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Série Barracões: Mangueira contará a história de Alcione, mostrando sua representatividade feminina negra e seu papel social

A Estação Primeira de Mangueira terá a dupla de carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon pelo segundo ano consecutivo. Após se destacarem nos carnavais da Série Ouro, com trabalhos no Império da Tijuca e no Porto da Pedra, respectivamente, ambos foram contratados para desenvolver o desfile do ano passado da verde e rosa. Seguindo a linha de seus enredos, eles apostaram novamente na temática negra e feminina ao levar “As Áfricas que a Bahia Canta”, mostrando a musicalidade e a cultura carnavalesca da Bahia influenciada pela africanidade. Contando com um grande samba, a escola fez um bom desfile e garantiu uma vaga no desfile das campeãs com o quinto lugar. Entretanto, algumas críticas foram feitas ao trabalho plástico da dupla, no sentido em que a agremiação exige o melhor de seus artistas. Para elevar ainda mais o nível, os dois apostaram alto em uma homenagem para Alcione, uma das maiores cantoras da música brasileira e ilustre mangueirense, com diversos serviços prestados para a escola. Mas se engana quem pensa que o enredo será uma simples sucessão de fatos históricos de forma cronológica. Os carnavalescos seguirão dando ênfase ao que norteia seus trabalhos: O aspecto social e a representatividade preta e feminina, traduzidos com maestria por Alcione em sua vida e carreira. Além disso, a fé da artista estará muito presente, não apenas na religião, mas também na família, nos amigos, nas instituições e nas forças do bem.

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Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira

Para continuar a série de barracões do Grupo Especial para o carnaval 2024, o site CARNAVALESCO entrevistou Guilherme e Annik, que explicaram como nasceu a ideia de levar para a avenida esta homenagem para Alcione:

“Essa ideia de falar da Alcione, acho que qualquer um tem essa vontade. Quando a gente veio para a Mangueira, eu e Guilherme, cada um já tinha um enredo, então a gente juntou e fez o enredo passado. Mas a gente já conversava sobre o enredo da Alcione, de falar da Alcione em algum momento. E a presidente também tinha essa vontade, várias outras pessoas da Mangueira também sempre falavam, os torcedores da Mangueira pediam para o enredo ser Alcione. Mas no final do carnaval passado, quando pintaram o Negro Muro perto da quadra, foi um dia a gente foi gravar. Estava eu, Guilherme e a Sthefanye, a nossa pesquisadora, e quando a gente se deparou com aquela pintura com várias imagens da vida da Alcione, a gente se olhou e foi como se fosse um sinal para que o próximo ano teria que ser o enredo da Alcione. Aí a gente começa a pesquisar, começa a estudar 50 anos da Alcione, e começa a busca para que seja esse enredo. Então, quando a gente renova na Mangueira, que a gente vai sentar com a presidente, com a Guanaíra, e conversa com ela, ela já pergunta, vocês têm enredo? A gente já falou que sim, sobre a Alcione. Ela disse que era esse o momento e fechamos. Foi muito rápido para a gente fechar essa escolha aqui com ela sobre a Alcione. E a gente vai até a casa da Alcione conversar com ela para saber se, de fato, ela ia aceitar ser enredo, ser homenageada. Porque ela tinha essa questão. Vai que ela não aceita. A gente foi com aquele clima meio tenso. Pensando se ela iria aceitar ou não, mas ela aceitou numa boa, ficou super feliz, ficou muito lisonjeada. Até pouco tempo ela falava que ainda não tinha caído a ficha. Ela acha a Mangueira muito maior do que ela, Eu acho que não tem essa questão de tamanho, de proporção, de grandiosidade, porque a Alcione é um monstro. Ela é enorme, ela é a Mangueira. Ela mesmo fala que o sangue é verde e rosa. Foi muito feliz a gente ter decidido que seria esse enredo para esse ano, e está com uma aceitação grande”, disse Annik.

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Por ser um grande ícone da música popular brasileira, muitos aspectos da vida de Alcione já são de conhecimento público. Porém, os carnavalescos da Mangueira afirmaram ter se surpreendido com várias histórias da cantora que serão abordadas no desfile da escola:

“Eu acho que o mais imediato foi entender a atuação da Alcione em Mangueira. A gente sabia que ela fundou a Mangueira do Amanhã, a relação que ela tinha com a escola, mas, por exemplo, a gente não sabia que ela organizava as festas de debutantes do morro, que abastecia os feirantes do morro para eles conseguirem gerar sustento. Que várias das crianças foram pela primeira vez no fast food por conta da Alcione, que ela trazia ônibus e levava essas crianças para casa dela, e fazia comida para elas, a famosa farofa de Neston dela. Ela levava muito dessas crianças para os shows dela. E aí tem uma relação que é muito íntima com várias pessoas aqui da escola. A cada momento que você conversa com as pessoas, você vai descobrindo olhares de Alcione diferentes e isso não está na biografia que possam escrever dela ou na entrevista que fazem na TV, está na vivência do mangueirense. É uma relação muito diferente de homenageado porque está ali no seio deles e que de fato convive com aquela comunidade. A Alcione ia para o morro brigar com quem estava deixando o filho não ir para a escola. Ela ia brigar com o pai para puxar a orelha dos meninos e fazer de fato eles se estimularem a estudar, senão eles não desfilavam. Ela tinha uma relação de madrinha. Muita gente chama ela de madrinha, e de alguns ela é madrinha de fato, de ir nos batismos dessas crianças. Tem um aspecto ligado à própria relação da Alcione com a sua ancestralidade, com a sua própria negritude. A Alcione fez uma viagem para a África e lá entende ver aquele povo como se fosse o povo do Maranhão. E aí ela se de alguma maneira olha para a sua própria origem e se reafirma como uma mulher negra, vai influenciar a própria maneira de vestir, de usar os seus cabelos. A Alcione foi um ícone de moda também. Olhar esses 50 anos de carreira é olhar diversas faces de Alcione e entender para além do morcegão, da loba, do faz uma loucura por mim. É entender essa Alcione dos anos 70, dos anos 80, dos anos 90, que são várias faces. Essa própria questão da religiosidade da Alcione, todo mundo sabe que ela é católica, ela tem a relação dela com catolicismo, mas ela tem uma espiritualidade muito ampla, e isso foi muito importante. Ela mostrou muito para a gente, por isso que chamou muita atenção. A partir do momento que a gente pergunta para ela sobre o que é mais importante, a gente achava que ela falaria a música e a família, mas ela falou da fé. Então, isso é de fato latente para a gente. E tem essa questão do olhar do Maranhão da Alcione, a partir dela a gente pôde descortinar determinados aspectos do Maranhão que não foram contados ainda na avenida. Então, a maneira como o carnaval do Maranhão se dá, como as escolas de samba do Maranhão que quase não são faladas, a relação com as festas regionais, a importância de fato do boi, entendendo todas as especificidades desse boi, seus sons, seus sotaques”, falou Guilherme.

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Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira

Sobre as conversas com Alcione para explicação do enredo, Guilherme e Annik afirmaram que a artista não fez nenhum tipo de exigência. Os carnavalescos preferiram não revelar em que ponto Alcione virá no desfile da Mangueira, mas confirmaram que muitos outros artistas amigos da cantora e parentes virão ao longo do cortejo da escola:

“A única coisa que ela pediu foi que o pai dela fosse reconhecido como João Carlos. Porque a gente colocava até então só João. O pai dela tem um protagonismo muito grande. Eu acho que não teve nada muito específico, porque de alguma maneira ela foi conduzindo tudo aquilo. Ela foi mostrando a importância da família dela. Eu acho que a única coisa que ela sempre fala nas entrevistas dela não pode faltar a Mangueira, e não vai faltar, porque de fato ela e Mangueira hoje são uma coisa só. Mas foi só isso, ela não fez grandes exigências. Onde ela virá no desfile é surpresa. Vem amigos dela espalhados pelo desfile, a ideia é que essas pessoas que foram importantes para a vida delas também estejam marcadas nesses momentos no desfile. Vem gente do Maranhão, vem gente da música de uma maneira geral, vem a família dela, só que eles vão estar espalhados por esses momentos do desfile, então para além de terem convidados, eles são também integrantes de alguma maneira dessa contação da história”, disseram Annik e Guilherme.

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A dupla se mostrou muito apegada a todos os setores de seu desfile ao conversar com a nossa reportagem, mas ambos revelaram um momento específico em que apostam muito. Além disso, disseram que irão trazer uma alegoria bem diferenciada para o desfile da Mangueira:

“Eu acho que a abertura da Mangueira é muito forte. A gente tem, de alguma maneira, um resumo de um pouco da história e, de alguma outra maneira, um lado da Alcione que é pouco difundido. Então, a gente aposta muito. Eu acho que toda entrada é importante, mas esse ano em especial vai ser muito importante por isso, porque eu acho que reúne uma série de elementos fortes da vida da Alcione, que emocionam ela própria, e eu acho que também buscam emocionar o público”, revelou Guilherme.

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“Eu também aposto na entrada, a gente está com uma entrada muito forte. A gente vai trabalhar com a emoção. Mas eu acho que o setor também que a gente fala da musicalidade é um setor que o público vai identificar de imediato por conhecer as músicas. Ela está cantando e retomando várias. E eu acho que a gente está com umas alas muito bonitas. A gente fez um trabalho muito bacana esse ano, de novidade, de trabalho de pesquisa para a gente levar um figurino bem diferenciado. Tem um setor que a gente virá com alas bem fortes e alegoria também, que a gente vem trabalhando um momento diferente, um tipo de carro diferente para a Mangueira, então acho que são esses dois momentos, a abertura e esse setor também”, apostou Annik.

Os carnavalescos da Mangueira se destacaram no grupo de acesso levando temas de grande importância social e de muita representatividade negra e feminina. E isso se perpetua na verde e rosa. Estevão disse que enxerga muitas similaridades no enredo sobre Alcione com outros enredos desenvolvidos por ele e por Annik:

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“Eu acho que acaba que o enredo da Alcione tem um pouquinho de quase tudo que ela fez antes, por exemplo, no Porto da Pedra. É mais um enredo feminino. É um enredo de uma mulher negra. E eu acho que isso também tem muito a ver comigo no Império da Tijuca. Eu fiz um enredo sobre educação, Alcione era professora. Eu fiz um enredo sobre resistência a partir do quilombo e eu acho que Alcione é isso. Quando ela passa a militar também pela importância da musicalidade brasileira, representa isso. Acaba que tudo vai se conectando, assim como se conecta também com o enredo do ano passado da Bahia. Desde que a gente chegou na Mangueira, a gente tem um olhar que é muito bacana sobre esse protagonismo feminino em diversos aspectos dentro da escola. Porque eu acho que é um momento que a Mangueira vive também. Um outro olhar sobre a importância dessas mulheres, porque é uma escola essencialmente feminina, só que hoje essas mulheres estão exercendo funções de poder, funções de relevância e numa escola que foi construída na base dessas mulheres. A gente está falando de Zica, de Nema, hoje a gente tem Guanaíra, a gente tem Annik, a gente tem Bisteka, a gente tem Sthefanye, tem tantas mulheres que estão nesse momento, de fato, dando coordenadas para a Mangueira. Acho que o enredo da Alcione, de alguma maneira, se aproxima nisso. Mas a gente tenta, a cada enredo, estar buscando um olhar diferente do nosso próprio trabalho, para mostrar essa pluralidade que a gente é capaz de desenvolver, mas tendo sempre, de alguma maneira, um núcleo afetivo que se encontra naqueles enredos”, falou Guilherme.

Embora estejam juntos há apenas dois anos, o convívio intenso e diário para o desenvolvimento dos carnavais já fizeram com que Annik e Guilherme se conhecessem muito bem. Os dois revelaram o que consideram como principal característica de seu parceiro de trabalho:

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“Em primeiro lugar é a paciência dela. Ela tem muito mais paciência do que eu. E isso é importante, porque é o que vai equilibrando a gente. Mas eu acho que esteticamente a Annik é uma carnavalesca que tem uma noção de volume visual muito bom e muito forte. Isso marca na característica dela. Ela é bem mais volumosa. Nesses dois anos, a gente está sempre buscando equilibrar isso. E isso é muito gostoso, porque a gente cria a quatro mãos, de fato. Também tem sempre um pensamento de que o que está sendo criado está sendo pensando com a cabeça do outro também, tentando agradar pelo que você já conhece do outro. Isso é muito bacana, porque a gente sempre fala que a ideia aqui não é algo ter a cara do Guilherme e outra coisa ter a cara da Annik. Tem que ter a cara dos dois. Eu acho que isso é muito bacana, porque já mudou muito do meu próprio jeito de fazer carnaval, essa noção do volume visual e de como aquilo vai se manifestar na avenida é importante porque, de fato, uma escola volumosa é uma escola volumosa. Às vezes, você pode ter a melhor costura, o melhor babado, mas se aquilo ficar minguado na avenida, aquilo não funciona e eu acho que isso é muito bacana e desafiador”, disse Estevão.

“Ele é um gênio. Eu aprendo com ele diariamente, porque o Guilherme estuda e tem uma memória absurda. Às vezes eu não lembro nem dos meus trabalhos. Ele chega e fala que tal trabalho fui eu quem fiz lá na Tijuca e eu não lembrava. Ele lembra de detalhes, ele lembra de vários carnavais antigos. Às vezes, eu chego para ele e falo que estou com uma ideia de enredo. Ele lembra que já foi feito no carnaval tal, na escola tal. Acho que o ponto alto do Guilherme é isso. E fala muito bem, se expressa muito bem. É um artista incrível, completo. Eu sou muito feliz de estar trabalhando com ele, porque eu aprendo diariamente a fazer carnaval, por a gente construir junto. A gente brinca aqui que ele é o nosso Laíla. Porque ele tem isso de dominar, de querer decidir. Quando a gente fala de um líder, ele não se transforma em líder, já nasce líder. E isso o Guilherme é, ele tem essa liderança. Eu já trabalhei com Laila e eu vejo ele um futuro Laila. A gente vai nos ensaios de rua e ele quer ver se a harmonia está errada, se alguma ala não está cantando, e ele vai lá e se mete. Eu não tenho essa atitude, de fazer aquilo. Às vezes, estou olhando e percebo que não está cantando direito, e quando eu vejo ele está lá no meio da ala, gritando para cantar. A gente está em uma reunião, ele bate a mão na mesa, decide quando a reunião começa, decide quando a reunião termina. Isso é muito bacana, isso é dele. É legal trabalhar com gente assim, porque a gente divide as coisas. Realmente, você não fica sobrecarregado, porque ser carnavalesco sozinho já é uma escolha imensa, imagine no Grupo Especial e na Mangueira, com várias coisas pra você definir sobre material de fantasia e de alegoria, as demandas imensas de barracão, falar com a galera da comissão de frente, falar com funcionários, decidir orçamento para não estourar o que a escola tem. Ter essa dupla para a gente poder dividir isso é maravilhoso”, falou Annik.

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A Mangueira trouxe uma nova dupla para trabalhar na comissão de frente em 2024, Lucas e Karina. O carnavalesco Guilherme lembrou já ter trabalhado com ele no Império da Tijuca, enquanto Annik está conhecendo os dois para este carnaval. Ambos rasgaram elogios aos coreógrafos:

“É bom você ter um coreógrafo que de fato é atuante, e que está querendo trabalhar com você, que está querendo ouvir as pessoas, que está querendo negociar e que quer estar ali para fazer o melhor o tempo inteiro. E que estuda junto. Esse ano eu no Especial estou conhecendo mais a Karina, mas eu já trabalhei dois anos com o Lucas, que facilitava muito a vida. Annik que está tendo a experiência com os dois ao mesmo tempo. Então, isso também, de alguma maneira, facilita muito o trabalho, porque já tem uma proximidade, já tem uma relação intensa. Mas eles são coreógrafos que se dedicam muito, que estão aqui no barracão todo santo dia, que estão perguntando. A gente até brinca e diz que é melhor pecar pelo excesso do que pecar pela falta. E é muito bom isso. Acho que o reflexo disso vocês vão ver na avenida. Porque, de fato, como eu falei lá no início que eu aposto na entrada, porque isso é um dos aspectos. Eu acho que a entrada da Mangueira pela comissão de frente tem tudo pra ser muito bacana. É uma relação que se constrói também de amizade. É bom você ser amigo dos seus coreógrafos, porque você consegue caminhar da melhor maneira possível”, disse Guilherme.

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Foto: JM Arruda/Divulgação Mangueira

“Eu conheci o Lucas em 2010. Ele era componente da Priscila e do Rodrigo, eu estava na Tijuca com o Paulo. Ele tinha aquele jeito brincalhão, mas eu não tinha muita proximidade. Nunca tinha trabalhado junto e ele ainda era um componente de comissão de frente. E agora esse ano, de fato, poder trabalhar junto e ver ele liderando junto com Karina, com a responsabilidade que eles têm, com a liderança que os dois têm, de vir com ideias e comprar nossas ideias também, e a gente dividir esse processo criativo. E a maneira que eles executam está muito legal. Eu acho que tem tudo para ser um sucesso. E eles estão virados, porque o ensaio da comissão é de madrugada, e sempre durante o dia tem um dos dois aqui para ver como está sendo o processo do tripé, para alguma dúvida durante o dia mesmo, que é quando os profissionais estão trabalhando. Às vezes, estão os dois acabados aqui, porque estavam uma madrugada inteira ensaiando, mas estão no dia seguinte para dividir com a gente certas coisas. Isso é muito legal, é muito bom trabalhar com isso, porque você tem confiança. E eu acho que quando a gente tem confiança naquele profissional, que representa um quesito muito forte, que é a comissão de frente, já é meio caminho andado”, falou Annik.

Muito se diz que o carnaval passa por um momento artístico diferente, por conta de uma mudança no estilo dos enredos desenvolvidos, com maior grau de aprofundamento em suas pesquisas e defesas. A dupla de carnavalescos da Mangueira concordou com tal análise, mas lembrou que se trata de um espetáculo popular:

“Eu acho que é importante a gente ressaltar como a mudança do olhar para o enredo influenciou o carnaval todo. Não é à toa que hoje o quesito é o segundo que mais despontua, porque também acho que é uma cobrança do júri para esse sentido. Porque não é apenas você eleger temas, ou você escolher determinados aspectos a serem estudados. Você tem que ter coerência e coesão na maneira como você está conduzindo isso tudo. Obviamente que tem uma discussão de excesso de academicismo ou não, e eu acho que o papel de nós carnavalescos é conseguir equilibrar um tema que de fato vai despertar o interesse nas pessoas. Porque eu acredito que a escola de samba é extremamente pedagógica sim, as pessoas aprendem com escola de samba. Trazer elementos que vão agregar valor ao saber dessas pessoas é muito importante, mas a gente também tem que entender de que maneira vai conseguir transmitir esse conteúdo, porque é um olhar para o jurado, mas também é um olhar para o público. A gente não pode esquecer que a estamos em uma competição tem que agradar o júri, mas a gente também não pode esquecer que a somos parte de um instrumento cultural popular que é a escola de samba. A escolha dos temas é uma maneira de alavancar a qualidade do espetáculo. Eu acho que esse ano a gente tem uma safra de enredos muito bacanas. Querendo ou não, o enredo é também uma maneira que nos alavancou como artista, tanto a Annik quanto a mim, por sermos artistas que de fato pensamos em enredos nessa pegada de aprofundar, de trazer conteúdos bacanas e de tentar contar essa história de uma maneira clara para as pessoas. Tenho certeza que isso é um novo momento para o carnaval e que seja um momento eterno, porque a tendência é sempre aperfeiçoar tudo isso”, refletiu Guilherme.

“Eu acho que o desafio maior nosso como artista é pegar esses enredos mais explorados, mais estudados, e transformar isso em visual, que é o que aproxima a gente do público. É aquela identificação imediata, você estar vendo uma fantasia, você estar vendo uma alegoria, e você entender. O público que não tem o livro “Abre-Alas” para ler e saber o que é cada coisa, ele entender o que aquela ala representa, porque ela está passando dentro do enredo, o que aquela alegoria significa. Isso é o maior desafio para a gente como artista. É a gente conseguir ser transparente. Fazer com que a galera entenda, sem estar ali com o livro na mão”, completou Annik.

Conheça o desfile da Mangueira

A Estação Primeira de Mangueira vem para o carnaval de 2024 com 3.500 componentes divididos em 27 alas. Serão cinco carros alegóricos, um pede passagem e um tripé ao longo do desfile. O carro abre-alas será acoplado. A comissão de frente terá um elemento cenográfico. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, os carnavalescos Guilherme Estevão e Annik Salmon detalharam o que será abordado em cada setor:

Setor 1: “A gente começa primeiro a entender que o enredo é conduzido por esse amanhã da Alcione, a construção disso e como ela vai influenciar, principalmente, a Mangueira do Amanhã de tantos outros sambistas. Então, a gente parte entendendo principalmente aquilo que ela considera como o primordial da vida dela, que é a sua fé. Como a sua fé influencia esse amanhã, entendendo que a fé da Alcione é uma fé múltipla, é uma fé em vários santos, entidades, amigos, instituições. A fé que ela tem é a fé nas forças do bem. Então, o primeiro setor da Mangueira é essa fé que conduz esse amanhã dela”.

Setor 2: “A gente vai para o segundo momento que mostra o que forma a Alcione uma artista popular. Então, é a cultura do seu Maranhão, a cultura da sua terra natal, que a molda como uma artista popular, a partir dessas vivências que ela teve desde sua infância e adolescência. Então, é essa condução do amanhã a partir da cultura popular da sua terra natal”.

Setor 3: “O terceiro momento que a gente apresenta são essas travessias que a Alcione faz para iniciar um processo de ser uma cantora, iniciar um processo de construir esse amanhã de sucesso, que está diretamente ligada a essa trajetória dela de sair do Maranhão e vir para o Rio de Janeiro. Entendendo que é uma jovem negra nordestina que vem para tentar sucesso na música e que tem um repertório inicialmente muito moldado pela musicalidade negra. Então, são nessas travessias que ela faz para construir o seu amanhã que ela se torna a nova voz do samba, ela se torna a primeira mulher negra a ser gravada como cantora”.

Setor 4: “O quarto momento que a gente traz é essa construção de amanhã de sucesso da Alcione como cantora, entendendo que o repertório e esse amanhã de sucessos dela se divide em dois momentos. Um primeiro momento é quando ela se consolida como uma voz do samba e ela canta samba de inúmeros subgêneros, o samba-canção, o samba de roda, o samba de fato. E depois tem o momento da carreira quando ela passa a apresentar o programa Alerta Geral, que é o momento em que ela se torna uma militante dentro da música e em diversos outros aspectos. Mas principalmente pela valorização da cultura popular brasileira. Então, é a partir desse momento que ela passa a pautar outras bandeiras dentro da sua musicalidade, como a questão do regionalismo, como a questão da própria ancestralidade dela e principalmente a pauta feminina. É a Alcione que passa a ser um reflexo da alma feminina brasileira a partir da sua voz. E ela, de alguma maneira, passa a ser a influência para tantas outras vozes femininas, para tantos outros amanhãs femininos da música.

Setor 5: “A gente encerra mostrando como a Alcione, que construiu esse amanhã dela de sucesso a partir de tudo isso, vai influenciar o amanhã de tanta gente dentro da Mangueira. Entendendo que o amor pela Mangueira para ela é um amor que começa ainda na infância dela lá no Maranhão, e que se torna de fato um destino para ela. Ela vem para o Rio de Janeiro para além de querer ser cantora, para ela encontrar essa escola de samba. E nessa escola de samba, ela entende que tem que ser mais do que uma cantora, ela precisa ser alguém que possa de fato ajudar essa escola, que vai atuar de fato nessa escola. E aí em 87 ela cria a Mangueira do Amanhã, e a partir disso ela de fato consegue consolidar aquilo que ela cantou durante a vida inteira, que é não deixar o samba morrer, é perpetuar essa memória da Estação Primeira, perpetuar essa memória de samba, e aí ser coroada uma das rainhas do samba”.

Primeira da Cidade Líder ‘brinca de carnaval’ em ensaio técnico

Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins

A Primeira da Cidade Líder realizou o seu ensaio técnico neste domingo. No treino, a escola da Zona Leste optou por brincar de carnaval. A separação das alas foi pouca, a bateria abriu para componentes passarem no meio. Ou seja, não houve evolução. A agremiação praticamente abdicou do treino. Em determinado momento, a bateria fez um apagão de aproximadamente 5 minutos todos pararam no mesmo lugar. Realmente utilizaram do calendário para descontrair. Isso também somou ao fato da forte chuva que caiu.

Somente para trás do carro de som, chegou a comissão de frente e o casal de mestre-sala e porta-bandeira com ala coreografada. Porém, o objetivo do ensaio foi sentir o clima do samba-enredo. Este foi o único ensaio da Primeira Líder, que irá levar para o Anhembi o enredo “Lá Vem Ela, A Majestade do Samba Portela”, assinado pelo carnavalesco Ewerton Visotto.

Comissão de frente

O grupo foi atrás de todas as alas e mostrou uma bela coreografia. Os integrantes dançavam no ritmo da letra do samba. Dentro da comissão, havia uma espécie de caixa grande. Dentro dela, saía uma bandeira da Cidade Líder e, após, uma criança. Suponha-se que o menino irá representar algo referente à Portela. Com essa coreografia, nitidamente dá para ver que o intuito da escola é arrancar aplausos do público. É uma agremiação que pensa além do desfile.

PrimeiraLider et 1

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Fabiano Dourando e Sandra de Jesus, também foram atrás de tudo. A dupla priorizou os giros horário e anti-horário. Mesmo assim, em uma formação mais cautelosa, visto que a pista estava encharcada devido à tempestade. A porta-bandeira até tirou o calçado para provavelmente se sentir mais à vontade.

PrimeiraLider et PrimeiroCasal

Harmonia

Falando sobre o canto da escola, esse sim está bastante forte. Não se sabe ao certo quantas alas existem, estavam todas juntas, mas os componentes gritam e cantam o samba de forma totalmente correta. Além disso, talvez, a questão de estar sem compromisso aumentou ainda mais a entonação dos desfilantes. Havia um clima de grande sorriso e descontração enquanto os componentes recitavam os versos da letra.

Evolução

Esse quesito não tem análise. Todas as alas estavam amontoadas, as alas das crianças abriram o desfile e a comissão de frente e casal foram atrás de tudo. A direção de harmonia não se preocupou com espaçamentos, buracos e nem nada do tipo. Tanto é que a bateria abriu para o povo passar no meio, o que é descontado décimos em um julgamento, pois caracteriza invasão de ala.

Samba-enredo

O intérprete Thiago Melodia cantou forte e entrou na onda da folia. É um samba-enredo que é fácil de pegar, especialmente o refrão principal. Foi isso que aconteceu, quando os componentes cantavam forte: “Deixa o povo cantar: Portela/A majestade do samba: É ela!”. Isso foi perceptível no ‘paradão’ de 5 minutos, dito acima.

Outros destaques

A bateria de mestre Ale executou bossas em um número considerável, com destaque para o longo apagão. A “Batucada de Primeira” mostrou uma ‘pegada’ para cima o tempo todo.

PrimeiraLider et InterpreteThiagoMelodia

A ala das baianas também chegou cantando o samba. Todas de branco e saiote, as mães do samba aparecerem sem os turbantes. Vale ressaltar que a agremiação é gerida pelos compositores gêmeos Rodrigo e Rodolffo, os Minuettos – renomados compositores do carnaval paulistano.

Comissão de frente e samba se destacam no divertido ensaio técnico da Pérola Negra

Por Lucas Sampaio e fotos de Fábio Martins

A Pérola Negra realizou seu ensaio técnico no Sambódromo do Anhembi em preparação para o carnaval de 2024. A impactante comissão de frente somada ao alegre samba se destacaram no bom treinamento da escola encerrado aos 55 minutos. A Jóia Rara será a quarta agremiação a se apresentar no dia 11 de fevereiro pelo Grupo de Acesso 1 com o enredo “Pérola Negra no encanto do balaio das quebradeiras”, assinado pelo carnavalesco André Marins.

A escola da Vila Madalena levará ao Anhembi uma história de mulheres que batalham diariamente para manter suas tradições, mas quer fazer isso de maneira irreverente, exaltando o orgulho que as quebradeiras tem de trabalhar com o coco babaçu. O ensaio provou que a Pérola Negra está no caminho certo ao cumprir o planejamento dentro do esperado mesmo com a chuva inicial que ousou tentar atrapalhar, gerando expectativas otimistas para o desempenho da agremiação no desfile oficial.

Comissão de frente

A comissão de frente da Pérola Negra realizou uma apresentação em dois atos marcados pelas passagens do samba. Contando com um grande elemento alegórico, o segmento foi dividido em três agrupamentos, com dois deles se destacando. Nos principais, quatro mulheres que interagem com a cenografia são observadas por três homens que conspiram algo contra elas e as tiram da alegoria na primeira parte, retomando o controle da situação no ato final.

PerolaNegra et Comissao

A atuação, em especial dos dois grupos principais foi marcada principalmente pela expressividade dos dançarinos, realizando uma apresentação dramática de início, mas finalizando a com irreverência das mulheres vencedoras. Uma coreografia agradável e que gera curiosidade para conhecê-la no dia do desfile oficial.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal da Pérola Negra formado por Kadu Andrade e Camila Moreira foram capazes de manter o bom astral que a comissão de frente deixou na pista. Com coreografias no ritmo do samba atreladas à dança tradicional do quesito, a dupla conseguiu cumprir os requisitos com graça e irreverência mesmo com a chuva que caiu ao longo do ensaio de todas as escolas, contribuindo para a sinergia de todos os elementos que tornaram o ensaio da escola tão agradável de se acompanhar.

PerolaNegra et PrimeiroCasal

Harmonia

A irreverência com a qual o samba da Pérola Negra aborda o enredo contribuiu para que o canto da comunidade se faça presente ao longo de todo o treinamento. O refrão do meio da obra, que possui versos agradáveis à audição acima da média, foi entoado com força a cada passagem, sendo capaz de conduzir a apresentação dos desfilantes sem maiores dificuldades como foi observado em agrupamentos como a ala “Fênix”.

Evolução

Outro quesito seguro da Pérola Negra, a evolução de todos os elementos da escola ocorreu com tranquilidade ao longo de todo o ensaio. As alas estavam compactas e o cortejo fluiu com leveza, fechando os portões tranquilamente dentro do tempo limite previsto no regulamento.

Samba-enredo

A Pérola Negra conta com trunfos importantes no segmento musical. O divertido samba em homenagem às quebradeiras de coco babaçu foi defendido de maneira irretocável pelo consagrado intérprete Bruno Ribas, cuja irreverência se encaixa perfeitamente com a obra e permite a comunidade sentir o clima favorável para brincar o carnaval com leveza e descontração. A ala musical como um todo se destacou, como se o cantor carioca já estivesse há anos defendendo a escola da Vila Madalena.

Outros destaques

A bateria “Swing da Madá” teve grande desempenho ao marcar o samba dentro de sua proposta e inserindo bossas que engrandeceram o desempenho do samba, trazendo a comunidade para dentro do ritmo que a obra pede.

Com dança forte, comissão de frente é destaque de ensaio técnico da Unidos do Peruche

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Neste domingo, uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo realizou o único ensaio técnico para o carnaval 2024. Na passarela, a Unidos do Peruche defendeu o enredo “Da Cultura do Reino de Ifé, ao legado da Rainha Ronke”, desenvolvido pelo carnavalesco Mauro Xuxa. Na passarela, a agremiação contou com uma comissão de frente de destaque e alguns pontos de atenção para o desfile, que será o décimo primeiro (e último) do Grupo de Acesso II, na noite de 03 de fevereiro.

Comissão de frente

Destoando da maioria das coirmãs, a Filial do Samba não trouxe um tripé alegórico para interagir com os componentes – que executaram, ao longo de toda a apresentação, uma coreografia de bastante intensidade. Na dança, há um personagem principal (provavelmente Orunmila Ifá, citado no enredo), alguns componentes vestidos com saiotes azuis e brancos que o cortejam e outros com saiotes marrons – aparentemente fazendo alusão ao reino de Ilê Ifé, tamnbém presente no samba. Sem erros dos componentes, a escola da Zona Norte começou de maneira bastante agradável a apresentação.

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Samba-enredo

Integrande de uma safra bastante elogiada do Grupo de Acesso II de 2024, a canção teve ótima condução por parte do carro de som comandado por Renan Bier e da Rolo Compressor, bateria capitaneada por mestre Marcel Bonfim – cria da casa que faz sua reestreia entre os ritmistas. Com força sobretudo nos refrões e no “Nigéria”, primeiro verso da canção, a obra e a ala musical tiveram destaque no ensaio técnico.

Evolução

Segunda escola a ensaiar neste domingo, a Peruche enfrentou períodos sem e com garoa – em poucos momentos, de fato, choveu. É importante destacar, porém, que, enquanto a verde e amarela estava na Concentração, caiu uma grande quantidade de água do céu. Os componentes, de fato, pareceram sentir o cansaço, evoluindo de maneira bem discrera. O ponto positivo no quesito foi o andamento da escola, bastante constante. Mais do que isso: o tempo entre a bateria entrar no recuo (com o abre-alas praticamente no final do box, em um movimento clássico) e os desfilantes voltarem a evoluir foi de cerca de 115 segundos – tempo bem adequado.

Harmonia

É certo que a cabeça da escola (no jargão jornalístico, o início) possui setores que, tradicionalmente, não têm no canto sua principal força e dever, mas os primeiros componentes da Filial do Samba, basicamente, não ajudavam a canção. O setor seguinte também tinha situação semelhante, embora o canto tenha passado a ser “apenas” irregular. Em um desfile que não foi marcado pela voz da escola, destacaram-se a ala de passistas após o tripé alegórico e o último agrupamento.

Peruche et InterpreteRenanBier

Mestre-sala e Porta-bandeira

Estreantes na Unidos do Peruche, Gabriel Vullen e Joice Prado estavam com roupas majoritariamente amarelas com detalhes em outras diversas cores, em uma cromia muito ligada à África. Mais do que isso: ambos eetavam com calçados visivelmente antiderrapantes, para impedir problemas com o piso molhado e possíveis intempéries climáticas. Na frente da Arquibancada Monumental, eles pouco giraram, provavelmente se poupando para o segundo módulo de jurados. Lá, o mestre-sala aparentou estar com movimentos pouco mais rápidos que os da porta-bandeira. Em outro momento, enquanto interagia com o público, o mestre-sala ficou de costas para o pavilhão – situação passível de penalização.

Peruche et PrimeiroCasal

Outros destaques

Quando a sirene para o início do desfile tocou, a “Rolo Compressor” ainda estava esquentando. Depois disso, ainda foram executados alguns alusivos. O resultado foi o atraso da escola tanto para entrar (cerca de nove minutos) quanto para encerrar o ensaio técnico (o evento foi encerrado com 58 minutos, e o tempo-limite para desfiles do Grupo de Acesso II são 55 minutos).

Peruche et MestreMarcel

A Rolo Compressor, por sinal, ajudou bastante a manter o canto da escola forte. Eram três pessoas na corte da bateria: Susana Oliveira (madrinha), Yasmin Lagatta (princesa) e Andreya Venâncio (rainha).

Comissão de frente dos Gaviões gera curiosidade e expectativa em ensaio técnico

Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins

Convidando todos a viajar para o futuro e para o espaço sideral, os Gaviões da Fiel encerraram a tarde/noite de ensaios técnicos neste domingo. O primeiro evento do tipo envolvendo a agremiação (o segundo [e último] será na quinta-feira, 25 de janeiro, aniversário da cidade de São Paulo) teve destaque para a comissão de frente, com elementos que tornam o enredo “Vou te Levar pro Infinito”, desenvolvido pelos carnavalescos Júlio Poloni, Ranyer Pereira e Rodrigo Meiners ainda mais esperado. A “Torcida Que Samba” será a quarta instituição a desfilar na segunda noite do Grupo Especial, 10 de fevereiro.

Comissão de frente

Um imenso tripe, que podia ser visto a metros de distância, chamou atenção de todos. Ao ser colocado para entrar na avenida, componentes vestidos de Super Homem e de Mulher Maravilha subiam na alegoria e executavam parte da coreografia (que não marca o samba, sendo independente) lá e parte no chão. Em dado momento, as Mulheres-Maravilha eram içadas em uma corda e se lançavam para frente, simulando um voo; em outro, eles se movimentavam tal qual robôs. Todas essas situações tornaram a passagem do segmento bastante interessante e cercando o quesito de expectativa. Vale destacar, também, que em momento algum foram notados erros em movimentos e coreografias.

GavioesDaFiel et Comissao

Mestre-sala e Porta-bandeira

Formado há cerca de quarenta e cinco dias, quando Carolline Barbosa substituiu Gabriela Mondjian, muitos não esperavam um alto rendimento do casal formado por ela e Wagner Lima. Eles, entretanto, superaram todas as expectativas. Enquanto o mestre-sala sambava bastante (mesmo com a pista molhada por conta das chuvas em escolas anteriores e, em alguns momentos, com garoa), Carol fazia giros no mesmo ritmo dos passos do parceiro, mostrando bastante entrosamento e sincronismo. No último módulo de julgamento, o casal fez giros mais longos, com três sequências distintas separadas por algum outro movimento – sem perder na conexão de um com o outro. Por fim, ambos fizeram o movimento sem gravidade, visto pela reportagem ainda nos tempos da antiga dupla, em que ambos se movimentam com muito menos rapidez.

Estreante na função, Carol deixou clara a empolgação com o que fez neste domingo: “Eu adorei o nosso desempenho, para mim foi incrível. Todo o processo está sendo muito incrível, com muitas descobertar dentro da dança e como casal. Tudo foi maravilhoso!”, comemorou. Mais experiente, Wagner tentou colocar os pés da dupla no chão: “Tudo para gente é novo. Sempre temos algumas coisas escondidas e outras que sempre podemos melhorar mais. A dança nunca vai estar perfeita para nós. Se chegarmos em 100%, vamos querer chegar a 110%”, ponderou.

GavioesDaFiel et PrimeiroCasal

Sobre a nova pista do Anhembi, Wagner fez elogios: “Do jeito que está, senti que essa é a pista mais segura dos últimos anos – e olha que eu saio desde 2015. Antes, eu sempre vinha com medo de cair e vim com sapato antiderrapante no ano passado – e, mesmo assim derrapava. Viemos com os tênis guardados e com o antiderrapante nesse ano, mas senti a pista segura. O tombamente que a pista passou a ter faz com que a água escoasse, não tem mais poças d’água. Mas, sem a torre, perdemos a nossa bússola. Se o apresentador não estiver atento, a gente já está em cima do jurado – antigamente, sabíamos onde eram as torres, agora, não temos mais isso”, alertou. Carol seguiu a mesma linha: “A pista não deixa o acúmulo de água nas laterais, e a questão da torre torna tudo muito diferente para a gente. Estamos nos adaptando e, agora, é só a questão da atenção para dar tudo certo”, finalizou.

Harmonia

Durante algum tempo, os Gaviões da Fiel se aproveitavam do embalo que sempre têm vindo das arquibancadas para cantar forte nos primeiros minutos do desfile; mas, assim que a empolgação passava, o canto da escola caía consideravelmente. Em 2023, tal situação teve uma nítida melhora; e, no ciclo de 2024, os Gaviões seguem melhorando. O canto, se não é fortíssimo, está de bom tamanho para um primeiro ensaio técnico. É importante destacar que, em boa parte das alas, há um integrante ou grupo de pessoas que não colabora com o samba-enredo – e, mesmo assim, os que fazem o próprio papel tornam o quesito forte. É possível destacar a ala 13 e o último setor como um todo como as que mais cantaram ao longo da exibição.

Lucas de Carvalho, um dos integrantes da Comissão de Harmonia da agremiação, destacou que o canto tende a melhorar: “O canto está bem legal, mas vai melhorar. Muitos não conseguiram comparecer porque teve o jogo. Muitos vieram correndo pra cá e muitos vão chegar para o próximo dia 25”, destacou, lembrando da partida do Corinthians válida pela primeira rodada do Campeonato Paulista, contra o Guarani, em jogo iniciado às 18h. Os Gaviões entraram na pista por volta das 21h, e o trajeto entre a Neo Química Arena e o Anhembi é longo – com mais de vinte quilômetros de extensão.

O diretor aproveitou para destacar que o fato da chuva basicamente não ter caído ao longo da apresentação colabotou: “Hoje não pegamos chuva, só no finalzinho. No contexto geral o ensaio foi muito bom. O pessoal cantou e a evolução foi boa. Claro que sempre tem aquela coisa que dá para ajustar. O próximo ensaio já é quinta-feira, a gente vai se reunir com a diretoria geral e analisar os vídeos”, destacou.

Samba-enredo

Longe de ser uma das mais elogiadas canções da safra do carnaval 2024, o samba-enredo dos Gaviões não deixou de ser cantado por boa parte da escola ao longo do ensaio técnico. Bem sustentado pela bateria Ritimão, comandada por Mestre Ciro Castilho, e pelo carro de som, capitaneada pelo histórico Ernesto Teixeira, também é importante pontuar os arranjos feitos por Rafa do Cavaco, diretor musical da agremiação, que deram brilho à obra e o tornaram mais bem aceito por componentes e torcedores. A passagem da escola, por exemplo, revelou a presença de um teclado no carro de som, algo que não é usual nos dias de hoje – e era bem comum entre as décadas de 1990 e 2000.

A explicação para o bom canto, na visão de Ernesto Teixeira, está no futebol: “Os Gaviões já têm tradição de pegar chuva em jogos do Corinthians: estamos acostumados a cantar quanto mais chover. E, hoje, não foi diferente. O pessoal cantou forte e firme. A chuva prejudica quando vem em muita intensidade, já que a cidade de São Paulo, assim como o mundo inteiro, sofre com alagamentos e etc, aí as pessoas não vem. Não foi o caso de hoje. O pessoal veio com muita garra, muita disposição. Estamos no caminho certo”, suspirou.

Das poucas escolas do Grupo Especial a ensaiar “apenas” duas vezes, o intérprete dos Gaviões desabafou: “Essa é uma questão complexa, é o meu ponto vista de anos: tínhamos uma casa própria, vendemos e estamos morando de aluguel. Isso coloca o samba nessa condição de ter menos espaço para ocupar o que é seu de direito. Deram essas duas datas para os Gaviões, que respeitamos, mas queríamos mais. Nessas datas, portanto, tiraremos o máximo”, disse, fazendo menção à privatização do Anhembi.

Evolução

Enquanto o casal de mestre-sala e porta-bandeira se apresentava no segundo módulo de jurados, a ala à frente não ficou parada, abrindo certo espaço da dupla. Mais do que isso: durante a exibição, a ala anterior também não parou, fazendo com que ela ficasse muito próximo de Wagner e Carol. Indicando que os Gaviões virão com muitos componentes, a agremiação buscou uma evolução constante para não ter problemas com o cronômetro, gerando tal ocorrência. Positivamente, vale destacar a boa entrada da bateria no recuo: em cerca de cento e dez segundos, a bateria entrou no box com o abre-alas pouco à frente do espaço e a ala 04, das Passistas Estrelas, chegou até o carro alegórico. Também é importante pontuar um movimento bastante simples e criativo: quando o samba canta “Delirei, sonhei com a grande explosão”, os cantores falam “Bum!” e toda a escola pula, gerando um efeito bastante interessante.

GavioesDaFiel et 16

Outros destaques

Ajudando bastante o trabalho da imprensa, os Gaviões sinalizaram carros e alas, com números e nomes. Os carros alegóricos, por sinal, contavam com diversos integrantes: o segundo continha o trio de crianças que aparece no clipe oficial da agremiação; enquanto o terceiro, cheio de componentes, eram abrilhantados pelo casal de mestre-sala e porta-bandeira mirim e pela Velha Guarda. À frente da bateria, “apenas” a Embaixadora do Samba.

GavioesDaFiel et MusaAnaPaulaMinerato

Sem grandes problemas com a água que caiu do céu, mestre Ciro Castilho, comandante da Ritimão, mostrou-se bem tranquilo em relação a eventuais problemas que a agremiação possa enfrentar por conta das condições climáticas: “Não sentimos tanta dificuldade quanto à afinação e o couro, não. Está vindo tudo muito bem preparado, com adesivos e plásticos. Quando íamos entrar, parou de chover; dez minutos depois, voltou. Atrapalha pelo pessoal ficar incomodado, mas, quando à questão sonora, todas as baterias estão preparadas para chuvas como as de hoje – não em relação aos dilúvios que têm dado. Em chuvas assim, dá para ir legal”, pontuou.

GavioesDaFiel et InterpreteErnesto

Ao contrário do intérprete, o mestre de bateria não liga muito para o número de ensaios técnicos no Anhembi diminutos em relação a outras escolas do Especial: “Não acho que ter dois ensaios prejudica porque temos uma avenida atrás da nossa quadra que fazemos alguns ensaios bem legais. É, praticamente, um Sambódromo fora do Anhembi. Tem espaço para recuo e dá para fazer toda a parte técnica lá”, finalizou ele, que comandará 230 ritmistas na avenida.

Comissão de frente e conjunto musical se destacam no primeiro ensaio técnico do Tucuruvi

Por Gustavo Lima e fotos de Fábio Martins

O Acadêmicos do Tucuruvi realizou na noite do último domingo o seu primeiro ensaio técnico visando o Carnaval 2024. O treino foi marcado pela forte presença da comissão de frente e conjunto musical. A escola da Cantareira apresentou uma coreografia complexa e com muita energia, além do criativo conjunto musical, liderado por mestre Serginho e pelo intérprete Hudson Luiz, que potencializaram ainda mais o grande samba do ‘Zaca’. A agremiação terá outro ensaio, no próximo domingo – O dia que será marcado pelo encerramento da temporada de ensaios técnicos. “Ifá” é o enredo do Tucuruvi para 2024, assinado pelos carnavalescos Dione Leite e Yago Duarte.

“É o primeiro ensaio técnico. Nós já estávamos fazendo outros ensaios técnicos na rua, mas agora chegar aqui no solo sagrado do Anhembi é para nós uma novidade do ano. Acho que a escola vem se preparando cada vez mais. Eu gostei, tem algumas coisas para ajustar, a gente vai voltar para casa agora, organizar os pensamentos e discutir o que será feito”, opinou o vice-presidente e diretor de carnaval Rodrigo Delduque.

Comissão de frente

Comandada por Renan Banov, ela mostrou uma extensa coreografia para apresentar o enredo. Apesar de ser bem complexa, a comissão contou muito bem o que é “Ifá”. A dança foi teatralizada por componentes onde a maioria usava saias laranjas. Esses dançarinos iam pelo chão, faziam danças afro e se jogavam no chão.

Como dito antes, a ala explica o tema. Isso se vê no tripé que a comissão levou. Não se sabe ao certo o significado do elemento alegórico, mas o fato é que ali estava Exú como figura principal com seu amigo Ifá, pois a coreografia terminava com o componente de Ifá no alto do tripé.

Tucuruvi et ComissaoFrente

Após, todos saudavam o público em cima do próprio elemento alegórico. Contudo, é uma comissão de frente muito complexa, precisa de uma consulta, mas de ‘bate-pronto’ já via Ifá lá dentro.

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal de mestre-sala e porta-bandeira, Luan Caliel e Beatriz Teixeira, executou o ensaio de forma satisfatória. O jovem mestre-sala com a experiente porta-bandeira conseguiu se safar da pista molhada e da garoa. A dupla priorizou a mescla entre coreografia dentro do samba e giros.

“Para mim está no caminho certo, mesmo com a chuva e o vento. A gente já esperava isso, ensaiamos na chuva, ensaiamos com o vento, ensaiamos no sol, então a gente vem ensaiando para tudo dar certo. Hoje foi uma continuação dos ensaios que a gente já estava tendo, e por enquanto está dando tudo certo. Graças a Deus o nosso jurado está caminhando, a gente está conseguindo respirar bem, conseguindo desempenhar o desenho da pista conforme a gente gostaria que ficasse”, disse a porta-bandeira.

Tucuruvi et PrimeiroCasal

“O ensaio técnico eu falo que é para nós entendermos primeiramente o andamento da escola, porque quando vem só eu e a Bia nós fazemos um trabalho com harmonia, mas nunca é como no dia. Nós temos mesmo que sentir a escola e ver se a coreografia do jurado está dentro do andamento da escola, se está correndo certo, e hoje pudemos ver que está dando tudo certo, graças a Deus. O andamento está praticamente muito perfeito junto com a nossa coreografia, só um detalhezinho que sempre tem que ter, então eu posso falar que foi muito produtivo hoje. Cumprimos todo o regulamento novo, que é o desenho de pista, a sonoridade, fazer pausas na dança. Eu acho que foi um ensaio muito produtivo tanto para nós quanto para a escola”, completou o mestre-sala.

Harmonia

O canto do Tucuruvi foi linear durante todo o ensaio. Muito se tinha dúvida de como o samba-enredo com palavras iorubás seguidas renderia no Anhembi – A comunidade do ‘Zaca’ deu o tom e mostrou que todos os componentes estão com a trilha-sonora na ponta da língua. Entretanto, faltou mais força e vigor no canto. A vibração aconteceu em momentos esporádicos, como na bossa dos últimos versos do “Respeite a minha ancestralidade” – Essa parte, antes e depois da paradinha, empolgou bastante os componentes.

O vice-presidente e diretor Rodrigo Delduque disse que vai analisar o desempenho da escola no quesito, pois o Tucuruvi terá outro ensaio. “Vamos voltar para casa e analisar alguns vídeos com a equipe toda do que cada viu de seu setor. Nunca estamos satisfeitos. Só ficaremos depois que Exú e Orunmilá nos presentear com o troféu”, disse.

Evolução

A pista molhada claramente prejudicou o andamento entre as alas. Os componentes se movimentavam de um lado para o outro, mas de uma forma menor. Não havia uma coreografia específica entre as alas, somente, novamente na bossa do “Respeite minha ancestralidade”, onde todos levantaram o punho até o ritmo da bateria voltar.

Tucuruvi et Baiana

Sambas-enredo

Se o samba é uma das sensações do carnaval, o intérprete Hudson Luiz vem fazendo o papel de defendê-lo muito bem. O cantor conduz um carro de som bem elaborado com vozes femininas que tem destaques em certos momentos. É uma ala musical diferente, cada um tem o seu espaço. Não é somente a voz de Hudson que aparece no carro.

As duas mulheres que fazem parte do time, estão fazendo um trabalho de canto incrível e é de uma grande criatividade que elas tenham um papel fundamental dentro de um dos melhores sambas-enredo do Carnaval 2024.

O intérprete Hudson Luiz analisou o ensaio. “Fizemos o que temos feito em todos os ensaios. Nada diferente. A gente vem em um trabalho constante de alguns meses, nos encontramos duas vezes na semana, desenvolvemos, trocamos ideias e o resultado hoje foi esse que trabalhamos. No início do ensaio eu chamei o pessoal e disse que era para tirar onda, só cantar. Todos nós somos cantores, temos uma ala musical reduzida e essa é uma ideia minha. Queria uma ala musical com qualidade e não com quantidade. Hoje o resultado foi muito positivo”, declarou.

De acordo com o cantor, a parceria com mestre Serginho vem dando muito certo. “O mestre Serginho foi o primeiro cara da parte musical do Tucuruvi que eu tive contato. Até os dias de hoje a gente sempre se fala todas as semanas. Sempre fomos amigos e posso até dizer que somos irmãos. Quando existe um entrosamento entre carro de som e bateria, esse é o resultado que vocês viram”, afirmou.

A vozes de Helen Cristina e Carol Oliver, aparecem principalmente no refrão do meio, sendo na palavra ‘irukerê’

Outros destaques

A “Bateria do Zaca”, regida por mestre Serginho, mostrou uma cadência dentro do samba e se destacou pela bossa nos últimos versos, onde fazia o apagão e depois retornava com os atabaques no refrão principal.

Tucuruvi et MestreSerginho1

Mestre Serginho avaliou o ensaio. “O começo deu aquela chuva que foi difícil para montar, mas depois acho que rolou legal. Algumas coisas nós podemos ajustar em relação à ala musical. Acho que lá na frente deu uma distanciada. Foi positivo, a afinação estava boa. Depois eu vou chegar em casa, escutar muito, mas acho que foi bem produtivo. A bateria melhorou o rendimento em relação ao específico, porque o canto ajuda”, disse.

Tucuruvi et InterpreteHudson

O diretor de bateria contou sobre as bossas. “O que eu estou tentando me achar é em relação às cabines. No passado a gente tinha o contato de ângulo direto com os caras, mas nessa parte acho que rolou. Eu vi a galera cantando bastante. A gente tinha combinado de fazer umas quatro vezes, e esse é o melhor teste”, completou.

A ala das baianas estava vestida nas cores da escola e também cantavam o samba. A roupa era branca e havia mescla de saiotes azuis e amarelos.

Samba da comunidade! Portela destaca força musical e componentes dão espetáculo em mais um ensaio de rua

Nem mesmo a chuva desanimou. Empenhada, a Majestade do Samba realizou, na noite do último domingo, mais um ensaio de rua na Estrada do Portela com um grande número de componentes. O treino foi marcado pela força da comunidade, que do início ao fim cantou forte e intensamente. Agora, a agremiação de Madureira e Oswaldo Cruz se prepara para levantar a Marquês de Sapucaí no ensaio técnico, que acontece no próximo domingo. A escola de samba ainda vai realizar um ensaio de canto com a comunidade na próxima quarta-feira. Para o diretor de carnaval Júnior Schall, a Azul e Branco está preparada para o ensaio técnico de domingo. Ao CARNAVALESCO, ele destacou a força contínua do canto da comunidade e o impacto do samba-enredo.

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“A chuva deu a benção que a gente precisou. É muito bom ver a continuidade e o crescimento da força do canto e da evolução portelense. E cada vez mais nós notamos que acontece a intensidade do canto e a manutenção dele por mais tempo. Não é cantar mais alto: é cantar bem alto durante toda extensão do samba. A comunidade também compra o samba para si. O samba é da comunidade e é a continuidade da celebração portelense nos ensaios de rua. A escola está muito bem preparada para o ensaio técnico”, avaliou Schall.

Com o enredo “Um Defeito de Cor”, dos carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga, a Azul e Branco será a segunda agremiação a desfilar no domingo de carnaval.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Como a comissão de frente ensaiou separadamente, o primeiro casal, formado por Marlon Lamar e Squel Jorgea, ficou responsável por abrir o ensaio de rua. Mesmo com o vento e a pista molhada, a dupla de mestre-sala e porta-bandeira mostrou muita imponência com uma coreografia que pontuava a letra do samba em diversos momentos. Destaque para as impecáveis meias-voltas e os torneados de Marlon.

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Samba-enredo

Sem Gilsinho, que estava em São Paulo para comandar o carro de som da Tom Maior no ensaio técnico do Anhembi, o cantor de apoio Niu Souza assumiu o papel de intérprete oficial e conduziu muito bem o canto da escola. O ótimo desempenho do samba evidenciou o bom trabalho realizado ao longo dos últimos meses pelo carro de som e pela bateria comandada pelo mestre Nilo Sérgio. A obra, que já é considerada uma das melhores do ano pela crítica, facilita o trabalho e impulsiona a força portelense. Tem todos os ingredientes para levantar a Marquês de Sapucaí no próximo domingo.

Harmonia

Como se não bastasse o canto forte, a comunidade portelense manteve a intensidade ao longo de todo o ensaio de rua. Os componentes cantaram com muita paixão e elevaram o patamar do desfile. Nem mesmo a forte chuva que atingiu Madureira minutos antes do ensaio foi capaz de impactar a harmonia da Azul e Branco.

O diretor de harmonia da agremiação, Julinho Fonseca, avaliou o treino como positivo e acredita que a comunidade está praticamente pronta para o ensaio técnico na Passarela do Samba. Para ele, o grande samba facilita o trabalho realizado e levanta ainda mais o canto dos portelenses.

“Foi um ensaio maravilhoso. Choveu um pouquinho e antes chegamos a ficar na expectativa se teria ensaio ou não. Hoje, saio daqui com a alma lavada e me sentindo 90% pronto para domingo – é óbvio que o 100% só saberemos lá. Mas, graças a Deus, estamos no caminho certo. Gostei muito do canto, da evolução e da alegria. A escola está leve e vivendo um novo momento. O samba facilita muito a emoção, melodia. Tudo fica muito fácil para trabalhar”, afirmou o diretor de harmonia.

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Evolução

A chuva e as poças formadas ao longo da via não impactaram o grande espetáculo portelense nesta noite. Alegres, os torcedores brincaram carnaval de forma leve e espontânea. Em diversas alas, componentes utilizavam adereços de mão. Alas coreografadas também chamaram a atenção com uma apresentação marcada por intensidade e sincronismo. Outro fator interessante foi a capacidade da agremiação em se adequar com as adversidades. Além do mau tempo, a Estrada do Portela é marcada por ondulações, buracos e baixa iluminação em determinados trechos. Do limão, uma limonada: apesar das dificuldades, o chão azul e branco conseguiu se destacar mais uma vez.

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Para Schall, o calor da comunidade portelense e a força do bairro de Madureira impulsionam os ensaios de rua, inibem as dificuldades impostas pela via e resultam em uma evolução positiva. “A Estrada do Portela não tem a melhor composição para a técnica. O que no início pode parecer uma imperfeição é algo que reforça a alma de cada um na escola. A escola pulsa mais enquanto indivíduo. É um calor maior e a gente se reconhece nessa força de expressão de cada um”.

Outros destaques

Sob o comando do mestre Nilo Sérgio, a “Tabajara do Samba” tornou o samba-enredo ainda mais maravilhoso, fez uma apresentação em alto nível e deu um toque especial com a bossa. Os ritmistas mostram que vão, mais uma vez, buscar os 30 pontos na Avenida.

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Mestre Nilo Sérgio contou que a bateria já está pronta para o desfile. O trabalho apresentado neste domingo é o planejado para a Sapucaí. Ele chegou a cogitar mais uma bossa, mas mudou de ideia. Agora, Nilo acredita em uma grande apresentação da Majestade do Samba na Avenida.

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“Está maravilhoso. Conseguimos encaixar tudo – o arranjo com o samba e as bossas com a melodia. Acredito que a Portela vai fazer um grande desfile neste domingo. Já fizemos no setor 11 e foi legal e encaixou. A bateria está pronta e a escola vai surpreender a todos no próximo domingo. O samba facilita 99%. Os outros 1% é a escola cantando e a bateria fazendo o que deve ser feito, além da plástica. Pelo o que vi e estou vendo, os 100 anos ainda continuam. A Portela virá muito bem”, afirma o mestre de bateria da escola.

Afiada! Viradouro faz ensaio de rua com canto avassalador da comunidade e performance impecável dos quesitos

A Unidos do Viradouro realizou, na noite do último domingo, seu segundo ensaio
técnico do ano de 2024, na tradicional Avenida Amaral Peixoto, no Centro de Niterói. O forte canto da comunidade, alinhado ao excelente desempenho do samba-enredo e o carro de som da Vermelha e Branca, comandado pelo intérprete Wander Pires, foram destaques no treino. Mesmo com contingente reduzido, a bateria “Furacão Vermelho e Branco”, de mestre Ciça, deu espetáculo. A apresentação da escola durou cerca de uma hora. Em 2024, a Unidos do Viradouro será a sexta e última escola a passar pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí na segunda-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro, encerrando os desfiles do Grupo Especial. A agremiação levará para a avenida o enredo “Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodun serpente, que será desenvolvido pelo carnavalesco Tarcísio Zanon, em seu segundo carnaval solo na Vermelha e Branca.

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Fotos: Gabriel Gomes/CARNAVALESCO

“Ensaio maravilhoso. A escola vem desenvolvendo bem os quesitos, ensaio correto, sem
nenhum tipo de problema, isso falando de quesitos. Agora falando de energia, que vale
tanto quanto os quesitos, mais uma vez um show da escola, comunidade cantando, samba
bonito, com energia, com vontade. A escola tem tudo para fazer um carnaval excelente, é
isso que a gente vem buscando e vem confirmando a cada domingo. Agora, é tentar no dia
do desfile, no ensaio técnico antes, reproduzir exatamente o que a gente vem fazendo
aqui”, comentou o diretor-executivo da Viradouro, Marcelinho Calil.

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Mestre-sala e Porta-bandeira

O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos do Viradouro, Julinho
Nascimento e Rute Alves, realizaram mais uma grande apresentação no ensaio de rua da
escola. A dupla mostrou muita garra e experiência para superar o forte vento que acometia
a Avenida Amaral Peixoto na noite do último domingo. Rute e Julinho vestiam uma bela
roupa vermelha.

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Nos pontos marcados como cabines de julgadores, o casal realizava forte dança e apresentação, com fortes giros, muito entrosamento e elementos que remetiam a letra do
samba-enredo da Viradouro. No bis anterior ao refrão da obra, o do “Ê Alafiou…”, o casal
realizava sincronizados movimentos para um lado e para o outro. Em certo momento, também eram feitos movimentos com as mãos em alusão à serpente.

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Harmonia

Avassalador! Assim, pode ser definido o canto da comunidade da Unidos do Viradouro no
segundo ensaio de rua do ano de 2024. A cada ensaio, é perceptível o aumento gradual na
força da harmonia da Vermelha e Branca. De todos os pontos da Avenida Amaral Peixoto, a
força do canto podia ser percebida. Impulsionada por um excelente desempenho do carro
de som, comandado pelo intérprete Wander Pires, o samba-enredo da escola, que possui
uma bela letra, mostrou força e funcionalidade. A bateria “Furacão Vermelho e Branco”, de
Mestre Ciça, também contribuiu para o quesito. Em certos momentos, quando a bateria da
escola realizava “apagões”, o canto da escola sobressaia ainda mais.

“Hoje, sem dúvidas, podemos definir esse ensaio como uma verdadeira avalanche de canto
e evolução. Sem dúvidas, desde o primeiro ensaio, dia 5 de novembro, hoje a gente
alcançou um nível bem alto, mesmo. Todas as alas, da primeira até a final, a resposta foi
muito positiva e dentro do que a gente espera para esse estágio, faltando apenas 22 dias
para o nosso desfile. É isso, daqui para lá, é sempre melhorar. Cada jogo, é uma final de
Copa do Mundo”, comentou Jefferson Coutinho, Diretor Geral de Harmonia da escola.
“Eu venho na frente da escola e dá para perceber o canto da comunidade, foi fantástico. A
escola balançando muito, foi maravilhoso. O caminho é esse, nós fizemos alguns ajustes e
está dando resultado. Eu acho que até chegar no desfile, nós estamos prontos”, salientou
Marcos Mendes, diretor geral de Harmonia da Viradouro.

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Evolução

De maneira muito fluida, coesa e sem erros, os componentes da Viradouro desfilaram pela
Avenida Amaral Peixoto. A evolução da escola não apresentou qualquer buraco, clarão ou
espaçamento. Muito bem ensaiadas e sincronizadas, as alas coreografadas da Vermelha e
Branca deram um show. Muitas delas, inclusive, portavam adereços e elementos que
contribuíram para a coreografia. A se destacar, no quesito, a ala de passistas da Viradouro,
vestidos de vermelho e branca, que esbanjaram espontaneidade e samba no pé durante os
cerca de uma hora de ensaio.

Samba-enredo

Composto por Claudio Mattos, Claudio Russo, Julio Alves, Thiago Meiners, Manolo,
Anderson Lemos, Vinicius Xavier, Celino Dias, Bertolo e Marco Moreno, o samba-enredo da
Viradouro, muito elogiado no pré-carnaval por sua bela letra, comprovou, mais uma vez, ser forte e funcional. A obra contribuiu com maestria para o ensaio da Vermelha e Branca, com a excelente condução de Wander Pires e seu carro de som. No time de canto, destaque para as vozes femininas, que deram um toque especial na melodia do samba. O refrão principal, sobretudo o trecho do “Pra vitória da Viradouro”, foi cantado a plenos pulmões pelos componentes, assim como o bis anterior “ê alafiou, ê alafiá…”.

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Outros Destaques

Mesmo com contingente reduzido, a bateria “Furacão Vermelho e Branco”, de mestre Ciça,
realizou grande apresentação na Amaral Peixoto. Com andamento mais cadenciado,
contribuiu de forma maestral para a condução do samba-enredo da Vermelho e Branca.
Quem compareceu ao ensaio, também pôde notar mais um teste do experiente Mestre Ciça
na “bossa dos atabaques”, realizada no refrão do meio do samba. Em certos momentos,
quando era realizada a convenção, na qual os ritmistas se ajoelham e permanecem os dos
atabaques de pé, algumas meninas também permaneciam de pé, vestidas de preto, e
realizavam coreografias dentro da bateria.

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“Passo a passo. Fizemos o setor 11, foi muito bonito, foi muito proveitoso. Agora, são coisas pequenininhas, detalhes mesmo. Vamos ensaiar segunda-feira agora, na terça-feira
também tem nosso ensaio, e depois é reta final mesmo, ensaio técnico também, que não é
um ensaio técnico, na verdade, é uma competição, porque o ensaio técnico que eu conheço
é parar, para consertar, e infelizmente hoje não é assim. Mas, estamos prontos para fazer
um grande desfile”, disse Mestre Ciça.

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A sempre presente rainha de bateria da Viradouro, Erika Januza, marcou presença com
uma roupa deslumbrante.

viradouro rua2101 3 1Os integrantes da comissão de frente da Unidos do Viradouro não estiveram presentes no
ensaio de rua da escola no último domingo. Os coreógrafos da Vermelha e Branca,
Priscila Motta e Rodrigo Negri, foram e marcaram o espaço e o tempo da apresentação nos pontos onde eram marcadas as cabines de jurados.

Com força da comunidade e excelência nos quesitos, Imperatriz mostra estar pronta em ensaio de rua para buscar o bicampeonato

A Imperatriz Leopoldinense realizou mais um grande ensaio na Rua Professor Lacê. Como tem sido a tônica dos domingos em Ramos, a Rainha de Ramos mostrou muita força no canto da comunidade, mostrou eficiência nos demais quesitos, com destaque também para mais um grande show da dupla mestre Lolo e Pitty de Menezes. Apenas o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Philipe Lemos e Rafaela Theodoro, não participaram do treino, sendo poupados devido a maratona de preparação ao qual a dupla tem se submetido. No lugar em que desfila o primeiro casal, logo após a comissão de frente, neste treino, desfilou o segundo casal Marcos Ferreira e Alcione Carvalho. O samba, já em um passado distante apelidado de “Frankenstein”, está na boca e no coração do gresiliense, está fluindo muito bem e tem levado uma multidão para acompanhar os ensaios aos domingos da Verde e Branca. No final, um ensaio que começou com os últimos raios de sol do fim de semana, terminou com uma chuva que não afastou o componente que continuou cantando mesmo depois do carro de som parar, neste momento, Pitty de Menezes já havia ido para a galera regendo a comunidade. O intérprete falou sobre este momento de grande emoção para o artista e sobre o desempenho da escola no canto.

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Fotos: Lucas Santos/CARNAVALESCO

“Eu não tenho nem palavras. Estou com a voz ofegante, com a voz embargada, um pouco emocionada, debaixo de uma chuva dessas, a nossa escola acabou o nosso ensaio, mas a comunidade não foi embora, continuou cantando aqui muito, delirando, pulando, pulsando. Eu digo que isso é cantar com a emoção, cantar com o coração, não precisa de som. A comunidade cantando debaixo de chuva, emocionada, é muita felicidade. A Imperatriz faz um trabalho sério, a Imperatriz está trabalhando muito para buscar esse bicampeonato e esse bicampeonato será possível porque a gente tem não só uma equipe maravilhosa, mas a gente tem essa comunidade toda, que também acredita nesse bicampeonato e está cantando muito. Por isso eu digo que a Imperatriz está pronta, porque tem uma comunidade nota mil”, elogia o intérprete.

O diretor André Bonatte, que divide a direção de carnaval com Mauro Amorim, explicou o grande contingente da escola neste ensaio de rua, penúltimo antes do ensaio técnico e desfile, e disse ver a Imperatriz pronta para o desfile que vai acontecer daqui há três semanas.

“A escola está fechada em termos de quem vai desfilar acho que desde novembro. É o sentimento mesmo de as pessoas estarem chegando, porque a gente insiste em ensaio. Além do ensaio de domingo e do ensaio de sexta, a gente tem ensaio durante a semana por setores, e quando a gente faz um ensaio com algumas determinadas alas na quarta, a gente tira essas alas da sexta ou do domingo para poder dar uma compensada. Hoje não, hoje a gente estava com todo mundo aqui. Por isso essa sensação.A Imperatriz está pronta. Isso eu não tenho dúvidas. É óbvio que a gente fica sempre com expectativa de melhorar e isso tudo que fizemos hoje é motivo de reflexão amanhã. A gente vai sentar e vamos analisar todos os pontos. Mas o feedback que eu estou tendo dos componentes e da própria harmonia é que foi tudo maravilhoso”, avalia o diretor.

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Em 2024, a Imperatriz vai levar para a Sapucaí o enredo “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”, do carnavalesco Leandro Vieira. Buscando o bicampeonato, a Verde e Branca de Ramos irá encerrar a primeira noite dos desfiles do Grupo Especial.

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Comissão de frente

Mais uma vez, os bailarinos de Marcelo Misailidis trouxeram para a comissão toda a beleza das danças ciganas, com as bailarinas trazendo saias que apresentavam um bonito efeito durante os giros e rodadas. Havia muito contato entre “as ciganas” e seus pares, de uma forma até bem sensual. Um dos pontos altos era quando as mulheres eram erguidas no ar em um momento de maior intensidade da coreografia. Alguns pontos do samba eram pontuados pelos movimentos dos bailarinos como o “Vai Clarear” em que os componentes erguiam os braços ao céu. No trecho ” a caravana está em festa” todos os integrantes estão mais juntos como que formando este grande grupo de ciganos dançando. No “encontrei minha rainha”, os homens de forma muito cortês pegavam seus pares pela mão e mostravam para a platéia.

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Harmonia

Mesmo com um trabalho tão eficiente que a escola fez nos últimos anos, reforçando os diversos quadros da escola, a Imperatriz segue tendo como grande destaque o canto da comunidade. Os ensaios em Ramos tem mostrado um trabalho, neste sentido, com os componentes, que tem se mostrado mais do que eficiente, tem dado alma ao desfile da agremiação e se constituído em uma grande atração e um dos grandes responsáveis por hoje o ensaio da Rua Professor Lacê ser um dos melhores deste pré-carnaval, se não for o melhor. Neste domingo, era notório perceber que todas as alas cantavam com muita força, empenho e espontaneidade o samba, comissão de frente, baianas, velha-guarda e bateria, inclusive. E, com um incentivo dos “harmonias”, mínimo, o que se constitui em uma comunidade que sabe da sua responsabilidade e mais do que isso, está muito conectada com a escola e com o samba escolhido.

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O carro de som tem sido um show a parte. O entrosamento entre Pitty e Lolo já é intrínseco, está na veia e no olhar. A arrancada do samba está muito boa, com Pitty cantando melodicamente só acompanhado pelas cordas o final da segunda do samba no “Prenúncio da sina da minha escola…”, até a bossa do “o que é meu é da cigana…” em que toda a escola acompanha nas palmas até a explosão do “Vai clarear…” do refrão principal e refrão que mais mexeu com a comunidade nas eliminatórias. Uma menção honrosa para o excelente time de vozes montado pela Imperatriz e comandado por Pitty.

Evolução

Com um contingente ainda maior de foliões e mais próximo do que terá no desfile, a Imperatriz teve uma evolução bastante eficiente e fluída. Cadenciada a escola procurou passar pela rua Professor Lacê sem correria, fazendo com que o componente pudesse aproveitar cada momento, observando de forma bem criteriosa o tempo de apresentação da comissão de frente, da bateria e até mesmo do segundo casal que veio na posição que virá o primeiro, exibindo sua coreografia durante uma passada inteira do samba. Não se observou a formação de buracos e nem alas se embolando.

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Havia algumas alas que exibiam coreografias como uma ala que vinha antes do segundo carro com componentes dançando um bailado bastante charmoso, lembrando um pouco de gafieira. Outra ala que chamou bastante atenção foi a primeira ala da agremiação que continham mulheres no alto em pernas de pau, no meio dos componentes que traziam saias de cigana, mas se movimentando com desenvoltura. Outros setores tinham componentes com leques na mão e alguns com bastões. No geral, a escola também fez um bom tempo de ensaio, em torno de uma hora e 10 minutos.

Samba-enredo

A obra da Imperatriz é sem dúvida uma das que mais cresceu no processo. Do sentimento de desconfiança após a decisão de união entre dois sambas, em que um tinha a preferência da comunidade, a diretoria fez uma grande gravação e trabalhou muito bem a música impulsionando-a com a força do carro de som de Pitty de Menezes e a excelência do trabalho de mestre Lolo. Hoje, o samba tem embalado os ensaios, caindo na boca não só do componente e de quem torce pela Imperatriz,mas do mundo do samba que adora cantar “Vai clarear…”, e isso se confirma quando é possível perceber a presença de torcedores de outras escolas nos ensaios na Rua Professor Lacê em Ramos.

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Os dois refrãos tem funcionado muito bem, o do meio, mais meloso “O destino é traçado na palma da mão” e a força do “Vai clarear, olho o povo cantando no meio da rua”, que promete ter um charme todo especial quando a escola desfilar com o dia amanhecendo. Outros pontos altos tem sido o “o que é meu é da cigana…” que conta inclusive com uma boss de palmas em que todos os componentes participam, além da entrada na primeira do samba com o “Ê cigana”, que tem dado potência e fluidez, e por fim, o finalzinho da segunda do samba “prenúncio da sina da minha escola” que se destaca pela melodia riquíssima e que, como citado acima, tem sido usado pelo carro de som para iniciar a obra de uma forma mais tocante.

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Outros destaques

Quem roubou a cena e causou um grande frisson da comunidade e de quem estava nas calçadas assistindo, foi a nova musa da Imperatriz, a celebridade Rafa Kalimann. Com um modelito bastante ousado, a beldade mostrou ter samba no pé e recebeu o carinho da comunidade. A rainha Maria Mariá apostou em um vestido verde em tom esmeralda e mais uma vez evoluiu a frente da bateria rodeada de crianças. No esquenta, Pitty de Menezes cantou algumas músicas do Cacique de Ramos e depois emendou o samba campeão de 2023, antes dos primeiros acordes do samba de 2024, antecipado pelo “Sou Feliz, sou Imperatriz” para exaltação da escola.

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Na boca do povo! Salgueiro realiza ensaio tecnicamente perfeito e mostra sua força para brigar pelo título

Por Rafael Soares, Guibsom Romão, Maria Clara, Matheus Morais e fotos de Allan Duffes

O Acadêmicos do Salgueiro foi a terceira e última escola a realizar seu ensaio técnico na noite deste domingo na Sapucaí. E o que se viu foi uma grande apresentação. As arquibancadas e frisas já pulsavam com o esquenta, entoando o icônico samba de 1993, “Peguei um Ita no Norte”, além do samba exaltação do Salgueiro, balançando as bandeirinhas distribuídas pela escola. Logo que o samba-enredo de 2024 começou a ser cantado, a sua força ficou nítida. Uma entrada imponente da agremiação embalada pela obra que é considerada por muitos como a melhor do ano. A harmonia da comunidade salgueirense foi excelente. Um nível de canto muito potente, com grande ápice nos refrões. A evolução se mostrou aguerrida e em ritmo perfeito. Atuações magníficas de Emerson Dias, no microfone principal, e da bateria dos mestres Gustavo e Guilherme, exibindo uma cadência no ponto certo para o desfile da agremiação. A comissão de frente, de Patrick Carvalho, apresentou um belo número, contando até com efeitos especiais, valorizando o sambista presente na avenida. E, como é costumeiro, o casal de mestre-sala e porta-bandeira, Sidcley e Marcella, deram mais uma aula de bailado, mesmo com a pista molhada pela chuva. Uma escola feliz com seu enredo e samba, e forte para se colocar na disputa pelo título do carnaval. * VEJA FOTOS DO ENSAIO

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O Salgueiro será a terceira agremiação a desfilar na Marquês de Sapucaí no domingo de carnaval. A escola apresentará na avenida o enredo “Hutukara”, de autoria do carnavalesco Edson Pereira, mostrando a cultura yanomami e defendendo os povos originários, além da preservação da Amazônia.

“O Salgueiro mostrou que é muito forte. Nosso time tem o Patrick Carvalho na comissão de frente, Marcella e Sidcley como primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, nossa harmonia que foi a única nota 40 no ano passado, uma evolução de respeito, o carro de som com o Emerson, que é um fera do carnaval. Nossa comunidade veio completa aqui. A gente está muito pronto. Temos o samba do ano e um enredo que é um manifesto em defesa dos povos originários”, disse o diretor de carnaval, Wilsinho Alves.

Comissão de frente

O grupo de bailarinos, entre homens e mulheres, comandados pelo coreógrafo Patrick Carvalho, fez uma apresentação muito interessante no ensaio técnico. Poderia muito bem servir a um desfile oficial de grupo de acesso, o que mostra uma grande valorização do público que acompanhou o treino. Os integrantes estavam vestidos com uma espécie de segunda pele, com pinturas de motivos indígenas. Eles também carregavam cadeiras, disfarçadas com folhagens, como se formassem uma mata ao se agrupar. Um dos bailarinos usava vestes pretas, capuz e uma máscara de caveira. Ele também portava uma arma de brinquedo que soltava fogos frios, representando um agente de queimadas. Os efeitos especiais mexeram bastante com o público. A parte dançada não era muito extensa, mas bem característica dos povos originários, com força e sincronia. Ao final do número, os integrantes se organizavam com as cadeiras de tal modo para revelar letras que formaram a frase “Não nos matem”.

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“O ensaio foi 100%. Tudo que a gente trouxe a gente conseguiu passar para a arquibancada. Esse enredo do Salgueiro é uma mensagem muito linda, quando saiu o enredo eu falei: ‘estou na escola certa, estou com o enredo certo’. Quando saiu o samba eu falei: ‘eu preciso ser campeão do carnaval com isso’. É isso, o samba me impulsiona, a comissão de frente ela foi montada só depois que saiu o samba, porque era muito importante entender o que o samba iria dizer para a gente trazer para a avenida. E eu estudei cada samba, tinha duas comissões de frente em outro samba, nesse samba era essa que a gente vai trazer. Podem esperar uma comissão de frente para tocar o público aqui na avenida. A nossa tecnologia é o vigor, é a verdade. É isso que a gente vai vir fazer no Salgueiro”, citou o coreógrafo.

Mestre-sala e Porta-bandeira

Apesar da avenida molhada pela chuva forte que caiu logo antes do início do ensaio da escola, o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira do Salgueiro, Sidcley e Marcella, apresentou mais um bailado de alto nível. Mostrando muita segurança e elegância, a dupla realizou uma dança tradicional com alguns poucos momentos coreografados de acordo com o samba. Sorrisos, trocas de olhares, interações e giros perfeitos marcaram o número, que fez uso de um bom espaço da pista. Destaque também para a roupa vermelha dos dois, principalmente para a linda saia de Marcella. Ótima apresentação de um dos melhores casais do carnaval.

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“Eu acho que trabalhar na dificuldade é um ponto de vantagem para gente, eu fiquei muito feliz com o resultado. A gente, eu e o Sidclei, somos uma dupla que a gente acha que nunca está bom e sempre tem que melhorar. De tudo que a gente se propôs a fazer hoje com a dificuldade da chuva e do vento, foi muito bom, muito legal. Mas a gente quer chegar no desfile ainda melhor. Hoje foi mesmo em cima do que a gente se propôs a fazer, legal testar na chuva e entender como é que é, que o movimento dá para gente fazer com chuva, dá sem chuva e acho que agora é aperfeiçoar ainda mais para no dia do desfile estar impecável” , disse a porta-bandeira.

“A gente sempre tem um plano B, um plano C, a gente sempre vem preparado para tudo, a gente ensaia no sol e na chuva. A gente sempre vem preparado, porque no desfile tem dia e tem hora, pode estar chovendo. A gente consegue mudar a coreografia até um dia antes do desfile e se bobear até ali na concentração”, completou o mestre-sala.

Samba-enredo

A obra musical salgueirense teve um excelente rendimento, confirmando toda a expectativa gerada em torno do que é considerado o melhor do carnaval para 2024. Isso se deve, em grande parte, a letra que é bastante forte, traduzindo muito bem o mote do enredo. Mas também da melodia, que com suas bonitas variações, impulsiona ainda mais o canto da comunidade. A atuação exemplar de Emerson Dias e da bateria da escola deram uma grande contribuição para o incrível desempenho do samba.

“O samba explodiu. O carro de som deu um problema no início, mas tínhamos confiança na força do samba. Poucas vezes, vimos o ensaio técnico da forma como foi hoje: o povo cantando muito, Sapucaí explodindo com ‘Ya temí xoa’. Sempre tem o que acrescentar, principalmente no quesito emoção. Sempre tem uma nota ou outra para a gente ajustar. Em um todo, está muito bom. O entrosamento entre carro de som e bateria é perfeito. A gente se fala muito, todos os dias. Tem ensaios que é só a gente, porque é importante o casamento entre canto e bateria. Hoje, tivemos o andamento espetacular do samba”, afirmou o cantor Emerson Dias.

Harmonia

Atuação de gala da comunidade do Salgueiro no ensaio técnico deste domingo. Todas as alas passaram cantando o samba, que estava na ponta da língua, em um volume bem alto. Os refrões, principalmente o de cabeça, se mostraram bem explosivos. A harmonia foi bem uniforme em toda a agremiação durante todo o treino, o que mostra um ótimo trabalho de conjunto. Grande destaque para o desempenho de Emerson Dias e seu carro de som na condução do samba. O intérprete oficial mostrou estar muito à vontade ao entoar a obra, afastando qualquer crítica de que não combinava com seu estilo vocal. Ele exibiu bastante garra, chamando a comunidade a todo momento, impulsionando ainda mais a harmonia.

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Evolução

Outra aula de como se defender um quesito com maestria. A evolução salgueirense foi perfeita do começo ao fim do ensaio. Nenhum tipo de lentidão ou aceleração indevida foi notada. Assim como nenhum espaçamento anormal foi percebido no cortejo. O ritmo foi constante. Os desfilantes mostraram muita potência e alegria para desfilar, defendendo seu enredo e, ao mesmo tempo, brincando seu carnaval com espontaneidade. A escola terminou seu treino dentro do tempo regulamentar com muita tranquilidade.

Outros destaques

Sob o comando dos mestres Gustavo e Guilherme, a bateria Furiosa do Salgueiro teve um grande desempenho no ensaio técnico. Sem perder seu peso característico, os integrantes deram um show de ritmo ao sustentar a obra musical. O andamento perfeito foi encontrado após alguns testes nos ensaios de rua, impulsionando ainda mais o canto e evolução dos componentes. Além disso, foram apresentadas bossas inventivas e de alto nível técnico, perfeitamente executadas e propícias para o samba-enredo da escola.

“Para mim perfeito, perfeito. Se a gente vier assim no dia do desfile eu estarei totalmente satisfeito, totalmente satisfeito. Conseguimos apresentar totalmente o que a gente quer fazer no dia do desfile. Hoje, infelizmente, a gente pegou esse temporal que danificou um pouquinho a afinação, a gente tomou conta ali, mas aí a gente não deixou rolar também para poder não danificar os couros, porque agora faltam vinte dias para o carnaval, então tem que deixar na manutenção tudo certo, tudo no esquema. A gente optou por não mexer nos surdos, desfilamos com eles assim, a afinação caiu, não é o que a gente pretende mostrar, mas de detalhes de ritmo, de bossa e de tudo para mim foi perfeito. Para mim foi perfeito, é só a gente manter para o dia oficial a gente chegar e quebrar tudo mais uma vez. A fantasia da bateria lembra do Bruno e Dom”, revelou mestre Gustavo.

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“A gente teve o problema da chuva. Muita chuva! Mesmo os couros com o plástico, protegidos, a afinação acaba caindo, a gente preferiu não mexer na afinação para não estragar o couro e agora chegar na quadra e tirar todos os couros para ver a situação. E normal, tirando isso tudo foi do jeito que a gente programou. Acho que é seguir, seguir com essa energia, a gente vai continuar trabalhando ritmo, trabalhando as bossas, deixar cada vez mais limpa. Uma bateria com duzentos e setenta ritmistas, a gente sabe que não é fácil. Hoje foi muito bom, mas o dia é o dia, é emoção, é tensão do desfile, sair tudo perfeito, então a gente precisa manter essa energia boa, manter os ensaios, não é porque hoje foi bom, que a gente vai parar e relaxar. Erro, erro, erro a gente não notou, a gente vai seguir trabalhando até o dia oficial”, garantiu mestre Guilherme.