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Carnaval dos blocos do Rio leva mais de 140 mil para ruas neste sábado

bloco2019Neste sábado, a cidade maravilhosa que já está recebendo muitos turistas para o carnaval, teve diversos blocos pelas ruas. Mais de 140 mil foliões curtiram e, pelo jeito, nem ligaram para o calor de mais de 40 graus.

A Coordenadoria de Fiscalização de Estacionamentos e Reboques (Cfer), vinculada à Secretaria Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), realizou 34 remoções de veículos por estacionamento irregular em áreas de passagem de blocos carnavalescos.

A relação dos veículos rebocados encontra-se no site da Prefeitura, além das regras para retirada e do funcionamento dos dois depósitos municipais (em São Cristóvão e no Recreio dos Bandeirantes): https://bit.ly/2Ct2y4z

Já a Comlurb recolheu 43,7 toneladas de lixo e multou 109 foliões. A operação contou com mais de 900 garis e 129 agentes de limpeza urbana.

A Coordenadoria de Controle Urbano, vinculada a Secretaria Municipal de Fazenda, realizou operação de ordenamento no bloco Chame Gente, que aconteceu na orla de São Conrado, e em bloco não autorizado no Parque dos Patins, na Lagoa. Os agentes atuaram com foco em desocupação do espaço público por ambulantes irregulares e combate à comercialização de materiais de vidro. As ações resultaram na apreensão de 317 itens como garrafas de vidro de bebidas diversas, colares, carrinhos, um botijão de gás, além de 10 quilos de alimentos perecíveis e 12 sacos de gelo.

A CET-Rio está atuando desde o início do dia com 370 homens, 40 viaturas e 33 motocicletas dedicados exclusivamente às ações de trânsito e permanecerá com a operação especial até o encerramento de todos os eventos.

A Guarda Municipal do Rio atuou com 5.493 guardas em diversas ações de ordenamento urbano e de controle e fiscalização do trânsito nos blocos oficiais que desfilaram em todas as regiões da cidade.

Na rota dos blocos, a Vigilância Sanitária percorreu a orla e inspecionou quiosques, bares e restaurantes. Mais de 200 estabelecimentos já foram vistoriados, sendo dois interditados, nesses 10 dias de pré-carnaval.

Bianca Monteiro, a Beyoncé do samba, é cria da comunidade e está nos corações dos portelenses

Por Juliana Cardoso

portela ensaiotecnico 2019 17A rainha portelense Bianca Monteiro, eleita pela agremiação em 2017, foi criada na comunidade e hoje recebe o título de Beyoncé do samba. Sendo filha de um diretor de harmonia, Bianca está na escola há 18 anos e acredita ser privilegiada por ter seu trabalho comparado com o da cantora americana.

“É uma honra ser comparada a Beyoncé. Ela é uma mulher linda, uma diva, uma guerreira. O rap, assim como o samba, é um estilo que precisa sobreviver todos os dias. Sempre é bom ser comparada com uma pessoa assim”.

Os componentes da escola não escondem sua admiração pela rainha. Ela recebe sempre muito carinho e pedidos de fotos por parte dos fãs da agremiação azul e branca, o que responde com muita atenção e respeito.

portela ensaiotecnico 2019 22“Eu sou nascida e criada em Madureira e estou na Portela há 18 anos. Eu dou para eles aquilo que eles dão para mim, é uma troca de amor e de energia. Coisas positivas, todo mundo junto num propósito”.

Bianca diz que, um dia, sonhou em estar à frente da bateria da Portela e que não acreditou quando foi nomeada em 2017. Ela afirma a importância de se ter uma rainha que representa a comunidade e que inspira outras jovens a seguirem o mesmo caminho.

portela ensaiotecnico 2019 18“Eu, em 18 anos, raramente vi rainhas de bateria tão próximas às comunidades. Que realmente fossem abraçadas. Não é fácil chegar a ser rainha de bateria. Toda menina sonha com isso, mas acredita que é algo muito distante, como eu já acreditei um dia. E quando surge essa oportunidade, é uma coisa única. Vejo que hoje as meninas me veem como um tipo de exemplo, sabendo que um dia também poderão chegar até onde eu cheguei”.

A rainha da azul e branca de Madureira vê orgulhosamente todo o seu trabalho, seus anos de história, culminando em algo tão grandioso como o espetáculo que acontece na Marques de Sapucaí. Além de poder ser o espelho de várias passistas que se dedicam à escola.

portela cd2019 46“Hoje, eu não sou só a Bianca. Hoje, eu sou toda uma ala de passistas, aquela que representa várias meninas que acreditam em seu sonho virar realidade. E hoje eu estou aqui, graças a Deus, desejando o privilégio de poder passar essa coroa para uma dessas meninas portelenses”.

Todo o brilho e gingado da Beyoncé sambista poderá ser visto novamente na segunda-feira de carnaval, quando a Portela será a terceira agremiação a desfilar, trazendo para a avenida um enredo em homenagem a cantora e compositora Clara Nunes.

Barracões: Porto da Pedra luta pelo campeonato da Série A através da força cultural de Antonio Pitanga

barracao pp2019 4Para buscar o sonho de voltar ao Grupo Especial, a Unidos do Porto da Pedra segue uma fórmula que vem dando certo desde 2016: a exaltação à cultura nacional. No carnaval deste ano o ator Antônio Pitanga será homenageado pelo Tigre de São Gonçalo. Porém engana-se quem pensa que a agremiação irá na contramão das temáticas de cunho social que permeiam a safra da Série A em 2019. Ao receber o CARNAVALESCO no barracão, o carnavalesco Jaime Cezário exalta a figura de Antônio Pitanga e diz que ele abriu portas para os atores negros no cinema nacional.

“Ele ser o primeiro ator negro de destaque é algo que eu não sabia. Se existem outros hoje e aí vai do gosto de cada um, quem abriu as portas foi o Pitanga. De família pobre, de Salvador, nordestino e conquistou o Brasil. Isso nos ensina que se você tem um sonho e corre atrás você vai chegar lá”, conta.

barracao pp2019 3Para contar a história de uma das personalidades negras mais importantes do Brasil, o carnavalesco da Porto da Pedra precisou escolher trechos da obra de Pitanga que coubessem dentro da estrutura de desfiles da Série A.

“É um personagem riquíssimo. São muitos filmes, peças de teatro, novelas. O enredo foi construído a quatro mãos. Minhas e dele. Expliquei a ele que um desfile de Série A precisa ser mais objetivo. Desde que vim para a Porto da Pedra tenho feitos enredos de fácil assimilação. Ele me pincelou momentos da vida e dividimos em movimentos”, destacou.

A temática foi escolhida pela Porto da Pedra ainda antes do desfile de 2018 e apresentada ao carnavalesco Jaime Cezário. Após o desfile, Cezário sentou-se com Pitanga e começou a traçar as diretrizes do enredo, dando sequência à exaltação da cultura nacional, algo que vem se repetindo desde 2016 quando o artista foi contratado pela escola.

barracao pp2019 1“Era uma ideia antiga da diretoria da escola, e eles me sugeriram antes mesmo do desfile de 2018. Existe uma afinidade da escola com o Antônio Pitanga e essa luta, garra e determinação dele realmente emocionam. A diretoria o procurou, marcaram uma conversa e ele concordou no ato. No meio do ano ele faz 80 anos e o desfile vai ser uma parte importante dessas comemorações. O enredo passa a ser meu com o desenvolvimento, mas a ideia não partiu de mim. É um enredo que vem na sequência da ideia de exaltação da cultura nacional, desde que vim para cá. Pitanga é o primeiro ator negro protagonista no cinema nacional”.

Terceira colocada no desfile do ano passado, a Porto da Pedra esteve bem próxima do acesso ao Especial, grupo onde desfilou entre 2002 e 2012. Jaime Cezário não se faz de rogado e diz que o projeto construído pela escola é sim de disputar o campeonato.

“Brigamos para voltar ao Especial. A Porto da Pedra já está a oito carnavais no acesso e vem fazendo um trabalho a cada ano para voltar. Temos o direito de sonhar, sentir isso de perto. Ano passado se você tirasse o quesito samba-enredo a escola era campeã. Faço meu trabalho querendo ganhar, embora não seja um santo milagreiro. A escola fez um projeto para ser campeã”, garante.

Conheça o desfile

barracao pp2019 2Setor 1: Salvador, onde ele nasceu. A família dele tinha bastante consciência e a mãe dele despertou no filho essa característica. Ele foi batizado na igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, feita por escravos. Ele vai morar ao lado de um clube de fantoches. Ali havia um grupo de teatro, e ele não podia entrar por ser negro. Ele ficava do lado de fora ouvindo e fez amizade com o grupo. A partir daí ele foi incentivado a fazer testes para seu primeiro filme, ‘Bahia de todos os santos’. Ele interpretava um baiano de nome Pitanga. A partir daí incorpora o nome artístico.

Setor 2: Vamos mostrar esse início no cinema e grandes filmes pontuados pelo próprio homenageado. ‘Quilombo’, ‘Ganga Zumba’, ‘O Pagador de Promessas’, ‘A Grande Feira’, ‘Barravento’, ‘Idade da Terra’.

Setor 3: Falamos do Pitanga no teatro e TV. Ele segue um conselho do Glauber Rocha para ser ator de teatro. O Glauber ficou impressionado com a energia dele e o incentivou. Pontuei três fases: teatro baiano, paulista e carioca. Na Bahia pegamos a peça ‘Chapetuba FC’. Em São Paulo temos ‘O poder negro’, e no Rio a peça ‘Hair’. Pontuamos a primeira novela dele, ‘Sangue do meu sangue’ e um papel de muito sucesso, o Tião Pastel na novela ‘O Clone’.

Setor 4: Os amores. Desde o futebol, pois ele é um grande vascaíno. O Vasco foi o primeiro a aceitar atletas negros. A Mangueira e as lutas política e social. O amor dele ao carnaval, foi ele quem levou as escolas cariocas para a Argentina em San Luís.

Atrações do Camarote do King: Ludmilla, Latino, Xande de Pilares, banda do Cordão da Bola Preta

Lud e Latino KingO Camarote do King já é, por si só, uma das referências em animação e qualidade na prestação dos serviços aos foliões. Não bastasse tudo isso, é no setor 8 que os intervalos entre uma escola e outra são ideais para curtir as atrações musicais. Na King’s Night, a boate que está de “cara nova” – com mais espaço e tratamento acústico –, uma série de shows de artistas variados e DJs nacionais e internacionais faz com que ninguém fique parado até o raiar do dia.

Este ano, o folião que for ao Camarote do King vai assistir aos shows de Ludmilla, Latino, Xande de Pilares, banda do Cordão da Bola Preta e Gustavo Lins, dentre outros. E ainda terá Chacal do Sax, tocando todos os dias. O músico, nascido Jonathan Fernandes Vieira, no Complexo do Lins, levanta plateias por onde passa com seu saxofone e não imaginava que o instrumento seria o seu ganha-pão. O reconhecimento chegou quando conheceu Neguinho da Beija-Flor, que o convidou para uma turnê pela Europa. Daí pra frente, ninguém mais segurou Chacal.

chacal kingOutra bela história de perseverança e vitória é revelada por Ludmilla. A cantora de Duque de Caxias é a sensação do pop/funk, graças a uma voz potente, muito carisma e total irreverência. Através de um vídeo postado no Youtube, Ludmilla quebrou recordes de visualizações e trouxe à cena um novo talento do funk carioca.

Xande, embora tenha adotado Pilares no nome artístico, na verdade iniciou sua história musical no Morro da Chacrinha. Quando criança, o filho de Dona Maura e Seu Custódio quase não saía de casa. A mãe, durona, não o deixava brincar pelos caminhos do morro. Dizia que era “pra ele não virar marginal”. Esta foi uma das frases que Xande de Pilares mais ouviu durante a infância. Então, diz ele, “só me restou uma alternativa: o violão.” E assim nasceu e cresceu esse cantor de sucesso.

Latino, ao longo dos 25 anos de carreira, tem muita história para contar. Na adolescência, morou durante um tempo fora do Brasil, onde trabalhou como garçom e até como ilusionista. E foi observando as danças de rua lá de fora que Latino criou um estilo diferente e próprio de ser e de dançar. De volta ao Brasil, lançou-se na música e hoje traz a marca de mais de quatro milhões de discos vendidos. Um dos seus grandes sucessos é “Festa no apê”. Com esse hit e outros tantos, como “Me leva”, ele promete balançar o Camarote do King.

Esses são alguns dos exemplos de vida e talento que o Camarote do King vai levar aos foliões que desfrutarem do seu espaço no Sambódromo, durante as cinco noites de desfile.

Entrevistão com Fafá da Grande Rio: ‘O ritmista só é amigo do ritmo’

granderio ensaiotecnico 2019 84Quando o telefone do jovem Fabrício Machado tocou e do outro lado da linha estava o presidente de honra da Grande Rio, Helinho Oliveira, o então diretor da Invocada pensou se tratar de trote. De apelido quase infantil, Fafá demonstra em poucos meses de trabalho uma personalidade poucas vezes vista em pessoas de sua idade. O site CARNAVALESCO conversou com o músico para a série ‘Entrevistão’ sobre o desafio de comandar uma das maiores baterias do carnaval. Ele fala da gratidão por Thiago Diogo e defende o andamento adotado: ‘Estamos tocando samba’. Confira o bate-papo com o mestre Fafá.

Como foi receber a notícia de que seria o novo mestre da Grande Rio?

“Eu estava em casa assistindo TV e me preparando para dormir. O presidente Helinho me ligou, mas eu não vi a ligação. Retornei e ele falou para eu me preparar que eu era o novo mestre de bateria. Ele me pediu para eu ir ao barracão no dia seguinte conversar. Quando o Thiago Diogo anunciou sua saída pelas redes sociais, aí que minha ficha caiu que era verdade”.

Como era antes e como é hoje sua relação com o Thiago Diogo?

“O Thiago foi um cara muito importante na minha vida, principalmente na parte técnica, de harmonia e musicalidade. Ele é um cara de um coração imenso. Ele me desejou boa sorte e me aconselhou muito. Eu jamais posso deixar de mencionar ele com todo carinho e gratidão”.

Teve receio em fazer uma mudança tão brusca no andamento da bateria?

granderio ensaiotecnico 2019 83“Dizem que o que estamos fazendo é coisa de maluco. Botando um andamento atrás e pedindo para a escola cantar o samba. Atualmente no carnaval se você for parar para analisar a Unidos da Tijuca, a Beija-Flor, são baterias de excelência e um andamento muito mais próximo daquele que eu acredito ser o ideal. Laíla que é um cara que tenho um profundo respeito sempre defende também um andamento que não seja tão na frente. O que dizemos lá é que para os padrões atuais é difícil fazer, mas precisamos manter até o fim, sem deixar cair”.

Como tem sido conversar com o seu pai e o Odilon, eles vão desfilar?

“Odilon se tiver de puxar orelha, puxa. A gente é amigo do ritmo, uma frase dele. Amizade fica fora da bateria. Ele me deu alguns conselhos, claro que vou seguir, nunca escondi de ninguém que ele é o meu mentor. O meu pai já está mais certo no desfile que eu, se emocionou comigo no ensaio técnico. Ele está extremamente feliz. Recebemos a volta de ritmistas da época do Odilon. Ele não poderá vir conosco pois ele será jurado do Estandarte de Ouro”.

Quando você decidiu implementar esse andamento da bateria?

“A decisão na mente eu tinha quando me convidaram para ser o mestre. Graças a Deus a resposta foi positiva. Todos os desenhos estão em cima da melodia do samba”.

Você acha que o samba pode ‘arrastar’ com andamento mais atrás?

granderio ensaiotecnico 2019 18“O que posso dizer em defesa de nosso andamento é que estamos tocando samba. Eu estudo. Os áureos tempos da Grande Rio, quando por exemplo a escola voltou pela primeira vez nas campeãs, foram todos com andamento cadenciado. Estamos tentando colocar uma cara nova sem esquecer o passado. Estamos trabalhando em cima disso. Tudo que faço entrego o coração. Tenho ótimo pressentimento. Se der certo, as pessoas vão parar com essa correria nas baterias. E não é culpa dos mestres. Samba é samba, independente da qualidade. Bateria corrida não melhora samba, foi algo que aprendi”.

Como você trabalha as críticas e elogios em redes sociais?

“Essa é uma pergunta interessante. Sou nascido e criado na Grande Rio. Esses dias vi um comentário criticando a escola vindo lá de Fortaleza, o cara nem é daqui, nem desfila. Quando recebemos uma crítica construtiva eu ouço e respeito muito. Agora quando vem com ofensas e apelação, esses fakes que ficam de sacanagem eu nem dou atenção. O samba está passando por um momento difícil demais. Temos de estar unidos e fechados. Por mim eu nem teria rede social. Na minha posição atual eu não respondo nada”.

E essa história de ser galã?

granderio ensaiotecnico 2019 15“Eu sou muito tímido. Quando sou elogiado assim, agradeço mas eu fico bastante sem graça, confesso. O David Brazil acaba comigo, me gasta muito. Levo na esportivo qualquer elogio, mas sou tímido demais (risos)”.

Como é a relação com a rainha Juliana Paes?

“A Ju é uma pessoa de um astral imenso. Tem seus compromissos e o trabalho dela. Trocamos telefone e conversamos. Uma vez fizemos um ensaio só de bateria e ela foi. Está nos ajudando muito. Ela tem me auxiliado com essa vergonha que eu tenho de falar, me dá muita força. É uma mulher muito do bem”.

Barracões: Santa Cruz reverenciará primeira protagonista negra da TV

Por Diogo Cesar Sampaio

Pioneira no teatro, no cinema e na televisão brasileira, Ruth de Souza escreveu seu nome na história. Ao longo de toda sua carreira, colecionou dezenas de marcas importantes, como ser a primeira brasileira a concorrer ao prêmio de melhor atriz em um festival internacional, pelo filme “Sinhá Moça” (1953). Além disso, foi a primeira negra a protagonizar uma telenovela, com “A Cabana do Pai Tomás” (TV Globo – 1969). E agora, aos 97 anos, ganhará mais um feito para o seu currículo: ser enredo de uma escola de samba. A Acadêmicos de Santa Cruz é que será responsável por prestar essa homenagem, concebida e assinada pelo carnavalesco Cahê Rodrigues.

barracao scruz2019 2“Eu já tinha o desejo de falar da Ruth há algum tempo. Eu cheguei a ensaiar uma homenagem a ela em 2015, na Imperatriz, quando fiz o “Axé Nkenda”. Porém, ela estava muito debilitada de saúde na época, e achamos por bem não levá-la para o Sambódromo. Queria que ela tivesse um espaço, que fosse grande no enredo. A família achou por bem deixar um pouco mais pra frente, para que ela pudesse se recuperar. E no final do carnaval passado, eu me desliguei da Imperatriz. A ideia era ficar de fora, para que eu pudesse me dedicar a outros projetos. Só que aí veio o convite do Zezo (presidente da Santa Cruz). Eu falei para ele: vai me deixar fazer meu enredo? E ele me perguntou qual seria. Disse que era uma homenagem a Ruth de Souza e ele topou”.

Cahê Rodrigues mostra-se realizado com a oportunidade de finalmente tirar o projeto do papel. Ele destaca a abertura do desfile como um dos destaques, que contará com a presença da homenageada logo no carro abre-alas.

“Entre todos os momentos especiais da Santa Cruz esse ano, eu destaco a comissão de frente. Ela é um xodó, pois tem um significado muito grande pra vida da Ruth, além de ter uma carga emocional muito grande. Acho que vai ser um grande momento de emoção. O abre-alas também, que é aonde a Ruth vem. É um carro muito representativo pra ela. É a visão dela sobre o Theatro Municipal. Retrata a estreia dela no palco. Só que criamos um Municipal meio africanizado. É como se ele estivesse decorado pra receber a rainha. Tanto a comissão, quanto o abre-alas, são muito representativos dentro dessa homenagem.”

Saída da Imperatriz

Depois de seis carnavais consecutivos na escola de Ramos, Cahê Rodrigues encerrou sua trajetória na Imperatriz, após o desfile de 2018. Uma saída amigável e em comum acordo entre todas as partes, segundo conta o próprio Cahê. Para o artista, era algo que já se fazia necessário, pois ambos os lados precisavam de experiências novas.

barracao scruz2019 1“Eu conversei com o presidente Luizinho Drumond. Tinha assuntos pessoais e familiares pra resolver, e precisava dar uma pausa. O Grupo Especial nos toma muito tempo e dedicação. Fiquei quase que 18 anos direto vivendo isso. Precisei me desligar, e foi super saudável. Tenho um bom relacionamento com todos, frequento a quadra da escola e inclusive recebi um convite para desfilar com a Imperatriz, na diretoria. Aprendi dentro de casa a sempre deixar portas abertas, a saber entrar e sair dos lugares. Tenho uma gratidão eterna por tudo que vivi ali dentro. Acredito que estamos dando um tempo na relação. Isso faz parte. É bom pra todos. Estou me dedicando a outros projetos. Estou fazendo carnaval em Manaus, na Vitória Régia, que um lugar e uma terra que eu amo. Estou fazendo a Santa Cruz, fazendo algumas coisas para fora do Rio de produção de show e cenários”.

Retorno para Santa Cruz

A relação entre Cahê Rodrigues e a Santa Cruz é de longa data. Com o retorno do carnavalesco para a agremiação esse ano, já são três passagens ao todo. Além da atual, ele já esteve na escola entre 1996 e 1997, e novamente em 2003, tendo sido ele o responsável por assinar o carnaval da verde e branca em sua última estada no Grupo Especial.

barracao scruz2019 4“A minha primeira passagem na Santa Cruz foi em 1996, quando eu fui assistente do Albeci (Pereira, carnavalesco da escola na época). Na ocasião, fomos campeões do Acesso, e a escola subiu para o Especial. E em 1997, eu também fiz com eles o “Não se vive sem bandeiras”. Depois eu retornei em 2003, com o enredo sobre o teatro, de autoria da Roseli Nicolau, que era uma super amiga com quem eu dividi muitas coisas nessa vida, e que cuidou dessa escola com muito carinho. Sou muito grato a tudo que vivi na Santa Cruz com a Roseli e com o Zezo. E o retorno agora, após quase 18 anos de Grupo Especial, e a Série A nas condições que está agora, a Santa Cruz tendo de mudar de barracão, viemos para um lugar improvisado, sem teto, chovendo dentro do barracão. Uma situação muito complicada. Mas aqui temos uma parceria muito grande entre as pessoas. Tenho uma relação tão boa com a escola, que a gente consegue driblar todos esses problemas, com muita alegria e união”.

Adaptação ao carnaval da Série A

Acostumado a trabalhar em escolas do Grupo Especial, Cahê Rodrigues enfrenta agora outra realidade. Se a crise que impacta o carnaval já atinge muito as agremiações da elite, que dirá as dos grupos anteriores, como a Série A. Não basta a falta de verba e de material, é necessário lidar com questões estruturais também, por exemplo. Até mesmo o modelo de desfile se difere, exigindo do artista recém-chegado no grupo, uma adaptação às novas condições.

barracao scruz2019 3“Estou me reencontrando como profissional aqui. Estou reencontrando pessoas, que fizeram parte da minha vida e que ainda vivem nesse grupo, com tanta dificuldade. Às vezes, é preciso dar um paço pra trás. Hoje, eu estou na Série A por opção. Precisava viver algo diferente, afinal, estava há muito tempo no Especial. E lá, as coisas são muito menos difíceis do que na Série A. Por exemplo, você tem mais setores, carros e alas pra contar uma história. Para falar da vida da Ruth na Série A, tive de resumir tudo em quatro setores e quatro alegorias, somente. O que é extremamente desafiador, porque ela tem muita história e eu tive de pontuar de uma forma muito resumida, apenas destacando os principais momentos. A paixão dela pelo teatro, o cinema, a estreia dela na TV. As indicações, pois ela foi a primeira mulher negra em diversos segmentos. Foi a primeira mulher negra a protagonizar uma novela, a primeira mulher negra a pisar no palco do Theatro Municipal, foi a primeira artista negra a ser indicada a um prêmio internacional. Reduzir e resumir toda essa história em apenas quatro setores foi um grande desafio”.

Porém, engana-se quem pensa que Cahê Rodrigues é um novato no acesso. Apesar de ter se dedicado, ao longo dos últimos anos, a trabalhos no Grupo Especial, o carnavalesco já assinou desfiles em outros grupos, incluindo ao que hoje conhecemos como Série A.

barracao scruz2019 6“Eu venho do Acesso. Comecei minha carreira como carnavalesco na Vigário Geral, em 1998. Já fiz Sossego, tive uma experiência na Santa Cruz, então eu carrego uma carga muito grande, e sei o sufoco que é fazer escola do acesso. Então, não é novidade. Eu sinto falta da estrutura que tinha na Cidade do Samba, de poder trabalhar até tarde, coisa que aqui não dá, por conta da iluminação. Várias vezes tive de ir embora mais cedo porque chovia muito aqui dentro. Você não pode colocar a vida dos profissionais em risco, então com isso, não dá pra ligar máquina de solda, não pode ligar uma extensão…. Essa falta de estrutura é o que mais senti. Não ter uma sala decente pra receber as pessoas. Mas não fico triste. Estou muito tranquilo e feliz apesar das dificuldades. O Zezo tem sido incrivelmente parceiro nessa produção. Estou vendo a dificuldade que ele está tendo de correr atrás de material. Ele não tem medido esforços para comprar material, para podermos fazer um carnaval digno. E em meio a dificuldade a gente vai se redescobrindo. Temos driblado a crise com alegria, ânimo e vontade de fazer realmente a coisa acontecer, da melhor maneira possível. Não tem como se deixar contaminar com os problemas. O carnaval está difícil pra todo mundo e todos estão no mesmo barco. Não é só a Santa Cruz”.

Soluções para driblar a crise

Reconhecido por ser eclético, Cahê Rodrigues costuma variar o seu estilo artístico de um trabalho para o outro. Com facilidade, consegue ir do barroco clássico ao tecnológico moderno. E para esse ano, o carnavalesco promete uma estética limpa, sem tantos detalhes, até mesmo como uma saída para os problemas financeiros e estruturais, que tanto assolam as escolas do grupo.

barracao scruz2019 5“Eu procurei criar um carnaval limpo. Nós não temos tempo de rebuscar muito, nem alegorias e nem fantasias. Eu procurei criar um carnaval mais didático, para que as pessoas possam ter uma leitura mais direta da proposta. É um carnaval que tem uma cara mais limpa. Eu não consigo definir que cara ele terá exatamente, até porque não sei como iremos finalizar. Se tiver tempo, irei rebuscar mais. Se o material chegar, terei como dar uma caprichada. Minha preocupação foi de criar alegorias e fantasias que pudéssemos levar uma mensagem mais direta, com simplicidade, devido às dificuldades. As fantasias da Santa Cruz não terão luxo, mas terão modelagem. Eu não tenho plumeiros ou exageros de bordados. A escola não tinha condições de investir nisso. Então, fui para um caminho mais de figurino. As alegorias, a gente está trabalhando com o que estamos conseguindo. Procurei manter 70% das estruturas dos carros, fazer novas esculturas com muita dificuldade, e a cada nova semana, é uma novidade. Porque nunca sabemos se o material vai chegar ou se vamos encontrar o material nas lojas. É difícil dizer qual será o resultado final que terão essas alegorias. Mas garanto uma leitura fácil e finalização caprichada de decoração. Isso eu vou lutar pra gente conseguir levar pra avenida, até o fim”.

barracao scruz2019 7Outra saída encontrada pelo carnavalesco, para ausência de recursos, foi a utilização de materiais atípicos e alternativos ao espetáculo. Em meio a uma das mais graves crises que enfrenta a festa, a criatividade torna-se fundamental. Materiais como o plástico e a palha ganharam espaço na confecção do carnaval da Santa Cruz, por conta de características como custo e praticidade.

“Se a gente não tiver criatividade e bom gosto na Série A, fica difícil. Estamos reciclando muita coisa. Eu estou trabalhando com materiais como pratos de festa, copos coloridos, canudos, espetos de churrasco, pá de sorvete para fazer máscaras… Ás vezes, passo na rua, vejo algum material alternativo, compro e faço um teste. Se der certo, eu compro mais . Estou usando algodãozinho com pintura de arte nos carros. Estou usando palha, forração com esteira em uma das alegorias. Estou usando até plástico, porque como está chovendo muito aqui dentro, a minha opção é usar plástico e carpete. O carpete chupa a água e não aparenta muito a mancha. E o plástico se sujar, passamos um pano e está limpo. São dois tipos de materiais práticos e de fácil limpeza”.

Entenda o desfile

Com o enredo “Ruth de Souza – Senhora liberdade. Abre as asas sobre nós!”, a Santa Cruz será a quarta escola a desfilar na sexta-feira de carnaval. A verde e branca levará ao todo 20 alas, 4 alegorias e 2200 componentes para a Sapucaí.

Setor 1: “Abrimos o carnaval falando do teatro, de quando ela começa a dar os primeiros passos como atriz, no teatro experimental do negro, com Abdias do Nascimento. E vamos até a sua estreia no palco do Theatro Municipal”.

Setor 2: “O segundo setor falamos da estreia dela no cinema. Ela desperta essa paixão pela sétima arte na infância, e depois mostra ela como uma atriz consagrada já”.

Setor 3: “O terceiro setor faz um passeio pelos personagens de novela da Ruth de Souza. O carro 3 é ‘A Cabana do Pai Tomás’, que é a novela na qual ela foi a primeira protagonista negra da televisão”.

Setor 4: “Nosso encerramento é a senhora mãe da liberdade, que abre as asas sobre nós. O último carro traz a mensagem do legado que a Ruth de Souza deixou. O setor mostra outros artistas negros, que estão hoje brilhando, devido às portas que a Ruth abriu”.

Império Serrano, Ilha e Imperatriz ensaiam neste sábado na Sapucaí

    Por Thaise Lima

    A Marquês de Sapucaí recebe neste sábado o quarto dia de ensaios técnicos do Carnaval de 2019. A abertura será com a União da Ilha com seu ensaio programado para começar às 19h30. A escola promete agitar a Sapucaí com a homenagem ao Ceará. Em seguida será a vez do Império Serrano levando para o povo o clássico samba de Gonzaguinha. O encerramento ficará por conta da Imperatriz Leopoldinense com enredo crítico, mas tratando os assuntos sérios de um jeito mais descontraído e subentendido.

    iserrano cd2019 5A reportagem do CARNAVALESCO ouviu integrantes das escolas que ensaiam neste sábado, no último final de semana antes do desfile oficial.

    “Vamos mostrar ao público a força da nossa comunidade e o que todos querem ver, como o nosso samba casou com a Sinfônica do mestre Gilmar. Vamos surpreender muita gente. A escola vem com 3 mil componentes. É no Sambódromo que a magia acontece. É treinar no campo de jogo, tudo muda, o espaço, a acústica e tem acertos. O samba e o povo precisavam dos ensaios”, disse José Luiz Escafura, diretor de carnaval do Império Serrano.

    ilha ensaio2019 20“A escola vai levar aproximadamente 3 mil componentes. Estamos ensaiando na Estrada do Galeão, realizando ensaios específicos com as alas e vamos preparados para realizarmos um grande ensaio. O ensaio técnico é a oportunidade de pontuar tempo e a interação da escola com a Avenida. Já para o público é a satisfação de cantar e encantar a Sapucaí”, declarou Dudu Azevedo, diretor de carnaval da União da Ilha.

    Para o diretor de harmonia da Imperatriz, Junior Escafura, o ensaio é importante para testar o canto da comunidade.

    ensaio imperatriz 2019 012“O ensaio técnico na Sapucaí virou um evento muito popular em que os sambistas esperam o ano inteiro para celebrar esse momento. Tecnicamente falando, acho importante para ver o canto e a espontaneidade dos componentes. Deixando claro que o ensaio técnico não pode ser tratado como uma competição, ninguém ganha ou perde o carnaval por causa de um ensaio técnico. Treino é treino e jogo é jogo, mas iremos pra avenida sempre pra fazer um grande ensaio e brindar o público que vai prestigiar. A expectativa é a melhor possível, a escola está com uma energia muito boa, cantando e evoluindo com muita alegria”, afirmou Escafura.