Início Site Página 465

Grandes personagens do samba contam o que o Natal significa para eles e como vão passar o feriado

Ilustra Natal20231224 001O ano de 2023 vai chegando ao fim e, com isso, todos costumam juntar seus familiares e amigos para as datas festivas. O Natal é um feriado que possui um sentido muito especial. Celebrado no dia 25 de dezembro, é uma comemoração cristã que relembra o nascimento de Jesus. As pessoas têm a oportunidade de festejar a união, a paz, a saúde e o amor próximas de seus entes queridos. Mesmo aqueles que não são religiosos, usam a data para esse propósito. Para muitos, o Natal representa o início de um novo ciclo e a renovação de suas esperanças.

Algumas tradições fazem parte dessa data, como a ceia de Natal, que traz muitas comidas consideradas típicas, como o peru, o bacalhau, a rabanada e o panetone. É a chance de se alimentar de pratos não tão comuns durante o ano, ao lado de sua família. Outra tradição importante é a troca de presentes, que simbolizam todos os sentimentos que as pessoas têm pelas outras.

E como não poderia ser diferente, os sambistas também aproveitam o Natal junto aos seus. A reportagem do Site CARNAVALESCO conversou com algumas personalidades importantes do mundo do samba para entender como eles passam o feriado e qual é o sentido do Natal para eles.

Ito Melodia, intérprete da Unidos da Tijuca:

ito tijuca“O meu Natal é maravilhoso! Eu passo com a família, com a mulher que mudou a minha vida, Maria do Carmo, com minha filha Maria Alice, com Deus. Também passo com meu pai Aroldo Melodia e mamãe que já se foi também, que Deus os tenha. Passo com os meus orixás, com a minha religião, o axé. Peço a Deus que permita que nós possamos fazer nesse ano que vai entrar um belíssimo desfile, que acredito que vamos fazer, e que possamos voltar a disputar o título, que é a grande intenção e o grande objetivo da Unidos da Tijuca. Um feliz Natal para todos, ano novo, saúde e paz”.

Marquinho Art’Samba, intérprete da Mangueira:

Mangueira20231215 026“O Natal representa tudo o que há de bom. Representa estar com a família – embora eu tenha tido algumas perdas que não são fáceis. O Natal é o símbolo familiar, sempre um novo ciclo que se inicia e a esperança de uma vida melhor e um ano novo. Sempre sonhamos com novas conquistas, isso é o Natal e o Ano Novo. O período da pandemia foi muito difícil, só agora que estamos conseguindo nos recuperar. Em relação à comida, o que não gosto é arroz com passas – horrível. Pernil, bacalhau, rabanada – adoro comida natalina. Mas hoje estou mais ‘devagar’ e vou optar pela salada de bacalhau. Lá em casa o Natal é com todo mundo comendo e bebendo. Eu costumo dizer que o Natal, lá, é igual a porco: A gente bebe, come e fica sentado escutando música”.

Emerson Dias, intérprete do Salgueiro:

emerson dias“Natal é família, é confraternização para você lembrar dos seus entes queridos e trocar carinho, felicidade. Na época da pandemia foi bem complicado, porque o grande afeto que o Natal proporciona pra gente, tivemos que deixar de lado. Mas, graças a Deus já passou tudo. O que eu mais gosto de comer no Natal é o bacalhau. Na verdade, é a minha comida preferida na vida. Mas no feriado, eu aproveito e como mais ainda. Uma coisa que eu não gosto é tâmara, tem gosto estranho. Não faço nada na cozinha, só abro a boca pra comer. Na minha casa é muita festa. Minha família é muito grande. Então, junta meus primos, meus amigos, minha irmã, meu irmão de vida Dudu Azevedo. A gente faz amigo oculto, toma banho na piscina, joga água e farinha nos outros, é muita festa”.

Rafaela Teodoro, porta-bandeira da Imperatriz:

rafaela imperatriz
Foto: Nelson Malfacini/Divulgação Imperatriz

“Pra mim, o Natal representa esperança, renovação, fé, harmonia. Relembramos o nascimento do menino Jesus e, com isso, agradecemos por nossas vidas, por nossas famílias, pela saúde de todos. Eu costumo passar o Natal em casa mesmo, com eles. No período da pandemia foi muito difícil, mas não deixamos o espírito natalino de lado. Com todos os obstáculos, buscamos forças para seguir em frente na esperança de dias melhores. Na ceia, eu adoro comer o salpicão que a minha mãe faz, sempre é a minha escolha. Não gosto muito de nozes. Eu sempre fiquei com a parte decorativa da festa. Gosto de enfeitar, arrumar a mesa com as frutas que compro na feira. Na cozinha, sou só uma ajudante mesmo”.

Rute Alves, porta-bandeira da Viradouro:

rute“O Natal significa uma festa de união e paz. Sempre passo em casa. Meu filho vem sempre. Meus enteados vêm um ano sim e outro ano não. Esse ano, minha neta também vem. Estou tão feliz por isso que até contratei um Papai Noel. Na época da pandemia foi muito triste, porque tive que ficar distante dos meus no feriado e também não pude viajar para visitar ninguém. Também tinha o temor de não saber quando poderíamos voltar a nos ver. Esses sentimentos ficam muito aflorados no Natal. Sobre as comidas, eu gosto de comer minha tradicional bacalhoada, sem dúvida. Rabanada eu até faço, mas não como. Faço tudo na cozinha! A ceia completa, além de um pavê que criei e já virou tradição. O resto dos doces encomendo com minha sobrinha. Ela faz uns doces ‘dos deuses’!”.

Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor:

claudinho selminha1“Natal representa a reflexão sobre o que é família, gratidão, amor e união. Quando as pessoas se encontram, depois de um ano inteiro sem se ver, acaba sendo uma oportunidade muito peculiar. É uma data que mexe muito com o nosso sentimento. Unir tudo isso para falar do passado, do presente e do futuro. É muito especial. Eu costumo passar em casa, mas desde que passei a namorar o Magal do Clareou, comecei a passar na casa dele, com a família dele. E meu filho também costuma passar lá. Mas esse ano, em especial, ele vai passar com o pai. A pandemia foi muito pesada, mas quem conseguiu extrair coisas boas, um aprendizado do que é estar junto aos seus, e agradecer a Deus por cada momento, pela água, pelo alimento, pelo contato físico, pela liberdade. Hoje a gente agradece mais e é mais feliz. O que eu mais gosto de comer é castanha, acho que como mais de um quilo. Eu amo castanha! Eu não gosto muito de carne suína, então o pernil não me atrai muito. Costumo cozinhar sim, principalmente a minha rabanada, que é um show! Ela é clarinha, fofinha, não é gordurosa. Só de olhar já temos vontade de saborear. Mas também faço outros pratos. Fui ao mercado e saí com o carro cheio, para ver como eu gosto”.

Beija-Flor entrega 4 mil cestas de Natal pelas ruas de Nilópolis

Beija20231223 002

Fotos: Eduardo Hollanda

A escola ainda sorteou cerca de 200 eletrodomésticos entre seus colaboradores e parceiros e promoveu um jantar de Natal beneficente para 200 pessoas em situação de rua

Nesta sexta-feira, 22, a Beija-Flor realizou sua carreata de Natal em Nilópolis, entregando um recorde de quatro mil cestas de Natal, 500 a mais do que no ano passado. Os moradores foram presenteados com itens como bacalhau, azeite, panetone, nozes, entre outros, pelas ruas da cidade.

À noite, a quadra da escola foi palco do jantar de Natal beneficente promovido pela escola para as pessoas em situação de rua. Cerca de 200 pessoas foram convidadas e puderam desfrutar de uma ceia completa, com sobremesas e frutas. A ação foi liderada por Débora Rosa, a tia Débora, presidente da galeria da velha guarda nilopolitana, além dos setores de harmonia e baianas da escola.

Beija20231223 005Ainda em clima de festa, a Beija-Flor não poupou esforços para expressar sua gratidão àqueles que contribuem para o sucesso do Carnaval. Na quinta-feira, 21, a escola realizou sua tradicional confraternização de fim de ano, premiando seus colaboradores e parceiros com um almoço de Natal, além de sortear cerca de 200 eletrodomésticos entre os presentes. Itens como fritadeiras elétricas, fornos, aspiradores de pó e secadores foram entregues.

“Festejar o Natal e expressar nossa gratidão àqueles que fazem tanto por nós é uma prioridade para a Beija-Flor de Nilópolis. O olhar dedicado à nossa comunidade e aos nossos colaboradores é uma característica fundamental que cultivamos diariamente e, de forma especial, durante esta época festiva”, destacou Almir Reis, presidente da Beija-Flor de Nilópolis.

A iniciativa reforça o compromisso da escola não apenas com o espetáculo no Carnaval, mas também com o bem-estar da comunidade local. A Beija-Flor de Nilópolis encerra o ano de 2023 reafirmando seu papel como agente de transformação e celebração na vida dos nilopolitanos.

Agente de trânsito que viralizou em ensaio de rua desfilará no Salgueiro em 2024

Salgueiro20231223 006O operador de trânsito Fábio de Oliveira, 48 anos, foi convidado pelo Salgueiro para desfilar na escola no próximo carnaval. O agente viralizou nas redes sociais durante o ensaio de rua da agremiação na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca. Com muito samba no pé e atenção, Fabinho, como é conhecido, foi gravado dançando enquanto organizava o fluxo de trânsito na região.

O convite partiu do presidente da agremiação, André Vaz, que acompanhou a repercussão dos vídeos e convidou o agente de trânsito, na última terça-feira, para conhecer o barracão da escola na Cidade do Samba. Com a convocação atendida, como Fabinho vai entrar na Avenida ainda é uma surpresa.

“A ideia surgiu logo após a repercussão das imagens. A gente viu a empolgação dele pela escola e por seu trabalho, e é disso que o Salgueiro precisa: de pessoas felizes, alegres, desfilando e lutando pela agremiação”, conta o presidente do Salgueiro.

Apesar de ser apaixonado por samba e carnaval, Fabinho nunca desfilou em nenhuma agremiação. Morador de São Gonçalo, ele realizava um trabalho temporário durante o ensaio de rua do Salgueiro, e disse que não conseguiu se conter ao ver a bateria Furiosa: “Vi eles se aproximando e pensei: “vou sambar junto”.

“Eu sempre gostei de sambar. Quando vi a bateria chegando, pensei: ‘se eu gosto, então também vou sambar, mas tenho que organizar o trânsito’. Prestei atenção no meu trabalho e dancei. Nunca imaginava toda essa repercussão. Eu sempre fui apaixonado por carnaval – desde moleque -, mas nunca desfilei. Perdia a noite para ver os desfiles e comecei a gostar ainda mais. É algo que vem da minha avó. Eu a levava para desfilar e buscar a fantasia, isso fez eu me apegar ainda mais. Eu gostava muito do Quinho. O ‘Explode Coração’ sempre mexeu comigo. É algo marcante”, explica o controlador de trânsito.

Salgueiro20231223 001Mesmo com a repercussão positiva, inicialmente o medo de perder o ‘bico’ de agente de trânsito foi grande. Desempregado, o ‘agente-sambista’ usa o serviço para complementar a renda. Ele contou que a esposa estava em casa, foi pega de surpresa ao receber mensagens de amigos do casal e chegou a dar bronca. Apesar do receio, Fabinho não será prejudicado e nem vai receber punição da empresa de trânsito.

O convite foi aceito de imediato. Agora, enquanto o grande dia da estreia na Passarela do Samba não chega, Fabinho tenta se acostumar com o momento de fama, e promete muito trabalho e samba no pé durante os próximos ensaios de rua da Vermelho e Branco.

“Minha vida mudou, né? Recebi o convite e não pude recusar. Vou treinar mais um pouco, mas o samba no pé está em dia (risos). Agora vou me preparar e ver o que vai dar na Avenida. Por enquanto é surpresa, não sei de nada. Enquanto isso, vou trabalhar nos ensaios e, ao mesmo tempo, sambar”, diz.

A estreia de Fabinho na Marquês de Sapucaí vai se somar à luta da escola pela tão sonhada décima estrela, e já tem data marcada: Com o enredo “Hutukara”, do carnavalesco Edson Pereira, o Salgueiro será a terceira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí no domingo de carnaval.

Integrantes das escolas de samba da Série Ouro elogiam a produção do álbum oficial de 2024 pelo mestre Macaco Branco

O álbum de sambas de enredo da Série Ouro para o Carnaval 2024 vem recebendo diversos elogios no mundo do samba. Pelo terceiro ano seguido, a produção ficou a cargo de Macaco Branco, mestre de bateria da Vila Isabel. O M&C Studio foi, novamente, o local escolhido para o trabalho. O estúdio localizado em Marechal Hermes, na Zona Norte do Rio, conta com a direção de Maurício Fonseca, que também é o operador e faz todo o trato com o áudio para chegar ao produto final.

Durante os minidesfiles da Série Ouro, evento realizadoa na Cidade do Samba, zona portuária do Rio, a equipe de reportagem do site CARNAVALESCO conversou com alguns artistas importantes sobre esse trabalho.

Leozinho Nunes, intérprete do Parque Acari

acari mini 20

“O Macaco Branco, além de ser meu amigo particular, é um grande profissional no mundo do samba. Sempre tentando inovar, vindo com novas ideias. Eu sei que o samba é tradicional, mas ele vem com novidades. Não só ele, mas também outros músicos que vêm surgindo no Rio de Janeiro e em todo o Brasil”.

Chuvisco, mestre de bateria do Estácio de Sá

estacio minidesfile24 23

“Acredito que a gravação foi um sucesso. Ficou ótima. Tanto com o Macaco Branco na produção, quanto com o Maurício também lá no estúdio. A gente já se conhece há tempos. Então, o trabalho fica muito mais tranquilo, muito mais suave. Ele auxiliou a gente ao máximo. O resultado é esse que vocês estão podendo ver e ouvir”.

Daniel Silva, intérprete do Império da Tijuca

imperiodatijuca minidesfile24 21

“Trabalhar com o Macaco Branco, com o Maurício, a equipe da Liga, é sempre um prazer. Eles deixam o ambiente maravilhoso. A energia e o astral ficam lá em cima. Sempre recebem a escola da melhor maneira possível e deixam a gente ficar tranquilo. Então, a gente faz o nosso trabalho na suavidade. Isso pro samba, pro carnaval, só tem a ajudar. O samba do Império da Tijuca está pegando força e estamos muito felizes com o resultado dele na gravação e nos ensaios”.

Marcelo Santos, mestre de bateria da União da Ilha

ilha minidesfile24 26

“Macaco Branco é um amigo que eu tenho no samba. A gente começou juntos como mestres de bateria no mesmo ano. Além de amigo, é um talento no carnaval. A gente fica super a vontade. Ele deu várias ideias e muito apoio em arranjo, em andamento. É um gênio dessa nova geração de grandes músicos que está surgindo no samba. Trabalho sensacional. Não só dele, mas de toda a produção da Liga RJ, que nos colocou em um estúdio maravilhoso do Maurício, lá em Marechal Hermes. Isso nos permitiu fazer uma grande gravação”.

Barracões Acesso 2 SP: retornando ao Anhembi, Unidos de São Miguel canta Dom Obá

SaoMiguel20231222 006Apesar de um pouco comemorado sétimo lugar no carnaval carioca do ano 2000, a Estação Primeira de Mangueira jogou luz em um personagem pouco conhecido da história brasileira: o principal homenageado no desfile era Cândido da Fonseca Galvão, popularmente conhecido como Dom Obá, neto de Abiodum, chefe do Império de Oió. Militar, o personagem em questão ganhou notoriedade no Exército durante a Guerra do Paraguai – e, retornando à então capital federal, tornou-se amigo pessoal de ninguém mais, ninguém menos que D. Pedro II. Quase um quarto de século depois, a figura será novamente homenageada no carnaval no dia 03 de fevereiro, pela Unidos de São Miguel, primeira escola a desfilar no Grupo de Acesso II, com o enredo “Um príncipe negro na corte dos esfarrapados”.

Para verificar quais fatos serão contados sobre Dom Obá, o CARNAVALESCO visitou o barracão da escola do Extremo Leste paulistano e fez uma entrevista exclusiva com o carnavalesco Alexandre Callegari, que assina o desfile juntamente com Natanael Serra – afastado por motivos de saúde.

Inspiração na Mangueira?

Para muitos que acompanham carnaval, a primeira lembrança em relação ao personagem em questão é o já citado desfile da verde-e-rosa carioca. Para tentar se diferenciar da apresentação carioca, o profissional da Unidos de São Miguel fez uma escolha curiosa – o que ocasionou ao menos uma diferença bastante grande entre as duas exibições. “A minha grande surpresa foi, de fato, conhecer Dom Obá. Eu, particularmente, não o conhecia. Por mais que a Mangueira já tivesse feito um enredo dele lá atrás, eu, particularmente, não o conhecia. Comecei a fazer a pesquisa e, então, cheguei ao desfile da verde-e-rosa. Lembrei do desfile quando comecei a pesquisar, mas acabei não assistindo, até… não tive referência nenhuma dele. Lógico que ficamos com o samba na cabeça, mas acabei fazendo isso para não ter um sentimento de cópia ou de identidade com o enredo deles de fato. Por mais que seja um enredo que seja contado basicamente da mesma forma, já que se trata da mesma pessoa, ele pode estar sendo contado de uma maneira diferente. Tanto que, no desfile da Estação Primeira, os esfarrapados vêm na comissão de frente; no nosso, eles virão no final. Trago a parte do reinado africano na frente, por exemplo. Nesse sentido, portanto, ele está diferente”, pontuou.

A carnavalização do personagem na Tricolor do Extremo Leste buscará contar toda a existência de Cândido da Fonseca Galvão – com uma única exceção, na visão do carnavalesco. “A gente buscou trazer a vida de Dom Obá como um todo. Não vamos trazer pautado: embora esteja cronológico, não traremos a infância dele, por exemplo. Já traremos toda a parte do reinado africano, que é onde a cidade onde o avô dele era rei. O pai dele vem para o Brasil e ele nasce em Lençóis, na Bahia – e, aqui, ele se intitula príncipe. Traremos essa ancestralidade africana na avenida. Da segunda ala para frente, contaremos a vida dele, basicamente: já praticamente no Império, com todo o relacionamento dele com Dom Pedro II e como ele se torna o príncipe dos esfarrapados, como conta o nome do enredo”, explicou – já contando o apelido do homenageado.

Representação de uma comunidade engajada

SaoMiguel20231222 001Ao ser perguntado sobre o quanto a comunidade da agremiação, majoritariamente de um bairro que está localizado a longínquos vinte e oito quilômetros da Praça da Sé (marco zero de São Paulo), em uma viagem que costuma levar mais de uma hora de carro, Callegari destacou o quanto os componentes se identificaram com o enredo desenvolvido. “Eu estou indo em alguns ensaios, participo do cotidiano da quadra, já fiz algumas reuniões lá. Mesmo morando longe (moro em São Bernardo do Campo), tenho ido algumas vezes e conheço algumas pessoas da comunidade e da diretoria, vejo todos em eventos. Se pegarmos o fato de Gamboa ser uma cidade que juntava os excluídos do Rio de Janeiro, onde Dom Obá, com todo o processo de estar junto no Império, e se tornar voz desse povo… acredito que isso tem tudo a ver com a São Miguel. É um bairro afastado do Centro de São Paulo, e isso acaba trazendo a comunidade e a escola para dentro do Anhembi de novo, onde mostraremos esse enredo maravilhoso. A corte dos esfarrapados, quando eles saem em festa e mostram para a corte imperial que eles também são gente e estão ali, tem tudo a ver com o carnaval”, pontuou.

Como representar?

Para o desfile, a setorização da Unidos de São Miguel será bastante simples, buscando a comunicação rápida com o público, de acordo com Callegari. “Como estamos com duas alegorias e não temos uma divisão no meio (não temos um tripé, por exemplo), acabamos não tendo uma divisão de setores de fato. Se dividirmos, temos a ancestralidade africana até a primeira ala, juntamente com o reinado; depois, temos o meio da escola, com o nascimento de Dom Obá, a participação dele na Guerra do Paraguai e todo o envolvimento dele com a corte imperial e com Dom Pedro II; e a parte final é o Baile da Ilha Fiscal, o último de Dom Pedro, quando Dom Obá trouxe o povo de Gamboa, a Pequena África, e trouxe para o baile – alguns dizem que ele invadiu, outros dizem que não. No último carro, a ideia é mostrar a corte imperial se curvando para Dom Obá como o rei, mostrando que o reinado era dele na corte dos esfarrapados”, pontuou

Pouco após a entrevista, Renato Vitorato, presidente da agremiação, apareceu para trazer mais algumas informações. Buchudo, como é popularmente conhecido, antecipou que o final do desfile, na altura do segundo carro, terá uma grande surpresa para o público e para a comunidade. E, por fim, o mandatário destacou que a escola deve vir com cerca de oitocentos componentes.

De volta – e para fincar raízes

SaoMiguel20231222 002Dez anos depois, a agremiação volta a pisar no Anhembi. Após anos disputando grupos da União das Escolas de Samba Paulistanas (UESP), entidade que organiza os desfiles de grupos inferiores na pirâmide do carnaval paulistano, a Unidos de São Miguel busca permanecer no principal palco da folia em São Paulo – em um projeto que já está sendo desenvolvido. “Acho que o grande trunfo da escola é o trabalho que está sendo feito de fato. É uma escola que subiu, ficou um bom tempo afastada do Anhembi, subiu com uma estrutura de escola da UESP e chegou ao Acesso II com bastante infraestrutura. As pessoas vão ver com bastante carinho e vão ter que começar a enxergar que a São Miguel veio pra ficar e para fazer um bom desfile e um bom carnaval. A comunidade está animada com o enredo e com o samba, ornou muita coisa, foi muito bacana tudo que aconteceu e vem acontecendo no nosso projeto. Não estamos adiantados no nosso barracão, mas estamos caminhando para que estejamos em um projeto muito bacana dentro do tempo correto para apresentar na avenida”, destacou.

Organização garantida

Durante a entrevista, Callegari aproveitou para elogiar a estrutura garantida pela Liga-SP para escolas dos grupos de acesso I e II, na região da Vila Guilherme, Zona Norte da capital paulista. “O espaço da Fábrica do Samba II é fundamental. Temos tudo aqui guardado, toda a estrutura com teto fechado. Sei que sairei tarde daqui e amanhã cedo chegarei com tudo aqui, sem problema com chuvas ou nada. É uma estrutura extremamente necessária para que a gente consiga colocar o carnaval na avenida no nível está sendo colocado em São Paulo hoje. Não só na Fábrica do Samba II, como na I, também. Falo isso pois vim de um carnaval pequeno, em São Bernardo, onde não tínhamos barracão e ficávamos alugando galpões. Muitas vezes não conseguíamos, porque ninguém queria alugar um espaço por dois ou três meses para desenvolver o carnaval. Esse espaço é fundamental para as escolas”, comemorou, fazendo uma comparação com a já citada cidade em que o carnavalesco reside, que não possui mais desfiles de escolas de samba.

Recados diversos

SaoMiguel20231222 004Falando sobre o trabalhão desenvolvido por ele no barracão da Unidos de São Miguel, Callegari aproveitou para relembrar toda a história que já possui na folia na Grande São Paulo. “Sou muito ativo, sobretudo na parte do trabalho de fato. Trabalho em um banco, e, fora de lá, desenvolvo meu trabalho no carnaval. Também tenho uma outra atividade, uma loja de e-commerce. Pra mim, é tudo muito corrido. Tenho um apoio gigantesco da minha família, que me dá muita força para cumprir com as minhas atividades. Desfilo desde os meus sete anos, trabalho desde os meus catorze em um barracão e sou carnavalesco solo desde 2008, nas escolas de São Bernardo. Tudo vem somando com o tempo, até que eu descobri que o carnaval é uma paixão gigantesca para mim, é um amor muito grande que eu tenho por tudo isso aqui. Não considero o carnaval um trabalho: eu percebi que, se eu trabalho em escolas pelo meu amor e pela minha paixão, eu trabalho muito melhor que se eu fizesse só por dinheiro ou alguma questão financeira”, relembrou.

Por fim, o carnavalesco aproveita para deixar um recado a todos que planejam assistir aos desfiles do Grupo de Acesso II, com entrada franca no Anhembi. “Peço para que todos compareçam no Anhembi e, quem estiver na arquibancada, eu tenho certeza que não vai se arrepender de ver o desfile da Unidos de São Miguel, que vai abrir o carnaval de todo o Brasil, nem mesmo o de nenhuma outra escola. O Grupo de Acesso II vai fazer uma noite maravilhosa, espetacular”, finalizou.

Barracões Acesso 2 SP: cheia de referências, Camisa 12 homenageia Chico Rei

Camisa1220231222 001 Em 1904, em uma nota de rodapé, o historiador Diogo de Vasconcelos, sem querer, incluiu uma lendária figura no imaginário cultural brasileiro: ele foi o primeiro a citar a história de Francisco Rei, citado no livro “História Antiga de Minas” pela forma que o imortalizaria: Chico Rei. A informação incluída na publicação dava conta que o afrodescendente era rei em uma tribo na atual região do Congo, foi escravizado, veio para o Brasil e conseguiu comprar a alforria própria e de outros companheiros, tornando-se uma figura digna de admiração no interior das Alterosas. Toda a história será revisitada no enredo “Meu Black é de Rei, Minha Coroa é de Chico. Chico Rei Entre Nós”, elaborado pelo carnavalesco Gleuson Pinheiro para a Camisa 12. Atualmente no Grupo de Acesso II, a agremiação será a sétima escola a desfilar no sábado, 03 de fevereiro.

Em entrevista exclusiva ao CARNAVALESCO, Gleuson detalhou o enredo e contou quais foram as inspirações para a criação de todo o conceito, além de trazer detalhes da escola para o carnaval 2024.

Referências e facilidades

Camisa1220231222 007Como já citado, a lenda em torno do personagem surgiu há pouco menos de cento e vinte anos – e, desde então, é muito citado na cultura brasileira. O carnavalesco contou que a ideia de um enredo sobre a lenda veio da própria escola, mas foi recheada com diversas referências – incluindo um dos desfiles de carnaval mais famosos de todos os tempos. Por fim, ele explica qual a grande mensagem que o desfile quer passar. “Quando surgiu a ideia de falarmos do Chico Rei, que veio da diretoria, pensei, logo de cara, que era uma história bastante conhecida. Por outro lado, como enredo, ele passou, como enredo, apenas uma vez em São Paulo. Todos se lembram do desfile histórico do Salgueiro [“Chico Rei”, 1964, vice-campeão], mas é apenas um desfile isolado. É um tema que está na cabeça de todo mundo, mas não tão explorado no carnaval quando comparado com outras temáticas. É uma história que todo mundo conhece um pouco, mas eu prefiro chamar de mito, não de história. A proposta da escola é, desde o início, contar o mito e fazer uma atualização, a escola pensava que tínhamos que falar de uma maneira diferente. Começamos com a história do Chico Rei propriamente dita e conhecida – ao menos a versão mais famosa, já que são algumas versões que existem. Depois disso, temos um conjunto de citações a episódios que poderiam ser interpretados como influenciados pelo Chico Rei, dentro da nossa proposta de enredo. Aí chegamos no encerramento, que tem muita inspiração no documentário ‘Chico Rei Entre Nós’, da Joyce Prado, e da música de mesmo nome, do Emicida. Esse é o mote do enredo: identificar a permanência ou o renascimento a todo tempo, em diversos momentos da história, da população negra e do ativismo negro, como ativismo político e intelectual. Acho que o grande ensinamento e mensagem desse mito é mostrar o poder do que é muitas vezes negado: a competência do negro para traçar estratégias e planos, fazer articulações”, explicou.

Pesquisa gabaritada

Camisa1220231222 006Doutorando pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e pesquisador acadêmico, Gleuson comentou que, apesar de ser uma história contada com frequência na cultura popular, há detalhes que o surpreenderam enquanto buscava história e informações do universo do personagem. “A gente tinha essa questão de achar que já conhecíamos a história, como o ponto alto – esconder o ouro no cabelo. Eu não sabia, por exemplo, que uma das versões contadas sobre o Chico Rei diz que tanto a esposa quanto a filha do Galanga (antigo nome dele, antes dele ser batizado) foram assassinadas e jogadas ao mar. Além de transportar o ouro em pó ou em partículas pequenas no cabelo, a organização da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que conseguiram comprar a alforria e construir uma igreja para a santa. É algo muito significativo no cenário de contar a história do negro como uma história limitada ao sofrimento da escravidão. Claro que temos que contar isso, não podemos esquecer. Falo como um homem negro: nossa história não se resume a isso. Queremos, também, passar para os nossos descendentes o orgulho dos nossos heróis, nossa capacidade de planejamento e etc”, pontuou.

Escola unida

Camisa1220231222 004Na visão de Gleuson, a comunidade da escola está satisfeita com tudo que foi apresentado – e ele, por sinal, comemora uma característica da agremiação. “A minha impressão é que a comunidade está gostando do enredo, sim. Estou de volta, me sinto muito bem em trabalhar aqui, e a Camisa 12 é uma escola que toca em temas com bastante relevância política – como as homenagens ao professor Milton Santos, a Adoniram Barbosa e aos professores. As atividades, questões sociais e redes sociais mostram que a comunidade está associando e discutindo esse tema, o que é muito positivo”, destacou.

Ele, por sinal, se considera como parte integrante de quem faz a mágica acontecer – não apenas no contato com a comunidade; mas, também, no barracão. “Cada carnavalesco tem o seu jeito de trabalhar, e eu gosto muito de realizar as coisas – e acho que isso todos têm em comum. Mas gosto de colocar a mão na massa, colar coisas, por exemplo. Meu cotidiano é ser mais um funcionário do barracão e fazer o serviço que tem que ser feito, sempre conversando”, afirmou.

Desfile já organizado

Camisa1220231222 005Pouco depois de, superficialmente, comentar como estaria setorizado o desfile, Gleuson aproveitou para trazer mais detalhes sobre cada um deles. “Temos uma divisão que é quase que dividida entre a história propriamente dita do Chico Rei, no primeiro setor, e a atualização desse mito, no segundo e no terceiro. Tem dias que eu, inclusive, acho que temos dois setores, em outros não. Iniciamos com o ambiente em que Galanga foi sequestrado, no reino do Congo. Depois, já tratamos de Galanga batizado como Francisco, em Vila Rica. A história já é conhecida, o ouro no cabelo e a conquista da alforria. Esse setor acaba na construção da igreja de Santa Ifigêna – e aí se encerra Chico Rei coroado. Aí, passamos pela história dele renascendo em momentos da história do Brasil, como eventos histórias depois do século XVIII. Temos o quilombo do Quariterê, comandado por Tereza de Benguela, e outras passagens da história até o século XX, que são lutas pela abolição e até mesmo pós-abolição, pensando na conquista de direitos da população negra. O último setor, o do encerramento, fala da atualidade. Temos a homenagem a personalidades e ativistas negros – como o MNU (Movimento Negro Unificado) e outras entidades”, pontou.

Após a explicação, Gleuson foi indagado pela reportagem sobre qual seria, para ele, o momento-chave da passagem da Camisa 12 pelo Anhembi em 2024. Ele não se furtou a responder. “Acho que é um enredo muito forte e que tem o trunfo de todo mundo saber um pouco do que se trata. Imagino que haverá uma comunicação muito fácil do público que estiver presente com o que apresentaremos. Aposto muito no encerramento, tanto por conta de questões estéticas, já que queremos trazer um visual um pouco diferente, quanto pelas homenagens que faremos, algo que vai mexer com a emoção de muitos”, vaticinou.

Por fim, o carnavalesco aproveitou para trazer números sobre a escola. “Teremos dois carros alegóricos e um quadripé, que é o que permite o regulamento. A Camisa 12 tem saído com um contingente entre oitocentas e mil pessoas”, pontuou.

Recados

Falando sobre o quanto o local para produção dos carros alegóricos é importante para a agremiação e para a escola como um todo, Gleuson aproveita para falar que, em relação à comunidade, nem tudo são flores. “Eu me divido um pouco ao pensar na importância da Fábrica do Samba II. Sou a pessoa que vive o dilema dos barracões, da qualidade de espaço e etc, mas também sou pesquisador – de escolas de samba e do carnaval. O pesquisador acha que tem alguns problemas, como o barracão distante da quadra. Na minha outra passagem na Camisa 12, fazíamos as alegorias na quadra. Construir a parte visual junto da comunidade tem uma importância. Nos ensaios, a comunidade vê o carnaval sendo produzido e, quando vamos para um local como esse, as pessoas sentem-se distantes. As pessoas não sentem que estão participando. Por mais que você não esteja trabalhando, participar também é conhecer, elogiar ou até mesmo criticar. Isso eu acho legal. Agora, o profissional, realmente acha que precisamos de um espaço com qualidade de trabalho. Desde as questões de segurança, temos uma situação melhor para movimentar peças e utilizar equipamentos mais adequados. Para quem trabalha, é bem melhor. Ainda acho que está longe do ideal, mas é um espaço que caminha para ser especializado”, pontuou.

Por fim, instigado a deixar um recado para todos os leitores do CARNAVALESCO, em especial aqueles que pretendem assistir aos desfiles do Grupo de Acesso II, Gleuson valorizou o fato da apresentação acontecer uma semana antes do carnaval e a festa paulistana em si. “Todo mundo da bolha do carnaval de São Paulo não aguenta mais ouvir aquela conversa de que o carnaval da cidade está crescendo. Ele sempre foi grande, é muito antigo e tem a sua história pouco contada. Temos escolas incríveis em todos os grupos, do Especial até a UESP. E, agora, temos os desfiles do Acesso II um fim de semana antes do carnaval, deixando de ‘concorrer’ com os do Rio de Janeiro, que todo mundo gosta de ver… temos um privilégio. Fica o convite para conhecer, é um carnaval grandioso que está na Fábrica do Samba II, e todas as escolas estão trabalhando muito seriamente para apresentar um espetáculo como o dos últimos anos. Vale muito a pena ver”, finalizou.

A importância da espontaneidade rítmica de uma bateria

Fred20231215 001A energia musical que se coloca ao tocar um instrumento numa bateria de escola de samba pode representar exatamente a intensidade que o ouvinte vai perceber o ritmo feito. Não é segredo de ninguém, por exemplo, que testemunhar uma bateria num desfile oficial ou mesmo ensaio técnico na Sapucaí é uma autêntica experiência sensorial.

O samba-enredo enquanto gênero carrega uma boa dose de emoção, além de múltiplos sentimentos. Tanto em letras cada vez mais inteligentes, sagazes e antenadas, quanto em melodias ricas e com belas variações. Determinada nuance melódica, por vezes, pode carregar uma parcela de sofrimento em um enredo mais reflexivo, assim como a animação de propostas de sambas mais leves podem embalar a todos com uma melodia mais fluída e para cima. No samba, inúmeras são as alternativas musicais para tentar cativar e impactar positivamente público, componentes e julgadores. Saber canalizar e extrair a melhor energia possível para colocar no ritmo pode ser desafiador, além de profundamente engrandecedor.

A espontaneidade de um ritmista tem um alto poder de encantamento. Agora imaginem inúmeros ritmistas, mesmo disciplinados, deixando a emoção conduzirem suas execuções musicais. A chance do aguardado e sonhado sacode pode estar representado no quanto a bateria é capaz de se divertir tocando. Dessa forma, é possível dizer inclusive que a espontaneidade musical se encontra interligada a um importante critério de julgamento do quesito, que é a versatilidade rítmica. Ao demonstrar e indicar que tocando de forma disciplinada, uma bateria ainda é versátil a ponto de interagir, isso por si só chama atenção. Julgadores podem sim acabar fascinados com uma apresentação onde além do ritmo pode ser contemplado o espírito musical de liberdade. Toda essa exibição ficará ainda mais encantadora se for obtido esse nível desejado de espontaneidade de maneira natural.

A fase atual da agremiação conta muito, principalmente no dia a dia de uma maratona de ensaios. O astral de toda a bateria também está particularmente envolvido nessa questão. O clima, tanto entre escola, quanto na bateria deve permanecer leve, pacífico e garantindo assim um maior entrosamento entre os ritmistas e diretores. Essa autêntica união entre indivíduos ajuda a solidificar relações, provocando assim um alinhamento interpessoal notável. Todos os ritmistas querem sua nota máxima ou mesmo brigar por premiações musicais, além de ver a escola onde desfila numa colocação honrosa. Fazer isso sendo verdadeiramente feliz e realizado, portanto, ajudará imensamente nessa busca incessante pela excelência rítmica sem fim.

Cabe ter atenção ao alto grau de complexidade envolvendo os arranjos. Bossas com dificuldade de execução elevada ocasionam vez ou outra em ritmistas desfilando de forma mais presa e concentrada, sendo difícil uma interação energética mais solta e alegre. Vale conferir se todo o impacto musical está sendo obtido com essa complexidade e se cabe facilitar um pouco mais, para que toda a galera possa cair dentro de maneira mais livre. Do contrário, bossas populares que chamam o público ajudam demais em interações. Largar o samba para o canto em coro, mesmo que seja um refrão, costuma ser uma alternativa válida para garantir a interação popular e aumentar as adesões espontâneas dos ritmistas ao clima de emoção conseguido. Mas vale ficar bem ligado nas retomadas nesses casos, pois às vezes o sentimento pode vir a dominar as ações por completo, o que pode dificultar na precisão necessária para a volta do ritmo.

Ainda que não seja a personalidade do mestre buscar esse tipo de entretenimento popular, sempre será valioso investir na capacidade de entrega de energia musical do ritmista. É uma galera que se doa de forma integral aos ritmos. Tratam-se de colaboradores emocionais do carnaval, que ensaiam desde o meio do ano até o dia do desfile. Participam durante esse ciclo de inúmeros eventos em diversas quadras, representando suas respectivas escolas. A consolidação energética é uma parte vital da verdadeira experiência sensorial rítmica que é presenciar uma bateria de escola de samba. Fazer ritmo e garantir uma exibição divertida e explosiva, sejam em shows ou pela Avenida, pode sim ser o divisor de águas entre uma boa apresentação e um tremendo de um sacode.

Com destaque do carro de som e bateria, Unidos da Tijuca realiza seu penúltimo ensaio de rua no ano

A Unidos da Tijuca realizou seu penúltimo ensaio de 2023 na noite desta quinta-feira, na Rua D1, uma das vias do entorno da quadra. Com destaque para o desempenho entre carro de som e bateria, a agremiação mostrou uma significativa evolução no canto da comunidade – que apesar de não comparecer em peso, desempenhou um papel fundamental. A escola de samba deve fechar o ano com mais um ensaio na próxima quinta-feira, 28.

Em 2024, a Tijuca levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “O Conto de Fados”, do carnavalesco Alexandre Louzada, e vai ser a quinta escola a desfilar no domingo de carnaval. O diretor de carnaval Marquinho Marino destacou a evolução no canto da escola, mas enfatiza que o trabalho é gradual e tem a tendência de crescer cada vez mais. Segundo o dirigente, cerca de 60% dos componentes de alas da comunidade compareceram. A chegada do Natal e a virada do ano são fatores que impactam no tamanho da escola, que mesmo assim não deixou de mostrar a força e imponência tijucana.

“Acredito que mantemos o mesmo nível da semana passada. Hoje conversei com o Fernando Costa e cheguei a falar no microfone que a minha maior preocupação é fortalecer o canto. A escola está acostumada a desfilar e sempre fez um ótimo desfile em termos de evolução e harmonia. Os componentes, em grande maioria, são pessoas que estão na agremiação há algum tempo – ou seja, estão acostumados a desfilar com a Tijuca. Acredito que o canto manteve um nível bom, mas tem sempre que estar crescendo. Tem a ver com resistência, porque os ensaios têm ocorrido em dias muito quentes, e mesmo assim a comunidade tem cantado muito bem. Vou continuar batendo na ‘tecla’ para a gente fortalecer cada vez mais o canto e no dia 14 estar com quase tudo pronto”, destaca Marino.

Comissão de Frente

Tijuca20231222 016Com 15 bailarinos e comandada pelo coreógrafo Sérgio Lobato, a comissão de frente tijucana mostrou uma coreografia entrosada e pontuava a letra do samba-enredo em diversos momentos. A equipe também exibiu a boa resistência de seus componentes. Ao lado da esposa, a também coreógrafa Patrícia Salgado, que também auxilia no comando da comissão, Lobato ressalta que para o quesito os ensaios de rua têm o foco de fortalecer a resistência e o entrosamento com os segmentos.

“O trabalho da comissão acaba sendo muito mais para fôlego e ritmo. Claro que há o entrosamento com a direção de harmonia e o casal que vem logo atrás, mas o trabalho é diferente para a Avenida. Hoje é mais um teste de organização e fôlego. A cada ano, estamos em busca de algo que possa nos elevar e fazer jus aos 40 pontos. A busca eterna é sempre essa: o diferencial, algo que possa ser de grande valia tanto para as notas como para o público”, explica o coreógrafo.

Patrícia também destaca que o foco é o fôlego. “Acredito que a comissão estava muito animada e feliz. Foi o que o Sérgio falou: para nós, esses ensaios são direcionados para o fôlego, porque por mais que a gente tente ensaiar num espaço que abrange a Sapucaí, nunca dá. Quando temos uma reta para atravessar, ver o condicionamento e o entrosamento dos bailarinos é fundamental”.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Tijuca20231222 003Apesar de ser o primeiro ano de parceria na Unidos da Tijuca, a experiência da porta-bandeira Lucinha Nobre somada ao talento e juventude do mestre-sala Matheus André prometem resultar em um belíssimo carnaval do pavilhão. O samba no pé de Matheus e o bailado de Lucinha, que dançam com muita conexão e sincronia, realçam ainda mais o brilho do quesito.

Harmonia

Tijuca20231222 002A contratação de Ito Melodia para o comando do carro de som mais uma vez se mostrou um diferencial para a boa execução do samba. Apesar da escola ainda não estar completa, o crescimento da obra entre os componentes tijucanos é bastante nítido – fruto, também, do trabalho desenvolvido em quadra pela direção de harmonia. Destaque para a ala 19, que seguiu até o fim do ensaio com o samba-enredo na ponta da língua.

Evolução

Tijuca20231222 024O ensaio de rua começou às 21h50 e teve aproximadamente uma hora de duração. Apesar da rua estreita e com uma leve curva em determinado trecho, os componentes conseguiram aproveitar o treino e brincar carnaval. O diretor de harmonia da agremiação, Fernando Costa, ressalta que a evolução da Marquês de Sapucaí é diferente do local de ensaio, mas acredita que eles são importantes para o treino entre bateria e carro de som.

“Estamos melhorando a cada quinta-feira. Hoje veio pouca gente e acredito que na quinta também, mas não dá pra parar. A gente perde um pouco em evolução e canto, mas treina a bateria e o carro de som. O canto também está evoluindo. Sempre iniciamos os cantos na quadra e de lá para cá, houve uma evolução muito grande. A cada ensaio vai melhorando e chegando mais gente. Aqui é mais canto, bateria, andamento e fazer o tempo de desfile para o povo acostumar. A evolução no dia, com os carros, é toda diferente. Aqui a rua é mais apertada, mas gosto porque deve ter uma Sapucaí e meia (risos). Daí ensaiamos bastante para o componente pegar fôlego. Até lá ainda teremos uns cinco ou seis ensaios. Vai melhorar bem”, avalia Costa.

Samba-Enredo

Tijuca20231222 021O entrosamento entre a bateria “Pura Cadência” e o carro de som da Unidos da Tijuca parece ser fundamental para a evolução do samba-enredo e seu bom desempenho. A parceria resultou em um verdadeiro show durante o ensaio de rua e contribuiu no fortalecimento do canto da comunidade, que se mostrou alegre. Ao final da apresentação, o intérprete Ito Melodia destacou o trabalho em conjunto da agremiação no ensaio desta quinta-feira.

“A escola se permitiu fazer essa mudança com a chegada de todos que vieram para somar com o time que já estava na casa. Hoje, vocês puderam perceber que cada quesito está com a mesma empolgação, energia e sintonia. Claro que a bateria da Tijuca sempre foi destaque e, modéstia à parte, temos um dos melhores carros de som da Avenida. Mas não é só isso que está se destacando, e sim toda a escola com o canto, a paixão pela bandeira, o samba que está impulsionando muito, além da vontade e a garra, que estão pedindo para que a escola venha disputar o título ou fique entre as seis campeãs. Vocês vão ver um carnaval brilhante, emocionante e impactante na Unidos da Tijuca”, afirma Ito.

Assim como no último ensaio, o intérprete fez questão que a equipe do carro de som comentasse o desempenho do grupo. Para o cantor Thiago Chaffin, que faz parte do apoio musical tijucano desde 2012, a chegada de novos membros ao carro de som contribuiu.

“No âmbito musical, acredito que estamos tentando, a cada dia que passa, apurar ainda mais a qualidade do samba – e está acontecendo. Estamos trabalhando com um produto interno: a direção musical do Ivinho, que dispensa comentários – assim como os reforços que chegaram para o carro de som. Acredito que, para uma análise mais técnica e musical, a escola agregou muito e deu qualidade ao que já existia. A tendência é crescer e chegar na Avenida voando, porque o time está forte e coeso”, comentou.

Com o último ensaio de rua marcado para a próxima quinta-feira, a Unidos da Tijuca se prepara para o ensaio técnico na Marquês de Sapucaí: a agremiação treina na Avenida no dia 14 de janeiro, logo após a Portela.

Veja mais fotos

Tijuca20231222 027 Tijuca20231222 026 Tijuca20231222 019 Tijuca20231222 018 Tijuca20231222 013 Tijuca20231222 011 Tijuca20231222 010 Tijuca20231222 008 Tijuca20231222 007 Tijuca20231222 005 Tijuca20231222 004 Tijuca20231222 001

Mangueira se solidariza com morte de componente após ensaio

MangueiraA Mangueira emitiu um nota de pesar nesta sexta-feira, após a morte Valdir da Silva filho, componente da agremiação que faleceu nesta quinta-feira após passar mal no ensaio da agremiação. A causa da morte do mangueirense não foi divulgada.

“Com muito pesar o GRES ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA informa que na noite desta quinta-feira, 21 de Dezembro, o componente Valdir da Silva Filho veio a óbito. Valdir realizaria o sonho de desfilar pela primeira vez em sua escola do coração. Neste momento a dor é única e toma conta de cada coração verde e rosa. Lamentamos e desejamos força aos amigos e familiares!”.