A Viradouro realizou no dia 23 de outubro a gravação oficial de seu samba-enredo para o álbum das escolas de samba de 2025 no Century Estúdio. A atual campeã do carnaval levará para a avenida em busca do bicampeonato o enredo “Malunguinho – Mensageiro de três mundos”, do carnavalesco Tarcísio Zanon. O CARNAVALESCO conversou com alguns dos integrantes da escola, presentes na gravação. Mestre Ciça, responsável pela “Furacão Vermelho e Branco”, comentou sobre o andamento colocado na obra, as bossas pensadas para a gravação e como é para ele estar presente em mais uma gravação do álbum das escolas de samba.
“Coloquei 140 BPM (batidas por minuto) que foi combinado entre diretor musical, direção de carnaval, e entramos no acordo. As bossas principais guardamos para o desfile. A gravação sempre é para apresentar o samba, fizemos uns breques, isso é normal. O sentimento é de chegar até onde eu cheguei com a Viradouro. São 37 anos de gravação de samba-enredo em vários estúdios que eu já passei. O sentimento de muito orgulho que eu tenho. Eu não fico melhor, não sou melhor, mas eu acho que contribui muito nessa relação, Ciça, carnaval, samba, bateria, isso não tem preço”.
Hugo Bruno, diretor musical da escola, explicou sobre a criação do arranjo e do uso de alguns instrumentos na faixa da escola, relacionados a Recife: “O enredo é do povo de Recife, de uma religião do Recife. Nós trouxemos de diferente a maraca, que é como se fosse um chocalho, um xiquerê, e trouxemos o ilú, um atabaque. Pensei em algo regional para o arranjo, com cavaquinho, mais cordas, instrumentos de percussão, dentro do enredo, não quis enfeitar tanto, porque como é uma gravação, tem a voz do Wander, que já deixa o samba muito bonito. Eu preferi pegar uma coisa bem regional”.
Hugo Bruno, diretor musical da escola
Alex Fab, diretor de carnaval, falou sobre o que espera da gravação da escola para o álbum, desejando que ela mantenha a energia vista na final, destacando também o que mais chama a atenção dele na obra. “Espero que ela continue trazendo a mesma energia que a gente sentiu na final. O Wander tinha feito uma pré-gravação com os três sambas finalistas e a gente já sentia que, na voz dele, o samba trazia uma energia bem no caminho que a gente quer, enquanto desfile, e proposta de enredo. A expectativa é que a gente consiga manter essa energia, esse pulso, e que seja o início de um grande processo. O samba tem trechos que certamente mexem com o inconsciente coletivo, porque eles passam uma mensagem bem clara. Eu gosto da energia que João Batista, que Malunguinho, representa nesse samba”.
Alex Fab, diretor de carnaval
Wander Pires, intérprete da Vermelho e Branco de Niterói, contou a preparação para chegar ao dia da gravação, destacando a importância de sua fonoaudióloga, Djeniffer Santos, em todo o seu processo para cuidar da voz. “Eu tenho a minha fono, não canto dois, três dias antes. Estou bastante descansado, durmo, uma noite de sono bem dormida para o cantor é maravilhosa. Como as minhas maçãs. A preparação é uma coisa que levo muito sério, mas no final de tudo a gente colhe um bom resultado. ara cantar busco misturar um pouco das duas, técnica e emoção. Não sei se é por causa da melodia, mas a letra também envolve muito. É difícil eu cantar e não me emocionar com o que eu estou fazendo, com algumas partes que o samba me propõe. Sabemos da potência da escola”.
Wander Pires, intérprete da Vermelho e Branco de Niterói
Inácio Rios, um dos compositores da obra, conversou com o CARNAVALESCO sobre todo o processo de acompanhar a gravação do samba e quais emoções vinham à tona durante esse momento. “É a realização de um sonho de infância. Eu sou criado em Niterói e já tinha ganho samba, mas nunca na Viradouro. É uma escola que é campeoníssima, maravilhosa, essa potência. Acho que a mensagem toda que o Malunguinho traz com o enredo é importante. É um samba que promete muito, tem sido muito aceito, na crítica, as pessoas gostam do samba, acham diferente”.
No último dia 28 de outubro, a Mangueira esteve no Century Estúdio em Jacarepaguá para encerrar as gravações do álbum de sambas-enredo de 2025. Última escola a escolher o hino para para o próximo carnaval, a Verde e Rosa vai levar para a avenida o enredo “À flor da terra – No Rio da negritude entre dores e paixões”, do carnavalesco Sidnei França. Os integrantes da escola conversaram com o CARNAVALESCO sobre o que esperam da gravação da faixa. Os mestres Taranta Neto e Rodrigo Explosão comandaram a bateria na gravação, e falaram sobre o andamento colocado de 140 BPM (batidas por minuto), as bossas pensadas para a faixa e a sensação de estar a frente da bateria “Tem que respeitar meu tamborim” em mais um álbum.
“A gente escolheu o andamento do 140 BPM, que a gente quer mesmo apresentar o samba, os desenhos melódicos que a gente fez. Colocamos duas bossas, que a gente também pretende, a princípio, levar pra avenida. Devem ter umas três ou quatro guardadas que é para gente trabalhar em casa primeiro. É um frio na barriga porque a Mangueira é uma escola gigante. Nosso samba não é essa coisa ruim que estão pensando. Temos tem que fazer o trabalho e vai fazer muito sucesso na Sapucaí em 2025”, comentou o mestre Taranta Neto.
“Estamos com um samba banto. A primeira apresentação no álbum da Liesa é para o público ouvir o samba. Evitamos colocar algumas bossas excessivas”, explicou o mestre Rodrigo Explosão.
Vitor Art, um dos diretores musicais da escola, comentou sobre como foi pensado o arranjo para a obra da Verde e Rosa. “O arranjo passa pela travessia da África até chegar no Brasil. Vamos explorar todas as referências rítmicas que o povo banto deixou de herança, como o funk que a gente ouve hoje. Tem um instrumento que a gente deu vida a ele no carnaval de 2023, que é o timbaque. É meu terceiro ano na direção, e fica aquela expectativa de superar o que foi feito no carnaval passado.”.
Digão do Cavaco, o outro diretor musical da Mangueira, também comentou sobre o arranjo da escola, a composição dos instrumentos utilizados, e de estar presente na gravação da faixa da agremiação para o álbum de 2025. “A gente pensou na temática do enredo, mas também na probabilidade do nosso carro de som, de sempre preservar bem o canto, as cordas, a harmonia legal entre o carro de som e a bateria. Diferente é só o violão de seis cordas, mas que já é uma tradição nossa”.
A presidente Guanayra Firmino também acompanhou a gravação oficial do samba da Estação Primeira, ressaltando a importância de estar conferindo de perto o processo. “O samba mexe comigo na parte que fala, ‘lamento informar um sobrevivente’, porque eu também sou uma. Para mim é muito importante acompanhar a gravação, e nesses três anos da minha gestão, em todas eu estive presente. Faz parte do trabalho do presidente também”.
O diretor de carnaval da Verde e Rosa, Dudu Azevedo, ressaltou que espera conquistar os sambistas com a faixa da Mangueira, destacando como o samba conversa bem com o projeto imaginado pela escola. “A gente espera conquistar todos que são amantes de samba, mostrar a beleza da obra, esse encantamento. Ele tem uma essência de Mangueira muito forte na melodia. Gosto muito da segunda do samba, acho muito rica. Acho que faz o componente bater no peito, e se ver numa história bonita de vida e do que foi a contribuição do povo banto para a cidade do Rio”.
Marquinho Art’Samba e Dowglas Diniz são as vozes da Mangueira por mais um ano e contaram como se preparam para botar a voz no samba da escola para o álbum, o equilíbrio entre técnica e emoção para este momento e qual parte do samba de 2025 da Verde e Rosa mexe com eles.
“É uma preparação que vem de alguns dias, no final de semana procurar sempre estar descansando antes das gravações. A gente conta com o acompanhamento da fonoaudióloga, que é importante. No samba, a parte que eu me identifico como mangueirense, como cria da Mangueira também, é aquela parte da segunda, que eu acho que vai dar um grande impacto na Sapucaí, a parte do funk. É a batida juntamente com a bateria e vamos fazer um trabalho incrível nessa parte, uma paradinha juntamente com a bateria, o funk perfeito”, contou Dowglas.
“A nossa preparação é descansar bastante. Dormir bastante, bastante água, alimentação saudável. O samba tem várias partes que tocam a gente, tem uma parte que eu que eu me amarro muito, ‘Ê malungo, que bate tambor de jongo’, eu acho muito linda”, concluiu Marquinho.
Júnior Fionda, um dos autores do samba da Mangueira, esteve na gravação, e em entrevista ao CARNAVALESCO, comentou sobre a importância da composição e qual trecho mexe mais com ele.
“É o meu 12º samba na Mangueira. Cada um tem um significado para a gente, uma luta diferente, uma frase que representa mais, uma melodia que representa para a vida, e cada um vai ficando para a história. Nesse ano, especificamente, mexe a parte da segunda do samba, sobre o ‘forjado no arrepio’, da época do Cartola que a polícia chegava, arrepiava mesmo e prendia todos por vadiagem. É uma época que meu pai viveu, ele sabe como foi a luta, como foi difícil, ser ‘um sobrevivente’”.
Tida como a principal defensora do ritmo tradicional do samba paulistano, a bateria do Vai-Vai deu o tom na gravação do samba-enredo da agremiação para o CD e para as plataformas digitais de 2025. Com o enredo “O Xamã Devorado y A Deglutição Bacante de Quem Ousou Sonhar Desordem”, homenageando o dramaturgo José Celso Martinez, o samba-enredo, composto por Naio Denay e Francis Gabriel, teve bom rendimento quando cantado pelos integrantes do Bixiga. A alvinegra encerrará os trabalhos do Grupo Especial do carnaval de São Paulo, sendo a última escola a desfilar no sábado de carnaval – 01 de março, embora já desfile com o Sol do dia 02 já nascendo.
Roberto Lopes, popularmente conhecido como mestre Beto, foi bastante técnico e detalhista ao falar, com orgulho, dos ritmistas da agremiação. Comandante da Pegada de Macaco, bateria da escola, desde 2015, escolhido e nomeado pelo eterno mestre Tadeu (com quem dirige os componentes do segmento desde então), primeiro exaltou a origem da instituição: “A bateria Pegada de Macaco, com mestre Tadeu e mestre Beto, virá com andamento 150. É uma bateria que vinha com andamento 154, 156 – e nós vamos vir com andamento 150 porque o samba não pede para vir para frente. Mas, no horário que a gente desfila, a gente não pode vir pra trás – e o Vai-Vai é uma escola que não desfila para trás, já tem uma tradição e eu pretendo cumpri-la juntamente ao mestre Tadeu, dando continuidade à época do cordão, à época dos tambores de Pirapora. A bateria do Vai-Vai é isso: é uma das baterias mais tradicionais do mundo”, comentou – já explicando o motivo pelo qual o andamento da agremiação é tradicionalmente mais rápido que o de outras tantas coirmãs.
Roberto Lopes, popularmente conhecido como mestre Beto
Também chamou atenção o fato do Vai-Vai levar mais naipes que outras coirmãs para a gravação do samba-enredo – cuícas e agogôs, que não estiveram presentes em todas as gravações, estavam no momento em que Zé Celso foi homenageado: “Às vezes, para a gravação o mestre não utiliza, ou às vezes a escola também não tem agogô e não tem cuíca. Você não é obrigado a levar cuícaagogô ou timbau. Você tem os itens e os instrumentos que você é obrigatório apresentar, sem eles você já entra perdido. O Vai-Vai sempre teve agogô, sempre teve cuíca, sempre teve pandeiro, sempre teve muita coisa. Quando eu assumi, quando o mestre Tadeu me deu oportunidade, lá em 2015, eu só mudei o agogô de duas bocas (que tem na Mangueira) e introduzi o agogô de quatro bocas – comandados pela Cintia, que é a nossa diretora de agogô Fazemos isso para contentar também o ritmista ou diretor de bateria: eu trago, com a concepção do mestre Tadeu, todos os naipes na gravação que vão para a avenida. A não ser que não pudessea utilizar na gravação por um critério da Liga-SP, aí gente respeitaria. Eu trago todos e eu acho que engrandece tanto o carnaval quanto o ritmo e você dá uma autoestima para o ritmista”, explicou.
Confiança
Com cada vez mais compositores para assinar uma única obra, surpreende ver apenas dois poetas para musicalizar um enredo. Naio Denay e Francis Gabriel conseguiram o feito. Naio, por sinal, mostrou muita cumplicidade com o parceiro: “Eu tô concorrendo no Vai-Vai desde 1985, ganhei logo no meu primeiro ano. Então, para mim, é só mais um. Ao contrário do Francis, que há quatro anos concorre e essa foi a primeira vitória dele. Acho que ele tem mais a falar do que eu sobre a emoão de ganhar aqui no Vai-Vai”, pontuou.
Compositores Naio Denay e Francis Gabriel
O parceiro, de bate pronto, exaltou o dramaturgo: “É um tema que está à altura do Bixiga! É um tema gigante, com uma escola gigante. Acho que o Bixiga volta forte, tá vindo para brigar pelo título. A escola abraçou o samba e eu acho que vai dar golaço. O samba é a cara do Vai-Vai, o refrão é a cara do Vai-Vai e estamos ansiosos. Estamos confiantes”, afirmou.
A cara da escola
Muito se fala sobre o quanto um samba-enredo pode ou precisa ter a cara da instituição que o apresentará. A escolha do Vai-Vai, aparentemente, foi feita muito por conta da identidade alvinegra. Diretor musical e arranjador da agremiação, Danilo César Alves passou por tal ponto ao falar da faixa: “Foi muito bom mesmo, a gravação foi boa. O samba é espetacular, o samba é muito Vai Vai, e tem essa característica do Vai Vai: aquele samba para frente, um samba que faz com que a bateria tenha bossas espetaculares. O grande destaque é a bateria, é a bossa da bateria, a bateria está fazendo umas bossas muito interessantes de acordo com a melodia do samba. o que o destaque é esse mesmo, é o samba junto com a bateria que é a pegada do Vai Vai”, destacou.
Diretor musical e arranjador da agremiação, Danilo César Alves
Naio concordou: “Samba realmente com cara do Vai-Vai. Há alguns anos o Vai-Vai começou a deixar de lado essa tradição de samba pegado – e, nesse ano, a gente vem retornando com essa pegada do samba característica do Vai-Vai. Eu tenho certeza que é o samba que vai acontecer na avenida, é o samba que vai pegar fogo. E é a última escola, então pode ter certeza que a avenida vai estar cheia, ninguém vai embora! A gente também vai passar e eu tenho certeza que vai pegar”, prometeu.
Danilo voltou a falar sobre as características da canção em geral: “É um samba alegre, é um samba para frente – que, pelo horário do nosso desfile (e nós fechamos o carnaval) vai bater de encontro com o que a gente quer: que é fazer um grand finale, é fazer o fechamento sensacional do carnaval, com uma grande bateria para frente, que é a cara do Vai-Vai. Aquela bateria para frente com uma pegada, como diz o mestre Tadeu, aquela pegada Vai-Vai, com harmonia, com a galera toda cantando bem o samba. O samba muito cantante, então vai ser uma coisa espetacular, um grand finale”, destacou.
Para melhorar ainda mais
Luiz Robles, um dos integrantes da direção de Carnaval e de Harmonia vaivaiense, revelou quais foram os cuidados dos dirigentes para tornar a canção ainda mais efetiva: “A gente fez a escolha do samba e já fizemos algumas alterações na letra. E aí, já no primeiro ensaio, como a gente tinha soltado internamente a gravação, mesmo que aquela meia suja ainda, a comunidade começou a trabalhar esse canto. E hoje, chegando aqui na gravação, a gente entende que a evolução está sendo muito satisfatória. A música já pegou, a galera já entendeu e assimilou essa mudança. Está sendo muito satisfatória a evolução para nós, como direção de Harmonia – e a coordenação que eu tenho. Está sendo satisfatório o canto, sim. Até porque a gente está trabalhando isso muito forte nesses primeiros ensaios. A gente está focando muito no canto, mesmo. A gente deu uma parada daquela evolução que a escola está acostumada a fazer. Estamos fazendo os ensaios e estamos focados no canto”, destacou.
Luiz Robles, um dos integrantes da direção de Carnaval e de Harmonia
Depois das melhorias, a faixa
Para gravar a canção, Luiz Felipe, intérprete alvinegro, falou sobre o que costuma fazer nas horas anteriores a um evento tão especial: “Eu me concentro muito, principalmente. Eu busco me concentrar bastante. Gosto de ficar quieto, sozinho no meu canto, ouvir músicas que me acalmam (MPB, João Bosco, Emílio Santiago, Fundos de Quintal) e músicas que eu aprendi com a minha mãe – as músicas internacionais. Eu faço isso e também faço bastante exercício vocal, bebo água, faço outros exercício, inalação e etc”, destacou.
Para a gravação, mestre Beto deu mais informações sobre a canção vaivaiense: “Nós vamos vir com um breque de três, que é uma passagem, e nós vamos vir com duas bossas cumprindo o critério de julgamento – que são, no mínimo, dezesseis compassos para você atingir a nota dez. A gente sempre desfilou pra cumprir o critério de julgamento”, revelou.
Luiz Felipe, intérprete do Vai-Vai
O comandante-mor dos ritmistas aproveitou apra falar um pouco mais sobre os critérios de avaliação: “Eu vou contar uma história rápida para vocês: antes, o critério de julgamento permitia você fazer quanto você quisesse (ou permitia você não fazer, ou permitia você fazer fora do campo auditivo e visual do jurado) de bossas. Hoje, no critério de julgamento, você é obrigado a fazer o arranjo na frente do jurado ou no campo auditivo e visual dele. Você tem que fazer no mínimo dezesseis compassos: com quinze compassos você não atinge o dez, com dezesseis compassos você atinge, mas pode não atingir, e com mais de dezesseis você atinge o dez. Cumprindo-se esse critério de julgamento, feito pela Liga-SP e assinado por todos os presidentes, a bateria do Vai-Vai, mesmo assim, continua sendo tradicional: ela cumpre o critério, ela faz a bossa – ou ela faz a passagem, ela faz a convenção, seja nomenclatura que você quiser”, relembrou.
O intérprete aproveitou para falar que seus planos, quase sempre, são mudados para eternizar canções: “Eu busco sempre estar bem na técnica. Só que aí, chega a da hora, você vai incorporando o samba gravando… aí não vem mais a técnica, só vem aquela empolgação. Você sente a comunidade, você sente o samba. Por causa disso, fica meio técnica e meio emoção”, dividiu-se LF.
E no desfile?
Já pensando em março de 2025, Robles destacou que o Vai-Vai sacudirá o Sambódromo: “A gente até fez uma projeção e estamos podendo trabalhar muito próximo do carnavalesco, com as fantasias muito mais leves, para que o componente possa evoluir e dançar muito mais do que o habitual. A gente já está projetando um balancê, uma dança e um canto muito forte por conta do horário que a escola vem. A gente está projetando que a gente consiga fazer um desfile realmente apoteótico no canto, na Evolução e no visual que a escola vai apresentar”, finalizou.
Poucos artistas são capazes de transcender o gênero e a manifestação que domina. Um dos que conseguiu tal feito foi Agenor de Miranda Araújo Neto, popularmente conhecido como Cazuza. Originalmente rockeiro e vocalista do Barão Vermelho, ele também compôs canções típicas da Música Popular Brasileira (MPB) em carreira solo. Dos mais cultuados brasileiros de todos os tempos (até mesmo no jeito de se vestir), ele será homenageado pelo igualmente importante e exaltado Camisa Verde e Branco no enredo “O Tempo Não Para! Cazuza – O Poeta Vive”, concebido pelo ex-carnavalesco da agremiação Cahê Rodrigues e hoje tocado por Leonardo Catta Preta. O samba-enredo, composto por Silas Augusto, Claudio Russo, Rafa do Cavaco, Turko, Zé Paulo Sierra, Fábio Souza, Luis Jorge, Dr. Élio e Bruno Giannelli, foi gravado para o CD e para as plataformas digitais no dia 12 de outubro, na Fábrica do Samba – e irá encerrar a primeira noite de carnaval do Grupo Especial (28 de fevereiro), já na manhã do dia primeiro de março.. O CARNAVALESCO esteve presente na gravação e conversou com diversos nomes importantes não apenas para a execução do samba-enredo – mas, também, para o desfile como um todo do Trevo da Barra Funda.
A primeira surpresa do Camisa Verde e Branco ficou evidente para quem estava no local – e para quem acompanhar o videoclipe oficial. Ritmistas, coral, baianas e até mesmo os integrantes do carro de som homenageavam Cazuza até mesmo no jeito de se vestir: todos eles usavam uma faixa na cabeça e óculos escuros.
Mas, de acordo com mestre Jeyson, comandante da Furiosa, bateria do Camisa, outras surpresas virão: “A gente tem três bossas prontas para a gravação de hoje, mas vai ter mais dois paradões. São, ao todo, cinco novidades para a galera. E, claro, a caixa-de-guerra do Camisa, que é o que diferencia a Furiosa das outras. Não estou falando que nem uma bateria é melhor nem pior que a outra. Mas, aqui, essa é a nossa característica. A bateria é a nossa caixa, a caixa rufada tão tradicional”, pontuando o que é possível esperar do coração verde e branco.
Mestre Jeyson, comandante da Furiosa, bateria do Camisa
Existe, é claro, outras surpresas. João Vitor Almeida de Aguiar, arranjador da obra, também destacou o tom da obra: “Quem acompanhar a nossa faixa pode esperar muita surpresa do nosso arranjo. Vai ficar bom, vocês vão ver. Assistam, assistam e assistam”, destacou.
Para emocionar
Se o samba-enredo é uma carta psicografada por Cazuza contando a própria história (com uma dedicatória especial a Lucinha Araújo, mãe do cantor morto em 1990), é claro que o emocional conta muito na gravação. A própria escola é unânime ao afirmar tal vocação da canção. João Vitor Almeida de Aguiar foi um deles: “Hoje vai ser muito coração, não jeito. Falar do Cazuza acho que é uma novidade para todo mundo, ninguém esperava. E a gente montou o arranjo em cima da melodia bonita da voz que fizeram, também. Vai dar tudo certo”, tranquilizou.
João Vitor Almeida de Aguiar, arranjador da obra
Outro João Victor, o Ferro, diretor de carnaval da escola, deu visão semelhante: “Eu acho que é um samba que vai emocionar muito as pessoas. Era nossa principal intenção desde quando a gente começou a construir a sinopse, A gente queria um samba que mexesse com a emoção da comunidade, com a emoção do sambista em si. E, aí, veio esse samba em forma de carta psicografada, que mexeu com a gente, que mexeu com a família do Cazuza, é um samba que a gente sente a presença dele. A gente não está contando a história do Cazuza, o Cazuza está contando a própria história dentro do samba. É um samba diferenciado. Podem aguardar um samba diferente do que a gente já vem fazendo”, prometeu.
João Victor, o Ferro, diretor de carnaval da escola
Aproveitando para declamar um verso de um dos grandes sucessos do cantor e do próprio samba-enredo (que, por sinal, intitula o enredo), Bruno Gianelli, um dos compositores da obra, falou sobre a vitória em um dos mais tradicionais concursos em escolas de samba paulistanas: “O Camisa é uma das escolas mais tradicionais de São Paulo. É diferente ganhar o samba em uma escola tão tradicional como o Camisa é, é uma coisa muito especial. É muito especial, é muito bacana. E ainda mais pelo enredo ser o Cazuza. Você junta a força do Cazuza com a força do Camisa para fechar uma sexta-feira de desfile. Acho que tudo isso torna tudo ainda muito mais especial do que já era. Ganhar um samba no Camisa seria especial em qualquer grupo, em qualquer momento, em qualquer época da vida. Mas acho que fechar um dia de desfile do Grupo Especial, falando de Cazuza, deixa tudo muito mais especial, muito mais feliz, para o dia nascer feliz”, inspirou-se.
Bruno Gianelli, um dos compositores da obra
Preparação
Igor Vianna, intérprete do Camisa Verde e Branco, comentou sobre as horas anteriores à entrada no estúdio: “Para mim, antes de uma gravação e de um desfile, a primeira coisa que eu tenho que fazer é dormir. Dormir muito, descansar muito para poder ter a voz o mais cem por cento possível para colocar no CD. Ontem, por exemplo, foi a final do Salgueiro e eu estava cantando o samba da parceria do Xande de Pilares – por sinal, o samba campeão. Eu pedi desculpas aos compositores, ao Xande, ao meu padrinho Pedrinho da Flor, e me ausentei da final. Estou em São Paulo desde ontem, para que eu pudesse descansar. Cheguei aqui cedo, cheguei em São Paulo umas oito horas da noite. Era meia-noite ou umas onze horas da noite, eu já estava dormindo. Fui acordar hoje, já era umas dez e meia da manhã. Almocei, e não almocei nada pesado, para também não atrapalhar no ritual. Fiquei esse tempo inteiro com uma água na temperatura ambiente. E aí tem os segredinhos: um sprayzinho de Hexomedine, uma balinha de Strepsils para ajudar. Esse é o meu ritual”, revelou, aproveitando para falar de compromissos adiados em outra escola tradicionalíssima – e que possui o mesmo nome de bateria do Camisa.
Igor Vianna, intérprete do Camisa Verde e Branco
O fato da quadra do Trevo ficar a seiscentos metros a pé da Fábrica do Samba, obviamente, ajuda para trazer a escola, detalhou João Victor: “Com relação à logística, ela é muito tranquila porque a quadra é do outro lado da avenida. Foi bem de boa, viemos com o número máximo pra poder gravar: coral completo, bateria completa. Foi bem tranquilo, a escola veio, ensaiou de boa, o samba pegou, a galera abraçou e podem aguardar um super samba, tanto na gravação quanto na pista. Vocês vão se surpreender e vão se emocionar, é a nossa maior intenção: emocionar tanto a comunidade da Barra Funda quanto todo o carnaval paulistano”, prometeu o diretor.
Ao comentar sobre o eterno dilema entre privilegiar o sentimento ou a perfeição vocal, Igor Vianna prefere o meio-termo: “Eu tento conciliar a técnica e a emoção. Eu tento conciliar os dois, me ligando totalmente nas notas a serem alcançadas e passando também um pouco de emoção para que não saia aquela coisa meio robotizada. É o que eu procuro fazer e vem dando certo. E, hoje, essa será a técnica usada”, detalhou.
Já para o desfile…
Mestre Jeyson revelou qual é o andamento da Furiosa na gravação – e, também, o que será utilizado no Anhembi: “Sim, o nosso andamento nos últimos anos é 144 BPM (batidas por minuto) e vai seguir assim nesse ano. O andamento aqui não é muito para frente e nem é um pagodão, é um ritmo nesse meio termo. Vamos ver de manhã como vai ser. Tem que dar aquela pulsação maior. Mas é 144 mesmo, que dá aquele balanção gostoso”, explicou.
Por fim, Gianelli frisou o que mais o encanta na recepção da comunidade à canção: “Eu acho que esse samba tem tudo para ser um dos sambas mais comentados do ano. A gravação foi sensacional, a bateria do Jeyson tirando onda, brincando, sorrindo, com alegria. Carnaval é alegria, carnaval é sorriso no rosto, é passar a emoção do que é o samba e do que é uma bateria pra quem está assistindo. Acho que tem tudo para ser um desfile sensacional, tem tudo para crescer ainda mais em cada ensaio, em cada ensaio técnico e no desfile também”, finalizou.