Freddy Ferreira: Baterias com grandes contingentes garantem interação nos minidesfiles do Acesso
União do Parque Acari
Com afinação de surdos relativamente grave, os marcadores da bateria da Acari, dos mestres Erik Castro e Daniel Silvai pulsaram firmemente. O balanço da terceira foi percebido, dando amparo para os médios como repique e caixa, que tinham boa ressonância.
Nas peças leves, uma fila de cuícas corretas, mais uma de chocalhos ressonantes e outra de tamborins com desenho simples, mas eficaz completaram a parte da frente do ritmo (cabeça da bateria).
Foi possível notar uma paradinha se aproveitando do impacto dos surdos na cabeça do samba. Já a bossa do refrão do meio gera um swing envolvente, além de terminar com uma nunca rítmica interessante no início da primeira do samba. O clima animado do ritmo da Acari ainda contou com paradinha antes do refrão principal, colocando os instrumentos para o alto e terminando o arranjo com outra convenção, que se aproveita do grave das marcações para consolidar o ritmo.
União de Maricá
Com sua pegada acelerada característica, a bateria da União de Maricá de mestre Paulinho Steves contou com o pulsar grave e com firmeza de seus surdos. Já os surdos de terceira deram um balanço envolvente ao ritmo da “Maricadência”, além do bom preenchimento dos médios, com caixas e repiques.
Na cabeça da bateria cuícas sólidas, agogôs ressonantes, chocalhos de qualidade e tamborins simples, mas eficientes garantiram o preenchimento dos naipes leves mostrando virtude musical.
Uma nuance rítmica dos surdos envolvendo tapas ritmados com agudos e médios comprovou a potência das marcações maricaenses.
A bossa na cabeça do samba foi um arranjo que mesclou impacto sonoro da timbragem mais grave da bateria e o swing das terceiras. Uma elaboração bem feita, que se aproveitou da melodia do samba. De forma geral, toda a criação musical seguiu a pegada de buscar as variações da música unindo potência de tapas conjuntos e ritmados.
Sereno de Campo Grande
Foi possível notar a bateria “Swing da Coruja” de mestre Vinícius relativamente pesada, com sua afinação um pouco mais grave. O balanço das terceiras envolviam alguns momentos cruzando com maior frenesi. Repiques e médios preencheram de forma correta os médios.
Já nas peças agudas, uma ala de tamborins ressonante se destacou, chocalhos, agogôs e cuícas também auxiliaram no ritmo da cabeça da bateria, garantindo o preenchimento das leves.
A bossa do falso refrão com versos invertidos, que antecede o principal, se aproveitou da nuance melódica para a propagação do toque. Já o arranjo da cabeça da primeira utilizou mais o impacto envolvendo o peso das marcações para consolidar a batida.
Em Cima da Hora
Com uma afinação de surdos pesada, os marcadores da bateria “Sintonia de Cavalcante” de mestre Léo Capoeira ditaram o andamento se aproveitando da timbragem grave do ritmo. Já os surdos de terceira preencheram a cozinha da bateria com balanço envolvente, tudo complementado por médios corretos, como repiques coesos e caixas ressonantes.
Na parte da frente do ritmo, uma ala de tamborins correta executou um desenho simples com eficácia. O naipe ressonantes de chocalhos mostrou virtude musical. Assim como uma boa ala de agogôs foi notada, junto de cuícas seguras.
Uma nuance rítmica envolvendo toques intercalados dos surdos de primeira foi percebida na primeira parte do samba. Assim como uma convenção simples, mas musicalmente eficiente no início da segunda da obra.
Já a bossa que ia da segunda até o refrão principal tinha elaboração complexa, além de densidade rítmica. De difícil execução, sua apresentação foi melhorando cada vez que a bateria da Em Cima da Hora a exibia pela pista.
Ja próximo do fim do desfile, os eternos mestres Claudinho Cardoso (Meião) e Henrique Billucka foram homenageados com um bandeirão com os dizeres “Gratidão Eterna”, que ficou sendo agitado dentro da bateria. Um merecido gesto de carinho por parte de quem foi muito influenciado por esses saudosos bambas do ritmo.
Arranco do Engenho de Dentro
A bateria “Sensação” de mestre Gilmar contou com sua afinação tradicionalmente mais grave e particularmente pesada já característica do ritmo do Engenho de Dentro. O balanço das terceiras foi um dos pontos altos da cozinha do ritmo. Repiques altamente ressonantes foram percebidos, juntos de caixas de guerra de bom nível musical.
Na cabeça da bateria, uma ala de tamborins com desenho simples executou muito bem a convenção. Tudo acompanhado por um naipe de chocalhos de nítido impacto musical. Cuícas seguras e agogôs corretos também auxiliaram no preenchimento das peças leves.
Na primeira do samba, uma nuance rítmica envolvendo surdos foi percebida. Mesmo simples, se mostrou bastante eficiente, dando versatilidade a sonoridade produzida.
Já no início da segunda, um balanço único de diversos naipes foi obtido graças um toque ritmado que se aproveitou da síncope para gerar uma batida mais swingada. Um arranjo musical de bastante êxito.
Unidos da Ponte
Uma bateria “Ritmo Meritiense” de mestre Branco Ribeiro com uma afinação acima da média foi notada. Os marcadores de primeira e segunda tocaram com firmeza e segurança. Surdos de terceira deram um swing diferenciado à cozinha da bateria. Que ainda contou com médios eficazes, como caixas de virtude musical e repiques coesos.
Já na parte da frente da bateria da Ponte, cuícas fizeram bom ritmo, integrados a um naipe de agogôs com batida baseada na melodia do samba. Vale ressaltar a boa ala de chocalho, que tocou em sincronia com um naipe de tamborins de nítida virtude musical. Os tamborins, inclusive, ajudaram visivelmente a adicionar a cultura baiana à sonoridade produzida pela “Ritmo Meritiense”.
A bossa de maior destaque juntava balanço de capoeira com solo de atabaques, num grande arranjo produzido para o refrão do meio. Normalmente era exibida, em seguida, uma nuance rítmica repleta de baianidade na segunda. Outra paradinha que merece exaltação é a do refrão principal do samba, também com ritmo envolvente com clima baiano. Um ritmo culturalmente atrelado ao enredo da escola foi produzido, num conceito que pode ser considerado de poderoso impacto sonoro.
Acadêmicos de Vigário Geral
Uma bateria “Swing Puro” de mestre Luygui particularmente pesada foi notada. O impacto sonoro dos surdos era perceptível, principalmente nas bossas. Surdos de terceira deram balanço ao ritmo e em paradinhas. O preenchimento dos médios também esteve em evidência, com bons repiques e caixas de guerra com volume considerável.
Na cabeça da bateria foi possível notar uma ala de agogôs ressonante, junto de cuícas corretas, apresentando bom volume. O naipe de tamborins com nítida qualidade técnica tocou de forma casada com uma ala de chocalhos acima da média, acrescentando virtude sonora às peças leves da bateria da Vigário.
É possível dizer que a nordestinidade presente nas elaboradas bossas foram o ponto alto do ritmo da “Swing Puro”. Todas mesclaram bom gosto, alinhamento com a melodia do samba e pressão com potência das marcações. Tudo com o amparo de surdos profundamente impactantes.
Unidos de Bangu
A parte traseira da bateria “Caldeirão da Zona Oeste” de mestre Laion contou com médios privilegiados, com repiques coesos e caixas de guerra com boa ressonância. Uma bateria bem afinada foi percebida. O impacto sonoro envolvendo os surdos foi notado, inclusive em bossas. As terceiras deram um balanço envolvente à bateria da Bangu.
Na cabeça da bateria, uma boa ala de cuícas foi exibida junto de um naipe de agogôs de virtude musical. Já o naipe de tamborins de nítida qualidade tocou de modo entrelaçado com uma ala de chocalhos bastante ressonante, complementando as peças leves com valor sonoro.
Uma bossa de destaque musical foi o arranjo bem elaborado do refrão do meio. Inclusive, uma nuance rítmica foi notada envolvendo os médios na segunda do samba, logo após a execução dessa paradinha. Outro arranjo de pleno êxito musical foi o da cabeça do samba, fazendo alusão a uma marcha, culturalmente atrelado ao enredo sobre Jorge da Capadócia. A musicalidade dos arranjos, de forma geral, impressionou.
Estácio de Sá
Uma autêntica bateria “Medalha de Ouro” da Estácio, comandada por mestre Chuvisco. Com sua pegada característica e andamento acelerado. Surdos de primeira e segunda foram precisos e firmes durante o percurso. Já o balanço das terceiras estacianas foi um dos pontos altos do ritmo da escola do morro do São Carlos. O complemento de médios se deu de forma sublime, com repiques coesos e retos, aliados a caixas ressonantes, tocadas em cima e com genuína levada de partido alto.
Na parte de frente do ritmo, um naipe de tamborins executou um desenho rítmico simples com eficiência. Uma ala de cuícas segura fez seu ritmo junto de agogôs que tocavam uma convenção baseada na melodia do samba da Estácio de Sá. Uma ala de chocalhos com bom volume auxiliou no complemento das peças leves.
A bem elaborada bossa do refrão do meio gerou um swing envolvente pro ritmo estaciano. Já o arranjo da segunda do samba era complexo e de difícil execução. Principalmente nos trechos em que as caixas de guerra faziam batidas ritmadas, como se tivessem desenhando o samba. Também impressionava seu tamanho, sendo finalizada em meados da primeira do samba, num trecho com atabaques solando e ajudando na retomada do ritmo.
A paradinha de maior efeito energético foi a que começou com solo de atabaques no refrão principal, só terminando no final da primeira do samba. Um arranjo musical extenso, mas de potência e evidente impacto.
São Clemente
Uma “Fiel Bateria” comandada por mestre Bruno Marfim com ritmo mais para frente foi percebida. Sua marcação com afinação mais grave foi notada, bem como o balanço envolvendo os surdos de terceira. Tudo isso complementado por repiques e caixas com bom volume.
Na cabeça da bateria, o destaque ficou para uma ressonante ala de chocalho, que tocou em sincronia com um bom naipe de tamborins. Cuícas seguras também preencheram a sonoridade das peças leves.
Um arranjo musical simples, mas eficiente, deixou a tradicional subida de quatro dos surdos clementiana mais moderna e ritmicamente repaginada.
Outra bossa, iniciada no final da primeira do samba, trouxe um ritmo envolvente para o trecho do refrão do meio. Outra paradinha de impacto foi a do refrão principal, graças à pressão e balanço envolvente dos surdos.
União da Ilha
Uma “Baterilha” dirigida por mestre Marcelo Santos com afinação particularmente pesada foi notada. Marcadores seguros e firmes de primeira e segunda ditaram o ritmo insulano. O balanço das terceiras esteve irrepreensível. Tudo isso complementado de forma luxuosa por repiques acima da média e caixas de guerra altamente ressonantes, com sua tradicional batida rufada sendo impecavelmente executada.
Uma parte da frente do ritmo simplesmente sublime foi apresentada. Um naipe de chocalhos exuberante tocou de forma entrelaçada com uma ala de tamborins com técnica musical bastante elevada. Outra peça leve bastante ressonante foi o naipe de agogôs, com sua sonoridade ímpar. Uma ala de cuícas correta também auxiliou no preenchimento da cabeça da bateria. Na primeira fila do ritmo, seis ritmistas com atabaques vieram tocando, além da importância musical nas bossas, quando adentravam o corredor do ritmo para a execução.
A bossa do refrão do meio uniu swing diferenciado provocado por agogôs, tamborins e atabaques a uma pressão particular dos surdos. Um arranjo altamente musical, plenamente inserido culturalmente no tema da escola e baseado integralmente na melodia do animado samba da Ilha.
Já na bossa iniciada no fim da segunda, um solo de atabaques tocando com baquetas se mostrou musicalmente cativante. Importante ressaltar que quando atabaques tocam com baquetas fazem alusão musical à batida sagrada do Aguidavi.
Acadêmicos de Niterói
Uma bateria da Acadêmico de Niterói, de mestre Demétrius, cadenciada e com afinação privilegiada de surdos foi percebida. Marcadores de primeira e segunda foram precisos e educados. Sem contar o bom balanço envolvendo os surdos de terceira, acrescentando swing à sonoridade. Tudo complementado por médios nitidamente acima da média. Repiques coesos adicionaram molho ao ritmo da “Cadência de Niterói”, bem como um naipe de caixas ressonante amparou musical todas as demais peças do ritmo niteroiense.
Na parte da frente do ritmo, uma boa ala de tamborins executou um desenho simples pautado pela melodia da obra. Tudo interligado a um naipe de chocalhos de virtude musical. As peças leves ainda contaram com uma ala de cuícas equilibrada e segura.
A bossa iniciada no final da segunda, que continua durante todo o refrão principal, possui uma elaboração de muito bom gosto, acompanhando a nuance da melodia para implementar seu ritmo. Esse bem produzido arranjo musical ainda utilizou a diferença entre os mais diversos timbres da bateria, principalmente os surdos de primeira, segunda e terceira para consolidar seu ritmo.
Império da Tijuca
Uma bateria “Sinfonia Imperial” muito bem afinada foi percebida, sob o comando do cada vez mais consistente mestre Jordan. O andamento foi ditado por marcadores de primeira e segunda precisos, além do swing envolvente das terceiras ter sido um dos trunfos da parte traseira do ritmo da verde e branco do morro da Formiga. O preenchimento dos naipes médios se apresentou com bom nível, contando com repiques coesos aliados a caixas ressonantes.
Na parte da frente do ritmo, uma boa ala de cuícas foi notada. Assim como um naipe de chocalhos acima da média, tocou junto com uma ala correta e volumosa de duas fileiras completas de tamborins. O naipe de chocalhos, inclusive, veio com um laço na cabeça e com uma saia longa, ambas na cor verde, vestimentas que fazem alusão a homenageada pelo enredo da escola.
Uma nuance rítmica envolvendo surdos pôde ser ouvida na segunda do samba, demonstrando versatilidade do ritmo da bateria do Império da Tijuca.
A bossa de maior repercussão foi a do refrão do meio, que mesclou pressão do impacto sonoro dos surdos e balanço de diversos naipes. Termina com um arranjo também bem realizado já na segunda do samba.
Império Serrano
Uma bateria “Sinfônica do Samba” de mestre Vitinho com afinação diferenciada foi notada, com seu timbre grave característico muito bem definido. Um trabalho acima da média das caixas de guerra rufadas merece exaltação, bem como um naipe de repiques de técnica musical nítida não passou despercebido. Tudo amparado por marcadores consistentes que ditaram o andamento com os surdos de primeira e segunda. Sem contar o balanço extremamente envolvente das peculiares terceiras imperianas. Mais próximo das peças leves, vieram junto ao corredor atabaques, que foram importantes em bossas, quando entravam pelo corredor do ritmo.
Na cabeça da bateria, um naipe de tamborins virtuoso executou uma convenção rítmica baseada nas variações melódicas da obra. Uma ala de chocalhos com boa técnica também mostrou sua qualidade. Os tradicionais agogôs imperianos simplesmente brilharam. Tanto pela sonoridade produzida, quanto pelo acrescento musical em bossas. As cuícas também foram seguras, auxiliando no preenchimento das peças leves.
A nuance rítmica apresentada no início do refrão principal se mostrou simplesmente deslumbrante, demonstrando eficiência mesmo com uma criação menos elaborada que as demais.
Todas as concepções criativas das paradinhas são baseadas na africanidade pedida pelo samba e com aquele típico toque imperiano envolvendo certa complexidade musical. Tem toque para inúmeros Orixás, em diversos momentos da obra imperiana. A promessa, inclusive, é que a “Sinfônica” leve um grande Xirê para a Avenida. Teve toque de atabaque usando baqueta, fazendo alusão ao sagrado Aquidavi, usado para percussão do instrumento no Candomblé. Uma “Sinfônica do Samba” esbanjando fundamento, garantindo assim uma explosiva apresentação totalmente vinculada ao seu belo samba-enredo.
Inocentes de Belford Roxo
A cozinha da bateria “Cadência da Baixada” da Inocentes apresentou uma afinação grave, sendo comandada somente por mestre Washington Paz no minidesfile. Marcadores de primeira e segunda ditaram andamento com firmeza. O bom balanço dos surdos de terceira foi percebido. O preenchimento dos médios se deu de forma satisfatória, com repiques coesos e um naipe de caixas com bom ressoar.
Na parte da frente do ritmo, o naipe de tamborins e o de chocalhos exibiram bom volume. Enquanto uma ala de cuícas ressonante complementou a sonoridade das peças leves com eficácia.
A bossa do refrão do meio se aproveita do impacto sonoro e bom balanço dos surdos, terminando o arranjo com contratempo.
O arranjo musical do final da segunda, mesmo simples, também se mostrou funcional, pela integração musical nítida, com toda sua criação pautada pela melodia do samba da escola de Belford Roxo.
Unidos de Padre Miguel
Uma bateria “Guerreiros” da Unidos de Padre Miguel comandada por mestre Dinho consistente, equilibrada e explosiva. Uma afinação de surdos acima da média foi notada. Surdos de primeira e segunda ditaram o andamento com imensa categoria, assim como as terceiras imprimiram balanço envolvente ao ritmo do Boi Vermelho de Padre Miguel. O preenchimento da sonoridade com os médios esteve sublime. Com repiques de virtude musical e caixas de guerra extremamente ressonantes, a qualidade da sonoridade produzida pela parte traseira do ritmo foi impecável.
Na cabeça da bateria da UPM, um naipe de cuícas correto foi percebido, bem como uma ala de agogôs profundamente ressonante. Uma ala de chocalhos de qualidade musical tocou de modo entrelaçado com um naipe de tamborins de nítida virtude técnica, que executou um belo desenho rítmico pautado pela melodia. O casamento musical entre chocalho e tamborim foi consistente e constante ao longo de toda execução do samba.
As bossas altamente musicais da bateria da Unidos se aproveitaram das nuances melódicas para consolidar seu ritmo. Totalmente inseridas no enredo, possuem uma típica pegada nordestina, que atrelou a sonoridade ao samba da escola de forma brilhante. São arranjos altamente dançantes, que garantiram a interação plena de componentes da escola, auxiliando no canto e na dança. Vale mencionar que a bossa de maior destaque é a do refrão principal, dando uma pressão considerável, inclusive nas retomadas.
Com um sacode sobretudo energético, até paradão do samba inteiro mestre Dinho resolveu mandar. Fora a já tradicional “bossa 7”, que normalmente se executa em dias de grandes apresentações e clima leve. Uma passagem musicalmente impecável e ritmicamente potente da bateria “Guerreiros”, encerrando o minidesfile jogando o clima lá no alto.
Vale mencionar que o público presente continuou seguindo a bateria “Guerreiros” da Unidos de Padre Miguel após terminado seu desfile, fazendo com que os empolgados ritmistas da escola da zona oeste não parassem de tocar, diante de um povo que mesmo perto das cinco da manhã, só queria sambar e ser feliz!
Constante e organizada, evolução é o trunfo da Mocidade Alegre em ensaio de rua
Por Gustavo Lima e Will Ferreira
Tipicamente paulistana, a noite de sexta-feira foi agitada no Limão, bairro da Zona Norte de São Paulo. Com garoa e vento frio, a Praça Canaã foi a concentração da bateria da Mocidade Alegre, que fez ensaio de rua pelas vias da localidade. Defendendo o enredo “Brasiléia Desvairada: A busca de Mário de Andrade por um país”, concebido por Jorge Silveira e que será apresentado no Anhembi no sábado, 10 de fevereiro, no terceiro horário. A Morada do Samba, como a agremiação é popularmente chamada, volta a ensaiar no domingo.
Diretor de carnaval da Mocidade Alegre, Junior Dentista comentou que o projeto está em bom andamento. “O ensaio da Mocidade Alegre é um diferencial que a gente tem. Não é um evento, é um calendário da escola. Toda sexta-feira tem – até o carnaval. Ali eu vou fazendo por etapas o trabalho. Primeiro eu valorizo o canto, depois o andamento, coreografia e espaçamento. Agora, estou ajustando o andamento e o espaçamento entre as alas para chegar no ensaio técnico tudo certo”, destacou.
Após reestruturação da escola, que não conta mais com diretores de Harmonia, a Morada do Samba passou a trabalhar com lideranças para o quesito. Um deles é Roberto Zangado, há 27 anos na instituição. “A Evolução foi muito boa. Nós tivemos um andamento constante. Não teve parada, buracos e isso já é uma evolução muito grande para nós. Foi constante no caminhar, não teve nem mais e nem menos. Foi sempre na mesma pegada. O canto também está muito bom. Podemos dizer que está no meio do caminho, já. Lógico que precisamos fazer acertos, problemas de letra que a galera não pegou. Muita gente ainda está chegando, mas para agora está bom. É um negócio que, na verdade, nunca vai estar bom. O nível de exigência aqui é um pouco alto. A gente quer sempre melhorar, mas hoje na rua sem o carro de som, deu para ver a escola cantando”, pontuou.
Aprovando o evento, Solange Cruz Bichara Rezende, presidente da escola, pontuou que a Mocidade da Alegre está em ótimo momento. “Ensaio é para isso: fazer correções. Hoje, a gente está fazendo o trabalho de canto. Por isso, semana sim e outra não a presença do carro de som. É importante ver a comunidade cantar, ver o som com a bateria. É importante a gente saber que, se o som falhar lá no dia, como é que a gente vai. O primeiro ensaio foi sem carro de som e a gente quase fez todos os carros alegóricos, porque lotou muito. A gente quer ver é realmente o canto, a desenvoltura do pessoal, essa coisa de sair um pouco da fileira e ter um pouco mais de descontração. Como não existe vitória sem treino, bora treinar! A escola já está muito condicionada a essa Evolução. O samba, diferente dos outros, a gente não criou nada. O próprio levante de braço (no refrão do meio), foram eles. A escola falou: ‘poxa, vamos deixar livre’. Aconteceu espontaneamente e a gente deixou”, relembrou.
Vale também destacar o longo percurso do ensaio técnico. Iniciado na esquina das ruas Rocha Lima com a Madalena Madureira, a Morada do Samba desceu a segunda via até a avenida Engenheiro Caetano Álvares, importante logradouro da Zona Norte Paulistana. O trajeto, com cerca de um quilômetro e meio, foi encerrado na quadra da escola, na rua Samaritá – terceira e última via do cortejo. Vale pontuar que integrantes da própria agremiação faziam o isolamento momentâneo dos locais em que os componentes passavam, garantindo segurança e organização a todos os envolvidos.
Comissão de frente
Com camisetas destacando o segmento, os componentes executaram coreografias envolvendo pulos e acrobacias até a saída da avenida Engenheiro Caetano Álvares. Ao chegar na rua Samaritá, elas ocuparam o espaço e fizeram danças mais contidas, sem grandes saltos ou movimentos bruscos, por conta da largura diminuta da via. Um dos integrantes, em determinado momento, precisou deixar o grupo por conta de um machucado; mas, ainda mancando, voltou para o segmento no final do ensaio.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Diego Motta e Natália Lago venceram o desafio de encarar as irregulares ruas da Zona Norte paulistana. Com movimentos contidos a partir da avenida Engenheiro Caetano Álvares (que tinha uma faixa para circulação dos veículos, diminuindo o espaço para o bailado), o casal teve atuação segura, com ótimos giros na rua Madalena Pereira e coreografias já ligadas a versos do samba. Natália, inclusive, estava com o saiote tradicional da fantasia do segmento – tal qual a segunda porta-bandeira da Morada do Samba; ambos estavam com cintas no corpo para treinar troncos e pernas ao peso do figurino. Vale destacar, também, a presença dos guardiões da dupla, que cantaram forte a canção durante todo o evento.
Harmonia
Conhecida popularmente como “cabeça”, os primeiros setores da Mocidade Alegre surpreenderam com um canto bastante forte e alto. Com até componentes da comissão de frente cantando, as primeiras alas tinham ótima presença no quesito – que, inclusive, se mantinha até a ala das baianas. A partir do tradicionalíssimo grupamento, porém, o canto ficou irregular, com componentes dentro das próprias alas tendo atuação díspare ao cantar. Também vale pontuar que, nos primeiros momentos, os harmonias cobravam os desfilantes, algo que não era visto com tanta frequência no final da apresentação.
Aqui, é importante pontuar um detalhe bastante importante: a Mocidade Alegre alterna a utilização do carro de som em ensaios – e, no dia 08, foi a vez da agremiação não utilizar o veículo, o que, obviamente, impacta no desempenho do samba. Apesar do apontamento, representantes da escola mostraram-se satisfeitos com o que viram. “A ausência do carro de som pesa bastante, porque ali a gente passa a responsabilidade de eles entenderem que, se o canto falhar, eles que devem continuar. O percurso é longo, o casal de saiote, baianas de saiote… é uma questão de condicionamento físico. Porque a gente sabe que quando coloca a fantasia e, dependendo de como o tempo estiver, baixa a adrenalina e sobre aquele calor. Então o nosso treino é para isso”, pontuou Solange.
Junior sintetizou a força do canto da Morada com uma informação sobre os bastidores da escola. “Graças a Deus a escola não tem mais fantasia para vender” Como o povo está chegando, eu estou testando o canto no ensaio de rua – por isso a bateria está voltando no meio para compactar a escola e valorizar o canto. Claro que tem algumas pessoas chegando ainda, mas está muito satisfatório”, comemorou.
Evolução
Grande destaque do ensaio de rua, a escola manteve uma impressionante passada inteiramente uniforme do começo ao fim do trajeto. Sem atropelos e nem momentos de queda no ritmo, a Mocidade Alegre mostrou-se extremamente organizada, passando longe de embolar alas e com componentes que mais parecem veteranos de avenida, ajudando uns aos outros em diversos momentos. Um momento inusitado aconteceu já no final do caminho, na rua Samaritá: um carro de bombeiros com sirene ligada passou em alta velocidade, obrigando todos a irem para a direita. Tão logo o veículo passou, a agremiação inteira ocupou seus lugares imediatamente, em um movimento nada ensaiado e que foi a confirmação de um trabalho perfeito realizado pela Morada do Samba no quesito.
Na visão de Roberto, o trabalho realizado há quase duas décadas ajudou a escola nesse sentido. “Na quadra, a gente vai trabalhar a parte de canto e pegar esse ritmo. Na rua, a gente faz um pré-desfile. Aqui, principalmente na Madalena Madureira, a gente simula um desfile mesmo, com recuo, parada e temos noção do que vai ser na avenida. É uma coisa que a Mocidade faz há mais de 15 anos. Por isso que é muito importante”, ratificou.
Samba
Sem carro de som, muitos devem imaginar que o rendimento da canção foi muito prejudicado. Não para a atual campeã do carnaval paulistano. Cantado fortemente pelos primeiros setores da escola, a canção teve ótima condução ao longo de todo o trajeto por parte da Ritmo Puro, bateria da Mocidade Alegre, comandada por mestre Sombra desde 1995 de maneira solo. Os ritmistas, por sinal, executaram algumas paradinhas (uma no refrão do meio, outra na segunda estrofe da canção) que foram muito bem recebida pelos demais componentes, que aumentavam o volume do canto em tais momentos.
Outros destaques
Na corte da bateria, reinou absoluta Aline de Oliveira, há onze anos no posto de rainha. Cria da casa, ela foi ritmista da agremiação, aprendendo a tocar tamborim e surdo de terceira antes de vir à frente de quem faz a Mocidade Alegre pulsar.
Freddy Ferreira: ‘Álbum de sambas de enredo da Liga-RJ 2024 segue modelo de sucesso – Gravações potentes e para sambistas’
Uma gravação para sambistas. O conceito musical fica bem claro a cada faixa apresentada. Ouvindo com fone então, potencializa as virtudes musicais de cada ritmo da série Ouro do grupo de Acesso da Liga-RJ. Não que seja algo inédito, mas o modelo de gravação escolhido se mostra cada vez mais consistente e maduro.
Cada bateria teve sua identificação e característica integralmente preservada. É um desafio muito grande apresentar uma equalização de timbres boa o suficiente para gerar a melhor percepção de naipes possível. No caso desse álbum, o objetivo foi atingido integralmente.
Os ritmos ficaram altos dentro do contexto musical, com possibilidade de conferir atenciosamente naipes médios tocando em conjunto, como repiques e caixas. Pode ser considerado um mérito alcançar um resultado ainda mais satisfatório nas peças agudas, onde conferir o desenho do tamborim com o toque do chocalho é totalmente possível. Tudo isso é maximizado com um trabalho que aproveita o impacto grave dos surdos para gerar aquela potência que sambista gosta e ritmista ama em qualquer gravação oficial.
Um detalhe não passou despercebido e precisa ser ressaltado. O belíssimo trabalho envolvendo as cordas na faixa de cada agremiação demonstra o esmero e o fino trato na hora de fazer a mixagem. É prazeroso poder ouvir um álbum que se preocupa tanto com ritmo e com as cordas, pois são essas as bases de sustentação musical para que a voz de cada intérprete seja eternizada no formato de áudio oficial.
As vozes dos cantores valorizaram imensamente cada faixa. São inúmeros os áudios onde houve acrescento musical após a versão concorrente. Com um trabalho bem feito por todos os envolvidos e que tem apresentado consistência, pode ser dito que um álbum dançante e potente foi produzido. Uma pena somente a qualidade de alguns sambas não estar à altura de suas produções musicais. Mas nada impediu que a musicalidade viva de cada agremiação estivesse representada de modo a valorizar virtudes. Um álbum que pensou no conceito de produção que atinge em cheio seu público-alvo. Aquele sambista mais raiz que ouve samba, sobretudo, para ser feliz.