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Sinopse do enredo da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2026

Enredo: Carolina Maria de Jesus

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Foto: Divulgação/Tijuca

CAPÍTULO I

O primeiro capítulo da vida de nossa homenageada nos leva ao encontro de Bitita — que significa “de cor preta” na língua changana do Moçambique —, nome que carrega a lembrança de sua infância nos confins do cerrado mineiro, nas entranhas de um Brasil do início do século passado. Um cenário no qual o tempo persiste, colorido por marafantonas e congados, desenhado pelo ar incandescente que entalha o barro e doura o capim, iluminado pela fé e o fulgor dos candeeiros.

Nos braços de seu avô, Benedito — o ancestral daquelas cercanias — , aprendeu os segredos que só o tempo revela no encanto do falar e do ouvir; e nas barras das saias de sua mãe, tias e madrinhas, se entrelaçou ao poder das coisas ditas, ao espírito desconhecido das letras e palavras, aquelas as quais ela desejava conhecer. Era esse o seu universo de menina, ainda um ramo doce de uma raiz fincada na sabedoria dos mais velhos, transmitida do ontem para o hoje nos dizeres daqueles que lhe ensinavam o espírito das coisas ditas, de tudo o que ela desejava conhecer. Bitita deu lugar à Carolina quando aprendeu que para existir aos olhos do mundo era preciso ter um nome: a sua assinatura.

CAPÍTULO II

Feito rosa em coração de broto, Carolina desabrochou e compreendeu, lendo os nomes de outras flores e os silêncios nas entrelinhas, que herdara na pele e no sangue a personagem antagonista dos romances perfeitos, representante legítima de um Brasil cuja abolição fora mais literária do que real.

Na roça do ouro negro, onde foi servir ainda moça, encantou-se pela lira da desobediência, levada pelos versos proibidos saídos das liras dos folhetins, que se misturavam aos passos fortes das catiras, acendendo o orgulho de sua carapinha.

Do tal áureo decreto, tão falado, conheceu apenas as sementes e espinhos, os artigos que rangeram em seus ossos quando presa, açoitada e humilhada por portar um dicionário: livro julgado pela capa preta; preta como ela! No auto improvisado de sua inquisição, foi chamada de feiticeira e acusada de vingança contra gente branca. Marcada profundamente pelo episódio, nunca mais veria aquelas terras como seu lar, escolhendo ir ao encontro de outros lares na esperança de talvez vislumbrar um novo caminho.

Lavando incertezas, lustrando os passos e desempoeirando sentimentos, foi ser mais uma Maria — sobrenome comum ao afazer doméstico, substantivo próprio da Casa de Família. Mas, sendo verbo em carne viva, sempre atormentada pelos versos crônicos e entregue à demasiada imaginação, deixava os afazeres por qualquer pedaço modesto onde pudesse derramar sua vocação. Seu “eu”, raro e lírico, não se encaixava como sujeito naquelas frases definitivas, nas rotinas intransitivas entre as “grades de prender gente” feito bicho.

Descontente e tomada pelo sonho, escreveu para si outro destino: a poesia — bálsamo de sua alma, remédio de suas inquietações. E por isso decidiu partir, dessa vez atraída pelas notícias fantasiosas de uma tal terra prometida, o eldorado dos retirantes.

CAPÍTULO III

Carolina Maria seguiu rumo ao seu desejo, rumo a São Paulo, a metrópole em primavera, canteiro das oportunidades, onde amanheceria sob o peso das verdades concretas, cercada pelo ranger cinzento dos edifícios estáticos, verdadeiros girassóis de cimento, imóveis à luz de suas esperanças. Ali nasceria De Jesus — peregrina de palavras, batendo de porta em porta com seus escritos em mãos à espera de uma chance, de ser vista. Invisível aos olhos editoriais por sua natureza desenquadrada dos padrões, era tratada como desvairada, ainda que único desatino fosse a tontura da privação, a vertigem dos Pedaços da Fome, que a assombravam como consequência da falta de emprego; fome que tinha cor, fome amarela, sem brilho.

O lugar que havia sido reservado a ela era a margem: a favela, jardim de destroços, onde seus únicos alentos, como os de tantos outros, eram amores de uma noite, sambas de raras madrugadas e a companhia — nem sempre solidaria — daqueles que também tiveram o seu mesmo infortúnio. Era mais uma cujo couro tinha o tom certo para saciar a sede de violência das sentinelas e patrulhas que varriam as vielas paulistanas em nome da lei e da ordem, açoitando toda a sorte de gente, trabalhadores ou vadios, em nome de uma justiça que só tinha olhos para predar os menos favorecidos.

Para tirar o sustento do corpo e da alma, catava papéis e histórias, tanto para ter o que comer quanto para ter o que oferecer aos filhos, que agora também a acompanhavam, fazendo-a provedora daquilo que mal tinha para si. Criativa, transformava o que não tinha valor para os outros no seu tesouro de virtudes: cacarecos de esperança, banquetes de uma colherada e remendos de expectativa.

Sentindo-se abandonada pela cidade-luxo, narrava, nas sobras de suas catações, tudo o que via e sentia ao seu redor, e foi assim que o mundo a conheceu: refugiada na miséria do Canindé, erguendo dos escombros a sua moradia, fazendo do Quarto de Despejo a fortaleza de suas produções. Descobertos num episódio cênico e reunidos em uma única obra que, publicada, inaugurou um parágrafo distinto em sua trajetória: era agora “a favelada que escrevia”, a expiação das mazelas sociais para uma elite torpe e uma classe média deslumbrada com o exorcismo de suas próprias culpas.

CAPÍTULO IV

A realidade escandalosa e profunda de seus dizeres, fizeram-na a própria voz dos marginalizados. A classe política, escancarada como objeto direto da degradação pública, era figura recorrente de seus discursos, refletida no oportunismo de seus representantes, que só tinham olhos para a miséria em tempos eleitorais. Questionadora, interrogava as radiolas e seus cantores emplumados, cujo silêncio sobre as sarjetas não entrava em sintonia com os compassos e a métrica da realidade.

Em dramática retórica, reivindicava também o seu espaço no circo social, denunciando o palco que foi negado para as tantas peças que escreveu e ofertou para companhias itinerantes sem sucesso. Para ela, eles viam em sua raça e nas suas saias as verdadeiras lonas rasgadas, um desagrado ao respeitável público.

Na construção de cada fala, desconstruiu a romântica favela dos sambas de época, e publicou, trecho por trecho, o desejo maior dos desabrigados moradores dos restos: a Casa de Alvenaria, símbolo do pertencimento à cidade. Da “marginal escritora” fez-se um arquétipo e a obrigação de “vestir-se para consumo”. Limitada sob o lenço e presa na moldura da favela, foi resumida ao Diário — verdadeiro artigo de luxo dos intelectuais —, um lugar que não lhe cabia, onde ela nunca aceitou estar.

E sua recusa em ser um fantoche nas mãos da imprensa e das grandes editoras teve consequências: a ousadia de contrapor a estrutura, de transpor as barreiras tão estabelecidas, a colocaram da porta pra fora dos saraus de velhas normas. Nessa posição, viu suas obras serem mutiladas e suas visões – agora sob novo teto – serem lançadas ao breu do esquecimento. A escritora preta sem a calamidade não interessava ao espetáculo escolhido para entreter o Brasil.

CAPÍTULO V

A força de sua imagem retinta e altiva apontou para outros horizontes dentro e fora de seu tempo, no rasgamento de um contrato social estabelecido de geração em geração. O apagamento de seu nome e a dispersão de seus escritos por entre as seções e prateleiras da literatura brasileira não foi mero acaso, e sim obra do descaso proposital, da tentativa de calar. Contudo, a força de seus versos resistiu, mesmo ante o esquecimento, irrompendo nas memórias perdidas feito um luzeiro, abrindo caminho para que outros pudessem fazer daquelas escrevivências uma fonte de inspiração.

Para aqueles que viveram na pele os mesmos cenários, que nasceram também fadados aos futuros menos promissores, sua figura reluziu como um lembrete sobre outras perspectivas; outros desfechos. As falas livres, seus mais educados gritos de resistência, recortaram entre as aspas o país quanto ao gênero, na doçura e nas dores do “ser mulher”, no questionamento da diferença, um espelho de suas metamorfoses e indignações – as mesmas de tantas ainda hoje.

Sua gramática das ruas, mistura refinada do pretuguês com as catedráticas orações e rimas, deu forma e entendimento à gigantesca babel de cultura que somos, desafiando o preconceito da língua, da classe e da cor, abrindo parênteses entre os parágrafos, quebrando as vidraças das capas duras e das citações permanentes. Testemunha vivente de um Brasil a parte, bradou na escrita a luta dos negros heróis da história e também do cotidiano, dos não representados e nunca exaltados, dos expatriados na geografia do capital, vitimados pelo racismo que segrega, fere e mata.

Ela permaneceu. Presente. Em movimento. Este enredo – que nada mais é senão o livro de sua vida costurado pelos retalhos de suas contações -, se encerra aqui para voltar ao começo, colocando a assinatura, sem a dúvida da ordem, no devido lugar e importância, e celebra, como ela celebraria, as muitas Carolinas que continuam a fazer história através das letras que um dia foram dela.

Carolina Maria de Jesus, sem menos, porque este é o seu nome.

CARNAVALESCO: Edson Pereira
ENREDISTA: Gabriel Melo
CONSULTORIA: Fernanda Felisberto

Sinopse do enredo da Mangueira para o Carnaval 2026

Confira abaixo o texto completo da sinopse.

logo enredomangueira2026

Não há morte pra quem sonha
Vai o homem fica a lida
Enfincada na memória
Dos guerreiros da alforria
Êta negro moleque
Varou pelas matas
Conheceu as ervas e seus extratos
No toque da caixa dançou marabaixo
Foi momo, o rei desse carnaval
Êta negro da estrela qual Zumbi
É a luz do folclore do Amapá
É de zimba, batuque e sairé
É o nosso Xamã Babalaô
Saravá!

“Xamã Babalaô”, música de Enrico Di Miceli e Ricardo Iguarany

APRESENTAÇÃO

Seguindo a missão de exaltar as brasilidades em verde e rosa, a Estação Primeira de Mangueira apresenta o enredo “Mestre Sacaca do Encanto Tucuju – O Guardião da Amazônia Negra”, enaltecendo as tradições afro-indígenas do Norte brasileiro por meio de um dos seus mais célebres personagens.

Nessa épica saga amazônica, é momento da celebração do Turé – ritual de agradecimento a seres de Outro Mundo.

Invocado por sua plenitude e em estado de encantamento, Mestre Sacaca se manifesta espiritualmente para nos mostrar, como em delírio catártico, sua gente, seu lugar, seus mistérios e saberes. Eis a presença viva e vital do nosso Xamã Babalaô!

Tomada pela magia das matas, a Estação Primeira adentra a floresta e apresenta o fascínio de quem leu, rezou e benzeu as suas folhas, cascas, frutas e sementes.

Curandeiro, folião, marabaixeiro e defensor dos povos da floresta, esse ser revive os seus caminhos de aprendizado e valorização da identidade amapaense. Em glória, nosso herói reside na alma do povo tucuju, como carinhosamente se denominam os seus conterrâneos.

A Mangueira evoca a força das populações tradicionais para beber da sabedoria ancestral de um dos seus maiores expoentes, que nos guia e se revela como a própria Amazônia negra.

PRIMEIRO ENCANTO: TURÉ PARA O XAMÃ BABALAÔ

Estou no Turé e lhes conto que ainda não tocou o cuti porque a dança não terminou. Pelo contrário, eu diria. Ela está apenas começando. E está começando no Norte, onde o meu país começa.

É no início dessa história que alastro as minhas raízes brasileiras para esse ritual de agradecimento aos invisíveis do Outro Mundo.

Sigo em movimento, mesmo plantada entre Sumaúmas que fazem de mim, a quase centenária, aprendiz e mensageira.

Junto com as lahen, distribuo o caxixi na cuia do mesmo tipo que veste as mulheres também trajadas de saia de buriti. A festa acontece cercada de varas de madeira, no circular lakuh. Eu, Mangueira, estou na floresta amazônica brasileira, envolvida nesse transe.

Urucu, jenipapo e kumatê tingem a minha visão. São tons da natureza que pintam desde as cuias que guardam o sabor do beiju de mandioca até os enfeites criados com penas dos peitos das araras, que se encostam nas cabeças daqueles que festejarão os espíritos.

O pakará está posto para o líder pegar o maracá e os cigarros de tawari. É hora da viagem. Jãdam têm nas mãos os seus bastões e os palikás puxam os cânticos junto com o pajé. Os sons das flautas e das buzinas de bambu se alastram junto às palavras entoadas aos ancestrais. Um deles, especialmente, veio nos ver. Eu estava aqui aguardando por ele.

A energia avassaladora toma o espaço e me faz confirmar: não há morte para quem sonha. A presença dele é inegável porque nunca deixou de ser. Já estava aqui, sempre esteve. E agora, mais do que nunca, o Xamã Babalaô veio para nos embrenhar nesse encanto tucuju que vive como só ele.

SEGUNDO ENCANTO: MERGULHO NAS AFLUÊNCIAS

As águas doces serpenteiam todo o território, espaço de façanhas e atributos de tantos sentidos. Princípio de todo um lugar, são o meio e o fim. A natureza em ação, carregando histórias, tradições e segredos por caminhos tão barrentos quanto extensos.

O Xamã Babalaô navega em um afluente do Uaçá, nada pelo Rio Curipi, consolida seus laços históricos e hereditários com os povos indígenas da terra tucuju. No curso das águas, visita, aprende e confirma as sabedorias dos Galibi Kali’na, Galibi Marworno, Karipuna, Palikur e Wajãpi. Assim como ele, reconheço em mim a sua ancestralidade.

As correntezas nos levam por todos os lados, e as comunidades quilombolas também dependem das águas.

Pelo Rio Jari, chegamos a diferentes povoados. Conversando com os extrativistas e as mulheres que trabalham com as castanhas, ele se comunica com aqueles que dividem uma memória negra que eu também descortino.

Tudo se baseia nos rios: circulação, movimento, mitos, rituais, vidas. Os ribeirinhos carregam conhecimentos profundos desse universo e os recriam a cada milagre da maré. Se ela desce, se ela sobe. Se está boa para ver um sumano. Se é momento de pesca, se é tempo de rede.

Aqui, sobre o rio, tudo se sabe. Só há uma dúvida, alguns me contaram, de seres de formas fantásticas e de outras realidades, os quais, assim como o Xamã Babalaô, tocam as nascentes e as profundezas. Nelas, é certa a companhia distinta de animais e outras formas de energia.

O Xamã Babalaô entra na palafita amparada de palmeiras buçu, relembrando as tecnologias e as invenções de seu povo, além das místicas da sua gente. Contempla os regatões do presente, o transporte dos sacos das farinhas e a alegria das brincadeiras dos inocentes, que também lembram as minhas crianças.

Atravessamos as vivências de quem boia, mexe e se banha de um jeito só seu. Pelos rios, a poesia e o encanto se alastram para entender a beleza de um lugar e um modo novo de se viver que só quem viu o Amazonas sabe entender.

Os rios carregam de um tanto. Foram decisivos na vida do nosso encantado e continuam sendo a base de muito o que se conhece. Levam e trazem embarcações e seres, produtos e família. A todo o tempo, gente e mistério.

TERCEIRO ENCANTO: O PODER DA CURA NA CIÊNCIA DO ENCANTO

Se o rio foi o caminho para trocas, nessa saga, a floresta é quem lhe entrega o dom. Ao emergir das marés amazônicas, outras águas me fazem mergulhar nas histórias que transformam o Tucuju em encanto. O Xamã Babalaô me convida para um cenário de velhas chaleiras com infusões, em que garrafadas são preparadas contra qualquer um dos males que podem acometer quem ousa viver.

A sua existência, que um dia foi chamada de Doutor da Floresta, agora é revivida ao compartilhar as receitas que deixou no imaginário popular, nos estudos que viraram livros, na voz ouvida pelas ondas difundidas pelo território e em cada uma das memórias dos mistérios das ervas, carregados por aqueles que dominam como ele a ciência do encanto.

Sementes, flores, folhas, cascas, seivas e um tanto mais que o mundo dá permitem outras possibilidades de persistir entre a dor e a cura, entre a folha e a oração. A floresta entrega aquilo que revigora. Submete as pessoas à necessidade de existir. Como também sou natureza viva que faz viver, sei o que digo.

A medicina ancestral, fruto dos saberes indígenas e negros, une-se aos murmúrios das matas. O sopro no ouvido de quem está em Outro Mundo também dita os movimentos das mãos daqueles que manuseiam um divino chamado natureza.

Não se enganem, são sagrados os segredos do cuidado.

Engarrafar a floresta é entender que os seus conhecimentos e sabedorias são práticas de cura, desenvolvidas desde um tempo muito antigo por quem ocupa essa terra desde sempre. Entendimentos herdados das tradições orais passadas de geração a geração. Crendices que misturam o que é alcançado pelas mãos com as mandingas – práticas invisíveis aos olhos – como ensinou um encantado Preto Velho. Saravá!

Ele transforma esse extrato em banhos, chás, gargarejos e unguentos. Simpatias, para quem tem fé, também dão certo.

Quebra quebrantos, faz criança andar, sujeito parar de beber e mal de sete dias acabar.

Como fazia em outros tempos, o Xamã Babalaô pede licença para adentrar as matas. Observa ao seu redor e parece falar com aquilo que nem eu sei o que é. Pode ser feitiço.

Reconhece uma casca no chão, pega outras frescas, entende que a troca com a natureza é vital. Reza, pede, intercede.

Respeita os ciclos. Extrai do ambiente o sustento para o seu povo, demonstrando a riqueza da Amazônia: o que dela se retira, o que com ela se faz. O que a ela se retribui, para mantê-la e nos manter de pé.

QUARTO ENCANTO: OS TAMBORES RESSOAM

De pé na floresta, houve um chamado. Som e energia reverberam pelo ar. Ondas de encanto. O Xamã Babalaô está tão envolvido quanto eu quando ouço a subida do tamborim.

Continuo vendo a mesma natureza que observei nos remédios de cura. As árvores que viviam nas garrafadas, agora, são tronco oco de tambor. As sabedorias ancestrais
permanecem a base das manifestações que se apresentam a nós.

Çai Erê, disseram alguns originários, até batizar a festa que seria tocada com uma única baqueta, conforme mandam outras celebrações dos donos daquela terra. No Sairé do
Carvão, contemplamos a síntese dos tucujus afro-indígenas.

Nos encantamos por ela, mas logo o Xamã Babalaô aponta para a fogueira de esquentar couro e afinar as raízes do Batuque. Dois tambores, o amassador e o dobrador. Dois pandeirões. “Vieram lá de África”, escuto cochichar a quilombola que puxa o verbo e solta as bandaias para acompanhar o pessoal que senta nos macacaueiros presos às peles de sucuriju.

As mulheres rodando e puxando vento com a barra da saia me lembram outro movimento que vira o mundo ao anti-horário.

O giro e na gira do Marabaixo, salve o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade. E salve as energias que pairam naquele toque, naquela circularidade, naqueles Mestres com quem ele tanto conviveu.

Já vejo as minhas flores nas saias e nos cabelos das açucenas, enquanto meu povo gargalha tomando gengibirra e aprendendo os ladrões como o que fizeram para o Xamã Babalaô, que volta para o cortejo da vida por meio dessa e de outras canções. Atraído pelos ritmos que ressoam, cada um mais forte do que o outro, passeam s pelos terreiros de
cultura, entre a Favela e o Laguinho. Vejo aquela gente e aquelas salas como se do Morro fossem.

Nesses barracões, aprendo a saudar as matriarcas daqui que, assim como as minhas, ensinaram que o certo é pela nossa cultura se espalhar. Então, bora se requebrar, preparar para muito gingado, porque quando os tucujus e os mangueirenses dançam os mundos se movem. Xamã Babalaô, marabaixeiro, sempre soube e sempre saberá.

A virada da caixa que arrepia ganha outros contornos históricos para além da dança que um dia foi de lamento. Em Mazagão Velho, a Festa de São Tiago ecoa um toque de guerra que também é toque de gente que aprendeu a transformar a sua história em batuque e festejo. Com o som do Vominê, escolhemos máscaras para sermos travessos e dar um rádio em quem puder.

Essas sonoridades misturadas em diferentes batidas, chegam ao Encontro dos Tambores, e atraem nosso invisível para mais uma festividade.

Dos instrumentos do Zimba do Cunani aos atabaques das macumbas amapaenses, do carnaval em que foi Rei aos músicos contemporâneos… O Encontro dos Tambores intensifica os sons e os sentidos para tratar das vibrações particulares que definem uma espiritualidade amazônica.

As percussões confundem espaço, tempo e religião. Pelo compasso do tambor, a igreja é o terreiro, o ontem é hoje, o amanhã é agora. Tudo entra em espiral.

Na Missa dos Quilombos, o Xamã Babalaô retorna batendo caixa como quem firma chão. Lá, oração também se dança.

Sem precisar de permissão, os corpos não se contêm. Aqueles toques também são ancestrais, pois redefinem as condutas de um povo de um jeito libertário. Mães de santo participam da missa como coroinhas, as ofertas viram frutas e oferendas e um mundo novo, fundado por ele, pareceu ter sido criado diante de nós. A entidade adentra o culto sem espaço para divisas.

Ele encontra na rítmica tucuju a mesma força espiritual presente em suas curas. Como uma bateria, esses sons fazem o coração pulsar em sanidade, tratando do passado da nossa gente. Preservam e reescrevem histórias dos encantos e das realidades vastas. O tambor celebra.

QUINTO ENCANTO: O GUARDIÃO DA AMAZÔNIA NEGRA

Na saga do Xamã Babalaô – invocado no Turé, navegante das afluências, engarrafador das florestas, pulsante nos tambores – eu vislumbro a incessante busca de plantar o eterno. Ele se transforma no que faz a Amazônia viver, tornando-se a própria identidade tucuju.

O Xamã Babalaô é o que ficou. Ao tocar o chão da floresta, dos barrentos, dos quilombos, dos barracões, das missas, nosso ser se conduziu a ser ele mesmo os elementos que
revelam quem o seu povo é. Torna-se múltiplo, sem limitar a vida a um corpo ou a uma única forma, como só sabem fazer os que conhecem os encantos da terra.

Imponente, ergue-se nos mastros, prática cultural de origem negra. Seja nas bandeiras dos Marabaixos ou das minhas coirmãs escolas de samba, segue em haste afro-brasileira, coluna de memória que desafia o tempo e as tentativas de apagamento. No lenço que balança alto, ele se transforma em objeto que anuncia as festas de sua Amazônia. Preso na murta ou no pavilhão, dança com o vento e sussurra histórias que não podem ser esquecidas.

Resiliente e vigoroso, manifesta-se no cipó de titica, fibra que amarra parte do mundo e sustenta o fazer. Enlaça casas, objetos de pesca, redes e segredos com a firmeza do valor da raiz. Nele, o Xamã Babalaô tece seu nome torcido no trançado do tempo.

Leal em seus valores, exalta a potência feminina e o matriarcado que tanto conheço. Mergulha no barro de Maruanum, em que as mãos negras das louceiras moldam moringas, panelas e presenças daquela a quem se pede licença.

A Vovó do Barro recebe o encantado que se dissolve na argila e ressurge em forma de artefato. Cada peça é uma oração queimada no forno daqueles saberes.

Escorre no açaí que mancha mão e boca com o roxo atinado. O Xamã Babalaô vive no sabor do fruto do sustento amapaense. Está nos dedos que botam o caroço no paneiro, no remanso da peneira, na garganta que se tinge com gosto de floresta. É sangue da terra.

Reaparece nos olhos da onça, bicho grande, dono da mata. Espreita silencioso, passeia firme, guarda os caminhos. Ameaçada, é a onça o espírito da floresta em regime de alerta. O Xamã Babalaô estampa agora pelagem e coragem. Está na pisada leve e na força que pode até não se ver mas que se sente. Quem cruza com ele sabe: há algo mais ali, um fundo que escapa à vista e mora no pressentimento.

No flerte com o eterno, o Xamã Babalaô se planta como amapazeiro. Árvore mãe, árvore nome, árvore estado.

Declama no silêncio da terra úmida e se ergue em galhos que se expandem, sombra que conforta, seiva que cura pelo lugar todo. Faz-se tronco, folha, semente e eternidade. Não partiu, enraizou-se onde tudo começa e recomeça. Ele é a natureza.

À natureza, ele retorna. Na sua Amazônia de floresta em pé, ao meu lado, encerra uma saga que é símbolo de uma identidade nacional que tem sabor, cheiro e textura das memórias do meu Norte.

Ao findar do transe xamânico, pairam no ar essências que nos entregam o frescor do Brasil. Do sumo daquilo que melhor poderia se macerar das terras profundas do nosso país.

Das terras do nosso Xamã Babalaô do Encanto Tucuju. O guardião de toda essa amapalidade, de toda essa Amazônia também negra, de toda a Mangueira!

Enredo e Pesquisa: Sidnei França, Sthefanye Paz E Felipe Tinoco

REFERÊNCIAS

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BASTOS, Fernanda Lima; SANTANA, Elane Pereira; CORDEIRO, Albert Alan de Sousa. Cultura Popular e Educação na Amazônia: Um Debate a Partir da Vida do Mestre Sacaca.
BRASIL. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Dossiê de Registro – Marabaixo. Brasília, 2018.
COSTA, Janaina. Cipó-titica: recurso florestal não madeireiro importante para a economia do estado do Amapá. Editora Científica Digital, 2015.
DIAS, Joseli. Sacaca: O Mestre das Plantas e Rei do Carnaval. Macapá: Coleção Amapá Cordel, 2013.
GALLOIS, Dominique TIlkin; GRUPIONI, Denise Fajardo. Povos Indígenas no Amapá e Norte do Pará: quem são, onde estão, quantos são, como vivem e o que pensam? São Paulo: Iepé, 2003.
GOMES, Joãozinho; MILHOMEM, Val. Jeito Tucuju. Música.
GODINHO, Ruy. Então, Foi Assim? Os bastidores da criação musical brasileira – Amapaense. Macapá: Abravadio, 2018.
JUNQUEIRA, Sérgio; REIS, Marcos Vinicius de Freitas; SALHEB, Gleidson José M. (Orgs.). AMAPÁ: uma experiência afro-brasileira. Rio Branco: Nepan Editora, 2022.
LAMARÃO, João Nobre. Falar Tucuju Desde o Tempo do Ronca. Macapá: Sebrae/GEA, 2006.
OLIVEIRA, Edna dos Santos; SANCHES, Romário Duarte; VASCONCELOS, Eduardo Alves. Tucuju: uma palavra e vários significados. Ananindeua: Cabana, 2023.
PESSOA, Mônica do Nascimento; VENERA, Raquel Alvarenga de Sena.
Manifestações afro-brasileiras no Amapá: a arte do marabaixo no tempo presente. Criar Educação, 2016.
MADUREIRA, Daniel de Nazaré de Souza. Marabaixo e seus “ladrões”: a história afroamapaense sintetizada no cancioneiro popular como elemento fomentador de estudos literários. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação Agrícola, Área de Concentração em Educação Agrícola, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2019.
MONTEIRO, Mário Ypiranga. Plantas Medicinais e suas virtudes. Interdisciplinar, 1988.

Em Cima da Hora leva Saquarema para a Sapucaí no Carnaval 2026

A Em Cima da Hora já tem seu ponto de partida definido para o desfile de 2026: a cidade de Saquarema, joia do litoral fluminense, será o coração do enredo “Socoa-y-Rema – Onde o altar encontra o mar”, assinado pelo carnavalesco Rodrigo Castro de Almeida. A escola será a segunda a desfilar no sábado, 14 de fevereiro, pela Série Ouro, na Marquês de Sapucaí.

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logo enredoemcimadahora2026
Logo do enredo para o Carnaval 2026 da Em Cima da Hora

O título do enredo carrega em si o encontro entre o sagrado e o natural, refletindo a proposta da escola em mergulhar nas paisagens, lutas e tradições de Saquarema. Conhecida por suas praias exuberantes, pelo surfe e pela forte religiosidade, a cidade será retratada não apenas como destino turístico, mas como um símbolo da cultura popular do estado do Rio de Janeiro.

“Olhar para Saquarema é enxergar uma cidade para além do mar e da montanha. É compreender seu povo e os caminhos que construíram este lugar. E é a partir dos contos desse povo que vamos visitar, também, um pouco da história do nosso país”, explica o carnavalesco.

A proposta dá continuidade à linha temática da Em Cima da Hora, que tem valorizado a identidade brasileira e suas raízes. Depois de homenagear os trabalhadores e os orixás, a azul e branco de Cavalcanti agora se debruça sobre a espiritualidade e a força de um povo que transforma devoção em movimento, como no Círio de Nazaré, estabelecendo um paralelo com as manifestações de fé em Saquarema.

A escola promete levar para a Avenida um desfile carregado de simbolismos e sensações: da grandiosidade do altar da Igreja de Nossa Senhora de Nazareth ao impacto das ondas que atraem surfistas do mundo todo, passando pela música, pelo tambor e pelas histórias de resistência dos moradores da região.

saquarema enredoemcimadahora2026
Foto: Divulgação/Anaiara Gois

“Socoa-y-Rema” é um grito de afirmação da brasilidade que brota do litoral, onde a felicidade se encontra entre a fé, a natureza e a luta diária de um povo resiliente.

Liga RJ inicia venda de ingressos para o setor 1 visando o Carnaval 2026

Teve início nesta terça-feira, pela plataforma Ticketmaster, a venda de ingressos para o setor 1 dos desfiles da Série Ouro 2026, que acontecerão na Marquês de Sapucaí nos dias 13 e 14 de fevereiro. Os bilhetes estão disponíveis a preço popular, com valores de R$ 15,00 (inteira) e R$ 7,50 (meia-entrada).

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sapucai serieouro
Foto: S1 Comunicação/Liga RJ

Para o presidente da Liga RJ, Hugo Junior, a mudança representa um avanço na organização e no compromisso com a ocupação democrática das arquibancadas. Ele destaca que a iniciativa foi cuidadosamente pensada para preservar a presença das comunidades e combater distorções no sistema anterior.

“A venda a preço simbólico é uma forma de garantir que o ingresso chegue ao público que realmente deseja estar ali para prestigiar as escolas. Notamos que muitos bilhetes estavam sendo utilizados para comercialização irregular e o setor 1 acabava com espaços vazios mesmo com todos os ingressos distribuídos”, afirmou.

Hugo Junior também reforça que a nova política de ingressos não prejudicará o papel social desempenhado pelas agremiações. As escolas de samba da Série Ouro continuarão recebendo cotas de entradas gratuitas, mas agora destinadas a outros setores do Sambódromo.

“É fundamental que as comunidades sigam representadas na Avenida. Esse sempre foi e continuará sendo um compromisso da Liga RJ. Estamos apenas ajustando os formatos para garantir justiça e presença real nos dias de desfile”, concluiu o dirigente.

Os ingressos do setor 1 estão à venda através do link https://www.ticketmaster.com.br/event/rio-carnaval-2026-arquibancada-popular-01-serie-ouro. Além disso, há mais de um mês, os bilhetes para os setores 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 10 e 11 também estão sendo comercializados, com preços que variam entre R$ 35,00 e R$ 17,50.

Portela mantém Marlon e Squel e apresenta novidades em seu time de casais para o Carnaval 2026

Para o Carnaval de 2026, a Portela manterá o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, formado por Marlon Lamar e Squel Jorgea, e apresenta como novidade a chegada de Thainá Teixeira e Vinicius Jesus, novo segundo casal da escola. O time ainda ganha o reforço de Yuri Pires, que retorna à agremiação como terceiro mestre-sala ao lado de Osanna Baptista.

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Fotos: Divulgação/Gipe Produção

Thainá Teixeira, criada no projeto “Madureira Toca, Canta e Dança”, comandado por mestre Galo, é a nova segunda porta-bandeira da Portela. Ela dançará ao lado de Vinicius Jesus, promovido ao posto de segundo mestre-sala. O casal traz entrosamento e experiência, já que também representa o primeiro pavilhão da Inocentes de Belford Roxo. Ao longo da carreira, Thainá passou por escolas como Difícil é o Nome, Unidos da Ponte, Acadêmicos da Rocinha, Renascer de Jacarepaguá, Vigário Geral e Unidos da Tijuca.

“Minha história com a Portela começou na infância, acompanhando minha mãe, uma portelense apaixonada, nos ensaios e desfiles. Foi ali que me encantei pela arte de porta-bandeira, inspirada por Cris Caldas, na época. Retornar à escola para defender o segundo pavilhão é a realização de um sonho antigo”, celebrou Thainá.

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Segundo casal da Portela, Vinicius Jesus e Thainá Teixeira

Outra novidade no quadro de casais é o retorno de Yuri Pires, cria da casa, que assume o posto de terceiro mestre-sala. Iniciado no mundo do samba na quadra da Portela ainda criança, Yuri é egresso da escola mirim Filhos da Águia e também passou por agremiações como Curicica, Tuiuti, Império Serrano e União da Ilha do Governador. Na Azul e Branca de Madureira, ele formará par com Osanna Baptista, que segue na função de terceira porta-bandeira.

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Terceiro casal da Portela, Yuri Pires e Osanna Baptista

“Voltar à Portela ao lado da Osanna, minha amiga de infância, é a realização de dois sonhos ao mesmo tempo. Estou vivendo um momento único: defender o pavilhão da escola de coração! Depois de mais de 15 anos alimentando esse sonho, venho com o coração cheio de gratidão e a promessa de honrar essa responsabilidade com amor, respeito e total dedicação à nossa Águia”, declarou Yuri.

Teresa Cristina interpreta sambas-enredo históricos em frente ao CCBB RJ

Mais do que narrativas de desfiles, os sambas-enredo se tornaram parte do imaginário afetivo do povo brasileiro. E é essa força que a cantora Teresa Cristina celebra no projeto B.R.E.C. – Bloco Recreativo Enredo Carioca, que retorna à cena carioca no dia 7 de junho, ocupando com entrada gratuita a área externa do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, em um espetáculo na Praça da Pira Olímpica.

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Foto: Divulgação

Apaixonada confessa pelo universo das escolas de samba, Teresa montou um repertório que exalta clássicos de agremiações como Mangueira, Portela, Salgueiro, Mocidade, Imperatriz, Estácio, Viradouro, União da Ilha e Caprichosos de Pilares, entre outras. A proposta é transformar a praça pública em um grande terreiro de celebração da memória musical do carnaval carioca.

No palco, a cantora interpretará sambas que marcaram época, como o antológico “Kizomba, a festa da raça”, da Vila Isabel em 1988, o potente “100 anos de liberdade, realidade ou ilusão”, da Mangueira no mesmo ano, e o inesquecível “Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite”, da Portela em 1981. “Temos um acervo de maravilhas que não podem cair no esquecimento porque são sambas históricos que já nos deram muitas alegrias”, ressalta Teresa.

O evento deste ano ganha um simbolismo ainda maior ao celebrar os 90 anos do primeiro desfile com samba-enredo no Rio de Janeiro. Foi em 1935 que as escolas passaram a apresentar enredos com músicas especialmente compostas para o desfile. A Portela, com “O Samba Dominando o Mundo”, se sagrou campeã e iniciou uma trajetória vitoriosa que ajudou a consolidar o carnaval carioca como a maior festa popular do planeta.

Portelense de alma e coração, Teresa Cristina tem trajetória profundamente ligada ao samba e ao carnaval. Em 2022, foi comentarista do programa Seleção do Samba, da TV Globo, tornando-se a primeira mulher a interpretar o tema oficial do Carnaval da emissora. Já em 2023, levou milhares à Praça Mauá na estreia do B.R.E.C., e, em 2024, comandou o evento em homenagem ao centenário da Portela no Vivo Rio. Em janeiro deste ano, voltou à mesma casa de shows para mais uma celebração memorável, com convidados especiais como Milton Nascimento, homenageado na azul e branca.

“Estou muito animada em fazer esse show novamente, ainda mais de graça – como deve ser – e ali em frente ao CCBB, onde todo mundo consegue acessar com facilidade. Tenho certeza que vamos fazer uma festa linda!”, afirma a artista.

O projeto tem patrocínio do Banco do Brasil e reforça a potência cultural dos sambas-enredo, que continuam emocionando, ensinando e unindo gerações por meio da música.

Show ENREDOS DA CIDADE
Com Teresa Cristina e B.R.E.C. – Bloco Recreativo Enredo Carioca
Data: 7 de junho de 2025
Local: Praça da Pira, em frente ao CCBB
Horário: 14h
Entrada gratuita
Retire seu ingresso na bilheteria e no site bb.com.br/cultura
Classificação: Livre

Carolina Maria de Jesus é o enredo da Unidos da Tijuca para o Carnaval 2026

Fechando a segunda-feira de Carnaval, a Unidos da Tijuca levará para a Sapucaí como tema do seu enredo a maior escritora negra do Brasil: Carolina Maria de Jesus. Resgatar o passado, recuperar uma identidade e construir para o futuro uma nova perspectiva. Esse será o lema da Unidos da Tijuca para 2026. O enredo será uma homenagem a escritora, memorialista, compositora e multi-artista mineira, autora do best-seller “Quarto de Despejo – O Diário de uma favelada”, considerado uma das mais revolucionárias e impactantes obras da literatura brasileira.

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Foto: Reprodução de internet

Ante o apagamento histórico da homenageada e dos rótulos que recaíram sobre sua figura por mais de meio século, será a missão da escola contar a história de sua vida através de suas próprias produções, colocando-a como espelho de um Brasil que ainda pouco se conhece, e que muito precisa aprender sobre os seus.

“O título – o próprio nome da autora, ‘Carolina Maria de Jesus’ ainda alvo de dúvidas e confusões – foi escolhido em virtude da necessidade de afirmarmos sua identidade, de colocarmos em lugar de direito a “escritora que foi favelada” ao invés da “favelada que escrevia”. A agremiação desfraldará, feito pavilhão engalando, o lenço que foi a prisão imagética de Carolina, coroando-a de livros, recortes e poesias, num reencontro sensível e emocionante com a sua literatura visceral, verdadeira e comovente”, explica o carnavalesco Edson Pereira.

Em 2025 o Rio de Janeiro é a capital mundial do livro, e a Unidos da Tijuca será, até aqui, a única escola com enredo literário do carnaval. A última vez que a agremiação trouxe uma biografia literária como enredo, foi em 1982 com Lima Barreto, também negro e fundamental na construção do ideário brasileiro.

A entrega e explanação da sinopse aos compositores acontece nesta terça-feira, 3 de junho, às 19h no barracão da escola na Cidade do Samba. A Unidos da Tijuca desfilará na Marquês de Sapucaí dia 16 de fevereiro de 2026. O enredo será desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira.

Sinopse da Porto da Pedra para o Carnaval 2026

“Eu sou um corpo. Um ser. Um corpo só. Tem cor, tem corte e a história do meu lugar. Eu sou a minha própria embarcação. Sou minha própria sorte”.
(Trecho de “Um Corpo No Mundo” de Luedji Luna)

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Logo do enredo da Porto da Pedra para 2026

AOS COMPOSITORES E COMPOSITORAS

É com muita alegria que damos início a essa etapa tão importante para a criação do desfile de uma escola de samba. Para o ano de 2026 vocês terão a nobre missão de transformar o texto do enredo “Das Mais Antigas do Mundo, o Doce e Amargo Beijo da Noite” no samba que irá ilustrar o desfile do G.R.E.S. Unidos do Porto da Pedra.

Ratificamos nosso entusiasmo em mais uma vez poder doar ao carnaval a possibilidade de todos os sambistas e expectadores deste espetáculo serembrindados com um enredo que transforma a Porto da Pedra em ponte para toda sociedade conhecer detalhes preciosos de personagens que sempre foram marginalizadas pela hipocrisia que dita regras sociais. Nossa intenção não é realizar uma ode a prostituição, ou como diz Lourdes Barreto: “normalizar a causa”. Buscamos na história dessas mulheres o doce e o amargo das suas vivências, como elas foram retratas pela arte, e por fim, a luta por valorização de quem atua no que popularmente é chamado de “vida”.

Nas páginas seguintes vocês encontrarão os textos que fazem parte da construção teórica deste carnaval. Este é o primeiro contato entre o enredo e a criação musical. Recomendamos a leitura completa, com atenção, deixando claro que a narrativa textual abrange todos os pontos importantes da história que será transformada em desfile.

Observação importante: De forma alguma limitaremos a criatividade das parcerias, ideias sempre serão bem-vindas, desde que, não fujam ao tema. Buscamos um samba forte, aguerrido, que cada componente e sambista cante alegria. Pensem neles! Confiamos no potencial poético de cada um de vocês que acreditou na escola, no enredo e no concurso. Qualquer dúvida estamos à disposição.

Boa sorte na disputa!

Mauro Quintaes
Carnavalesco
Diego Araújo
Enredista

Justificativa

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Porto da Pedra, com imensa satisfação, apresenta aos sambistas e aos admiradores do carnaval carioca, seu enredo para o Carnaval 2026.

O tigre de São Gonçalo historicamente sempre se permitiu a coragem de levar para a Avenida Marquês de Sapucaí enredos que abordassem temáticas com figuras que foram colocadas à margem da história pela sociedade. Foi assim com as pessoas com transtorno mental, os ladrões e o povo da rua, por exemplo. Está em nossa veia carnavalesca a ousadia!

Neste ano nos reencontramos com um enredo que ficou guardado por muito tempo. Tempo este que foi necessário para que ele não fosse considerado um símbolo de vulgaridade reforçando estereótipos enraizados na sociedade. Encaramos esse desafio com a certeza de que nossa missão enquanto escola de samba sempre será ser a voz do povo, sem amarras ou preconceitos.

Pedimos licença às donas da magia. Todas as Marias! Que guardem e abram os caminhos para nós e as personagens exaltadas neste cortejo carnavalesco. Do sagrado e do profano. Do luxo e da pobreza. As faces retratadas em todas as artes. Seremos a voz da luta de quem está na “vida” por tantos motivos que não nos cabem julgamento, mas, o abraço que acolhe.

Elas estão vindo feito mariposas da noite! Enluaradas, enfeitiçadas, aguerridas e empoderadas. E antes de amanhecer, elas deixarão na alma e nos corações de cada um de vocês a marca do inesquecível. Elas são os amores proibidos e…

Preparem-se para o prazer de receber,

“Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”

Sinopse

“Boa noite, pra quem vem de longe
Boa noite, pra quem tá chegando
Boa noite, pra moça bonita
É pra ela que eu tô cantando
7 rosas vermelhas, lá na encruzilhada
É lá que essa moça mora, é lá que ela dá risada…”

Mulher. Palavra que emana poder. Meu corpo é a encruzilhada que veste o preto mistério sobre a luz das estrelas. Meus traços são faíscas incandescentes de desejos. Rubro ardor de loucura. Nos meus lábios, a vermelha tentação que beija a alma dos que ousam provar o deleite destas carícias.

Mulher. Atiço a poeira da magia. O ferro em brasa. O fervor do dendê. O perfume que exala pelas ruas. Boa noite para elas! Donas da magia que comandam essa avenida. Dama das rosas. Ponteira de aço firme nessa esquina da resistência feminina.

“À minha Senhora hei de cantar
Poesias escritas para além-mar.
Dourada, de doce sorriso

Além da compreensão humana, o divino sentido…”

Sagrado? Ora, tenho dons celestiais! A beleza que desnuda os pudores humanos. Dancei com sátiros nos bosques, me banhei no cálice dos prazeres divinos dos rituais, sou face feminina dos sonhos deíficos que acalentam os corações humanos que buscavam carinho.

Profano? Ora, visto-me de realidade! Os seios banhados com champanhe são as taças do desejo que cortejam as vontades da realeza. E tempos depois, por estas terras de onde não haveria temores, minha estrela se apagou e renegada de minha pátria, polaca perdição do cais. Estava aqui, no manguezal da labuta meretrícia, degradada entre o luxo e a pobreza. O bem e o mal de tantos!

“…E gira em volta de mim
Sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro
Sozinhos…”

Sou dona dos amores não correspondidos e do amargo da solidão. Forjada para lida das mãos que tocam meu corpo. Meu colo é teu carinho, afago da perdição das almas. Vivo a vida entre a lâmina fria da realidade e o perfume das flores que despetalam promessas neste velho cabaret.

Arreda, homem! Sou a feiticeira sedutora de Araxá que a sociedade conservadora não pode calar. Sou as asas da imaginação de um escritor, um anjo entre a pureza e a perdição. Sou a voz que não se cala, a baiana fervorosa, sou o suspiro que ecoa nos corredores do velho cortiço. Sou mulher- dama, o machado forte, os lábios da doçura do cacau.

Sou eu! Encontrei proteção no fio da navalha do desordeiro herdeiro das sete coroas que me acolheu. Satã das bonecas e da malandragem que travestiu o “balacochê” na Lapa boemia. Sou eu, sim! Maria que homem nenhum tomba! Do agreste fui expulsa e enfrentei o julgamento da perpétua moralidade. Sou um furacão de liberdade e rebeldia, o amor proibido, riscado por Deus e que ninguém rabisca.

“Baby!

Dê-me seu dinheiro que eu quero viver
Dê-me seu relógio que eu quero saber
Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você…”

Mulher da vida, é preciso falar! É preciso que vocês me ouçam. Nós somos mais que corpos a serem tocados. Sou mulher do lar, por que não? Sou feita de sonhos e esperanças que um dia partiram para o mundo, e nas voltas desse mundo, algumas não retornaram.

Entenda que sou profissional! Não sou objeto, sou cidadã com meus direitos e deveres. Eu luto pelo que você discrimina. Meu corpo não é objeto de exploração, abuso e violência. Minha voz não é do medo que cala, é da luta que persiste, e nem mesmo abominada, desiste!

Sou chique! Desatei os nós do preconceito costurando a verdade de tantas que ditaram elegância no cenário da moda. Vidas em retalhos que vestiram arte. Estou aqui! Por mais que esteja à margem da história, não irão mais nos invisibilizar, eu sou a íris multicolorida de igualdade e liberdade.

A ciência é parceira na prevenção e o cuidado. Minha proteção é a sua satisfação! Conecto suas fantasias aos meus segredos mais delirantes, te enlouqueço, você me deseja, eu obedeço. A tecnologia nos aproxima, o mundo e o prazer ao toque de uma tela.

Sou fascinante mariposa noturna. Só voo à noite, pois dela sou de todos os tempos, rainha! A luz da lua me guia por esses caminhos da vida. Quenga, rameira, meretriz, messalina, acompanhante. O amargo e o doce. Gabriela, Lourdes, Cleide, Rachel, Vivi, Indianarae, Monique e todas as outras que são da luta. E antes que finde esta madrugada, sairei voando por aí…

Sou a liberdade imoral rechaçada pela hipocrisia,
O proibido que habita os seus sonhos,
O pesadelo que assombra sua mente,
O desvario, a luxúria e a provocação.
Sou um corpo na multidão observada,
Mulher que você julga a conduta,
E tentas vezes put…ah, puta mesmo!

Sou eu sua fantasia liberta nesse carnaval,
De garras afiadas num delírio sensual,
O beijo da noite que te enlouquece,
Nos meus braços você adormece,
Mas te deixo quando dia amanhece.
Você promete me tirar desse lugar,
Sou a flor do sereno,
Sou o veneno e a cura,
A fatal que não se esquece.

Créditos / Enredo

“Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”
Carnavalesco: Mauro Quintaes
Enredista: Diego Araújo

Referências Musicais
Ponto de Pomba-gira – Domínio Popular
Trecho de “Poema à Afrodite” de Lykaios
Trecho de “Resposta ao Tempo” de Cristóvão Bastos e Aldir Blanc
Trecho de “Garoto de Aluguel” de Zé Ramalho
“Boate Azul” de Benedito Seviero e Tomaz
“Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” de Odair José

Referências Bibliográficas
ALENCAR, José de. As Asas de um Anjo: comédia em um prólogo, quatro atos
e um epilogo. Rio de Janeiro: Editores Soares e Irmão, 1860.
AMADO, Jorge. Gabriela, Cravo e Canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
AMADO, Jorge. Tieta do Agreste. Rio de Janeiro: Record, 1977.
AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012.
BARRETO, Lourdes. Puta autobiografia. São Paulo: Claraboia, 2023.
LEITE, G. Filha, Mãe, Avó e Puta: a história de uma mulher que decidiu ser prostituta. Rio de Janeiro: Objetiva. 2009.
PRADO, Monique. Putafeminista. Edição Português. 2018.
Referências Audiovisuais
Hilda Furacão [minissérie]. Direção: Glória Perez. Produção: Globo, 1998.

Liga RJ renova contrato com a Band TV para transmissão da Série Ouro por mais três anos

Na tarde desta segunda-feira, a Liga RJ assinou a renovação do contrato com a Band TV para a transmissão dos desfiles da Série Ouro pelos próximos três anos. O ato aconteceu na sede da emissora, em Botafogo, Zona Sul do Rio, com a presença do presidente Hugo Junior e de André Marini, diretor-geral da Band Rio.

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Foto: Band Rio/Larissa Vieira

Hugo Junior celebrou a continuidade da parceria, destacando o papel fundamental da Band na valorização e visibilidade dos desfiles da Série Ouro. Segundo ele, a emissora tem se mostrado uma aliada importante na promoção do carnaval e no fortalecimento do trabalho das escolas.

“A Band tem sido uma grande parceira da Liga RJ e das escolas da Série Ouro. A cobertura e a transmissão são sempre muito elogiadas, e isso tem contribuído para dar ao nosso grupo o destaque que ela merece. Essa renovação é motivo de comemoração para todos nós”, afirmou.

Hugo também ressaltou os avanços conquistados ao longo da parceria, como a transmissão em rede para todo o Brasil e o Prêmio Band Folia, que reconhece talentos e destaques dos desfiles. Para ele, essa continuidade permite ampliar ainda mais os horizontes do espetáculo.

“Estamos muito felizes em seguir com a Band por mais três anos. É uma emissora que acredita no nosso projeto, investe em qualidade e entende a importância do nosso carnaval. O Prêmio Band Folia, por exemplo, é um símbolo desse comprometimento e tem se consolidado como um momento especial para celebrar a arte e o esforço das agremiações, além de todas as matérias especiais, a transmissão para o país, dentre diversas ações”, completou Hugo Junior.

Durante o encontro, André Marini reforçou o compromisso da Band com o carnaval carioca e enalteceu o papel das escolas como protagonistas culturais da cidade:

“As escolas de samba são pilares da identidade cultural do Rio de Janeiro, verdadeiras guardiãs da memória, da criatividade popular e da alma vibrante da cidade. Por isso, a Band agradece a confiança dos presidentes das escolas de samba da Série Ouro”, afirmou o diretor-geral da Band Rio.

A Band já transmite os desfiles da Série Ouro há três carnavais. Com a renovação, a emissora passa a ter os direitos de exibição até 2028. No próximo ano, as 15 escolas do grupo desfilarão nos dias 13 e 14 de fevereiro, na Marquês de Sapucaí, sendo sete na primeira noite e oito na segunda.

Superliga anuncia mudanças nos dias dos desfiles das séries Prata e Bronze no Carnaval 2026

A Superliga Carnavalesca do Brasil informa que, em Assembleia Geral realizada nesta segunda-feira, com a presença dos presidentes das agremiações filiadas, foram definidas importantes diretrizes para o planejamento do Carnaval nos próximos quatro anos. As escolas da Série Prata vão desfilar no Domingo e Segunda-feira de carnaval em 2026. Os desfiles da Série Bronze vão acontecer na Sexta-feira e Sábado após a data do carnaval oficial. O Grupo de Avaliação será na Terça-feira de carnaval.

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Foto: Divulgação/Superliga

Foi também decidido que, para o Carnaval de 2026, não haverá filiação de novas escolas para o Grupo de Avaliação. O referido grupo será composto exclusivamente pelas agremiações rebaixadas da Série Bronze no Carnaval de 2025.

Com o objetivo de fortalecer e valorizar os desfiles realizados na Intendente Magalhães, atendendo também às demandas da opinião pública quanto à qualidade do espetáculo, ficou deliberado que haverá uma reestruturação gradual da Série Prata, conforme segue: Carnaval 2027: a Série Prata contará com 24 agremiações; Carnaval 2028: a Série Prata será composta por 20 agremiações; e Carnaval 2029: a Série Prata terá 16 agremiações.

Segundo a Superliga, essa redução progressiva visa oferecer melhores condições estruturais às agremiações e elevar o nível artístico e técnico dos desfiles.