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Casal brilha no segundo ensaio técnico do Vai-Vai

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Um ensaio técnico de escola de samba em uma terça-feira já é algo curioso – e ficou ainda mais peculiar quando se pensa, que em pleno janeiro, a noite estava com um vento bastante gelado. Tudo se explica: na véspera do aniversário de São Paulo, feriado na maior cidade da América do Sul, o Vai-Vai aproveitou para realizar seu segundo (e último) teste para defender o enredo “Capítulo 4, Versículo 3 – Da Rua e do Povo, o Hip Hop: Um Manifesto Paulistano”, idealizado pelo carnavalesco Sidnei França e que será a primeira escola a desfilar no sábado de carnaval – 10 de fevereiro. Renato e Fabíola Trindade, casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação, tiveram noite brilhante – literalmente.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Se, no primeiro ensaio, ambos tiveram a roupa produzida horas antes por uma grafiteira, o segundo ensaio viu o casal de mestre-sala e porta-bandeira deslumbrantes em um look inteiro amarelo fluorescente. Mais bonita que a roupa, apenas a atuação técnica de ambos. Com giros mais rápidos que no primeiro ensaio técnico e com passos intimamente ligados ao hip hop, ambos tiveram atuação impecável à frente dos quatro módulos de jurados. Vale destacar, também, a sincronia e a leveza de cada um deles ao interagir com o público – que estava animado nas arquibancadas.

VaiVai et PrimeiroCasal 1

Sem muito segredo, Fabíola conta o que mudou de um ensaio para o outro: “Nós sentimos muito a evolução de um ensaio para o outro! Nós resolvemos curtir o momento: ficamos mais leves e seguros. É a vibe que o Vai-Vai quer passar nesse carnaval, então tínhamos que corresponder na mesma altura”, afirmou, sendo interrompida por um extremamente animado Renatinho: “A única coisa que a gente adicionou é o povo feliz, gritando, cantando. Bela Vista, Vai-Vai! Meu povo, minha gente, minha raça!”, gritou, relembrando uma histórica frase eternizada por Afonsinho, dos grandes integrantes de ala musical da história da agremiação.

Sobre o destacado figurino, Fabíola manteve o suspense: “A gente vai ser luz em um momento de trevas!”, disse, em tom misterioso.

Comissão de frente

O grande tripé que acompanha os componentes seguiu embalado por imensas sacolas pretas, deixando à vista apenas uma espécie de portão com um grafitti destacado. A coreografia dos componentes, que tinha break em tal alegoria e movimentos do hip hop nas escadarias do elemento e no chão, também foi muito semelhante. Vale destacar, entretanto, que a grande maioria dos bailarinos estava com uma camisa padronizada, cinza, facilitando a identificação dos mesmos – e boa parte deles também tinha um adorno particular, como um boné ou uma calça mais larga. O que mais chamou atenção, entretanto, foi o personagem de destaque, que ficou acima de uma espécie de palco à frente do tripe durante boa parte do tempo, com uma roupa inteira preta.

VaiVai et Comissao

Harmonia

Reconhecida em toda a cidade, o canto do Vai-Vai teve um duo difícil de se conquistar: constância e força. Ao longo de toda a avenida, era possível ouvir os componentes cantando o samba-enredo da agremiação de maneira uniforme, sem destaques negativos e com poucos picos – como, por exemplo, a ala que veio logo após o tripé da comissão de frente, que cantou a plenos pulmões.

Mestre Beto, um dos diretores da Pegada de Macaco, bateria da agremiação, parabenizou os comandados pela ótima condução musical da escola na avenida: “Nós fomos bons no primeiro ensaio e fomos ótimos no segundo. Nesse ensaio, nós demos mais um gás. Não sei te explicar. Fizemos o nosso andamento do começo ao fim, sustentando e tocando no box. Fizemos todas as bossas e não tive os problemas que tive no prieiro ensaio. Nota dez para a Pegada de Macaco”, comentou.

Samba-enredo

Canção mais executada dentre as obras do carnaval paulistana nos streamings, o samba-enredo do Vai-Vai foi muito bem impulsionado por dois fatores. O primeiro deles é a Pegada de Macaco, que novamente executou a já histórica Paradinha Rap algumas vezes. A outra foi a presença de discotecagem hip hop e rap no carro de som, dando efeitos sonoros muito pertinentes ao enredo ao longo do ensaio técnico – e criando um efeito único no Anhembi.

Focado, Luiz Felipe, intérprete alvinegro, fez questão de exaltar o desempenho da música: “Vou confessar para vocês que não reparei muito no ensaio, reparei mais, pela primeira vez desde que virei interprete que reparei em canto, ala musical e bateria, não reparei muito no ensaio. Mas já falei com harmonias rapidamente, disseram que foi muito positivo. Sempre tem coisas a arrumar, estamos aí há dezessete dias e vamos arrumar tudo”, destacou.

Pouco depois, em entrevista, o cantor destacou quais foram os pontos de melhora de um ensaio técnico para o outro:”Teve muito trabalho, teve introdução nova agora, que o Thiago Xangô juntamente com o Danilo colocou. Mas o trabalho é o mesmo, continua o mesmo, muito trabalho, empenho, bateria, ala musical, é tipo andar de mão dada, se soltar a mão não dá. Então trabalhamos muito a bateria, o canto, sempre junto para dar certo como deu hoje e no outro ensaio também”, afirmou.

VaiVai et InterpreteLuizFelipe 1

Sobre a introdução, LF, como é popularmente conhecido, fez uma explicação: “O Thiago de Xangô, muito louco, viajando, chegou no domingo e disse ‘tenho uma introdução’ e foi a introdução que a gente fez no começo, que ensaiamos uma vez, fizemos no ensaio e foi bem recebida, a comunidade gostou. Emociona o começo do desfile, que o Vai-Vai voltou de verdade, introdução muito positiva e a escola gostou muito”, sintetizou, antes de destacar a “sensacional” paradinha rap: “Não só eu: o carnaval está gostando, está sendo bem repercutido em todas as mídias do Brasil. Viralizou. E a tendência é dar certo como está dando no dia 10”, pontuou.

A discotecagem também foi tema de palavras de Mestre Beto, que relembrou a própria carreira enquanto músico e mostrou extremo conhecimento sobre ritmos relacionados ao hip hop: “O Vai-Vai procura fazer os arranjos de acordo com o enredo: se falamos de um enredo africano, procuro fazer um ritmo daquele local – com autorização do Mestre Tadeu. Vou dar um resumo bem rápido: a escola já fazia uma batida rap, chamada de boom bap. Com esse enredo, quarenta anos de hip hop no Brasil e cinquenta anos no mundo, procurei informação. Eu, como toco com Rapin Hood e já toquei com o Sabotage, conversei com o DJ Cia e apresentei o projeto pra ele. Ele me orientou a fazer a batida trap junto com a nossa bateria: fazemos 150 de andamento, subimos para 151, fazemos o trap, retornamos para 150 e seguimos o desfile”, comentou.

Evolução

Eis aqui o grande ponto de atenção do Vai-Vai nos últimos dias antes do desfile. Se a agremiação encerrou o ensaio técnico com 63 minutos (dentro dos 65 máximos do regulamento do Grupo Especial) com um arrastão incluso, a Saracura (nome do córrego canalizado que passa na região do Bixiga, histórica localidade paulistana onde a escola foi fundada e apelida a Alvinegra) teve alguns componentes e alas que apertaram o passo de maneira curiosa no final da passarela, já que a instituição possuía total domínio do cronômetro. Vale pontuar, também, a Pegada de Macaco entrando nor ecuo de bateria no movimento de redemoinho: as primeiras linhas viram para a Arquibancada Monumental, os de trás fazem uma fila já dentro do box e, então, todos os ritmistas giram o corpo. Tudo isso entre 95 e 100 segundos – ótimo tempo para a manobra.

VaiVai et 9 1

O tempo, por sinal, foi um dos destaques do ensaio para Luiz Robles, integrante da comissão de carnaval da Alvinegra: “O ponto positivo do ensaio passado para esse, a gente enxerga a compactação da escola. A gente conseguiu atingir o objetivo que queria, que é trazer a escola muito mais compactada. Conseguimos ainda repetir a mesma saída do ensaio passado, com 01:03. Tirando o canto, o ponto positivo foi esse”, destacou.

Sobre o andamento, o diretor falou sobre o que é o desejo de quem comanda a instituição: “O andamento contínuo é o que a gente sempre busca no Vai-Vai, que é fazer a escola evoluir sem parar. Os únicos momentos que a gente acaba parando é no recuo de bateria e diminui um pouco o andamento na apresentação do casal. Mas fora isso, sempre contínuo. Nenhum relato de correria”, disse – apesar da observação atenta da equipe do CARNAVALESCO.

Outros destaques

Conhecida como Escola do Povo, o Vai-Vai mostrou força nas arquibancadas (com ótima presença de público, apesar de uma noite bastante atípica em São Paulo, com direito a garoa no ensaio técnico anterior – paralisada quando a agremiação pisou no Anhembi) e na passarela, com muitas pessoas no corredor. As baianas, de saiote branco e parte de cima alvinegra, vieram na cabeça da agremiação, que ensaiou com três alas de passistas – uma delas, com direito a guardiãs. Vale destacar, também, alguns agrupamentos bastante especiais: a Saracura contou com alas de sapateado e um segundo setor com diversas alas coreografadas – mas, quando o samba canta “balançou, balançou”, diversos setores da escola fazem o mesmo movimento, arqueando o corpo para frente e alternando os lados para evoluir. Por fim, a corte de bateria tinha Negra Li (madrinha), Madu Fraga (rainha) e Giuliana Silva (princesa).

Comissão de frente volta a ser o grande destaque do ensaio da Colorado do Brás

Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins

O ‘arraiá do Brás’ teve uma considerável melhora em relação ao primeiro ensaio técnico. A chuva resolveu dar uma trégua. Apareceu timidamente, foi uma leve garoa, mas a tempestade do último dia 12 de janeiro não se repetiu. Dito isso, o treino desta última quarta, véspera de feriado do aniversário de São Paulo, novamente teve como destaque a criativa comissão de frente comandada pela coreógrafa Paula Gasparini, apesar de um problema no tripé da ala.

Outros destaques foram o canto da escola e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Brunno Mathias e Jéssica Veríssimo. O saldo que a vermelho e branco do Brás pode levar para casa é que foi um ensaio bem mais proveitoso e satisfatório do que o primeiro. Já imaginando o que pode ir ao desfile, com fantasias, tripé prontos e mais ensaios, essa comissão de frente pode ser um espetáculo à parte no Anhembi.

Comissão de frente

Houve até uma melhora na apresentação da ala coreografada por Paula Gasparini. Não mudou a essência e nem o contexto, mas deu para sentir os componentes mais soltos, pois não houve a forte chuva do ensaio anterior. Também há de se destacar os figurinos típicos do Nordeste, com destaque para a pintura no rosto da personagem feminina que fica à frente da comissão.

ColoradoDoBras et Comissao 1

Basicamente, foi repetido os movimentos do xaxado, festa junina (componentes se reuniam para fazer o túnel) e dança do frevo com os típicos pequenos guarda-chuvas. A dança fechava com os integrantes da ala indo até o tripé e puxando cordas coloridas.

Por falar em tripé, esse deu um problema em frente ao setor C, após recuo de bateria e fez com que a comissão repetisse a coreografia pelo mais uma ou duas vezes.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Brunno Mathias e Jéssica Veríssimo fizeram um grande treino, com destaque para os movimentos nas cabines do setor A e recuo de bateria. Coreografias dentro do samba, com dança típica nordestina e giros intensos da porta-bandeira marcaram a apresentação.

ColoradoDoBras et PrimeiroCasal

Um ensaio muito satisfatório, com certeza saíram felizes em relação ao primeiro, pois com a chuva é sabido que o rendimento complica para um casal.

Harmonia

Também houve uma melhora no canto da Colorado. Os componentes da vermelho e branco pisaram com uma alegria maior no Anhembi. Observou-se uma escola menor do que o comum. Talvez seja estratégia da escola ou não comparecimento dos componentes no sambódromo. Entretanto, vendo que há alas coreografadas, baianas e passistas com forte presença, suponha-se que seja a primeira opção. Contudo, foi o suficiente para o ‘arraiá do Brás’ ecoar mais forte neste treino no Anhembi.

Evolução

Devido às questões citadas acima, com um contingente reduzido, se viu uma Colorado do Brás compacta e sem risco de buracos. O único alerta foi dito no quesito comissão de frente. O tripé da ala falhou após o recuo de bateria e fez o andamento atrasar. Vale ressaltar que é bom que isso tenha acontecido no ensaio técnico, pois serve de alerta para o desfile, visto que aconteceu no campo de visão da segunda cabine de jurados.

Samba-enredo

A trilha sonora da Colorado para 2024 foi abraçada pela comunidade e todos sabem cantar o samba. O refrão principal era o mais cantado, principalmente quando a bateria “Ritmo Responsa” executava o apagão.

Opinar sobre o intérprete Léo do Cavaco é chover no molhado, pois todos sabem que combinou bastante com a escola e comunidade.

Outros destaques

A bateria “Ritmo Responsa”, de mestre Acerola de Angola, teve uma grande apresentação nesta noite. As bossas se destacaram, com destaque para o apagão feito no refrão principal, foram poucas as vezes executadas, mas deu um gás na comunidade e um belo tom no carro de som e própria batucada.

Neste treino se fez presente novamente a rainha de bateria Camila Prins. Além dela, marcou presença a princesa Kamila Mattos.

Cantando o samba, a ala das baianas estava vestida com as cores dourado, vermelho e branco.

Comissão de frente da Unidos da Tijuca promete apresentação ousada repleta de encanto e emoção em 2024

A Unidos da Tijuca promete encantar o Carnaval de 2024 com o enredo “O Conto de Fados”, assinado pelo carnavalesco Alexandre Louzada. A proposta da escola é levar para Sapucaí uma viagem encantadora a Portugal, explorando diversos aspectos da história do país por meio de fábulas, mistérios e lendas populares. A comissão de frente, composta por 15 integrantes e comandada pelo coreógrafo Sérgio Lobato, promete encantar com uma coreografia entrosada, demonstrando conhecimento profundo da letra do samba-enredo. O desfile da Unidos da Tijuca promete ser uma experiência única, repleta de encanto e emoção.

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Fotos: Maria Clara Marcelo/CARNAVALESCO

Na entrevista ao CARNAVALESCO, Lobato compartilhou um pouco do que podemos esperar da comissão de frente no dia do desfile oficial. Baseando-se na performance bem-sucedida em 2023, ele expressou um compromisso contínuo com a qualidade e a excelência no trabalho desenvolvido pela comissão.

“Bom, pelo menos o que fizemos esse ano de 2023, saímos muito bem da avenida, muito realizados, mas nós estamos mantendo o nível do trabalho, buscando cada vez mais a quase excelência, que é difícil isso. Tanto estética, do material, da indumentária e do trabalho em si. Então, o que eu posso dizer para você é que a Tijuca, assim como a comissão, vem bem ousada no seu estilo de visual e trabalho”, revelou Sérgio.

Sérgio Lobato, com seu bom repertório e trajetória na Unidos da Tijuca, destaca a importância de manter um nível elevado em suas apresentações. Ele reconhece que a diferença crucial entre o desfile passado e o atual reside no enredo escolhido, pois cada enredo propõe desafios e limitações específicas que precisam ser respeitados.

“A diferença primordial é o fato do enredo. Porque cada enredo te propõe algo e você não pode fugir muito disto. Não pode estar fora dele. Estamos tentando manter a mesma essência de um trabalho claro, poético, mas com surpresas, isso que é a nossa busca”.

Ao longo de toda a Marquês de Sapucaí, os artistas terão à disposição luzes coloridas de uma tecnologia que estreou no carnaval do ano passado, porém, a grande novidade deste ano é que as luzes cênicas serão sincronizadas ao ritmo da bateria das escolas de samba. Esse avanço não apenas promete adicionar um espetáculo visual impressionante, mas também criar uma sinergia única entre a iluminação e a percussão, acentuando a energia e a emoção dos desfiles.

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Durante a entrevista ao CARNAVALESCO, Sérgio Lobato afirmou que a comissão de frente da Unidos da Tijuca vai utilizar as novas luzes da Passarela do Samba para realçar sua apresentação. Essa decisão reflete a busca contínua por inovação e aprimoramento na apresentação da comissão de frente, aproveitando os recursos tecnológicos disponíveis para criar uma experiência visualmente impactante no carnaval.

“Como eu fui o precursor disso, agora me cobram isso. Sim, vamos utilizar, não por ser uma obrigação, por estar atrelado a alguma coisa, mas sim para tentar realçar o trabalho e a história que nós vamos levar”, comentou Sérgio.

No próximo domingo, a Unidos da Tijuca estará na Sapucaí para o seu primeiro ensaio técnico. As expectativas da comissão são grandes, com uma coreografia mais divertida e um esforço para criar interatividade com o público presente. O objetivo é levar um pouco de alegria para as pessoas, proporcionando momentos descontraídos durante o ensaio técnico.

“O que eu posso te dizer é que domingo vamos levar um outro trabalho, mais divertido, para buscar essa interatividade com o público presente com a imprensa e levar um pouco de alegria para o povo, descontrair um pouco, porque o dia oficial é bem nervoso”.

O enredo da Unidos da Tijuca destaca o “Fado” como protagonista, carregando consigo a ideia de destino e fabulação. O jogo de palavras transforma o “Conto de Fada” em “Conto de Fado”, onde o lúdico e o imaginário se entrelaçam com as histórias narradas, inventadas e repaginadas. O ponto alto do enredo é o mistério da fé e de um segredo bem guardado, onde todas as crenças se unem em oração, consagração através de milagre e aparição. A mensagem final enfatiza que tudo vale a pena, pois a alma carnavalesca não é pequena.

Série Barracões SP: No ritmo indígena, Tom Maior apresentará uma ópera de Orfeu no Anhembi

A segunda escola a desfilar no sábado, dia 10 de fevereiro, a Tom Maior vai cantar “Aysú: Uma História de Amor” e sob comando do carnavalesco Flávio Campello. O enredo é baseado no mito grego de Orfeu e Eurídice, assim surgiu o novo formato indígena que será contada pela agremiação que busca o primeiro título do carnaval em sua história. Com quatro anos na agremiação, e o terceiro carnaval, pois em um dos anos não teve desfile devido a pandemia, Flávio Campello vai cada vez soltando mais o seu estilo nos enredos e desenvolvimento artístico. Em conversa com o site CARNAVALESCO, no barracão da escola localizada na Fábrica do Samba, contou sobre os detalhes que serão apresentados na avenida.

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Surgimento de Aysú durante as férias

O enredo surgiu durante as férias do carnavalesco entre o carnaval 2023 e 2024, aquele período curto que os profissionais do samba tiram para relaxar. O artista, Flávio Campello costuma estudar bastante e ter ideias, em uma delas se deparou com a história de Orfeu, assim surgiu Aysú…

“Aysú surgiu após o carnaval 2023, eu tirei umas férias, precisava tirar 30 dias de férias e geralmente quando eu tiro férias eu costumo ler muito, ouvir muita música. Eu sempre gosto muito de estar nessa vibe e eu acabei mergulhando um pouco na atmosfera de Vinícius de Moraes que é um grande compositor, o famoso poetinha como todo mundo conhecia e é um cara que por um acaso me deparei nessa loucura que foi minhas férias em relação a isso. Que eu me embebedei de Vinícius de Moraes com uma obra do Orfeu da Conceição. E essa obra Orfeu da Conceição, ela deu aquele start na minha cabeça no sentido assim, cara, o Vinícius foi genial em transformar esse mito europeu, esse mito que nasceu na Europa, um mito grego e depois transformado em ópera, que a ópera inclusive mais antiga em atuação até hoje, né? Que ali é Orfeu. Falei o Vinícius conseguiu transformar esse mito numa atmosfera do carnaval do Morro carioca, dessa coisa toda do negro da favela, tocava violão… E eu falei cara foi uma genialidade essa sacada e eu falei ‘o mito nasceu europeu, branco, ele se empreteceu com Vinícius de Moraes, está na hora dele ganhar um outro Tom”.

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Neste novo tom, o carnavalesco resolveu trazer um tema que está bem atual no Brasil devido a inúmeros fatores: “Que os povos originários na época da minha de férias, ali depois do Carnaval, estava em alta, né? Porque o atual governo ele acabou inserindo muito essa questão dos povos originários na própria gestão dele e a gente viu que têm ministra que é representante dos povos originários, então comecei a perceber o quão importante seria de repente fazer um enredo onde nós pudéssemos fazer uma exaltação aos povos originários. Então a partir daí surgiu a ideia de transformar o mito de Orfeu em ‘Aysú uma história de amor’. Onde o Orfeu ganha uma denominação chamada Abaeté no nosso enredo e a nossa Eurídice europeia ganha traços indígenas transvestidos de Anahí. Então são dois personagens protagonistas do mito que a gente abrasileirou no Brasil, no Pindorama, antes dos portugueses, então o nosso mito começa ali em 1499″.

Mergulhando no enredo cheio de mitos

O carnavalesco da Tom Maior, Flávio Campello, mergulhou bastante nas histórias dos mitos, não somente dentro de Orfeu, e na grega, mas sim na mescla com outras mitologias. Assim, desenvolvendo seu enredo para o próximo carnaval.

“Todos os mitos eles se encontram de uma tal maneira que me fascinou bastante no desenvolvimento desse enredo. A gente tem deuses na mitologia grega que ganharam uma roupagem romana que você percebe que tem mais identificações egípcias, nórdica, própria indígena. Então, você percebe que os mitos eles sempre têm uma versão mitológica que parece que é uma versão padrão onde as divindades se assemelham muito e a partir daí a gente começou na pesquisa do enredo a fazer adaptações de personagens que existem no mito de Orfeu grego e adaptando nesses mitos indígenas. Por exemplo, Ticê e Anhangá são os deuses do nosso enredo do submundo. Temos víbora do mito grego que acabou se transformando aqui na Boiúna, que é uma grande cobra lendária dos povos originários. Então começou a reescrever esse mito com essa temática totalmente indígena. Uma adaptação respeitando obviamente todos os mitos e religiosidades dos povos originários. Então é um enredo que assim eu agradeço a Tom Maior por ter me proporcionado esse presente. Porque eu adorei desenvolver esse enredo, desde o primeiro momento quando eu apresentei para a escola, eles adoraram também a ideia, eu via que as pessoas ficaram muito curiosas em saber de que maneira que a prática desse desfile iria ser feita e quando eu apresentei o projeto todos eles perceberam que nós vamos levar para Avenida uma grande Aldeia. Então é isso que a gente quer transformar no Anhembi no dia 10 de fevereiro, queremos fazer um carnaval onde os povos originários estarão presentes em todas as fantasias e em todas as áreas, alegorias, sempre com alguma referência cultural e com alguma referência na arte indígena. Tô muito feliz com esse presente que a Tom Maior me proporcionou!”.

Ópera na Tom Maior?

Apostando na mescla de cores vibrantes e obscuras de acordo com o setor e a história sendo contada, teremos uma ópera de Orfeu no Sambódromo do Anhembi. O carnavalesco Flávio Campello contou um pouco sobre o trabalho que vai para a avenida e elogiou o samba-enredo escolhido.

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“Nós apresentaremos esse carnaval como uma forma de Ópera. Costumo dizer que a inspiração para o desenvolvimento disso foi inspirado mesmo numa ópera e eu acabei me aprofundando um pouco. Vi alguns vídeos das montagens da Ópera de Orfeu que até hoje na Itália está sendo encenada e eu pude perceber essas questões de mudanças de cor, de cromática para se falar de um certo momento do mito. E graças a Deus, parece que desde quando a gente começou o concurso do samba-enredo, quando nós escolhemos esse samba-enredo que vai ser cantado pela multidão da Tom Maior que a gente sabe que é um samba que já está arrepiando. Percebo que até o samba conseguiu entender numa versão melódica, as nuances de cores que eu vou levar para Avenida. Tenho cores vibrantes, quando precisam ser vibrantes, eu tenho cores mais obscuras onde preciso ser mais obscura e eu termino o carnaval com a explosão. E essa explosão de cor que eu termino o carnaval é justamente para demonstrar que esse mito por ter sido uma tragédia porque na verdade esse mito ele não tem um final. Vamos transformar esse mito no final feliz, eu quero que a Anahí e Abaeté vivam felizes para sempre. A gente vai proporcionar no desfile um final feliz finalmente para Orfeu e Eurídice”.

Vale lembrar que em 2022, o Flávio Campello trouxe o Pequeno Príncipe do Sertão, também uma adaptação de uma história europeia para a realidade brasileira. Além disso, também usando uma referência adaptada por brasileiros.

Abre-alas promete impactar no Anhembi

Com o selo Flávio Campello, as alegorias virão grandiosas como costumam ser nos trabalhos do carnavalesco.

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“Olha, eu só posso adiantar uma coisa: o nosso abre-alas medimos com a questão das acoplagens, gerador e tal, ele vai chegar aos 70 metros de comprimento. Então as pessoas podem esperar uma alegoria gigante como eu gosto de fazer como eu fazia no Império. Sempre gostei muito de alegorias grandiosas, gigantes assim, quando entra na avenida que criam um certo impacto e esse ano retomou essa questão e estou muito feliz com isso e ao mesmo tempo triste. Porque eu não tenho mais espaço no meu barracão”.

Conjunto de visual é o trunfo para o carnavalesco

Sempre perguntamos para os carnavalescos em relação ao trunfo do desfile, e para o artista da Tom Maior, o momento chave na verdade é um conjunto de fatores visuais.

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“Pela primeira vez, eu não tenho um momento, de verdade, esse desfile ele está com características tão diferente de alegoria, uma diferente da outra. A gente está com uma pegada mais artística, mas respeitando essa coisa do artesanato indígena no nosso carro dois. Tem um abre-alas que tem um encantamento de cores. Temos um carro três que é um carro mais obscuro, que aquele carro que fala do abismo da saudade. Nós temos uma Boiuna, nós temos uma escultura de chão que tem 15 metros de altura. Então a gente tem aí alegorias que cada uma tem uma característica muito diferente da outra e ao mesmo tempo eu creio que nossos grandes trunfos seriam, talvez essas alegorias. Acredito que cada alegoria vai transmitir aquilo que o samba fala, né? Principalmente melodia quando tem a parte mais tenebrosa, obscura, o samba tem aquela caída. Então as pessoas vão se identificar com aquilo na alegoria. Quando o samba tem uma explosão, a gente percebe isso na explosão que aquela alegoria representa, a paleta de cores. O visual conjunto que a gente está levando para a Avenida eu acho que será o grande trunfo da gente”.

Cinco setores contarão Aysú no Anhembi

A Tom Maior terá cinco setores para contar seu enredo na avenida do Anhembi, e o carnavalesco Flávio Campello contou cada um.

Setor 1: “Comissão de frente vamos fazer o encontro dos três mitos, né? Então a gente na comissão vai tratar ali do mito grego, do mito do Morro da Favela, do carnaval e do mito indígena. Nós teremos o encontro das três raças que eu costumo brincar assim na comissão que fala desses três mitos. Temos uma ala de baiana que é o meu xodó, eu acho que é uma ala que me encanta desde a hora que a gente construiu até porque cada fantasia da baiana tem cerca de 500 penas de pato, que a gente fez todas elas manualmente cortando, ou seja, é uma fantasia totalmente indígena. Porque ela é vem representando obviamente a protagonista do nosso enredo a Anahí e nós temos a primeira ala da escola que eu gosto demais que é o Abaeté que é o personagem quando ele recebe a flauta. É uma abertura que eu acho que tem tudo a ver, sabe? Acredito que ela vai emocionar ali a abertura. Temos uma alegoria, um abre-alas que é gigante e tá com umas cores maravilhosas. Eu amo. Temos um jacaré de 30 metros de comprimento. Então esse jacaré, ele é todo articulado para fazermos o movimento desse jacaré. Vamos ter vinte pessoas dentro do jacaré. Estou muito feliz com esse visual que a gente criou para abertura da escola”.

Setor 2: “Temos um segundo setor que fala do mito de Arapiá e Numiá que a gente se inspirou inclusive no samba raízes de Vila Isabel que eu falei pô, esse mito que o Max fez ali na Vila Isabel falando de Arapiá e Numiá, e as Quatro Estações e tal, é um mito triste. Porque fala que aquele caminho que Numiá e Arapiá tomaram, levou a um rumo que abalou tanto o casal como os filhos, né? Então esse mito mostra o quanto o amor pode ser traiçoeiro. Quando você deixa a essência de ‘Aysú’, do amor, de lado e passa a deixar a cobiça, a ambição, a sede pelo poder tomar conta disso tudo você acaba perdendo a essência dos sentimentos. E Arapiá e Numiá foram castigados sendo cada um transformado no sol e na lua e os quatro filhos, eles acabaram se separando onde cada um por anos ficavam apenas governando por três meses. Ou seja, a família foi toda destruída, disseminada por conta disso, desse erro do amor”.

Setor 3: “E aí mostramos que o cacique quando conta este mito mostra para Anahí e Abaeté que eles jamais podem seguir esse caminho, né? E aí você percebe no terceiro setor que a gente já começa a mudar um pouco a paleta, começa a ficar sombria, que é quando começamos a mostrar para o público a perda de Abaeté para Anahí. É quando a Anahí cai num abismo da saudade quando a Anahí leva a picada da boiuna. Então a gente tem uma escultura de Chandoré, tem as culturas de Guarandirô que é o Deus da noite, então é um carro mais obscuro”.

Setor 4: “Tem o quarto setor que é o setor que fala que com como o Abaeté perde a sua amada, ele acaba perdendo automaticamente a vontade de tocar aquela flauta. Porque aquela flauta que mantinha toda a harmonia entre os mil povos que existiam aqui no Brasil e com o deixar de tocar a flauta. Começam a surgir coisas dentro do nosso pindorama que acabaram refletindo até hoje para a gente. Eles veem os Caraíbas surgindo no grande oceano, começam a ver que os Caraíbas trazem o sangue para o solo, o sangue para as águas do rio”.

Setor 5: “Fechamos no quinto setor com um Despertar de Monã através de ser tocado pelo sentimento de ‘Aysú’. Ele fala para Abaeté, precisamos muito de você para poder proporcionar novamente a harmonia entre os mil povos entre essa terra que eu criei, preciso que você volte a tocar flauta e eu tenho um uma proposta para te fazer. Vou te dar uma terra que eu criei que é o Ybymarã, que é uma terra sem males, que é uma terra onde todo mundo vive feliz, todo mundo tem esperança e vou deixar vocês dois viverem felizes para sempre, mas como uma condição você nunca deixa mais de tocar sua flauta. Nosso carnaval é isso, é um carnaval onde a gente transforma um mito de Orfeu e Eurídice de Abaeté e Anahí com um final feliz”.

Uma história de amor também entre Flávio Campello e Tom Maior

Terceiro carnaval do Flávio, e seria o quarto, são quatro anos na agremiação e assim como o enredo, também tem sido uma história de amor: “É uma escola que me conquistou, né? O Carlão é um cara que na minha opinião é um exímio administrador, um gestor incrível, é um cara que me conquistou no período inclusive da pandemia. Pois na pandemia eu vi que muitas escolas não tiveram condição de manter a ajuda para os profissionais, às vezes tinham que depender até da cesta básica que as escolas conseguiram arrecadar foi um momento muito difícil. E o Carlão ele nunca me deixou desamparado. Até no momento mais difícil da minha vida que foi ali quando ouve a Bendita da pandemia eu fechei na Tom Maior no finalzinho de março e quase um mês depois eu estava internado em coma, entubado e etc… E o Carlão desde daí ele nunca me abandonou, sempre esteve comigo sempre me dando todo o suporte que eu precisava, então é um cara que além de presidente eu considero como um grande amigo, né? Criamos uma relação de amizade bacana. É um cara que vem aqui no barracão todos os dias, ele tem uma sala dele aqui no terceiro andar e ele está pelo Barracão. Quando ele não está, ele está na sala dele, então é um cara que está presente. E ele está se esforçando ao máximo para garantir o maior desfile que a Tom Maior já fez, que é o que ele está orgulhoso, ele bate no peito, quando ele vê as coisas, ele fala ‘nunca pensei que nós iríamos chegar na Avenida desta maneira’. Porque ele percebe o quanto valeu a pena saber cada investimento, cada centavo investido na escola. Então eu creio muito que ele na minha opinião vai proporcionar juntamente com a nossa equipe de trabalha aqui o maior desfile desses 50 anos de Tom Maior”.

Ficha técnica:
Alegorias: quatro (cinco setores)
Componentes: 1.700
Alas: 17
Tripés: 2
Diretor de barracão: José Adelson David (Gordo)
Diretor de ateliê: Assis Motta

Série Barracões: União do Parque Acari promete levar a resistência no corpo e na alma em sua estreia na Sapucaí

Após atraso no pagamento da subvenção e a danificação de mais de 600 fantasias, por conta das chuvas do meio do mês de janeiro, o carnavalesco André Tabuquine, no terceiro ano consecutivo na União do Parque Acari, não se abate e promete um carnaval grandioso para a agremiação que faz a sua estreia na Sapucaí e na Série Ouro em 2024. Com o enredo “Ilê Aiyê, 50 Anos de Luta e Resistência”, a Acari se baseia na questão religiosa que originou o bloco Ilê Ayiê e na ancestralidade baiana e africana, para falar da resistência de um povo sofrido, mas de maneira alegre. Após garantir a 3ª colocação na Série Prata, a agremiação, que tem apenas cinco anos, se viu abraçada pela comunidade para estrear na Sapucaí, apresentando algo inédito, como André revelou ao site CARNAVALESCO.

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Fotos: Guibsom Romão/CARNAVALESCO

“Eu já estou no meu terceiro carnaval consecutivo na Acari. E aí, por ser uma escola nova na Série Ouro, a gente precisava fazer alguma coisa inédita e de grande repercussão. E eu já tinha algumas coisas elaboradas na gaveta, e então mostrei um leque de enredos para a agremiação. E aí eles foram analisando, eu fui explicando cada um deles, um dos mais favoráveis para a gente era realmente o sobre o bloco Ilê Aiyê. E também, como não falar de um bloco que realmente faz sucesso e é sucesso no mundo inteiro? Sendo um bloco completamente de resistência, não só no Brasil, como no mundo. Pelas lutas sociais, por direitos que nós temos, entendeu? A diretoria abraçou esse enredo. E a gente começou as pesquisas”, disse o carnavalesco.

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Engana-se quem pensa que a idealização do enredo se deu apenas para celebrar os 50 anos do Ilê Aiyê, o que chamou a atenção de André para a idealização do enredo foi a história e os elementos que originaram a criação do bloco, como a espiritualidade, uma vez que a ialorixá Mãe Hilda foi uma das responsáveis pela fundação do bloco, com seu filho “Vovô”, que estará presente no desfile.

“Foi a questão do bloco começar realmente dentro de uma casa de candomblé e ter esses guias espirituais. E a mãe Hilda levantou a bandeira e teve a autorização de falar. Porque foi uma época que há 50 anos, era uma luta do caramba, do povo preto em buscar os seus direitos. Então ela topou com os seus filhos e conseguiram fazer a fundação do bloco. Então, isso daí foi o que realmente me chamou mais a atenção, a parte religiosa”, afirma André.

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O artista não esconde as dificuldades que tem em construir um carnaval na Série Ouro, ainda mais em um ano no qual houve atraso no pagamento da verba municipal para as escolas. Em um barracão novo, no qual a agremiação divide com a Acadêmicos do Cubango, o trabalho segue.

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“A gente sabe que tem a grande dificuldade para quem sobe da Intendente Magalhães para a Sapucaí, e ainda abrir o desfile é um pulo enorme, e a questão financeira é muito grande. As dificuldades de barracão, financeiramente, que dependem dos órgãos públicos, tudo é realmente difícil, mas a gente está tentando driblar todas essas dificuldades que a gente está tendo agora”, disse o carnavalesco.

Além dos percalços financeiros que muitas escolas da Série Ouro enfrentam, a Acari foi afetada pelas fortes chuvas do meio de janeiro, tendo sua quadra alagada um mês antes do desfile oficial. Muitas fantasias prontas e materiais que seriam usados no desfile foram danificados, a agremiação chegou até a pedir doações em suas redes sociais para reparar os danos causados pelas chuvas.

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“A Acari vem homenageando esse bloco de resistência. A Acari é resistência depois dessa situação fatal que aconteceu na nossa comunidade, por conta das chuvas, a gente perdeu 640 fantasias, assim, você vê que é duro. Deu para recuperar bastante coisa, mas isso nos impactou de diversas formas, até emocionalmente, para a escola. Por isso que se o bloco é resistência, imagine a União do Parque Acari depois dessa enchente toda, né? A comunidade abraçou a escola, apesar de ter sido muito afetada também, muitos moradores perderam suas casas, teve gente que perdeu a vida. Mas aí a gente conseguiu dar a volta por cima. A quadra está a todo vapor, fazendo e refazendo o lance de algumas fantasias, reparando as perdas, e então a gente vai levantar a bandeira da resistência e a importância que o negro tem na sociedade, o bloco nos ensina isso, isso é muito importante. Tivemos muitos materiais também que eram do barracão, mas estava lá estocado para decoração, mas foi tudo perdido e a gente está negociando com fornecedores para comprar novamente, algumas partes estão chegando e o barracão está aí agora a todo vapor”.

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O carnavalesco, que não se deixa abalar pelas dificuldades, disse contar com uma equipe parceira que o ajuda na busca de soluções para os problemas e que o segredo é sempre ter truques para, mesmo assim, sentir prazer com seu trabalho na avenida.

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“O truque é, primeiro, ter o conhecimento, óbvio, o conhecimento de materiais alternativos, de fácil acesso, fácil compreensão e que vão dar um efeito legal no desfile. E eu estou nessa caminhada já tem um tempo já, e assinando sozinho na Série Ouro, realmente é uma responsabilidade muito maior, e dá um prazer. É gostoso ver a sua arte ser exposta. O Rio de Janeiro no carnaval para o mundo inteiro, apesar das dificuldades”, afirma o carnavalesco.

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Prometendo um carnaval grande e surpreendente, a escola já tem fantasias entregues e o barracão da Acari segue na concepção dos carros alegóricos, restauração de diversas esculturas. André revelou também que diversas estampas que viram nos carros da escola, foram desenhadas por ele, dando uma originalidade ao desfile.

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“O boom do desfile, na verdade, vai ser o início da escola, a cabeça da escola que vai vir bem grande e impactante, com algumas surpresinhas aí também no meio do desfile. Nós vamos vir com três alegorias, porém a gente vai vir com um acoplamento, então o abre alas é acoplado, chegando aí a quase quarenta e poucos metros. Todas as fantasias de alas e as composições vão ter até mesmo o tecido do Ilê Aiyê. A gente conseguiu uma parceria com o artista Mundão que cedeu as estampas do Ilê Aiyê, que são estampas exclusivas, e a gente colocou nas alas, colocamos também nas alegorias e nas composições. Quer dizer que vai ter o Ilê Aiyê e a Bahia no Rio de Janeiro e no nosso desfile. Aguardem que a escola vem bastante colorida, mas dentro do contexto de cada enredo deles”, conta André.

Conheça o desfile da União do Parque Acari

A União do Parque Acari irá abrir os desfiles oficiais na Sapucaí em 2024, na sexta-feira, dia 09 de fevereiro. Dividida em três setores, com em torno de 1500 componentes, divididos em 23 alas, um elemento cênico na comissão de frente e 3 alegorias.

“O primeiro setor vai ser a religiosidade, o segundo setor a negritude africana e encerrando no terceiro com a ancestralidade baiana”, revelou o carnavalesco.

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1º Setor: Neste primeiro setor vem toda essa parte espiritual que a mãe Ilda transformou realmente nesse bloco. Ela vai ser homenageada, óbvio, que é a matriarca, o orixá dela, Obaluaê, que é Azanzú na nação de Candomblé Jeje, a qual ela pertence. Então aí vai ter isso nessa religiosidade. A cabeça da escola vem toda branca, ouro e palha, toda essa parte de reluzir, espelho, luz, da africanidade”.

2º Setor: “Na segunda parte vai ser a parte da negritude africana, no qual a gente vai vir homenageando a deusa do ébano, eles têm uma noite da beleza da deusa do ébano, na qual eles escolhem a dançarina, pra eles é a dançarina, para gente é como se fosse uma rainha de bateria, né? Então essa deusa do ébano, a gente vai homenagear ela no carro alegórico, onde vem personalidades negras do carnaval, desfilando com a gente. Então eu venho contando nas alas os enredos do Ilê Aiyê, para a gente é enredo, para eles são temas. Cada ano o bloco faz os seus temas, então eles fazem as músicas, os cânticos, de acordo com o tema. Então, foi escolhido 23 temas delas que foram transformados em alas”.

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3º Setor: “E vamos encerrar com a festividade baiana no bloco e a Ladeira do Curuzu, no qual também vem o pessoal do bloco Ilê Aiyê desfilar com a gente. Eu venho contando nas alas os enredos do Ilê Aiyê, para a gente é enredo, para eles são temas. Cada ano o bloco faz os seus temas, então eles fazem as músicas, os cânticos, de acordo com o tema. Então, foi escolhido 23 temas delas que foram transformados em alas. Um carro coreografado, que vem com 30 e poucas pessoas, fora os destaques, simbolizando como se eles estivessem subindo a ladeira, realmente festejando, depois descendo, fazendo aquela brincadeira toda”.

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Novex Rio Praia Camarote oferece conforto e vista privilegiada na Sapucaí

Fevereiro está chegando e, com ele, a época do ano que o brasileiro mais ama, o carnaval. Para aqueles que quiserem aproveitar os desfiles das escolas de samba com conforto, open bar, comida liberada, espaço de beleza e, em frente à bateria, a dica é correr e garantir ingresso para o Novex Rio Praia Camarote. Os ingressos já estão à venda pelo site Ticketmaster, plataforma oficial definida pela Liesa.

Foto: Divulgação

O espaço tem 1.400m² divididos em três andares de pura energia e uma vista privilegiada dos desfiles, em frente ao segundo recuo da bateria. O público tem uma experiência diferenciada já que a bateria é a parte que garante a pulsação do desfile.

Há seis anos na Sapucaí o Novex Rio Praia Camarote vem crescendo a cada edição, não só em tamanho e estrutura, mas sim em experiência para o público. Manter o mesmo padrão de qualidade de anos anteriores e trazer novidades não é tarefa fácil, mas Rodrigo Lyra, um dos sócios do espaço, encontrou a forma de equalizar isso.

“Esse ano abrimos ainda mais as portas para o pessoal do mundo do samba, criamos uma roda de samba e todos os dias teremos a presença de uma bateria de escola de samba, nossas ações estão sedo pensadas e voltadas para o público que ama o carnaval”, disse Rodrigo, que falou ainda sobre a chegada da Novex.

“Estamos muito felizes com essa parceria, trazendo a Embelleze, uma gigante do mercado de beleza capilar através da Novex, que é nossa patrocinadora master. Contar com o apoio de uma marca tão relevante, que já está consolidada mostra o quanto o carnaval está forte economicamente e a confiança no nosso trabalho. É muito importante ter marcas com grande relevância de mercado junto ao carnaval. Agrega muito pra nós, para o público e para a cidade”, frisa.

A parceria com a as escolas de samba vai além dos limites do camarote, e começou antes mesmo da estreia do espaço vip na Sapucaí. A marca Rio Praia tem desenvolvido ações de marketing no pré-carnaval, tendo como parceira a Mocidade. Para os dois ensaios técnicos realizados pela verde e branca, foram estabelecidos pontos de hidratação para que os componentes se mantivessem hidratados. As camisas do treino oficial, também estamparam a marca Rio Praia.

Carnaval é festa, alegria, competição e geração de trabalho e renda. Para colocar o camarote funcionando, a equipe do Novex Rio Praia conta com uma equipe de aproximadamente 80 colaboradores, no período pré-desfile, cujas funções vão desde a operação de vendas, call center, marketing, comunicação e construção do espaço. Nos dias de operação do camarote, a equipe chega a 100 pessoas, incluindo o meeting point, receptivo bares e cozinha.

“Algumas pessoas criticam a existência dos camarotes nos desfiles, acho que por falta de conhecimento dos bastidores. É um trabalho sério, de um ano inteiro. Assim que acaba um carnaval a gente já começa a pensar no próximo, porque é um empreendimento que envolve inúmeros segmentos, como comercial, marketing, imprensa, produção, entre outros setores. Estamos falando de pessoas diretamente envolvidas com o camarote, em torno de 30 pessoas, 30 empregos diretos. Indiretamente a gente pode falar da segurança, do buffet, do transporte, dos recepcionistas. Aí já sobe para 200, 300 pessoas trabalhando em prol de um camarote”, aponta Bruno Português, também sócio do empreendimento, que faz questão de lembrar que o carnaval movimenta a economia da cidade.

“O investimento dos empresários do entretenimento do mundo do carnaval, principalmente de camarote, é muito alto. Mas envolve mais do que o empresário investidor. São famílias, empregos, movimentação financeira na cidade, rede de hotelaria. Então, acho que apoiar o carnaval não quer dizer apoiar um camarote na Sapucaí. Se você parar para analisar o investimento da própria prefeitura, do governo do estado, do governo federal, você apoiando o carnaval no todo, você está dando retorno ao cidadão que mora no Rio de Janeiro, está dando retorno para a cidade”.

O sócio do camarote não concorda com a máxima de que o carnaval deixou de ser popular, ao contrário, acredita que a festa é bem democrática.

“A crítica em relação ao carnaval mudou, deixou de ser popular, não deixou de ser popular, apenas você tem a opção de escolher de que forma vai assistir. Uns vão para arquibancada, outros para frisa, outros querem um conforto, talvez um pouco maior. Mas o intuito principal é a grande festa, é assistir a escola de samba. O camarote vai dar um diferencial, talvez, em uma alimentação, em uma bebida. Uma visibilidade mais exclusiva. Mas o foco maior é o grande espetáculo, são os desfiles das escolas de samba”.

O Novex Rio Praia está de cara nova e este ano não terá uma rainha, mas abrirá suas portas para diversas beldades, conforme adianta o relações públicas do espaço, Alan Victor.

“Esse ano a gente não vai ter rainha, optamos por não ter este posto no camarote. A gente vai ter uma única musa, que é a Aline Mineiro, que também é da Mocidade. Vamos receber musas e rainhas de diversas escolas entre Especial e Série Ouro, assim privilegiando o maior número de personalidades do samba. Outro ponto alto é que não temos espaços vips no Novex Rio Praia, então, o folião vai esbarrar com artistas, e isso é muito legal. É o clima que o carioca está acostumado. No Rio a gente encontra celebridades o tempo todo, na praia, no shopping, no restaurante e, no carnaval, dentro do camarote”, adianta Victor.

Brahma lança as latas comemorativas em homenagem às escolas do Grupo Especial; Saiba onde encontrá-las!

Amarelo, azul, branco, verde, vermelho e rosa – as cores que deixam a Sapucaí exuberante durante os desfiles de carnaval do Rio de Janeiro embelezam não apenas o Sambódromo, mas, agora, também as latas da cerveja oficial do maior espetáculo popular brasileiro. Sucesso desde o lançamento, quando Brahma foi anunciada como patrocinadora do Rio Carnaval 2024, as latas comemorativas em parceria com as 12 escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro começam a ser vendidas nesta semana.

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Foto: Divulgação

Em edição limitada, cada latinha ficará disponível para compra na quadra da agremiação que representa, como iniciativa que faz parte de um projeto de fortalecimento e valorização do carnaval. A proposta é levar o público aos espaços das escolas e incentivar os amantes da festa a visitarem quadras de diversas escolas para completarem suas coleções.

“Estamos muito animados com essa ação inédita, que visa homenagear e trazer protagonismo para as agremiações, as estrelas da maior festa da Terra. Por meio dessa parceria, nosso objetivo é propor iniciativas que favoreçam a ampliação da visibilidade do carnaval para outros momentos e lugares especiais além dos desfiles. Já estamos presentes nas quadras das escolas e desejamos gerar mais movimentos em torno desses espaços onde estão os sambistas, as comunidades e todos os responsáveis por fazer a magia acontecer”, afirma o diretor de Brahma, Maurício Landi.

Brahma e o carnaval carioca

Esse é mais um marco de Brahma em sua trajetória de conexão com o carnaval. A Cerveja Nº1 dos brasileiros e parceira oficial da festa nasceu na Marquês de Sapucaí, palco oficial dos desfiles das Escolas de Samba, e sua antiga fábrica cedeu espaço para a ampliação da passarela do samba. E, justamente por conta do carnaval carioca, passou a ser engarrafada, em 1934. Desde então, a marca tem reforçado sua ligação com a cidade, apoiando o carnaval de rua e os blocos mais amados da Cidade Maravilhosa.

Marca líder no apoio da maior paixão nacional, em 2024, Brahma estará na rua e no sambódromo, nas principais celebrações do Brasil, convidando os brasileiros a mostrarem suas verdadeiras e melhores versões e transbordarem brahmosidade.

Eterno! Zulu confirma aposentadoria e não narrará as notas do Carnaval 2024 de São Paulo

A voz conhecida nas apurações do carnaval paulistano, se aposentou da função. De acordo com o Terra, Antônio Pereira da Silva, o Zulu, que ficou a frente dos microfones da Liga há 30 anos sendo locutor das notas do carnaval, não irá mais participar. A informação é confirmada pelo mesmo, que declarou ao portal: “Estou saindo fora mesmo. A gratidão que eu espero é que Deus me dê em saúde. Eu fiz o que ele me deu a oportunidade de fazer e creio que fiz direito, porque ouvi muitas pessoas falando que não gostam de carnaval, mas assistiam por causa da minha voz”.

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Foto: arquivo pessoal

Ainda em entrevista ao site, Zulu afirma que tem gratidão pelo trabalho desenvolvido nesse tempo. “Estou calmo, estou tranquilo. Deus está me dando a devida tranquilidade. Foram 30 anos fazendo a mesma coisa e graças a Deus fiz direito. Só tenho que agradecer a Deus e mais ninguém. Tudo aqui se encerra, tem início, meio e fim”.

Durante esses 30 anos, o profissional só não trabalhou no ano de 2007 e também em 2021, onde não houve carnaval devido a pandemia.

Curiosidade: Desde que Zulu começou a narrar as notas, a escola que ele mais anunciou títulos foi o Vai-Vai.

Terreiros históricos de Salvador são visitados pelo Império Serrano

Dentro dos seus 76 anos, o Império Serrano vai fazer um desfile focado na religiosidade afro-brasileira pela primeira vez em 2024. Apesar de pincelar a temática em diversas ocasiões, a escola da Serrinha nunca havia se aprofundado no culto aos orixás. Na última semana, representantes do Departamento de Comunicação do Reizinho de Madureira estiveram em Salvador, berço da criação do candomblé, e visitaram dois dos mais antigos terreiros do Brasil: o Ilê Axé Iyá Nassô Oká e o Ilê Axé Oxumarê, além da Fundação Pierre Verger.

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Foto: Divulgação

O motivo da ida à Bahia foi aproximar a agremiação dessas instituições tão importantes. Neste ano, o Reizinho vai apresentar na Sapucaí o enredo “Ilú-ọba Ọ̀yọ́: a gira dos ancestrais”, do carnavalesco Alex de Souza. A proposta da escola é exaltar os orixás como grandes reis e rainhas dos territórios que formavam o antigo Império de Oyó, na África, seguindo a ordem de apresentação do xirê, ritual do candomblé que reúne essas divindades. A visita também gerou a gravação de conteúdos documentais para as redes sociais da escola.

Comandado por Mãe Neuza de Xangô, o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, popularmente conhecido como Casa Branca do Engenho Velho, é o mais antigo terreiro de candomblé do país. Ele é o marco da fundação da religião no país, por volta de 1830, com o Candomblé de Barroquinha, criado pelas princesas africanas Iyá Detá, Iyá Akalá e Iyá Nassô, oriundas de Oyó. A casa de Xangô foi o primeiro Ilê Axé tombado pelo Iphan como Patrimônio Histórico do Brasil, em 1984.

Próximo de completar 200 anos, o Ilê Axé Oxumarê também tem um lugar especial na construção do enredo do Império Serrano para 2024. O livro “Casa de Oxumarê: os cânticos que encantaram Pierre Verger”, de 2010, foi um dos instrumentos de estudo do carnavalesco Alex de Souza na elaboração do enredo do Reizinho. A obra retrata o processo do fotógrafo francês Pierre Verger na gravação de cânticos do xirê do local, no final da década de 1950. À frente do Ilê, Babá Pecê fez questão de deixar uma mensagem especial à família imperiana:

“Em nome da Casa de Oxumarê, peço que todos os orixás e os nossos ancestrais possam abençoar e fortalecer o Império Serrano em mais um ano de luta. O carnaval também é uma forma de resistência do nosso povo. Que o Império Serrano, que tem essa ligação com o afrodescendente, possa fazer um carnaval belíssimo e que os orixás estejam com todos neste momento de energia, abrindo os caminhos com amor, paz e fraternidade”, disse Babá Pecê.

Já a visita na Fundação Pierre Verger foi pautada nas pesquisas conduzidas pelo fotógrafo francês sobre o culto aos orixás em território africano. Os representantes do Império Serrano foram recebidos pela diretora Angela Lühning e por Vó Cici de Oxalá, assistente de pesquisa e egbomi do Ilê Axé Opô Aganjú. O primeiro vídeo da série de entrevistas é justamente com ela e já está disponível no canal do Império Serrano no YouTube através do link https://www.youtube.com/@imperioserranoficial. O projeto tem direção e produção de Emerson Pereira.

No Carnaval 2024, o Império Serrano irá fechar os desfiles da Série Ouro. O Reizinho de Madureira será a oitava agremiação a desfilar no sábado, 10 de dezembro, na Marquês de Sapucaí, em busca do título e o retorno ao Grupo Especial.