A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) anunciou uma grande novidade para o Carnaval de 2026: a Band será a responsável pela transmissão, ao vivo e em rede nacional, dos desfiles do Grupo de Acesso I, que acontecem no domingo, dia 15 de fevereiro de 2026, no Sambódromo do Anhembi. A transmissão fará parte do tradicional Band Folia, que dá voz e vida às centenas de manifestações carnavalescas do país. Veja abaixo o posiciomaneto de cada escola sobre a parceria.
“É uma honra ter a Band na transmissão deste grupo de Acesso I que a cada ano se torna mais competitivo. O carinho e o respeito que a emissora tem com as manifestações culturais do país foram cruciais para o estabelecimento desta parceria”, afirma ao presidente da Liga-SP, Renato Remondini.
Ordem dos desfiles do Acesso 1 em 2026:
Camisa 12
Unidos de Vila Maria
Acadêmicos do Tucuruvi
Mancha Verde
Nenê de Vila Matilde
Pérola Negra
Dom Bosco de Itaquera
Independente Tricolor
A Liga Independente das Escolas de Samba de São Paulo (Liga-SP) anunciou uma grande novidade para o Carnaval de 2026: a Band será a responsável pela transmissão, ao vivo e em rede nacional, dos desfiles do Grupo de Acesso I, que acontecem no domingo, dia 15 de fevereiro de 2026, no Sambódromo do Anhembi. A transmissão fará parte do tradicional Band Folia, que dá voz e vida às centenas de manifestações carnavalescas do país. Veja abaixo o posiciomaneto de cada escola sobre a parceria.
Bruna Moreira (Babalu), Nenê de Vila Matilde
“A importância para todas escolas é muito especial. Para Nenê, ainda mais porque remete a homenagem que fizemos para Band com o João Carlos Saad. A Nenê está muito feliz com esse acordo”.
Rodrigo Delduque, Tucuruvi
“É um marco a televisão aberta, com a potência que tem o Grupo Band, transmitir o Grupo de Acesso e espero que futuramente a gente consiga também alguma parceria para o Acesso 2. Fortalece nossa cultura, trabalho e empenho das escolas. Leva muito entretenimento para todas pessoas. A Band vai mostrar todo o trabalho anual para que não conhece o trabalho diário de uma escola de samba”.
Glaucio, Independente Tricolor
“A importância é enorme para gente. Essa chegada da Band traz o crescimento na melhor hora da disputa do Grupo de Acesso. Agradecer a Band”.
Presidente Adilson José, Vila Maria
“Tínhamos a dificuldade de mostrar nosso carnaval. Temos um grande potencial. A Band se comprometeu a mostrar, não só o desfile, mas o dia a dia de cada escola. Vai trazer o diferencial e mostrando para o Brasil todo, valoriza muito o carnaval paulista. Fizemos uma parceria e vamos contar com grandes patrocinadores. O apoio é crucial”.
Dênis Roberto, diretor de carnaval da Camisa 12
“A gente está em uma mudança de patamar. Há muito tempo a gente vê o Acesso de forma diferente do que realmente possui. Sempre falo que deveríamos unir e fazer um grande Grupo de Acesso. São 8 escolas no Acesso 1, sem gordura e que não estava tendo visibilidade. Por isso, a Band chega para dar essa visibilidade que o grupo precisava. Estávamos precisando muito de uma transmissão em TV aberta para o Brasil inteiro. Será uma parceria de grande futuro e lucro para ambas as partes”.
Paulo Serdan Filho, diretor de Mancha Verde
“Há muito tempo o carnaval do Acesso não era transmitido. Já tinha o flerte da Band com a Liga. Com o crescimento do Acesso, que hoje é extensão do Especial, a Band viu essa oportunidade. É sensacional para todas escolas. É uma construção em conjunto, bem livre para todas escolas trabalharem seus patrocínios individuais e em conjunto. Essas ações vão fortelecer todas escolas”.
Carlos Shakila, diretor da Dom Bosco
“Estou muito feliz que a representavidade do Acesso 1 será transmitida para TV aberta. As escolas todas estão de parabéns por essa conquista. Abraçamos essa causa. É um marco para todas escolas”.
Doze vezes campeã do carnaval de São Paulo e vencedora de dois dos últimos três desfiles do Grupo Especial da cidade, a Mocidade Alegre definiu no último domingo, na Arena Morada do Samba, qual samba-enredo levará para o Anhembi para embalar o desfile de “Malunga Léa – Rapsódia de uma Deusa Negra”, assinado pelo carnavalesco Caio Araújo. O Samba 01 da eliminatória, composto por Aquiles da Vila, Fabiano Sorriso, Lucas Donato, Marcos Vinícius, Márcio André, Fabian Juarez, Fábio Gonçalves, PH do Cavaco, Salgado Luz, Tomageski, Mingauzinho e Chico Maia, sagrou-se vencedor. Presente nos eventos mais importantes para as agremiações paulistanas, o CARNAVALESCO entrevistou personalidades importantes para a Morada do Samba e traz tudo para você.
Os compositores ouvidos pelo CARNAVALESCO não esconderam a alegria em vencer novamente na agremiação: “É uma das escolas mais poderosas do carnaval de São Paulo. Nós temos muito carinho pela Mocidade, por toda a história, por tudo que já fez e que ainda vai fazer. É uma escola que sempre ousa, sempre faz diferente. Vencer novamente aqui é o máximo”, afirmou Márcio Gonçalves.
Salgado Luz relembrou as vitórias que já conquistou na agremiação: “Tudo isso é muito positivo. É uma escola que sempre vem brigando pelo título. A presidente Solange é um exemplo de gestão. Os compositores do Brasil inteiro querem ganhar o samba na Mocidade. Ganhar três vezes não é brincadeira – e eu estou muito orgulhoso por isso”, destacou.
Outro compositor a falar com a reportagem foi Marcos Vinícius: “Eu tenho quatro sambas dentro da escola e sou bicampeão de fato (ou seja, seguidamente) agora. Cada ano é uma emoção diferente. Eu sempre acho que vou viver a última emoção da minha vida no carnaval, mas todo ano vem um novo carnaval e me mostra uma nova emoção que eu posso viver com a minha família, meus amigos e parceiros de composição. Ver meus filhos cantando o samba em uma escola gigantesca, do tamanho da Mocidade Alegre, é surreal e impagável. Eu costumo dizer que tudo isso é culpa da música. Ela que traduz tudo isso no sentido de uma comunidade. Enquanto a música for a prioridade na nossa vida e na escola de samba, nós estaremos aqui para servir com qualidade fazendo o nosso melhor”, comemorou.
Obra elogiada
Pessoas importantes da Mocidade Alegre destacaram a qualidade da obra escolhida. Solange Cruz Bichara Rezende, presidente da instituição, foi uma delas: “Gostei da escolha! A Mocidade tinha grandes obras, quatro sambas bons concorrendo ali, páreo a páreo. A qualidade dessas obras deixou a gente bastante nervoso na hora da escolha, mas a comissão julgadora estava consciente do que queria. A gente sempre faz esse levantamento, a gente sempre busca ouvir um pouco a comunidade”, destacou.
Um evento interno para a comunidade também foi relembrado pela mandatária da Morada do Samba: “Quinta-feira a gente cantou os quatro sambas na voz do Igor, isso é muito importante para nós entendermos toda a situação. A escola também teve algumas escolhas e calhou, também, de ser igual à da diretoria. Isso deixa a gente mais seguro – eu, pelo menos, como dirigente da agremiação, como porta-voz dessa comunidade, me sinto mais seguro em saber que muita gente da comunidade também queria esse samba. Facilita muito o nosso trabalho”, comemorou.
Igor Sorriso, intérprete da agremiação, elogiou todos os finalistas: “Antes de mais nada: foi uma safra inteira incrível! A gente fica feliz de ter uma safra tão maravilhosa, foram quatro sambas dignos de ir para a avenida. Mas, é aquilo, só ganha um – e a gente escolheu um samba que representa muito bem a nossa escola: um samba aguerrido, um samba com uma musicalidade muito aflorada. A gente está feliz, a comunidade está feliz, deu para perceber o povo cantando. Agora, vamos trabalhar rumo ao carnaval”, pontuou.
Carnavalesco da escola, Caio Araújo também fez questão de elogiar todos os finalistas: “Eu amei a escolha, fiquei feliz demais com a escolha do samba. Eu acho que é uma etapa muito importante e que deixa a gente muito tenso: não importa a gente ter o melhor visual da história e não importa as peças estarem todas encaixadas se a gente não tiver um grande samba. Eu entrei nessa final muito tranquilo porque a gente tinha quatro grandes obras, mas eu saio com a tranquilidade de que, entre essas quatro, a gente escolheu a que é perfeita para o nosso desfile”, destacou.
Ciclo encerrado com chave de ouro
Perguntado se a escolha do samba-enredo foi a coroação para um trabalho de pesquisa e criação de enredo de muito valor, Caio fez questão de exaltar o enredista da Morada do Samba: “Eu tenho um parceiro incrível, que é uma pessoa que eu amo, que é o Léo Antan. Ele é um pesquisador incrível, e a gente tem uma energia muito parecida, que bateu desde que a gente se conheceu. A gente, quando começou o processo de pesquisa da Léa, ainda durante o carnaval de 2025, a gente tinha já a certeza do caminho que a gente queria tomar – e a gente conseguiu refletir isso na sinopse que foi entregue para os compositores”, comentou.
Para ele, a safra como um todo reforça a ideia de que a pesquisa, a sinopse e o enredo estão com ótima qualidade: “Quando os sambas chegaram, a gente teve a certeza de que a gente fez um trabalho que foi compreendido e que foi entendido por eles. A gente não queria contar a história da carreira da Léa, tim-tim por tim-tim: a gente queria falar da importância da construção do legado dessa mulher, de como ela foi revolucionária, de como o trabalho dela impactou e influenciou para que hoje a gente tivesse tantas atrizes pretas protagonizando novelas. A gente conseguiu acertar no alvo. E esse samba também conseguiu acertar no alvo para a gente passar essa mensagem para o público que vai estar assistindo ao nosso desfile”, pontuou.
Adaptação rápida
Tal qual a presidente, Igor Sorriso também valorizou o evento anterior à final do samba-enredo, fechado para a comunidade: “Me senti muito à vontade cantando o samba! A gente faz uma audição na prévia da final, e a gente já tinha que cantar todos os sambas. É um samba com muita qualidade musical. A gente fica feliz, é claro que temos que fazer os ajustes do que a escola vai sugerir para a gente. A gente vai trabalhar muito ele até o carnaval”, declarou.
Escolha difícil
Se muitos nomes importantes da Morada do Samba destacar a safra, como foi a escolha pela obra vencedora? Caio passou por tal questão ao falar sobre a importância da canção para a apresentação oficial da agremiação: “A música, o samba, é o que se comunica mais fácil com quem está assistindo o desfile. É o samba que ajuda as pessoas a entenderem o que são as alegorias, o que as fantasias representam e de que maneira a gente está contando essa história. É por isso que a gente fica tão tenso e é uma escolha tão difícil a eliminatória de samba. Ela influencia totalmente no resultado final. Eu sei que esse samba é perfeito para a narrativa que a gente está montando, para contar sobre o legado e a carreira da Leia. É sempre uma etapa tensa, muito cuidadosa – mas que, graças a Deus, a gente sai com a certeza de ter feito a escolha correta”, afirmou.
Solange, ao ser entrevistada, falou sobre as pessoas que escolhiam a obra vencedora. E ela aproveitou para detalhar o papel dela em tal comissão e como a dinâmica no grupo é feita: “Meu papel na comissão julgadora é nenhum. Hoje mesmo, por exemplo, eu nem perguntei qual era o samba: cada um escreveu seu samba no papel e me entregou. Eu não pergunto porque a gente tem o Ricardo Sonzin, que faz parte da nossa comissão julgadora: ele é do departamento cultural, ele é da comissão de carnaval, então ele sempre apresenta os enredos, instrui a comissão, mostra como tudo funciona. E, aí, fica a critério deles a escolha. Também pelo fato de todos eles serem da escola, vivenciarem a escola, eles conseguem também ter a noção do que é melhor para a Mocidade Alegre”, explicou.
Partes favoritas
Duas partes da canção, em especial, foram as mais citadas quando perguntados sobre quais seriam os trechos favoritos do samba-enredo da Mocidade Alegre para 2026. Uma dessas partes foi citada por Fábio: “O refrão do meio pegou. Essa chegou forte na comunidade. Todo mundo que comentou com a gente sobre o samba falou da qualidade da obra como um todo – em especial do nosso refrão do meio. Isso nos deixou muito feliz”, comentou. Salgado Luz foi além: “Era o tema da Escrava Isaura. A homenageada, Lea Garcia, trabalhou na novela e colocamos dentro do samba. Foi uma grande sacada. Nesta parte nós estávamos iluminados por Deus”, destacou.
Marcos Vinicius foi ainda mais detalhista: “A construção desse samba foi muito peculiar, porque, principalmente, no refrão do meio, inflamou. Foi surreal. A ideia partiu de mim e do Lucas: a gente queria colocar um trecho da música ‘Retirantes’, do Dorival Caymmi – ‘vida de negro é difícil pra danar’. Só que eu dei a sugestão de encurtar e ficou o ‘lerê’. No complemento, o Aquiles deu a ideia de colocar a frase ‘todo preto vai para o céu’, que é uma peça da Léa. Criamos tudo isso e, às vezes, a gente não consegue explicar”, comentou.
Homenagens
Como é tradicional em escolas de samba, o evento começou com samba e pagode de roda no meio da quadra. Depois, chegou a hora do esquenta da bateria – com Mestre Sombra, comandante da Ritmo Puro, mostrando-se bastante à vontade e interagindo não apenas com ritmistas e diretores; mas, também, com a comunidade presente.
Canções históricas da agremiação embalaram apresentações de segmentos da Mocidade Alegre – como passistas, ala das baianas e casais de mestre-sala e porta-bandeira. Na vasta discografia da Morada do Samba, “Ojuobá – No Céu, os Olhos do Rei… Na Terra, a Morada dos Milagres… No Coração, Um Obá Muito Amado!” (de 2012) e “Omi – O Berço da Civilização Iorubá” (de 2003) foram alguns dos executados.
Também chamou atenção uma extensa homenagem para a ala Em Cima da Hora, que desfilou durante 54 anos na Mocidade Alegre e anunciou que, a partir de 2026, não estará mais enquanto grupo – que, entretanto, se mantém como grupo de amigos. Integrantes da ala receberam faixas de baluartes da Morada do Samba, que, também, receberam um pavilhão especial com o logotipo do conjunto de desfilantes e da própria escola.
Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a camisa da Acadêmicos de Niterói, na noite do último domingo. O presidente do Brasil será enredo da agremiação no carnaval de 2026, no Grupo Especial carioca. A entrega foi feita no 17ª Encontro Nacional do Partidos dos Trabalhadores, em Brasília, pelo presidente de honra da escola, Anderson Pipico.
Desenvolvido pelo carnavalesco Tiago Martins e o enredista Igor Ricardo, o tema “Do alto do mulungu surge a esperança: Lula, o operário do Brasil” narrará a trajetória de vida do ex-operário que se tornou Presidente do Brasil. A agremiação abrirá os desfiles do domingo de carnaval, 15 de fevereiro, na Marquês de Sapucaí.
A Mocidade Independente realizou no último domingo sua segunda eliminatória de sambas-enredo. Ao todo, doze sambas concorrentes se apresentaram na quadra da escola, na Vila Vintém. O samba eliminado foi o de Zulu e parceria. Onze composições seguem na disputa (OUÇA AQUI OS CLASSIFICADOS), cuja próxima eliminatória será no domingo, dia 17. Abaixo, veja a análise do CARNAVALESCO.
Parceria de Paulinho Mocidade: Primeiro samba a se apresentar a obra foi comandada por Paulinho Mocidade e Sandra Sá, dois dos compositores da parceria, que também conta com Lico Monteiro, Gabriel Teixeira, Gabriel Simões, Rodrigo Feiju, Tamyres Ayres, Christiane e Trivella, auxiliados por Rafael Tinguinha, cantor da Barroca Zona Sul, e Dowglas Diniz, intérprete da Mangueira. O samba passou com força durante toda a sua apresentação, tendo como ponto alto o seu refrão principal, cujos versos “eu não sou puta nem sou freira, santa profana, a padroeira, desculpe o auê, ardente é o querer, agora só falta você” foram bem cantados na quadra, inclusive, por membros da bateria. A disputa já começou em bom nível.
Parceria de Jaci Campo Grande: O samba de Jaci Campo Grande, Paulo Ferraz, Dr. Marcelo, Alex Cruz, Elian Dias, Marcinha Mocidade, Lúcio Flávio, Paulo Bachini, Aurélio Brito e Lê da Vila foi defendido por Vitor Cunha, intérprete do Império Serrano. A composição, de linha melódica bastante interessante, sobretudo na primeira passada, teve um bom desempenho, como no trecho “Rosa choque provocante, bruxa da erva tenaz; é ovelha negra, o melindre de mil generais.” A obra foi recebida de forma tímida pelos presentes.
Parceria de Rafael Drumond: Apresentação comandada por Milena Wainer, intérprete integrante do carro de som da Mocidade. Obra de Rafael Drumond, Gilberto Paizão, Gil Paiva, Giovane Paiva, Vinícius Ramaldes, Pinóquio do Cavaco, Roberto Sade, Emerson Zona Sul, Luiz Antônio Santista e Thainá do Tan Tan. O refrão principal “desculpe o auê, desculpe o auê, agora só falta você” obteve ótimo rendimento e foi bem recebido na quadra. O restante do samba passou com rendimento satisfatório.
Parceria de Beto Corrêa: Com Pitty de Menezes no microfone principal, a obra se mostrou firme, animada e com dois refrões fortes, sobretudo, o irreverente refrão central que levantou a obra, de versos como “A família tradicional, papai enrustido, o filho oprimido, mamãe de avental; das ovelhas negras, luxúria sem pudor, que nunca conserva-dor.” Uma bela apresentação da parceria de Beto Corrêa, Samir Trindade, Rodrigo Medeiros, Cristiano Plácido, Guto Listo, Gilberto Monteiro, Wilson Paulino, Giacomo Peter Corrêa e Márcia Carvalho.
Parceria de Paulo Cesar Feital: Samba defendido por Tinga, com auxílio de Roni Caetano, Igor Pitta e Millena Wainer. Com passagens poéticas e referências mais líricas à homenageada, a obra de Paulo Cesar Feital, Dudu Nobre, Cláudio Russo, Alex Saraiça, Denilson do Rozário, Júlio Alves, Carlinhos da Chácara, Marcelo Casa Nossa, Anderson Lemos e Léo Peres passou muito bem e teve boa adesão do público. A composição se mostra inspirada em versos como “Oh santa feiticeira dos altares, no ilê de Elza Soares que brilhou Elis Regina, ilumine essas filhas de Padre Miguel”.
Parceria de Zélia Duncan: Defendido por Arlindinho e Charles Silva, a obra de Zélia Duncan, Frejat, Arlindinho Cruz, Zé Paulo Sierra, André, Prof. Renato Cunha, Rafael Falanga, Diego Estrela e Igor Leal teve um crescimento na sua segunda parte, com boa variação melódica e letra mais envolvente, como no trecho “vem cá, meu bem, que a gênia venenosa da Vila Vintém, tem cheiro de coisa maluca que lança perfume no ar”, e alavancou o desempenho da apresentação, superior à primeira parte.
Parceria de Jefinho Rodrigues: O samba comandado por Wander Pires teve uma grande apresentação, quente durante todo o tempo, e foi a obra com maior recepção da quadra. O ponto alto da obra de Jefinho Rodrigues, Diego Nicolau, Xande de Pilares, Marquinho Índio, Richard Valença, Orlando Ambrósio, Renan Diniz, Lauro Silva, Cleiton Roberto e Cabeça do Ajax foi o refrão central, envolvente e bem construído, com os versos “sou independente, fácil de amar, livre de qualquer censura, vem, baila comigo, só de te olhar, posso imaginar loucuras”. O refrão principal passou com muita energia.
Parceria de Franco Cava: Leozinho Nunes puxou o samba de Franco Cava, André Baiacu, J. Giovani, Gulle, Almir, Flavinho Avellar, Renato Duarte e Fabinho com correção, porém a obra teve um desempenho mediano, sem apresentar a mesma consistência de outras composições da noite. O refrão principal segurou com maior força, com versos como “lança, lança perfume no Carnaval! Independente tem corpo caliente, o importante é gozar no final.” O compositor Franco Cava performou no palco vestido de Miss Brasil, com peruca vermelha, uma alusão à Rita Lee.
Parceria de Santana: O samba de Santana, Paulo Senna Poeta, Valdeci Moreno, Carlos Augusto, Gustavinho Souza, Edvaldo Lucas e Everaldo Silva foi comandado por Serginho do Porto, intérprete da Estácio de Sá, e sua construção melódica funcionou bem, com alguns versos em tom menor. O trecho “Rompi as barreiras do velho discurso, dei vida à mulher como centro do mundo, o canto que ecoa é o mesmo a ditar o delírio que vai te levar” é bem construído e prepara bem para o refrão central. Uma apresentação linear e consistente.
Parceria de Rogerinho: Com sua habitual categoria, Pixulé conduziu o samba de Rogerinho, Nito de Souza, Duda Coelho, Itamar Trindade, Marcinho.com, Junior Diniz, Anderson Migão, Gordo de Muriqui, João Vitor e Gabriel, ao lado de Thiago Brito. O trecho final “Vai buscar os anéis de Saturno, vivendo o presente, pintando o futuro, erva venenosa, manifesto de poder, agora só falta você” prepara com força para o refrão principal, que sustenta bem a obra. O samba teve um desempenho forte e foi bem recebido.
Parceria de Jurandir: Gustavo Pipico, filho do intérprete Emerson Dias, defendeu o samba da parceria de Jurandir, Jorge Carvalho, Dunga, Jorge Alves, Raimundo, Tim Maia Daflon, Althair, Bitão, Léo Lopes e Jorginho Mocidade. A obra não teve uma grande sustentação e passou sem força na quadra. Em relação à letra, o refrão principal “Santa Rita de Sampa, senhora da liberdade, estrela nossa profana, entidade bendita pra eternidade, no altar da Mocidade” se destaca.
Tida como uma das principais favoritas ao título do Grupo Especial do carnaval de São Paulo em 2025, a Acadêmicos do Tucuruvi amargou um resultado que muitos acreditaram ser impossível na apuração: a 13ª colocação no pelotão – que culminou no rebaixamento para o Grupo de Acesso I. Dos nomes da agremiação, Hudson Luiz pregou principalmente respeito às coirmãs após o descenso, falou sobre o julgamento da escola e comemorou a ótima safra recente de sambas-enredo do Zaca. O CARNAVALESCO entrevistou o intérprete da escola da Zona Norte de São Paulo no evento que definiu a ordem dos desfiles dos grupos organizados pela Liga-SP em 2026.
Questionado sobre o papel do carro de som em tais alcançados, Hudson Luiz destacou que tais profissionais passaram ilesos: “Pelo regulamento, pelo manual do julgador do quesito samba-enredo de São Paulo, o carro de som em momento algum é avaliado. O que é avaliado pelo quesito em questão é o canto da comunidade – semelhante ao que acontece no quesito Harmonia. A ala musical de nenhuma escola de São Paulo é julgada e avaliada”, complementou.
De acordo com as justificativas apresentadas no site da Liga-SP, o que custou tais despontuações foram os subquesitos “acessibilidade e adequação” (nos itens “equilíbrio tonal” e “equilíbrio melódico”. Houve, também, uma anotação por conta de um suposto erro de português – no balizamento “clareza e coesão”.
O intérprete, porém, não quer revisitar tais conceitos: “Em relação aos décimos que nos foram tirados, a gente fez uma avaliação pós-carnaval e entendemos que houve um erro dos jurados. Eu, inclusive, como conhecedor do manual e como interprete que fez o curso do quesito, vi que os jurados tiveram alguns erros. Não é o momento de a gente ficar chorando as lágrimas que já passaram. É momento de levantar a cabeça, erguer e seguir em frente. O ano de 2026 vai ser de desafios ainda maiores, para que as pessoas possam tentar conquistar esse retorno ao Grupo Especial”, afirmou.
Favoritismo?
Para muitos, é natural que as duas escolas rebaixadas do Grupo Especial em um ano cheguem com certo favoritismo no Grupo de Acesso I do ano seguinte. Na visão de Hudson Luiz, entretanto, a situação não é bem assim: “Dizer que é a favorita, para mim, seria desmerecer as demais agremiações que no mesmo grupo que a gente está. A gente também tem outras agremia tão fortes quanto a gente: Mancha Verde, Nenê de Vila Matilde e outras mais que nós já temos no carnaval”, disse.
Mas é claro que há alguma expectativa para o que o Zaca pode proporcionar, na visão do intérprete: “A gente chega com um certo peso – até entre a gente mesmo, por ter que retornar ao Grupo Especial. Sabemos que temos um desafio muito grande: vencer, vamos dizer assim, as outras demais agremiações que também estão pleiteando esse título e essa vaga no Grupo Especial. Mas a Tucuruvi já sentou, já conversou, nosso gestor maior Rodrigo Delduque deu as restrições, a equipe se manteve e está pronto para mais um desafio: tentar essa vaga novamente no Grupo Especial”, afirmou.
Sambaços
Vencedor do Estrela do Carnaval 2024 (premiação organizada e concedida pelo CARNAVALESCO) de melhor samba-enredo, a agremiação tem uma discografia recente bastante elogiada pelo mundo do samba paulistano.
Hudson Luiz destacou que a qualidade das obras é um diferencial e auxilia o trabalho do intérprete e do casso de som: “Ajuda e muito! Todo almeja cantar grandes sambas na sua carreira. O resultado disso é que, nesses dois últimos anos que eu estou no Tucuruvi, foram dois grandes sambas e eu ganhei três prêmios – um em 2024 e dois cantor agora em 2025”.
Na visão do cantor, a temporada seguinte também será frutífera em relação à canção da agremiação da Serra da Cantareira no Anhembi: “A gente está com o enredo para 2026 e é mais uma pancada. Esperem que vai ser mais uma pancada. Papai do céu vai abençoar os compositores e a gente terá um grande samba para eu cantar – e, quem sabe, pegar uma Estrela do Carnaval, que está ainda faltando na minha estante”, vislumbrou.
Para o carnaval de 2026, a S.R.E.S. Lins Imperial encontra inspiração na Água. Ela, divina, símbolo de origem, memória e permanência. Em seu desenho geográfico natural, está registrada nos topônimos de duas comunidades do Complexo do Lins: Cachoeira Grande e Cachoeirinha, estreitando a relação da Lins Imperial com esse elemento sagrado. As Águas da Lins Imperial agora confluem com as Cristalinas de Cachoeiras de Macacu, uma vez que serão percorridos os trajetos que refletem a alma da criação da cidade, por meio das cosmogonias dos Bantu e dos Puri e, afluentemente, expandindo-se em práticas locais ligadas à Água, como aquelas das comunidades tradicionais, festividades populares e religiosas, além das iniciativas de preservação ambiental.
Macacu — No Caminho das Águas Cristalinas, reflete a Alma da Criação
No princípio, tudo aqui era Água. Imenso azul. Infinito cristalino. Sem Ela, Divina, reverenciada nas cosmogonias dos Bantu e dos Puri, não há origem. Ou mesmo porvir. É a Água quem risca o chão como quem escreve, na folha em branco, a vida; Escritora nossa de uma história sem fim (que nunca seca). É fluida, mutável, fértil. E por Ela, “ah, de ser eu… Água” … Da cabeça aos pés. E me curvo ao “Alcance o seu dizer. Ter água no corpo é merecer ”.
E é Nela que mergulhamos para nos descobrir. Foi assim, desse mergulho, que a nós se revelou: gestada do estado líquido, nasceu Macacu. Jorraram quedas d’Água, nossas cachoeiras. Tomaram o seu percurso os afluentes. Desaguou-se a existência, entranhando-se sob a terra — tornando-a fecunda —, beijando as margens, a partir de onde habitamos, construímos nossas histórias, partilhamos o dia a dia, organizamo-nos enquanto sociedade. Seguimos o fluxo das Águas que nos banham, emoldurado por uma natureza que veste a Serra com a presença de cedros, jatobás, ipês coloridos, quaresmeiras e pitangueiras, orquídeas e bromélias, samambaias, arbustos e plantas medicinais de todas as sortes; mas também de lontras, muriquis, jaguatiricas, gatos-do-mato, sabiás-laranjeiras, tucanos, calandrias, araçás, mariquitas e beija-flores. A vida floresce à sua volta. É a Água quem costura os dias, desenha os caminhos e nos ensina o compasso do agir.
Não há cotidiano aqui que não passe pela Água. Entendemos que viver — e não apenas existir — é acompanhar o ritmo das correntes. Da etnografia do Mar pra Dentro é só Água: a florescer a taboa, a lavar as roupas, a macerar as ervas, a regar o matumbo, a sacralizar o banho, a limpar as mãos benditas, a emergir o sustento o sustento de muitas famílias. E tudo isso sob a sentinela da Igreja de Sant’Anna, matriz da nossa cidade, erguida à margem do caminho de nossas Águas. A Água nos atravessa a todo tempo, a todo instante. E é por isso que nela mergulhamos fundo — sempre —, porque Ela que nos constitui.
Tal qual a Água, que, por sua natureza adaptável, ora é doce, ora salgada; algumas vezes lenta, outras, violenta; por vezes escura, outras, translúcida, nossas tradições, que nos marcam, também são muitas. Somos corpos que celebram a Água — nossa origem, nossa travessia, nossa permanência. Nossos batuques despertam como sinfonia o pulso das correntezas. Na procissão à Imaculada Conceição, acompanhamos o rio enquanto entoamos a Ave Maria, num cortejo que percorre o entorno das Águas, levando-nos aos domínios da Santa Sé. O balanço ritmado em ijexá reflete a devoção do povo de Santo que canta que nesta cidade todo mundo é D’Oxum — Essa que “quando pisou a terra, fez a vida tocar o mundo” . Os foliões entram nas Águas, fantasiados, pois se vestir de alegria exige mergulhar na correnteza de felicidade. No esplendor vibrante do Carnaval das Águas Cristalinas, o AfroFolia faz a lavagem das ruas purificando a cidade. Somos um rio caudaloso de cores, sons e alegria, que inunda cada esquina com energia contagiante. A vida se celebra aqui, pois a Água enche de sentido nossa existência.
As nossas Águas, numa dança de movimentos que se anuncia nas cristas da serra buscando o refúgio do oceano, cortando o horizonte que se dissolve no verde dos montes mesclado à alvorada rosa, enfrenta, no curso, desafios. No seu caminho, há muitos desvios. Surgem mãos que ferem, que desmatam, que desviam, que secam. O seu percurso sinuoso se vê interrompido por assoreamentos, estiagens, barragens. Eis o fluxo da vida em risco. Quando a Água adoece, adoecemos com ela. Quando Ela é ferida, é a nossa permanência que está em risco. Talvez não há de se romper um novo amanhã…
Mas há de haver quem novamente vigie o leito. Há de haver quem (re)plante. Há de haver os que desfaçam as barragens, possibilitando que o rio siga o seu curso. Isso só será possível se, como um dia nos ensinaram nossos ancestrais, voltarmos a divinizar a nossa Água, a vê-la como sagrada. É preciso olhar para aquilo que fazemos por Ela, e não contra Ela.
Enquanto houver jequitibás e sapucaieiras testemunhando a nossa história, haverá memória. Enquanto houver Água, haverá caminho. Enquanto houver caminho, haverá retorno. E que, ao fim de tudo, quando todo mundo se esquecer de si, será Ela — a Água — Quem nos lembrará de novo como (re)começar.
Enredistas: Kitalesi (Arnaldo César Roque) e Mateus Pranto
Carnavalescos: Agnaldo Correia e Edgley Correa
Pesquisa, texto e desenvolvimento: Kitalesi (Arnaldo César Roque) e Mateus Pranto
Agradecemos a Ekedy Lucinha Pessoa e ao Ilê Axé Omin, aos artesãos Divino Soares e Marta da Silva Lopes Soares, à professora Celeida Rocha, ao historiador Vinícius Maia, a Líbia Figueira, ao Rômulo Rolandi, a Gleidson Moraes, ao secretário de cultura Lucas Bueno e ao prefeito Rafael Miranda, pelo tempo disposto para compartilhar conosco a respeito daquilo que tanto os encantam: Cachoeiras de Macacu e as suas Águas Cristalinas, reflexo e encanto que nasce da própria natureza.
Obras consultadas
As histórias do Rio, Macacu. Disponível em: <https://youtu.be/-4s5sVR05HQ?si=D0BjvjHk5BWGQ8ls>.
Documentário Estrelas da Terra. Disponível em: <https://youtu.be/yj2fJgL_Nmo?feature=shared>.
Documentário Estrelas da Terra II. Disponível em: <https://youtu.be/8lvw2CkLIsE?si=w_KBYCDSgkXI6sCw>.
Grupo Cultural Orgulho Negro de Cachoeiras de Macacu (RJ). Há muitas mães. (documentário). Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=duhMaGTqje4>.
Guapiaçu, da nascente ao mar. Disponível em: <https://projetoguapiacu.org/wp-content/uploads/2023/02/Livro-REDAGUA_WEB.pdf>.
KRENAK, Ailton. Futuro Ancestral. Companhia das Letras, 2022.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras, 2020.
Lei do Sistema Municipal de Cultura. Disponível em: <www.cachoeirasdemacacu.rj.leg.br/banco-de-legislacoes-e-normas/legislacao-municipal/leis-ordinarias/2012/lei1920.pdf>.
NETO, João Augusto dos Reis. Pensar-Viver-Água em Oxum para (re)encantar o mundo. Revista Calundu, vol.4, n.2, Jul-Dez 2020.
Paola Odónilè. Òpárá de Òsùn: quando tudo nasce (curta). Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=G9oueZFnNB8>.
Reportagem da TV Globo sobre a comunidade tradicional Hervana, localizada em Cachoeiras de Macacu. Disponível em: <https://youtu.be/q22TcPl_oZk?si=B8IXXpj1TZ3-nnmm>.
Dentro de um regime democrático, a popularidade é movida por altos e baixos. Mas, ao contrário do pensamento estoico, nem toda vida política caminha para um final fracassado. E, atualmente, existe apenas um líder no planeta que pode reivindicar tal fama: Luiz Inácio da Silva – o ex-operário que voltou à presidência do Brasil para cumprir um terceiro mandato. Goste dele ou não, é preciso aceitar: Lula é o político mais bem-sucedido de seu tempo. A combinação de uma personalidade carismática com sensibilidade social são trunfos sublimes do homenageado da Acadêmicos de Niterói para o Carnaval 2026.
Do alto do mulungu surge a esperança: Lula, o operário do Brasil
Pelo rádio, ouve-se Luiz Gonzaga. Apesar dos chiados, Gonzagão era tão presente quanto os sanfoneiros nas festas nordestinas.
“Não há, ó gente, ó não/Luar como esse do sertão”
No agreste pernambucano, dona Lindu e seus oito filhos viviam integrados à natureza. Um deles era Luiz Inácio da Silva, o Lula. Ele e seus irmãos gostavam de brincar no reflexo prateado da lua cheia naquele chão ressecado.
A vida por lá era dura. Mas medo mesmo a família Silva tinha era das coisas do outro mundo. O que os assombrava eram as histórias de alma penada: o Papa-figo, um velho horrendo que adorava comer o fígado dos pequenos que não se comportavam; os mortos que voltavam do além… A cobra que saía escondida à noite para sugar o leite da mulher que amamentava.
Era o mundo fantástico usado para explicar o inevitável, em um lugar onde a mortalidade infantil fazia parte da realidade. Mesmo mortos, esses bebês se mantinham vivos no sentimento dos vivos. “Era preciso lutar para sobreviver ou morrer lutando”. O fato é que Luiz Inácio cresceu no momento de maior pobreza que sua mãe conheceu. Sem o pai, que foi morar em São Paulo, a lida ficou muito pior.
A diversão misturava-se com a necessidade ao brincar com os bichos que apareciam no quintal. Calangos, coelhos, preás, beija-flores e até caramujos. Com seus estilingues, acertavam os animais para assá-los em espetinhos enfileirados. A paisagem do agreste era o parque de diversões daqueles meninos, e o “brinquedo” favorito de Lula era o pé de mulungu dos arredores de sua casa. Do alto dos seus galhos, o futuro presidente do Brasil vislumbrava os dias com esperança.
No ano de 1952, o sol castigou toda a Garanhuns. A seca devastou a lavoura. A fome não perdoou. A possibilidade de sair de Pernambuco e migrar para São Paulo se tornou real. A travessia seria longa, dura, incerta. Uma viagem sem garantias, ao Deus dará. Amontoaram as coisas numa trouxa, guardaram os retratos pendurados na parede, tiraram as imagens de Santa Luzia e São José de seus altares e foram… Foram treze dias e treze noites que pareciam intermináveis num pau de arara de tábuas de madeira. A estrada que os levou para a grande metrópole brasileira foi o primeiro caminho que Luiz Inácio percorreu para tornar-se “o cara” que o mundo conhece.
Para os retirantes, São Paulo era uma espécie de terra prometida, um lugar para ser luz, a luz no fim do túnel. Era… Lula não demorou para descobrir que ali nem todos são iguais debaixo do sol.
O operário Luiz Inácio da Silva tinha uma história muito parecida com a da maioria dos centenas de milhares de “companheiros”. Depois de uma infância impiedosa, Lula, segundo as próprias palavras, ganhou a “chave do paraíso”, quando recebeu o diploma do Senai. Torneiro mecânico de verdade, profissional de papel passado, sentiu-se um artista. Aquele que transforma um disforme bloco de aço em uma “obra de arte”. Aos olhos da família, dos amigos, dos vizinhos e, principalmente, das garotas, o macacão virou motivo de orgulho.
Nos anos de chumbo, virou motivo de perseguição.
Um dos alvos dos militares ao tomar o poder foi o movimento operário. Sob a alfange do AI-5, o marechal Costa e Silva determinou que os ditos “crimes contra a segurança nacional” fossem julgados pelos próprios militares. Uma forma de prevenir qualquer ousadia reivindicatória. Mesmo com a repressão violenta e, apesar da relutância inicial, Lula entrou para a luta sindical e tomou gosto por aquela agitação permanente. Essa trajetória foi elemento importante para Lula enfrentar a tragédia da viuvez e da morte de dona Lindu.
O sindicato adquiriu então características de um lar, de guardião sentinela dos direitos da “peãozada”. O objeto das preocupações era o da maioria da população do ABC: salário. Os últimos anos da década de 70 foram tão intensos que Lula só tinha tempo para comandar uma greve atrás da outra e idealizar um novo partido político no Brasil; algo que nunca existiu no país: uma união de trabalhadores.
A liderança política de Lula marcou definitivamente a história do Brasil. Eleito deputado constituinte e presidente da República, Luiz Inácio subiu ao Palácio do Planalto após receber mais de 52 milhões de votos. Alguns dirão que ele bancou o camaleão, disfarçando de verde e amarelo sua coloração essencialmente vermelha. A tática eleitoral deu certo e trouxe para seu eleitorado setores da população que antes o encaravam com temor e preconceito. A estrela brilhou e subiu! A esperança venceu o medo!
Desde onde veio e até onde chegou, Lula havia se comprometido a ajudar os mais necessitados. E assim o fez. O Estado promoveu uma distribuição de renda ampla, conseguindo a maior redução da pobreza na história brasileira. Alunos de famílias menos favorecidas, que nunca teriam a chance de ir além do Ensino Médio, puderam contar com bolsas para ingressar no Ensino Superior. A energia elétrica passou a chegar nos lugares mais longínquos. O país saiu do mapa mundial da fome.
A pirâmide social do Brasil mudou de cara.
Empregadas domésticas, porteiros e trabalhadores braçais, praticamente toda a “ralé”, começaram a adquirir bens de consumo – até então privilégio dos “instruídos”. Para boa parte da elite, tudo isso irritava profundamente: a “subida” de funcionários aparentava que eles estavam “descendo”. Por isso que o contar do tempo para um futuro melhor parou, forçadamente. Uma era de sombras, de incertezas, de retrocessos e desmontes voltou a atrasar o desenvolvimento social da nação.
Mas ainda que todas as flores tenham sido arrancadas, uma por uma, pétala por pétala, o tempo do replantio e da primavera sempre há de chegar. E a primavera já chegou.
Ideias não se aprisionam. Nem morrem. Servem para desmascarar o patriotismo antipatriótico dos que conspiram contra a pátria. O maior legado do lulismo será sempre o enfrentamento para um novo regime de políticas públicas voltadas ao trabalhador e à redução da pobreza.
Nada do que Lula fez, ele fez sozinho. Sua liderança nasceu, cresceu e se consolidou como expressão de um andar junto. Ele faz jus e orgulha sua herança materna. Para Dona Lindu e os filhos que sabiam muito pouco, quase nada, sobre o país onde moravam, as páginas da história do Brasil registram este fruto do seu ventre: Luiz Inácio Lula da Silva.
Hoje a alegria toma posse dessa Avenida de braços dados com a esperança…
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Texto e pesquisa: Igor Ricardo Carnavalesco: Tiago Martins
Agradecimentos: Aydano André Motta, Fernando Morais (biógrafo), Nelson Breve e Ricardo Kotscho (ex-assessores), Frei Betto e Clara Ant (amigos de longa data).
Referências bibliográficas:
ANT, Clara. Quatro décadas com Lula: o poder de andar junto. Belo Horizonte: Autêntica, 2022. BETTO, Frei. Lula, um operário na presidência. São Paulo: Casa Amarela, 2002.
LULA. Luiz Inácio da Silva. A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
MORAIS, Fernando. Lula: biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. PARANÁ, Denise. Lula – o filho do Brasil. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009.
A quadra da União da Ilha do Governador viveu na noite do último sábado uma explosão de emoção, brilho e reencontro. Gracyanne Barbosa foi coroada, ou melhor, recoroada, rainha de bateria da escola, para o delírio da comunidade insulana. O retorno foi celebrado como uma verdadeira festa da saudade com o futuro. Com a quadra lotada e o coração da escola pulsando em azul, vermelho e branco, Gracyanne desfilou sua realeza e foi recebida com entusiasmo por cada segmento, mostrando que sua ausência foi apenas física, no sentimento da comunidade, ela nunca deixou o posto.
“Está sendo emocionante. Eu estava com uma expectativa de pisar nessa quadra novamente, receber esse amor, esse carinho, esse respeito. E eu estou aqui devolvendo tudo isso com muita gratidão, muito amor, muita felicidade”, declarou Gracyanne, visivelmente emocionada com a receptividade.
A relação entre a musa fitness e a Ilha vai além da avenida: é uma história de entrega mútua. “A Ilha sabe o quanto eu sou presente. Faço questão de estar em todos os momentos. Acho que essa troca é importante. E tenho certeza de que é rumo ao Grupo Especial, que é onde a Ilha merece estar. Vamos fazer história”, disse ela, em tom de compromisso com a escola.
Foto: Divulgação/Grupo MAR
Gracyanne reinou na escola por três anos consecutivos e retorna agora com ainda mais maturidade e brilho no olhar. Afastada do Carnaval 2025 por sua participação no BBB, ela confessou que sentiu falta da folia: “Foi um momento muito importante da minha vida! Estava sendo especial lá dentro. Mas, no carnaval, senti muita falta de viver esse momento. E, com certeza, em 2026 vou curtir muito mais e sentir muito mais esse amor”.
Foto: Divulgação/Grupo MAR
O mestre de bateria, Marcelo Santos, que assumiu a batucada em 2019 e teve Gracyanne como sua primeira rainha, não escondeu a alegria com o retorno: “Gracyanne, hoje em dia, não é só rainha da bateria. Ela se tornou a rainha da escola. Toda a comunidade da União da Ilha está muito feliz com esse retorno. Ela entregou beleza, simpatia, samba no pé… e entregou também paixão. A comunidade da Ilha a ama. Não só a bateria, mas toda a escola vai recebê-la de braços abertos. É uma grande rainha, uma grande profissional, uma grande artista — e ela ama isso aqui. Estou muito feliz de tê-la do meu lado. A bateria da Ilha só ganha com a chegada dela”.
Mestre de bateria, Marcelo Santos. Foto: Juliana Henrik/CARNAVALESCO
Quem também celebrou o retorno foi Júnior Cabeça, diretor de carnaval da escola: “O clima que tem na quadra é como se a Gracyanne nunca tivesse saído. A recepção foi a melhor possível. A comunidade é apaixonada por ela. Ela tem um carisma muito forte com todos aqui. Foi a decisão mais assertiva do nosso patrono, junto com o presidente Ney, trazê-la de volta. Como ela mesma falou no palco, parece que nunca saiu e prometeu não sair mais. Espero que ela fique muitos anos com a gente, fazendo todo esse sucesso que faz e levando essa alegria para o público”.
Júnior Cabeça, diretor de carnaval. Foto: Juliana Henrik/CARNAVALESCO
O reinado de Gracyanne na União da Ilha renasce em grande estilo, com afeto de sobra e samba no pé, reafirmando o poder que uma verdadeira rainha tem: conquistar o coração de toda uma escola e permanecer nele.
Mais uma escola de samba de São Paulo revelou o enredo para o carnaval 2026. No último sábado, a tradicionalíssima Unidos do Peruche encheu a quadra da agremiação, na rua Samaritá, para apresentar ao universo do carnaval paulistano “Oi… esse Peruche lindo e trigueiro… terra de samba e pandeiro”, desfile que será assinado pelo experiente carnavalesco Chico Spinosa. Presente em todos os eventos relevantes para as agremiações, o CARNAVALESCO esteve no terreiro da Filial do Samba e ouviu nomes importantes da agremiação.
Embora a escola já esteja a mil por hora em relação a preparativos para o desfile de 2026, o evento deste sábado marcou uma série de apresentações da Unidos do Peruche para a própria comunidade e para o mundo do samba paulistano como um todo. Prova disso foi a apresentação de toda a diretoria e do elenco da agremiação para o carnaval de 2026, logo após uma roda de samba com ritmistas da Rolo Compressor – bateria de verde, amarelo e azul.
Mesmo sendo apresentados juntamente com os outros nomes, Daniel Vitro e Taiene Caetano, novo primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da agremiação, foram empossados de maneira oficial. Depois, uma apresentação dividida em vários atos e que contou com performances de ritmistas, de integrantes da comissão de frente e de outros segmentos se iniciou e só foi encerrada quando o carnavalesco revelou a todos os presentes qual seria a temática a ser levada ao Anhembi.
Com tudo já apresentado, a agremiação começou um show com diversos sambas-enredo clássicos da Peruche e do carnaval paulistano, como “Água Cristalina” (1985), “Filhos da Mãe Preta” (1988), “Os Sete Tronos dos Divinos Orixás” (1989), “Mamma África” (1998) e “São Paulo é Como Coração de Mãe… Sempre Cabe Mais Um” (2004). Para executar tais sucessos, mais uma apresentação: Agnaldo Amaral, novo intérprete da “Filial do Samba”, cantou tais canções e “Axé, Griô! Carlão do Peruche, o Cardeal Preto do Samba”, tema do desfile de 2025.
Enredo com história
Principal responsável pelo enredo da Unidos do Peruche e chegando na agremiação há pouco, Chico Spinosa revelou que a ideia da temática é antiga: “Quando fui convidado para a Peruche e fui para um encontro com o presidente, o Zóio, eu sentei na mesa e falei, que tinha um enredo. Ele perguntou qual era e se tinha África na temática. Eu disse que passava por lá e ele topou na hora. Eu disse que o enredo era a história do pandeiro e ele arregalou os dois olhos”, relembrou o carnavalesco, destacando o único pedido do presidente da Filial do Samba nas tratativas.
Citado pelo carnavalesco, Alessandro Lopes, popularmente conhecido como Zóio, presidente da agremiação, destacou que uma efeméride importantíssima para a história da instituição também estará envolvida no projeto: “Vamos lá contar a história dos nossos 70 anos e a do pandeiro. É uma mescla. O Chico Espinosa, nosso carnavalesco, tinha esse enredo sobre o pandeiro guardado com ele e nós temos os nossos 70 anos. Falei para ele fazer a proposta da mescla e aconteceu: veio uma proposta linda, uma proposta bacana e de fácil leitura – que é importante para todos nós e para o contexto do carnaval”, pontuou.
O principal mandatário perucheano aproveitou para destacar outro ponto importante em relação à temática: “Se você vir com o carnaval de difícil leitura é complicado, ainda mais no Grupo de Acesso II. É um enredo muito bacana, de fácil leitura e contempla os 70 anos da Peruche no final do enredo. Achei muito bacana e deu liga, a comunidade adorou”, comemorou.
Detalhes
Em entrevista à reportagem, Chico mostrou-se bastante animado com todo o desenvolvimento do enredo e as diversas possibilidades que o instrumento musical traz: “É uma história linda, que tem profundidade de samba-enredo. Contei uma historinha bem pequena para ele: encontrei em uma das esculturas de Anatolia, Cibele, uma deusa, abraçada no pandeiro. Isso data de 6 mil anos atrás. É uma coisa que a gente tem que comentar”, afirmou, citando as esculturas seljúcidas turcas que se tornaram famosas mundialmente e a deusa-mãe da mitologia romana.
Chico falou também sobre assuntos bem mais presentes no carnaval como um todo: “O pandeiro veio para o Brasil como um gringo, mas chegou aqui e encontrou a identidade dele. Na malemolência do brasileiro, desse povo trigueiro, desse povo mulato. Eu falei para o presidente que tinha uma outra coisa que ele iria gostar de ver na avenida: o pandeiro foi peça de resistência na escravidão, com a capoeira, com Chiquinha Gonzaga e também foi uma peça importantíssima para unificar a musicalidade do Brasil com o Jackson do Pandeiro: ele conseguiu colocar a música nordestina fazendo parte do cast tradicional da música brasileira”, relembrou.
Por fim, o profissional desembarcou no universo da folia de Momo: “Eu acho que é de uma importância vital a gente falar do pandeiro porque ele, como peça de resistência, na Praça Onze, chegou a ser rei. O carnaval venceu! É uma peça que pode nos fazer vencer”, vociferou o carnavalesco.
De olho no Anhembi
Perguntado sobre como tantas referências seriam exibidas no Sambódromo, Chico foi sucinto: “É uma história cronológica. Eu, na verdade, abro com a comissão-de-frente cantando com os deuses, tocando pandeiro e dançando para as divindades. No carro abre-alas, eu faço esse pandeiro enquanto gringo chegar no Brasil através da navegação. E, aí, eu passo pela musicalidade brasileira e pelos textos extremamente precisos”, confessou.
O carnavalesco voltou a trazer novas referências para a reportagem:“Por exemplo: tem um texto de 1549, da Arquidiocese da Bahia, que diz que atrás do Santo Cristo (peça que veio em um navio) tinha um cortejo de folia, zombaria e pandeiros. Isso está escrito em 1549! A gente vai passar por isso. Eu fui me apaixonando cada vez mais por essa história”, revelou.
Chico, novamente, desemboca na agremiação ao finalizar a fala: “Depois, encontrei Ary Barroso, encontrei Assis Valente, encontrei Sinval dos Santos… grandes compositores, tal qual Carmen Miranda. E Ary Barroso escreveu ‘Meu Brasil brasileiro, terra de samba e pandeiro’. Daí veio a inspiração de ‘Oi, meu Peruche é lindo e trigueiro, terra de samba e pandeiro’. Aí está feito o enredo”, destacou.
Convencimento em alta
Um dos diretores de carnaval da Unidos do Peruche, Wagner Caetano destacou que, de primeira, a proposta do enredo surpreendeu: “Em um primeiro momento, nós achamos diferente. Mas ele, ao ele expor a ideia e a concepção do que nós iríamos fazer, nós realmente tivemos a certeza que nós vamos fazer um bom carnaval, um grande carnaval, um carnaval à altura da nossa comunidade”, destacou.
Por uma fala de Chico Spinosa (“ele arregalou os olhos”), é possível depreender que também ficou surpreso com a proposta do carnavalesco, mas, como já foi elucidado, o presidente tornou-se partidário da ideia.
Trabalho em alta rotação
Mestre-sala da Unidos do Peruche na década de 1970, presidente da agremiação entre 1996 e 1998 e um dos filhos de seo Carlão, Wagner destacou que a agremiação está em dia com seus afazeres visando o desfile: “Graças a Deus nós conseguimos colocar tudo em ordem, não tem nada atrasado. Nós tivemos, no mês de abril, a eleição à presidência. Passado esse período de eleição, nós logo fechamos nossa equipe e os primeiros passos do que era necessário e pedimos ao Chico que nos apresentasse o enredo. Graças a Deus está tudo dentro do cronograma normal, não temos nada atrasado”, comemorou.
Chico deu ainda mais detalhes a respeito: “Nós temos passado no barracão todos os sábados, eu estava no processo de criação dentro da minha casa, no meu estúdio. A gente desenhou tudo lá. Agora, a gente está indo para o barracão. Hoje eu tive uma reunião na minha casa com os ferreiros. Sábado a gente começa a testar o movimento de abrir e fechar que eu quero para a comissão-de-frente. Mas já começamos a fazer roupas. Eu sou muito afoito, eu sou muito ansioso. Eu quero para ontem. Para o carnaval, isso é ótimo”, brincou.
Falando no carnavalesco…
Com cinco títulos no carnaval, sendo quatro em São Paulo (três do Grupo Especial, nos anos de 1998, 1999 e 2008; e um do Grupo de Acesso I, em 2020), todos no Vai-Vai, Chico Spinosa foi muito celebrado por Zóio: “Quando veio a aproximação por meio de um dos nossos ferreiros do barracão que também ajuda no Vai-Vai, ele aceitou essa ideia – e adorou a ideia de estar aqui no Peruche. Nós ficamos muito lisonjeados, é um orgulho ter o Chico conosco e é um prazer. Ele conseguiu trazer para nós, aqui, toda a experiência de seus quase 40 carnavais de avenida”, vaticinou.
Próximas datas
Vagnão aproveitou para destacar os próximos dias em que a peruchada estará reunida: “A partir de hoje nós já estamos entregando a sinopse. A escola está aberta, todos podem concorrer. Nós vamos receber sambas até o dia 29 de agosto. E, aí, vamos fazer uma final no dia 07 de setembro. A comissão de carnaval, junto com o carnavalesco e com a comunidade, vai escolher. Vamos fazer primeiro uma peneira e vamos levar para a final três sambas. A comunidade vai concluir essa missão com a gente”, finalizou.