A voz conhecida nas apurações do carnaval paulistano, se aposentou da função. De acordo com o Terra, Antônio Pereira da Silva, o Zulu, que ficou a frente dos microfones da Liga há 30 anos sendo locutor das notas do carnaval, não irá mais participar. A informação é confirmada pelo mesmo, que declarou ao portal: “Estou saindo fora mesmo. A gratidão que eu espero é que Deus me dê em saúde. Eu fiz o que ele me deu a oportunidade de fazer e creio que fiz direito, porque ouvi muitas pessoas falando que não gostam de carnaval, mas assistiam por causa da minha voz”.
Foto: arquivo pessoal
Ainda em entrevista ao site, Zulu afirma que tem gratidão pelo trabalho desenvolvido nesse tempo. “Estou calmo, estou tranquilo. Deus está me dando a devida tranquilidade. Foram 30 anos fazendo a mesma coisa e graças a Deus fiz direito. Só tenho que agradecer a Deus e mais ninguém. Tudo aqui se encerra, tem início, meio e fim”.
Durante esses 30 anos, o profissional só não trabalhou no ano de 2007 e também em 2021, onde não houve carnaval devido a pandemia.
Curiosidade: Desde que Zulu começou a narrar as notas, a escola que ele mais anunciou títulos foi o Vai-Vai.
Dentro dos seus 76 anos, o Império Serrano vai fazer um desfile focado na religiosidade afro-brasileira pela primeira vez em 2024. Apesar de pincelar a temática em diversas ocasiões, a escola da Serrinha nunca havia se aprofundado no culto aos orixás. Na última semana, representantes do Departamento de Comunicação do Reizinho de Madureira estiveram em Salvador, berço da criação do candomblé, e visitaram dois dos mais antigos terreiros do Brasil: o Ilê Axé Iyá Nassô Oká e o Ilê Axé Oxumarê, além da Fundação Pierre Verger.
Foto: Divulgação
O motivo da ida à Bahia foi aproximar a agremiação dessas instituições tão importantes. Neste ano, o Reizinho vai apresentar na Sapucaí o enredo “Ilú-ọba Ọ̀yọ́: a gira dos ancestrais”, do carnavalesco Alex de Souza. A proposta da escola é exaltar os orixás como grandes reis e rainhas dos territórios que formavam o antigo Império de Oyó, na África, seguindo a ordem de apresentação do xirê, ritual do candomblé que reúne essas divindades. A visita também gerou a gravação de conteúdos documentais para as redes sociais da escola.
Comandado por Mãe Neuza de Xangô, o Ilê Axé Iyá Nassô Oká, popularmente conhecido como Casa Branca do Engenho Velho, é o mais antigo terreiro de candomblé do país. Ele é o marco da fundação da religião no país, por volta de 1830, com o Candomblé de Barroquinha, criado pelas princesas africanas Iyá Detá, Iyá Akalá e Iyá Nassô, oriundas de Oyó. A casa de Xangô foi o primeiro Ilê Axé tombado pelo Iphan como Patrimônio Histórico do Brasil, em 1984.
Próximo de completar 200 anos, o Ilê Axé Oxumarê também tem um lugar especial na construção do enredo do Império Serrano para 2024. O livro “Casa de Oxumarê: os cânticos que encantaram Pierre Verger”, de 2010, foi um dos instrumentos de estudo do carnavalesco Alex de Souza na elaboração do enredo do Reizinho. A obra retrata o processo do fotógrafo francês Pierre Verger na gravação de cânticos do xirê do local, no final da década de 1950. À frente do Ilê, Babá Pecê fez questão de deixar uma mensagem especial à família imperiana:
“Em nome da Casa de Oxumarê, peço que todos os orixás e os nossos ancestrais possam abençoar e fortalecer o Império Serrano em mais um ano de luta. O carnaval também é uma forma de resistência do nosso povo. Que o Império Serrano, que tem essa ligação com o afrodescendente, possa fazer um carnaval belíssimo e que os orixás estejam com todos neste momento de energia, abrindo os caminhos com amor, paz e fraternidade”, disse Babá Pecê.
Já a visita na Fundação Pierre Verger foi pautada nas pesquisas conduzidas pelo fotógrafo francês sobre o culto aos orixás em território africano. Os representantes do Império Serrano foram recebidos pela diretora Angela Lühning e por Vó Cici de Oxalá, assistente de pesquisa e egbomi do Ilê Axé Opô Aganjú. O primeiro vídeo da série de entrevistas é justamente com ela e já está disponível no canal do Império Serrano no YouTube através do link https://www.youtube.com/@imperioserranoficial. O projeto tem direção e produção de Emerson Pereira.
No Carnaval 2024, o Império Serrano irá fechar os desfiles da Série Ouro. O Reizinho de Madureira será a oitava agremiação a desfilar no sábado, 10 de dezembro, na Marquês de Sapucaí, em busca do título e o retorno ao Grupo Especial.
Pela segunda vez, junto com toda a comunidade, Fabíola Andrade, de 37 anos, ensaiou na Passarela do Samba com a Mocidade Independente de Padre Miguel, no último domingo. É importante lembrar que, na primeira vez, a escola enfrentou problemas técnicos com o som da avenida. A rainha de bateria, que já foi musa da escola no carnaval de 2016, está casada com Rogério Andrade, presidente de honra da escola, há mais de 10 anos. Ela chegou para ocupar o lugar de Giovana Angélica, que esteve no posto entre 2020 e 2023.
Foto: Sad Coxa/Divulgação Rio Carnaval
“Ser convidada foi uma alegria muito grande, muito grande. Olha, só quem é rainha sabe a emoção que a gente sente, é muito bom”, disse alegre e entusiasmada na concentração, ao ser questionada sobre o sentimento de ter sido convidada para ser a rainha da bateria “Não Existe Mais Quente”.
O marido de Fabíola desempenhou um papel crucial quando a escola enfrentou um ‘drama’ com o carro de som no primeiro ensaio técnico. Foi ele quem, pessoalmente, se dirigiu à Liesa para solicitar um novo ensaio, conforme noticiado em primeira mão pelo CARNAVALESCO. Ao ser questionada pelo site se sentia alguma pressão por ser companheira do presidente de honra, ela respondeu de forma tranquila: “Não, não sinto nenhuma pressão, nada. É de boa”.
Este ano, o enredo da escola é dedicado à fruta caju, narrando na Sapucaí tudo sobre o fruto do cajueiro, incluindo suas histórias, curiosidades e lendas. Com um samba que apresenta duplo sentido em alguns de seus versos, e ensaios que destacam a pegada sensual do enredo, a rainha deu pistas sobre sua fantasia para os desfiles. “Vai ser muito, muito sensual. Não vou revelar detalhes, mas posso garantir que será bastante sensual”, revelou.
No seu Instagram, onde acumula mais de 45 mil seguidores, Fabíola oferece uma visão de sua rotina como rainha de bateria. Ela publica conteúdos sobre suas aulas de samba e mostra à comunidade o processo de preparação para liderar a bateria. Quanto às aulas de samba, Fabíola enfatiza a importância desse treinamento para o desfile.
“Estou fazendo (aulas) e está sendo incrível. Acho que cada ensaio que eu faço também é uma evolução muito grande, é muito bom pra mim”, disse.
A gaúcha também falou sobre suas inspirações no papel de rainha. Em entrevista ao CARNAVALESCO, ela revelou que admira o samba ‘carão’ e citou algumas rainhas cujo trabalho a fascina.
“Eu busco referências no samba, carão, essas coisas. Gosto de várias rainhas, como Sabrina Sato. Eu admiro muito a Gabi, rainha do carnaval, que representa a Mocidade. Também me encanto pelo trabalho de Paolla Oliveira, Viviane Araújo e Mayara, que acho lindíssima e samba muito bem”, afirmou.
Fabíola Andrade, sentindo-se acolhida e amada pela comunidade de Padre Miguel, expressou sua gratidão pelo carinho recebido. “Eu só quero dizer que estou extremamente feliz por ser tão bem recebida por eles. Todo o amor que estou recebendo da comunidade é recíproco. Tenho um carinho imenso por todos”, disse ela, com um sorriso radiante.
Mais uma semana agitada está prestes a iniciar na Beija-Flor de Nilópolis, rumo ao Carnaval 2024. A escola se prepara para dois grandes eventos.
– No sábado, dia 27, a agremiação promoverá seu ensaio de rua na Estrada da Mirandela, com concentração a partir das 19h, e entrada franca.
– Antecedendo o ensaio na Mirandela, na quinta-feira, dia 25, a Beija-Flor realizará seu ensaio na quadra. O evento tem início às 21h30, com ingressos a R$30,00
Essa é a oportunidade de acompanhar a preparação dos ícones nilopolitanos rumo ao Carnaval 2024. Estarão presentes nos ensaios a rainha da bateria, Lorena Raíssa, o carro de som liderado por Neguinho da Beija-Flor, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso.
Serviço:
Ensaio Beija-Flor de Nilópolis
Data: 25 de janeiro
Local: Rua Pracinha Wallace Paes Leme, N° 1025, Nilópolis
Horário: A partir das 21h30
O grupo de pagode “Nosso Brilho” anima a festa antes e depois do ensaio; ingressos a partir de R$ 30.
Ensaio de Rua
Data: 27 de janeiro
Local: Estrada da Mirandela
Horário: A partir das 19h
Preço: Gratuito
O barracão da União de Maricá recebeu uma visita muito especial. A modelo Valeria Valenssa, que fez história como Globeleza, foi conhecer um pouco da construção das alegorias da escola, no bairro de São Cristóvão, acompanhada do prefeito maricaense Fabiano Horta e da primeira dama Rosa Horta.
Foto: Vinicius Lima/Divulgação Maricá
O carnavalesco André Rodrigues foi o responsável por apresentar o projeto da escola para o próximo desfile, além de explicar ponto a ponto do enredo “O Esperançar do Poeta”, uma grande homenagem ao ato de compor e que tem Guaracy Sant’anna, o Guará, como fio condutor. Encantada com o que viu, Valeria Valenssa destacou o sentimento que a agremiação pretende passar:
“É um enredo fantástico. Maricá está chamando o mundo para que volte a sonhar, ter esperança e fé. É isso que vejo de uma forma muito simples. Eu me sinto uma filha de Maricá, pois meus pais moram na cidade, então é um local que tenho muito carinho. Com certeza o povo maricaense será representado de maneira brilhante por esta agremiação tão jovem, mas que tem se mostrado muito madura e estruturada”, disse Valeria.
Na reta final da construção do seu carnaval, a União de Maricá tem mais um ensaio de rua programado para a próxima sexta-feira, a partir das 19h, na Passarela do Samba Adélia Breve, no Centro de Maricá. A escola vai estrear na Sapucaí, sendo a sexta escola a desfilar na sexta-feira, 9 de fevereiro, pela Série Ouro.
Neste carnaval o Império da Tijuca levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Sou Lia de Itamaracá cirandando a vida na beira do mar”, de autoria do carnavalesco Júnior Pernambucano. A agremiação vai falar sobre a história e vida da cantora, compositora e maior representante da ciranda brasileira. Ícone da cultura popular do país, Lia completou 80 anos no último dia 12 de janeiro. A proposta é que a escola de samba entre na Avenida com a força das energias da artista e do povo do Morro da Formiga, além de muita garra, emoção e toques de alegria e manifestação cultural.
Fotos: Raphael Lacerda/CARNAVALESCO
Carnavalesco da agremiação por sete vezes, Júnior está à frente da Verde e Branco pelo segundo ano seguido. Foi sob seu comando, em 2013, que a escola do Morro da Formiga conquistou o título do Grupo de Acesso e retornou ao Grupo Especial após 18 anos. Conterrâneo de Lia, ele conta que tinha o desejo de falar sobre a artista há muito tempo. A vontade de homenageá-la somada a ligação da escola com enredos que abordam a negritude possibilitou que a ideia saísse do papel.
“O desejo vem desde criança, porque sou pernambucano. Eu acompanhei muito a Lia nas cirandas e em eventos culturais de Pernambuco. Sempre tive essa admiração pela artista. Daí, há alguns anos, pensei em desenvolver esse enredo. Passei a proposta para o presidente e ele curtiu, já que ela é uma mulher preta, lutadora e que possui ligações com as tendências temáticas que o Império da Tijuca traz – que são esses enredos ligados à ancestralidade negra. Isso influenciou bastante. Foi a união do meu desejo com a ligação da escola com a negritude”, explica o carnavalesco.
Apesar de saber o lado cultural da artista, Júnior não conhecia o lado espiritual dela. Para ele, esse foi um dos processos mais interessantes durante a pesquisa sobre o enredo.
“Eu falo muito da parte regional da história da vida dela, que também faz parte da minha e não foi surpreendente. O que me surpreendeu foi a parte religiosa, que eu não sabia qual era a ligação dela com a parte espiritual. Isso, para mim, foi novidade. A parte cultural faz parte do cenário que convivi, então facilitou”, conta.
Um fato curioso é que Lia de Itamaracá será homenageada no Rio e em São Paulo. Além do Império da Tijuca, a Nenê de Vila Matilde vai levar para o Anhembi o enredo “Cirandando a vida prá lá e prá cá. Sou Lia, sou Nenê sou de Itamaracá”.
“A forma como o carnavalesco conduz a história lá é um pouco diferente do modelo que vou fazer aqui. Isso é bom, porque mostra dois trabalhos e duas homenagens diferenciadas para uma pessoa”, afirma o carnavalesco do Império.
Para fazer a homenagem, o carnavalesco contou com um pedido especial de Lia: um desfile colorido, com muita alegria, irreverente e que traga afinidade com seu povo. De acordo com ele, o grande trunfo do Império da Tijuca será a própria homenageada: como e em qual parte do desfile ela virá é uma surpresa. Júnior acredita que a fusão de energias que Lia e a escola de samba transmitem resultará em um desfile com muita garra e emoção.
“O grande trunfo é trazer a Lia. Acredito que aonde a gente vai trazê-la e de que forma é um ponto principal que vai causar uma expectativa. Estamos realizando um bom trabalho para que aconteça isso. É o pessoal aguardar para saber de onde a homenageada vai aparecer. O torcedor pode esperar a garra de sempre que a escola tem e transmite quando passa na Avenida, que é uma energia única. É uma escola que virá com garra, emoção e toques de alegria e manifestação cultural que traremos no enredo. A gente precisa entrar sacudindo a Avenida com muita ciranda e muito samba”, afirma Júnior.
Série Ouro e a corrida contra o tempo
A demora para o repasse da verba pública do carnaval é uma reivindicação antiga das escolas de samba. Outro fator é a precarização dos barracões, que atrapalha o desenvolvimento dos desfiles e, de certa forma, já faz parte dos carnavais das agremiações da Série Ouro. Apesar disso, a chama da paixão pelo carnaval segue acesa no coração de quem trabalha no Grupo de Acesso.
“Quem trabalha na Série Ouro há algum tempo, já sabe a dificuldade que é. A gente acaba conseguindo conviver com isso. A Série Ouro traz essa agonia. Não era para ser assim, mas, infelizmente, a gente passa por isso. Acredito que falta um pouco de carinho e atenção por parte do poder público. A subvenção poderia sair um pouco mais cedo. É algo notório e triste. Mas eu, como funcionário do carnaval, tenho que fazer o possível para poder desenvolver um bom trabalho para que eu me sinta realizado e a escola também. Assim como muitas escolas, estamos apertados para poder desenvolver isso tudo. Mas a gente tem garra e a escola possui um comando muito bom em conseguir fazer com que tudo aconteça”, ressalta.
Conheça o desfile do Império da Tijuca
O Império da Tijuca será a segunda agremiação a desfilar na sexta-feira de carnaval, 9 de fevereiro. A escola vai para a Avenida com cerca de 1200 componentes espalhados por 22 alas, três alegorias e um tripé. Ao todo, o desfile será dividido em quatro setores: a ligação das águas, a região da Ilha de Itamaracá, a influência musical, além da manifestação carnavalesca em homenagem aos 80 anos da artista.
Setor 1: “A Lia inicia a vida na catação de caranguejos com a mãe. A renda familiar era da venda de caranguejos, mariscos e siris. Ela tem essa ligação muito forte com os mangues e com as águas. Por isso que ao ponto em que ela vai crescendo, tem mais laços com o mar e chega ao ponto de escrever a letra de suas músicas na areia. Essa ligação com o mar e a natureza já será o início da escola – não posso esconder esse elo entre as águas”.
Setor 2: “Eu já começo com a parte da Ilha de Itamaracá, onde fala de todas as suas tradições e de seu envolvimento com a ilha. A parte dela como merendeira e o Forte Orange – que é muito marcante e onde faz todas as apresentações”.
Setor 3: “Eu venho trazendo a influência musical, onde Lia faz a sua ligação com o Maracatu, com o Cavalo-Marinho – que é um tradição de lá -, o Pastoril, Coco de Roda. São influências musicais que conduzem a formação da artista”.
Setor 4: “O carnaval de Recife abraça a Lia de Itamaracá. A gente faz uma grande homenagem ao carnaval do Recife e de Olinda, onde Lia participou de vários blocos e foi homenageada pelo Galo da Madrugada. Queremos trazer o carnaval da própria região dela, inclusive é algo que a artista pede. A gente traz o carnaval pernambucano abraçando Lia, como se ela estivesse em casa com uma grande manifestação”.
A Mocidade Unida da Mooca, famosa MUM, fez seu primeiro ensaio técnico neste domingo, 21 de janeiro, no Sambódromo do Anhembi, e com o enredo “Oyá Helena”, homenagem para Helena Theodoro. A agremiação da Zona Leste será a última a desfilar no domingo, dia 11 de fevereiro, pelo Grupo de Acesso I. O ensaio técnico foi em um clima tão alto astral, que podemos destacar todos os quesitos, a escola mostrou estar coesa.
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Comissão de frente
A comissão de frente comandada por Nildo Jaffer é sempre um quesito a ser observado e novamente devemos destacar. Mesmo que comissões escondam o jogo, já dá para sentir a dança e o astral que virão para o desfile. Vão vir com um tripé, nela com uma criança sentada, uma princesinha que aparentemente representa a homenageada Helena. Uma dança bem afro, o auge foi quando a personagem principal vai buscar a criança, no fim da apresentação ela mostra um livro, abrindo-o. O elemento alegórico jogava água, de leve. A dupla principal fez a apresentação juntas, a sincronia da comissão era muito boa, só a roupa das mulheres na parte de cima ficava caindo um pouco, e muitas vezes tinham que ajustar. Mas claro, não é a fantasia do desfile, mesmo com esse imprevisto, não atrapalhou em nada a coreografia. Outro momento era quando formavam um círculo para a personagem principal, vestida de laranja, que rodava entre eles em um verdadeiro ritual em plena avenida.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O casal Jefferson e Karina mostrou entrosamento nos passos, os giros realizados horário e anti horário. Os passos de malandro do Jefferson e a alegria de Karina são pontos a serem destacados. Casal assumiu recentemente a função na agremiação, mais precisamente no meio de dezembro, após lançamento do CD. Os Guardiões do casal faziam uma coreografia ao lado. Como relatado é um casal que tem um mês e pouco juntos, mas correspondeu no que o quesito pede nos pontos de observação. Só acredito que pelas características do casal nos últimos trabalhos, trarão um pouco mais de intensidade na dança, lembrando que a pista estava molhada ainda e teve momentos de chuva durante a passagem da MUM.
Samba-enredo
Um samba com excelente melodia que por si só já eleva qualquer clima, mas com a dupla Gui Cruz e Clayton Reis que seguem vivendo um grande momento. O samba casa muito bem com ambos que já na arrancada mostram o poder do que estava por vir… E veio, fluiu na ala musical, fluiu no canto da comunidade, mesmo que tenha palavras um tanto complicadas em alguns momentos, não senti problemas com a comunidade e isso tem dedo, trabalho, da ala musical, também da harmonia, que trabalharam nos ensaios de quadra. Tem trechos bem marcantes, um deles é o “Oooo oooo… Preta no sangue, na raça e na cor” por parte da ala musical, e no canto da comunidade: “Tem macumbaria, pra coroar, axé Helena! Mojubá! Elegbará”.
Evolução
Em relação à evolução, podemos destacar o quanto a escola foi compactada durante o ensaio técnico, mas não foi algo duro ou de muita exigência. Harmonia corriam filas da escola, é bem verdade, mas com leveza, tranquilidade, todos cantando, brincando, e com isso era um clima gostoso em todas as alas. A escola passou tranquilamente entre 59 minutos e uma hora de ensaio técnico. Tirando onda, com direito a bossa já na reta final do ensaio, ou seja, passou muito bem pela pista, dentro do horário e com tranquilidade, leveza, podemos dizer que é um grande orgulho para o mestre Mercadoria que é lenda do carnaval e segue presente na agremiação.
Harmonia
A agremiação passou em uma leveza incrível que precisa ser destacada, cada ala cantando, no ritmo, com seus acessórios usados, sejam bexigas ou outros, no ritmo da escola. Todos bem felizes, cantando, inclusive alas como baianas, passistas, bateria, defenderam realmente a bandeira do ‘Oya Helena’. Destaco principalmente o último setor, não que o primeiro estava ruim no canto e alegria, longe disso, mas no último setor, vieram com muito gás, energia, também destaco a ‘Ala Chique’, o complemento se tem, me fugiu, pois, tinham detalhes na parte debaixo do visual. Mas estavam bem animados, cantando, e vestia uma roupa bem interativa.
Outros destaques
A Bateria Chapa Quente do Mestre Denys vive uma fase impressionante, foram inúmeras bossas, paradinhas e paradonas, brincou na avenida, tirou onda e testou o canto da escola, que funcionou em todas. Algumas das executadas foram anotadas, com 15 minutos teve outra paradona, poucos minutos depois, com 18 minutos só atabaques, e não demorou tanto para aos 25 minutos outra bossa de atabaque e depois uma geral aos 35 nova paradona no recuo. 37 minutos nova parada. Depois teve uma gigante com 39 minutos uma paradona, até 40 minutos, cerca de um minuto. Por fim, já na reta final do desfile, com 47 minutos nova paradona, bateria deu show.
Concentração estava incrível, energia lá foi pro céu com o canto da escola, o mestre Denys tocando atabaque na entrada da escola, funcionou muito bem, e deu para sentir o clima da escola que tem sua quadra como ‘Terreirão’, e olha, podemos dizer que levou o Terreirão para o Anhembi. Vale destacar o discurso do Rafael Falanga jogou a escola lá para cima, também presença da jornalista Ana Thais Matos, esposa do Falanga, que tem dedo no enredo e sempre em alto astral à frente da escola.
Baianas lindas, com borboletas no vestido, e com um astral sensacional. No início da escola tivemos a presença do Afoxé Omi Ayié que abriu os caminhos da escola. A escola já veio com alguns elementos que parecem parte de tripés, protegidos, mas alas no meio deles que vieram nos cantos.
Por fim, a rainha Valeska Reis não quis saber da chuva, sambou mesmo assim. E foram grandes personalidades que a agremiação trouxe, como Ketula Mello diretamente do Rio de Janeiro deu show, mas depois sentiu um problema no pé, desejamos boa recuperação, mesmo assim prosseguiu animada. Roberta Kelly é outro grande destaque da agremiação e tira maior onda no samba, elegância. A rainha do Carnaval Weida que veio dentro de um espaço demarcado para alegoria, deu show de alegria e samba no pé, haja elegância. As passistas e malandros em grande astral, muito samba no pé, precisa ser destacado, lembra muito escolas raízes.
A Estação Primeira de Mangueira terá a dupla de carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon pelo segundo ano consecutivo. Após se destacarem nos carnavais da Série Ouro, com trabalhos no Império da Tijuca e no Porto da Pedra, respectivamente, ambos foram contratados para desenvolver o desfile do ano passado da verde e rosa. Seguindo a linha de seus enredos, eles apostaram novamente na temática negra e feminina ao levar “As Áfricas que a Bahia Canta”, mostrando a musicalidade e a cultura carnavalesca da Bahia influenciada pela africanidade. Contando com um grande samba, a escola fez um bom desfile e garantiu uma vaga no desfile das campeãs com o quinto lugar. Entretanto, algumas críticas foram feitas ao trabalho plástico da dupla, no sentido em que a agremiação exige o melhor de seus artistas. Para elevar ainda mais o nível, os dois apostaram alto em uma homenagem para Alcione, uma das maiores cantoras da música brasileira e ilustre mangueirense, com diversos serviços prestados para a escola. Mas se engana quem pensa que o enredo será uma simples sucessão de fatos históricos de forma cronológica. Os carnavalescos seguirão dando ênfase ao que norteia seus trabalhos: O aspecto social e a representatividade preta e feminina, traduzidos com maestria por Alcione em sua vida e carreira. Além disso, a fé da artista estará muito presente, não apenas na religião, mas também na família, nos amigos, nas instituições e nas forças do bem.
Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira
Para continuar a série de barracões do Grupo Especial para o carnaval 2024, o site CARNAVALESCO entrevistou Guilherme e Annik, que explicaram como nasceu a ideia de levar para a avenida esta homenagem para Alcione:
“Essa ideia de falar da Alcione, acho que qualquer um tem essa vontade. Quando a gente veio para a Mangueira, eu e Guilherme, cada um já tinha um enredo, então a gente juntou e fez o enredo passado. Mas a gente já conversava sobre o enredo da Alcione, de falar da Alcione em algum momento. E a presidente também tinha essa vontade, várias outras pessoas da Mangueira também sempre falavam, os torcedores da Mangueira pediam para o enredo ser Alcione. Mas no final do carnaval passado, quando pintaram o Negro Muro perto da quadra, foi um dia a gente foi gravar. Estava eu, Guilherme e a Sthefanye, a nossa pesquisadora, e quando a gente se deparou com aquela pintura com várias imagens da vida da Alcione, a gente se olhou e foi como se fosse um sinal para que o próximo ano teria que ser o enredo da Alcione. Aí a gente começa a pesquisar, começa a estudar 50 anos da Alcione, e começa a busca para que seja esse enredo. Então, quando a gente renova na Mangueira, que a gente vai sentar com a presidente, com a Guanaíra, e conversa com ela, ela já pergunta, vocês têm enredo? A gente já falou que sim, sobre a Alcione. Ela disse que era esse o momento e fechamos. Foi muito rápido para a gente fechar essa escolha aqui com ela sobre a Alcione. E a gente vai até a casa da Alcione conversar com ela para saber se, de fato, ela ia aceitar ser enredo, ser homenageada. Porque ela tinha essa questão. Vai que ela não aceita. A gente foi com aquele clima meio tenso. Pensando se ela iria aceitar ou não, mas ela aceitou numa boa, ficou super feliz, ficou muito lisonjeada. Até pouco tempo ela falava que ainda não tinha caído a ficha. Ela acha a Mangueira muito maior do que ela, Eu acho que não tem essa questão de tamanho, de proporção, de grandiosidade, porque a Alcione é um monstro. Ela é enorme, ela é a Mangueira. Ela mesmo fala que o sangue é verde e rosa. Foi muito feliz a gente ter decidido que seria esse enredo para esse ano, e está com uma aceitação grande”, disse Annik.
Por ser um grande ícone da música popular brasileira, muitos aspectos da vida de Alcione já são de conhecimento público. Porém, os carnavalescos da Mangueira afirmaram ter se surpreendido com várias histórias da cantora que serão abordadas no desfile da escola:
“Eu acho que o mais imediato foi entender a atuação da Alcione em Mangueira. A gente sabia que ela fundou a Mangueira do Amanhã, a relação que ela tinha com a escola, mas, por exemplo, a gente não sabia que ela organizava as festas de debutantes do morro, que abastecia os feirantes do morro para eles conseguirem gerar sustento. Que várias das crianças foram pela primeira vez no fast food por conta da Alcione, que ela trazia ônibus e levava essas crianças para casa dela, e fazia comida para elas, a famosa farofa de Neston dela. Ela levava muito dessas crianças para os shows dela. E aí tem uma relação que é muito íntima com várias pessoas aqui da escola. A cada momento que você conversa com as pessoas, você vai descobrindo olhares de Alcione diferentes e isso não está na biografia que possam escrever dela ou na entrevista que fazem na TV, está na vivência do mangueirense. É uma relação muito diferente de homenageado porque está ali no seio deles e que de fato convive com aquela comunidade. A Alcione ia para o morro brigar com quem estava deixando o filho não ir para a escola. Ela ia brigar com o pai para puxar a orelha dos meninos e fazer de fato eles se estimularem a estudar, senão eles não desfilavam. Ela tinha uma relação de madrinha. Muita gente chama ela de madrinha, e de alguns ela é madrinha de fato, de ir nos batismos dessas crianças. Tem um aspecto ligado à própria relação da Alcione com a sua ancestralidade, com a sua própria negritude. A Alcione fez uma viagem para a África e lá entende ver aquele povo como se fosse o povo do Maranhão. E aí ela se de alguma maneira olha para a sua própria origem e se reafirma como uma mulher negra, vai influenciar a própria maneira de vestir, de usar os seus cabelos. A Alcione foi um ícone de moda também. Olhar esses 50 anos de carreira é olhar diversas faces de Alcione e entender para além do morcegão, da loba, do faz uma loucura por mim. É entender essa Alcione dos anos 70, dos anos 80, dos anos 90, que são várias faces. Essa própria questão da religiosidade da Alcione, todo mundo sabe que ela é católica, ela tem a relação dela com catolicismo, mas ela tem uma espiritualidade muito ampla, e isso foi muito importante. Ela mostrou muito para a gente, por isso que chamou muita atenção. A partir do momento que a gente pergunta para ela sobre o que é mais importante, a gente achava que ela falaria a música e a família, mas ela falou da fé. Então, isso é de fato latente para a gente. E tem essa questão do olhar do Maranhão da Alcione, a partir dela a gente pôde descortinar determinados aspectos do Maranhão que não foram contados ainda na avenida. Então, a maneira como o carnaval do Maranhão se dá, como as escolas de samba do Maranhão que quase não são faladas, a relação com as festas regionais, a importância de fato do boi, entendendo todas as especificidades desse boi, seus sons, seus sotaques”, falou Guilherme.
Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira
Sobre as conversas com Alcione para explicação do enredo, Guilherme e Annik afirmaram que a artista não fez nenhum tipo de exigência. Os carnavalescos preferiram não revelar em que ponto Alcione virá no desfile da Mangueira, mas confirmaram que muitos outros artistas amigos da cantora e parentes virão ao longo do cortejo da escola:
“A única coisa que ela pediu foi que o pai dela fosse reconhecido como João Carlos. Porque a gente colocava até então só João. O pai dela tem um protagonismo muito grande. Eu acho que não teve nada muito específico, porque de alguma maneira ela foi conduzindo tudo aquilo. Ela foi mostrando a importância da família dela. Eu acho que a única coisa que ela sempre fala nas entrevistas dela não pode faltar a Mangueira, e não vai faltar, porque de fato ela e Mangueira hoje são uma coisa só. Mas foi só isso, ela não fez grandes exigências. Onde ela virá no desfile é surpresa. Vem amigos dela espalhados pelo desfile, a ideia é que essas pessoas que foram importantes para a vida delas também estejam marcadas nesses momentos no desfile. Vem gente do Maranhão, vem gente da música de uma maneira geral, vem a família dela, só que eles vão estar espalhados por esses momentos do desfile, então para além de terem convidados, eles são também integrantes de alguma maneira dessa contação da história”, disseram Annik e Guilherme.
A dupla se mostrou muito apegada a todos os setores de seu desfile ao conversar com a nossa reportagem, mas ambos revelaram um momento específico em que apostam muito. Além disso, disseram que irão trazer uma alegoria bem diferenciada para o desfile da Mangueira:
“Eu acho que a abertura da Mangueira é muito forte. A gente tem, de alguma maneira, um resumo de um pouco da história e, de alguma outra maneira, um lado da Alcione que é pouco difundido. Então, a gente aposta muito. Eu acho que toda entrada é importante, mas esse ano em especial vai ser muito importante por isso, porque eu acho que reúne uma série de elementos fortes da vida da Alcione, que emocionam ela própria, e eu acho que também buscam emocionar o público”, revelou Guilherme.
“Eu também aposto na entrada, a gente está com uma entrada muito forte. A gente vai trabalhar com a emoção. Mas eu acho que o setor também que a gente fala da musicalidade é um setor que o público vai identificar de imediato por conhecer as músicas. Ela está cantando e retomando várias. E eu acho que a gente está com umas alas muito bonitas. A gente fez um trabalho muito bacana esse ano, de novidade, de trabalho de pesquisa para a gente levar um figurino bem diferenciado. Tem um setor que a gente virá com alas bem fortes e alegoria também, que a gente vem trabalhando um momento diferente, um tipo de carro diferente para a Mangueira, então acho que são esses dois momentos, a abertura e esse setor também”, apostou Annik.
Os carnavalescos da Mangueira se destacaram no grupo de acesso levando temas de grande importância social e de muita representatividade negra e feminina. E isso se perpetua na verde e rosa. Estevão disse que enxerga muitas similaridades no enredo sobre Alcione com outros enredos desenvolvidos por ele e por Annik:
“Eu acho que acaba que o enredo da Alcione tem um pouquinho de quase tudo que ela fez antes, por exemplo, no Porto da Pedra. É mais um enredo feminino. É um enredo de uma mulher negra. E eu acho que isso também tem muito a ver comigo no Império da Tijuca. Eu fiz um enredo sobre educação, Alcione era professora. Eu fiz um enredo sobre resistência a partir do quilombo e eu acho que Alcione é isso. Quando ela passa a militar também pela importância da musicalidade brasileira, representa isso. Acaba que tudo vai se conectando, assim como se conecta também com o enredo do ano passado da Bahia. Desde que a gente chegou na Mangueira, a gente tem um olhar que é muito bacana sobre esse protagonismo feminino em diversos aspectos dentro da escola. Porque eu acho que é um momento que a Mangueira vive também. Um outro olhar sobre a importância dessas mulheres, porque é uma escola essencialmente feminina, só que hoje essas mulheres estão exercendo funções de poder, funções de relevância e numa escola que foi construída na base dessas mulheres. A gente está falando de Zica, de Nema, hoje a gente tem Guanaíra, a gente tem Annik, a gente tem Bisteka, a gente tem Sthefanye, tem tantas mulheres que estão nesse momento, de fato, dando coordenadas para a Mangueira. Acho que o enredo da Alcione, de alguma maneira, se aproxima nisso. Mas a gente tenta, a cada enredo, estar buscando um olhar diferente do nosso próprio trabalho, para mostrar essa pluralidade que a gente é capaz de desenvolver, mas tendo sempre, de alguma maneira, um núcleo afetivo que se encontra naqueles enredos”, falou Guilherme.
Embora estejam juntos há apenas dois anos, o convívio intenso e diário para o desenvolvimento dos carnavais já fizeram com que Annik e Guilherme se conhecessem muito bem. Os dois revelaram o que consideram como principal característica de seu parceiro de trabalho:
“Em primeiro lugar é a paciência dela. Ela tem muito mais paciência do que eu. E isso é importante, porque é o que vai equilibrando a gente. Mas eu acho que esteticamente a Annik é uma carnavalesca que tem uma noção de volume visual muito bom e muito forte. Isso marca na característica dela. Ela é bem mais volumosa. Nesses dois anos, a gente está sempre buscando equilibrar isso. E isso é muito gostoso, porque a gente cria a quatro mãos, de fato. Também tem sempre um pensamento de que o que está sendo criado está sendo pensando com a cabeça do outro também, tentando agradar pelo que você já conhece do outro. Isso é muito bacana, porque a gente sempre fala que a ideia aqui não é algo ter a cara do Guilherme e outra coisa ter a cara da Annik. Tem que ter a cara dos dois. Eu acho que isso é muito bacana, porque já mudou muito do meu próprio jeito de fazer carnaval, essa noção do volume visual e de como aquilo vai se manifestar na avenida é importante porque, de fato, uma escola volumosa é uma escola volumosa. Às vezes, você pode ter a melhor costura, o melhor babado, mas se aquilo ficar minguado na avenida, aquilo não funciona e eu acho que isso é muito bacana e desafiador”, disse Estevão.
“Ele é um gênio. Eu aprendo com ele diariamente, porque o Guilherme estuda e tem uma memória absurda. Às vezes eu não lembro nem dos meus trabalhos. Ele chega e fala que tal trabalho fui eu quem fiz lá na Tijuca e eu não lembrava. Ele lembra de detalhes, ele lembra de vários carnavais antigos. Às vezes, eu chego para ele e falo que estou com uma ideia de enredo. Ele lembra que já foi feito no carnaval tal, na escola tal. Acho que o ponto alto do Guilherme é isso. E fala muito bem, se expressa muito bem. É um artista incrível, completo. Eu sou muito feliz de estar trabalhando com ele, porque eu aprendo diariamente a fazer carnaval, por a gente construir junto. A gente brinca aqui que ele é o nosso Laíla. Porque ele tem isso de dominar, de querer decidir. Quando a gente fala de um líder, ele não se transforma em líder, já nasce líder. E isso o Guilherme é, ele tem essa liderança. Eu já trabalhei com Laila e eu vejo ele um futuro Laila. A gente vai nos ensaios de rua e ele quer ver se a harmonia está errada, se alguma ala não está cantando, e ele vai lá e se mete. Eu não tenho essa atitude, de fazer aquilo. Às vezes, estou olhando e percebo que não está cantando direito, e quando eu vejo ele está lá no meio da ala, gritando para cantar. A gente está em uma reunião, ele bate a mão na mesa, decide quando a reunião começa, decide quando a reunião termina. Isso é muito bacana, isso é dele. É legal trabalhar com gente assim, porque a gente divide as coisas. Realmente, você não fica sobrecarregado, porque ser carnavalesco sozinho já é uma escolha imensa, imagine no Grupo Especial e na Mangueira, com várias coisas pra você definir sobre material de fantasia e de alegoria, as demandas imensas de barracão, falar com a galera da comissão de frente, falar com funcionários, decidir orçamento para não estourar o que a escola tem. Ter essa dupla para a gente poder dividir isso é maravilhoso”, falou Annik.
A Mangueira trouxe uma nova dupla para trabalhar na comissão de frente em 2024, Lucas e Karina. O carnavalesco Guilherme lembrou já ter trabalhado com ele no Império da Tijuca, enquanto Annik está conhecendo os dois para este carnaval. Ambos rasgaram elogios aos coreógrafos:
“É bom você ter um coreógrafo que de fato é atuante, e que está querendo trabalhar com você, que está querendo ouvir as pessoas, que está querendo negociar e que quer estar ali para fazer o melhor o tempo inteiro. E que estuda junto. Esse ano eu no Especial estou conhecendo mais a Karina, mas eu já trabalhei dois anos com o Lucas, que facilitava muito a vida. Annik que está tendo a experiência com os dois ao mesmo tempo. Então, isso também, de alguma maneira, facilita muito o trabalho, porque já tem uma proximidade, já tem uma relação intensa. Mas eles são coreógrafos que se dedicam muito, que estão aqui no barracão todo santo dia, que estão perguntando. A gente até brinca e diz que é melhor pecar pelo excesso do que pecar pela falta. E é muito bom isso. Acho que o reflexo disso vocês vão ver na avenida. Porque, de fato, como eu falei lá no início que eu aposto na entrada, porque isso é um dos aspectos. Eu acho que a entrada da Mangueira pela comissão de frente tem tudo pra ser muito bacana. É uma relação que se constrói também de amizade. É bom você ser amigo dos seus coreógrafos, porque você consegue caminhar da melhor maneira possível”, disse Guilherme.
Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira
“Eu conheci o Lucas em 2010. Ele era componente da Priscila e do Rodrigo, eu estava na Tijuca com o Paulo. Ele tinha aquele jeito brincalhão, mas eu não tinha muita proximidade. Nunca tinha trabalhado junto e ele ainda era um componente de comissão de frente. E agora esse ano, de fato, poder trabalhar junto e ver ele liderando junto com Karina, com a responsabilidade que eles têm, com a liderança que os dois têm, de vir com ideias e comprar nossas ideias também, e a gente dividir esse processo criativo. E a maneira que eles executam está muito legal. Eu acho que tem tudo para ser um sucesso. E eles estão virados, porque o ensaio da comissão é de madrugada, e sempre durante o dia tem um dos dois aqui para ver como está sendo o processo do tripé, para alguma dúvida durante o dia mesmo, que é quando os profissionais estão trabalhando. Às vezes, estão os dois acabados aqui, porque estavam uma madrugada inteira ensaiando, mas estão no dia seguinte para dividir com a gente certas coisas. Isso é muito legal, é muito bom trabalhar com isso, porque você tem confiança. E eu acho que quando a gente tem confiança naquele profissional, que representa um quesito muito forte, que é a comissão de frente, já é meio caminho andado”, falou Annik.
Muito se diz que o carnaval passa por um momento artístico diferente, por conta de uma mudança no estilo dos enredos desenvolvidos, com maior grau de aprofundamento em suas pesquisas e defesas. A dupla de carnavalescos da Mangueira concordou com tal análise, mas lembrou que se trata de um espetáculo popular:
“Eu acho que é importante a gente ressaltar como a mudança do olhar para o enredo influenciou o carnaval todo. Não é à toa que hoje o quesito é o segundo que mais despontua, porque também acho que é uma cobrança do júri para esse sentido. Porque não é apenas você eleger temas, ou você escolher determinados aspectos a serem estudados. Você tem que ter coerência e coesão na maneira como você está conduzindo isso tudo. Obviamente que tem uma discussão de excesso de academicismo ou não, e eu acho que o papel de nós carnavalescos é conseguir equilibrar um tema que de fato vai despertar o interesse nas pessoas. Porque eu acredito que a escola de samba é extremamente pedagógica sim, as pessoas aprendem com escola de samba. Trazer elementos que vão agregar valor ao saber dessas pessoas é muito importante, mas a gente também tem que entender de que maneira vai conseguir transmitir esse conteúdo, porque é um olhar para o jurado, mas também é um olhar para o público. A gente não pode esquecer que a estamos em uma competição tem que agradar o júri, mas a gente também não pode esquecer que a somos parte de um instrumento cultural popular que é a escola de samba. A escolha dos temas é uma maneira de alavancar a qualidade do espetáculo. Eu acho que esse ano a gente tem uma safra de enredos muito bacanas. Querendo ou não, o enredo é também uma maneira que nos alavancou como artista, tanto a Annik quanto a mim, por sermos artistas que de fato pensamos em enredos nessa pegada de aprofundar, de trazer conteúdos bacanas e de tentar contar essa história de uma maneira clara para as pessoas. Tenho certeza que isso é um novo momento para o carnaval e que seja um momento eterno, porque a tendência é sempre aperfeiçoar tudo isso”, refletiu Guilherme.
“Eu acho que o desafio maior nosso como artista é pegar esses enredos mais explorados, mais estudados, e transformar isso em visual, que é o que aproxima a gente do público. É aquela identificação imediata, você estar vendo uma fantasia, você estar vendo uma alegoria, e você entender. O público que não tem o livro “Abre-Alas” para ler e saber o que é cada coisa, ele entender o que aquela ala representa, porque ela está passando dentro do enredo, o que aquela alegoria significa. Isso é o maior desafio para a gente como artista. É a gente conseguir ser transparente. Fazer com que a galera entenda, sem estar ali com o livro na mão”, completou Annik.
Conheça o desfile da Mangueira
A Estação Primeira de Mangueira vem para o carnaval de 2024 com 3.500 componentes divididos em 27 alas. Serão cinco carros alegóricos, um pede passagem e um tripé ao longo do desfile. O carro abre-alas será acoplado. A comissão de frente terá um elemento cenográfico. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon detalharam o que será abordado em cada setor:
Setor 1: “A gente começa primeiro a entender que o enredo é conduzido por esse amanhã da Alcione, a construção disso e como ela vai influenciar, principalmente, a Mangueira do Amanhã de tantos outros sambistas. Então, a gente parte entendendo principalmente aquilo que ela considera como o primordial da vida dela, que é a sua fé. Como a sua fé influencia esse amanhã, entendendo que a fé da Alcione é uma fé múltipla, é uma fé em vários santos, entidades, amigos, instituições. A fé que ela tem é a fé nas forças do bem. Então, o primeiro setor da Mangueira é essa fé que conduz esse amanhã dela”.
Setor 2: “A gente vai para o segundo momento que mostra o que forma a Alcione uma artista popular. Então, é a cultura do seu Maranhão, a cultura da sua terra natal, que a molda como uma artista popular, a partir dessas vivências que ela teve desde sua infância e adolescência. Então, é essa condução do amanhã a partir da cultura popular da sua terra natal”.
Setor 3: “O terceiro momento que a gente apresenta são essas travessias que a Alcione faz para iniciar um processo de ser uma cantora, iniciar um processo de construir esse amanhã de sucesso, que está diretamente ligada a essa trajetória dela de sair do Maranhão e vir para o Rio de Janeiro. Entendendo que é uma jovem negra nordestina que vem para tentar sucesso na música e que tem um repertório inicialmente muito moldado pela musicalidade negra. Então, são nessas travessias que ela faz para construir o seu amanhã que ela se torna a nova voz do samba, ela se torna a primeira mulher negra a ser gravada como cantora”.
Setor 4: “O quarto momento que a gente traz é essa construção de amanhã de sucesso da Alcione como cantora, entendendo que o repertório e esse amanhã de sucessos dela se divide em dois momentos. Um primeiro momento é quando ela se consolida como uma voz do samba e ela canta samba de inúmeros subgêneros, o samba-canção, o samba de roda, o samba de fato. E depois tem o momento da carreira quando ela passa a apresentar o programa Alerta Geral, que é o momento em que ela se torna uma militante dentro da música e em diversos outros aspectos. Mas principalmente pela valorização da cultura popular brasileira. Então, é a partir desse momento que ela passa a pautar outras bandeiras dentro da sua musicalidade, como a questão do regionalismo, como a questão da própria ancestralidade dela e principalmente a pauta feminina. É a Alcione que passa a ser um reflexo da alma feminina brasileira a partir da sua voz. E ela, de alguma maneira, passa a ser a influência para tantas outras vozes femininas, para tantos outros amanhãs femininos da música.
Setor 5: “A gente encerra mostrando como a Alcione, que construiu esse amanhã dela de sucesso a partir de tudo isso, vai influenciar o amanhã de tanta gente dentro da Mangueira. Entendendo que o amor pela Mangueira para ela é um amor que começa ainda na infância dela lá no Maranhão, e que se torna de fato um destino para ela. Ela vem para o Rio de Janeiro para além de querer ser cantora, para ela encontrar essa escola de samba. E nessa escola de samba, ela entende que tem que ser mais do que uma cantora, ela precisa ser alguém que possa de fato ajudar essa escola, que vai atuar de fato nessa escola. E aí em 87 ela cria a Mangueira do Amanhã, e a partir disso ela de fato consegue consolidar aquilo que ela cantou durante a vida inteira, que é não deixar o samba morrer, é perpetuar essa memória da Estação Primeira, perpetuar essa memória de samba, e aí ser coroada uma das rainhas do samba”.