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Grupo formado por intérpretes faz show recheado de clássicos da música brasileira e do carnaval

    Por Lucas Santos

    IMG 20190220 220456141Já conhecidos do grande público por suas vozes inconfundíveis na Marquês de Sapucaí e no Anhembi, Bruno Ribas (São Clemente e Tom Maior), Evandro Mallandro (Grande Rio), Leonardo Bessa (Tucuruvi), Tinga (Vila Isabel e Águia de Ouro) e Wantuir (Unidos da Tijuca) mostraram um outro lado do talento ao interpretarem clássicos da música popular brasileira. Durante pouco mais de uma hora e meia, na noite desta quarta-feira, na Sala Municipal Baden Powell, em Copacabana, o grupo apresentou sambas, partido alto, pagodes “fundo de quintal”, e, claro, o que não poderia faltar, sambas-enredo. O quinteto, que vinha utilizando o nome Setor 1, revelou para a reportagem do CARNAVALESCO a decisão de mudar o nome para “Vozes da Avenida”, título dado ao show. O grupo entende que o nome tem uma relação mais direta com o trabalho que pretende realizar.

    IMG 20190220 214353737Parado há mais de um ano, o ainda Setor 1 viu, através de um convite da organização do projeto “Vem pro Carnaval na Casa da Bossa”, a oportunidade para dar continuidade ao trabalho. Para isso, nos últimos meses, os cantores mergulharam fundo em ensaios conciliando com as inúmeras obrigações que possuem nas escolas de samba. O mais experiente do grupo, Wantuir, falou da importância de se valorizar o trabalho da classe dos intérpretes no país.

    “Vocês não imaginam a nossa satisfação. Nós somos uma classe que não é tão grande, mas é muito representativa da cultura no Brasil. Falando de carnaval, a gente já sabe: o poder público não ajuda mesmo. Passou o carnaval e nós temos que continuar trabalhando. E mostrar a qualidade do sambista que é o ano inteiro”, desabafa o cantor.

    IMG 20190220 214021108O show começou com cada intérprete proferindo seu grito de guerra. Do “Entra em cena…”, de Bruno Ribas, passando pelo “Solta o bicho” do Tinga, e também pelos “tá bom a Bessa” e o “que beleza, que beleza…” de Evandro Mallandro até chegar ao “Que show, que show” de Wantuir que deu a senha para os primeiros acordes de “A voz do morro”, de Zé Kéti, música escolhida para abrir a noite. Depois, a primeira hora foi recheada de clássicos da música popular brasileira divididos por cada cantor contando sempre com os arranjos de voz dos outros integrantes. Entre os sucessos apresentados destacaram-se “O mundo é um moinho” de Cartola, “Lama das ruas” de Zeca Pagodinho, “Você abusou” de Toquinho, “Trem das onze” de Adoniran Barbosa, “Não deixa o samba morrer” de Alcione e as emocionantes homenagens para Dona Ivone Lara com a música “Acreditar” e a Neguinho da Beija-Flor com “Negra Ângela”, nestes momentos rendendo algumas palavras carinhosas de Bruno Ribas. Tinga explicou como se deu a escolha do repertório.

    “Cada um escolheu a música que se sente mais a vontade de cantar. Eu, por exemplo, gosto muito de cantar a “Lama das ruas”. A gente foi criando, foi se juntando e a ideia é realizar um “pot-pourri” de partidos altos, de sambas-enredo que a gente normalmente canta. Ficou muito fácil pra gente, pois cada um cantou aquilo que gosta”, confessa o intérprete da Vila Isabel.

    Todos os integrantes do grupo mostraram não só o já conhecido talento com a voz, mas também a aptidão para os instrumentos. Com Mallandro no banjo, Bessa no cavaco, Wantuir no pandeiro, e Bruno Ribas no tantã. A primeira parte do show foi com os cinco sentados em uma grande roda de samba. Leonardo Bessa falou sobre a relação com o instrumento e o domínio do cavaquinho apesar do grande número de compromissos com o carnaval.

    IMG 20190220 212657393“A verdade é que a gente não para. No começo da carreira eu já tocava cavaquinho, andava junto com o canto. O mais importante deste encontro é a gente ter a oportunidade de tocar e cantar o que a gente gosta sem a responsabilidade do samba que defende nas nossas escolas. E estar no palco e mostrar para o público outro lado do cantor para o povo ver que o intérprete de samba-enredo não faz só aquilo. Mostrar para o público que a gente vai muito além da Avenida”, explica Bessa.

    Para o final do show ficaram guardados os clássicos de carnaval que animaram e emocionaram o público. Entre eles, estavam “Peguei um Ita no Norte”, “É hoje”, “O Ti ti ti do Sapoti” e “Aquarela Brasileira” que encerrou o espetáculo. Do grupo iniciado em 2012, algumas mudanças foram realizadas. Nesta volta, a principal diferença foi a presença de Evandro Mallandro que fez sua estreia no agora quinteto. Para o futuro o grupo está analisando alguns convites recebidos para definir a data dos próximos compromissos. Bruno Ribas espera que o grupo possa romper a barreira dos artistas para além do carnaval.

    “Esse grupo aqui vai longe demais. Essa galera aqui a gente já convive muito tempo junto. A gente executa música junto. E poder caminhar junto para focar em um objetivo, a gente olhar um horizonte e buscar aquilo ali, ter o sonho realizado, é melhor que um achado. Acontecendo tudo muito bem, nós podemos furar um bloqueio (imposto aos intérpretes de carnaval, formando grupos para tocar música fora do universo dos sambas-enredo) que está aí uns 40 anos”, acredita o cantor da São Clemente.

    A produção musical do espetáculo foi organizada e dirigida por Vicente Felisberto e Odilon Sete Cordas, e conta com o apoio musical em outros instrumentos como violão, flauta, cavaquinho e surdo de amigos convidados pelos intérpretes.

    Carnaval capixaba: Unidos da Piedade levará os mistérios dos felinos para seu desfile

    Por Vinicius Vasconcelos. Fotos: Toninho Ribeiro

    piedade foto toninho ribeiro 4Sonhando em conquistar o campeonato que não vem desde 1986, a Unidos da Piedade vai retratar a história dos felinos em seu desfile. O enredo “Felis Catus, Sagrados e Mal Ditos” propõe uma reflexão a história do gato na humanidade desde quando ainda era uma divindade, passando pela marginalização do bichano imposta pela igreja católica até chegar nos dias atuais em que o gato é personagem de diversos desenhos infantis.

    Paulo Balbino, o carnavalesco da escola, conversou com nossa equipe e confidenciou que o enredo está guardado há alguns, quando ele ainda tinha um certo preconceito com os gatos.

    piedade carnavalesco paulo balbino foto toninho ribeiro“Minha filha havia comprado um gato, quando cheguei em casa vi uma bolinha de pelo no canto e perguntei o que era. Eu tinha um preconceito sobre ele e não queria que ficasse na minha casa, perguntei até porque minha filha não quis um cachorro. Esse ano ela engravidou e por causa do bebê o gato ficou um tempo comigo e simplesmente me adotou como dono. A gatinha Mel é a responsável por esse enredo. Ela é a motivação disso tudo pois transformou a minha vida e me libertou do preconceito sobre o animal. Fiz então uma pesquisa e vi que não era nada daquilo que eu achava. Achei inúmeras qualidades inclusive cientificamente comprovadas de que o afeto do gato diminui a pressão arterial, por exemplo. Além de ser um excelente companheiro para crianças e idosos devido a troca de afeto”.

    Após as descobertas positivas a respeito do animal, coube a Paulo colocar tudo no papel e criar uma linha de raciocínio para resumir a história milenar em alas e alegorias. E segundo ele, o resultado está sendo bastante positivo.

    piedade foto toninho ribeiro 1“Descobri que o primeiro registro do gato é no Egito. E como tudo por lá sempre foi misterioso desde a criação das piramides, a história dele também não é diferente. Ele vem carregando isso consigo. Acreditava-se que ele é a personificação da deusa da fecundidade. Lá o animal era tratado como realeza. Não podia ser comercializado, não podia ser morto, caso contrário haveria punições severas. Com as guerras territoriais e a vitória do império romano, as caravanas saem levando essa devoção a deusa Bastet. Gregos e persas também adotam o culto a essa divindade. Toda parteira pedia proteção a ela. Chegando a idade média a igreja católica com o intuito de dominar, não queria nenhum outro tipo de culto. Com isso, o papa Gregório Nono começa a se incomodar com o panteão de deuses e persegue o povo local. Institui então a inquisição onde toda mulher que tivesse gato de cor preta seria perseguida queimada na fogueira como bruxa. Mas, com a lógica da cadeia alimentar, onde se matando os gatos aumenta-se a população de ratos, a peste negra devastou 1/3 da população europeia. Passou-se o tempo e perceberam que o gato era o predador do rato e a partir daí os filósofos e intelectuais se apaixonaram pelos felinos, assim como Shakespeare. Também existem várias lendas de que os gatos eram elementos de sorte nas embarcações. Mais a frente vieram as histórias como “O gato de botas” popularizando ainda mais o animal. Ney Matogrosso, já contemporâneo, imortalizou em canções. Marisa Monte e outros mais. As pessoas passaram a ver o bicho como um excelente companheiro para se ter em casa. A TV tem um grande papel nisso”, contou o artista.

    Considerado por muitos um dos carnavalescos mais exigentes e perfeccionista de Vitória, Paulo explica que com a crise que afeta todos os setores do país, esse ano está sendo ainda mais trabalhoso.

    piedade foto toninho ribeiro 3“Eu nunca passei por uma crise tão grave. Não pela falta de material mas também de mão-de-obra qualificada. As pessoas querem receber mas não procuram se profissionalizar. Querem acabar o serviço rápido mas não se atualizam. Os profissionais de Vitória estão escassos. Sou muito perfeccionista, tenho dificuldade muito grande em confiar nas pessoas para executarem meu projeto. Esse ano estou com a comissão de frente e mais duas alas de passo marcado. Além da coreografia as roupas também são confeccionadas por mim. Participo de tudo. Não sou aquele que idealiza o projeto e entrega pra outro, não fico passivo na construção do carnaval. É complicado porque preciso me desdobrar”.

    piedade foto toninho ribeiro 2Entenda o desfile:

    Setor 1: Egito onde o gato era divindade
    Setor 2: Outras civilizações que passaram a cultuar como deus
    Setor 3: Idade média quando o gato foi perseguido
    Setor 4: Passa a se aproximar novamente do homem
    Setor 5: O gato famoso

    Ficha técnica:

    piedade foto toninho ribeiro 5Enredo: Felis Catus, Sagrados e Mal Ditos
    Presidente: Edvaldo Teixeira da Silveira
    Carnavalesco: Paulo Balbino
    Diretor de harmonia: Wesley Denadai
    Intérprete: Danilo Cezar
    Compositores do samba-enredo: Alan Rabelo, Djalma Junior, Fernando Britho, Igor Cabral, Leandro Bonaza, Leandro Corrêa, Rafael Mikaiá e Roberth Melodia
    Mestre de bateria: Sapo
    Rainha de bateria: Rose de Oliveira
    Coreógrafo comissão de frente: Paulo Balbino
    Alas: 22
    Alegorias: 4
    Tripés: 2
    Componentes: 1800
    Baianas: Bruxas da inquisição
    Bateria: Vikings
    Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Deus sol no e deusa Bastet

    Médicos liberam ida de Arlindo Cruz ao desfile da X-9 Paulistana

    x9 ET1702 2019 28Segundo informações apuradas pela reportagem do site CARNAVALESCO, os médicos do Arlindo Cruz liberaram a ida do cantor para o desfile oficial da X-9 Paulistana na sexta-feira, dia 01 de março.

    O diretor de carnaval Pê Santana revelou que a ida do artista para São Paulo ainda depende de outros fatores.

    “Seria um grande acontecimento pro carnaval, mas tem muitas coisas envolvidas. Teria que vir muitos médicos e estamos analisando a possibilidade”.

    Quadra da Unidos da Tijuca é a nova casa da festa de premiação do Estrela do Carnaval 2019

      estrela tijuca2019O prêmio Estrela do Carnaval, oferecido pelo site CARNAVALESCO aos melhores do carnaval, completa 12 edições em 2019 com grande novidade: um novo lar. A festa de premiação acontecerá na quadra da Unidos da Tijuca, Avenida Francisco Bicalho, 47, no Santo Cristo, e será no dia 14 de abril de 2019.

      O prêmio começou no Hotel Intercontinental, em São Conrado, na parceria com o site do jornalista Sidney Rezende, e, por sete edições consecutivas foi realizado na quadra do Salgueiro. Como o local estará em obras nos meses de março e abril não foi possível seguir a premiação na quadra salgueirense.

      Durante o anúncio oficial da nova sede da premiação do Estrela do Carnaval, o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, frisou a importância de receber na quadra os melhores do Carnaval 2019, segundo os jurados escolhidos pelo site CARNAVALESCO.

      estrela carnaval“É muito importante para Unidos da Tijuca ter esse evento na nossa quadra. Agradeço ao site CARNAVALESCO ter escolhido nossa quadra. Sei que vocês estavam há anos na co-irmã Salgueiro, mas infelizmente eles não puderam fazer esse ano por motivo de obras, mas espero fazer não só esse ano como todos os próximos. Para escola é uma satisfação muito grande, porque é prêmio de grande importância e uma coisa muito séria no carnaval”, disse o presidente tijucano.

      O Editor-Executivo do site, o jornalista Alberto João, agradeceu ao presidente Fernando Horta e ressaltou que novidades vão ser divulgadas nos próximos dias. “A festa de premiação está marcada para o dia 14 de abril. Antes dos desfiles vamos divulgar os quesitos e os jurados. O resultado dos vencedores será divulgado na terça-feira de carnaval. Agradecemos o carinho da Unidos da Tijuca em abrir suas portas para nossa premiação e reafirmamos nosso respeito com que sempre fomos tratados e recebidos nessas sete edições do Estrela do Carnaval na quadra do Salgueiro”.

      Ordem dos músicos terá workshop sobre samba-enredo ministrado por Rafael Prattes

      PrattesO músico e arranjador do CD do Grupo Especial, Rafael Prattes, vai ministrar na sede da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) um workshop cujo tema será o gênero samba-enredo. É a primeira vez que um projeto relacionado à cultura do carnaval e do gênero que embala os desfiles das escolas de samba é ministrado na OMB do Rio de Janeiro.

      Rafael Prattes falou à reportagem do CARNAVALESCO sobre a proposta e a ideia de ministrar o work-shop voltado exclusivamente ao gênero samba-enredo.

      “Estarei dando início a esse projeto maravilhoso e de tanta importância na vida de todos músicos amantes do samba. Mostrando como se comportam os instrumentos de cordas e percussão e um pouco de toda nossa história e trajetória no samba-enredo”, conta.

      Prattes explica como se dará a ementa do curso aos interessados em fazer a sua inscrição.

      “Teremos aulas sobre técnicas e desenvolvimento do instrumento no samba, entrevistas e debates com todos os convidados, material didático do curso, sorteios do CD das escolas de samba e interação no final da aula em grupo”, explica.

      Os interessados em fazer o workshop devem procurar o próprio Rafael Prattes, através do número +55 21 98016-6194. A OMB fica na Avenida Almirante Barroso, 72, 7º andar. As primeiras turmas serão formadas para os dias 27 e 28/02, com o máximo de 30 alunos. Os horários serão às 14h, 16h, 17h e 18h.

      Barracões: Leandro Vieira prepara Mangueira com seu ‘carnaval mais difícil e na plenitude artística’

      Em ‘História para ninar gente grande’ o carnavalesco da Mangueira, Leandro Vieira, vai trazer para o maior espetáculo da terra heróis que não constam nos livros de história. A proposta do desfile da verde e rosa é despertar senso crítico em uma população ‘ninada’ por aspectos da história que coloca o povo à margem das lutas e decisões.

      O artista recebeu a reportagem do CARNAVALESCO no barracão da Mangueira e adianta que em seu desfile dois setores inteiros (de cinco) serão dedicados à história do índio no Brasil. (Fotos: Oscar Liberal)

      barracao mangueira2019 1“Esse é o meu carnaval mais difícil, mas ele também é artisticamente onde estou mais bem colocado. Estou na plenitude no sentido de fazer algo que acho preciso ser falado. Eu sou estudioso da cultura indígena. A história do índio no Brasil é uma das maiores perversidades da sociedade brasileira. O brasileiro não se reconhece indígena, com uma das maiores populações da América Latina. Aqui todo mundo é índio. Existe a construção de uma narrativa proposital, de associar o índio ao opositor do progresso. O cristianismo o associou a um ser sem alma. Propositalmente eu dedico dois setores inteiros à cultura e à resistência indígena. O mangueirense vai conhecer a história do negro herói e não escravo. A escola de samba precisa fazer as pessoas conhecerem Luiza Mahin, Danara, Luiza Garcia, Francisco José”, conta Leandro.

      Leandro Vieira, como se diz na gíria moderna, ‘chegou chegando’. O impacto gerado pelo seu desfile de estreia pela Caprichosos de Pilares o levou à Mangueira. Na verde e rosa foi campeão em seu ano de estreia. Colhendo os frutos de um artista politizado e com aguçado senso crítico, Leandro Vieira revela à nossa reportagem que a escolha do enredo da Mangueira é uma reação ao projeto Escola Sem Partido, que segundo ele busca gerar cidadãos ‘sonolentos’.

      barracao mangueira2019 6“Eu sou uma pessoa com senso crítico. Em 2018 fiz uma coisa que achei importante, ter o estalo do enredo a partir de uma antena ligada com o cenário moderno. Fiz um carnaval através da defesa do meu ponto de vista. O enredo de 2019 surge da discussão do aspecto da Escola Sem Partido. Quais os interesses de se produzir uma sociedade sem senso crítico, que não pensa, que não questiona a história? Pra mim é negar a representatividade e negar com uma população ninada. A partir daí passei a buscar a construção de uma narrativa da história crítica do Brasil, com um viés de representatividade popular. A Mangueira é formada por descendentes dessas minorias. O enredo é para ‘acordar’ gente grande. O Escola Sem Partido quer ninar gente grande. A história que quer dizer que quem concebeu a abolição foi um representante do estado e não a luta negra. Ora, quando a princesa assina a lei os escravos já viviam em uma condição diferente. Por que os heróis são os bandeirantes e não os índios? O monumento às bandeiras é um tributo ao genocídio indígena. Erguem-se essas bandeiras através de uma lógica elitista. Colocam o povo em uma condição de espera. Parece que precisam sempre de alguém para fazer história no seu lugar”, questiona Leandro.

      barracao mangueira2019 8‘Não veio do céu, nem das mãos de Isabel’. O verso do samba mangueirense para muitos indica que o enredo da Mangueira visa a desconstrução da Princesa Isabel, responsável por assinar a Lei Áurea, que tornou livres os escravos no Brasil em 1888. Mas não se trata disso. Leandro explica que a questão envolvendo a abolição que ninguém conta nos colégios é que quatro antes, no Ceará, já haviam negros libertos.

      “Minhas pesquisas começam antes da formatação de um enredo. Gosto bastante de ler. Isso vai acumulando uma determinada bagagem. Há muitos anos tomei conhecimento da história de Luiza Mahin. A partir disso passei a perceber que existiam personagens que precisavam ser contados. O mais surpreendente de tudo para mim foi o fato de a abolição no Ceará ter vindo antes do Brasil, quatro anos. Quem desencadeou esse processo foi um um mulato pobre. Isso é muito representativo. Alguém estudou isso no colégio? Através de uma revolta iniciada no porto do Ceará, despertou a consciência do povo negro. A quem interessa esconder isso?”.

      ‘Se não fosse carnavalesco seria professor de história’, diz Leandro Vieira

      Ao se propor a contar a história que a própria história não conta, Leandro Vieira pisa em terreno arenoso. Como reagirá o meio acadêmico, de professores e historiadores, a uma temática que se propõe a desconstruir os livros de história? Leandro Vieira garante que recebe diariamente elogios de professores de história e que se não tivesse seguido a carreira artística enveredaria para as salas de aula.

      “Eu tenho uma relação maravilhosa com meus professores de história. Aos 17 anos minha única opção era passar para uma universidade pública. Eu queria fazer Belas Artes e me inscrevi na UFRJ. Mas nas demais eu fiz história. Se eu não fosse artista seria professor de história. O Luiz Antônio Simas foi a primeira pessoa fora do meu convívio particular a tomar conhecimento do meu enredo. Recebo diariamente elogios da classe dos professores, repercussão boa. Já usaram o enredo em aulas e provas. Isso prova que minha narrativa é aceita pelo pensamento acadêmico. Eu não estou inventando uma história”, destaca.

      mangueira ensaiotecnico 2019 112Nos bastidores da Mangueira, Leandro Vieira deixou clara sua preferência pela obra que a verde e rosa vai levar para a Marquês de Sapucaí em 2019. Ele considera o samba 100% do sucesso de um desfile e admite que já teve composições de sua preferência derrotados na disputa.

      “O samba de qualidade pode representar 100% de um título, no sentido de contribuir para a conquista. Eu busco hiper valorizar o samba. Os outros quesitos são perfumaria. O meu trabalho é estar à altura da obra da escola. Aqui na Mangueira eu sempre tive liberdade para pensar e demonstrar. Nas reuniões declarei meu posicionamento, mas já perdi samba em 2016 e ganhei em 2017. Eu elegi desde o princípio esse samba mas não foi esse fato que o fez ganhar. A Mangueira possui um grupo de pessoas que decide”, explica.

      Ausência de Chiquinho não afeta construção do carnaval, segundo carnavalesco

      A Mangueira sofreu um duro golpe neste pré-carnaval. Além da crise que assola boa parte dos barracões da Cidade do Samba, o seu presidente foi preso em novembro do ano passado. Sem o mandatário, Leandro garante que o carnaval não sofreu qualquer abalo no aspecto do segmento do cronograma.

      barracao mangueira2019 5“No meu trabalho o impacto foi de zero. Não houve nenhum impacto. A Mangueira possui uma estrutura muito bem definida. Chiquinho delegava funções em cada setor e essas pessoas tocavam cada departamento. As duas pessoas de confiança dele para tocar o carnaval somos eu e Alvinho. Nesse sentido nada mudou. A crise não me afeta. Ela só atrapalha o cara que fez carnaval com grana. Eu desconheço o que é bom nesse aspecto. Fiz Caprichosos de Pilares em 2015, a Mangueira nunca nadou em dinheiro. Enfrentei ano passado um corte de verba de R$ 1 milhão. Talvez isso preocupe quem estava acomodado com uma condição de fartura”, afirma.

      Com cinco alegorias e 26 alas, Leandro Vieira é um carnavalesco que gosta de preservar o segredo do desfile e opta por não explicar os setores do desenvolvimento do enredo. Apurando com pessoas da escola e observando a sinopse fica entende-se que os setores abordarão aspectos históricos através de segmentações, como a história indígena (que estará em dois setores), a negra e a política. Sempre abordando como narradores da narrativa personagens que a história não conta.

      Liesa registra o crescimento de 10% nas vendas dos ingressos para os desfiles do Grupo Especial em 2019

        heron liesaO Sambódromo da Marquês de Sapucaí deve estar quase todo lotado nos desfiles do Grupo Especial no domingo e segunda-feira de carnaval. A Liesa teve um crescimento de 10% nas vendas de ingressos em todos os setores de arquibancada, além de frisas e camarotes. Em entrevista concedida ao site CARNAVALESCO a informação foi confirmada pelo diretor geral da Central de Vendas da Liesa, Heron Schneider.

        “Crescemos em torno de 10% no geral. Ano passado atingimos 87% da avenida e estou com a expectativa de 95%. Isso é claro é uma estimativa, pode até atingir mais. Tem aquela quebra de 10% na venda do camarote individual”, disse.

        Heron explica que o maior crescimento nas vendas se deu justamente no ativo mais caro da avenida, os camarotes. Ele explica que, mesmo não atingindo a carga total, as vendas devem superar bastante aqueles espaços que foram comercializados no carnaval passado.

        sambodromo2“Vendemos 30% a mais em relação ao ano anterior. Apesar da crise a resposta foi boa e isso nos deixou bem animados. Não devemos atingir 100%, mas atingiremos 90%. No ano passado ficamos em 70%. A realidade é que hoje a passarela tem se caracterizado pela abertura de espaços embaixo dos super camarotes, com lounges. Se pensarmos em público físico, temos mais que nos anos anteriores. Deixamos de vender 30 camarotes. São 450 pessoas. Mas eu supero isso com os super camarotes. Em público vamos ter mais de 50% da capacidade se eu vendesse um a um. Fomos muito procurados por empresas e algumas já pediram reserva para o ano que vem”, explicou. (Fotos: Leo Queiroz)

        Outro aspecto positivo na vendagem de ingressos é com relação às frisas. A Liesa deve conseguir comercializar 100% dos espaços situados à margem da avenida, conforme afirma Heron.

        “As frisas na segunda-feira de carnaval só temos vagas nos setores 8 e 9. Sendo que o 9 é de responsabilidade da Associação Brasileira de Agências de Viagem (ABAV) e eles nos repassaram as sobras. Em ambos setores só temos fila D. No domingo temos 51 frisas apenas. Isso deve acabar até semana que vem. Em 2018 sobraram 190 frisas, algo em torno de 10% do total. Esse ano acredito que comercializemos 100% da capacidade”, afirma.

        Vendas de arquibancadas impulsionadas por ensaios técnicos

        Com relação às arquibancadas especiais, a expectativa de Heron é também a comercialização de 100% dos cerca de 75 mil lugares disponíveis em todos os setores, incluindo os populares.

        sambodromo“No tocante a arquibancadas, ano passado tivemos uma demanda retraída, pois precisamos lembrar que a cidade estava em uma crise muito grande. Funcionalismo sem receber salários. Esse ano, com a reação do Estado foi bem melhor. Estamos com expectativa de vender os 100%. Mas um detalhe a ser registrado é que em 2011 tínhamos 52 mil espectadores como capacidade e hoje 75 mil. É um aumento de 50%, indo na contramão de redução da maioria dos espetáculos. A oferta passou da demanda reprimida que tínhamos. Arquibancada, 90% a gente vende próximo ao desfile. A influência dos ensaios técnicos faz toda a diferença. Muita gente realiza a compra após estar na avenida nos ensaios. É um ativo importante”, destaca.

        Outro fator explicado por Heron é um antigo pleito de muita gente com relação ao parcelamento no pagamento das arquibancadas. Pela internet é possível pagar em até seis vezes, mas segundo o diretor o número de pessoas que opta por este formato de pagamento é irrisório.

        “Muitas vezes as pessoas não compreendem que o perfil do consumidor de carnaval é diferente. As vendas só aquecem após a virada do ano, é uma questão de cultura. Atendemos 7.800 pessoas com 14.000 ingressos até dezembro, e só 24 quiseram comprar em 5 parcelas. 85% compram em uma ou duas. O problema não é de parcelamento. O público do carnaval tem essa característica, que muita gente não sabe”, alerta.

        Super camarotes terão fiscalização para som não vazar para pista

        Heron Schneider também falou ao CARNAVALESCO sobre a venda de ingressos para os desfiles da Série A, na sexta e sábado de carnaval. As arquibancadas começaram a ser comercializadas esta semana e as frisas para a segunda noite de apresentações já estão esgotadas.

        sambodromo“Na Série A as frisas são um sucesso absoluto. Conversamos com o presidente Thor e decidimos manter esses valores. Sábado está esgotado há mais de dez dias e a sexta vai acabar esgotando também, o que jamais havia acontecido. Arquibancada ainda não temos como ter uma noção, pois começou essa semana”, afirmou.

        Heron explicou também que o som dos super camarotes será fiscalizado para não haver vazamento para a pista e desta forma incomodar o público das frisas e arquibancadas.

        “Existe a recomendação nossa deles fazerem um correto isolamento acústico. Quando nos é reclamado de ruído por parte do público nós mesmos vamos até lá e pedimos para baixar o som. E não há qualquer tipo de resistência aos donos dos camarotes. Geralmente,os próprios DJs se empolgam com o público curtindo e acabam subindo o volume. Mas estamos atentos e fiscalizando. A nossa intenção é atender o cliente da frisa da mesma forma que os camarotes”, finaliza.

        Donos do Ritmo: Dupla de mestres alia experiência e juventude no comando da bateria do Vai-Vai

        vaivai 3et 2019 57Com muita honra apresentamos a história da dupla responsável pela bateria da escola de samba Vai – Vai. O primeiro é um dos grandes nomes do carnaval paulistano, Mestre Tadeu tem quase meio século como comandante da bateria, exatos 47 anos completados após o carnaval de 2019. Sua primeira agremiação foi a Lavapés, como ritmista ainda na década de 70, mas pouco tempo depois ingressou no Vai-Vai.

        vaivai 3et 2019 53Roberto Lopes, conhecido como Mestre Beto, começou na Flor de Liz em 1986, passou pelo Unidos do Peruche em 1992 e, através do convite do próprio Tadeu, começou o seu vínculo com a agremiação do Bexiga. Realizando a função de mestre, Beto realiza o seu quinto desfile em 2019. Além de exercer a função dentro do carnaval, ele também trabalha como percussionista de samba e pagode.

        É visível que a junção entre experiência e juventude vem gerando bons frutos. Indispensável falar da história do Tadeu pra alguém que se considera sambista, são exatos 47 anos como responsável pela bateria da maior campeã do carnaval de São Paulo, não importa onde esteja, Tadeu sempre será visto como inspiração para muitos ritmistas.

        vaivai 3et 2019 38“A renovação de mestres é muito importante. Ninguém é eterno. O que está faltando são alguns mestres respeitarem os antigos. Nós sofremos no tempo da ditadura pra conseguir manter o samba. Para o mestre ficar tanto tempo numa bateria ele tem que ter responsabilidades em tudo”, finaliza mestre Tadeu.

        A Bateria Pegada de Macaco tem todas as suas caixas tocadas embaixo, com rufada na batida. Os surdos de terceira são livres, porém seguem uma base definida. As marcações são afinadas no tom grave. O Beto é encarregado pela criação das bossas e desenhos da batucada. Um dos destaques é a ala de timbal, instrumento pouco usado em São Paulo, e recebe um grande destaque no Vai-Vai.

        bateria vaivai1“A ala de timbal é dirigida pelo Wilson Fumaça, junto com Badé. Juntos damos as idéias, eles desenvolvem e vemos o que é melhor pro trabalho. Introduzimos o timbal em 2017,
        no ano de mãe menininha, e mantemos pra esse carnaval. Apesar de todos os ritmistas da
        ala serem músicos, eles ensaiam uma vez na semana. Teremos uma surpresa no desfile junto à nossa rainha Camila Silva”, promete mestre Beto.

        Com o enredo: “Vai-Vai, O Quilombo do Futuro”, que exalta a luta e resistência do povo negro, a escola de samba Vai-Vai será a quarta agremiação a desfilar na noite de sábado, 02/03, às 01h45.