O Museu do Samba realiza neste sábado, 28 de junho, às 14h, o “Encontro Detentores do Samba”, programação gratuita que conta com apoio do Ibram – Instituto Brasileiro de Museus. No evento, o museu carioca vai reunir sambistas das Velhas Guardas de escolas de samba do Grupo Especial, Série Ouro e grupos de acesso da Intendente Magalhães. Já confirmaram presença as seguintes escolas: Beija-Flor, Portela, Salgueiro, Viradouro, Grande Rio, Imperatriz, Unidos da Tijuca, Vila Isabel, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos de Niterói, Estácio de Sá, União da Ilha, União de Maricá, Unidos do Jacarezinho, Parque Acari, Vigário Geral, Unidos de Padre Miguel e Em Cima da Hora.
Foto: Mariza Lima/Divulgação
No formato de roda de conversa, o evento vai discutir o atual cenário do carnaval e do samba no Rio de Janeiro, bem como a participação e valorização das Velhas Guardas no cotidiano das agremiações. No final, a roda de samba do museu comanda a diversão, com um repertório de clássicos do partido alto, sambas de terreiro e sambas de enredo.
A entrada é grátis e dá direito a visitar as cinco exposições em cartaz no Museu do Samba: “Samba Patrimônio”, “A força feminina do samba”, “Aos heróis da liberdade”, “Semba Samba – Corpos e Atravessamentos” e “Patrimônios Negros”. O ingresso deve ser retirado antecipadamente na plataforma Sympla. O Museu do Samba fica na rua Visconde de Niterói, nº 1296, na Mangueira, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro.
O que são “detentores” culturais? – Segundo o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), detentores são pessoas ou coletivos que, por possuírem saberes específicos sobre bens culturais, são os principais responsáveis por sua continuidade e transmissão às futuras gerações. Na vida de uma agremiação, os sambistas da Velha Guarda são os mais legítimos detentores dos fundamentos e tradições deste Patrimônio Cultural Brasileiro que é o samba carioca, com suas escolas, desfiles e rodas. Seus integrantes são os mais velhos, que ocuparam outras funções quando mais jovens, como compositores, passistas, ritmistas, baianas, integrantes de departamentos de harmonia, comunidade, entre outros.
O projeto “Encontro Detentores do Samba” tem uma programação composta por seis encontros com segmentos tradicionais das escolas de samba, entre eles bateria, baianas, passistas e compositores. A primeira edição aconteceu em 3 de maio, com mulheres dos departamentos femininos.
“Candeia já defendia, desde a década de 1970, que a escola de samba não pode ser uma árvore que esquece a raiz, e não tem raiz mais profunda do que a Velha Guarda, formada por mulheres e homens que criaram e dão vida à história e às dinâmicas do samba, sua organização e vida social; por isso, qualquer debate sobre fortalecimento e valorização dos sambistas, do samba e do carnaval não pode esquecer de ouvir e dialogar com este segmento”, afirma Nilcemar Nogueira, fundadora do Museu do Samba e neta do compositor Cartola e de Dona Zica.
“O Museu do Samba é um espaço de salvaguarda da memória do samba e de defesa dos maiores guardiões desta memória, que são os próprios sambistas; não podemos esquecer que foi o Museu do Samba que elaborou o estudo que levou o IPHAN a conceder ao samba do Rio de Janeiro o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e, portanto, é nosso papel advogar pelo fortalecimento deste bem cultural e seus detetores”, finaliza Nilcemar.
SERVIÇO
Encontro Detentores do Samba – Roda de conversa com Velhas Guardas
Local: Museu do Samba
Endereço: Rua Visconde de Niterói, 1296 – Mangueira
Dia: sábado, 28/06/2025
Horário: 14h
Entrada franca, com retirada de ingresso no Sympla
A Unidos de Padre Miguel segue reforçando o seu time rumo a um Carnaval inesquecível em 2026. A mais nova estrela a integrar a escola da Vila Vintém é Mariana Ribeiro, ou simplesmente Mari Mola, como é carinhosamente conhecida pelo público. Mulher preta, bissexual, nascida em São Cristóvão e criada na comunidade do Tuiuti, Mari é um símbolo de resistência, talento e potência feminina no Carnaval carioca.
Foto: Vítor Melo/Divulgação
Com 27 anos, ela carrega uma trajetória marcada pelo amor ao samba. Iniciou sua história nos desfiles ainda criança, aos 7 anos de idade. Aos 18, conquistou seu primeiro cargo de musa do Carnaval. Em 2023, fez história ao se tornar a Rainha do Carnaval Carioca para representar oficialmente a folia mais famosa do mundo. Professora de dança especializada no samba no pé, Mari já levou a cultura do carnaval brasileiro para diversos cantos do país e do mundo.
Em 2025, brilhou intensamente no desfile da Unidos de Padre Miguel como destaque performático, atraindo todos os olhares na Avenida. Sua conexão com a escola foi imediata e arrebatadora, e, para 2026, o convite veio de forma natural: Mari Mola agora assume o posto de musa oficial da agremiação.
“É uma honra receber a Mari Mola na nossa escola. Ela carrega história, representatividade e tem uma conexão genuína com o samba. Acreditamos no poder transformador de mulheres como ela, que inspiram e movimentam a cultura com coragem e alegria”, declarou a presidente Lara Mara.
“Viver o desfile da Unidos em 2025 foi uma experiência transformadora. Senti o acolhimento, o respeito e a vibração da comunidade como nunca. Quando recebi o convite para ser musa, não hesitei. Estou muito feliz e pronta para dar tudo de mim nesse novo capítulo. A Unidos de Padre Miguel tem alma, tem força, e eu me vejo nesse lugar com todo o meu coração”, afirmou Mari.
Em 2026, Mari estreia oficialmente como musa em um desfile que promete emocionar com o enredo “Kunhã-Eté: O Sopro Sagrado da Jurema”, que vai contar a trajetória de Clara Camarão, heroína indígena que enfrentou com bravura os colonizadores no Brasil do século XVII. Enredo de autoria do carnavalesco Lucas Milato.
Segundo Jorge Silveira, a ideia de homenagear Rosa surgiu ainda em 2024, após o falecimento da artista. “Desde o ano passado, quando tivemos a passagem da Rosa, ficamos com uma semente da ideia. O presidente voltou do funeral e falamos sobre a importância que ela tem. Mexeu com todo mundo”, contou o carnavalesco. A decisão foi consolidada após o sorteio da ordem dos desfiles. “Quando o Salgueiro foi consagrado como a última escola a desfilar, entendemos que não podia ser qualquer enredo”, revelou.
O desfile, afirmaram Silveira e Antan, será uma celebração da estética, do lirismo e da brasilidade característicos da obra de Rosa. O ponto de partida da narrativa será a biblioteca da Professora. Cada setor representará um “universo temático” dos carnavais criados por ela. A proposta é oferecer ao público uma “viagem delirante” pelos enredos desenvolvidos por Rosa ao longo de quase 50 anos de carreira.
“Não queríamos fazer simplesmente uma biografia. Queríamos falar daquilo que emociona. Todos nós somos tocados por ela por alguma memória”, disse Jorge Silveira. “O enredo é uma viagem pela biblioteca da professora. Vamos tratar da relação direta e das vezes em que ela tocou o Carnaval com o seu carnaval”, declarou.
Todos os carnavais assinados por Rosa estarão representados de alguma forma no desfile, segundo Leo Antan. O enredista organizou a pesquisa a partir de livros da própria artista, estudos anteriores e mais de quatro mil imagens de desfiles da Rosa, do acervo digital da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). “Listamos os desfiles, organizamos por temas e tentamos entender quais signos mais aparecem nos carnavais dela. A partir disso, construímos o enredo”, explicou o enredista.
Antan destacou também a complexidade do recorte. “Cada um espera alguma coisa. A gente foi naquilo que é mais simbólico e representativo de acordo com a narrativa que vamos traçar, que é apenas sobre a obra da Rosa no Carnaval, que já é riquíssima”, afirmou.
Com a promessa de trazer elementos marcantes da Professora — como o jegue, o guarda-chuva, o leque, os anjinhos barrocos e o polêmico bacalhau —, o desfile do Salgueiro deverá ressaltar a brasilidade dos carnavais de Rosa. “Ela é uma mestra na construção da identidade brasileira por meio dos seus carnavais”, afirmou Silveira. “Vai ser um carnaval genuinamente brasileiro”, completou.
A expectativa na escola é de que a homenagem possa também resultar na conquista do décimo título da história do Salgueiro. “É um caminho perfeito para o salgueirense sonhar com a décima estrela. Se for coroada com uma rosa, vai ser lindo demais”, concluiu o carnavalesco.
O enredo também pretende dialogar com os torcedores das várias escolas por onde Rosa passou. “Ela ajudou a construir a nossa memória e a nossa afetividade”, destacou Silveira, citando que os torcedores da Imperatriz Leopoldinense, São Clemente, Vila Isabel, União da Ilha e Império Serrano vão se identificar com o desfile do Salgueiro em 2026.
O Salgueiro aposta na força simbólica da homenagem e na memória coletiva do Carnaval para emocionar a Sapucaí em 2026. A expectativa é alta para um desfile que, ao encerrar os trabalhos do Grupo Especial, também feche com chave de ouro o ciclo artístico de uma das maiores carnavalescas da história.
No último sábado (21 de junho), a Estrela do Terceiro Milênio revelou, por meio das redes sociais da escola, qual será o enredo para o carnaval 2026. Intitulado “Hoje a poesia vem ao nosso encontro: Paulo César Pinheiro, uma viagem pela vida e obra do poeta das canções” e assinado por Murilo Lobo, a apresentação já se avizinhava como uma grande homenagem a um dos maiores compositores da história da Música Popular Brasileira. O CARNAVALESCO esteve presente na explicação do enredo para os compositores específicos em entrar na eliminatória de sambas-enredo da agremiação na última terça-feira (24 de junho) e conversou com alguns nomes importantes para a produção do desfile de 2026 da escola do Grajaú.
Toda ideia tem um início, algo que aconteceu para que ela pudesse ser avaliada internamente – e, uma vez aprovada, desenvolvida. De acordo com Murilo, o início do enredo sobre o compositor veio com o que não deixa de ser uma homenagem pessoal: ao ouvir uma canção idealizada por ele: “Essa história é bem curiosa. Eu estava ouvindo ‘As Forças da Natureza’, e eu, prestando atenção na letra, Pensei que essa música é um enredo por si só. Ao ver a composição, vi que era uma música do João Nogueira e do Paulo César Pinheiro. Construi um pouquinho mais sobre o Paulo César Pinheiro e comecei a aprofundar a pesquisa, comecei a ver tudo que ele tinha composto e fiquei muito encantado Me perguntou como eu não sabia que ele tinha escrito tudo isso”, relatou.
Carnavalesco Murilo Lobo
Ao longo da explicação, aliás, Murilo apresentou um vídeo produzido com diversas músicas que foram compostas pelo artista – que foi palmilhada com alguns fatos marcantes da vida de Paulo César Pinheiro. Focando no carnaval, ele compôs, juntamente com Mauro Duarte, “Portela na Avenida” – que, mais que sucesso, tornou-se um hino da azul e branca de Madureira na voz de Clara Nunes. Ele também compôs, ao lado de João Nogueira, os primeiros cinco sambas-enredo da história da Tradição – e, com eles, a agremiação de Campinho saiu do quarto pelotão no carnaval carioca até chegar, pela primeira vez, ao Grupo Especial. Foi com o mesmo João Nogueira com quem ele compôs “Espelho”, dos grandes sucessos da carreira, e outras tantas canções. Existem, também, parcerias com outros e outras grandes sambistas – como Beth Carvalho e dona Ivone Lara. Também foi apresentada uma bibliografia utilizada pelo carnavalesco para construir o enredo.
Confecção
Depois do primeiro contato com a ideia e com ela já desenvolvida e explicada, Murilo começou a destacar, em entrevista, quais eram as informações prévias que ele tinha do que, à época, poderia ser homenageado: “Eu lembrava que ele era casado com a Clara Nunes, mas e além disso? Tem toda uma história além disso. Ele se casou e ficou durante oito anos com a Clara Nunes, mas ele tem setenta e poucos anos. Ele se casou com a Luciana depois e tem tem quarenta anos de um casamento. Tem filhos músicos! Tem muitos parceiros incríveis. Vendo tudo isso, percebi que era um enredo. Isso aqui é uma pérola: traga esse cara, à luz do destaque, que ele precisa ter como o Rio de Janeiro não fez isso antes”, explicou.
O carnavalesco da agremiação do Grajaú aproveitou para exaltar o poeta: “Talvez, vivo, seja o grande nome como compositor brasileiro, com uma obra gigantesca. O mais interessante é que a história é bonita, também. A abertura da escola, com esse encontro dele com a poesia, é muito mágico. O cara, com 13 anos, fornecendo a valsa ‘Viagem’. É muito lindo. Tudo que vai acontecer na vida dele, ele se coloca à disposição do trabalho árduo da criação, é lindo. Ele diz que se senta todo dia numa mesa, põe uma folha em branco e espera a inspiração vir e se coloca a escrever. Por isso que a obra dele é gigante: são 2.400 canções, 1.200 gravações, livros, teatro.
Um pouco além
Além da óbvia homenagem a Paulo César Pinheiro, o carnavalesco destacou que também há espaço para que toda a aula seja homenageada: “A coisa mais gostosa era poder fazer esse link com os compositores: eu me toquei e falei que a gente não olha para os compositores. A gente sempre olha todos os intérpretes. A gente guarda as canções para os intérpretes. Eu realmente preciso fazer um enredo em homenagem aos compositores – na pessoa de uma, mas para compositor os intérpretes. Quero chamar a atenção das pessoas para isso”, detalhado.
Susto inicial
Se o enredo recebeu diversos elogios a partir do momento em que foi lançado, a diretoria da Estrela do Terceiro Milênio teve que ser convencida. Gilberto Rodrigues, o Giba, retornando ao posto de presidente da agremiação, resumiu e deu crédito para o carnavalesco: “Essa confusão é do Murilo! O Murilo gosta dessas confusões. Ele apresentou esse enredo e mais alguns para a gente. De imediato, não me chamou a atenção. Quem era ele? Busquei entender. E, no primeiro livro que eu peguei, nas três primeiras páginas que eu li, eu me encantei. Não é possível que esse cara tem mais de mil e duzentas músicas, compôs não sei com quem. A gente escuta tanta música, eu já chorei com tanta música desse cara e não sabia que era ele apaixonei na hora Não quero nem ver o enredo em si, mas vai ser esse aqui E eu acredito, tenho plena certeza que vai ser um grande carnaval.
Gilberto Rodrigues, o Giba
A direção de carnaval teve fatos semelhantes: “Foi bem parecido com o que aconteceu com o presidente, de fato. Depois da primeira ocorrência, a gente começou a entender o enredo melhor. Hoje, a gente entende hoje que é um enredo espetacular. Tem muita história, tem muita música, mexe com a gente quando você começa a ouvir a musicalidade do Paulo César. Eu acho que a gente está indo para um caminho muito bom, um caminho correto e estamos bem felizes. Com essa explicação toda, com todo esse material, ficou melhor ainda”, comentou Carlos Pires, o Carlão, um dos diretores de carnaval da escola.
Carlão divide o posto com Devair Francisco, que teve uma primeira impressão mais positiva: “Eu também tive uma excelente acessibilidade do enredo. Até mesmo pela ideia do Murilo: fazer um tributo aos compositores. Ninguém é mais que correto para essa homenagem que a figura do Paulo César. A gente pegou essa ideia com muita propriedade. Para o enredo, o desenvolvimento dele que é o mais importante: não é apenas o título, mas sim o desenvolvimento dele e a forma que vai ser apresentado esse enredo na avenida”, afirmou.
Carlos Pires, o Carlão, e Devair Francisco, diretores de carnaval
Aposta, não retorne
Em 2025, a Estrela do Terceiro Milênio desfilou com o enredo “ Muito além do Arco-Íris – Tire o Preconceito do caminho que nós vamos passar com o Amor ”, um manifesto contra a intolerância e valorizando homossexuais, transsexuais e outras minorias embarcadas na sigla LGBTQIA+.
Antes, entretanto, os enredos fizeram exaltações: mulheres, humor e Vovó Cici (esta última por meio do Mito da Criação contado por ela) foram as apresentações temáticas em 2022, 2023 e 2024, respectivamente.
Quando questionado pela reportagem se o desfile de 2026 será um retorno a tal característica, o carnavalesco deu uma nova visão: “Foi uma aposta vir com Paulo César Pinheiro, na verdade. Era preciso mostrar para eles que Paulo César Pinheiro estava na vida deles e eles não sabiam. Foi a primeira coisa diferente do que aconteceu com as outras questões que a gente trouxe. Eu gosto muito da Milênio pelo fato de a gente poder falar de coisas que nos tocam o coração. Nessa jornada, nesse tempo que eu estou aqui, que eu já da coruja, eu já falei da coragem, eu já falei da arte transformando a vida de um povo como é em Parintins, eu falei das mulheres, eu falei do Mito da Criação para falar sobre o preconceito religioso.
Grande desafio
A explicação para os compositores foi realizada de maneira bastante fluida, contando um pouco da vida do homenageado – e, também, mostrando um pouco do cancioneiro de quem é o tema do desfile. Apesar da facilidade de explicação, Murilo destacou que saber quais seriam os pontos envolvidos no desfile foi algo custoso: “Não, não foi fácil superar esse desafio. Deu muito trabalho! A biografia mais os livros que ele escreveu somavam mais de 700 páginas, com muitas coisas interessantes, com muitas vieses descobertas. Ele é um tipo de enredo que vai poder ser feito posteriormente no Rio de Janeiro, pegando outras coisas que eu não peguei também”, afirmou.
O profissional prossegue: “Tinham muitas coisas muito interessantes na vida dele e eu agrupei por essa viagem. Me chamou muita atenção essa capacidade dele de olhar o país, de olhar o povo do país, de olhar a cultura do país e de conseguir se expressar através dela como se do lugar fosse. Isso é muito lindo e muito raro de acontecer. As pessoas normalmente são regionalistas. Você compõe para aquele universo, dentro daquele tipo de ritmo. E ele é um cara que conseguiu abranger todo um país. Ele desenha, com a obra musical dele, os limites de um Brasil. Isso é maravilhoso. Eu quis falar sobre isso. Eu quis passar em partes importantes da vida, mas não só de uma forma cronológica, mas de uma forma que teve sentido, mas foi um trabalho insano fazer isso.
Próximos passos
Ao entrevistar Murilo, a reportagem teve acesso a uma informação importante em relação aos próximos dados envolvidos na escola: “A gente tem um planejamento diferente do que foi o do ano passado. O enredo LGBTQIA+ tinha uma questão de se proteger um pouco, de segurar um pouco a informação. Agora não é o caso. A gente está programando uma festa de pilotos e um grande show tributo em homenagem a ele – especificamente no mês de setembro, depois da grande final de samba-enredo. Essas primeiras devem ser as primeiras imagens do que vai ser o nosso carnaval, o pessoal vai começar a ver a partir daí. Eu já estou desenhando figurino, já estamos fazendo alegorias. Agora o trabalho vai para frente.
Carlão trouxe dados importantes para a comunidade ficar atenta: “A gente está finalizando o nosso cronograma. Em relação a samba-enredo, a final está programada para o dia 06 de setembro – que é um sábado. A gente começa agora, no começo de julho, a atender os compositores – são três rodadas de atendimento. Depois, a gente faz o nosso laboratório. A partir do dia 05 de agosto, da entrega o samba, a gente faz o nosso laboratório interno. Depois, tem quatro eliminatórias. Ou melhor: nós vamos fazer uma apresentação, uma grande roda de samba depois tem três apresentações e a final. A gente entende que esse tempo é um tempo suficiente para a gente conseguir entender bem o caminho que a gente quer chegar, com um bom samba, a gente provavelmente vai ter um evento de tributo ao Paulo César.
Rumo ao topo
Em 2025, a Estrela do Terceiro Milênio ficou na oitava colocação no Grupo Especial – melhor resultado no primeiro pelotão da história da escola. Nada mais natural que a agremiação busque, agora, subir alguns degraus – o que, automaticamente, significaria que a escola chegaria à metade superior da tabela do primeiro pelotão do carnaval paulistano.
Devair crê que é possível ir ainda mais longe: “Eu vou ser honesto: eu já tinha essa expectativa de chegarmos ao primeiro lugar, nesse último carnaval. Essa era a minha expectativa bem particular conversada com o meu parceiro na função. E eu acho que nós conseguimos, até certo ponto, cumprir isso. Foram apenas questões de detalhes os motivos pelos quais o objetivo não foi alcançado. Para o próximo carnaval, essa régua alta será sempre constante. Eu participo do carnaval sempre com esse objetivo, sempre com o objetivo de ser campeão. Eu tenho muita tipo quanto a isso, já consegui várias vitórias e não deixo cair sarrafo de jeito nenhum”, finalizou.
A Unidos de Padre Miguel tem uma nova estrela em seu elenco para o Carnaval 2026. A influenciadora digital e empresária Lorena Maria foi anunciada como nova musa da escola e já promete conquistar o coração da comunidade e do público na Sapucaí. Conhecida por sua presença marcante nas redes sociais e por ser esposa do cantor MC Daniel, Lorena estreia no mundo do samba em grande estilo, aceitando o convite da presidente da escola, Lara Mara, para integrar o desfile oficial da vermelho e branco da Vila Vintém.
“A chegada da Lorena é um presente para a nossa escola. Ela é carismática, talentosa e representa a força da mulher brasileira. Temos certeza de que será uma musa marcante e muito querida por toda a comunidade”, destacou Lara Mara.
Animada com o novo desafio, Lorena também compartilhou sua emoção com o momento:
“Estou muito feliz com essa novidade, lisonjeada demais por fazer parte da UPM e receber o convite da Lara Mara, exemplo e força de mulher. Estou muito ansiosa para os próximos passos! Vou me dedicar ao máximo e dar tudo de mim. Sou apaixonada pelo Carnaval, sempre foi um dos meus sonhos e metas. E a potência de representar tantas culturas do nosso país me deixa muito feliz mesmo. Muito obrigada pelo carinho e respeito”.
A musa fará sua estreia no desfile que trará o enredo “Kunhã-Eté: O Sopro Sagrado da Jurema”, que vai contar a história de Clara Camarão, heroína indígena potiguara que lutou com bravura contra a invasão holandesa durante o Brasil colonial. O enredo é assinado pelo carnavalesco Lucas Milato.
O Boi Vermelho da Zona Oeste segue firme em sua caminhada de volta ao Grupo Especial, apostando em um time forte, engajado e repleto de representatividade.
Enredo: “Tamborzão – O Rio é baile! O poder é black!”
Logo do enredo da Ponte para o Carnaval 2026
O anoitecer
“A partir de agora, o baile vai começar…”
Com todo respeito, nosso mestre de cerimônias vai chegando para não deixar ninguém parado nessa jornada ritmada. Cria das batucadas, diretamente de São João, MC Meriti é o cara! É ele quem apresenta o nosso estilo e narra a história enraizada na cor, pulsante nas veias. “Pode chegar, pode chegar”, já anunciando que a regra é dançar.
Então, “liberta, DJ”!
A noite é o nosso palco. Quando a escuridão toma as ruas, quando a cidade se deita, nós fazemos festa. Plug-in na tomada, eis a nossa vinheta! Por aqui, “o som é acima do normal”! As quebradas são um reflexo do céu: são diversos astros, estrelas, cometas que brilham em forma de globo de espelhos enquanto se movimentam ao som do paredão. Nosso MC manda o papo que o subúrbio é luminoso, emana energia sagrada, carregada de axé. Quando o chão é riscado no beat, todos os nossos ancestrais riscam junto porque nosso tempo é como as curvas do quadril que se espirala ao ir e voltar. O tempo “desce, sobe, empina e rebola”!
Nos bailes, somos majestades! Defendemos tronos e coroas porque nosso povo é real desde a África. Nossa produção é sonora: cantamos e dançamos para existir, nosso corpo precisa pulsar, o movimento nos conecta ao extraordinário.
Nossos antepassados dançam ao som de tambores assim como nós, então não abrimos mão da música. E nosso ritmo negro incomoda!
Tá ligado quantas vezes já tentaram abafar nosso grito? Sempre tentaram nos parar, mas a gente amplifica a mensagem em speakers porque não deixamos de lutar. “Afronta, é guerra” desde o couro do tambor às fiações dos mixers!
Nossa festa é essa porque nossos ancestrais assim começaram: requebrando. E é no break que a gente eletriza a nossa negra filosofia. Bateria macumbeira em alta voltagem! Visão de cria em poesia marginal nas melodias da insurreição.
Nosso fundamento africano é combinado às batidas frenéticas de um tambor de garrafa, uma artesania distorcida e acelerada com vozes a 150 BPM.
Nosso sistema é do barulho porque nossos ancestrais são revolucionários.
Kizomba! O baile é a nossa constituição.
A madrugada
“Yeah, brother”! Alta madrugada e MC Meriti continua no comando, agitando o templo dos nossos compassos. Ressoa na pista a banda que faz você entrar em uma outra vibe! O toque dos atabaques rola na atividade para “que permaneça essa tranquilidade na comunidade”!
Com o microfone na mão, ele solta o verbo, fala cantando e canta falando, numa montagem misturada que define a estética. Nossa percussão é uma ponte do que a periferia foi e do que ela é, e todo baile é um inventário musical.
Nosso sistema tem contradições porque “tristeza e alegria aqui caminham lado a lado”, mas a gente só quer ser feliz e andar sossegado pelo complexo, “ô, ô”.
Nossa estrutura tem as vibrações da umbigada do lundu que aqui chegou e que nos leva nessa “dança sensual que faz geral descer”. Ai, ai, nosso procedimento tem a vida dos volteios buliçosos pra mexer com tudo mais, então continuamos maxixando pelos fandanguassus que acontecem nesse território. E quem não cai em trololó, trololó? “Wow”! E o MC vai avisando que a gente se sente “so good, so good”, porque nossa alma ultrapassa fronteiras e está interligada pelo Atlântico Negro.
Nosso cumprimento é uma ginga de mãos que mostra que o poder vem da nossa união. “Soul Black Power, porra!” é o grito que sai da garganta de Meriti. “Ha”! Nosso volt mix vem das batidas futuristas de Afrika Bambaataa, das frequências graves e sedutoras de uma eletro-voz capaz de arrepiar todas as notas do teclado. “Get up”!
De Áfricas e de Blacks, nosso Rio é negro da cor da noite desde as primeiras batucadas até ao máximo de watts de potência que ecoa pelas caixas de som. E na composição dessa identidade conduzida por nosso MC, a revoada é companheira de baile. Tá suave fluir, beijar e “amar como ama um black”! “Oh, yeah”! Nossa organização é coletiva para enaltecer a beleza negra, o orgulho estiloso, o cabelo que coroa e a roupa que ascende.
Nosso baile é um negro movimento pra comunidade que rala pesado a semana inteira para ter um pouco de diversão entre os seus. Nosso lazer é um ato político! Em clubes e agremiações, nossas equipes de som botam pra jambrar porque esse é o nosso mandamento.
O baile de Meriti, na quadra da nossa escola, segue para a mente ficar numa boa. As ondas que curtimos nas rodas reverberam os toca-discos e mixers de Cash Boxes e Furacões!
Nossa cultura circula como os giros de um disco de vinil em um Grand Prix, e o vencedor é o Black. É um “Tornado” de sensações! O “Dom” é atemporal!
O baile é a nossa paixão!
O amanhecer
“Vai voltar depois das horas” e nosso tempo sincopado vai no “pum-pá-pá-pum-pá”. Lá vem o sol e o calor tá de matar. MC Meriti manda aumentar o volume que só está começando: “tá pegando fogo, tá pegando fogo… mas que fogo gostoso”! O fogo é uma energia ancestral!
O baile segue sem hora pra acabar. Nosso set tem a luz, o calor, a cor e os movimentos das chamas fitadas na pele, na carne e nos ossos. Entre os corredores da galera, nosso corpo é embrasado e embrazado!
O espírito que ecoa por baixo de viadutos, pelas ruas do morro e pelas praças da cidade, vai num transe mais lento que elege o nosso charme. Em uma mixagem de romance, dá até pra namorar no baile, mas sabendo que “um lance é um lance”.
Nosso balanço é uma catarse de bateria eletrônica e efeitos sonoros que faz os atabaques serem sintetizados no tamborzão que continua rolando enquanto estiverem descendo até o chão. É esse loop de matrizes afro-brasileiras que garante que o nosso tambor vai, vai, vai e “não para, não para, não”.
Nosso bonde segue o rebolado que queima pelas pistas de baile como o tesão de uma lacraia. No “vrááá!” dos leques, abanamos o braseiro para deixar arder. Servindo excelência negra, nosso método é respeitar o pancadão que invade os circuitos da alegria. Esse beatboxing é putaria!
Nossa moda é proibidona porque mostra a realeza e a realidade da favela. Do Funk Brasil ao Funk Generation, o dia a dia do baile ecoa em alto-falantes mundo afora. Aqui toda gaiola é um estúdio de portas abertas pra liberdade! Nossa ordem é digital, toma conta das redes e transforma os paredões em áudios cibernéticos que espalham nossa negritude.
A regra é essa, nossa arte é nossa arma. Nosso manifesto é sério como toda festa! Tentaram nos moldar para um estado que nos mata, mas dançamos para viver. A cada “trá, trá, trá!”, respondemos com “tum, tum, tum!”. Nossa disciplina é do corpo e do povo, e se pobre tem que trabalhar, também tem que se divertir.
Nosso esquema tem escala na mesa do DJ, nosso ponto é batido numa tremidinha, numa paradinha, no movimento de uma sanfoninha, no aquecimento de uma maravilha. É seis batidas por uma respirada!
O baile é a nossa instituição! E pra quem questionar, MC Meriti é “patente alta”, autoridade e tá dado o recado:
“o Rio é baile e o poder é black!”
GESTÃO: GUSTAVO BARROS E TIÃO PINHEIRO
CARNAVALESCO: NICOLAS GONÇALVES
ENREDISTA: CLEITON ALMEIDA
Engana-se quem pensa que o carnaval acontece somente de dezembro a fevereiro. Fazendo jus à nomenclatura “escola de samba” a Unidos do Porto da Pedra realiza nesta quinta, 26 de junho, mais um encontro de saberes dentro do projeto Sambando com o Tigre. A oficina de samba no pé, que mensalmente leva um convidado para as aulas, terá a participação especial de Maryanne Hipólito, musa dos Acadêmicos do Salgueiro, falando um pouco sobre sua trajetória e mostrando porque é uma das mais requisitadas sambistas do carnaval.
O encontro é gratuito e começa às 20h. Interessados em participar do projeto, podem fazer sua inscrição no dia das oficinas que acontecem toda quinta-feira.
“Muito mais do que aprender ou lapidar a arte do samba no pé, o projeto Sambando com o Tigre tem a proposta de empoderar os nossos alunos. É um momento em que a gente mostra a parte técnica, mas também conta um pouco sobre nossas experiências e mostra que é possível tornar-se um passista de expressão se houver dedicação e disciplina. Trazer convidados de outras escolas é uma forma de homenagear nossos colegas, valorizar o segmento e confraternizar”, diz Renato Metello, que divide com Pâmella Nascimento e Caro Portugal, o comando da ala.
A quadra da Porto da Pedra fica na Travessa João Silva, 84 – Porto da Pedra.
Sempre atento às demandas sociais de sua comunidade, o Instituto Imperatriz Leopoldinense segue investindo nos projetos para a população do Complexo do Alemão e de todas que compõem a região da Zona da Leopoldina. Por meio da educação, esporte e cultura, a instituição disponibilizou novos horários e modalidades para crianças e adultos interessados.
Agora, o Instituto Imperatriz Leopoldinense conta, em vários turnos, sempre às terças e quintas, com aulas de balé, Jiu-Jitsu, Zumba, funcional e alongamento, além de samba no pé. As inscrições estão abertas, e os documentos necessários são: cópia da identidade e CPF dos responsáveis e das crianças, comprovante de residência, declaração escolar atualizada para maiores de 4 anos e foto 3×4.
O presidente João Drumond destacou a ampliação das atividades e afirmou que outras modalidades serão implementadas ainda neste segundo semestre.
“Nos alegra muito atender essa que era uma antiga demanda da nossa comunidade. Promover a inclusão social por meio do Instituto Imperatriz, com atividades que fazem diferença no dia-a-dia dos moradores, onde a maioria nunca teve acesso a serviços básicos da sociedade, motiva ainda mais a continuar a ampliação dos nossos projetos. O balé para as crianças já está consolidado, e agora vemos adultos realizando sonhos que não conseguiam realizar na infância. Os alunos do Jiu-Jitsu já estão competindo, ganhando medalhas. Então, estamos investindo no hoje para que todos colham frutos no futuro”, afirmou João.
No início de junho, sete atletas de Jiu-Jitsu, moradores dos Complexos do Alemão e da Maré, e apoiados integralmente pelo Instituto Imperatriz, competiram no Campeonato Brasileiro Kids da modalidade, em São Paulo, onde faturaram quatro medalhas.
Para mais informações sobre vagas e inscrições, os interessados devem procurar a quadra da Imperatriz Leopoldinense, que fica na Rua Professor Lacé, 235, em Ramos. Ou entrar em contato pelo Instagram @institutoimperatriz.
O Instituto Imperatriz Leopoldinense é uma entidade sem fins lucrativos, que tem como finalidade única promover cidadania, empatia, oportunidade e amor ao próximo.
No próximo sábado, a quadra do Império Serrano, em Madureira, será palco de um momento histórico: 30 casais LGBTQIAPN+ oficializarão suas uniões civis em uma grande cerimônia coletiva, marcada por emoção, respeito e diversidade em comemoração ao Dia do Orgulho. A segunda edição do casamento faz parte do projeto “Festa do Orgulho e Casamento LGBTQIAPN+”, realizado em parceria com a ONG Central Única de Produções Artísticas. A celebração começa às 19h e promete transformar a quadra do Reizinho em um espaço de afeto, visibilidade e conquista de direitos.
A proposta do projeto é fortalecer os laços sociais e culturais da comunidade LGBTQIAPN+, promovendo inclusão e visibilidade em uma data simbólica. A iniciativa contará com uma programação especial, voltada exclusivamente para convidados dos casais. Responsável pelo Departamento Comunitário do Império Serrano, Josimar Viana destacou a importância social da ação:
– Este é um projeto construído com responsabilidade e compromisso social. Pensamos em cada detalhe para garantir um momento digno e respeitoso, que celebre o amor e a cidadania dessas pessoas – disse Josimar.
Com entrada totalmente gratuita para os participantes, a celebração foi viabilizada por meio de parcerias com instituições e apoiadores da causa, como a Supervia. Os casais não terão qualquer custo com a cerimônia ou a recepção.
– Desde o início, nossa prioridade foi garantir que nenhum casal pagasse nada. Fomos atrás de quem acredita neste sonho conosco e conseguimos unir esforços para realizar uma celebração à altura do significado deste dia – acrescenta Josimar.
O evento contará com missa ecumênica, apresentação da Banda da Guarda Municipal, shows ao vivo, espetáculo de transformismo e atrações comandadas pelos segmentos do Império Serrano. Segundo Viana, a programação foi pensada para destacar a potência da cultura, da arte e da resistência da comunidade LGBTQIAPN+.
– Queremos mostrar que o samba também é um espaço de acolhimento e de valorização da diversidade. O Império Serrano tem história com as lutas do nosso povo e se orgulha de seguir firme ao lado de iniciativas como essa – concluiu o diretor.
Entre os padrinhos e madrinhas confirmados estão figuras importantes do carnaval carioca, como Quitéria Chagas (rainha de bateria do Império Serrano), Andrea Andrade (rainha de bateria da Porto da Pedra), Lara Mara (presidente da Unidos de Padre Miguel), Shayene Cesário (musa da Portela), Bianca Monteiro (rainha de bateria da Portela), Raíssa Oliveira (musa da Beija-Flor), além de Flávio França, presidente do Império Serrano, e da ministra de igualdade racial Anielle Franco.