Camisa Verde e Branco conta com ótimo conjunto musical para abrir desfiles do Grupo Especial de São Paulo
Por Will Ferreira e fotos de Fábio Martins
Doze anos após o último desfile no pelotão especial do carnaval paulistano, o Camisa Verde e Branco, enfim, cumpriu a promessa feitas nos longos anos no Grupo de Acesso I e homenageou Oxossi ao retornar para o Grupo Especial. Abrindo a primeira divisão da folia de São Paulo com o enredo “Adenla – O Imperador nas terras do Rei”, idealizado pelos carnavalescos Renan Ribeiro e Leonardo Catta Preta, a agremiação. contou com uma ótima apresentação da Furiosa, histórica bateria da agremiação e uma das mais celebradas da folia na maior cidade da América do Sul. O Trevo da Barra Funda, entretanto, teve dificuldades em outros quesitos na apresentação, encerrada em 01h02.
Comissão de Frente
Destaque nos ensaios técnicos da agremiação e intitulada “Os Súditos De Oxossi e o Pedido de Passagem Para As Terras Do Rei”, o segmento comandado por Gabriela Goulart já se destacou por não apresentar tripé algum durante o percurso no Anhembi. Com uma dança forte e expressiva, dois personagens ganham destaque – um representando Oxossi, outro fazendo o papel de Exu. Apresentando claramente o enredo da escola, com a entidade yorubá das florestas pedindo licença ao guardião (como relata o samba-enredo), o segmento, embora estivesse com menos impacto que nos ensaios técnicos, foi bastante seguro ao se apresentar e não teve erros a se apontar.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Enquanto Alex Malbec fazia mais uma representação de Oxossi na avenida, Jessika Barbosa encarnou Oxum, esposa do orixá e tido como um dos casais mais importantes de toda a mitologia de religiões de matriz africana. No primeiro módulo, para sentir a passarela, ambos buscaram a segurança – e conseguiram. Nos segundos e terceiro módulos, entretanto, desafios aconteceram. Na hora em que ambos estavam se apresentando na segunda cabine, os ventos começaram a soprar (bem) mais forte que o normal, e Jessika sentiu a dificuldade para defender o histórico Trevo – uma enrolada parcial foi notada. Já no terceiro, eles seguiram evoluindo enquanto o restante da escola havia parado para não abrir espaços durante o recuo da bateria – e, novamente, com forte presença dos ventos. Buscando se recuperar, Alex e Jessika voltaram com giros mais morosos no último jurado – e conseguiram sustentar bem a dança em tal momento.
Enredo
Criticado inicialmente ao ser revelado, a história contada pelo Trevo ao longo de toda a avenida é, antes de mais nada, um reencontro da agremiação com si própria. Explica-se: doze anos depois, o Camisa Verde e Branco, nove vezes campeã do carnaval paulistano e quarta maior instituição em número de títulos no Grupo Especial, fez uma promessa quando ainda estava no Grupo de Acesso I. O comprometimento dizia respeito ao primeiro enredo ao voltar para o pelotão de elite, que deveria ser sobre Oxossi – orixá que guia os caminhos do Camisa. E assim foi feito. A temática, entretanto, também homenageia outras figuras – que, no desenvolvimento do enredo, são regidos pela entidade: Faraó Piye (primeiro líder negro do Antigo Egito), Mansa Musa (antigo imperador do Mali reconhecido como o homem mais rico dos últimos mil anos) e Adriano (ex-centroavante de Flamengo, São Paulo, Corinthians, Internazionale, Roma e Seleção Brasileira). Ao exaltar cada uma de tais figuras, a história foi bem desenvolvida ao longo de todo o desfile, com fantasias de fácil assimilação.
Alegorias
Todos os carros do Camisa estavam muito adequados ao enredo, e um dos momentos em que a agremiação mais mexeu com o público foi justamente durante a passagem de Adriano, um dos homenageados no enredo, na última alegoria. Sem erros de acabamento ou de execução, houve, entretanto, um grande pecado: no setor C, o abre-alas, que tinha dois chassis acoplados, desacoplou. Até o quarto módulo, apesar dos esforços para que os merendeiros tentassem o reacoplamento, tudo estava sendo em vão. O mesmo abre-alas, em alguns instantes, tinha algumas oscilações na iluminação – que, por ora, apagavam e reacendiam.
Fantasias
É bem verdade que as fantasias estavam com materiais simples e sem tantos luxos em costeiros e adornos, mas é necessário ressaltar o ótimo acabamento de absolutamente todos os agrupamentos do Camisa Verde e Branco. Não foram notados erros de execução ou de finalização, bem como houve uniformidade ao longo de todo o desfile. Também é importante ressaltar as duas últimas alas antes do último carro alegórico: a 15, das Crianças, “O Sonho de Meninos e Meninas”, com o uniforme da Seleção Brasileira estilizado com a camisa 7 (a utilizada por Adriano no auge da sua carreira, como na Copa do Mundo de 2006); e a 16, “O Campo de Batalha Para Vencer Na Vida”, com um campo de futebol estilizado em cada fantasia.
Harmonia
Ao longo de todo o desfile, foi nítido que a imensa maioria dos componentes estava cantando o samba-enredo de maneira evidente e uniforme – o que, por si só, já faz com que descontos na nota sejam difíceis na apuração. É importante destacar, também, que todas as alas, carros e segmentos apresentavam volume na passarela – o que colabora com o relato anterior. É necessário apontar, entretanto, que a empolgação da agremiação ao colaborar com o canto parecia menor que em ensaios de quadra e técnicos do Trevo visitados pela reportagem – o que, é bom frisar, não interfere na nota do julgador.
Samba-enredo
Das obras mais aclamadas do carnaval paulistano, a canção, composta por Biel, Fabiano Sorriso, Marquinhos, Aquiles da Vila, Salgado Luz, Tomageski, Chanel Rigolon, Diogo Corso, Marcio André e André Cabeça, teve ótima condução por parte de Igor Vianna – também dos intérpretes mais elogiados no ciclo do carnaval da cidade de São Paulo. Cantando Oxossi e seus filhos de maneira bastante animada e de forma leve, a canção ajudou bastante também na Harmonia, facilitando o canto dos componentes. Também vale destacar o desempenho da Furiosa, das baterias mais históricas da cidade de São Paulo, há anos comandada por mestre Jeyson Ferro, que sustentou muito bem a obra, teve ótimo desempenho nas bossas e contou com o característico toque da caixa rufada – citado, inclusive, no samba-enredo.
Evolução
A agremiação começou a apresentação de maneira bastante cadenciada, sem se apressar tanto. A chega da bateria ao recuo, por exemplo, foi acontecer com cerca de vinte e oito minutos – tempo pouco alto em comparação ao de outras coirmãs de grupos inferiores. A Furiosa, por sinal, optou por paralisar os movimentos em paralelo ao box, girar o corpo dos ritmistas de maneira uniforme e, só então, caminhar para chegar ao destino. O movimento durou pouco mais de dois minutos, e a agremiação ficou inteira sem se movimentar – com exceção do Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, como já relatado, o que causou um espaço maior que o normal entre eles a Ala das Baianas, intitulada “O Pássaro Raro”. No final da apresentação do Trevo, a agremiação acelerou discretamente o passo para não ter grandes problemas com o cronômetro – algo que não aconteceu.
Outros Destaques
Historicamente uma das mais aclamadas baterias de São Paulo, a Furiosa, comandada por Mestre Jeyson Ferro, usou e abusou das convenções na frente da Arquibancada Monumental – o Setor B. Foi, certamente, um dos pontos em que o Camisa mais fez o que mais sabe: mexer com o público. À frente dos ritmistas, por sinal, estava Sophia Ferro, a rainha, e um pandeirista.
Estácio de Sá celebra a rica cultura do povo negro na Avenida com o abre alas representando a “África- Congo-Angola”
A Estácio de Sá mergulhou nas diásporas africanas e celebrou a rica cultura do povo negro. O desfile foi uma reverência às mulheres negras e à sabedoria transmitida por elas através da história, arte e fé, destacando o aprendizado e o letramento racial. O abre-alas representava a “África – Congo-Angola”, sendo a alegoria uma representação da força e da magia da nação Congo-Angola. Trazendo o leão, que é a grande marca da escola, e um carro todo vermelho em referência ao solo dessa região, com muitas palhas, os búzios e bem sofisticado, trazendo uma visão mais moderna da África.
Os componentes do abre alas em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO expressaram a emoção e orgulho, destacando a ancestralidade e a garra da comunidade, com a esperança de um bom desfile e a vaga no Grupo Especial.
“Esse carro representa a ancestralidade, misturada com as cores da escola. Eu me apaixonei pela Estácio, frequentava as feijoadas e eu nunca saí. Está sendo uma experiência maravilhosa, eu acho que a escola fala dessa ancestralidade, mas ao mesmo tempo não tem esse peso da escravidão e eu espero que a escola faça um bom desfile, estou super ansioso. Esse carro é maravilhoso, está cheio de detalhes, esse vermelho muito atraente, ao mesmo tempo com essa ponte com a África, as palhas, os búzios e bem sofisticado, eu estou bem empolgado, espero que a Estácio faça um desfile brilhante”, comentou Márcio André Santana Vaz de 48 anos.
O leão que é um símbolo muito marcante do pavilhão da Estácio de Sá, como sempre conduzindo e apresentando a escola na Avenida, veio esse ano todo vermelho, com detalhes em branco, mostrando o vermelho que remete ao solo e representa as cores da escola.
“É, a escola está… Ela vai levar para a avenida o chão de ancestralidade, um chão muito forte, uma comunidade muito guerreira. E vovó Maria Conga, Cambinda que são as patronas da escola e a gente está nessa garra para a gente poder ir para o grupo especial. Esse carro significa muito, esse abre alas está lindíssimo, lindíssimo. O leão é maravilhoso, é a marca da escola, é o que vem na frente da escola e assim, e a gente não desfila sem esse leão, se não tivesse leão a gente não vai para a avenida. Eu estou estreando na Estácio, mas assim, é uma coisa de energia, uma energia muito boa. Tem um chão maravilhoso que me encantou e hoje eu estou aqui no abre alas representando essa comunidade maravilhosa”, contou Leonardo Marçal de 34 anos.
De Debret aos dias de hoje, Inocentes exalta a história dos camelôs na Sapucaí
A Inocentes de Belford Roxo trouxe para a avenida o enredo “Debret pintou, camelô gritou: Compre 2, leve 3! Tudo para agradar o freguês”, exaltando a figura dos camelôs e comerciantes ambulantes de todo o país. Trazendo a história desde os trabalhadores de ganho, e chegando aos camelôs atuais que encontramos na rua, nos ônibus, e trens, a escola de Belford Roxo homenageou cada trabalhador informal que aquece a economia diariamente.
O site CARNAVALESCO conversou com alguns integrantes da escola antes do desfile começar, onde eles falaram da importância dos camelôs no dia a dia, e também ao longo da história, citando sobre as fantasias das alas que representam.
“O camelô é uma coisa histórica no Brasil, desde o tempo do Brasil escravagista as pessoas estavam na rua vendendo, mercando, comercializando. O camelô não tem nada de novidade, o que tem hoje é um novo nome, e talvez a função dele hoje seja mais clemente do que antigamente, porque dava-se para sobreviver, hoje está muito mais difícil, tem muito mais restrições, licenças, uma série de coisas, mas é uma coisa necessária. É uma função que vale a pena ser mantida, porque todo mundo compra em camelô. Eu também compro”, contou Luiz Monteiro, ator, e desfilante na ala dos mercadores judeus. “As peças que nós carregamos simbolizam essa mercadoria que era vendida por eles: O tacho de cobre, as colheres de madeira, que é muito do comércio ambulante também”, concluiu ele.
“Eu acho que é uma fonte de renda, principalmente agora, no Carnaval, eu estava vendo uma reportagem falando que muitas pessoas ganham uma grana extra. Eu acho importante. Assim, todo mundo fala muito, mas eu não tenho nada contra, juro, até eu queria vender”, pontuou Eloisa Raimundo, desfilando pela primeira vez pela agremiação, que continuou falando que costuma fazer compras nos trabalhadores informais: “Compo! Acabei de comprar, com a minha irmã, cerveja. Não sei se eles são cadastrados, mas eu acho que é válido”. Sobre o desfile, ela vem na ala 8 representando os trabalhadores de ganho.
“A importância dos camelôs que estamos representando, é que são o início de toda parte comercial, porque se não tivesse sido eles fazendo isso, trazendo, popularizando, hoje nós não teríamos o comércio que nós temos.É impossível hoje em dia não comprar em camelô”, disse Luciano Feitosa, que desfila há cinco anos na escola da baixada, que continuou falando sobre a fantasia: “Eu venho na ala nove, do mercador chinês, que representa esses mercadores e produtos asiáticos”, ele finalizou.
“Hoje em dia a gente vê que tem um nível muito grande de desemprego no Brasil, então o trabalho informal é a fonte principal de renda de muitas pessoas, principalmente na baixada. Então trazer esse tema na Sapucaí ajuda a conscientizar outras pessoas da importância que a renda informal tem na vida dessas pessoas. Costumo comprar bastante neles, porque são muitas oportunidades, e a gente pensa ‘já tá aqui, na minha mão, praticamente’, então a gente sempre acaba comprando.”, falou Camila Menezes, professora que está estreando na avenida, na Inocentes. Ela vem na ala do Rapa – o bicho papão dos camelôs, e explicou sobre a ala: “A gente entende que existem muitas mercadorias que não são legalizadas, mas justamente ter essa conscientização, da importância que tem, e até facilitar a vida do trabalhador informal de ter acesso a mercadorias legalizadas, porque as pessoas estão em busca de se manter de uma forma honesta”, a desfilante de vinte e dois anos iniciou, “Então, eu acredito que essa questão da polícia correr atrás e tirar, e às vezes partir para violência, é uma questão muito complicada, entendeu?”.
Freddy Ferreira analisa a bateria da Vigário Geral no desfile
Uma ótima apresentação da bateria da Acadêmicos de Vigário Geral, dirigida por mestre Luygui. Uma conjunção sonora de alto impacto sonoro foi exibida, com destaque para o peso das marcações e para as bossas conectadas ao samba-enredo da agremiação.
Uma bateria da Vigário com afinação de surdos acima da média foi notada. É possivelmente uma das baterias mais pesadas do grupo e que faz valer o peso das afinações em seus arranjos musicais. Surdos de primeira e segunda foram firmes e precisos durante todo o cortejo. O bom balanço envolvendo os surdos de terceira ficou evidente, tanto em ritmo, quanto em bossas. Repiques coesos e de qualidade tocaram integrados a um naipes de caixas de guerra bastante ressonante.
Na cabeça da bateria “Swing Puro”, um naipe de tamborins de nítida técnica musical executou uma convenção com certa complexidade, de modo firme. Tudo interligado com uma ala de chocalhos musicalmente fabulosa. Uma ala de cuícas segura auxiliou no complemento das peças leves, assim como agogôs executaram com segurança um desenho simples, mas eficaz.
Bossas que se aproveitavam das nuances melódicas do samba da Vigário embalavam o ritmo da “Swing Puro”. Com destaque para o balanço dançante e envolvente da paradinha da segunda do samba com levada repleta de nordestinidade. Além do molejo inestimável obtido na bossa do refrão principal, em ritmo junino, num arranjo que contou sobretudo com a impacto sonoro envolvendo a pressão dos surdos. Um leque de arranjos musicais denso e de invariável bom gosto, principalmente pela conexão praticamente intuitiva com a obra da Vigário Geral.
As apresentações em módulos foram seguras e precisas. Mesmo não entrando no segundo recuo, por causa do tempo apertado, ainda assim a exibição no último módulo foi a mais firme e contagiante, com os arranjos provocando impacto sonoro, graças à pressão dos surdos. A última apresentação deixou o clima lá no alto, fechando o ótimo desfile da bateria “Swing Puro” da Vigário Geral, comandada por mestre Luygui.
Vigário Geral faz desfile com boa apresentação do casal, mas com contingente reduzido e problemas no acabamento das alegorias
Por Rafael Soares e fotos de Nelson Malfacini
A Vigário Geral foi a terceira a se apresentar na Marquês de Sapucaí nesta sexta-feira de carnaval da Série Ouro. A tricolor levou o enredo “Maracanaú: Bem-Vindos ao Maior São João do Planeta” para a avenida. Em um bom início de desfile, com uma apresentação divertida da comissão de frente e uma atuação leve e segura do casal de mestre-sala e porta-bandeira, a agremiação não conseguiu manter o nível no resto do desfile. O canto dos componentes foi irregular, com poucas alas entoando o samba inteiro. A evolução também se mostrou problemática, muito acelerada, tanto é que a bateria nem entrou no segundo recuo. Depois, a escola teve que segurar muito o passo para conseguir passar no tempo mínimo regulamentar, já que o contingente era bem reduzido. Além disso, alguns problemas alegóricos, como acabamentos simples em todos os carros, e esculturas com falhas visíveis. Fantasias também eram simples, mas com boa leitura. Apesar das dificuldades, o enredo foi bem contado e o samba teve um bom rendimento por conta de seu carro de som e bateria bem entrosados.
Comissão de Frente
Com o nome de “Vamos com destino ao Ceará”, a comissão de frente assinada pelo coreógrafo Handerson Big trouxe um elemento cenográfico que representava o deslocamento da trupe para Maracanaú em uma kombi, liderada pela presidente da escola, Betinha. O grupo, composto por integrantes homens e mulheres, apresentava os ‘perrengues’ do caminho e as histórias do lugar. Em uma apresentação divertida, eles representavam turistas vestidos de branco, com maquiagem preta e branca no rosto e câmeras no pescoço. Movimentos feitos em cima do tripé na maior parte do tempo foram bem sincronizados. No final do número, dançavam forró e fogos frios saiam do elemento, gerando resposta do público.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Diego Jenkins e Thainá Teixeira, veio com uma fantasia que representava uma das tradições do Ceará, a renda de bilro, fonte de renda para vários artesãos do local. Os dois estavam bem coloridos, em uma indumentária de fácil leitura. A apresentação teve ótimo nível, com movimentos leves e precisos. A dupla usou um bom espaço da pista para seu bailado. Também chamou atenção a expressividade do casal, com muitos sorrisos e troca de olhares. A dança mesclou passos tradicionais e coreografias bem regionalizadas baseadas no samba.
Samba-Enredo
O samba da Vigário Geral tem uma letra que descreve bem o enredo, abordando a religiosidade, o desenvolvimento do local e as tradições da festa. Além de uma melodia alegre no geral, mas que também possui algumas variações interessantes. Composto por Tem-Tem Jr., Silvana Aleixo, Junior Fionda, Romeu Almeida, Jefferson Oliveira, Valtinho Botafogo, Marcus Lopes, Marcelinho Santos, Rafael Ribeiro, Sérgio Augusto de Oliveira Junior e Edu Casa, a obra musical teve um rendimento muito bom no desfile por conta do cantor Danilo Cezar, que mostrou um ótimo desempenho ao entoar o samba, embalado pela bateria de mestre Luygui.
Harmonia
A comunidade de Vigário Geral teve um canto bastante irregular em seu desfile. O principal trecho entoado pelos componentes foi o refrão principal. Mas até essa parte não teve um bom nível de volume durante o cortejo, pois muitas alas passaram sem cantar, como por exemplo as de nome “Cajuína” e “Parque Industrial”. As que mais tiveram destaque positivo na harmonia foram as alas “Novenas e Orações” e “As Quadrilhas”. De forma geral, o canto da escola não se mostrou em bom volume, o que deve gerar problemas na apuração.
Evolução
A evolução da agremiação também teve problemas durante a passagem pela Sapucaí. A escola trouxe um pequeno contingente em seu desfile. Com isso, o ritmo acabou se mostrando um tanto acelerado. Para aumentar a situação, a bateria não entrou no segundo recuo de bateria, fazendo com que a Vigário passasse ainda mais rápida. De forma geral, os componentes estiveram animados, embora sem cantar tanto o samba. Na reta final, a escola precisou fazer uma evolução muito lenta, segurando o passo, para poder terminar no tempo mínimo regulamentar. A escola encerrou o desfile em 53 minutos.
Enredo
A escola contou na avenida a história de Maracanaú, cidade localizada no estado do Ceará. Fundada oficialmente no século XIX, é uma região povoada há séculos, desde os indígenas até os dias atuais. O local é sede do maior São João do mundo, já que a festa dura 40 dias. As fantasias e alegorias foram de fácil leitura, por conta de seus materiais simples, cores bem destacadas e elementos bem reconhecíveis da cultura nordestina.
Fantasias
O conjunto de fantasias da Vigário Geral se mostrou com uma leitura bem facilitada. Cores, símbolos e formatos bem tradicionais e identificáveis. Adereços complemetaram bem as fantasias. Todas elas pareciam bem leves, ajudando o componente a desfilar e brincar. A maioria dos materiais era bem simples, em algumas alas até de forma exagerada. Os destaques positivos foram “Povo Negro” e “Mão de Obra Negra”. Por outro lado, a fantasia das passistas, de nome “Fogueira” era básica demais, além da fantasia “Novenas e Orações”, que era bem diferente do mostrado no projeto original.
Alegorias
O conjunto alegórico da escola foi marcado pela extrema simplicidade e problemas de acabamento. O carro abre-alas, intitulado “Nossas Origens Tradições”, representava uma homenagem aos primeiros habitantes do território ao pé da Serra de Maracanaú, povo que luta para preservar suas tradições, como o ritual em torno de uma centenária mangueira, associada à mãe natureza, marcado por danças e cantos que refletem sua identidade e história. Os animais tinham defeitos de acabamento, a árvore central era muito pequena e o carro tinha formatos e forros muito simples, com a parte traseira expondo defeiros.
Na sequência do desfile, a segunda alegoria do Vigário Geral, de nome “A Indústria e o Progresso de uma Grande Cidade”, representava a chegada da estação ferroviária e a instalação do parque industrial, destacando as políticas econômicas e sociais da cidade. A Paróquia de São José veio em destaque na frente e a Prefeitura veio retratada nas laterais do carro. Esses elementos estavam muito confusos na alegoria, um em cima do outro, com dificuldade para leitura. Além dos acabamentos e materiais simplórios.
Já a terceira e última alegoria da agremiação, intitulada “O Maior São João do Planeta”, retratava a grande festa junina de Maracanaú, com suas cores, fitas, balões e igrejas, que ocorre em uma imensa cidade cenográfica. O carro também trouxe um espaço para apresentação das quadrilhas que animam a festa. A escultura principal tinha um grave defeito de acabamento, com ferragens aparentes na cabeça. A forragem da alegoria também era muito simples. A parte de madeira das torres também ficaram aparentes.
Outros destaques
A bateria de mestre Luygui teve um ótimo desempenho na avenida durante o desfile da Vigário Geral. Exibindo um ritmo muito propício para a execução do samba-enredo, as bossas de ótima musicalidade nordestina impulsionaram ainda mais o desempenho do carro de som. A rainha de bateria Egili Oliveira chamou muito a atenção por sua
fantasia vermelha com leds, que davam um brilho especial para ela, ainda mais quando a escola fazia uso da luz cênica da Sapucaí.
Freddy Ferreira analisa a bateria do Império da Tijuca no desfile
Uma boa apresentação da bateria “Sinfonia Imperial” do Império da Tijuca, comandada por mestre Jordan. Um ritmo equilibrado e consistente foi exibido. Com um leque de bossas mostrando grande encaixe musical, a bateria da escola da Formiga desfilou com segurança e leveza, curtindo o ritmo produzido.
Uma bateria do Império da Tijuca com uma boa afinação foi percebida. Surdos de primeira e segunda foram precisos, mesmo tocando com firmeza. O balanço dos surdos de terceira foi eficiente, inclusive em bossas. Repiques coesos tocaram de forma integrada um bom naipe de caixas de guerra.
Na parte da frente do ritmo da verde e branca do morro da Formiga, uma ala de tamborins com bom volume tocou uma convenção rítmica simples, mas funcional interligada a um naipe de chocalhos de nítida técnica musical. Uma ala de cuícas deu virtude sonora às peças leves, comprovando o trabalho sólido também da cabeça da bateria do Império da Tijuca.
Bossas intimamente ligadas ao samba-enredo do Império da Tijuca consolidavam o ritmo através das variações melódicas da obra. Destaque absoluto para a paradinha com levada de frevo na segunda do samba. Uma construção que evidenciou o bom gosto musical no conceito criativo das bossas. O arranjo musical nos dois refrões também merecem ser ressaltados, por serem construções de qualidade, além de terem provocado bom impacto.
As passagens nas duas primeiras cabines de julgamento foram corretas e precisas, embora coubessem mais bossas, principalmente na primeira cabine (módulo duplo) onde teve tempo para uma apresentação talvez um pouco mais recheada. Na terceira e última cabine, como o tempo já estava na risca, somente uma bossa foi apresentada, mas de modo eficiente. Um bom desfile da “Sinfonia Imperial” do Império da Tijuca, dirigida por mestre Jordan.