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A força de Malunguinho: Comunidade da Viradouro exalta o enredo que reivindica as raízes quilombolas e indígenas

Pelo segundo ano consecutivo abordando um enredo afro-religioso, a Viradouro trouxe em 2025 a história de Malunguinho com o enredo “Malunguinho: O Mensageiro de Três Mundos”. Figura central na Jurema Sagrada, ele é amplamente reverenciado no Norte e Nordeste, especialmente em Pernambuco, mas ainda pouco conhecido pelo grande público.

A escola, atual campeã do carnaval, dá visibilidade a tradições populares negras e indígenas frequentemente marginalizadas. O enredo também denuncia o apagamento histórico dos povos originários e a exploração ambiental.

O CARNAVALESCO ouviu a comunidade da Viradouro sobre as suas compreensões sobre o enredo.

“Minha ala vem falando do fogo do carnaval e mais um ano iremos colocar fogo nessa avenida, dessa vez com a ajuda do Malunguinho. Eu não conhecia a história dele, passei a conhecer por conta do enredo e adorei, tem tudo a ver com o nosso objetivo que é trazer a vitória para a nossa escola. Confiante eu já estou, aliás, todos nós estamos bem confiantes na busca do bi, que com certeza já é nosso”, disse a comerciante Rosângela Oliveira, de 55 anos de idade, moradora de São Gonçalo e componente da Viradouro há 25 anos.

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Emocionada com a sua estreia na Viradouro, a professora universitária Etiene Santos, de 31 anos, recém-chegada do Pará para morar em Niteroi, se sentiu acolhida pela escola e pela potência do enredo.

“Quando eu vim morar no Rio de Janeiro, a Viradouro representou para mim esse espaço de acolhida. Quando eu me sinto triste, é lá que eu me recarrego. E vir aqui para o carnaval e chegar aqui nesse local é uma emoção que invade a minha alma e me faz minimizar a saudade de casa. Viradouro é catimbó! Não conhecia a história e a figura do Malunguinho, mas escola de samba é isso, estamos aqui. Estou há seis meses no Rio e tenho uma história com a Viradouro desde 2018, a última vez eu morei um ano aqui no Rio de Janeiro e tive que retornar, mas deixei aqui uma semente. E quando foi final do ano passado, me chamaram no concurso e eu vim morar aqui colhendo os frutos da semente”, contou a Etiene com os olhos marejados, componente da ala 2 “Semente, folha e raiz”.

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“Fiquei encantada pela história do Malunguinho, não conhecia e passei a conhecer na quadra com os ensaios, e achei uma maravilha. A comunidade abraçou, o samba é ótimo, a escola está cantando bem. Aliás, nossos últimos carnavais são sempre excelentes. Mas esse ano será ainda melhor, iremos com a força dos reis Malunguinho, falando de uma história nordestina, que não deixaremos apagar. A minha fantasia fala dos indígenas, se chama “Folha do Catucá, que era uma planta curativa que os indígenas cultivavam”, disse Vani do Nascimento, empregada doméstica de 57 anos que sai de Itaboraí para desfilar pela Viradouro.

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Ao apresentar Malunguinho como um rei quilombola, a escola reforça a resistência e a força das raízes populares brasileiras. O enredo é vasto e traz reflexões sobre demarcação de territórios indígenas, preservação de quilombos e suas histórias, o contrário do que a sociedade escravista brasileira continua tentando fazer.

“Eu sempre fui torcedora da Viradouro, mas esse é o meu segundo ano desfilando. Já estreei campeã, dei sorte e agora venho em busca do bi. Conheci o Malunguinho através da escola e achei lindo, interessante. São muitas coisas que a gente desconhece. Muitas coisas interessantes que vão ficando para trás, por conta da vontade que algumas pessoas têm de apagar a trajetória de pessoas pobres e, se não é um evento como esse, a gente nunca toma conhecimento. A minha fantasia mesmo fala sobre o poder da cura indígena pelas ervas. Então a gente vem desfilar para falar desse apagamento de tradições também”, contou a aposentada Solange dos Anjos, componente da ala 9 “Cipó de Japecanga”.

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Com um enredo que exalta a luta quilombola e a espiritualidade afro-indígena, a Viradouro não apenas busca o bicampeonato, mas também fortalece a preservação da memória de Malunguinho. Em um país marcado pelo apagamento de suas raízes, a escola transforma o carnaval em um grito de resistência e orgulho ancestral.

Conjunto visual deslumbrante e harmonia animada embalam desfile da Unidos de Vila Maria

A Unidos de Vila Maria desfilou neste domingo pelo Grupo de Acesso 1 de São Paulo no carnaval de 2025. O conjunto de alegorias e fantasias da escola foi deslumbrante, e o canto da comunidade levantou ainda mais o astral do desfile encerrado após 57 minutos. A Mais Famosa foi a quarta escola a se apresentar com o enredo “O Planeta Terra pede socorro. É tempo de renovar e preservar!”, assinado pelo carnavalesco Eduardo Caetano.

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Comissão de Frente 

VilaMaria2025 Comissao

Coreografada por Taiana Freitas, a comissão de frente da Vila Maria foi intitulada “Consciência e Ganância” e se apresentou ao longo de duas passagens do samba e fez uso de um tripé. A coreografia representou o conflito que ocorre em um momento de caos na Terra. As atitudes ruins proporcionadas pela humanidade predominam no primeiro ato, com componentes e elementos representando a destruição do meio ambiente. No segundo ato, Gaia surge de dentro do Planeta Terra representado na alegoria para suprimir o caos, e os Guardiões da Mãe Natureza aparecem para conduzir o mundo a uma nova era.

A comissão conseguiu transmitir a mensagem do desfile com exatidão. O destaque do primeiro ato fica para a atriz no topo da alegoria, que interpretou a essência do caos, e sua gargalhada digna de uma vilã. O segundo ato, mesmo que com uma coreografia mais simples, teve nos guardiões belas fantasias e um momento bonito no final onde Gaia abre um pequeno pavilhão da Vila Maria. Uma bela forma de abrir um desfile de uma causa tão importante como a preservação do meio ambiente.

Mestre-sala e Porta-bandeira 

VilaMaria2025 CasalKaweNatalia

O primeiro casal da Vila Maria, formado por Kawê Lacorte e Nathalia Bete, se apresentou representando o “Mensageiros do Tempo”. A dupla teve um desempenho irretocável ao longo da Avenida, cumprindo todas as obrigatoriedades do quesito com sincronia e elegância. Um momento da coreografia é especialmente interessante, quando Kawê faz um movimento de braço seguido do giro de Nathalia como se a ação dele carregasse a dela de energia. Uma atuação de gala no primeiro ano do casal na escola.

Enredo 

O enredo da Vila Maria retrata um futuro pós-apocalíptico, onde o planeta Terra sofre as consequências da destruição propagada pelo homem ao longo de séculos. Em um mundo dominado pelo caos e a destruição, a deusa da mitologia grega Gaia renasce, e ao ver a iminência do fim de tudo, decide por voltar no tempo para buscar no conhecimento de povos que conseguiram desenvolver tecnologias e uma civilização organizada em comunhão com a natureza, como os Incas, Maias e Astecas. Inspirada pelas lições que aprendeu, Gaia retorna ao futuro para combater o caos e fazer prosperar um mundo de esperança renovada.

VilaMaria2025 Baianas

É interessante a proposta de trazer Gaia dentro da interpretação da própria mitologia grega quanto ao seu nascimento, que conta que a deusa veio ao mundo em meio ao caos. A abertura do desfile, em meio ao cenário pós-apocalíptico, causou especial impacto principalmente por conta da caracterização do Abre-alas, o qual quem entendeu a referência não teve dúvidas do que se tratava o primeiro setor. O decorrer da apresentação também teve uma facilidade de leitura fantástica, valendo destacar a beleza do conjunto visual da escola como um todo.

Alegorias 

A Vila Maria apresentou um conjunto alegórico formado por três carros. O Abre-alas foi nomeado “Um Futuro Pós-Apocalíptico”, e representou o cenário de destruição do Planeta Terra onde Gaia renasceu. A referência para a concepção da alegoria foi bem óbvia: Mad Max, um clássico dos cinemas que retrata justamente um mundo fictício nessas circunstâncias e que não poderia ser opção melhor para atrair a atenção do público presente no Anhembi. 

VilaMaria2025 AbreAlas1

O segundo carro, “Sabedoria Ancestral”, simbolizou a jornada de Gaia em direção ao passado para buscar o conhecimento dos povos que conseguiram se desenvolver ligados à natureza. A alegoria se inspirou nos templos dos povos do continente americano da era pré-colombiana, causando um efeito visual também marcante. O desfile se encerrou com a alegoria “O Planeta Renovado e Preservado”, mostrando que a missão de Gaia foi cumprida com sucesso, trazendo um futuro repleto de verde e esperança. Não apenas pela beleza, o ponto de charme da última alegoria da Vila foi a presença de crianças em ambas as faces cantando o samba da escola com impressionante empolgação. Um conjunto de carros alegóricos fantástico por parte da Vila Mais Famosa.

Fantasias  

VilaMaria2025 29

As fantasias da Vila Maria costuraram a narrativa dos três setores do enredo dentro de suas propostas em boa sintonia com o conjunto de alegorias. O primeiro setor mostrou aqueles que conseguiram sobreviver no mundo pós-apocalíptico, aqueles por quem Gaia vai em busca de soluções para um futuro melhor. O segundo setor mostrou os povos nos quais Gaia foi atrás em busca de conhecimento para combater o caos. O terceiro setor mostrou nas alas a vida renovada no Planeta Terra purificado após a vitória de Gaia na luta contra o caos. O conjunto de fantasias conseguiu traduzir muito bem a proposta do enredo, sendo de fácil leitura e alto nível de acabamento.

Harmonia 

A comunidade da Vila Maria pode se orgulhar de ter feito uma das suas melhores apresentações em termo de canto já vistas no Sambódromo do Anhembi. O coral da Mais Famosa foi forte por toda a Avenida, embalado pela torcida que compareceu em peso ao Sambódromo. Vale destacar um momento curioso testemunhado pela reportagem: durante a passagem da escola pela arquibancada da Monumental, já afastado da visão do primeiro jurado, um componente da ala “Purificação das Águas” fez questão de chamar o público para cantar o samba da escola com bastante entusiasmo.

Samba-enredo 

VilaMaria2025 InterpreteClaytonReis

A obra que conduziu o desfile da Vila Maria é assinada por Panda (in memoriam), Edmilson Silva, Sandro Neves, Rick Ramos, Wilsinho Medieval, Ferreira de Matos e Renato William, e na Avenida o samba foi defendido pelo intérprete Clayton Reis. O samba consegue criar em versos e melodias a ambientação inicial de caos e final de renovação propostas pelo enredo. A primeiro do samba contém palavras fortes, que levam à reflexão quanto a realidade da situação da natureza, e a partir do refrão do meio o nível melódico vai evoluindo de forma a conduzir a narrativa para o futuro renovado através da sabedoria obtida por Gaia. Na Avenida, o samba teve um grande desempenho, sendo facilmente associável aos elementos contidos no conjunto visual da escola e embalado pelo excelente desempenho da ala musical comandada por Clayton Reis, que estreou na escola como intérprete oficial.

Evolução 

VilaMaria2025 16

O cortejo da Vila Maria foi encerrado após 57 minutos, sem sustos em relação ao fechamento dos portões. Um problema com a entrada do segundo carro na Avenida, porém, obrigou a escola a ficar parada por alguns minutos pouco depois da passagem da comissão de frente pelo primeiro módulo. O desfile voltou a fluir normalmente até a parada para o recuo da bateria, quando diante do segundo módulo, a parte da escola que vinha à frente do Abre-alas andou mais do que deveria e abriu um espaço de seis grades antes que o restante do conjunto voltasse a andar. É uma preocupação em relação a como os dois primeiros jurados interpretarão esses ocorridos.

Outros destaques 

A bateria “Cadência da Vila” levantou o público com suas bossas muito bem aplicadas, especialmente no refrão principal do samba da escola. A rainha Nathany Piemonte, com uma bela fantasia de acabamento dourado, levantou o público com muito samba no pé. Vale destacar também o retorno de Dani Bolina ao carnaval, agora como musa da escola, também atraindo olhares com seu gingado. Outro elemento a se destacar esteve fora da pista: a torcida da Vila Maria deu um espetáculo estendendo faixas nas cores da escola e lançando chuvas de serpentinas na arquibancada Monumental.

Comissão de frente marcante e bateria se destacam em sólido desfile da Independente

Muitas escolas optam por comissões de frente com coreografias mais exíguas, para entregar a nota esperada e pronto – algo que não deve ser criticado, já que resultados balizam projetos. Em 2025, a Independente, entretanto, ousou contrariar tal lógica: com uma comissão bastante extensa e com vários atos, o segmento se destacou no desfile do enredo “Gritos de Resistência”, exibido em 58 minutos. Vale destacar, também, uma atuação bastante segura da bateria Ritmo Forte.
Atento a tudo que acontece no carnaval paulistano (o que obviamente inclui o Grupo de Acesso I), o CARNAVALESCO traz a análise, quesito a quesito, da Independente:
Comissão de Frente
IndependenteTricolor2025 Comissao2
Fotos: Fábio Martins
Destaque nos dois ensaios técnicos da agremiação no Anhembi, enfim o segredo foi revelado. O segmento, intitulado “Independentes ou Morte” e coreografado por Edgar Junior, trouxe uma coreografia bastante extensa. Nela, alguns soldados portugueses e Dom Pedro I entram em contato com nativos e os escravizam – com uma atuação bastante dramática, lembrando outra icônica do carnaval paulistano: a da Tom Maior em 2009. A história muda quando um falso soldado português entra em atrito com os originais, liderando um motim dos nativos contra eles – os brasileiros de nascença, por sinal, começam a incorporar para vencer os adversários. Depois disso, uma nativa grávida dá à luz a um bebê, simbolizando a liberdade e os novos tempos – em momento no qual, por sinal, a arquibancada inteira aplaudia. É importante destacar que os pequenos tripés do segmento tinham rodinhas aparentes.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
IndependenteTricolor2025 PrimeiroCasal1
Fotos: Fábio Martins
Desde 2020 na agremiação, Jeff Antony e Thais Paraguassu (com um hiato em 2024, para que Thais concebesse um filho) vieram com a fantasia “Brasil Nobre e Colonial” – ele, majoritariamente de vermelho e com detalhes dourados (cores associadas à coroa portuguesa); ela com uma roupa que era vermelha na parte de cima, ganhava um tom laranja na metade da saia e terminava com branco. O entrosamento se fez presente e o casal, como costuma fazer, teve excelente atuação ao longo de toda a passarela – sobretudo nos módulos de julgadores. Ednei Mariano, instrutor da dupla, por sinal, estava radiante após a passagem de ambos pelo segundo módulo.
Enredo
IndependenteTricolor2025 Baianas
Fotos: Fábio Martins
Para alguns, a história a ser contada pela Independente era algo confuso ou subjetivo demais. Quem prestou atenção no desfile, entretanto, saiu entendo absolutamente tudo sobre a história e, também, sobre a temática: a agremiação, basicamente, falou sobre movimentos de resistência ocorridos no Brasil – iniciados com o próprio país, em 1822, sendo que o famigerado “Grito do Ipiranga” é o início do enredo propriamente dito. A partir daí, de maneira bastante intuitiva, as lutas representadas são cronológicas: a cabanagem é a primeira a ser representada, enquanto lutas contemporâneas (como a do movimento feminista e a de causas ambientais) aparecem mais para o final da exibição – que acaba com o samba também na vanguarda da resistência contra diversas mazelas sociais existentes no Brasil.
Alegorias
IndependenteTricolor2025 AbreAlas
Fotos: Fábio Martins
Com dois chassis, o primeiro chamado “A Coroação” e o segundo de nome “O Tráfico e Sua Riqueza” destacam as duas faces dos primeiros anos do Brasil independente – o carro como um todo, por sinal, é intitulado “A coroação e o tráfico negreiro” e tinha o mesmo antagonismo da comissão de frente: escravos e originários do Brasil contra pessoas da coroa portuguesa. A segunda alegoria, “O Último Baile da Monarquia e o nascimento de um novo Brasil” trata o marcante evento como um ato de resistência contra um já combalido império. Por fim, o terceiro, “O samba renasce como Fênix e resiste” apresenta o gênero musical e toda a comunidade ligada a ele como herdeiros de uma resistência ancestral – que também tem momentos ruins, motivo pelo qual a ave mítica aparece no título do carro. Vale destacar, também, o barulho da fênix presente na alegoria. A leitura de todas as alegorias era extremamente simples, com esculturas e cores que remetem a cada um dos eventos representados – no último, por exemplo, rei momo, pierrot, arlequim e colombina se fizeram presentes.
Fantasias
IndependenteTricolor2025 4
Fotos: Fábio Martins
O bom acabamento de cada uma das fantasias, é claro, conta pontos para o quesito. O que mais chamou atenção, entretanto, foi o fato de que boa parte das indumentárias tinha ao menos um item que permitia a rápida identificação do que a roupa identificava. Revolta dos Cabanos? Bandeira do Pará. Causa Praieira? Bandeira de Pernambuco – que, por sinal, é inspirada na Confederação do Equador. A assimilação simples cria empatia – e torna o desfile muito mais simpático para o público.
Harmonia
Nos últimos anos, a Independente tem se notabilizado por ser uma escola com um canto bem forte – até por isso, as vozes mais abaixo no desfile de 2024 chamaram tanta atenção. Em 2025, entretanto, a agremiação da Vila Guilherme voltou ao bom momento pensando no volume de seus componentes. Mesmo com o potentíssimo sistema de som do Anhembi, era possível identificar timbres diferentes do de Chitão Martins, intérprete da escola e que está cada vez mais ligado à instituição. É necessário, porém, novamente destacar a Ritmo Forte: apostando em bossas mais curtas, os ritmistas comandados por mestre Cassiano Andrade sustentaram como poucas a obra.
Samba-Enredo
IndependenteTricolor2025 InterpreteChitao
Fotos: Fábio Martins
As citações a cada uma das resistências propostas no enredo é explícita e deixa o desfile muito mais simples de ser entendido. Por sinal, a canção tem uma característica que foi utilizada por outras coirmãs em 2025: trazer uma obra sem grande margem para a subjetividade, sendo bastante denotativa. É interessante notar que, mesmo falando sobre um tema que evoca a luta, a primeira estrofe do samba é mais melódica por natureza – enquanto a segunda, mais ritmada, parece mais afeita a todas as disputas que o enredo propõe. A interpretação de Chitão Martins da obra é bastante contundente e combina com o que é apresentado – o cantor, por sinal, parece inteiramente adaptado à agremiação da Vila Guilherme. Com um nome que também está completamente ligado à temática, a Ritmo Forte, comandada por mestre Cassiano Andrade, sustentou muito bem a condução da obra – e, embora não tenha executado tantas bossas, foi cirúrgica quando realizou algum movimento desse tipo.
Evolução
Com alguns passos marcados em determinadas partes do samba (como o refrão principal), a agremiação se movimentou bastante e teve bom andamento no quesito. É necessário, entretanto, novamente destacar a Ala 03, “Cabanagem – A Revolta dos Cabanos”, que parecia ter ainda mais liberdade para brincar o samba – com a anuência do staff, que permitia uma locomoção nem sempre linear.
Outros Destaques
À frente da Ritmo Forte, duas destaques: Acássia Amorim (rainha) e Phoebe Vecchioni (madrinha).

Imperatriz Leopoldinense exalta Oxalá em desfile marcante no Carnaval 2025

A Imperatriz Leopoldinense levou para a avenida um desfile que celebrou a cultura africana e a soberania de Oxalá, o Senhor de Ifón. Com o enredo “Ómi Tútú ao Olúfon – Água Fresca Para o Senhor de Ifón”, desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Vieira, a escola de Ramos apresentou uma alegoria grandiosa que reverenciou o Orixá em seu trono, cercado por sua corte e elementos simbólicos que remetem à pureza e ao poder divino.

O abre-alas da escola trouxe uma representação imponente do reino de Oxalá, com esculturas de elefantes, marfins e atabaques, que simbolizam a força e a ancestralidade africana. Vitor Rangel, diretor de alegoria da Imperatriz, destacou a importância do Itã escolhido para o desfile. “A grande importância desse Itã foi a viagem que Oxalá fez para o reino de Oió. E esse primeiro carro é a representação do reino de Oxalá, que representa toda a pureza, todo o poder e importância de Oxalá, não só para o nosso enredo, mas para toda a cultura de matriz africana”, explicou.

Vitor

Irineu Nogueira, destaque da alegoria, representou o Pai de Todos os Orís e ressaltou a relevância do enredo para os dias atuais. “O enredo representa tudo o que está acontecendo hoje no Brasil. Estamos trazendo um pouquinho das águas que estão limpando, tirando tudo o que não presta”, afirmou o coreógrafo e professor, que veio diretamente da Alemanha para desfilar na escola. Sentado em um trono à frente da alegoria, Irineu performou a dança lenta do Orixá, acompanhado por atabaques que ecoavam uma sonoridade de paz e tranquilidade.

“O Obí é uma dança lenta tocada para o nosso grande Oxalá. Aqui nós temos uma representação muito africana, não muito parecida com os que tocam no Brasil, eles têm feições africanas. Esses atabaques tocam uma sonoridade de paz para todo mundo. Representa uma sonoridade que diz ‘tenha calma’, ‘siga em frente’, ‘trabalhe’, ‘as coisas vão acontecer'”, declarou.

O desfile da Imperatriz Leopoldinense foi uma verdadeira imersão na cultura e na espiritualidade africana, celebrando a ancestralidade e a resistência de um povo.

Ala da Imperatriz traz as vestes brancas na tradição de Oxalá como simbolismo de renovação e pureza

Nas religiões de matriz africana, a cor branca tem um significado profundo e sagrado, especialmente quando associada a Oxalá, considerado o orixá da criação, da paz e da sabedoria, principalmente na Umbanda e no Candomblé. Oxalá é reverenciado por sua energia serena e conciliadora, sendo a cor branca uma manifestação de sua essência divina. O branco simboliza a pureza, a calma, a espiritualidade e a luz. No culto a Oxalá, vestir-se de branco representa respeito e devoção, além de demonstrar a busca por equilíbrio e harmonia sugerindo a ideia de neutralidade e paz, que são essenciais para aqueles que seguem os ensinamentos desse orixá.

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A ala ‘’ASO FUNFUM’’ no segundo setor da Imperatriz Leopoldinense, que em iorubá quer dizer ‘’roupa branca’’, tem a fantasia representada como Oxalá deveria manter a sua ritualística. ‘’Nós somos uma das primeiras passagens da mitologia, é responsabilidade nossa, dos componentes, representar Oxalá nesse enredo de forma mais efetiva. Ela representa esse ser puro, as águas de Oxalá que fazem com que mantenha essa limpeza de toda a situação, banhando em águas limpas’’, diz o responsável pela Ala, Sidnei de Castro, Guarda Municipal que desfila está na Imperatriz há 4 anos.

A indumentária ritualística da ala é um ita Iorubá que dispõe de Adê (coroa), Ojá (filá ou barrete), calça e saias contando a história de como os tons alvos evidenciam como Oxalá deveria se manter. ‘’Nossa fantasia é um itan em Iorubá que conta a história que vestir saia branca e usar leque que é muito significativo na relação do orixá com a pureza’’, explica Patrícia, de 60 anos, guia turística e componente da escola há quase 40 anos.

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A ala traz os ibebés (leques) com esse contexto na fantasia ‘’O ibebé significa a pureza e a leveza, é fazer que Oxalá abane e refresque, que faça passagem no seu ritual de magia, de festividade’’, declara Sidnei.

Vestir saia branca e usar leque é muito significativo na relação do orixá com a pureza. A ala traz os ibebés (leques) com esse contexto na fantasia ‘’O ibebé significa a pureza e a leveza, é fazer que Oxalá abane e refresque, que faça passagem no seu ritual de magia, de festividade’’, declara Sidnei.

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‘’Tendo Oxalá como nosso enredo e trazendo para o nosso dia a dia que também é uma saga de situações difíceis que a gente precisa vencer e traz uma representatividade para nós seres humanos aqui encarnados muito importante e isso traz para mim muito significado’’, relata Fernanda, de 41 anos, propagandista da indústria farmacêutica e estreante como desfilante na agremiação de Ramos.

Nos ritos dedicados a Oxalá, as vestes e oferendas brancas são elementos fundamentais. parte dos rituais, pois representam a suavidade e a pureza do orixá. Além disso, os templos e espaços sagrados costumam ser enfeitados com tecidos brancos, reforçando o clima de paz e espiritualidade.

O branco associado a Oxalá é um convite à reflexão sobre a importância da paz e da serenidade no cotidiano. Em um mundo marcado por conflitos e tensões, a mensagem de Oxalá se mantém atual e necessária na busca do equilíbrio, respeito às diferenças e a ações com sabedoria.

‘’É um orixá muito importante na religião e cultura afro-brasileira, essa roupa é linda, é tudo muito emocionante estar aqui representando’’, finaliza Yasmin, fisioterapeuta de 32 anos e componente da escola há um ano.

Unidos de Vila Maria 2025: galeria de fotos do desfile

São Lucas comemora desfile sobre o Ijexá e aguarda mais um resultado positivo

Primeira a desfilar na noite do grupo de Acesso 1 do carnaval paulistano, a Unidos de São Lucas trouxe o ritmo do Ijexá para avenida. A escola da Zona Leste que vem de 3 acessos seguidos nos últimos carnavais fez um belo desfile que empolgou sua comunidade. A tônica ao final da apresentação era de comemoração e muita expectativa por um bom resultado na apuração.

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Adriano Freitas, Presidente da São Lucas

“A gente que vem aí há pelo menos uns três anos brigando para ser notada entre as maiores de São Paulo. A gente está trabalhando muito. O acesso 1 ele é praticamente o terceiro dia de especial, então a gente tem que trabalhar muito. A gente vem trabalhando muito para se manter nesse grupo e daí pra frente a gente vai se estruturando, porque a gente sabe que até agora a gente teve um bom pé mas pra chegar lá. E não é só ter um bom pé, tem que ter um bom pé e a pisada firme, e a gente está querendo firmar essa pisada pra quando chegarmos lá fazer história”. E continuou.

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Foto: Fábio Martins

“Estamos vindo de uma semana que deu muita trave, muita coisa que estava tudo certo e aí tivemos alguns probleminhas, mas eu acho que o ponto alto foi ver a minha comunidade passando feliz e cantando, podendo dar e receber aquilo que eles querem. Alegria. Eu sabia que nós íamos chegar, nós íamos passar. Estava preocupado com as surpresas que o dia podia nos oferecer, até porque a gente está sujeito a isso. Mas eu estava confiante no meu pessoal, a família que eu tenho aí é uma família muito unida, é um pelo outro, e eu sabia que tudo daria certo. É a sensação de dever cumprido, independente do resultado que for vir, nós estamos fazendo o que foi proposto para a comunidade há quatro anos atrás, quando nós assumimos a gestão dizendo que nós íamos fazer uma escola competitiva, uma escola de portas abertas para a comunidade e uma escola viva. E é o que vem acontecendo. São de três para quatro anos de gestão, dois acessos como campeão e um como vice. Então isso já mostra que as coisas estão caminhando da forma correta”.

Erich Sorriso, Mestre-sala da São Lucas

“Hoje a gente completa nove meses de ensaio. A gente fez, além dos específicos, dois ensaios gerais. E acredito que a gente conseguiu fazer aquilo que a gente vem ensaiando. A gente conseguiu fazer a nossa coreografia completa, conseuimos se olhar. Agora eu espero o resultado, mas a gente está feliz por tudo que a gente superou, por a gente estar aqui e é isso, feliz. Feliz com a nossa passagem”.

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Foto: Fábio Martins

Vitória Devonne, porta-bandeira da São Lucas

“Foi um desafio e tanto, mas a gente conseguiu executar aquilo que a gente estava ensaiando com êxito. Graças a Deus, aos nossos orixás, correu tudo bem, tudo certo, tudo dentro da forma que a gente esperava”.

Mestre de bateria Andrew Vinícius, da São Lucas

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Foto: Fábio Martins

“A bateria veio muito confiante hoje. Acertamos os detalhes que faltavam. A gente vem ensaiando desde março e acho que é por isso que as coisas vêm evoluindo constantemente. E é isso aí, é ensaiar, ensaiar para chegar no dia e fazer o máximo da excelência possível”.

Jonathan Santos, coreógrafo da Comissão de Frente da Unidos de São Lucas

“Saiu muito melhor do que eu esperava porque esse elenco aqui é muito forte, é muito potente. Nos ensaios a gente se concentrou em poder fazer o alinhamento, a coreografia, mas hoje sinceramente a gente se preocupou em representar a força da nossa escola, mas principalmente da Zona Leste. Então a gente obviamente trouxe movimentos afros, representou um pouco do que significa o ijexá, mas mais do que isso, a gente representou e trouxe essa força. E pra mim o que mais me contagiou foi o público vindo junto com a gente. A cada grito, a cada passo, a cada olhar, a cada letra cantada desse samba enredo, do nosso samba enredo, o público vinha junto. Então, pra mim, não tem outro destino, senão um grupo especial”.

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Foto: Fábio Martins

Tuka Maia, intérprete da São Lucas

“A expectativa foi das melhores. A gente viu o resultado hoje. Todo mundo cantando esse samba maravilhoso e com certeza era um dos sambas mais esperados do carnaval de São Paulo. E todo mundo viu o resultado. Samba maravilhoso. O desfile maravilhoso que a escola fez. E todo mundo cantando. A expectativa é das melhores, se Deus quiser, se papai nos abençoar, a gente vai conseguir esse título”.

Fernando Dias, Carnavalesco da São Lucas

“Eu fiz o que eu gostaria de ter feito e fiz muito bem feito. Foi muita luta mas nós conseguimos chegar aqui. Sem luta não há vitória. Então eu só tenho a agradecer a Deus e aos orixás, a Oxum ao ijexá por esse trabalho maravilhoso que eles me proporcionaram”.

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Foto: Fábio Martins

Vanderley, diretor de carnaval da São Lucas

“Essa reta final foi muito conturbada pra gente, muito difícil. É uma escola que tá crescendo muito rápido, e aí a gente precisa tapar alguns buracos na caixa d’água às vezes. E nessa reta final a escola mostrou que é muito unida. Botamos essa escola na avenida, então tudo que a gente fez aqui hoje foi o que a gente planejou, foi o que a gente almejou e principalmente acho que a gente tem que reforçar essa união que a São Lucas está mostrando desde esses últimos resultados e principalmente o que a gente fez na pista hoje. Estou muito satisfeito”.

Independente Tricolor 2025: galeria de fotos do desfile

Mocidade Unida da Mooca realiza desfile completo em todos os quesitos

A Mocidade Unida da Mooca pode enfim sonhar com o acesso para o Grupo Especial. Após bater na trave tantos anos, a escola da zona leste de São Paulo executou um desfile seguro em todos os quesitos e entra forte na briga pelas duas primeiras colocações que dão o sucesso necessário para a vaga ao Grupo Especial. Todo o conjunto de quesitos engrandeceram a apresentação da Mooca na pista, mas há de se destacar a riqueza plástica das alegorias e o canto da comunidade. Os três carros mostraram esculturas indígenas com muitos detalhes e faces realistas. Repetindo o sucesso dos ensaios técnicos, o canto da Mocidade ecoou forte no Anhembi, provando que o lema de “escola que canta, ganha” pode virar realidade.
Comissão de frente
MocidadeUnidaMooca2025 Comissao 2
Fotos: Fábio Martins
A ala, coreografada por Sabrina Cassimiro, foi nomeada como “Tupis, Levantai-vos”, desfilou com três personagens, sendo o Marét (principal do elenco) e o povo Tupi, que completava toda a comissão. Todos estavam vestidos com fantasias na cor chumbo. Toda a coreografia mostrava a força do enredo, com os bailarinos soltando altos gritos. O elemento alegórico era bastante usado também, tendo uma divisão de elenco no chão e em cima dele.
Mestre-sala e porta-bandeira
O casal com a fantasia de “Nosso Quinhão! Mooca é Território Indígena”, realizou uma apresentação com uma coreografia empolgante e criativa. As expressões faciais do Jefferson somando ao sorriso de Karina mostrou a ambiguidade e elegância que a dupla, que está há um tempo junta, possui. Os giros e movimentos obrigatórios foram bem executados, provando a sincronia que há entre o casal.
MocidadeUnidaMooca2025 PrimeiroCasal
Fotos: Fábio Martins
Enredo
Assinado pelo carnavalesco Renan Ribeiro, é um tema questionador. O homenageado Ailton Krenak é usado como figura para um enredo indígena. Nele, há outros tópicos, como a introdução da palavra Mooca (Moo-oca-y), como sinônimo de resgate à natureza. Krenak foi um escritor muito complexo, e três setores seria pouco para contar a sua história, mas a narrativa foi bem amarrada pelo carnavalesco Renan Ribeiro. Vale destacar as alegorias, que expressou momentos diferentes do enredo e provou a grandeza dele. O abre-alas passou com a grandeza da natureza, com o mar e o rio sendo exaltados. Após, uma alegoria ‘mais forte’, representando a guerra contra o invasor, que é muito bem cantado no refrão do meio. Fechando o desfile, o último carro alegórico foi para a pista com uma criativa imagem de um indígena pintado com a bandeira do Brasil.
Alegorias
O primeiro carro representou o “Encontro das águas”. Uma alegoria toda azul duas esculturas realistas de indígena. Para representar ainda mais as águas, bolhas de sabão voavam da alegoria, além de leds azuis.
MocidadeUnidaMooca2025 AbreAlas
Fotos: Fábio Martins
A segunda alegoria desfilou tendo como significado “Hey, Há, Hey! O Grito de Guerra Contra o Invasor e o Resgate Ancestral”, dando realmente um um tom mais forte no desfile.
MocidadeUnidaMooca2025 30
Fotos: Fábio Martins
A última alegoria simbolizou a “FLORESTANIA – OLHOS PARA O NOVO MUNDO”. Este carro foi o mais brasileiro visto no desfile, tendo a escultura de um indígena com uma bandeira do Brasil no rosto, mostrando que pode se unir.
Fantasias
MocidadeUnidaMooca2025 16
Fotos: Fábio Martins
As vestimentas da escola foram adequadas ao enredo. Não houve requinte nos materiais, mas a agremiação da zona leste passou o suficiente para o que as estratégias do Acesso 1 pede. Também nãp havia peso, e isso permitiu todos desfilarem soltos.
Harmonia
O samba de 2025 da MUM tem uma melodia combativa e pegou com a comunidade. Os componentes da escola repetiram o sucesso dos ensaios técnicos e ‘gritaram’ o samba-enredo da agremiação. O canto da Mooca foi um dos destaques do desfile e a comunidade merece atenção especial neste quesito, pois juntando os três grupos, talvez seja a escola que melhor cantou.
Samba-enredo
MocidadeUnidaMooca2025 InterpreteEmersonDias
Fotos: Fábio Martins
O carro de som, liderado pelos intérpretes Emerson Dias e Gui Cruz, conduziram o samba-enredo com um grande desempenho. Se a escola teve destaque no canto e evolução, se, dúvidas dá para colocar na conta dos cantores e apoios. Emerson Dias estreou com o pé direito e o Gui Cruz, na sua volta, fez um belo complemento ao renomado intérprete carioca.
MocidadeUnidaMooca2025 InterpreteGuiCruz
Fotos: Fábio Martins
Evolução
O andamento do desfile no início chamou atenção pela demora. Não houve erro, mas foi sentido que a escola esteve bastante parada na concentração. Entretanto, na pista, a evolução foi satisfatória. Os componentes desfilaram de acordo com o ritmo do samba e da bateria, ou seja, em uma pegada forte. Como citado na harmonia, os integrantes ‘gritaram’ a obra e, assim, as expressões corporais acompanharam este fato.
MocidadeUnidaMooca2025 14
Fotos: Fábio Martins
Outros destaques
A bateria “Chapa Quente”, vestida de “Marets – Espíritos Ancestrais”, teve ótimo desempenho ao lado dos intérpretes Emerson Dias e Gui Cruz. A batucada realizou bossas ao longo da avenida, além de pontos estratégicos. Destaque para a participação dos repiques, que se sobressaíram nos ‘breques’.
A ala das baianas dançou como “Watu – O Senhor Rio Doce”.

Quarto carro da UPM relembra exílio forçado de Iyá Nassô e provoca debate sobre intolerância religiosa

A Unidos de Padre Miguel desfilou na noite desse domingo na Marquês de Sapucaí com o enredo “Egbé Iyá Nassô”, sobre aquela que é responsável pela fundação do primeiro terreiro de candomblé do Brasil, em Salvador, na Bahia. O quarto carro da escola relembrou a imposição do exílio à sacerdotisa após a Revolta dos Malês, composta majoritariamente por escravizados muçulmanos.

carro 4 upm

 

“Durante a Revolta dos Malês, Iyá Nassô se oferece como moeda de troca para que não perseguissem os seguidores de seu terreiro. Ela volta para a África, cumprindo a promessa dela. Tem uma encenação na próxima ala dessa luta entre os soldados e os Malês e no carro também. Nós temos uma escultura da Iyá Nassô, abraçando seus filhos, representando toda essa acolhida que ela fez, essa coisa afetiva de mãe que ela era. Ela era uma líder política também, uma mulher à frente de seu tempo”, explicou o integrante da equipe de criação do desfile Alex Carvalho, de 25 anos.

Suzel upm

Fundindo a arquitetura islâmica com a estética afro, exibindo escrituras em árabe, o carro foi aprovado pelos desfilantes que nele vieram. Nesse sentido, a professora de educação física e ialorixá Suzel Rodrigues, o advogado Luiz Fernando Silva e o gerente de lojas Tom Garcez refletiram sobre a histórica perseguição às religiões de matriz africana no Brasil.

“Iyá sofreu esse exílio, nessa revolta. Aí ela teve que voltar para a África. Logo depois, ela retornou a Salvador e hoje a gente vem representando ela. O que me chama atenção na estética desse carro é Xangô, é o atabaque. Que o atabaque toca e o orixá responde”, disse Suzel, de 60 anos, há mais de 10 anos na UPM.

“Eu já vi muito enredo bacana nessa escola, mas igual a esse me emocionou. Eu fui iniciado quando morava na Vila Vintém. Eu era um garoto de 12 anos de idade e hoje sou um homem adulto falando da minha religiosidade. Pela primeira vez, um carnavalesco está apresentando na avenida a origem do candomblé no Brasil”, enalteceu Luiz Fernando, de 52 anos, que desfila pela UPM desde 2007.

Tom upm

“Num mundo de tanta intolerância religiosa, você tem um enredo de matriz africana que prega o amor. O amor tem que prevalecer. As pessoas têm que respeitar a fé das outras. Para uns, amém; para outros, axé. Eu sou evangélico. A minha família toda é. Eu tenho muito orgulho de hoje vir cantando Iyá Nassô e dizer não à intolerância religiosa e sim ao amor”, finalizou o gerente de lojas Tom Garcez, de 55 anos de idade e 33 anos de avenida, em sua primeira vez pela UPM.