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Conheça a sinopse do enredo da Mangueira para o Carnaval 2025

Enredo: “À Flor da Terra – No Rio da Negritude Entre Dores e Paixões”

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Ouça o ruído do mar. Pense em quem foi saído de Cabinda, de Luanda, de Benguela. Jogue o corpo pro centro do mundo. Prepare a mão pra bater, o pé pra riscar e o peito para vibrar nos acordes e nos tremores do som. Desaterre a experiência dos bantus, unidos pelos seus traços linguísticos, e criadores de uma sofisticada visão de mundo.

A sua própria leitura da realidade se manifesta no ciclo bakongo através da união do mundo visível e do mundo invisível. Vida e morte fazem parte do mesmo ciclo; não se anulam, complementam-se. Um entendimento sobre a existência que foi silenciado pelo racismo, na ideia de superioridade dos pensamentos brancos e pelo estabelecimento de uma outra forma predominante de refletir sobre a negritude.

Essa visão de mundo se reafirma contra as verdades históricas e contra o apagamento da sua contribuição africana de uma cidade que não se limita nas fronteiras tradicionais. O Rio também é o Atlântico. Pelo cais, o Rio também recebe o mar.

A água conduz as passagens e é no seu interior que estão guardados a memória e os mistérios ancestrais. É possível ver o invisível submerso sob o espelho d’água, conectando-se com as forças dos antepassados.

Nas kalungas, vida e morte se sobrepõem, dentre corpos, almas e inquices. A terra absorve tudo o que nasce. É Kavungo. Anuncia memórias fincadas no solo, que guardam as dores em busca de reparação dos pretos novos e pretas novas. As entranhas subterrâneas revelam a verdade, expõem as marcas, devolvem o que se tenta esconder e apagar o que está à flor da pele – À Flor da Terra! A ventania de Kaiango governa os cursos espirituais, conduzindo caminhos. Finaliza e recomeça destinos que fazem a passagem e podem assim retornar ao ciclo da vida.

Em Ku Nseke, plano terreno, território de contato, ressurge o choque de culturas. Era o branco a própria morte, autoritário, que impõe a sua natureza e o seu feitiço de dominação sobre as populações negras.

Desse lado do Atlântico, os irmãos de cor, juntos, pela comunhão, buscam reconfigurar e estabelecer laços para promover afetos em vida. Irmanados pela ancestralidade, pelas frestas da santíssima macumba e por diferentes modos de existir, os bantus se fincam e transformam a sua realidade. Não de forma dócil ou ingênua, como incorretamente ousaram dizer, mas sim complementar, ao absorver o que alimenta a força vital. Agindo por si, com os outros.

Eles têm na natureza, nas ervas e nas plantas a sua essência espiritual, que se manifesta nas ciências e em saberes requintados. Suas mãos curam, transformam, criam e fazem do seu trabalho um lugar no mundo, espaço de viver e exercer parte de seu conhecimento trazida como bagagem.

São ferreiros, quituteiras, barbeiros, aguadeiras, trabalhadores urbanos e do porto, agentes da liberdade, seja pela compra ou pela luta, fundamentando uma outra experiência, que possibilita o trânsito e a circulação como sujeito da cidade.

Sujeito que também soube triunfar e enaltecer sua altivez em glória pelos caminhos do Rio.

Nos zungus, locais de intensa convivência, essa negritude, liberta ou não, recebe, acolhe, festeja, transbordando ancestralidade, imprimindo suas marcas em sua forma de viver e de se organizar em sociedade. Panos brancos tremulam aos ventos nas janelas dessas habitações, anunciando refúgio aos necessitados.

Os povos bantus são capazes de reconstruir sua terra em qualquer espaço. Com as relações comunitárias, modificam o lugar, negociam e entrelaçam culturas. Modelam novos territórios, forjam novas práticas e hábitos. Apoderam-se afrontosamente do Rio, agregando outros saberes para reformular as suas próprias experiências.

Ao ocupar a cidade, as contribuições dos bantus se diluem e pulsam na identidade negra do território carioca. Tagarelamos, comemos, tocamos e dançamos conforme as heranças e as tradições desses povos. Ter um dengo, criar um moleque, reunir-se em kilombo, ir pra macumba, pedir na umbanda, bailar como nos lundus, comer um quiabo pra não pegar um feitiço, cozinhar com fubá, mergulhar no dendê, fazer um batuque, chocalhar um ganzá, tomar cachaça. De boca em boca, mais do que palavras, práticas também são passadas de gerações para gerações. Esses conhecimentos fundamentais atravessam o tempo, cruzam o espaço e se revelam no cotidiano de um Rio de Janeiro tão efervescente.

Além de arquivo a céu aberto, a rua guarda as memórias, as dores, as paixões e as lutas dos bantus. Diferentes formas de existir se fazem presentes nas esquinas, ruas, vielas, por onde circulam herdeiros desses povos recriando saberes e constituindo a vida de forma revolucionária.

Das cicatrizes de uma cidade caótica, surgem flores que promovem o horizonte negro. Ao andar pelo Rio, movimentar a vida, balançar o corpo, propagar conhecimentos, ensinar valores, cria-se uma forma de restabelecer conexões através do futuro ancestral. Com feridas abertas de um passado presente, persistem desaparecimentos, silenciamentos e apagamentos de uma juventude marginalizada e negra, que abre novas frestas desejando as venturas do mundo.

Olhe o céu. Escute o trânsito das kalungas. Pense na pipa e no barulho da rua. Sente os sons graves e ruidosos que estão no dia a dia carioca. Ouça os toques d’Angola, o tamborzão e a batida do funk. Prove esse solo aterrado de memória sabendo que o samba macumbado no couro da mão tem razão de ser. A cidade se veste de branco nas renovações de ciclo. A cidade continua. A cidade festeja a vida para se encantar dela. A cidade ousa viver e construir futuro. Tem uma nova chance a cada alvorada, a cada cria, a cada sol, que nasce todo dia desse mesmo chão, carregando consigo as experiências dos seus mais velhos e reinventando a liberdade.

Atrevida por natureza e banhada da ancestralidade bantu, a alma carioca desafia a morte, celebra a vida e faz carnaval!

Carnavalesco Sidnei França
Pesquisa de Sidnei França, Ariel Portes, Felipe Tinoco e Sthefanye Paz.

Tuiuti celebra sinopse de 2025 e presidente fala: ‘estão dizendo que é top três, um dos melhores enredos do carnaval’

Na última segunda-feira, o Tuiuti reuniu sua comunidade na quadra, durante o tradicional Tutu de Preto Velho, para a leitura da sinopse do enredo “Quem tem medo de Xica Manicongo?”. Com show de diversos dos seus segmentos, a escola acompanhou atenta a leitura feita pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, após a apresentação dos mesmos, que começou após a apresentação do presidente Renato Thor.

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Foto: Matheus Morais/CARNAVALESCO

O presidente começou saudando Jack, que era o aniversariante da noite: “Hoje nós estamos aqui para ler a sinopse do nosso enredo, que pela mídia estão dizendo que é top três, é um dos melhores enredos do carnaval. Esse dia de hoje também, dia 13 de maio, é aniversário do nosso carnavalesco Jack Vasconcelos que é o artista, o mentor desse enredo. Queria uma salva de palmas para o Jack Vasconcelos”.

Após a apresentação dos segmentos, Jack assumiu o microfone e o palco para divulgar a sinopse. O carnavalesco começou com uma contextualização sobre o enredo e a personagem:

“Nosso enredo para 2025, a gente já está esperando por ele, já tem um tempinho, a gente já lançou ele naquela festa linda na cidade do Samba, do aniversário da escola, com o título de ‘Quem tem medo de Xica Manicongo?’. É um título provocativo e eu vou só falar rapidinho e muito por alto sobre essa personagem histórica, que é a Xica Manicongo, que é considerada a primeira pessoa trans escravizada no Brasil, que a gente tem registro, e ela tem uma história muito bonita, merece ser enredo de escola de samba, porque ela fala diretamente com o que muita gente passa hoje em dia, com realidades que eram do século 16, 17, 18, 19, 20, e a gente está entrando em outro século com as mesmas questões. E algumas delas, vou fazer um trocadilho infame aqui, travestidas de piada, travestidas de bom humor. E que a gente já deveria ter superado. Nossa escola tem uma tradição em abordar personagens que são marginalizados na nossa história e que merecem a reverência do Sambódromo, que eu acho que é a reverência máxima que um artista, um vulto histórico, um acontecimento, pode ganhar de homenagem no mundo. Porque o que a gente faz, ninguém mais faz em parte nenhuma do mundo. Ninguém faz o que a gente faz. Quando eu digo a gente, eu olho pra todo mundo aqui. Ninguém no mundo faz o que a gente faz. A gente tem que ter um orgulho danado disso!”

Após a leitura, Jack agradeceu a possibilidade de levar o enredo para a avenida, como também a todos os pesquisadores que preservaram os registros sobre Xica, além de agradecer aos juremeiros que ajudaram no caminho espiritual da construção do enredo, e às entidades, além de, claro, a própria Xica:

“É a primeira vez que eu estou tendo a oportunidade de fazer um enredo para falar dos meus. Eu nunca consegui essa oportunidade. Às vezes as pessoas me falam que eu sou a cara do Tuiuti, que aqui é o meu lugar. Eu não duvido, porque quando eu apresentei a Xica Manicongo, que é uma heroína da minha bandeira, que é uma heroína do meu povo, o meu presidente Thor não demorou cinco minutos para abrir um sorriso, dizer que esse era o enredo do Tuiuti, que esse enredo era a cara do que a escola defende, e que ele acreditava e que ele acredita na potência desse discurso, dessa importância, dessa personagem histórica. Não tenho como agradecer, eu acho que nem tão cedo eu vou conseguir agradecer. Mas eu preciso fazer um outro agradecimento aqui. Agradeço a todos, todas e todes os pesquisadores e escritores que se dedicaram ao estudo e lutaram em luta para o não apagamento da memória de Xica Manicongo. Minha gratidão dileta e eterna ao mestre juremeiro Fábio de Cigano que está aqui comigo. Fábio, muito obrigado, eu te amo. Pelo acolhimento, a Mestra Juremeira quimbandeira Dona Maria da Praia e ao Cigano Juremeiro Pierre Santiago pela orientação, aula espiritual e por terem sido pontes para que este enredo pudesse ter sido alimentado por informações que eu não conseguiria encontrar em nenhum escrito dos homens. Ele foi ditado e guiado por quem viveu e fez a história. Por mais que se algum dia eu tenha a dádiva de me encantar e que eu viva por milênios, eu jamais conseguirei pagar por tanta honraria. Muito obrigado às entidades. Muito obrigado à Xica Manicongo, que se comunicou comigo através das entidades e que está muito feliz com essa homenagem, quer muito essa homenagem e eu acho que a gente merece ser portadores dessa missão, porque isso não é só um enredo não gente, é uma missão que a gente ganhou. Vamos levar como a gente sabe fazer, com muito amor, porque a gente não sabe fazer de outro jeito, a gente não sabe fazer pela metade. Muito obrigado gente”.

Misteriosos, Gaviões da Fiel chegam para escolha da ordem de desfile orgulhosos e buscando a taça

Treze anos depois, os Gaviões da Fiel, enfim, retornaram ao Desfile das Campeãs. O quarto lugar obtido no carnaval de 2024 com o enredo “Vou te levar pro infinito”, como não poderia deixar de ser, foi bastante comemorado pela “Torcida Que Samba”. Pouco mais de um mês após a apuração, entretanto, uma mudança importante aconteceu na agremiação: após eleição, a instituição teve alterações na diretoria. E o novo pensamento alvinegro já deu as caras em entrevistas exclusivas pelo CARNAVALESCO para saber a expectativa para a definição da ordem para os desfiles em 2025, em evento que será realizado no próximo sábado (18 de maio).

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Foto: Felipe AraújoDivulgação /Liga-SP

Infinitas possibilidades

Fabio Camara, popularmente conhecido como Fantasma, preferiu desconversar sobre a estratégia a ser utilizada pelos Gaviões – que serão a quarta instituição a escolher dia e ordem para se apresentar: “Obviamente que temos nossas preferências. Seja por uma determinada data e horário, até pela estratégia que hoje está bem difundida dentro do carnaval. Mas, em se tratando de Gaviões da Fiel Torcida, em qualquer dia e/ou horário, o peso da nossa escola se sobressaem sobre estas questões”, destacou.

Mostrando que toda a equipe já está alinhada no Bom Retiro, Julio Poloni, que desde 2023 está na instituição, foi ainda mais enfático: “Não posso adiantar nada. O mistério é ingrediente importante nesse novo formato de definição de dias e horários”, pontuou.

Sobre o novo formato

O carnavalesco da agremiação não escondeu o quanto simpatizou com a nova forma para definir a ordem das apresentações: “Gostei bastante do novo formato. Além de, provavelmente, produzir uma distribuição mais equilibrada das escolas nos dois dias, também nos possibilitará entender com mais clareza as estratégias e as jogadas de cada agremiação”, afirmou Poloni.

Fantasma preferiu, mais uma vez, pontuar a força da Torcida Que Samba ao ser perguntado sobre a nova dinâmica para escolher a ordem de desfiles: “O carnaval, hoje, é movido por estratégia e relacionamento dentro da Liga-SP. Obviamente que todos têm os seus interesses – mas, pelo nosso tamanho, expressão e pelo planejamento em ganhar o carnaval, temos e estamos preparados para qualquer definição ou modelo”, ejactou-se.

Buscando mais

Tanto Fantasma quanto Poloni voltam a concordar integralmente (e sem mistério algum) ao falar em retrospectiva sobre o ano de 2024 e sobre as expectativas para o ano seguinte. “No geral, 2024 foi de grande importância para a nossa entidade. Voltamos ao patamar de Desfile das Campeãs! Nosso propósito, quando bloco, foi agregar o corinthiano em geral: disputamos treze títulos e ganhamos doze – isso em meados de 1975. Ou seja: perto da nossa fundação enquanto torcida – em 1969. Logo, tal desfile passa a ser tão importante na nossa história e não há nada que nos diferencie”, buscou o vice-presidente na memória para pontuar o quanto a temporada corrente foi marcante para toda a história dos Gaviões no carnaval.

Falando uma única vez sobre os dois anos perguntados, Poloni mostrou-se orgulhoso e empenhado em buscar a primeira colocação do Grupo Especial – que não é alcançada pela Torcida Que Samba desde 2003, quando a instituição tornou-se tetracampeã de direito: “Fizemos um grande desfile e nossa comunidade voltou a sentir o gosto de estar disputando uma posição entre as campeãs. Então, certamente entraremos ainda mais aguerridos e confiantes de que podemos disputar com as melhores do carnaval de São Paulo. O que vamos buscar ao longo do ano é convencer o nosso povo de que nós podemos. Estamos cientes dos pontos que temos a evoluir, sabemos onde falhamos e estamos concentrados e determinados em corrigir essas falhas. Não tenho dúvidas de que podemos brigar por mais uma taça. Os Gaviões têm uma força natural muito única e isso faz toda a diferença”, prometeu o carnavalesco.

Fantasma comentou que, para a próxima temporada, há um misto de tranquilidade e organização na instituição: “Para 2025, temos grandes perspectivas de um resultado à altura dos Gaviões. Embora os detalhes sejam definidos na avenida, hoje posso afirmar que os Gaviões vêm totalmente estruturados, planejados e, principalmente, com a alma leve que nos impulsionam a acreditar no nosso resultado”, finalizou.

Unidos de Padre Miguel define calendário de disputa de samba

A Unidos de Padre Miguel divulgou nesta terça-feira, o cronograma de ações para o seu projeto de Carnaval 2025, quando levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Egbé Iya Nassô”, que contará a trajetória da africana Iyá Nassô e do emblemático Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, em Salvador.

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Foto: Divulgação/UPM

Idealizado pelos carnavalescos Alexandre Louzada e Lucas Milato, o enredo promete uma viagem pela história e tradição afro-brasileira, ao destacar o legado de Iyá Nassô e o papel fundamental do Ilê Axé Iyá Nassô Oká , considerado o mais antigo templo afro-brasileiro ainda em funcionamento

Seguindo o calendário montado pela agremiação, a leitura da sinopse, acontecerá no sábado, dia 25 de maio. A direção do Boi Vermelho convida compositores, representantes dos segmentos, coordenadores e toda imprensa para o encontro às 14h, na quadra do Boi Vermelho, localizada na Rua Mesquita, 08, em Padre Miguel. Vale lembrar que a disputa de samba da UPM é aberta a todos.

Ainda de acordo com o calendário da escola, a entrega dos sambas acontecerá no dia 03 de agosto e a apresentação dos sambas concorrentes será realizada durante feijoada da escola, no dia 11 de agosto. A grande final de samba da Unidos está prevista para o dia 20 de setembro.

Confira o calendário:

MAIO
25/05 – Sábado – Leitura da Sinopse 2024 – às 14h, na quadra.

JUNHO
01/06 – Sábado – 1º tira-dúvidas – das 15h às 17h, na quadra.
08/06 – Sábado – 2º tira-dúvidas – das 15h às 17h, na quadra.
15/06 – Sábado – 3º tira-dúvidas – das 15h às 17h, na quadra.
22/06 – Sábado – 4º tira-dúvidas – das 15h às 17h, na quadra.
29/06 – Sábado – 5º tira-dúvidas – das 15h às 17h, na quadra.

AGOSTO
03/08 – Sábado – Entrega dos sambas, das 16h às 19h, na quadra.
11/08 – Domingo – Feijoada de apresentação sambas, às 14h, na quadra.
16/08 – 1ª eliminatória sambas, a partir das 22h, na quadra.
23/08 – Eliminatória de samba, a partir das 22h, na quadra.
30/08 – Eliminatória de samba, a partir das 22h, na quadra.

SETEMBRO
06/09 – Eliminatória de samba, a partir das 22h, na quadra.
13/09 – Semifinal de samba, a partir das 22h, na quadra.
20/09 – FINAL de samba, a partir das 22h, na quadra

Unidos de Vila Isabel arrecada mais de 30 toneladas de doações para o Rio Grande do Sul

Após seis dias como ponto de coleta, a Unidos de Vila Isabel arrecadou mais de 30 toneladas de doações para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Todos os cinco caminhões cheios de itens foram entregues à Força Aérea Brasileira na manhã desta terça-feira.

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Foto: Divulgação/Vila Isabel

Ao todo, foram enviados mais de 20 mil litros de água, cerca de 10 toneladas de mantimentos e 1,5 tonelada de ração. A arrecadação foi resultado do auxílio da comunidade, que aderiu à campanha desde o primeiro dia, e da doação da presidência da Vila Isabel, que enviou 20 toneladas de alimentos, produtos de higiene e limpeza, ração e água.

“Eu estou muito feliz de ver o resultado dessa campanha. Essas ações são essenciais para ajudar nossos irmãos gaúchos e é muito gratificante saber que tem um pedaço da Vila Isabel nessa corrente do bem”, disse o presidente da agremiação, Luiz Guimarães.

A quadra da azul e branca de Noel, localizada na Boulevard 28 de Setembro, iniciou a coleta de donativos na última terça-feira (07). Foram recebidos os seguintes itens: água, cestas básicas, alimentos, roupas, roupas íntimas, calçados, leite em pó, colchões, fraldas infantis e adultas, talheres descartáveis, roupas de cama, toalhas, sacos de lixo, itens de limpeza e de higiene pessoal e ração para animais.

“Nós ficamos a semana inteira de 9h às 20h e no sábado de 10h às 15h recolhendo doações. A arrecadação foi um sucesso. Mais uma vez a gente mostra que não é só uma escola de samba, é uma escola de vida. Isso aqui nos deixa muito felizes de poder ajudar a galera do Sul”, disse o diretor de harmonia Diego Mendes.

A comunidade de Vila Isabel tem um carinho especial pelo povo do Rio Grande do Sul, que já foi enredo da escola em duas ocasiões: “Glórias Gaúchas”, em 1970, e “Uma heroica cavalgada de um povo”, em 1996.

Conheça o enredo da Tradição para o Carnaval 2025

De volta ao Sambódromo da Sapucaí em 2025 a Tradição anunciou nesta terça-feira seu enredo para o desfile do ano que vem. A escola escolheu “Reza”, que será desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Valente. Veja abaixo a publicação.

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“A espera acabou

É com imenso prazer que a Tradição anuncia “Reza” como enredo para o Carnaval de 2025.

“A Tradição está em Reza. Um enredo que ultrapassa os muros religiosos e se conecta com o divino, o sagrado, com Deus. Rezar é ter fé e crer naquilo que muitas vezes não se pode ver. É navegar na imensidão do planeta em sua total escuridão, mas guiado pela luz que conduz a sua crença. Rezamos para pedir, para agradecer e pela cura. Em 2025, a Tradição entrará na Sapucaí em reza por um mundo melhor e pelo direito de existir, afinal a reza também é um ato político. É um momento emocionante que vive a Tradição. Uma escola cada dia mais forte, mais sólida e disposta a ser novamente uma grande potência provedora de arte e cultura.”
-Leandro Valente

“Reza pra quem não crê, reza pra conquistar
Reza pra agradecer o dia que vai chegar
Reza é pra quem tem fé nas lendas que vêm de lá
Reza pra proteger tudo nesse lugar…”

Unidos da Tijuca explanará sinopse do enredo para compositores com jantar para segmentos na quinta-feira

Primeira escola a desfilar na segunda-feira de carnaval, dia 3 de março de 2025, a Unidos da Tijuca promove nesta quinta-feira, às 20h, em sua quadra de ensaios, apresentação do enredo aos compositores, segmentos e imprensa. O evento marcará o início do calendário do Carnaval 2025 da escola do Borel.

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Foto: Rafael Arantes/Divulgação Tijuca

A escola irá receber os compositores interessados em participar do concurso de sambas que vai eleger o hino oficial do próximo desfile. A ala é aberta a todos os interessados. O enredo a ser contato nos versos dos poetas é “ Logun-Edé – Santo Menino que velho respeita”, assinado e desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira, estreante na agremiação. O tema foi um atendimento da direção da escola ao pedido da comunidade através das redes sociais da agremiação.

A Unidos da Tijuca prepara uma apresentação diferenciada, saindo da tradicional leitura e imergindo ainda mais no tema. Após a apresentação a escola promove um jantar para os segmentos reforçando os laços de união.

União perfeita! Casal da Mocidade celebra trabalho feito em 2024 e projeta desfile com o casal Lage

Dançando juntos desde a preparação para o carnaval de 2020, Diogo Jesus e Bruna Santos renovaram como o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Mocidade para o Carnaval 2025. Em entrevista ao site CARNAVALESCO, o casal fez o balanço sobre o desfile de 2024, a expectativa com a chegada do casal Lage, a busca por alguém para ocupar o lugar da coreógrafa, que acaba de sair, além de falarem sobre a abordagem mais tradicional do quesito.

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Foto: Nelson Malfacini/CARNAVALESCO

Ao avaliar o Carnaval 2024, Bruna Santos, primeira porta-bandeira da Mocidade, compartilhou: “Para mim e para o Diogo foi um carnaval maravilhoso, nós conseguimos obter as notas para a escola, fizemos um bom desfile e espero que 2025 seja a mesma caminhada, que dê tudo certo para Mocidade e que seja um carnaval glorioso”.

O mestre-sala, Diogo Jesus, complementou: “A gente vem numa crescente muito boa e eu só tenho a agradecer toda essa parceria. Tenho certeza de que 2024 foi um ano de muito aprendizado e para 2025 vai ser mais ainda. Cada ano que a gente passa nossa parceria vai só aumentando os objetivos de conquistar coisas boas”.

Com o objetivo de obter um resultado melhor no Carnaval 2025 e recuperar a identidade da escola, a Mocidade está de volta com os carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira comentou a expectativa para esse trabalho.

“A expectativa está grande, é um novo carnavalesco, ele já fez história na Mocidade, estamos bem ansiosos para ver nossas fantasias e temos certeza de que virá um belo trabalho”, afirmou Bruna.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

“Até agora a gente conseguiu se adaptar a todos os carnavalescos que passaram e com o Renato a gente tem certeza de que a gente vai se preparar mais ainda, mais do que a gente se prepara, para estar apto ao que ele for mandar para gente”, garantiu Diogo.

Em relação à saída da coreógrafa Vânia e como será daqui para frente, Bruna disse: “A Vânia teve um papel primordial para gente no início do carnaval, em 2020 e ela fez um trabalho incrível para gente, apesar de termos nosso próprio estilo de dança e nossa conduta, mas a Vânia fez muito pela gente. Sou eternamente grata a ela por tudo que ela faz comigo, eu sou da academia dela, eu sou professora de ballet da academia dela, então nosso contato sempre vai permanecer. gente tem um carinho e agradecimento por ela. Até o momento, não temos uma nova coreógrafa em vista, mas tanto a escola quanto nós estamos em busca disso”.

Para Diogo, o sentimento nesse momento é de gratidão e otimismo: “A Vânia foi muito importante para o meu crescimento como mestre-sala. Quando a Bruna chegou, eu estava num momento abaixo do nível, e ela nivelou a minha dança com a da Bruna, formando esse casal encantador na avenida. Só posso ficar feliz por tudo que ela fez, triste por ela ter saído, mas precisamos seguir em frente, o carnaval é assim. Estamos aguardando a nova coreógrafa, ou o novo coreógrafo. Tenho certeza de que a escola fará uma grande escolha junto conosco, e vamos encantar novamente”.

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Foto: Dhavid Normando/Divulgação Rio Carnaval

O casal também expressou opinião sobre os jurados terem justificado que esperam que as próximas apresentações venham com uma dança mais tradicional.

“Eu acredito que a dança tradicional realmente nunca deve morrer, quando os jurados destacam isso, estão apontando algo importante, porque às vezes vemos casais muito coreografados. Acredito que precisa ter a medida certa, nem muito coreografado, nem muito tradicional. O tradicional a gente sempre vai fazer, até porque tem os passos obrigatórios, então o tradicional é uma marca do casal e é muito bonito dançar a dança tradicional do mestre-sala e da porta-bandeira, que é nossa tradição, nossa arte, mas sempre com uma pitada de inovação”.

“Eu sou fã da dança tradicional e trabalho muito nisso com a Bruna. Estamos sempre fazendo uma dança tradicional, mas também adicionamos uma pitada de coreografia para enriquecer ainda mais a apresentação. Fazíamos isso com a Vânia. Tenho certeza de que os jurados estão certos, o tradicional é bonito, mas também é interessante trazer um diferencial na dança e os jurados gostam também”.

Silvão Leite celebra ano de superação da Terceiro Milênio e cogita posição de desfile inusitada para 2025

De volta ao Grupo Especial de São Paulo, após cair em seu ano de estreia, a Estrela do Terceiro Milênio dá provas constantes do porquê é considerada uma potência em ascensão. A segunda passagem da comunidade do extremo sul pela elite da folia paulistana ocorrerá novamente como campeã do Grupo de Acesso 1 e com um corajoso enredo de manifesto em defesa da comunidade LGBTQIAPN+. Além do troféu, o título conquistado permitirá à escola do Grajaú ter duas escolhas de acordo com o novo critério para a ordem de desfiles, válido para o carnaval de 2025 e cuja definição ocorrerá em evento organizado na Fábrica do Samba pela Liga-SP, no próximo sábado, dia 18 de maio.

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Foto: Felipe Araujo/Liga-SP

Em conversa com a equipe do site CARNAVALESCO, o presidente Silvão Leite falou sobre a expectativa para a definição. O dirigente demonstrou tranquilidade com o fato de a escola não precisar abrir o carnaval do Grupo Especial e projetou as possibilidades de escolha que a Terceiro Milênio terá.

“A gente meio que já tem um desenho das escolas. Sabemos mais ou menos as escolas que gostam de desfilar no sábado, outras gostam de desfilar na sexta, mais ou menos o horário. Como nós somos a penúltima a escolher com certeza não pegaremos a pior entre as opções, o horário mais difícil que seria abrir a sexta-feira. Para nós do extremo sul, daqui até o Sambódromo, são mais de 40 quilômetros. Para a gente mobilizar duas mil e tantas pessoas daqui para lá na sexta-feira, num dia de trabalho, seria muito difícil. Então por conta de ter ainda uma escolha, a gente vai para o sábado. Agora, resta saber se vamos abrir o sábado ou se vamos fechar o sábado, que é outra questão também que, de uma certa forma, tem um impacto na construção do nosso carnaval. Você abrir o desfile é uma situação, e você fechar já de dia, as cores são diferentes, não precisa daquela iluminação, mas precisa de mais brilho, mais cor, então estamos aguardando. Eu até tentei colocar numa reunião de presidentes lá na Liga, tentei antecipar isso. Falei: ‘a gente poderia escolher isso que ia facilitar o trabalho de quem já está construindo o carnaval’. Fui voto vencido, mas vão antecipar um pouquinho e a gente vai ter uma ideia logo aí de como é que a gente vai, se a gente abre ou fecha”, declarou o presidente.

Os encerramentos de noites não costumam ser cobiçados pelas escolas em São Paulo, o que faz Silvão não descartar a inusitada possibilidade da campeã do Acesso 1 não abrir os desfiles de sábado. “Nós estamos acostumados a abrir carnaval no sábado. Quando subimos para o Especial (em 2023), abrimos no sábado, então eu acho que é o que pode sobrar. Eu acho que ninguém vai querer abrir, e pode ser que alguém queira fechar, mas também existe a possibilidade de alguém falar: ‘eu quero abrir esse ano’. Acho que sobrou para a Terceiro Milênio abrir ou fechar o sábado”, afirmou.

O rebaixamento no ano de debute no Grupo Especial deixou um gosto inicialmente amargo em Silvão. A confiança no carnavalesco Murilo Lobo e a maneira como a comunidade do Grajaú recebeu a equipe da escola após a apuração em 2023 foi fundamental para que a Terceiro Milênio tivesse durante o ciclo do carnaval de 2024 a postura de uma agremiação de elite, fundamental para a irretocável apresentação campeã realizada. A Coruja parte para 2025 disposta a fazer história com um enredo que promete repercutir com força até o dia do desfile, e o presidente está confiante de que a Estrela brilhará mais uma vez.

“No carnaval de 2024 a gente veio ‘com a faca nos dentes’ mesmo. Depois daquela apuração que eu fiquei muito triste, realmente. Eu saí do sábado tão bravo que eu comentei com o Murilo. Eu falei: ‘poxa, Murilo, eu acho que nós vamos virar um bloco, vamos enrolar o pavilhão. A gente vira um bloco, vamos brincar o carnaval’. Mas eu estava muito chateado com tudo aquilo porque a gente apresentou, no meu modo de ver, um espetáculo, um desfile que não mereceria ter ficado em último lugar. Mas quando nós chegamos aqui na quadra tinha umas cinco mil pessoas nesse calçadão aqui fora cantando o samba como se tivéssemos sido campeões. Eu olhei para o Murilo e falei: ‘Murilo, não depende mais de mim, e sim dessa comunidade aí’. A gente aproveitou toda essa garra da comunidade, mesmo caindo de grupo, eles estavam super felizes com o carnaval que foi apresentado, com todo o trabalho, com toda a realização do projeto, e a gente fez disso combustível para potencializar o carnaval de 2024. Acredito que nós fomos muito bem. A gente conseguiu fazer um carnaval técnico bonito, um tema super gostoso de se falar. Vovó Cici teve uma participação incrível na construção, inclusive no desfile e depois na comemoração. Foi uma festa imensa aqui no Grajaú. O Grajaú todo caiu aqui para cá com o nosso campeonato. Eu acho que para o carnaval de 2025 a gente vai apresentar um espetáculo belíssimo. Acho que esse enredo é desafiante. É um enredo difícil, não é um enredo simples, não é um enredo fácil, não é um enredo que você tem uma construção muito linear. Você tem que lidar com muitos pontos, com muitas emoções, e carnavalizar um enredo como esse não é brincadeira. Mas eu tenho muita fé e confiança no trabalho do Murilo e no trabalho da diretoria. A diretoria técnica já começou o trabalho com a comunidade, quer dizer, na verdade, não parou do ano passado para cá. A gente vem trabalhando nesse sentido e eu tenho certeza de que nós vamos apresentar um belíssimo carnaval. Podem esperar que a Terceiro Milênio venha com um espetáculo maravilhoso em 2025”, concluiu.

Confira a sinopse do enredo do Paraíso do Tuiuti para o Carnaval 2025

Enredo: QUEM TEM MEDO DE XICA MANICONGO?

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Trago verdades. Não, necessariamente, as suas.

Pisei na terra dos antigos, bebi na fonte dos eternos, respirei a fumaça do encantamento e agora vou contar para vocês o que meus olhos leram nos escritos desse mundo, minhas orelhas ouviram diretamente da boca do lado de lá e minha alma sentiu quando a ancestralidade se materializou.

A poeira assentada no passado se levantou do chão e me falou do tempo primordial bantu, de quando as energias masculina e feminina emanavam nos exus sem distinção de sexo.

Exu de duas cabeças vibra na encruzilhada dessas duas polaridades ordenando o caos criacional, mesmo após Exu Rei ter dividido as energias em dois corpos distintos. São faces de uma mesma moeda. Coexistem e se complementam na veia que corre entre o mundano e o astral.

Muito antes da cruz do homem branco rasgar o ar das terras africanas, sacerdotes já cultuavam os antepassados no Reino do Congo, onde ela nasceu varão. Predestinada.

Acreditavam serem sagrados os que recebiam a dádiva de conter almas identificadas com o gênero diferente ao do seu corpo nascido, como se um único ser corporificasse os espíritos masculino e o feminino. Uma existência completa, plena, capaz de ser transição entre dois mundos, detentores da sabedoria, comunicadores da ancestralidade.

Tais caminhos que se entrecruzam em um só, faziam a mulher transbordar naquele corpo de homem. Sim, o varão era uma cudina congolesa. Uma bela Jimbanda, uma poderosa kimbandeira. Uma sacerdotisa Manicongo, senhora do Congo e da magia. Mas a religião do colonizador europeu demonizou sua existência e crença.

Ela disse: “NÃO”. Se recusou a renunciar sua natureza, sua identidade.

Pagou alto pelo atrevimento.

Escravizada, a fizeram de mercadoria do Reino de Portugal. Seu nome africano se perdeu, ignorado nos cadernos de anotações que escrituravam o roubo da liberdade. Sob as bênçãos de nosso Senhor foi batizada Francisco e transportada para São Salvador da Bahia de Todos os Santos, a capital da colônia do Brasil.

Francisco Manicongo, registrada, assim, impuseram-na obediência a um deus, um rei e um dono.

Foi vendida a um sapateiro que muito insistia em mantê-la sob as rédeas do “cis-tema”. Porém, aquelas vestes, aquelas calças, aquele nome, aquela fé, não a pertenciam. Eles não eram dela. Ela não era deles.

Então, ela disse: “NÃO”. Se recusou a renunciar sua natureza, sua identidade.

Ela não era Francisco, ela era Francisca, era Xica.

Xica Manicongo.

E lá se foi Xica: sobranceira, batendo os tamancos, subindo e descendo as ladeiras à serviço ou passeando, envolta no tecido preso à cintura com o nó para frente, como se fazia na sua terra, ao modo Jimbanda.

E lá se ia Xica: faceira, no ganho ou na saliência pelos becos e cantos, envolta por braços másculos e línguas alcoviteiras, dissimulando o amor que não ousa se dizer o nome, como feito na sua nova terra ao modo dos hipócritas.

E lá se via Xica: afrontosa, na companhia dos “invertidos”, de originários tibiras (1) e çacoaimbeguiras (2) pelos logradouros e matas, envolta na dor e delícia de ser o que se é, como já se fazia nessa terra, ao modo Pindorama.

1 Palavra usada na língua Tupi para designar indígenas gays.
2 Vocábulo equivalente para mulheres lésbicas.

E lá estava Xica: embrenhada na floresta tropical, fazendo calundu, desbatizada indígena, abraçada pela Jurema, deu boa noite àsraízes, fogo no mato, subindo fumaça, aprendendo com o catimbó a adaptar o culto aos seus antepassados, que sem folha não tem nada, como se fazia nessa terra antes da invasão, ao modo tupinambá.

E lá seguia Xica: temida, da cidade alta à cidade baixa com fama de bruxa, feiticeira, sacerdotisa dos desencarnados e das práticas “não cristãs”, envolta pela espiritualidade dos seus ancestrais, como se fazia na sua terra, ao modo quimbanda.

Quando a intolerância bradou contra ela em praça pública a ordenou renegar sua religiosidade, abandonar sua fé para oprimir sua existência, Xica disse: “NÃO”. Se recusou a renunciar sua ancestralidade, sua identidade.

Quando o ódio vociferou contra ela em praça pública a ordenou se vestir, andar e falar “como se deve”, a atender pelo nome de Francisco, para oprimir sua existência, Xica disse: “NÃO”. Se recusou a renunciar sua natureza, sua identidade.

Mais uma vez, pagaria alto pela transgressão. Corpo desobediente.

O ultraje foi revidado com uma denúncia à Santa Inquisição em Salvador, pois, pelo comportamento considerado indecente e figura dissidente, Xica Manicongo seria uma criminosa de lesa-majestade aos olhos das Ordenações Manuelinas.

Assim, Francisco Manicongo foi fichado pelo Santo Ofício como membro de quadrilha de feiticeiros quimbandas sodomitas. Nas leis dos cidadãos de bem, um pecador a ser martirizado num auto de fé, sacrificável à fogueira publicamente. Destino dos não recomendados à sociedade.

Diante de tal encruza, finalmente, Xica disse sim. Se viu obrigada a aceitar a crueldade da prisão interior oferecida como acordo. Contudo, eles NÃO iriam vencer.

Então, na luz do dia, lá se via Xica travestida daquilo que não era; enrustida no armário de Francisco. E quando o véu da noite cobria a cidade, lá se ia Xica rodando sua saia pelas brechas das ruas, esquinas, estradas e matos, encantada e zombando.

Até que Xica Manicongo pombogirou.

E lá se foi Xica: girando com outras entidades andrógenas, mulher de quebrar quebranto, correndo gira livremente pelas pistas e encruzilhadas. A herança do seu afrontamento rompe o ar, ecoando nas gargalhadas de Mavambos, Navalhas, Cabarés, Padilhas, Farrapos, Mulambos…

E lá se ouve Xica: reexistindo na oralidade do Pajubá que serpenteia nas línguas de suas sereias, na guerra pela sobrevivência contra as sistemáticas inquisições, como se faz nessa terra campeã de transfeminicídio no mundo.

E lá se vê Xica: combativa, subindo e descendo as ladeiras do Tuiuti, pajubando pelas comunidades, favelas, quebradas, universidades, palcos e palanques, em cada uma que se levanta contra a marginalização social e cultural forçada e reconhece a potência revolucionária de sua existência. Inspirada, reverenciando sua transcestralidade e zelando pela história das que pavimentaram esse caminho com suas dores e glórias na luta por visibilidade, respeito e direitos.

E aqui está Xica: Manicongo, senhora do Congo, rainha da nossa congada. Coroada e consagrada rainha do Traviarcado. Ela quer as ruas, as casas, as telas, os livros, as salas de aula, os diplomas, os consultórios, as forças armadas, os altares, os parlamentos, as políticas, as presidências… A vida, o amor. Ela NÃO vai recuar. Eles NÃO vão vencer. Nada há de ter sido em vão.

O futuro é travesti.
Que assim seja!
Que assim se faça!

Jack Vasconcelos
Carnavalesco

*Agradeço a todos, todas e todes pesquisadores e escritores que se dedicaram ao estudo e lutaram/lutam para o não apagamento da memória de Xica Manicongo.

Minha gratidão dileta e eterna ao Mestre Juremeiro Fabio d’Cigano pelo acolhimento, a Mestra Juremeira e Quimbandeira Dona Maria da Praia e ao Cigano Juremeiro Pierre Santiago pela orientação, aula espiritual e por terem sido pontes para que este enredo pudesse ter sido alimentado por informações que eu não conseguiria encontrar em nenhum escrito “dos homens” e ditado e guiado por quem viveu e fez a história.

Por mais que, e se algum dia, eu tenha a dádiva de me encantar e viva por milênios, jamais conseguirei pagar por tanta honraria. Muito obrigado.