agepê, Benito de Paula, Exporta Samba, Beth Carvalho. “Eu ouvia muito em casa”, disse ele em entrevista ao CARNAVALESCO.
Autodidata, aprendeu sozinho a tocar pandeiro, tamborim e surdo. “Quando eu fui fazer cursos e trabalhar com profissionais, os professores falavam: “Você tem uma facilidade muito grande de aprender perante os outros alunos que eu tenho”. Aí eu percebi que eu tinha jeito para o negócio e comecei a me apaixonar”, recordou Alexandre.
Apaixonado por futebol, costumava tocar na bateria da torcida organizada do Corinthians. “Com 13, 14 anos, eu ia no jogo do Corinthians e a Gaviões da Fiel era um bloco que estava se transformando em escola de samba”, relembrou ele, que fez parte da primeira formação da escola de samba Gaviões da Fiel, no Carnaval de 1989, como ritmista.
Foi no cavaquinho, no entanto, que o jovem talentoso mais se destacou. Após dominar a percussão, Alexandre mergulhou no instrumento de cordas. Um dia, na quadra da Gaviões da Fiel, diante da ausência de um dos cavaquinistas, foi chamado para compor a equipe de som daquela noite. O diretor de harmonia Carlos Tadeu Miranda, hoje conselheiro vitalício da Gaviões, achou Alexandre um nome fraco e disse: “Com vocês, Alemão do Cavaco”, batizando-o com o apelido pelo qual é ate hoje conhecido, em razão do então cabelo loiro e feições europeias.
O tempo passou e a dedicação à música só aumentou. Alemão formou-se em Violão e Arranjo pela Faculdade de Música Carlos Gomes, criou o próprio grupo de samba, Dose Certa (do qual participou por mais de 20 anos, até o fim da banda em 2022), e tornou-se um conhecido compositor e arranjador de sambas-enredo no Rio de Janeiro. Na Mangueira, assinou, entre outros, o samba “Maria Bethânia: a Menina dos Olhos de Oyá”, de 2016, e assumiu o posto, pela primeira vez em sua vida, de diretor musical de uma escola.
Desde 2022, está à frente da direção musical do Salgueiro, onde gabaritou, todos os anos, o quesito Harmonia, firmando a Academia do Samba como a única escola a somar 80 pontos neste quesito nesse período.
“Ser diretor musical do Salgueiro é uma honra gigante, porque é uma escola gigantesca. Quero agradecer ao nosso patrono Adilsinho, ao Leandro e ao André, nosso presidente, que foi quem me trouxe para o Salgueiro, pela confiança no meu trabalho. A gente em dois anos aqui a gente alcançou a nota máxima com o grupo. Estamos trabalhando demais para continuar mantendo essa nota, porque o nosso grande objetivo é o título”, disse Alemão do Cavaco.
O paulistano de coração carioca explicou ainda como é seu trabalho na escola: “O trabalho de diretor musical consiste em cuidar dos arranjos, da mixagem, dos volumes, das notas cantadas, da tonalidade, dos andamentos, dos conjuntos de bossa com bateria que vão ser feito harmonicamente também com os cavaquinhos e violões. É todo esse cuidado para a gente ter o máximo de nota possível”.
Alemão do cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Reprodução / Instagram
Embora o objetivo principal seja o desfile carnavalesco, Alemão trabalha o ano todo – por exemplo, na supervisão musical da final do samba-enredo e no arranjo da gravação da faixa escolhida.
O trabalho tem gerado valorosos frutos: o samba do Salgueiro de 2025 é, hoje, o mais tocado do Brasil nas plataformas de streaming e o único com mais de um milhão de plays no Spotify.
“Quando o samba foi escolhido, ele já era um sambaço, a gente já tinha visto isso, por isso que escolhemos, mas ele não era o mais falado. Ser o mais ouvido, a pouquíssimo tempo do Carnaval, facilita o canto das pessoas. O samba é acessível de melodia, de letra. Quanto mais viraliza, melhor, porque você pega um público maior”, vibrou o musicista.
A popularidade da obra pode estar também ligada à sua qualidade técnica, que une passado e presente, macumba e Nordeste, numa junção potente e melódica.
“O samba este ano tem uma melodia ora tradicional, de sambas antigos tradicionais, e ora com novidades. Ele tem uma modulação que hoje já é bastante comum no samba e no samba-enredo, mas ela não é tão previsível. Além disso, ele casa muito a letra com a melodia adequada. Sendo mais explicativo, na hora que fala do macumbeiro mandingueiro, aquilo chama um terreiro, chama um um atabaque. Quando fala do sertão, a gente remete a uma melodia de cangaço, de baião. O samba é perfeito para um desfile dinâmico, poético e emocionante”, desenvolveu Alemão.
O diretor musical abordou também o Manual do Julgador da LIESA 2025, que trouxe modificações em quesitos como Bateria, Samba-Enredo e Harmonia, entre outros. Neste último, em especial, passa a ser avaliada a performance do intérprete e do carro de som, o que, para o diretor salgueirense, já vem ocorrendo há um tempo.
“No Rio, o carro de som já vem sendo julgado, no mínimo, há uns 7, 8 anos. O quesito Harmonia praticamente virou carro de som. O que ele era antigamente acabou indo para Evolução. A questão da sanfona da escola, de abrir buraco… A única coisa que ainda ficou em harmonia é o canto das alas, que tem sido pouco levado em consideração porque hoje as harmonias fazem as escolas cantarem. A harmonia do Salgueiro não é diferente. Os jurados tem realmente olhado o quesito Harmonia como uma harmonia de música. Estar em paz, estar equilibrado. O cantor no tom correto, sem excessividade de cacos, o arranjo correto, o andamento bacana com a bateria para não ficar uma correria, para não ficar muito para trás, as introduções, o cavaquinho que veio desafinado ou não. O jurado vai buscar a excelência. Isso que está no manual simplesmente corrobora com o que já vinha acontecendo”, constatou.
Alemão do cavaco é Diretor musical do Salgueiro Foto: Reprodução / Instagram
Por fim, Alemão avaliou as estrelas pratas da casa do Salgueiro.
O ano de 2025 marca a estreia do intérprete Igor Sorriso à frente da Academia do Samba, após passagem pela escola-mirim Aprendizes do Salgueiro e longa trajetória na São Clemente. Apesar do começo no Rio, Igor esteve dedicado nos últimos anos ao Carnaval paulistano, onde destacou-se como bicampeão (2023 e 2024) pela Mocidade Alegre.
O cantor recebeu quatro vezes o Prêmio Estrela do Carnaval de Melhor Intérprete, oferecido pelo site CARNAVALESCO (duas vezes pela São Clemente, em 2012 e 2015, e mais duas pela Mocidade Alegre, em 2019 e 2022).
“O Igor é um dos caras mais profissionais que eu trabalhei na minha vida. Ele tem cuidado com o canto, com o estudo, melodia, com a nota que ele vai cantar. E o principal, ele tem uma humildade que poucos gigantes tem. Ele sabe ouvir. Eu tenho certeza, certeza absoluta que independente de nota, claro que nós vamos buscar as notas, mas independente de você estar na mão de um jurado ou não, o trabalho que vai ser entregue vai ser de excelência. E isso muito pelo Igor também”, elogiou Alemão do Cavaco.
Filhos do ritmista e ex-presidente de ala Tuninho e também crias da Aprendizes, os irmãos Guilherme e Gustavo Oliveira galgaram posições até alcançar o maior posto da bateria Furiosa, dos longevos mestres Loiro e Marcão. Já colaboraram com Fundo de Quintal, Clareou, Dudu Nobre, Ludmila e Xamã, além de liderarem o projeto Dos Santos, que une samba e música eletrônica sob uma perspectiva experimental. Há três anos, os mestres da Furiosa integram também o projeto Samba in Harlem, da escola de música Frederic Douglas, na cidade de Nova Iorque, Estados Unidos.
“Eles são muito esforçados, muito inteligentes e muito talentosos. A molecada que vem se renovando tem eles como guias. Não é nem discussão, mas é um papo de altíssimo nível que eu tenho com eles. Tudo que a gente faz na área musical, a gente conversa junto. Introduções, arranjos… Tem sido um entrosamento, uma coisa muito gratificante para mim. Gosto muito do trabalho deles”, enalteceu o líder da ala musical salgueirense.
“Ninguém me chamou para ser presidente. Eu que quis ser, me candidatei. O que mais gostei de fazer é esse trabalho com a comunidade, com os crias, de colocar as pessoas da casa mesmo nos lugares-chave, com competência, como sempre digo. Isso mexe comigo, acho que é um acerto. Tem outros acertos também, mas se eu quiser frisar uma coisa, para mim é isso: essas pessoas da casa, que a gente apelida de cria. Nasceram no morro. Uns eu vi na barriga da mãe, amigos dos meus filhos, que eu sabia que tinham competência, mas alguns não tinham ocupado ainda esses postos. Ajudaram a escola nesses três anos a evoluir em muitas coisas, e acho isso muito legal”.
O que você gostaria de fazer que ainda não deu tempo?
“Tem muita coisa, muita coisa. Para o carnaval, acho que estou fazendo o que tenho que fazer. Falta o título, e estamos trabalhando para que ele venha agora, com vontade e força. Agora, em infraestrutura, tem algumas coisas que gostaria de fazer aqui no barracão e na quadra, que não deu tempo. A obra na quadra seria uma expansão, mas não há espaço em volta. Ali precisa de reparos, por exemplo: fiz o chão, mas terá que ser refeito. Climatizar aqueles camarotes, recuperar a climatização do salão VIP, porque os ar-condicionados já estão ruins há seis anos. Tirei de vez, não consegui colocar financeiramente, porque estou focando mais no custo do carnaval. Alugo climatizadores aos sábados, mas está sendo mais barato. Temos que melhorar o centro de memória e o auditório”.
Como está a questão financeira da Mangueira?
“O nosso projeto para o desfile está sendo executado 100%. Fico chateada quando dizem: ‘O carnaval foi assim porque a Mangueira não tem dinheiro’. A Mangueira sempre gastou. Às vezes, o que não dá certo não é por falta de dinheiro, é porque deu errado ali, alguém errou, mas não falta investimento. Não faltou nos dois anos. Os carnavalescos estão aí e podem confirmar. Não deu, não rolou. Agora, não interessa mais o motivo. É complicado ter um projeto e ter que cortar algo, mas se não há recursos totais, não dá”.
A Mangueira tem pessoas que apoiam o carnaval financeiramente?
“Busco recursos. O Sidney (França) está aí e não me deixa mentir: não falta recurso. São amigos meus que ajudam a escola. Apoiadores, a quem agradeço muito. O Quaquá (prefeito de Maricá) começou isso, ele me incentivou a assumir. Os amigos abrem caminhos, mas não chegam a ser patronos da Mangueira, porque a escola não se permite ter patrono. Quaquá e Freixo nunca tiveram essa intenção. Quaquá é mangueirense. Só fui descobrir quando o conheci. Freixo já sabia há muito tempo. Só tenho gratidão aos dois por abrirem portas para a Mangueira”.
Você gostou de ser presidente da Mangueira?
“Costumo dizer que estou aqui, do lado daquela cadeira, há 12 anos. Fui braço direito do Chiquinho. Ele dizia que eu era o braço direito e esquerdo. E vice-presidente do Elias, também braço direito dele. Para mim, foi natural assumir a presidência. Mas gosto, gosto do que faço. Primeiro, porque gosto de gestão. Trabalho com isso há anos. E gerir a minha escola do coração, imagina como é”.
Você é tipo xerife no comando?
“Às vezes preciso ser. Mas, às vezes, sou mãezona. Por isso falam ‘Guanayra mãe’, mas aqui dentro é uma família. Trabalho com maioria que conheço há anos, é família. Família briga, se abraça, se beija”.
O enredo de 2025 mexeu com você?
“Mexeu comigo desde o dia em que foi apresentado. O Sidney me mostrou três propostas, mas ele queria essa. As outras nem lembro. Esse mexeu muito. E a cada dia, desde o lançamento, conversando com os pesquisadores, mexe mais. É a vida dos meus ancestrais até a vida dos meus netos hoje. Estamos muito mexidos com esse enredo”.
O que esperar do desfile de 2025?
“Acho o abre-alas maravilhoso. Vai causar. É um desfile para emocionar e com técnica. A Mangueira sempre emociona. Viemos tentando trabalhar mais a parte técnica. A comissão de frente vai emocionar muito mais do que no ensaio técnico. Nossa comissão é babado. Estamos aí para emocionar com técnica”.
Você tem noção de que tem a melhor ala musical do carnaval?
“Já confiava. Não vou dizer que sabia, mas achava que seria assim, porque conheço a qualidade do Vitor Art e do Digão. Fiz o casamento perfeito, mas o trabalho deles combina com o do Hudson (Taranta Neto) e do Rodrigo (Explosão). Os quatro vêm juntos desde pequenos na Mangueira. Uma hora um canta, outra toca cavaquinho, e deu nisso”.
O Dowglas Diniz e o Marquinho Art estão muito bem no carro de som. Qual sua análise?
“O Marquinhos foi um achado meu. Eu que trouxe ele para o Chiquinho. O Dowglas era um garoto de casa que eu observava há tempo. Quando tive a oportunidade, chamei. Não esqueço: ele estava assustado. Perguntou: ‘O que foi, madrinha?’. Quando o convidei, chorou muito ali naquela cadeira”.
O sonho de todo o sambista paulistano aconteceu: Ter a experiência de ver o Vai-Vai com toda a sua torcida pela manhã. No momento em que o locutor anunciou o nome da escola, as bandeiras se agitaram desenfreadamente, dando um belo contraste no amanhecer do Anhembi. No ensaio, os componentes demonstraram a força da comunidade e a garra do canto. A bateria “Pegada de Macaco” e o carro de som comandado pelo cantor Luiz Felipe também foram destaques no ensaio do Bixiga. Entretanto, houve falhas na evolução, pois o cálculo do tempo somado ao andamento não foi correto e a escola acabou acelerando os passos, somente ao final da passarela chegou a correr, causando a variação de velocidade. Um desfile ousado e criativo, mas os erros em evolução podem tirar décimos importantes na apuração.
A ala, coreografada pelo estreante Sérgio Cardoso, apostou nas maiores ousadias de encenações. Zé Celso era um artista que não via problemas em nada. Sendo assim, a comissão de frente fez de tudo para homenagear da melhor forma possível. Houve mulheres com seios de fora e o próprio ator fazia uma encenação que mostrava a parte traseira.
O tripé, que representava o Teatro Oficina, merece um destaque especial. Além de muito parecido com a meca do teatro, também tinha um visual bastante agradável.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Renatinho e Fabíola, com a fantasia de “Exu-Baco: Uma força de caos e desordem”, em análise no segundo módulo, foi observado um desfile satisfatório da dulpa. Eles inovaram e fizeram a coreografia dentro do samba em frente à cabine, não sendo nada burocráticos.
Enredo
A ideia do Vai-Vai foi de homenagear um dos maiores dramaturgos que já pisou em solo brasileiro. José Celso Martínez é devorado na primeira alegoria, onde Exus são convidados a fazerem isso com ele, pedindo licença para o ‘Exu das artes’. Conseguiu realizar de forma satisfatória a projeção feita na pista.
Alegorias
O primeiro carro da escola representou “No Banquete de Baco, a Saracura Devora Zé Celso, O Louco, Criador das Artes nas Macumbas Paulistanas” O Vai-Vai sempre desfila com uma coroa em seu abre-alas. Afinal, é o símbolo do pavilhão da escola. Ela sempre vem preta, dourada ou iluminada. Porém, desta vez ela foi toda enfeitada com flores e investimento de luzes.
A segunda alegoria simbolizou “O Mundo Louco de um Eterno Sonhador… Liberdade de Ser e Pensa” – Uma ideia lúdica, mas que nesse houve a falha na pintura, deixando rastros de sujeira dentro da própria alegoria.
O terceiro carro foi à pista como “Flores para Cacilda: Beleza e Potência do Amor no Teatro e na Vida”, explanar sobre Cacilda Becker, o grande amor de sua vida, apesar de ter se autodenominado um homem bissexual.
A alegoria que fechou os desfiles, mostrou “o raiar de um novo dia, apoteose no Bixiga” – Realmente era uma festa colorida no Vai-Vai, com uma escultura de Zé Celso no centro.
O Vai-Vai colocou em prática alegorias de fácil leitura, mas pequenas falhas de acabamento pode prejudicar o quesito.
Fantasias
O Vai-Vai entregou uma estética diferenciada no desfile. Não foi nada de luxo, mas estava tudo bem acabado. Por ser um tema teatral, a escola apostou em uma característica diferente do habitual: Fantasias simples e investimentos em maquiagens, dando um ar de peça ou de filme na pista. Assim, dá para perceber que há um toque de Sidnei França por todo o contexto plástico.
Seres bacanais com uma ala apenas de pessoas saindo com os seios de fora. Uma identidade visual bem diferente do que vimos costumeiramente.
Samba-enredo
O intérprete Luiz Felipe com maestria. Ele também embala a comunidade a todo o momento com palavras de incentivo, além de cantar muito. Desde 2023 até aqui, Luiz coleciona boas atuações e caminha para ficar muito tempo dentro do Vai-Vai.
A ala musical com outros nomes e o entrosamento com várias bossas da “Pegada de Macaco”, dialogando com os mestres Tadeu e Beto.
Evolução
Foi um quesito problemático para a escola. Em dado momento, quando as lideranças notaram que não daria tempo de passar no tempo de 65 minutos, começou a acelerar os componentes na dança e, após, a corrida.
Outros destaques
A bateria “Pegada de Macaco”, de mestre Tadeu e Beto, está cada vez melhor e voltando a figurar entre as principais de São Paulo. As variedades bossas foram destaques, principalmente no refrão principal.
A rainha de bateria Madu Fraga desfilou com uma fantasia inteiramente de laranja com detalhes em vermelho no costeiro. A dona da batucada também segurava um tridente, sambando muito no pé a avenida toda. Luciana Gimenez, madrinha de bateria, cruzou a passarela com um costeiro todo preto.
Comissão de frente da Mangueira Foto: Carnavalesco
Em entrevista ao CARNAVALESCO, a dupla de coreógrafos Lucas Maciel e Karina Dias falou sobre o trabalho da Comissão de Frente e a relevância de um enredo marcado pela brasilidade e representatividade.
“Este enredo tem um simbolismo muito forte. Acredito que, neste ano em especial, ele é extremamente significativo, tanto para a comunidade quanto para a visibilidade das pessoas afro-brasileiras. O Sidnei [França] acertou em cheio, e estamos empenhados em traduzir essa homenagem e respeito na Comissão de Frente. Essa parceria tem um valor imensurável para nós!”, destacou Lucas.
Karina reforçou o sentimento: “É uma grande responsabilidade representar um enredo que espelha toda uma comunidade e essa nação que é a Mangueira. Apesar do desafio, está sendo uma experiência incrível!”
Os dois também enfatizaram a sinergia com o carnavalesco Sidnei França, que recentemente se mudou de São Paulo para comandar o carnaval da escola. “O Sidnei tem contribuído muito! O enredo que ele propõe traz uma narrativa potente, e a partir dela trocamos ideias, combinamos visões e vamos montando esse quebra-cabeça”, explicou Karina.
Lucas complementou: “O processo é contínuo. Muita gente não imagina, mas o trabalho começa logo após o carnaval anterior, quando já temos um novo enredo em mente. As conversas se iniciam cedo, e tudo vai sendo construído com calma ao longo do ano.”
Coreógrafos da comissão de frente da Mangueira Lucas Maciel e Karina Dias Foto: Divulgação / Mangueira
Inovações técnicas e impacto visual
Questionado sobre tendências, Lucas destacou o papel da iluminação cênica, que ganha espaço nas comissões de frente: “Tenho certeza de que a iluminação veio para ficar. Ela agrega ao espetáculo, então não faria sentido abrir mão de um recurso que só traz diferencial!”
Karina citou ainda o uso de tripés como elemento-chave nas apresentações: “As estruturas de tripé e a iluminação dão um peso visual enorme ao espetáculo. Com certeza, serão recursos essenciais na nossa comissão este ano!”
A dupla encerrou reforçando o compromisso de honrar a tradição da Mangueira enquanto incorporam modernidade à celebração. “É sobre unir raízes e futuro, e isso é o que o carnaval faz melhor”, concluiu Lucas.
Esquenta, comissão de frente, casal de mestre-sala e porta-bandeira… o início do desfile da Estrela do Terceiro Milênio, retornando ao Grupo Especial em 2025 e sendo a sexta a desfilar no sábado de carnaval (01 de março), foi bastante impactante. A escola conseguiu manter o bom nível em diversos quesitos durante a apresentação do enredo “Muito além do Arco-Íris – Tire o Preconceito do caminho que nós vamos passar com o Amor”, desenvolvido pelo carnavalesco Murilo Lobo. Toda a exibição teve 63 minutos de duração.
Coreografada por Régis Santos, o segmento tinha, basicamente, dois grupos: um formado por homens e mulheres hipócritas e outro com um elenco cheio de pessoas representando a comunidade LGBTQIA+. Os hipócritas realizavam movimentos corporais e de mão bastante rápidos para subjugar o diverso, até que, quando uma fumaça era solta, aparecia o personagem intitulado “O Verdadeiro Discípulo do Mestre”, que salvava os integrantes da minoria e ainda transformava os dois grupos em algo harmonioso. Não por acaso, o integrante em tinha cabelos mais longos e roupas brancas, guardando certa semelhança com Jesus Cristo. Em muitos momentos, o segmento era aplaudido pelas arquibancadas.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
De excelente desempenho ao longo do ciclo carnavalesco, Arthur Santos e Waleska Gomes novamente tiveram um desempenho deslumbrante na passarela. Com as fantasias intituladas “A Beleza da Diversidade das Cores em Harmonia”, ambos estavam majoritariamente de azul com alguns detalhes nas cores do arco-íris. Ao contrário do que acontece em relação a estratégia de outras escolas, a Milênio deu bastante espaço para que a dupla dançasse – e ambos aproveitaram cada centímetro concedido, com uma grande profusão de giros, todas as obrigatoriedades cumpridas e uma simpatia ímpar na beleza do pavilhão. Vale destacar o jogo de pés de Arthur, que aproveitou para sambar bastante; Waleska teve na sustentação firme do pavilhão o seu grande positivo.
Enredo
O enredo da Estrela do Terceiro Milênio, para alguns, é considerado como uma exaltação à cultura LGBTQIA+. Para compreendê-lo por inteiro, é necessário ir mais além: o que a escola do Grajaú se propôs mostrar no desfile é a quebra de qualquer tipo de preconceito amoroso, o autorreconhecimento e a liberdade para viver o amor em toda e qualquer forma possível e existente. E, para contar tal história, é claro que é necessário relembrar um tristíssimo fato: 40% das mortes de membros da comunidade LGBTQIA+ em todo o planeta acontecem no Brasil. Por isso, a agremiação, após um início com mensagens positivas (com títulos de setores como “As tribos, a beleza de ser diferente” e “A beleza da diversidade das cores em harmonia”) depois de uma comissão de frente impactante, mergulha em mazelas e preconceitos – como o bullying e a fé cega. Mais para o final da exibição, a agremiação ironizou alguns estereótipos com os quais a comunidade LGBTQIA+ costuma sofrer antes de propor uma imensa celebração, com casamentos homoafetivos e o carnaval de rua.
Alegorias
Com dois chassis acoplados, o abre-alas, “O Mar da Hipocrisia”, trazia uma caravela – que, tal qual fala o samba-enredo, mostrava que a hipocrisia com relação ao modo de amar alheio chegou nos “tempos de Cabral”, em referência à chegada dos portugueses ao Brasil. A segunda parte do carro, “O Inferno da Condenação”, novamente dava mostras do teor crítico de alguns dos primeiros setores do desfile – com direito a algumas chamas produzidas com movimentações especiais, embora a primeira das três cúpulas não estivesse funcionando. A segunda alegoria, “Stonewall, a Saída dos Armários, As Paradas e a Noite LGBT+”, exibia o visual da diversão ligada a grupos minoritários – com especial destaque para o histórico bar de Lower Manhattan, em New York, em que diversos membros da comunidade LGBTQIA+ se revoltaram contra abusos policiais. O terceiro carro, “A Comunidade Nas Artes”, é quase que autoexplicativo e conta a importância de gays, lésbicas, transsexuais e representantes de outras minorias para a diversão e compreensão do planeta. Por fim, em uma verdadeira ode carnavalesca, aparece a última alegoria: com o nome “Salve a Mangueira, os Bailes Gays e as Estrelas do Nosso Carnaval”, a folia de Momo é exaltada – em especial a verde e rosa carioca, que defendeu Leci Brandão de um caso de homofobia em 1978.
Fantasias
Apesar de ser quase desnecessário dizer, é importante destacar a profusão de cores no desfile da Estrela do Terceiro Milênio. Se alguns poucos espaços tinham a cor preta, simbolizando alguma mazela social e/ou preconceito, em boa parte da exibição o que se viu foi a mais pura simbiose cromática possível. Grande parte das fantasias, por sinal, tinha uma leitura bastante simples: a Ala 6, “Os Movimentos Irmãos”, por exemplo, tinha referências dos hippies, das feministas e dos movimentos de poder ao povo preto. Vale destacar, também, que a maioria das indumentárias possuía costeiro alto, dando bastante volume. Mas, é claro, é necessário dar visibilidade a uma fantasia que ganhou notícias Brasil agora: a da bateria. Intitulada “O mais colorido ‘Carnavalesco'”, os ritmistas homenagearam Milton Cunha, profissional do carnaval que ganhou fama comentando os desfiles de escolas de samba na Rede Globo e que conta abertamente casos ligados à forma de amar que possui. Como ponto de atenção, uma integrante logo da primeira ala teve uma queda no costeiro bem à direita, bastante aparente para os jurados que ficam nos segundo e quarto módulos.
Harmonia
Conhecida por ser uma das comunidades que mais canta e mais presentes no Anhembi mesmo com os mais de de quarenta quilômetros que separam a quadra da agremiação no Sambódromo, novamente o canto forte da Coruja ressoou no Anhembi. Foi curioso notar que boa parte dos harmonias presentes no corredor prestava atenção única e exclusivamente no alinhamento de cada componente, já que não era necessário sequer pedir mais canto. Colaboraram para o ótimo nível do canto da instituição a Pegada da Coruja, comandada por mestre Vitor Velloso, com um andamento que aparentou estar pouco mais cadenciado em relação aos ensaios técnicos, e mais uma grande atuação da dupla Grazzi Brasil e Darlan Alves – completando o segundo ciclo completo na escola do Grajaú em grande fase. No esquenta, por sinal, algumas músicas muito identificadas com a comunidade LGBTQIA+ foram executadas – como Dancin’ Days, d’As Frenéticas.
Samba-Enredo
Seria possível, até mesmo, mudar o nome de tal quesito: de “samba-enredo” para “samba-manifesto” – palavra que está presente no refrão de cabeça da canção e norteia toda a ideia desenvolvia para o desfile em geral. Muito bem recebido pelo que representa e também pela qualidade técnica, a obra teve, assim como em toda a série de ensaios técnicos e também no minidesfile da Fábrica do Samba, ótima apresentação por parte de Darlan Alves e Grazzi Brasil. Por sinal, vale destacar a força do verso “Que vá pro inferno a sua moral”, cantando em altíssimo bom por uma das comunidades que mais solta a voz no Sambódromo. A Pegada da Coruja, bateria comandada por mestre Vitor Velloso, também colaborou para o ótimo rendimento da canção com bossas cirurgicamente executadas.
Evolução
Apesar do tema ser facilmente coberto por fantasias mais simples, a agremiação decidiu ter a maioria das indumentárias bastante volumosas, com costeiros que valorizavam a movimentação da comunidade. E não é possível reclamar da dança de nem um desfilante da Estrela do Terceiro Milênio. No quesito, o que pode trazer complicação foi uma consequência da entrada da Pegada da Coruja no recuo: enquanto a movimentação era feita, as alas da frente não paravam de se movimentar – que deixou um clarão bastante evidente em voga.
Outros Destaques
A Pegada da Coruja possuía duas princesas de bateria: Marcella Cavalcanti e Geovanna Pyetra.
Coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú Foto: Divulgação / Vila Isabel
Animados e mais pertencentes a Unidos de Vila Isabel, a dupla de coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú estão na reta final da preparação para o Carnaval 2025. Este é o terceiro ano em que eles estão no comando na Comissão de Frente pela azul e branca. No histórico, enquanto parceiros, eles foram responsáveis por três comissões da Unidos do Viradouro, inclusive no campeonato de 2020. Para Marcio, a dupla está cada vez mais entrosada com a escola, com Paulo Barros e com os componentes.
“Estar mais um ano na Vila representa a confirmação da nossa parceria com o Paulo Barros, a nossa afinidade com a escola e nosso entrosamento. Esse ano, eu, e acredito que o Alex também, estou sentindo essa comunhão acontecer de fato. A nossa existência nessa vida dentro da escola junto com o Paulo, a direção, a presidência, o barracão, com todos.”, afirmou Jahú.
O clima animado que Paulo Barros e os componentes da Vila estão levando para os ensaios e para a quadra apontam que este ano de 2025 é um ano especial para a agremiação. Alex comentou como esse sentimento chega à Comissão de Frente:
Os coreógrafos Alex Neoral e Marcio Jahú e o carnavalesco Paulo Barros Foto: Divulgação / Vila Isabel
“O enredo é bem feliz, porque estamos vendo o Paulo bem feliz, bem animado. É tão bom vê-lo assim. Não só ele, como toda comunidade, muitas pessoas estão dizendo que há muito tempo não vê a escola dessa forma. Dá um estímulo para nós pisarmos na Avenida com força, animados.”, disse Neoral.
Nesses anos consecutivos ao lado de Paulo Barros, os coreógrafos apontam a boa troca de ideias e o desafio que é trabalhar com o carnavalesco multicampeão. A presença e o aprendizado são os pontos que Marcio mais destaca dessa relação.
“Nós sempre trabalhamos muito bem juntos. Muita reunião sempre. O Paulo é um carnavalesco muito presente na comissão, no quesito, e nós gostamos disso, dessa troca, dessa cumplicidade. Nós aprendemos muito e acho que ele também aprende um pouco com a gente, espero. Essa troca é o que nos faz crescer, enriquecer e trazer sempre bons trabalhos para a Avenida, em que os dois lados – tanto nós dois quanto o Paulo – concordam com o que estão trazendo para a Avenida.”, comentou o coreógrafo.
Alex Neoral complementa afirmando a genialidade do carnavalesco e as propostas desafiadoras que ele faz para a dupla:
“O Paulo é uma figura muito polêmica. Ele é desses que ou amam ou odeiam e nós temos a sorte de amar o Paulo, com esse jeito que é muito peculiar e particular dos gênios. Como o Marcio falou, aprendemos muito com ele. É uma pessoa com anos de Carnaval. As propostas que ele traz para nós são muito difíceis de executar e nós vamos descobrindo juntos. E cada ano nós estamos melhor!”
A participação da luz cênica da Marquês de Sapucaí se tornou um ponto de expectativa para quem vai assistir aos desfiles. Nesse aspecto, a Vila vai utilizar as luzes para efeito de dramaticidade, mas não fará da iluminação uma protagonista. Em compensação, Alex Neoral e Marcio Jahú confirmaram um elemento alegórico maior que a comissão de frente passada.
“Nós não vamos investir tanto nesse lado da iluminação. Nós vamos aproveitar o mínimo para dar dramaticidade, mas não será o foco da comissão a iluminação. Vai ter um tripé maior que do ano passado.”, adiantou Neoral.
Sobre o tripé de 2025, Jahú brincou:
“Ano passado, viemos com um tripé pequeninho, esse ano a gente cresceu um pouquinho.”
Um destaque que tem trazido mais carisma e fofura nas apresentações especiais da comissão de frente deste ano é o menino Gael, Personalidade do Ano 2024, pelo CARNAVALESCO. Filho do Mestre Macaco Branco e da musa Dandara Oliveira, ambos da Vila Isabel, Gaelzinho tem sido o elemento surpresa dentro do balé de “gatos pretos” e arranca aplausos com sua desenvoltura. Os coreógrafos concordam que bom trabalhar com esse pequeno sambista.
“O Gael está aqui de novo [no 1º ensaio técnico na Sapucaí]. Nós vamos fazer um repeteco do que fizemos no minidesfile. Foi muito gostoso para gente. Como esse ano nós temos dois ensaios técnicos, queremos resgatar o que vivemos lá. Trazer o Gaelzinho, que é uma celebridade do carnaval hoje, é uma delícia para nós. Desde o ano passado que fizemos comissão com crianças, nós sentimos isso, que tem uma energia muito boa de estar perto delas. Por isso trouxemos ele de volta.”, declarou Marcio Jahú.
Infelizmente, o público não verá o Gaelzinho na comissão de frente oficial.
Já vou adiantar que ele não vem para o oficial. Já fizemos uma comissão com crianças. Embora tenha sido maravilhosa, esse ano não pretendemos trazer de volta.”, afirmou Alex Neoral.
A dupla de coreógrafos elevou as expectativas para o desfile oficial. Com o enredo “Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”, Alex e Marcio garantem que trarão uma coreografia com muito movimento, divertida e surpreendente.
“O público pode esperar o que nós sempre gostamos de fazer: uma comissão com muito movimento e muita dança. Nós somos da dança e gostamos de trazer movimento para isso. E é uma coisa que o Paulo gosta. No nosso trabalho, ele enxerga esses aspectos como uma coisa importante para nós e ele sempre propõe coisas que se casam com o que nós gostamos. Então vocês podem esperar muito movimento, muita dança bonita, muita energia boa. Vai ser lindo, vai ser um carnaval bem especial!”, definiu Jahú.
Alex Neoral complementou com promessas de surpresa e irreverência:
“Essa comissão tem muitas novidades, ela não para, é surpresa atrás de surpresa. Nós estamos muito animados com o projeto, com a ideia e com o desfile como um todo. Esse lado de trazer a ideia do medo e da assombração de uma forma mais leve, mais solar, mais irreverente, bem-humorada vai formar um carnaval bem divertido.”