A camisa lançada pela Kappa em parceria com a Mocidade no dia do futebol virou febre em todos os cantos do país. Em todo lugar da cidade, tem alguém vestido com o manto verde e branco de Padre Miguel. E depois do grande sucesso, a parceria entre a Escola e a fornecedora de material esportivo italiana, inova mais uma vez e lança a camisa II da temporada deste carnaval 2025.
A coleção traz com orgulho todos os elementos de um bom sambista. O tecido e os detalhes em dourado reforçam a mensagem de que o sambista perfeito está sempre bem trajado. As estrelas da campanha foram Bruna Santos e Diogo Jesus, Porta-Bandeira e Mestre-Sala da Escola, batizados de Casal Iluminado no mundo do samba.
O diretor de marketing da Mocidade, Bryan Clem, reforça a importância da parceria e de mais uma ação pioneira no carnaval.
“A parceria com a Kappa foi um marco não só para a gente, mas para todo o carnaval. Associar a nossa cultura com uma marca global como essa só reforça o nosso peso. A repercussão da camisa I foi algo que mexe até hoje conosco. E agora, a gente vem com essa necessidade para coroar a temporada e ir para avenida com a classe que merecemos. Muito orgulhoso dessa parceria, explica Bryan.
Já o diretor da Kappa Brasil, Caio Campos, aproveitou para falar da emoção de vestir a Estrela Guia de Padre Miguel.
“É muito gratificante para Kappa poder estar presente com a Mocidade em nosso primeiro carnaval. A sensação é a mesma de estar estreiando em um grande campeonato de futebol. E nada melhor que lançar uma camisa tão linda para esse momento tão especial. Buscarmos criar para a comunidade, uma peça que uma elegância e tradição”.
Primeira Escola a desfilar na terça-feira de Carnaval, a Mocidade Independente de Padre Miguel levará para a Sapucaí o enredo “Voltando para o futuro, não há limites para sonhar”, desenvolvido pelos carnavalescos Renato Lage e Márcia Lage (Em memória). A agremiação fará uma viagem intergaláctica, onde se reconecta com seu brilho mais intenso, o de uma estrela jovem, para questionar os próximos passos em um manifesto pelo futuro da humanidade.
Aos cinco anos, Andressa Marinho caminhava pelas ruas de sua comunidade quando ouviu o som contagiante de uma batucada. Curiosa, perguntou à mãe sobre aquele barulho. Ao descobrir que se tratava de um ensaio de escola de samba, a menina ficou encantada. Assim, naquele dia, nasceu uma verdadeira rainha.
“É uma mistura intensa de emoções, mas, sem dúvida, muito especial. Estamos de volta ao desfile especial após 52 anos, e eu me tornei a rainha da bateria da minha escola do coração. É uma gratificação enorme, uma honra imensa. Sinto-me um exemplo e uma inspiração, resgatando o nosso lugar e representando a nossa comunidade. O samba raiz faz parte da nossa ancestralidade e é a cultura do povo preto. Portanto, sinto-me como um espelho para as crianças, uma referência no samba. Sobre sua fantasia, ela disse ser segredo!”, disse Dedê Marinho, rainha da bateria.
O CARNAVALESCO entrevistou alguns integrantes da Unidos de Padre Miguel para saber a opinião deles sobre a importância de ter uma rainha da bateria que venha da comunidade.
“Desfilo na UPM há 11 anos e já passei por diversos segmentos da escola. Comecei como passista e hoje trabalho na área de comunicação. A Dedê foi passista comigo quando ainda era uma criança. Ela representa as pessoas da comunidade e o chão da escola, além de lembrar que nosso esforço é valorizado. O cargo que ela ocupa atualmente é o desejo de muitas, e vê-la neste lugar nos motiva a continuar lutando, não apenas pela escola. A UPM oferece oportunidades para que seus componentes alcancem novos horizontes dentro e fora da agremiação. Acredito que, além da representatividade, ela trilha novos sonhos e caminhos, proporcionando inspiração para não desistir. A UPM sempre oferecerá oportunidades, permitindo que sigamos em frente sem abandonar a escola”, disse Elisabeth.
Elisabeth
Uma torcedora se emocionou ao relatar que sua filha chora ao dizer que deseja ser como Dedê um dia.
“Meu coração se enche de emoção. Tenho uma filha de sete anos, e quando ela vê a Andressa, chora, pois enxerga nela uma referência. Ela diz que, quando crescer, quer ser igual a ela. Minha filha está aqui ao meu lado, emocionada. Somos da Vila Vintém, e ela está sempre comigo e com o pai na quadra. É maravilhoso testemunhar uma menina da nossa comunidade se tornando rainha. A Dedê é um exemplo para todos nós, um grande orgulho!”, declarou Rafaela, torcedora da escola.
Rafaela
“Estou chegando à UPM este ano, mas já acompanhava o desfile em anos anteriores. Também sou passista e, ao ver a Dedê reinando em uma bateria tão tradicional do Carnaval carioca, senti-me representada, assim como todas as meninas que sonham em ocupar um lugar de destaque. Para nós que estamos nesse segmento, sonhar em um dia reinar à frente da bateria da nossa escola é algo muito gratificante!”, afirmou Thamara.
As regras de julgamento dos quesitos Alegorias e Fantasias sofreram ajustes para o próximo carnaval, tornando a avaliação mais criteriosa. No caso das alegorias, a “criatividade” agora será analisada sob o conceito de “criatividade plástica”, destacando o apelo visual e a originalidade na execução. Além disso, penalizações foram inseridas para danos em materiais e falta de acabamento, exigindo um maior nível de perfeição na apresentação das alegorias na avenida. Outra mudança importante é a exclusão da análise de alterações em cores ou detalhes das imagens do Livro Abre-Alas, reconhecendo seu caráter ilustrativo.
Já no quesito Fantasias, os critérios de concepção e realização foram mantidos, mas com maior rigor na avaliação da qualidade final. Um novo fator de penalização foi incluído, punindo alas que apresentem uma quantidade significativa de elementos quebrados. Assim como nas alegorias, eventuais variações em cores e detalhes do Livro Abre-Alas não serão consideradas na nota final. As mudanças reforçam a atenção aos detalhes e a busca por um desfile visualmente impecável.
Alegorias: novos critérios e maior atenção aos detalhes
No quesito Alegorias, a estrutura de avaliação foi mantida, dividida entre concepção e realização, com os mesmos critérios de pontuação (de 4,5 a 5,0 pontos para cada subquesito). Entretanto, algumas mudanças significativas foram introduzidas:
Na concepção, a “criatividade” das alegorias passa a ser descrita como “criatividade plástica”, reforçando a importância do apelo visual e da originalidade na execução. Na realização, foram adicionadas penalizações para “eventuais danos em materiais ou falta de acabamento”, tornando a avaliação mais rigorosa em relação ao estado das alegorias na avenida.
Além disso, um novo critério foi inserido na lista de aspectos que não devem ser levados em consideração, excluindo da avaliação eventuais modificações em cores ou detalhes representados nas imagens do livro Abre-Alas, reconhecendo que esses elementos são apenas ilustrativos.
Fantasias: rigor e nova penalização
No quesito Fantasias, a divisão entre concepção e realização também foi mantida, com critérios semelhantes aos do ano anterior. Entretanto, algumas modificações foram feitas.
Na realização, um novo critério foi adicionado às penalizações: a quantidade significativa de materiais e elementos quebrados dentro da mesma ala. Isso demonstra um olhar mais atento dos jurados para a qualidade final das fantasias durante o desfile.
Assim como no quesito Alegorias, também foi adicionada uma exceção na avaliação: modificações em cores ou detalhes representados nas imagens do Livro Abre-Alas não serão levadas em consideração, reconhecendo a natureza ilustrativa das imagens fornecidas previamente pelas Escolas.
O CARNAVALESCO entrevistou o artista da União da Ilha do Governador Marcus Ferreira. O bate-papo ocorreu no barracão da escola, no Caju, Zona Norte do Rio de Janeiro, e se debruçou sobre a escolha e desenvolvimento do enredo, o trabalho plástico de 2025, as dificuldades da Série Ouro e as expectativas para o desfile oficial, que ocorrerá em 28 de fevereiro (sexta-feira). Em 2025, a Ilha aposta no enredo “Ba-der-na! Maria do Povo”, sobre a bailarina italiana Marietta Baderna que viveu durante o século XIX e foi contratada pelo governo imperial brasileiro para dançar para a elite carioca.
“Quando ela chegou, ela já se revoltou com as atitudes do governo imperial da época para com o povo carioca, com os restantes dos indígenas tamoios, com a escravidão que ainda era latente. Aquilo chocou um pouco ela. Quando o governo começou a destratar a companhia lírica italiana, os músicos, os bailarinos e toda a equipe artística que vinha dançar para a burguesia, os salários começaram a atrasar e os artistas passaram fome, ela se rebelou como uma estrela que era e se aliou de definitivamente ao povo. A partir disso, ela liderou várias lutas artísticas, raciais e sociais. Ela foi uma uma grande personalidade do Rio de Janeiro, mas um pouco apagada”, disse Marcus.
A escolha do enredo, no entanto, não foi fácil. A homenagem à Marietta Baderna foi a sétima proposta levada por Marcus à direção da escola, que logo se identificou com a artista.
“Durante a pandemia, eu estava na Viradouro e vi um vídeo do Fantástico, Mulheres Extraordinárias, de 30 segundos, sobre a Marietta. Ali eu já pensei: ‘Nossa, que história linda’. Ficou guardado como ideia. Foram-se 2 anos na Viradouro, depois 2 anos na Mocidade. As escolas para onde a gente vai têm assinatura própria.. Casou muito de encontro com aquilo que o insulano gosta, desses carnavais divertidos e de histórias lúdicas, viagens extraordinárias que a Ilha já fez. Foi com certeza uma escolha acertada. Hoje eu vejo que, dos sete, foi o desejo que eles querem e a gente faz Carnaval para as escolas por onde a gente passa”, explicou Marcus.
Uma vez decidido o tema do desfile, a equipe de criação partiu para a complicada pesquisa. É que só existem dois livros que abordam a vida da artista, dos quais o mais recente é “Baderna” (2023), de Paula Giannini, tetraneta de Marietta. Paula colaborou com Marcus no desenvolvimento histórico e defesa do enredo para 2025.
“Descobri, durante a pesquisa, que, quando desembarcou no Rio de Janeiro, Baderna olhou para a Baía de Guanabara e achou que estava numa ilha encantada. As duas cores que chamaram a atenção dela foram o azul e o vermelho. Eu falei ‘pô, nada é por acaso’”, revelou Marcus.
Associada pelo governo e pela elite à mobilização popular, o sobrenome de Marietta entrou para a história brasileira como sinônimo de confusão e balbúrdia. Um dos objetivos do desfile, segundo o carnavalesco, é desmistificar essa questão, jogando luz sobre a contribuição social e potência da bailarina que adotou o Brasil e o povo brasileiro. Para isso, a Ilha investiu no trabalho plástico.
“Esse resgate que eu fiz historicamente com a Paula Giannini é uma memória do Rio de Janeiro. É uma viagem também ao Rio de Janeiro passado, que a gente não teve muita menção do que foi plasticamente. Eu estou explorando muito os figurinos de uma forma teatral, com materiais não convencionais. Eu aposto muito na subversão ao retratar a elite de maneira suja, esfarrapada e esse povo que foi marginalizado sendo colocado como a nossa verdadeira elite, como tem que ser. Esse duelo visual vai ficar bem evidente na plástica. E o colorido da Ilha. A Ilha gosta de se colorir de cores bem vibrantes. A gente vai apostar muito no cítrico, em tonalidades que conversam tanto com o vermelho e o azul da escola. Os rosas, os laranjas, os verdes. O verde cítrico permeia um pouquinho da abertura junto com a azul da escola, para dar uma acendida no olhar. É o bom, bonito e barato da Ilha”, adiantou Marcus.
Já nas alegorias, o carnavalesco garantiu um bom acabamento: “Na Série Ouro, diante das limitações financeiras, quem está bem acabado, quem está bem proporcionado, tira 10”.
Formado em arquitetura e desenho industrial, Marcus Ferreira foi convidado, em 2003, por Márcia Lage, então no Salgueiro, para colorir figurinos da escola mirim. Nunca mais parou. Após uma passagem como carnavalesco pela Intendente, em 2009, com a Mocidade de Vicente de Carvalho, recebeu sua primeira grande oportunidade de direção artística de uma escola com a Estácio de Sá, em 2011. Em 2017, conquistou o título da divisão de acesso pelo Império Serrano e, em 2020, venceu o Grupo Especial com a Viradouro. Na época, Marcus trabalhava em conjunto com o Tarcísio Zanon.
“Eu passei pela Intendente, depois eu tive 9 anos na Série Ouro. Cheguei ao Especial e agora tô na Ilha, pela Série Ouro novamente. Já são 16 carnavais assinados. É uma trajetória um pouco extensa, mas de muito aprendizado sempre. A cada ano a gente aprende um pouco”, resumiu Marcus.
Com vasta experiência, o artista comentou sobre as particularidades da Série Ouro, conhecida pelas limitações financeiras que exigem criatividade para serem contornadas.
“Fazer Série Ouro é ver essas dificuldades que são enfrentadas, estruturais principalmente. A gente faz um espetáculo um pouco menor em comparação ao Especial, em termos de setorização, mas o financeiro é muito abaixo. O exercício da criatividade é muito maior. Essa minha trajetória de ter feito muitas escolas de base me deu resiliência, aptidão para poder fazer um espetáculo legal. O desafio no Especial é acertar artisticamente; já na Série Ouro é pensar em enredos legais e na construção de um carnaval que seja possível, que seja finalizado”, expressou.
Marcus também citou o desafio de trabalhar com o atraso na subvenção pública, que foi liberada em 2025, em suas palavras, muito tardiamente. Apesar disso, ele prometeu aos insulanos um belo espetáculo.
“A Ilha está se esforçando para fazer um espetáculo grande, mostrar uma escola grandiosa. Quando eu fui campeão pelo Império, outra grande escola que infelizmente sofreu essa tragédia, foi na garra, na falta de recursos, mas foi com um carnaval grande. A gente tem pensado o carnaval da Ilha no conjunto, em defender os quesitos. A escola vai defender todos os quesitos: a plástica acertada, uma boa colorimetria, tantas ideias finalizadas com toda dignidade, a iluminação acertada, casal muito bem ensaiado, comissão que tem surpresinha, mas que a gente não pode falar. O ensaio técnico foi um espetáculo, a escola passou muito bem, com um samba de muita valentia”, afirmou.
Questionado sobre a pressão pelo título e pela ascensão ao Grupo Especial, Marcus Ferreira não titubeou.
“Toda escola grande tem que pensar grande. A ilha tem entregado excelentes carnavais no grupo. O nosso pensamento é subir, ganhar. Eu quero voltar para o Especial, eu quero voltar com a Ilha. É uma grande história, uma escola que sempre honrou a sua história, inclusive no Grupo Especial. O pensamento é fazer um grande carnaval. Se formos os melhores, que a gente vença, com justiça”, finalizou o carnavalesco.
Entenda o desfile
Em 2025, a União da Ilha vem com três alegorias e um elemento cênico, na comissão de frente. O abre-alas vem com um avancé, acoplado de seis por seis permitido pelo regulamento. São cerca de 2.000 componentes, divididos em quatro setores. Marcus os destrincha a seguir.
Setor 1: “Esse primeiro setor é a Ilha Encantada, que é justamente essa chegada dela ao Rio de Janeiro. É uma visão nativista do Rio de Janeiro. Da Mata Atlântica, da Guanabara. É uma visão mais operística mesmo. A Ilha inverte papéis ao colocar o povo como os verdadeiros reis, a verdadeira elite da época. O Principado Carioca são os pretos, são os tamoios. É uma releitura do povo Carioca. É essa visão que ela teve logo de início de se espantar com as feições desse povo das ruas, do povo preto, do povo indígena. O desfile começa com essa abertura mais do Rio de Janeiro, da ópera nativa do Rio de Janeiro, que ela encontrou no cais”.
Setor 2: “O segundo setor se chama febre dançante. A gente coloca a burguesia como os verdadeiros errados sociais da época. A gente chama de ralé da época, porque enquanto a febre amarela assombrou o Rio de Janeiro, o povo se recolheu e a elite estava fazendo bailes imperiais clandestinos, desrespeitando as normas de epidemia da época. É um setor bem criativo, de farrapos e materiais criativos e alternativos para mostrar essa ralé, que não era os escravizados da época. Era a elite branca que escandalizou o Rio de Janeiro durante um período em que o Rio, os cariocas precisavam se resguardar socialmente”.
Setor 3: “O terceiro setor se chama Marcha das Prateadas, que é quando Marietta lidera a primeira greve brasileira, a favor desses artistas que estavam necessitados, passando por problemas financeiros por conta do agravamento salarial, feito por Dom Pedro. Eles recebem um convite para ir para Recife, para estrear o Teatro Santa Isabel, nas margens do Rio Capibaribe. Lá, os ares libertários do fim da escravidão já estavam muito latentes. Ela dança o lundu no Teatro de Santa Isabel, para a elite pernambucana, e foi um sucesso. Daí, Dom Pedro convida a companhia lírica italiana a voltar para o Rio de Janeiro e nessa volta, o principal teatro da época imperial, que era o Teatro São Pedro de Alcântara, que hoje no lugar dele é o Teatro João Caetano, pega fogo misteriosamente. As óperas caem em declínio. A Marieta lidera uma última ópera, que ela não dançou, com as artistas bailarinas da época, a favor da libertação de um jovem preto, de uma criança negra, que foi um sucesso. Ela deixa esse ideal libertário no Teatro Provisório, que foi o teatro que sucedeu o Teatro São Pedro de Alcântara”.
Setor 4: “Marieta entra em depressão e se isola ao fim da vida, por ter sido muito difamada na época pelo governo imperial. Por justamente ter liderado a luta do povo da época, o final de vida dela não é muito feliz, mas ela deixa esse legado de revolução, de liberdade pelas ruas, liberdade pelo povo. O sobrenome Baderna é entoado pelas ruas cariocas pelos jovens revolucionários da época, que proclamam a República Badernista. ‘Baderna’ é batido nas ruas como forma de protesto pelo fato dela ter desaparecido do cenário social da época. Ali começa verdadeiramente a revolução da Baderna e o ideal que ela deixou para a cidade. A liberdade já tinha sido obrigada a ser assinada. Ela deixa esse legado ao final do desfile. É um grande carnaval que foi feito nas ruas do Rio. Essas pessoas reclamaram ‘Baderna’ para a eternidade, até os dias de hoje”.
Mariana Gross é uma jornalista amada pelos sambistas de todo país. Apresentadora do RJ1, telejornal da TV Globo para o Rio de Janeiro, ela comandou durante alguns anos a transmissão dos desfiles do Grupo de Acesso durante a década passada, enquanto a cobertura era realizada pela Rede Globo para o estado do Rio de Janeiro. Porém, ela chamou a atenção enquanto repórter, interagindo com o público durante as transmissões do Especial, e durante as coberturas do RJ na Cidade do Samba. Com esse currículo que Mari Gross chega para apresentar a transmissão do Grupo Especial pela primeira vez, após diversos apelos de sambistas pelas redes sociais.
O que representa agora também estar comandando a transmissão aqui do Grupo Especial?
“É uma emoção imensa, uma honra. Fui incluída no grupo, estou chegando com toda a humildade, a satisfação e com todo o ânimo de sempre, vocês conhecem e sabem que energia não falta. A expectativa é imensa de participar apresentando a cobertura do carnaval. Espero que o público se deleite, fique muito feliz, como sempre, e com a minha presença lá, vamos juntos”.
O que você sentia com esse carinho das pessoas que desde muitos anos atrás pediam pra você ter apresentado?
“É uma coisa tão boa, carinho é sempre bom. Lembrarem de você, é uma delícia. Ver o seu nome sendo falado, as pessoas querendo a sua presença, e a minha relação com o carnaval é de muito carinho e amor. Sempre foi, desde criança, acho que esse é o resultado dessa relação. Esses pedidos são o resultado dessa relação de amor e carinho que eu tenho pelo carnaval”.
Foto: Cadu Pilotto/Divulgação Globo
Tiveram vários narradores ao longo dos anos que deixaram marcas nas transmissões. “ual vai ser a marca que você vai buscar deixar?
“Eu sou uma pessoa muito intuitiva. Não sei qual será a minha marca. Acho que na hora eu vou descobrir. Tudo no momento. Assim, eu faço o RJ, assim eu faço qualquer programa que me chamam para fazer. É a intuição que eu acho que cria a minha marca, é na hora, eu não tenho como te adiantar, assista para ver (brincou)”.
A emoção tomou conta dos integrantes da escola de samba Camisa 12 após a conquista do vice-campeonato do Grupo de Acesso 2 do Carnaval de São Paulo em 2025. A escola, que há anos tentava a ascensão, finalmente garantiu sua vaga no Grupo de Acesso 1. Em entrevista ao CARNAVALESCO, responsáveis por diferentes setores da escola comentaram o processo e a felicidade com o resultado.
O diretor de carnaval, Demis, destacou a complexidade da preparação e os desafios enfrentados nos últimos anos:
“Nós pensamos nesse enredo ano passado, propomos para a escola. A sinopse é toda uma proposta minha, que a escola aceitou, e começamos a planejar o Carnaval desde o final do ano passado. É muito difícil porque já batíamos na trave há algum tempo, sem conseguir o acesso por detalhes: carro que não entra, situações imprevistas… Desde 2020, no ‘ano do pão’, fomos vice-campeões, mas só subia uma escola. Perdemos por um décimo. Em 2024, sofremos com o estouro do tempo, e a escola ficou machucada. O presidente nos pediu para acelerar um pouco. Não queríamos arriscar, mas entendemos o desejo dele. Acabamos tendo algumas perdas em evolução, algo incomum no meu trabalho, mas arriscamos e, graças a Deus, deu certo. Já começamos o planejamento amanhã: teremos reunião geral para estruturar nosso carnaval. Chegaremos ao Acesso 1 respeitando as co-irmãs, mas cientes do nosso potencial. Agradeço a todos os setores – não vou citar nomes para não esquecer ninguém –, mas a gratidão é geral”.
Foto: Fábio Martins/CARNAVALESCO
O mestre-sala Luã ressaltou a importância de unir notas altas ao objetivo maior: “Trazer nota boa é ótimo, mas se a escola não sobe, a comemoração fica incompleta. Bater na trave do 40 [pontos] sem acesso é frustrante. Este ano nos dedicamos além do normal – não digo mais que outros, mas com foco redobrado. Em 2024, perdemos por um décimo; prometi à minha porta-bandeira: ‘Vou trazer esse décimo faltante!’. Optei por ousar: trabalhamos com critérios técnicos, mas entregamos 100% de emoção. A nota veio como consequência – mesmo dando tudo, nada garante os 40 pontos”.
O intérprete Tim Cardoso reforçou o papel da comunidade: “Trabalhamos duro nos ensaios: parávamos para explicar cada palavra do samba, até seu significado. A comunidade abraçou a proposta, e na avenida todos cantaram forte, contagiaram as arquibancadas. Já havíamos perdido por detalhes antes, mas hoje, graças a Deus, subimos. Não fomos campeões, mas o acesso era nosso sonho”.
Com a promoção garantida, o Camisa 12 já mira o próximo desafio: evoluir no Grupo de Acesso 1 e, em breve, conquistar a presença na elite do carnaval paulistano.
A temporada visando a folia do Pérola Negra foi coroado com o título do Grupo de Acesso II. Após disputar o terceiro nível do carnaval paulistano pela primeira vez desde 1988, a agremiação da Vila Madalena tinha a missão de retornar imediatamente para o patamar mais acima – e conseguiu. Com o enredo “Exu Mulher”, desenvolvido pelo carnavalesco Rodrigo Meiners, a Joia Rara do Samba conquistou o título da divisão com 270 pontos – em um desfile tecnicamente perfeito, que não foi despontuado pelos jurados no resultado final.
Acompanhando as escolas de samba onde quer que elas estejam também em instantes de felicidade, o CARNAVALESCO foi para a avenida Cardeal Santiago Luís Copello, na região da Vila Leopoldina, onde fica a atual quadra da agremiação, para ouvir profissionais importantes da instituição.
Estreias
Uma das tantas características do Pérola em 2025 foi a chance dada a diversos nomes que pediam passagem no universo do carnaval paulistano. Para o papel de intérprete oficial, Bruno Ribas foi mantido – mas ganhou a companhia de Lucas Donato, do carro de som da Mocidade Alegre. Quem também veio da Morada do Samba foi Carlos Augusto Rezende, o Sombrinha, um dos diretores de bateria da “Ritmo Puro”.
Foto: Fábio Martins/CARNAVALESCO
Sobre a contratação e a aposta em tais nomes, Sheila Mônaco, presidente da agremiação fez elogios: “Na verdade, sobre o Sombrinha, o Fernando Neninho não quis desfilar esse ano por problemas pessoais, e ficamos em dúvida sobre em quem apostar para o cargo. A ideia de chamar o Sombrinha veio do Rodrigo Meiners, nosso carnavalesco. Eu pensei que a presidente Solange não ia liberar, mas o não nós já tínhamos, então fomos tentar. Conversamos com todos e deu certo! Ele veio e o Lucas Donato também. Começamos o trabalho com os dois e ambos foram falando o que estavam sentindo, passando o que estavam achando. Eu tive o Jairo Roizen que me ajudou bastante nesse aspecto, também – sobretudo em relação ao Lucas. Ambos vieram para somar, realmente”, comentou.
Sheila Mônaco, presidente da agremiação
Lucas Donato esteve presente na festa do título, na frente da quadra da escola, e também publicou nas redes sociais cliques da festa – em uma delas, uma foto com a taça dourado escrito “campeão”, todo sorridente, com outros componentes da agremiação. Ele também utilizou uma rede social para fazer uma publicação comentando o título falando que “Exu Venceu” e agradecendo a Joia Rara do Samba pela oportunidade.
Já Sombrinha apareceu na festa com o filho Marcos, que comia um salgadinho. Enquanto o rebento se alimentava, ele falou com a reportagem do CARNAVALESCO: “O título é especial por vários motivos. A escola passou por um momento muito complicado no carnaval 2025, essa queda para o Grupo de Acesso II – que é um grupo que não é a cara do Pérola, a escola é muito maior que isso. O pessoal da escola estava bem triste no começo da temporada e a escola foi buscar um enredo que fala sobre religião, um tema forte, para buscar impactar de todas as formas. A escola passou por uma reformulação na bateria, em alguns outros setores também. Foram muitas dificuldades, como a obra na quadra o ano todo, impossibilitando a gente de ensaiar lá, a gente tendo que ensaiar na rua – e, se chove, não tem ensaio, o viaduto alaga… vários problemas. O pessoal, para fazer o barracão, também passou por muita dificuldade. A escola literalmente tirou leite de pedra esse ano, juntar os componentes aqui na região da Gastão Vidigal não é fácil, é uma área mais escondida da Vila Leopoldina. Mas deu tudo certo, acredito que a missão foi cumprida com muito êxito. Vamos que vamos rumo ao Carnaval 2026”, destacou Sombrinha.
Trabalho longo
Sheila também destacou como foi todo o processo para a escola ser campeã: “O trabalho foi bem difícil e intenso, porque são poucos componentes no Grupo de Acesso II e é pouco dinheiro. Com o dinheiro, não dá para fazer o carnaval. A gente teve que trabalhar muito para conseguir colocar um carnaval digno na avenida”, resumiu, enquanto cantarolava o samba-enredo da agremiação de 2025.
Quem também teve trabalho foi Sombrinha. Assumindo um trabalho que estava sob o comando de Fernando Neninho desde o desfile de 2018, o mestre de bateria falou sobre tudo que foi feito: “Cada mestre de bateria tem uma galera que o cerca. Todos os mestres têm pessoas de confiança que vêm junto da outra escola quando tem uma mudança, que acompanham um trabalho independente de ser da escola que o mestre era ou não, e essa galera acaba se juntando com as pessoas que são da própria escola. Aí a gente acaba formulando esse trabalho. A gente tem que mostrar para a galera que vale a pena vir até aqui ensaiar, que vale a pena pegar trem ou dois ônibus, atravessar a cidade toda semana, a conversa toda hora nos grupos de bateria dizendo que precisa de todo mundo. A gente sabe que esse ano foi mais uma temporada assim. A gente sabe que, quando a escola está no Grupo de Acesso II, as coisas são muito mais difíceis. Os ritmistas acabam, tem ritmistas que acabam não dando muita importância para os ensaios. Mas, graças a Deus, aqui no Pérola a gente não teve nenhum problema com isso. O pessoal abraçou esse trabalho desde o inicio. A galera também ficou muito contente desde a minha chegada. O Fernando Neninho também deixou um legado muito grande na bateria do Pérola, deixou um legado importantíssimo. A bateria do Pérola sempre foi reconhecida e o Fernando também deixou a marca dele. A bateria é reconhecida Brasil afora. Foi um ano bem desafiador, mas não deixamos de lutar. Chegamos nesse titulo junto com todos os setores, ninguém faz nada sozinho”, refletiu.
Gabriel Ferreira dos Santos, o Gabiru, diretor de Harmonia da agremiação, também comentou sobre as dinâmicas desenvolvidas: “Depois que aconteceu tudo ano passado, colocamos a bola no chão e trabalhamos muito, muito. A gente fez um carnaval muito seguro, muito técnico e, graças a Deus, deu tudo certo. No final deu tudo certo. A presidente acreditou no trabalho e trabalhamos os departamentos – inclusive a Harmonia, quesito no qual a gente perdeu nota. Trabalhamos em cima dos erros do ano passado e deu tudo certo. O desfile foi muito técnico. Eu falei para a presidente que a gente tem que fazer o que o manual do julgador pede. A gente não tem que fazer nada mais e nada menos”, pontuou.
Dando alguns detalhes do segmento cuidado por ele, Alê Batista, coreografo da comissão de frente da Joia Rara do Samba, também falou: “É uma sensação totalmente atípica. É indescritível! Eu sempre costumo trabalhar com a comissão a partir de agosto, com trabalhos mais a todo vapor entre setembro e novembro. Eu ainda não tinha o elenco no final do ano. Eu consegui formar o elenco, mas eu tive perdas. Em janeiro, eu precisei tirar algumas pessoas e colocar outras. Fora isso, eu tinha feito a coreografia de um samba só, mas eu não estava feliz. Tinham coisas que não estavam me agradando e eu resolvi mudar e colocar mais uma coreografia. Fiz isso em uma semana, foi um ano totalmente atípico. Foi sofrimento demais. Acho que esse titulo veio para falar que Deus está olhando para a escola. Foi para lavar a alma. A gente estava precisando”, comemorou.
Retorno em cima da hora
Quem também pode falar de trabalho é o casal de mestre-sala e porta-bandeira. O ciclo começou com Kadu Andrade, que está desde 2023 na agremiação ao lado de Camila Moreira. A temporada, entretanto, começou com Bia Dias como defensor do pavilhão azul e vermelho. No dia 28 de janeiro, entretanto, para priorizar a saúde, ela se afastou do cargo. A escolhida para ser a sucessora foi a própria Camila. Ambos falaram sobre tudo que foi feito: “Como todos sabem, a Camila voltou faltando 26 dias para o Carnaval. A gente já dançava junto e, quando a Bia resolveu sair, a gente se perguntou quem chegaria. Todo mundo já pensou na Camila. Quando ela deu a palavra positiva para nós, nós ficamos muito felizes. Eu falei que seria mais fácil a gente correr atras desse resultado faltando 26 dias para o carnaval se fosse com ela. Foi um intensivão grande demais! A gente, no começo, saía todos os dias, todos os dias sem descanso, porque não tinha tempo. Graças a Deus a gente conseguiu gabaritar, trazer os 40 pontos para a escola e ajudar a escola a ser campeã”, destacou Kadu.
Camila completou: “A gente fez um intensivão na melhor acepção da palavra. Aconteceu tudo da maneira que tinha que ser. Eu não queria mais saber de carnaval -o pessoal do Pérola, inclusive, achou que ia me chamar e que eu recusaria, que eu não queria saber mais deles. Mas, aí, entra a amizade que eu e o Kadu temos, as amizades que eu criei dentro do Pérola Negra, uma escola que me fez muito bem nos dois carnavais, uma comunidade que me acolheu muito bem a comunidade. Eu não tinha como deixar eles desamparados nesse momento. Ensaiamos todo dia que nós pudemos ensaiar e buscamos excelência com a ajuda da Ana Reis, que sempre tem que ser citada. Fomos felizes, fizemos o nosso melhor e deu certo”, comemorou.
A dupla, que gabaritou o quesito, comentou que estava ciente que passou muito bem pela avenida: “Nossa autocrítica foi boa. A gente entende que o mais importante ali é que nós saímos felizes, leves e contentes. Foram só 26 dias, mas foi muito intenso pra nós estar todo dia ali junto – quando não era ensaiando, era no ateliê para resolver a fantasia. Muita gente não sabe, mas a fantasia já estava pronta e eu tenho um biotipo de corpo totalmente diferente do da Bia. A gente correu atrás de fantasia, a gente também correu atrás de preparação física, mesmo que em pouco tempo. Foi um trabalho completão, a gente saiu feliz – e, para nós, isso importa muito. A nota é uma consequência. Se viesse esses 40 ou não viesse, a gente sabia que a gente deu o nosso melhor e estaríamos com a consciência tranquila. A gente saiu muito feliz, ainda mais com a nota 40”, comentou.
Kadu também falou sobre a sensação que teve ao cruzar a linha: “Eu já fiquei feliz porque eu consegui completar o trabalho desde o primeiro jurado até o último; Como a gente vinha ensaiando… vocês não sabem, mas a Camilan pegou a coreografia de jurado, que já estava pronta, e nós modificamos algumas coisas, óbvio, mas em uma hora que a gente ensaiou. Eu juro pelo meu filho, em uma hora ela estava com a coreografia pronta. Eu falei que, por conta da rapidez dela, não iria ser tão difícil. Isso já tranquiliza a gente. O trabalho fluiu mais rápido e nós fomos buscar, porque nós estávamos atrás de todo mundo, todo mundo começou antes. Mas deu certo! E, quando a gente saiu, a gente ficou feliz pelo resultado que a gente conseguiu criar. A gente só falou que trabalhamos e entregamos. O que vir é consequência. E, graças a Deus, a consequência foi maravilhosa. É especial”, afirmou.
Pouco depois, o mestre-sala falou sobre a relação que possui com Camila e deu um recado importante para a agremiação: “Eu e a Camila moramos no mesmo bairro. A gente mora a cinco minutos um do outro. Quando começamos como mestre-sala e porta-bandeira, começamos na mesma escola. Eu comecei em 2006, ela entrou em 2009, mas ela já era da escola antes de mim. Ela começou primeiro no carnaval e a gente foi do mesmo quadro. A gente já tem essa amizade, a gente já estudou junto, a gente já tem essa afinidade há muito . E estar aqui no Pérola Negra, novamente com essa retomada de parceria, é incrível. Ela saiu por conta de trabalho, disse que não conseguiria me doar 100%. A gente super entendeu e eu fiquei muito triste, porque ela é minha parceira de vida, amiga e tal, Entendi, fui parceiro. A gente entende como é que funciona a vida, tem a parte profissional; mas, graças a Deus, no final, ela retornou para a escola, retomou a parceria comigo e eu fico muito feliz. Conseguimos voltar à escola para o Grupo de Acesso I e, se Deus quiser, vamos trabalhar com os pés no chão novamente para retomar a escola para o Grupo Especial”, vislumbrou.
Camila aproveitou para se referir a um fato que aconteceu minutos antes da entrevista: “Ser no Pérola Negra é diferente para nós, tem um gostinho especial. A gente sempre foi bem recebido aqui. Quando eu voltei, as pessoas me receberam bem. Quando a gente desceu do carro, há pouco, a gente só veio trazer o pavilhão e a recepção da comunidade para a gente, explica tudo. O que era para acontecer, era para ser assim. Tem um gosto muito especial, porque, querendo ou não, a gente finalizou o carnaval do ano passado bem chateado. A escola acabou descendo e ninguém gosta desse resultado. Agora, voltar e ser com a gente de novo é tudo de bom”, comentou.
Grandeza
Tido como um dos grandes nomes do título, o carnavalesco Rodrigo Meiners também falou com a reportagem. Além de falar da satisfação com a apresentação e com o resultado, ele também falou sobre o que sente com relação à comunidade do Pérola: “Dever cumprido. Eu vim para o Pérola com essa missão de colocar a escola de volta no Grupo de Acesso I. Estou muito feliz – não só por mim, mas por todo mundo que subiu no palco para pegar o troféu. O tamanho do nosso desfile mostrou a dificuldade que a gente enfrentou para fazer esse desfile. A escola desceu, tivemos algumas dívidas e perdemos alguma parte da verba. O nosso carnaval foi 80% feito por voluntários. Todo mundo que subiu no palco virou a noite no barracão para decorar carro, forrar peças e terminar a fantasia. Me sinto muito feliz de artisticamente estar à frente deles nos quesitos plásticos. Fico contente também pelo êxito na pasta. Se eu não me engano, é o único enredo nota 40 do Grupo de Acesso II. Mas, de verdade, eu estou muito mais feliz por eles. Eu sei o quão magoados eles ficaram com o rebaixamento e o tamanho do esforço que eles fizeram. Abdicaram de suas vidas e de seus trabalhos”, observou.
Construção da poesia
Um dos compositores do exaltado samba-enredo do Pérola Negra foi Aquiles da Vila, que também esteve presente na festa do título. Ele contou como surgiu a oportunidade de escrever a obra: “Foi uma oportunidade que apareceu nos 45 do segundo tempo. O Jairo Roizen ligou para a gente e mandou esse desafio. A gente aceitou, foi pós-eliminatória e a gente achou que tinha acabado toda a jornada de 2024 para 2025 e não tinha, tinha mais essa demanda. Tivemos três ou quatro dias para fazer o samba e gravar. Foi uma história muito interessante que eu posso detalhar um pouco mais: a gente assumiu e sabíamos que seria um desafio muito grande – especialmente pelo enredo, que é uma responsabilidade absurda, é um negócio muito sério. Assumimos, fizemos, batemos no peito em relação à gravação como se a gente fosse fazer uma eliminatória, a gente que assumiu a gravação e fomos até o fim, como a gente costuma fazer. Nosso time reúne um tipo de compositores que gostam de participar sempre que a gente está envolvido no processo. Eu costumo dizer que a gente vai até o isopor das baias: a gente gosta de participar. No fim, a gente escolheu, a escola a escola escolheu e para a gente foi maravilhoso. Foi um grande momento. Estou muito feliz por isso, estou muito feliz mesmo”, comentou.
Aquiles também aproveitou para elogiar o trabalho desenvolvido por Rodrigo Meiners: “Até para não falar só do nosso quesito e ficar exaltando a gente mesmo, eu acho que um grande carnaval começa com um grande enredo. E o Pérola teve um grande enredo. É um grande tema, muito bem desenvolvido, que acaba gerando um grande samba. Fomos felizes e, de novo, o grande enredo, o grande samba, proporciona um grande desfile. É natural. Pode acontecer uma fatalidade no desfile, mas a chance de vitória e de sucesso é muito grande. Tanto que o carnaval foi decidido a partir dos últimos dois quesitos lidos – e enredo foi o que decidiu o carnaval de maneira definitiva. A grande temática, um grande samba-enredo, traz uma boa evolução, traz uma série de coisas. A escola se firma, como a gente colocou no próprio samba, como o lugar de fala para esse tipo de assunto. O Pérola também trouxe toda a força de uma comunidade que estava com o resultado engasgado. Foi muito bonito”, orgulhou-se.
Já pensando em 2026
Como uma gestora campeã, Sheila já está bem ciente do que espera da escola em 2026, quando volta a disputar o Grupo de Acesso I: ” A gente pode esperar sempre o melhor. Eu sou guerreira, minha comunidade é guerreira. O próximo passo, aos poucos, com humildade, é a gente conseguir ir para o Grupo Especial novamente”, finalizou a presidente.
Júlio Cesar Fernandes Santiago, de apenas 16 anos e morador de Olaria, Zona Norte do Rio, viu sua vida mudar. Em uma noite qualquer, inspirado por suas reflexões, ele decidiu criar um croqui de um macacão em homenagem à presidente da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, baseado no enredo “Ómi Tútú ao Olúfon – Água Fresca Para o Senhor de Ifón”. Em uma entrevista ao CARNAVALESCO, o jovem compartilhou todo o processo criativo e os seus sonhos.
“Certa noite, em meu quarto, comecei a desenhar e pensei em prestar essa homenagem a uma pessoa tão importante que admiro muito, a Cátia Drumond. Quando finalizei o desenho, postei na internet com a descrição de que meu sonho era vê-la usando esse macacão. Para a minha surpresa, recebi imediatamente um comentário dela”, contou Júlio.
Ele revelou que foi ele mesmo quem a marcou na publicação, mas não esperava uma resposta tão rápida e positiva.
“Já havia enviado uma mensagem para ela anteriormente, ela sabia quem eu era. Quando marquei na rede social, não imaginava que aconteceria essa grande surpresa”, afirmou Júlio.
Foto: Nelson Malfacini/Divulgação Imperatriz
Questionado como se sentiu ao ouvir que Cátia iria transformar o desenho em realidade e usá-lo no segundo ensaio técnico, Júlio confessou que ficou eufórico.
“Ela respondeu à noite, e eu mal conseguia acreditar. Meus pais estavam dormindo, e eu surtei, mal podia esperar para contar a eles. Na manhã seguinte, foi uma verdadeira festa, todos nós comemoramos emocionados”, revelou.
Júlio disse que ainda sonha em criar mais croquis para a presidente e se tem outros objetivos grandiosos. Ele respondeu com esperança: “Acredito que surgirão outras oportunidades, se tudo der certo. Ficaria extremamente feliz e emocionado!”, disse.
Foto: Nelson Malfacini/Divulgação Imperatriz
O maior sonho do jovem é se tornar carnavalesco, e ele se inspira muito em Leandro Vieira, assumindo ser um grande fã.
“Se tivesse a chance de ser assistente do Leandro, sentiria uma enorme honra e orgulho das minhas capacidades. Quem tem grandes sonhos sabe o quanto é difícil, por isso ficaria muito agradecido a ele”, afirmou Júlio.
Atualmente, Júlio participa da confecção das fantasias da escola de samba Independentes de Olaria. “Cresci na escola, estou lá há seis anos. Desde o início da agremiação, tenho ajudado nas fantasias, e neste ano, oficialmente, trabalho nessa função”, compartilhou Júlio.
Ele desfila na Imperatriz desde 2022 e admite que foi amor à primeira vista com a escola do bairro vizinho.
Cátia Drumond também se manifestou, ressaltando a importância de oferecer oportunidades aos jovens, o que a motivou a realizar o figurino.
“Fiquei muito feliz! Ele postou o figurino e disse que sonhava em me ver usando. Eu falei para ele que já tinha feito minha roupa do desfile, mas prometi que usaria no segundo ensaio. E agora está aqui comigo! Acredito que precisamos incentivar, pois sempre é necessário abrir a primeira porta. Espero que ele tenha muito sucesso! Um jovem de 16 anos com um sonho enorme, e fico feliz em ajudar de alguma forma para que isso se torne realidade”, declarou Cátia.
Júlio é filho de Dineia Santiago Fróes da Cruz e Marcelo Pinto Fróes da Cruz, que falam com emoção sobre o filho.
“Esse brilho chegou em minha vida quando ele tinha sete meses. Eu o adotei, e desde o primeiro momento que o vi, ele já estava em meu coração. É uma estrela na minha vida! Tenho um filho mais velho, mas Júlio e ele são irmãos e sempre estão juntos. Estamos aqui para apoiar meu filho, eu, o pai e o irmão!”, contou Dineia.
Ela comentou que jamais imaginaria a proporção que isso tomaria e que fica emocionada com o sucesso do filho.
“Não tenho palavras, pois nunca imaginei isso. Sempre digo a ele para não deixar isso subir à cabeça. Precisamos manter a calma, pois Cátia não tem nenhuma obrigação com meu filho, só tenho gratidão e emoção. Acredito que esse é apenas o início do sonho dele!”, finalizou Dineia.
Celebrando a fé, se manifestando contra as intolerâncias e terminando em grandes sambas, a tradicional Lavagem da Sapucaí chegou em sua 15ª edição, reunindo inúmeros sacerdotes de candomblé e umbanda, um padre e um pastor com discursos potentes, além de sambistas de todas as idades que cruzaram a avenida com suas crenças e alegria.
Com o intuito de abrir os caminhos, purificar a avenida e proteger as escolas que irão desfilar, baianas, casais de mestres-salas e porta-bandeiras de todas as agremiações vestem roupas brancas e desfilam pela Sapucaí com defumador, buquê e vassouras de ervas energizando o terreiro sagrado do samba.
Uma bateria formada por ritmistas de todas as agremiações e comandada pelo Mestre Casagrande deu o ritmo para o cortejo da lavagem, que foi ao som de sambas antológicos cantados por intérpretes como Gera, Rixxa, Preto Jóia e entre outros grandes cantores, embalando a celebração.
Foto: Eduardo Hollanda/Divulgação Rio Carnaval
A Lavagem da Sapucaí vai além da sua beleza e tradição. Os discursos da cerimônia reforçam a necessidade e a importância desse evento. Entre as falas mais marcantes da noite, destacou-se a do pastor Cosme Felippsen, que, além de sacerdote, é um militante do movimento negro.
“Lamento profundamente por muitos dos meus irmãos em Cristo abandonarem a cidade em época de carnaval e fazerem retiros, dizendo que a cidade está na mão de Satanás. Digo a vocês que a cidade e o carnaval não é do demônio, e sim dos cariocas e de todos que amam a vida. Demônio não é sambar, demônio é a fome que muitas famílias ainda passam na nossa cidade, enquanto grandes igrejas continuam enriquecendo seus pastores que também podem ser chamados de falsos profetas e usurpadores da fé. Vale a pena lembrar que mais da metade dos brasileiros são descendentes da Mãe África e originalmente os povos iorubás e bantus não tinham essa imagem do demônio de pecado. Mas já que muitos querem falar de pecado, eu denuncio o pecado aqui agora. Abandone seus pecados da ganância, do racismo religioso. Respeitem os terreiros de umbanda, candomblé, encantaria, tambor de mina, jurema e qualquer crença brasileira”, disse o pnascido na primeira favela do Brasil, o Morro da Providência, e sacerdote da Assembleia de Deus, participante do MNE “Movimento Negro Evangélico”.
A ilustre e lendária passista e coordenadora Nilce Fran também esteve presente na lavagem e falou sobre a importância de estar presente na Sapucaí para reverenciar a sua fé.
“Para mim, uma mulher preta de axé, candomblecista que creio na minha fé, essa lavagem é uma bênção. Vamos com Deus e com fé. Sapucaí não é só para sambar, mas também para reverenciar, manifestar e combater a intolerância”, declarou a coordenadora de passistas da Portela.
Candomblecistas estavam presentes em massa para o cortejo, mas não apenas para celebrar a religião, mas reivindicar e mostrar como os adeptos podem se amparar institucionalmente. É o caso do pai de santo Rodrigo Gonçalves.
“Já estou na lavagem há 5 anos. Na verdade, eu estou representando a Coordenadoria da Diversidade Religiosa aqui do Rio de Janeiro. E é importante a gente ressaltar que é uma festa popular do povo negro, é o movimento do povo negro. E existe a intolerância religiosa, por isso nós da Coordenadoria recebemos diversas ligações, diversas denúncias. E a importância de estar aqui é alertar nessa festa popular do mundo todo que intolerância religiosa é crime. E para as pessoas denunciarem no 1746”, ressaltou o pai de santo portelense, de 40 anos.
“Já venho para a Sapucaí há 20 anos. Todos os anos estou na lavagem e todo ano é uma emoção diferente, todo ano a gente fica feliz em estar aqui representando a nossa cultura, pedindo boas energias pedindo para que o mal não chegue para cada um que entra aqui dentro, pedindo segurança, proteção e que tudo aquilo que cada pessoa se propõe a fazer aqui, que ela entra e ela saia em segurança”, declarou Vane Vieira, representante comercial, de 51 anos que é portelense.
Presença massiva e representativa da lavagem, as baianas são símbolos de purificação e religiosidade. As baianas no carnaval representam Tia Ciata,baiana, grande sambista, mãe de santo e curandeira que foi uma pessoa influente para o surgimento e resistência do samba carioca. A figura da mãe baiana na avenida representa acolhimento, proteção, tradição e respeito. Por isso elas estão sempre presentes na lavagem.
“Estou no meu quarto ano aqui e é uma experiência muito especial, a gente poder trazer uma boa energia para a Marquês de Sapucaí, para que as escolas passem bem, para correr tudo bem no carnaval, que todas as escolas fiquem lindas, que não aconteça nenhum acidente. Eu sou componente da Mangueira há 20 anos. Mas da ala de baianas em 5”, contou a psicóloga Isabela Guedes, de 53 anos.
O padre Antônio Sobrinho da Igreja de São Jorge de Niterói discursou antes da lavagem para abençoar o carnaval que se inicia.
“Na margem da nossa passarela do samba, nós vamos invocar que o Senhor abençoe os nossos foliões, que abençoe a nossa querida Liesa e abençoe a todos nós nesta noite”, pediu o padre antes de iniciar um Pai-Nosso rezado por toda a Sapucaí.
A Lavagem da Sapucaí emocionou os presentes e reafirmou sua importância como um ato de fé, resistência e celebração. A presença de autoridades como o prefeito Eduardo Paes e o presidente da Liesa, Gabriel David, reforçou o prestígio e a relevância do evento para o carnaval carioca.
Foto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio CarnavalFoto: Alexandre Vidal/Divulgação Rio Carnaval
O carnaval da União de Maricá está pronto. Faltando poucos dias, a agremiação vai se apresentar na Marquês de Sapucaí na próxima sexta-feira em busca do título da Série Ouro e o acesso ao Grupo Especial. No barracão, os três carros alegóricos estão finalizados para, junto das fantasias, contarem o enredo “O Cavalo de Santíssimo e a Coroa do Seu 7”, uma homenagem à mãe de santo Cacilda de Assis e à figura de Seu 7 da Lira, um Exu festeiro da umbanda carioca e que marcou época nos anos 70 e 80.
Uma das alegorias é sobre o Programa do Chacrinha, principal atração da televisão brasileira na década de 1970. O ator Stepan Nercessian vai reviver o Velho Guerreiro na Sapucaí. A alegoria, explica o carnavalesco Leandro Vieira, retrata a trajetória da Mãe Cacilda de Assis e de Seu 7 da Lira, com a participação no programa de auditório.
“É um carro cheio de energia, de muita performance e que junta muitos atrativos carnavalescos e que merece ser aguardado”, destaca o carnavalesco, que também deu um spoiler sobre o abre-alas:
– Esse já será um carro vermelhão. É a tronqueira da mãe Cacilda de Assis, um conjunto histórico de um trabalho imenso com muitas esculturas da umbanda e uma iluminação bem bacana – adiantou.
Leandro também falou sobre a construção do Carnaval da União de Maricá, uma escola que vai completar 10 anos de fundação e que busca voar cada vez mais alto para conseguir o objetivo de garantir um lugar no Grupo Especial em 2026.
“Maricá se apresenta na Sapucaí ao lado de grandes escolas, competindo com Império Serrano, Estácio de Sá e União da Ilha. São três agremiações emblemáticas nessa disputa. A escola ensaiou forte, temos um grande coreógrafo na comissão de frente, os casais de mestre-sala e porta-bandeira, uma bateria potente e, aliado a isso, toda essa construção das alegorias. Esse enorme trabalho em conjunto que pode nos colocar nesse lugar que queremos chegar”, ressaltou.
Segundo Leandro Vieira, os próximos dias serão voltados para testes e pequenos reparos no que for necessário. Ele demonstrou animação com mais uma grande desfile.
“Estamos nos últimos ajustes com operação de luz e dando alguns retoques. Quando faltar dois dias para o desfile, vamos embalar as alegorias para levar ao palco principal e apresentar esse trabalho completo que é quando os componentes se encontram com o conjunto alegórico e tudo aquilo que foi ensaiado tem que valer. Estou bastante confiante”, concluiu Leandro.
A União de Maricá será a sexta escola a desfilar na sexta-feira (28), na Marquês de Sapucaí. Em 2024, na sua estreia na Série Ouro, a agremiação alcançou o quarto lugar.