Estamos na velha Bahia, a Roma Negra como tão bem definiu a ialorixá Eugenia Anna dos Santos ao tentar dar conta da centralidade da cultura negra para a formação da identidade daquele território. Voltando no tempo e olhando para o passado, estamos na beira do cais de uma antiga Salvador e, de lá até a mais alta ladeira que nos leva às portas dos sobrados da cidade alta, o que se vê é o Brasil colonial e o vai e vem de corpos retintos apregoando aves, bolos, mingaus e peixes frescos.
Em meio à cena, o que chama a atenção é a quantidade de mulheres pretas empunhando tabuleiros que exibem bolos e frutas tropicais. Quitutes de toda sorte, ofertados a granel, que perfumam o ambiente. Perfume ora doce, ora salgado. Para comer com a boca e com os olhos.
Nesse recorte público, quem olhar com mais atenção o sobe e desce das ladeiras, enxergará o luzir de joias feitas em ouro e prata enfeitando os corpos que desfilam. Símbolo de poder e status, os artigos são brincos para as sinhás e anéis para os dedos dos senhores. Um camafeu ao gosto português no colo de uma senhora de pele alva. Uma cruz bordada com incrustações de rubis no peito do Bispo e, também (e por que não?) uma penca sonora junto ao ventre de uma preta que equilibra seu tabuleiro em meio ao som continuado que empresta uma sonora trilha para a sua caminhada: Barangandãns…Belenguendén…Berenguendén… Balangandãs…
Ornando seu corpo retinto em meio aos martírios da escravidão, o brilho das joias trazia a lembrança de um território livre, aonde reis e rainhas eram cobertos por luxo e riqueza. De deuses engalanados e mulheres livres numa África – de ouro e de prata – que nem de longe podia ser imaginada no degredo da imposição do trabalho forçado nos trópicos.
À luz do sol que ilumina uma Bahia escravocrata, a presença de metais preciosos reluzindo como ornato para um corpo negro de mulher evocava, em quem os ostentava, a memória dos metais que deram fortuna à soberana haussá Amina de Zaria. Uma joia, em uma mulher preta da Bahia de tempos idos, trazia a presença de Nzinga, a Rainha de Matamba e as histórias de que, após ser vitoriosa em uma guerra, teria sido vista coberta por fios de latão, ligas maciças e fartura de colares dourados.
Ali, balançando feito chocalho junto ao corpo, estava também saberes africanos sobre a fundição dos metais. Na peça, que funcionava como adorno, está o trabalho das mãos de um negro malê que deu a um cilindro os desenhos feitos no cinzel e o espaço oco em que as pretas guardavam seus pós de mandingas ou, quem sabe, fragmentos do alcorão tidos como relicário.
Eternamente gravadas nas peças ornamentais que embelezavam o baixo-ventre de mulheres negras, estão as digitais dos negros da Guiné, vindos do Império Axânti, seus saberes sobre a extração dos metais, sobre a faiscação do ouro, as filigranas desenhadas em fios tão preciosos quanto precisos e o culto a Ogum.
Sobre isso, é curioso pensar que, no som do balanço das teteias pendentes que deram nome à peça ornamental produzida em território brasileiro, também está o toque ritmado do adarrum que saúda Ogum, divindade trazida pelos cativos vindos para cá na travessia das calungas. No ouro ou na prata dos balangandãs está a memória ancestral da forja do senhor do ferro e a emulação fragmentada de seu assentamento de fetiches pendentes. Ele – o balangandã – é parte da armadura da divindade que guarda com as suas armas o corpo alheio. Sua espada, sua lança e a sua faca transmutada em joalheria.
Um chocalho de badulaques. Berloques encantados para as pretas que os ostentavam no balanço das caminhadas. Balançando pra lá e pra cá, via-se requebrando junto aos quadris que se mexiam, uma chave propiciatória na intenção de abrir caminhos. A evocação para a incorporação da força de um gato-maracajá em um dente felino encastoado de prata. Um adorno barroco e tropical onde o pouso de dois papagaios está eternamente aprisionado em uma amálgama metálica rígida presa à cintura por uma corrente de argolas.
Amuleto para pender uma figa de jacarandá, azeviche ou coral. Evocação de ancestralidade com sabor de fruta fresca. O culto aos orixás transmutado nas curvas de cajus com castanhas de ouro oco (Kaô Kabecilê, valei-me meu pai Xangô!); em gordas romãs bordadas em prata (Epahey, senhora das nuvens de chumbo!); ou em belos abacaxis enfeitados com espinhentas coroas metálicas (Atotô Bábá, a sua benção Omulu!)
Era visto rebolando nas cinturas das pretas engalanadas nas festas da Conceição da Praia. Presente na memória dos encontros na Igreja da Barroquinha. Chocalhando na Baixa do Sapateiro junto aos festejos de Santa Barbara ou em meio à brancura das rendas e dos camisus das pretas que se apressavam rumo à colina do Bonfim. Artigo misturado junto aos brincos de pitanga e aos colares agigantados, brilhando em penca, na beca e nos panos-da-costa das mais antigas irmãs da Irmandade da Boa Morte.
Joias fartas luzindo diante dos olhos de uma sociedade racista. Artigo subversivo que documenta o êxito de mulheres rebeldes que se deixaram chamar de “sinhás pretas” tamanha a riqueza acumulada. Matronas ancestrais que se tornaram símbolos de ascensão social e liberdade. Donas de seus caminhos quando os caminhos ostentavam portas fechadas. Mulheres que fizeram de suas joias um cofre que se carregava junto do corpo. Poupança e pecúlio para planos maiores e operações financeiras que lhes garantiram o maior dos investimentos: a compra da própria liberdade.
Nesse artigo de rara beleza, exemplar de uma joalheria retinta, está a história de mulheres que deixaram como herança para seus descendentes a experiência de terem sido alforriadas por assinaturas advindas de mãos negras. Um baú de ouro traduzido em joias inventariadas que nos lembram uma luta vertida em enfeites que embelezam. Um legado ancestral que revela a identidade e as ânsias de mulheres pretas que, apesar da crueldade imposta pelo sistema vigente, encontraram brechas e conquistas que resultaram em bens, luxo e poder.
Seus nomes, vamos descobrindo por terem sido gravados por elas em ouro e prata. Nas pratas que fundem as grossas alianças que se entrelaçam para formarem os colares deixados em testamento por Marcelina da Silva – uma negra natural da Costa da África – para sua filha, de nome Magdalena. Nas memórias imaginadas de um Recôncavo romântico onde viveu “Mariquinha dente de Ouro” – aquela que se cobria “com roupas de linho bordadas de barafunda” ou na farta penca de berloques presentes no balangandã de Florinda Anna do Nascimento, a rainha de Ébano brejeiramente chamada Fulô, que sorri coberta de joias em registro fotográfico que funciona não apenas como prova material de suas conquistas individuais – e das investidas de inúmeras pretas detentoras de posses no luxuoso mundo das joias – mas, também, da história que agora proponho contar como enredo.
Enredo, pesquisa, desenvolvimento e texto: Leandro Vieira.
Enredo: “MACUMBEMBÊ, SAMBOREMBÁ. Sonhei que um Sambista Sonhou a África”
“(…) A Macumba é o ritual mais aproximado do Samba. Já está a Macumba aí.
Quanto ao Samba… a origem do Samba é a Macumba.”
Heitor dos Prazeres – depoimento ao Museu da Imagem e do Som, 1966
“Na pintura eu sonho. Eu sonho música, eu sonho momentos amorosos, eu sonho alegria. Enfim… tudo eu sonho, tudo me dá riqueza. (…) Essas figuras que eu faço de coisas que eu já vi, que ainda existem, esses bailes, essas Macumbas, esses Sambas, essas coisas que existem, (…) eu tenho tudo aquilo do passado e de agora dentro da minha memória.”
Heitor dos Prazeres – documentário Heitor dos Prazeres, de Antonio Carlos da Fontoura, 1965
“Eu cheguei, moçada…”
O som dos tambores ao fundo, misturado ao cantar sereno de pastoras e passarinhos. Minha gente vai descendo o Morro, de cetim se faz manto sagrado, o branco e o azul cintilantes, lampejos de franjas. O enredo que sonho e conto a vocês celebra as memórias e os percursos de “um homem do povo”, multiartista, sambista, inventor, sonhador de uma nova-velha África, uma África que se congraça no coração do Rio de Janeiro. A África que ele canta, desenha e reinventa é uma África imaginada, impressa em estamparias, pintada em poemas, telas e partituras. Um lugar de roupas vistosas e casas coloridas, onde as pessoas se reúnem para sambar, brincar, comer, fazer Macumba. Um lugar que não é necessariamente “pequeno”, mas do tamanho do mundo: uma “África em miniatura”, múltipla, muitas “Pequenas Áfricas”, unidas e conjuntas, conectando centros e periferias, morros e roças, jongos e cateretês. Retalhos de pilar café, cortar a cana, cantarolar com as lavadeiras, pisar chão batido e dançar, reconstruindo os afetos entre ruas e boulevares, veias que esboçam folias e redesenham a vida. Os fluxos da Bahia, nos estandartes que giram – e seguem oceano afora, nas nuvens dos devaneios, em direção ao Continente-Mãe (reflexo e pertencimento). Mas vamos sem pressa, Povo do Samba. Que o miudinho é o mais fino traço!
“Me deixem vadiar…”
Lino
A África de que falo é um quilombo em festa, cortejo real que me leva às raízes baianas deste “Pedaço” – cuja pedra angular é a Pedra do Sal e cuja capital é a Praça Onze. Com fé, mandinga e saudade, balangandãs brilhosos (as joias da nossa coroa), chego às lembranças queridas, famílias de sangue e de Santo. Quem diria, o espelhamento: Tio Hilário e Tia Hilária, “padrinho” e “madrinha” do memorando – menino arteiro que, apelidado de Lino, é o Príncipe Negro deste cortejo (os perfumes dos velhos Ranchos…). Foi por meio de Hilário Jovino, Lalau de Ouro, um Orfeu da Bahia retinta, o Tio, que a família daquele menino nascido das ruas do Rio conheceu um lugar lendário: o reino de Ciata, Hilária Batista de Almeida, a mais afamada das Tias em cujos quintais o Samba fervia. O etéreo! Naquela época, os “Ranchos baianos” se transformavam, rasgando os tons dos reisados, pastoris amenos, e adquirindo, aos pouquinhos, contornos feéricos – anjos com asas de prata, platinelas douradas. Sonhar é pra quem flutua… no eterno! Versado na capoeira, o menino viu isso tudo. No esquivo de cada invertida, as mãos do destino pavimentavam caminhos. Os olhos brilhavam no azul do encanto!
Ogã Alabê-Nilu
Era a casa de Tia Ciata o lugar da roda: se a Praça Onze era a capital da África de cá, repleta de sortilégios, a Macumba e os tambores educavam pelo toque. Matriarcais, insubmissos, rebeldes. Ecoavam vozes profundas, ávidas de escuta. É que muitas gentes chegavam, trazendo pedaços de crenças. A fé é uma velha moenda e ninguém certamente sabia aonde a “cidade” findava, dando lugar ao “campo”. “No tempo da aprendizagem”, como ele mesmo dizia, o terreiro era casa e travessa; a praça (pública), o ponto riscado – assentamento e congá. Quem rodopia em ciranda, criança, sabe do que estou falando… Eu me lembro daquela canção, na alvorada: “Baião, Baião, Baião… / filho do Maracatu / descendente do Lundu / Neto do Cateretê”. Tudo, enfim, estava ali, lá, jongado, naquela mistura de caboclos e pretos-velhos, nas fumaças dos cachimbos, nos pés descalços vibrando a gira. Roda-gira! Naquela casa de curimba, o jovem Lino foi Alabê-Nilu, comparsa de Pixinguinha, cantor-tocador de atabaques, Ogã de Xangô e d’Oxum, guardião de um peji matizado. A vida a brincar de batucar na esquina: “Xangô, olhai nossos filhos, meu pai! Xangô, de lá do teu reino, meu pai!”
Mano Heitor do Cavaco Guiado por Hilário e Hilária, o menino cresceu intrépido. Viu o Samba vestir sapatos, trocando o piano, a paixão solene da infância, pelo choro das cordas de aço. Encontrou no cavaquinho um fraterno confidente: aprendeu a tocar sozinho, sonhando acordado. O moço virou foi Mano – Mano Heitor do Cavaco, Mano do Estácio, Mano do Mangue, Mano da Festa da Penha, Mano das parcerias e das pernadas com outros Bambas, bambambãs, pulando de lá pra cá: “Macumbembê, Samborembá!” Ora: a Macumba gerou o Samba, como ele mesmo atestou. Ser sambista era a sua sina, não havia escapatória. Sempre muito alinhado, a gravata borboleta, o paletó bem cortado, os anéis reluzindo nos dedos – a nata da malandragem, a modernidade negra. Um dândi a flanar por aí, bares e gafieiras, costurando a cidade inteira feito a mãe costurava saias.
Viver é uma forma de arte e ele vivia a pintar o que via. E o que falar das orgias, dedilhadas pela Lapa?! Se Samba é que nem passarinho, como disse um certo Rei, gostava que se enroscava de voar nas madrugadas. Jogava. A Penha, lá de cima, dizia que sim!
Afro-Rei-Pierrô
Pois ele também virou Rei, nessa disputa caprichosa. O sucesso musical chegava. E quando vinha o Carnaval, a rinha se acentuava: tudo é competição, desde que o Samba é Samba. No concurso de Zé Espinguela, a flecha certeira de Oxóssi, ganhou o primeiro lugar! Escolas de Samba nasciam e o moço estava no meio, confirmando a ideia precisa de que ele e os irmãos mais chegados, os manos Paulo e Cartola, herdaram do bravo Zumbi o poder de sonhar quilombos. Deixa Falar, Portela, Mangueira, Tijuca, Vizinha Faladeira, De Mim Ninguém Se Lembra… em cada pavilhão um reinado, um símbolo, o bordar de uma nova estrela, na feitura das constelações. O Sol e a Lua, o emblema tão desejado! Na boca do povo, pelos becos em convulsão, sob a chuva de confetes, “um Pierrô Apaixonado que vivia só cantando…”. Brindou com Noel Rosa, o Poeta da Vila, enrolado em serpentinas, à glória de uma marchinha! Pegou o bonde da história, vestido de baiana, e saiu por aí, feliz, tropeçando nos calendários – pra tudo se acabar na quarta-feira, a inspiração de outrora, ou será que não é bem assim?
Embaixador
Pintou e bordou, este líder nato! Foi o mestre da própria oficina, matéria de carpintaria, passo e compasso do pai. Nas tramas da moda, nos palcos e nas coxias, nos letreiros dos cinemas, sob as luzes dos cassinos, no vuco-vuco das Bienais, viajando, viajando… Gravou a Macumba em disco, o Embaixador, para consagrar a fé e a farra como a nossa fusão maior. Viu a Praça virar Avenida e atiçou a nostalgia, chapéu de palhinha e palheta, via Rádio Nacional. Sonhava poetizando – inclusive ganhou poemas de amigos de tinta e de pena, o caso de Carlos Drummond, mesmo autor de “Sonho de um Sonho”, poema que eu já desfilei! O poeta de Itabira, ele também sabia que é dentro do peito que o pandeiro bate! Até as gentes de outras terras, Josephine Baker, Orson Welles, a princesa da Inglaterra, todos se deixaram guiar pela ginga do alfaiate-pintor.
Que vestiu xequerês e ganzás, violões, tamborins e agogôs; que por estes e tantos motivos, foi um dos artistas escolhidos para representar o Brasil no Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, realizado em Dakar. Arrumou as malas e foi, diplomacia que samba, apresentando-se assim:
“Eu sou Heitor dos Prazeres. Heitor dos Prazeres é meu nome!”
Mas ele não foi sozinho, ao Senegal, ansioso por conhecer a África que ainda não fora pintada. No rol de notáveis (Clementina de Jesus, Haroldo Costa, Paulinho da Viola, Mestre Pastinha, Mãe Olga de Alaketu, Rubem Valentim, Camafeu de Oxóssi…), foi com ele quem escreve aqui, eu, a Unidos de Vila Isabel, o Mocambo dos Macacos, o Morro do Pau da Bandeira. O filme “Nossa Escola de Samba”, de Manuel Horácio Gimenez, retrata o dia a dia dos “anônimos artistas” liderados por Seu China, no chão da poesia cantado por Paulo Brazão. Comunidade que sonha e trabalha, enquanto prepara o desfile – o garbo e a garra, cerzindo quimeras. Sublime. Este tesouro-documentário foi exibido em Dakar juntamente com a película que mostrou ao mundo que é possível recriar este mesmo mundo no interior de um ateliê. Sonho Sonhado!
Eu fui contigo, meu Mano, kizombando e trançando o tempo. E vou novamente agora, rumo ao próximo cortejo, na Marquês de Sapucaí, artéria da Praça Onze! Também sou aquela gente que você viu dançar na rua, levantando a poeira doce, vestindo a pele das feras, chocalhos nas canelas, turbantes e panos da costa, fios de conta e patuás. Sou Angola, Congo, Nigéria, Moçambique, Etiópia, Costa do Marfim, Guiné, Benin, sou de todos os lugares, o cair do crepúsculo sobre os rios e os mares, sou a Vila, forte e unida, tremulando nas multidões. Sou a Vila, memória ancestral das tantas Áfricas que o Samba esculpe, arruaça que se lança neste sonho carnavalesco, desfiando a fantasia que você também usou.
Venham sonhar comigo, sambistas de todos os cantos! Venham sonhar conosco!
Brincar de catar estrelas, romper fronteiras, bagunçar o coreto e balançar a roseira, sorrir em azuis pinceis!
“Noites de festa no Rio,
Noite de danças e cores,
Em que teus pincéis e notas
Embalam os nossos amores”
Carlos Drummond de Andrade – O Adeus dos Poetas, 1966
Enredo, pesquisa e texto: Gabriel Haddad, Leonardo Bora e Vinícius Natal
Carnavalescos: Gabriel Haddad e Leonardo Bora
Pesquisador: Vinícius Natal
Assistente de pesquisa: Lucas de Medeiros
Equipe de criação: Manoel Rocha, Patryck Thomaz, Rafael Gonçalves, Sophia Chueke e Theo Neves
Agradecimentos: Heitor dos Prazeres Filho (Heitorzinho), Jandra Prazeres e família; João Lucas Pedrosa, Lêo Pedrosa, Margareth Telles e equipe da MT Projetos de Arte; Martinho da Vila e Cléo Ferreira; Renato Menezes; Rachel Valença
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Músicas e poemas citados no corpo da sinopse:
O adeus dos poetas – Carlos Drummond de Andrade
“Baião, baião, baião” – Heitor dos Prazeres
Cheguei, moçada – Heitor dos Prazeres
Um Homem e seu Carnaval – Carlos Drummond de Andrade
Pierrot Apaixonado – Heitor dos Prazeres e Noel Rosa
A tela alva de Lua – Hermínio Bello de Carvalho
Sonho de um Sonho – Carlos Drummond de Andrade / Martinho da Vila, Rodolpho e Graúna
Tia Chimba – Heitor dos Prazeres
Xangô (Ponto de Macumba) – Heitor dos Prazeres
Exposições:
Heitor dos Prazeres é meu nome. Curadoria de Haroldo Costa, Pablo Léon de la Barra e Raquel Barreto. CCBB Rio de Janeiro, 2023.
Pequenas Áfricas – O Rio que o Samba inventou. Curadoria de Angélica Ferrarez, Luiz Antônio Simas, Vinícius Natal e Ynaê Lopes dos Santos. IMS Paulista, 2023.
O Rio do Samba – Resistência e Reinvenção. Curadoria de Nei Lopes, Clarissa Diniz e Marcelo Campos. Museu de Arte do Rio, 2018.
Tecendo a Manhã – Vida moderna e experiência noturna na arte do Brasil. Curadoria de Renato Menezes e Thierry Freitas. Pinacoteca de São Paulo, 2025.
Filmes:
African Rhythms. Direção de Irina Venzher e Leonid Makhnatch, 1966. Disponível em: https://www.net-film.ru/en/film-6331/?search=qdakar%201966
Berlim na Batucada. Direção de Luiz de Barros, 1944. Disponível em: https://vk.com/video653173939_456242295
Heitor dos Prazeres. Direção de Antonio Carlos da Fontoura, 1965. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-FgabF3G32s&t=225s
Nossa Escola de Samba. Direção de Manuel Horácio Gimenez, 1965. Disponível em:
The First World Festival of Negro Arts. Direção de William Greaves, 1966. Disponível em: https://vimeo.com/ondemand/firstworldfestival
A Unidos da Tijuca comecará no dia 24 de julho o concurso de sambas que vai eleger o hino oficial do seu desfile do Carnaval 2026. O enredo a ser contato nos versos dos compositores do pavão amarelo ouro e azul do Morro do Borel é “Carolina Maria de Jesus”, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira. No ano em que o Rio de Janeiro é a capital mundial do livro, a Unidos da Tijuca será, até aqui, a única escola com enredo literário no carnaval. A grande final acontece dia 20 de setembro.
A agremiação deixou os poetas “livres” em suas criações, mas os compositores que quiserem se reunir com o carnavalesco e equipe de carnaval para possíveis “tira-dúvidas” deverão agendar o atendimento presencial através do WhatsApp 21 96432-1322. O barracão da Unidos da Tijuca fica situado na Cidade do Samba, localizado na rua Rivadávia Correa 60 – Barracão 12, Gamboa.
O pavão amarelo ouro e azul do Morro do Borel receberá a inscrição dos sambas concorrentes no dia 17 de julho de 19h às 22h na quadra que fica localizada na Avenida Francisco Bicalho nº 47 – Santo Cristo. A ala é aberta e qualquer compositor poderá participar do concurso. Para se inscrever é necessário ter no máximo 6 componentes por parceria. Cada compositor deverá pagar uma taxa de R$ 500,00 (que será revertido para a fantasia da Ala dos Compositores no desfile 2026). A parceria inscrita deverá entregar 30 cópias da letra e 2 pen drives com a gravação do samba.
Como iniciativa para valorizar o trabalho dos poetas, a Unidos da Tijuca reafirma, como justa medida, o compromisso do pagamento de 100% da premiação destinado aos compositores campeões do concurso de samba-enredo. Uma medida pioneira entre as agremiações que realizaram a disputa de samba no Carnaval do Rio de Janeiro.
Todas as etapas do concurso serão realizadas na quadra da escola às quintas-feiras. A semifinal e a final acontecerão aos sábados.
Confira abaixo o calendário:
Julho 17/07 – 19 às 22h – Entregas dos Sambas
24/07 – 20h – Apresentação dos Sambas
31/07 – 20h – Eliminatória
Setembro
04/09 – 21h – Eliminatória
13/09 – 22h – Semifinal
20/09 – 22h – Grande Final
Em 2026, a Unidos da Tijuca será a última escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 16 de fevereiro na Marquês de Sapucaí em busca do campeonato do Grupo Especial.
A Porto da Pedra segue reforçando seu time para o carnaval 2026. Com Joyce Santos assumindo o pavilhão principal, a vermelha e branca traz Vivian Colombo para encantar a comunidade de São Gonçalo com seu bailado elegante. A porta-bandeira, será o par de Johny Matos no desfile do próximo ano.
Vivian Colombo na Porto da Pedra. Foto: Divulgação
“Recebo esse convite do presidente Fabrício Montibelo com muita honra. Dançar é minha vida e ter esse momento na Sapucaí, representando uma escola do nível da Porto da Pedra, é realmente uma responsabilidade imensa”, diz Vivian.
Com um currículo extenso, a porta-bandeira nascida em São Paulo, iniciou sua trajetória profissional no carnaval desfilando na Unidos do Raciocínio, escola de Nova Iguaçu. Desde então, defendeu pavilhões do carnaval paulistano como a Uirapuru da Mooca e Unidos de Santa Bárbara, ambas agremiações integrantes do Grupo de Acesso II. Em Santos, defendeu o pavilhão principal da Unidos da Zona Noroeste, onde garantiu as notas máximas até 2024, quando transferiu-se para a Império da Vila, também gabaritando o quesito.
No Rio de Janeiro, Vivian já integrou o time de casais, apresentando o 3º pavilhão dos Acadêmicos do Sossego (2022), Estácio de Sá (2023 e 2024), além da Tradição no desfile deste ano.
Em 2026, a Porto da Pedra terá como o enredo “Das Mais Antigas da Vida, o Doce e Amargo Beijo da Noite”, que aborda a história da prostituição, tema do carnavalesco Mauro Quintaes com pesquisa de Diego Araújo. A escola de São Gonçalo será a 7ª a desfilar no sábado de carnaval, 14 de fevereiro.
A Liga-SP abriu novamente a Fábrica do Samba, no último domingo, para completar o final de semana de Festa Junina, que novamente recebeu um grande público. Juntando o sucesso da novidade do ano passado com a continuação em 2025, dá para concluir que essa mistura de carnaval e São João já é uma realidade e está no calendário da entidade nos próximos anos. Assim como no sábado, outras agremiações com suas quadrilhas se apresentaram: Tatuapé, Tucuruvi, Vila Maria, Peruche e Barroca Zona Sul — danças ensaiadas e encenações que arrancaram sorrisos e aplausos do público. A Tom Maior, campeã do Grupo de Acesso 1, foi a responsável por colocar o samba na conversa. A ala musical, liderada por Gilsinho, cantou hinos e sambas históricos da agremiação, além de ter feito uma homenagem a Bira Presidente. Além da escola do Sumaré, atração sertaneja e o grande show da Turma do Pagode encerraram a noite. O presidente Renato Remondini (Tomate) conversou com o CARNAVALESCO e celebrou o sucesso da Festa Junina nos dois dias.
“Nós temos que agradecer a todo mundo que ajudou a realizar esses dois eventos. Como a gente propôs desde o início, a Liga-SP tem que estar aberta para fazer eventos o ano inteiro. Desta vez, foi uma mistura de festa junina com carnaval, onde a gente teve a campeã do Especial no sábado e a Tom Maior no domingo. Os shows também foram sensacionais, atrações que o povo do samba gosta. Posso dizer que foi sucesso total ontem, hoje de novo, com a casa cheia, e, se Deus quiser, a gente vai continuar nesse caminho, trazendo sambistas e pessoas que amam as nossas escolas de samba cada vez mais para dentro da Fábrica”, disse.
Presidente Renato Remondini (Tomate)
Em relação ao ano passado, Renato Remondini falou sobre as melhorias nas filas e que a ideia da Liga-SP é sempre inovar, como fizeram neste ano, usando a tecnologia para facilitar o consumo do público. “A proposta é sempre aumentar as novidades. No ano passado, as pessoas enfrentaram filas, mas vimos os erros, aumentamos os caixas e implementamos o sistema de autoatendimento. Nós queremos sempre melhorar e planejar os eventos da melhor maneira possível. Tudo que a Liga-SP faz vira sucesso. Isso é muito importante para o carnaval. Tomara que a gente consiga continuar acertando daqui para frente”, completou.
É o segundo ano consecutivo que a Fábrica do Samba recebe um público para lá de satisfatório no arraiá, sendo que ainda é algo novo essa mistura de festa junina e carnaval, sertanejo e samba-enredo. Fato é que o casamento tem dado certo em São Paulo, mostrando que a cultura não tem fronteiras.
A Unidos de Vila Isabel está determinada a dar uma guinada em seu desempenho no Carnaval 2026. Em entrevista ao CARNAVALESCO, o presidente da escola, Luiz Guimarães, falou com entusiasmo sobre a contratação dos carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora, dupla que assinou os últimos carnavais da Grande Rio e é considerada uma das mais melhores do carnaval carioca.
“Foi algo conversado e construído a quatro mãos. Tudo foi feito com muita conversa. Já era um sonho antigo meu fazer esse enredo, mas tinha que ser feito nas mãos dos profissionais certos para ter o pleno desenvolvimento que esse enredo merece, que terá com Bora e Haddad. Estou muito feliz, confiante e otimista com esse trabalho. O enredo está sendo construído com muito cuidado”, declarou Guimarães.
Para o presidente, a chegada dos carnavalescos representa um investimento certeiro na qualidade artística do desfile e no projeto a longo prazo da escola. Ele não economizou elogios ao comparar a contratação à chegada de um craque ao time.
“É como se um clube contratasse o Messi. Enxergo neles como referências em termos artísticos. A gente tem que sonhar grande e pensar grande se queremos ganhar o carnaval. Buscamos essa aproximação com eles, mostramos que o projeto da Vila Isabel é a longo prazo e eles ficaram encantados”, revelou.
A expectativa na azul e branca do bairro de Noel é de uma virada de página após o desempenho no último desfile. Segundo Guimarães, o objetivo é claro: disputar o título.
“A nossa colocação não foi o que apresentamos na Sapucaí, mas é virar a página, escrever nova história. Queremos o lugar mais alto e por isso buscamos os melhores profissionais. Estou dando muita autonomia para o trabalho deles, o casamento está maravilhoso e tem tudo para dar certo”, disse o dirigente.
Sobre a preparação para o próximo desfile, Luiz Guimarães destacou o cuidado na elaboração do enredo e a produção do material audiovisual, que foi apresentado de forma diferenciada.
“Ano passado, fizemos uma imersão no lançamento do enredo. Este ano o audiovisual foi lindo. A produção ficou linda e completamente diferente de tudo que foi apresentado. A gente está muito detalhista. Agora, vamos abrir a disputa de samba. Tenho certeza que o grande enredo vai possibilitar um grande samba”, concluiu.
Com a chegada de Bora e Haddad, a Vila Isabel reforça seu compromisso com a excelência artística e coloca a escola entre os grandes destaques do pré-carnaval 2026. A expectativa agora se volta para o desenvolvimento do samba-enredo e para os próximos passos da azul e branca rumo à Marquês de Sapucaí.
O Brasil transformou o acesso de pessoas negras ao ensino superior com políticas públicas e a luta dos movimentos sociais. Porém, o racismo estrutural no ambiente acadêmico, no mercado de trabalho e as desigualdades persistem. Portanto, iniciativas educacionais como a Universidade Livre do Carnaval emergem como catalisadoras de uma mudança mais profunda e inclusiva.
Até os anos 2000, a presença de estudantes negros nas universidades brasileiras era muito baixa. Mudou! Com a Lei de Cotas e outras ações afirmativas. O número de ingressos na educação superior federal aumentou 167% de 2012 a 2022. Em 2019, negros (pretos e pardos) tornaram-se maioria nas universidades públicas, com 50.3% das matrículas.
Mas a desigualdade na educação persiste. Na baixa taxa de conclusão, na desvantagem em cursos considerados de alto prestígio e mais valorizados no mercado, na resiliência do racismo institucional e interpessoal.
No mercado de trabalho, o rendimento médio dos negros com ensino superior completo era de R$ 4.798 em 2024, valor 32% inferior ao dos não negros com diploma (R$ 7.030). Para mulheres negras, a situação é mais grave, com rendimento médio de R$ 2.079, menos da metade dos homens não negros (R$ 4.492). Apenas 33% das pessoas em cargos de liderança no Brasil são negras.
A indústria do carnaval gera milhares de empregos, muitos ocupados por pessoas negras e oriundas de comunidades periféricas. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima 32 mil empregos temporários em todo o país em 2025, enquanto outras fontes citam até 70 mil.
As escolas de samba são mobilizadoras de talentos. Apenas uma delas pode envolver mais de 5.400 pessoas nos meses que antecedem o evento, entre aderecistas, escultores, costureiras e carpinteiros. Mas esses trabalhadores enfrentam desafios como a sazonalidade, a informalidade e a subvalorização.
A Universidade Livre do Carnaval pretende ser um espaço de valorização de saberes não convencionais, da experiência prática e da transmissão oral de conhecimento, tão presente na cultura afrobrasileira.
Ao propor um modelo educacional que se distancia da rigidez formal, questiona a concepção de “universidade” e de “conhecimento”. Legitima o conhecimento empírico, acumulado ao longo de décadas por mestres, artesãos, costureiras, ritmistas e compositores, saberes que não cabem nas categorias tradicionais de “disciplinas” e “doutorados”. Valoriza a inteligência prática e criativa de trabalhadores invisibilizados.
Para a população negra, submetida a um sistema que nega suas raízes e contribuições, iniciativas como essa são cruciais para o fortalecimento da identidade e da autoestima.
A Universidade Livre do Carnaval não é, portanto, apenas um projeto educacional, mas um símbolo de resistência e inovação. Ao desafiar as estruturas hegemônicas do conhecimento e ao reconhecer e valorizar a vasta cadeia produtiva do carnaval, pode desempenhar um papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, onde o “doutorado” da vida e da experiência seja tão valorizado quanto o título acadêmico formal, e onde a rica diversidade de saberes brasileiros seja finalmente reconhecida e celebrada.
Evelyn Bastos é reitora Colegiada da Universidade Livre do Carnaval (Ulcamar), diretora cultural da Liesa e rainha de bateria da Mangueira
Matheus Santos, presidente da União de Maricá, conversou com o CARNAVALESCO durante o sorteio da ordem dos desfiles da Série Ouro sobre os preparativos para o próximo Carnaval da escola e os resultados obtidos em 2025.
Para o presidente, o pensamento é o melhor e mais forte possível após o último desfile. Já de olho em 2026, a agremiação contará com os reforços de Zé Paulo Sierra e Mauro Amorim, apostando na experiência de ambos no universo do samba.
“Saímos de cada Carnaval mais unidos e fortalecidos. A Band, que foi a transmissora do nosso desfile, disse que fomos eleitos a melhor escola da Série Ouro, mas, infelizmente, ficamos em quinto lugar por conta de alguns percalços que enfrentamos. Ajustamos isso para 2026. Por isso a contratação do Mauro, por isso a contratação do Zé Paulo, por isso as reuniões que temos feito, periodicamente, semanalmente. A Maricá está com um trabalho focado, muito atencioso e minucioso em cada detalhe. Para a nossa equipe, o Mauro, que chegou agora, e o Zé Paulo, que também acaba de chegar, conversamos bastante com eles antes da contratação, para explicar tudo o que desejamos e precisamos da experiência desses dois grandes artistas do mundo do samba”, afirmou.
Sobre o desfile de 2025, o dirigente explicou que a escola segue avaliando o que foi apresentado na Avenida, para aprimorar o projeto rumo à conquista do título da Série Ouro.
“A União de Maricá não parou de trabalhar depois do nosso desfile. E, cada vez mais, vamos estar mais unidos, mais focados, trabalhando para buscar esse título, essa estrela tão sonhada para a cidade de Maricá. Temos um balanço muito positivo. Já assistimos ao nosso desfile mais de 50 vezes com todos os segmentos. E é isso que nos importa: sair de cada desfile, ensaio e reunião mais decididos e mais assertivos para poder conquistar esse título tão sonhado. Sabemos que, quando se sai do barracão, todo mundo sai campeão, mas é lá na Avenida que vamos perdendo os pontos”, concluiu Matheus.
A 2ª Festa Junina do Carnaval de São Paulo, organizada pela Liga-SP na Fábrica do Samba, já entrou na programação tão especial e agitada do sexto mês do ano na maior cidade da América do Sul. Mais do que isso: com apenas duas edições, a idealizadora do evento já conseguiu impedir uma série de reclamações que muitos faziam em festividades realizadas no local em outras temporadas. Presente na primeira noite do evento (na noite do último sábado, sendo que este domingo também será de festejo), o CARNAVALESCO conversou com parte do público para saber qual foi a experiência de cada um deles.
Nos primeiros eventos realizados na Fábrica do Samba (parcialmente inaugurada em 2016 e concluída em 2022), havia, ao menos, um grande ponto de atenção: o estacionamento. Primeiro, ele inexistia – o que forçava o público a estacionar nas imediações do espaço, localizado na Barra Funda. Pouco a pouco, parar o carro deixou de ser um problema para quem vai a algum evento no local.
Rinaldo Reis, arquiteto de 59 anos e componente da Dragões da Real, destacou a evolução em tal aspecto: “Eu e minha família viemos na festa junina do ano passado e, em 2025, parece que está mais organizado. Talvez por ser o segundo ano eles solucionaram algumas coisas que eu não tinha gostado no ano passado. O estacionamento, por exemplo, nesse ano achei bem mais fácil e mais tranquilo de colocar o carro. A gente comprou tudo antecipado, também. Achei que está mais organizado”, comentou, destacando a possibilidade de se programar para estacionar o carro – em um local dentro da própria Fábrica do Samba, diga-se.
Rinaldo Reis, arquiteto de 59 anos e componente da Dragões da Real
Desde a entrada para a 2ª Festa Junina do Carnaval de São Paulo era possível notar a organização citada por Rinaldo. Enquanto o público entrava pelo lado direito da principal rampa de acesso, os carros eram estacionados na Alameda Juarez da Cruz – à esquerda do local.
Quem também recuperou a festividade do ano passado foi Roselene Celoto, aposentada de 67 anos e integrante da Dragões da Real e do Rosas de Ouro: “Eu estava aqui na Festa Junina do ano passado e gostei bastante de tudo. A comida estava boa, as atrações me animaram. Estava aqui quando premiaram a Dragões como melhor quadrilha da segunda noite! Na comparação entre os dois anos, acho que a festa junina de 2025 tem mais pessoas, pelo que eu estou percebendo”, rememorou.
Roselene Celoto, aposentada de 67 anos e integrante da Dragões da Real e do Rosas de Ouro
Em 2025, dez escolas tiveram apresentações marcadas – mas, ao contrário do que aconteceu em 2024, não haverá premiação alguma. Já sobre as apresentações, o sábado teve show do cantor Jonas Medeiros; um pocket show do Rosas de Ouro (atual campeão do Grupo Especial do carnaval de São Paulo); quadrilhas de Torcida Jovem, Império de Casa Verde, Vai-Vai, Rosas de Ouro e Dragões da Real; e show do cantor Tiee.
Atrações elogiadas
Além de Tiee, quem também se apresentará no evento será a banda Turma do Pagode – mas no domingo, 15 de junho. Os shows foram elogiados por Rodrigo Lemke, comerciante de 44 anos e torcedor da Mancha Verde: “Gostamos da programação da Liga-SP, gostamos de Tiee e da Turma do Pagode. Hoje já estamos aqui, vamos tentar vir amanhã também para curtir o show gratuito de uma banda que a gente gosta”, prometeu.
A decoração do espaço, inteiramente típica, também chamou atenção – e virou cenário para muitas fotos. O detalhe é que diversas esculturas de desfiles realizados em 2025 foram cedidas pelas escolas de samba. O boi-bumbá da Torcida Jovem e o Luiz Gonzaga do Águia de Ouro, por exemplo, estavam presentes. Até mesmo os personagens do desenho “A Turma do Charlie Brown”, também do Águia, estavam vestidos com detalhes juninos.
Todas as idades representadas
Na frente da quadra da Dragões da Real, na alameda Alberto Alves da Silva (seo Nenê), haviam brinquedos infláveis para que as crianças se divertissem. Pouco antes, também havia barracas com jogos para os pequenos. Roselene fez questão de destacar o acerto da Liga-SP em olhar para os sambistas do amanhã: “Eu vim aqui para assistir às quadrilhas, amo demais as apresentações. Senti que tudo está ótimo, espero que continue assim amanhã (hoje) e para o ano que vem. Acho que os brinquedos também foram uma ótima sacada”, comemorou.
Além dos espaços, havia também um touro mecânico e uma cadeia para quem quisesse se divertir. As velhas-guardas das agremiações também organizaram um bingo no Espaço Cultural Octavio da Silva (Talismã). De trinta em trinta minutos, novas rodadas aconteciam no local.
Preço adequado
Nada é mais natural para um brasileiro que reclamar dos preços. Mas, na visão de quem esteve presente na festa junina em questão, os valores cobrados passavam longe de ser exorbitantes.
Karina Lemke, que estava comemorando os 40 anos exatamente no sábado ao lado de Rodrigo (e que, tal qual ele, é torcedora da Mancha e comerciante), chegou a destacar que os preços estão melhores que em outros arraiás da cidade: “Nós não viemos no ano passado, então não podemos comparar. Mas, até agora, estou gostando de tudo. Não tenho nada que posso reclamar. Acho que o preço está acessível, a gente já foi em outras festas juninas de bairros e as coisas como um todo estão caras. Achei que o preço está bom, até mais barato que em outros lugares”, comentou.
Rinaldo foi pela mesma linha: “Eu gostei bastante da programação e também gostei bastante das quadrilhas. Sobre o preço de tudo aqui, sei que é o normal da Liga-SP, toda festa é mais ou menos nessa faixa de preço. Na quadra da Dragões o preço é semelhante também, então não acho que isso seja esse um problema”, destacou.
Sem citações
Outros gargalos de grandes eventos paulistanos (e no planeta como um todo) sequer foram citados pelos entrevistados. Os banheiros, que por vezes eram citados por visitantes da Fábrica do Samba em festividades, não foram lembrados. Vale destacar que, para a festa junina, todos os toilletes do local estavam abertos.
Apesar da reportagem presenciar algumas filas em barraquinhas de comes e bebes, elas também não foram citadas por entrevistado algum. E, aqui, vale destacar dois fatos: o primeiro deles, a presença maciça de vendedores de tickets (todos eles bem identificados, carregando um cifrão preto em um luminoso verde) nas alamedas e até nas proximidades do palco; depois, a presença de totens de autoatendimento, economizando tempo. Quando o sistema eletrônico teve uma queda, a própria Liga-SP avisou a situação – tal qual o restabelecimento de tais aparelhos.
Comes e bebes
João Roberto Celoto, aposentado de 66 anos que é marido de Roselene e não participa de escola alguma (“apenas leva e busca a esposa”, de acordo com o próprio), fez uma observação sobre o que era consumido na festa junina: “A única coisa que eu acho que poderia ser melhor é a diversidade de opções para comer. Aqui não tem lanche de carne louca, por exemplo – algo que é tipicamente junino. Também acho que as escolas poderiam interagir mais com o público na hora das quadrilhas. Já estive em uma festa na quadra da Dragões que fizeram isso e achei muito bacana. Achei o preço das comidas ok e não tenho reclamações quanto ao banheiro”, afirmou.
Após a fala do entrevistado, a reportagem fez o levantamento das barraquinhas de alimentação. Era possível se alimentar com bolos, maçã do amor e doces típicos; brigadeiros e doces gourmet; espeto de chocolate; milho verde; vinho quente e quentão; hamburguer; batata frita; hot dog; caldos; acarajé; pizza; baião de dois; lanches de pernil e de calabresa; macarrão; pastel e churrasco – isso além dos três espaços com bebidas dispostos em duas alamedas e um estande apenas para drinks.
O sambista Bira Presidente, fundador do bloco Cacique de Ramos e do grupo Fundo de Quintal, morreu na noite deste sábado, aos 88 anos, no Rio de Janeiro. O artista morreu, às 23h55, no Hospital Unimed Barra, vítima de complicações do câncer de próstata. A informação foi divulgada por meio de nota conjunta publicada nas redes sociais do Cacique de Ramos e do Fundo de Quintal.
Ubirajara Félix do Nascimento também sofria com a doença de Alzheimer.
“Sua atuação no Cacique de Ramos moldou o bloco e o samba, o Doce Refúgio se tornou um espaço de referência cultural. No Fundo de Quintal, foi ponto de partida de uma linguagem que redefiniu a roda de samba e inspirou gerações”, diz a nota.