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Série Barracões da Série A: Porto da Pedra aposta no matriarcado e simbolismo das baianas

Por Diogo Sampaio

Consideradas como as matriarcas do samba, as baianas são figuras emblemáticas, de grande representatividade para cultura e religiosidade afro-brasileira. No carnaval de 2020, a Porto da Pedra irá narrar a história dessas mulheres negras, que desembarcaram como escravas no cais do porto de Salvador, para posteriormente ganharam as ruas da cidade soteropolitana com seus tabuleiros, repletos de quitutes, até a vinda delas para o Rio de Janeiro, já depois de livres, trazendo seus ritos e ritmos para então capital do país.

Responsável por desenvolver o enredo “O que é que a Baiana tem? Do Bonfim à Sapucaí”, Annik Salmon recebeu a reportagem do site CARNAVALESCO no barracão da vermelha e branca de São Gonçalo. Durante conversa, a artista contou como foi sua chegada à escola. Na ocasião, a Porto da Pedra já havia definido a temática do enredo sobre as baianas e divulgado uma primeira sinopse, elaborada pelo historiador Alex Varela.

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“A chegada na Porto da Pedra foi boa, satisfatória. Gostei muito quando soube que ia falar sobre baianas: baiana do acarajé, quituteira, baiana do carnaval… E eu e o Alex Varela já trabalhamos juntos na Vila em 2006, ele escrevia para o Louzada (Alexandre Louzada, carnavalesco), de quem eu era assistente na época. Então, ele foi bem solícito, conversamos sobre toda a proposta do enredo, me passou tudo, mas ele só escreveu o primeiro texto. Toda a parte de defesa, de divisão de setores, de ala, de carro, foi comigo. Existia uma temática, um texto quando eu assumi, que foi divulgado na internet, mas que a gente mudou. Eu aproveitei bastante coisa do que ele escreveu, mas eu dei mais a minha cara. A sinopse que ele fez no início, estava dividida por setores, por exemplo. Eu refiz como texto único, que eu gosto mais. Quando ele escreveu, fez pensando em cinco alegorias, e a gente só têm direito a três, além de um tripé. Portanto, tive que mudar isso para se encaixar dentro do queria falar, enfatizar o que eu acho que é mais importante”, relatou.

Primeiro trabalho solo e retorno às divisões de acesso

O desfile da Porto da Pedra de 2020 será o primeiro trabalho solo de Annik Salmon na carreira. Até o ano passado, ela era membro integrante da comissão de carnaval da Unidos da Tijuca, no Grupo Especial. Para o site CARNAVALESCO, ela falou das diferenças entre trabalhar sozinha e em equipe.

“Trabalhar em comissão é aquilo: são vários artistas, com várias ideias, vários pensamentos, várias áreas estéticas, que tem de se juntar e entrar em um acordo para desenvolver o desfile. Então, a gente fica algo misturado. A prova disso é o ano passado, que teve muita mistura de estética diferente. Os anos que tiveram mais unidade foram no início, que eram com o Mauro (Quintães, carnavalesco) na comissão, uma pessoa ótima, que tem ideias muito boas. Já o ano do Miguel Falabella, em que ficamos eu, o Marquinhos (Marcus Paulo, carnavalesco) e o Hélcio (Paim, carnavalesco), foi o mais fácil de trabalhar, de criar, pois nós temos um entrosamento muito bom. Mas aquilo também, tem que ter a opinião de todo mundo e tal. Você tem que saber ouvir e tem que saber receber as ideias. Já quando está trabalhando sozinho, é o que você pensa e acabou. É claro que também existem profissionais que trabalham contigo, que podem vir a te dar uma ajuda. Quando as ideias são ótimas e vem para solucionar um dilema, eu sou a primeira pessoa a aceitar. Adoro gente participando”, afirmou.

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Anos antes da passagem na Unidos da Tijuca, Annik já havia tido um trabalho como carnavalesca, em outra comissão. Liderados pelo experiente Alexandre Louzada, ela, Carlos Carvalho, Ana Zerbini, Marlúcia Cruz e Lilian Walter Nicolau assinaram o desfile do Cubango de 2007, sobre o município de Paracambi, no extinto Grupo A, atual Série A. Na entrevista, ela comparou essa experiência com a atual.

“É muito diferente, porque lá quem assinava mesmo era o Louzada. Mesmo se tratando de uma comissão, tudo tinha que ter o aval dele. Na questão estrutural do grupo era até melhor na época. O barracão lá da Cubango era mais estruturado, tinha espaço recuado que dava para fazer escultura de fibra. Aqui tem que trabalhar tudo junto, é um aperto”, avaliou.

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Para carnavalesca, além da estrutura, outra diferença encontrada nesse retorno ao grupo de acesso foi referente a questão financeira. Por conta da falta de verba, gerada pelo corte completo do repasse da Prefeitura do Rio, Annik disse ter tido que apostar na reciclagem de materiais e na reutilização de esculturas para conseguir confeccionar o carnaval da Porto da Pedra.

“O grande lance, na Série A, é você ter a visão de reciclagem. É você olhar uma lata e ver que ela pode virar de repente um banco, por exemplo. Todo nosso trabalho aqui foi feito assim, porque a gente não tem muito recurso. Vamos fazendo e se adaptando com o quê tem. E mesmo assim, quase tudo que eu estou usando aqui de material, eu já usei na Tijuca. O diferente é reaproveitar as esculturas que já existe e transformá-las. No abre-alas, a gente tem quatro esculturas de mulheres que estavam largadas no barracão da Renascer. O corpo delas era verde, pintei para que ficassem com a pele negra e agora vai ser minha Iansã. Tenho três baianas no carro dois que estão com tabuleiro na cabeça, que são esculturas que já passaram por várias escolas, mas que só tinha a parte de cima do tronco. Adicionei uma saia e virou uma escultura enorme. Uma boneca que já rodou por vários lugares, a gente faz uma maquiagem, coloca um tabuleiro para turbante, veste e modifica. Dessa maneira eu nunca tinha trabalhado”, explanou.

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A mesma política de reaproveitamento também foi empregada na questão estrutural dos carros. No entanto, Annik frisa que houve algumas mudanças pontuais, visando crescer o tamanho e a volumetria das alegorias da escola, em comparação aos últimos anos.

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“Nossas alegorias não estão gigantes, mas estão do tamanho que tinha possibilidade, que a gente podia criar. Não tinha como a gente fazer chassis ou construir muitas coisas novas. Então aonde eu pude crescer, eu fui crescendo. É o caso das baianas de acarajé do segundo carro. Tem também uma escultura no último carro, que já tinha uma proporção grande, que eu mantive e estou crescendo ainda mais com elementos, acessórios”, explicou.

E o tigre?

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Indagada sobre o símbolo maior da agremiação, Annik não revelou muitos detalhes de onde e como virá o tigre. Mas avisou que será de uma maneira nunca antes vista na Marquês de Sapucaí. “Vai ser surpresa, mas posso adiantar que o tigre nunca veio dessa forma. Vai ser um diferencial, algo totalmente novo”, declarou.

Entenda o desfile

Quarta escola a desfilar na sexta-feira de carnaval, a Unidos do Porto da Pedra irá para Avenida com 21 alas, três alegorias (sendo o abre-alas acoplado) e um tripé. E apesar das mudanças no regulamento da Série A, a apresentação do enredo “O que é que a Baiana tem? Do Bonfim à Sapucaí” será dividido em quatro setores, como detalhou Annik Salmon para o site CARNAVALESCO.

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Setor 1: “O primeiro setor é das negras de ganho até as quituteiras baianas É nesse setor que falamos como é que as negras de ganho viraram quituteiras. São essas escravas que vieram e chegaram no Porto de Salvador, e ainda escravizadas, saíram às ruas para vender na condição de negros e negras de ganho, até se tornarem vendedoras de acarajé. Então, tem esse acarajé oferecido para o santo”.

Setor 2: “O segundo setor é a diáspora baiana e a pequena África do Rio de Janeiro. É uma parte ainda de Salvador, que são essas baianas que têm a proteção de Santa Bárbara, que participam da festa da lavagem das escadarias da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, tudo isso vindo para o Rio de Janeiro. É quando os negros já livres chegaram aqui, sobre a proteção de Oxalá. A gente fala da Tia Ciata, também baiana, quituteira, que nas festas de terreiro dela acontecia tudo, e foi aonde surgiu o samba. Então, fechamos esse setor com essas festas na casa da Tia Ciata, além da festa na Igreja da Penha”.

Setor 3: “O terceiro setor já são as taieiras e as procissões religiosas na cidade do Rio de Janeiro. As taieiras vinham na frente das procissões com uma dança, com um tipo de roupa que lembravam as baianas. Isso se comparava muito com as baianas do carnaval. E essas procissões sempre tinham a participação das baianas. O setor inteiro é uma grande procissão”.

Setor 4: “O quarto setor da escola são as alas de baianas das escolas de samba e a lavagem da Marquês de Sapucaí. Nesse setor, a gente vem falando dos homens que no início se vestiam de baianas, as baianas modernas, tem uma ala de passistas internacionais para representar as águas da Lavagem da Sapucaí e a última ala, em frente a última alegoria, são as baianas tradicionais representando essa lavagem da Marques de Sapucaí, homenageando todas as agremiações”.

Inocentes lança selo pelos 20 anos de Jaçanã como porta-bandeira

Para celebrar os 20 anos de Jaçanã Ribeiro como porta-bandeira, a Inocentes de Belford Roxo criou um selo comemorativo para marcar esse acontecimento importante na vida da porta-bandeira e na história da própria agremiação.

O selo foi confeccionado pelo designer Leandro Santos e retrata algumas expressões de Jaçanã, durante passagens na Avenida Marquês de Sapucaí.

“É muito importante esse momento marcante, na trajetória dessa mulher guerreira, determinada e dona de total domínio da dança. Nos sentimos muito felizes por tê-la em nossa escola, pelo quinto ano consecutivo. Sempre ao nosso lado nos bons e mal momentos com um sorriso e uma palavra de incentivo. Pensamos em várias maneiras de homenageá-la, mas queríamos algo que ficasse eternizado. Logo surgiu a ideia do selo, que foi aprovada por todos e que para nós representa todo o carinho que sentimos. Pedimos a todos que a aplaudam, pois apesar de passar por muitos obstáculos na vida, ela nunca deixou de acreditar na arte do bailado da porta-bandeira. Parabéns, Jaçanã pelos 20 anos de amor ao samba” declarou o presidente da Inocentes, Reginaldo Gomes.

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O amigo e mestre-sala Carlos Eduardo Daniel, o Moskito falou da sua história com a amiga Jaçanã.

“Nossa história começou em 2002, no Dia do Mestre-sala e Porta-bandeira, quando recebi um convite para ir no Império Serrano em uma comemoração. Chegando lá fui conduzido a um camarote em que estava a primeira porta-bandeira da Alegria da Zona Sul, Jaçanã Ribeiro com sua filhinha de apenas quinze dias. Ela foi ao meu encontro e perguntou se eu era o famoso Moskito, pois eu seria seu par na Alegria. Eu ri, pois na época o Salgueiro não abria mão da exclusividade. Mas na verdade acabei indo realmente dançar com ela e nasceu uma amizade eterna. Batizei sua filha Victória e Jaçanã mais tarde batizou minha filha Maria Eduarda, desde então nunca mais nos largamos. Tomamos muitas vitaminas de banana, na padaria Santo Amaro, ficamos várias vezes na madrugada esperando ônibus, dividimos muitos almoços e jantares. Estou muito honrado em participar dessa homenagem pelos seus 20 anos de bailado como guardiã de pavilhão de escola de samba”.

“Eu me orgulho em fazer parte de sua vida e o sentimento que tenho por toda sua família é amor sincero. Jaçanã para todo sempre serás minha irmã, mãe, comadre e confidente. Que venham mais 20 anos. Eu respeito e admiro todas as porta-bandeiras que bailaram comigo, e peço a Deus e aos orixás, que as protejam. O destino me deu três irmãs: minha irmã de sangue Vanessa Priscila, Jaçanã Ribeiro e Roberta Freitas. Minha comadre, quero desejar que seu prêmio maior por tudo que você representa para o samba, seja a nota máxima, no desfile. Você minha amiga de fé e irmã camarada, amiga de tantos caminhos e de tantas jornadas… Parabéns” finalizou emocionado o mestre-sala da Acadêmicos de Santa Cruz e Beija – Flor de Nilópolis, Moskito.

O primeiro mestre-sala da Inocentes de Belford Roxo, Douglas Valle, também falou de sua parceria com Jaçanã.

“Estou em êxtase com meu coração explodindo de felicidade por neste momento glorioso de Jaçanã ser o responsável de conduzi-la e cortejá-la por todo o Sambódromo. A sensação que sinto é inexplicável e só tenho que agradecer a Deus por ter colocado essa super amiga e profissional de alto nível na minha vida. Ela é uma das melhores porta-bandeiras do carnaval, pois tem técnica, postura, elegância, garra, simpatia, beleza e vasta experiência na função”.

“É um privilégio ser seu parceiro, quando comemora os 20 anos de bailado. Sempre quis dançar com ela, sentia que havia uma química entre a gente. E acertei em cheio, a cada dia é mais prazeroso ensaiarmos e tudo flui normalmente em perfeita harmonia. Ganhei uma cúmplice, não tomamos nenhuma atitude sem consultarmos um ao outro e decidir a melhor solução. Essa profissional de fibra, valente, doce e suave nos torna seus verdadeiros irmãos. Tenho certeza que quando pisarmos na Passarela do Samba com o Pavilhão Azul, Vermelho e Branco, sob os olhares, de todos iremos coroar com as notas dez, o vigésimo aniversário de trabalho pelo samba dessa querida artista.Jaçanã, você merece muitas homenagens de todos os sambistas que conviveram e convivem contigo e viram como você é grandiosa. E vamos juntos fazer o melhor desfile de nossas vidas. Inocentes rumo a vitória” completou Douglas.

O enredo da agremiação para 2020 tem como título “Marta do Brasil – Chorar no começo para sorrir no fim”, do carnavalesco Jorge Caribé, que é uma homenagem à mulher brasileira exemplificada pela maior artilheira de futebol do mundo, a jogadora Marta da Silva.

A Escola da Baixada será a segunda agremiação, a desfilar no Sábado de Carnaval, no Sambódromo pelo Grupo de Acesso.

De olho nos quesitos: o que os jurados mais puniram em bateria nos últimos cinco anos

    manga treino 7É inegável constatar que nos últimos tempos o quesito bateria tem sido um dos mais difíceis de julgar no carnaval. Os mestres têm se esmerado em desempenhos fantásticos na avenida e a realidade é que o nível das baterias está muito elevado. A série ‘De olho nos quesitos’ que o site CARNAVALESCO vem apresentando neste carnaval constatou, além das justificativas dos erros mais constantes, um crescimento no número de notas 10, fruto da melhora neste quesito de cinco anos pra cá.

    Flam. Para muitos um doce saboroso. Mas para os mestres de bateria o gosto é bastante amargo ao lerem esta palavra nas justificativas. O flam nada mais é que uma sobra de execução de naipes durante a passagem de uma bateria em um módulo de julgamento. Esta é uma das causas mais constantes da perda de décimos das baterias. É bastante comum encontrar esse aspecto em uma justificativa. Ary Jaime Cohen, em 2018, puniu a Vila Isabel por este motivo como se constata na justificativa abaixo.

    “Em uma das convenções, os tamborins voltaram em flam, ocasionando imprecisão rítmica”, alertou.

    O flam pode ser causado por diversos fatores, mas um dos mais comuns, segundo as justificativas dos jurados está relacionado ao andamento. Nesse aspecto encontra-se outro ponto nevrálgico de justificativas encontradas por nossa equipe. Andamento é o cérebro da bateria. Se houver excesso de variação ao longo da apresentação a escola sofre punição. Além disso, baterias muito aceleradas costumeiramente falham na execução de batidas. Fabiano Rocha observou andamentos prejudiciais nos desfiles de Viradouro e Mangueira em 2015.

    “Correria geral da bateria e tamborins fazendo flam com agogôs (…)”
    “Bossa de dificuldade avançada (…) a bateria correu um pouco”.

    O quesito bateria é um dos mais técnicos e objetivos do julgamento de um desfile de escola de samba. Pouco se tem espaço para a subjetividade, por isso as justificativas são bem sucintas. Outro aspecto bastante encontrado nas justificativas é sobre a afinação. Em 2015, por exemplo, uma forte chuva caiu sobre o Sambódromo, prejudicando as três primeiras escolas daquela noite: Viradouro, Mangueira e Mocidade. Em suas justificativas Fabiano Rocha deixa claro que não tirou décimos das três por essa questão, mas citou a variação de afinação nas justificativas.

    Mas nada causa mais irritação nos mestres de bateria do que a justificativa da falta de criatividade. Segundo eles é um aspecto subjetivo e que não deveria estar no julgamento. Porém, é bastante corriqueiro encontrar a falta de criatividade como parâmetro para punir baterias.

    Aspectos mais citados nas justificativas de bateria nos últimos cinco anos:

    – flam
    – falta de criatividade
    – andamento acelerado
    – afinação variante
    – falhas na execução de batidas
    – desencontro de naipes

    Marcelinho Calil fala do sucesso do ensaboa, gestão na Viradouro e elogia conjunto de fantasias para 2020

    O jovem Marcelinho Calil, ao lado do pai Marcelo Calil, são responsáveis pelo ressurgimento da Viradouro na elite do carnaval do Rio de Janeiro. Vice-campeã em 2019, a escola de Niterói pisará na Avenida Marquês de Sapucaí como uma das principais favoritas ao título em 2020. Na série “Entrevistão” do site CARNAVALESCO, Marcelinho responde perguntas sobre diversos temas e revela a potência da vermelho e branco: “O samba pegou. As fantasias são as mais bonitas que a gente já fez na Viradouro”. Confira abaixo o bate-papo completo com o dirigente.

    O favoritismo você esperava tão rápido? Ele é bom ou ruim?

    “Acho que favoritismo é algo dito pela imprensa, a gente nunca absorveu esse sentimento, mas a gente entende também que o nosso trabalho, até meteórico no último ano, nos deu uma visibilidade e uma expectativa do público e da imprensa em relação ao que a Viradouro pode apresentar. Estar figurando nas escolas que estão com projeto mais grandioso é um motivo até de orgulho, uma cobrança acho que saudável, quero estar sempre com essa cobrança positiva de estar disputando um título. Eu sempre falei, podem esperar da Viradouro um grande carnaval e um grande projeto, o título é consequência de merecer e de estar na posição mais alta. Mas ter isso, esse feedback do mundo do carnaval, de que a Viradouro é uma escola que vem forte e para brigar pelo campeonato, é algo que eu entendo ser saudável”.

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    Qual é o fator principal para mudança da Viradouro? É só dinheiro? É só o apoio da prefeitura de Niterói?

    “Basta ter ido nos ensaios de domingo e terça para você ver o que o dinheiro não compra. A Viradouro estava em situação muito delicada, talvez, a ponto de enrolar a bandeira ou no mínimo ir para a Intendente Magalhães. A Viradouro não vivia uma crise de identidade, de ‘ela está se achando como escola’, não, ela estava em uma crise de gestão, de mal emprego dos recursos, de falhas nas tomadas de decisões que envolveram os últimos carnavais até a gente chegar, uma deficiência de gestão muito grande. Em primeiro lugar, a gente procurou resgatar a escola como instituição, o carinho e o respeito com a comunidade, com os profissionais, chegar e apagar o ‘passado recente’ e falar que daqui para frente a gente vai reerguer a escola. Tem uma potência absurda, gigante e a gente tem que começar a traçar um novo caminho aqui. A gente foi mudando radicalmente algumas situações quanto a instituição, até mesmo de forma física, reestruturando e reformando a quadra nas situações emergenciais e posteriormente com coisas que achamos que deveriam ser feitas e claro pensando na competição. Ao fim de 2016, para o carnaval de 2017 a gente chega e faz o carnaval em 68 dias e é vice-campeã do carnaval naquele ano no Grupo de Acesso e em 2018 começa um projeto do zero, da nossa maneira, com os profissionais que a gente entendia que fossem os melhores para disputar o Acesso, de forma alguma falando com demérito dos que estavam em 2017, e a gente consegue fazer um projeto por completo do zero e consegue êxito até então. Em 2019 também um novo projeto e essa ascensão meteórica da escola, que é fruto de um trabalho, de um resgate desse sentimento do viradourense e aliado sim a talvez uma sorte melhor na gestão da escola. Conseguimos ter êxito um pouco mais rápido do que o previsto”.

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    O apoio da prefeitura de Niterói impulsiona mais o desfile? E o que responde para quem diz que isso é desigual com outras escolas?

    “Penso que a ajuda da prefeitura de Niterói é maravilhosamente bem-vinda. O prefeito gosta de carnaval, sem dúvida, ele tem ajudado não só a Viradouro, como todas as escolas. É uma prefeitura que tem uma relação muito próxima com o samba na cidade, mas a gente sempre teve ajuda de Niterói e acho que isso deveria ser exaltado positivamente e não o contrário. Cada escola busca ter renda de maneira diferente, e a Viradouro é também um patrimônio da cidade de Niterói e um cartão postal. Claro que é uma vantagem, mas tem escolas que também tem um enredo patrocinado e eu acho legítimo, tem escolas que se não tem esse ano, mas já tiveram apoios das suas outras cidades, isso faz parte do carnaval. Seria minimizar muito o trabalho da Viradouro e condicionar isso a uma verba da prefeitura e eu não sinto isso. Até porque ter recursos e empregá-los da forma errada não adianta em nada e já vimos muito isso”.

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    O desfile de 2020 está acima do Carnaval 2019 na parte financeira?

    “Financeiramente, eu acho que está parecido com 2019. É uma comparação que ela é difícil de ser feita pela identidade artística do que era ano passado. O Paulo Barros tem esse trabalho do efeito, de saída de inércia muito grande, tudo se fecha e tudo se abre, tudo aparece e tudo some, o que é muito legal e muito bonito. O trabalho desse ano é um pouco mais de dinâmica, as coisas, os efeitos e as mexidas são dinâmicas, elas vão acontecendo. A gente também conversou muito, lá na Viradouro nada acontece por acaso, nada vai ser feito de forma que foi uma surpresa internamente. A gente conversou muito sobre a estratégia de desfile, desde o início da concepção de enredo. Foram apresentadas três opções de enredo, escolhemos esse pelo cunho cultural e social que ele tem, não político, e a partir daí fomos montando uma estratégia para isso. Eu sou um cara muito fã do clássico e muito fã do moderno. A gente procura primeiro respeitar a identidade dos artistas, segundo respeitar a identidade do enredo. Ano passado, por exemplo, era completamente diferente desse ano, que temos uma densidade cultural maior do que o ano passado. Garanto que em competição o nível é no mínimo igual, porque ano passado a gente praticamente gabaritou o carnaval. As fantasias são as mais bonitas que a gente já fez na Viradouro, isso eu posso afirmar. As alegorias estão muito bonitas, como eu disse, é outra proposta, ano passado tinha moto descendo, motoqueiro fantasma, bruxa voando e esse ano a gente tem uma proposta diferente, mas competitivamente e plasticamente tão boa quanto, ou acima”.

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    Quando o Paulo Barros saiu qual foi sua primeira reação?

    “Eu acho que houve um após a renovação um desencontro de informações, claro que não ficamos satisfeitos com algumas coisas que aconteceram e com a saída do Paulo, como foi algo que vinha, isso claro foi surpresa, mas a gente tava com esse sentimento também já de repensar alguma coisa. A primeira reação, acho que fui muito frio nessa hora, de resolver um problema que a gente tinha e de em maio estar buscando novos carnavalescos. Não fiquei preocupado, mas sim fiquei ansioso, me deu uma ansiedade de resolver logo isso. Pensar para frente, como eu sempre brinco, “saudade fica além de Barra Mansa”; e eu acho que todos os profissionais que passaram como o antigo carnavalesco ou outros e espero que sejam felizes no lugar que escolheram, no lugar que querem estar, e a gente vai trabalhar e fazer o nosso melhor como sempre temos feito. E me deu mesmo um sentimento de ansiedade, pelo mês que aconteceu para que fosse resolvido rapidamente para que pudéssemos começar o trabalho da melhor maneira possível e assim foi feito e estamos extremamente satisfeitos com o trabalho do Marcus e do Tarcísio no que diz respeito a parte plástica da escola. A escola hoje ela tem uma estrutura, ela abraça muito bem novos profissionais, porque a coisa anda e funciona, eu tenho muito carinho pela equipe de barracão que temos aqui e que é uma equipe que funciona muito bem. Tenho falado isso, que podem cobrar e esperar da Viradouro um grande carnaval e projeto”.

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    Você acredita que o Marcus e o Tarcísio vão mudar de patamar na carreira após o desfile de 2020 da Viradouro?

    “Eleva muito e a escola também de certa forma dar uma projeção muito grande, talvez, poucos carnavalescos tenham a oportunidade de estrear ou quase estrear em uma escola que foi vice campeã do Grupo Especial, com uma estrutura legal, uma gestão que busca trabalhar de uma forma correta e séria. Naturalmente, o nome deles vai também ser bem lembrado porque a tendência é que o projeto seja maravilhosamente bem executado. E, sim, eles vão conseguir  mostrar, junto de tantas outras feras, como Julinho e Rute, Ciça, Zé Paulo e uma comunidade que canta muito e que quer muito, eles vão conseguir mostrar o trabalho deles entre os grandes trabalhos do carnaval. Acho que até eles mesmo vão concordar com isso, que estão vivendo um maior momento de projeção hoje”.

    Você acha que vivemos um momento de rivalidade, no bom sentido, entre Mangueira e Viradouro, como era com Mocidade e Imperatriz, Imperatriz e Beija-Flor?

    “A competição por natureza estimula a comparação e estimula a torcida, estimula a paixão e isso ficando na esfera da torcida, eu não vejo problema algum nisso, de forma saudável, pacífica e respeitosa eu vejo que isso faz parte também. Nós seríamos de uma soberba colocar Viradouro e Mangueira só e esquecer tantas outras escolas que eu jamais faria isso, tem grandes escolas no carnaval, esse ano todo mundo vai buscar o seu lugar ao sol. Não vejo Viradouro e Mangueira como polarizando essa disputa nunca e nem poderia fazer isso. Tem grandes escolas, com grandes trabalhos e grandes profissionais e que tenho muito respeito e que sei que farão um grande carnaval também”.

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    Você acha que o quesito Samba-Enredo já chega pré-julgado na Avenida e isso te incomoda?

    “Eu acho que não é uma questão de pré julgamento. Talvez, seja o quesito mais acessível no pré desfile junto com o enredo. O enredo também você já vai com uma ideia dele apesar de não ter visto, ele já vai em tese lido para a Avenida para que aí sim a outra metade seja mostrada lá. O samba-enredo é inevitável escutar, as pessoas já vão formando a opinião e eu acho legal, mas tem que ter esse carinho, esse zelo de que o momento do desfile é muito importante. Na minha concepção, a execução com que o samba é feito, e ela está diretamente ligada a dois quesitos, cada um na sua praia, o harmonia e samba-enredo, a execução também tem que ser levada em conta. Uma das principais funções do samba, além de enriquecimento musical, que aí é uma parte técnica que eu saio um pouco disso, apesar de gostar e entender um pouco disso, eu também não posso ser tão profundo, mas além disso é de como afeta o conjunto também. Equilibrar
    isso tudo é o papel dos julgadores e é o que eles buscam fazer e eu confio bastante julgamento. De fato, se você chegar com uma nota já pré determinada você esteja esquecendo de algo importante que é o fator dia e a maneira com que ele é executado na Avenida”.

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    Você acha que o “ensaboa” pode virar o samba do ano?

    “O samba pegou. É inegável, o ensaboa ela é uma palavra que primeiro, falando da parte técnica, é completamente enquadrada na proposta, o que a lavadeira mais fazia ali às margens do Abaeté era ensaboar, dito até pela Maria de Xindó que disse até quando escutou “como eu fiz isso na minha vida”. Está perfeito e cai no conceito do carnaval. A gente defendeu no livro abre-alas, que o samba está explicando exatamente a história que nós nos propusemos a fazer, eu tenho seis alegorias que estão diretamente mostradas no samba-enredo, indo tanto ao encontro da defesa do enredo, está tudo muito claro, facilitando a leitura, uma clareza muito boa do que está sendo visto, do que está sendo cantado. Agora, a parte da brincadeira eu acho maravilhoso, o carnaval é isso, eu estava na Amaral Peixoto com alguns compositores e falei o quanto é legal o povo estar feliz, a comunidade, e faz ensaboa com a mão e brinca, isso faz parte do carnaval também, a gente não pode engessar nossa festa e esquecer do folião, da brincadeira. Há uma responsabilidade, toda uma técnica ali, toda uma preparação, mas antes de tudo há a felicidade e a alegria do componente de estar ali. O ensaboa pegou, tão grande samba para o quesito, tecnicamente, é uma grande música quanto letra e melodia. O intuito do pré carnaval que é atingir as pessoas, contribuir com um bom desfile da escola para evoluir e cantar, isso tem sido atingido, mexeu com o povo e ele consegue entrar no lúdico, no emocional, defendendo o seu quesito e estando completamente integrado a sua proposta e estratégia de desfile, acho que conseguir isso foi uma benção”.

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    A redução no tempo do desfile assusta e pode fazer alguma escola patinar? E a redução de cabine de julgadores?

    “Acho que é um ano que a gente não tem esse período de adaptação, mas as escolas já sabem disso há algum tempo e tem que se preparar para esse novo modelo. A gente perde cinco minutos de desfile no cronômetro e tira uma cabine de julgadores, baseando-se em um casal em uma passada de samba, que seja dois minutos e pouco, você também ganha quatro minutos pouco e, na verdade, a perda ela é de alguns segundos. Na Viradouro, por exemplo, se pode reduzir fantasias, a gente tem um desfile com seis alegorias e três tripés, um desfile grande, mas que a gente está consciente e preparado. Tivemos a benção de ter a Amaral Peixoto para ensaiar, uma Avenida que consegue ser muito fiel, tanto até na distância dos módulos. A gente está com uma métrica, um projeto de desfile muito bem desenhada. Ano passado a gente teve 60 em evolução e acho que realmente a escola evoluiu maravilhosamente bem e foi perfeita, compacta onde tinha que ser, com uma dinâmica boa, um andamento dos setores e das alas de uma forma legal e a gente vai buscar manter esse mesmo nível. Como é o primeiro ano dessa mudança, pode ser que tenha um pouco mais de ajustes a serem feitos, mas é só no dia que a gente vai conseguir ver e como eu disse, tirou uma cabine e em tese você ganha algum tipo de tempo, compensa essa balança ai e cabe ao trabalho de cada gestão e presidência de carnaval montar a sua estratégia para se adaptar a isso. Acho que essa redução pode ser muito sadia no sentido de dar um pouco mais de dinâmica e vamos ver como vão ser essas três cabines, como as escolas vão passar, como é que vai ser o espetáculo também, mas pensando tecnicamente como foi a sua pergunta, as escolas tem que se preparar para isso, não consigo prever porque é o primeiro ano e de certa forma sim, pode ser que se tenham alguns ajustes a serem feitos mas vai do controle também e da sensibilidade da escola enquanto desfilar, como ela está em relação ao tempo que falta para encerrar o desfile”.

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    Incomoda você ouvir que a ordem de desfile pode atrapalhar o sucesso do desfile? E como é conviver com o tabu que a campeã não desfila domingo há 10 anos?

    “Eu vejo isso da seguinte maneira, eu não fico muito preocupado com esse estigma, porque primeiro que o histórico da Viradouro nessa posição é muito bom, já fomos quase campeões do carnaval. A nossa experiência sendo a segunda escola de domingo foi uma experiência que por pouco a gente não ganhou o carnaval. E procuro trabalhar 364 dias do ano para que não fique rotulado como absolutamente nada. Tenho certeza que as escolas serão julgadas como sempre foram, da melhor  maneira possível, com equidade, de forma que vai ser avaliado o que cada uma mostrar na Avenida. Estou confiante quanto ao projeto, independente da colocação e espero que essa barreira dos dez anos seja vencida nesse carnaval. Até vendo por esse lado, levando em conta o que você está dizendo, é até bom a atual e vice desfilarem domingo e cedo, para que qualquer pensamento errôneo nesse sentido seja quebrado. Tirar de fato da disputa do título a campeã e a vice de
    2019 é uma coisa que eu entendo que ninguém vá fazer de imediato para o próximo ano. Mas eu não vejo dessa maneira, não estou preocupado com isso e estou muito preocupado com o que a Viradouro vai apresentar na Avenida, para que ela mereça ganhar o carnaval. Tenho certeza que se assim for, o resultado vai ser feito da melhor maneira possível”.

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    Você já disse em entrevistas que não quer enredos políticos, mas o de 2020 é muito forte culturalmente e feminista. Como surgiu isso?

    “Eu acho que aconteceu de uma forma extremamente natural. Pensamos em cunho cultural e social que o enredo tem. É genuinamente brasileiro e que conta uma história de força e de luta, de resistência de mulheres escravas, vindas da África e que com o seu suor, a sua labuta, o seu trabalho que era essa remuneração era o ganho, elas conseguiram tantas coisas naquela época comprar as suas próprias alforrias, trazendo até mais dignidade a essas mulheres perante a sociedade. Aquela sociedade ainda era adoecida desse preconceito racial, porque isso é doença, mau caratismo. Elas conseguiram ter essa voz e esse poder. Falar disso, da história do nosso povo, que somos todos brasileiros e vivemos isso, temos uma dívida histórica com o povo negro, essa é uma verdade, de escravidão e tantas coisas ruins que aconteceram. Nós temos uma dívida enorme e poder contribuir um pouco da nossa voz as mulheres, em especial a mulher negra, é maravilhoso, e isso não foi uma coisa premeditada, momento ou de um assunto premeditado, de forma nenhuma, a gente pensou na rica história da vida delas, baseado primeiro no CD que contava a história riquíssima das Ganhadeiras de Itapuã, das lavadeiras do abaeté e de tantas outras formas de ganho. Se dar a voz a mulher e mostrar essa história de luta, de vitória, é um prazer. Realmente, não tenho esse tesão de enredos politizados por si só, não é uma ideia que eu tenho para a escola. A sociedade como um todo vive um momento politicamente muito interessante, de força, seja para que lado for e ai não entra no mérito, cada um tem a sua opção política, mas essa força, essa energia no carnaval, caso a Viradouro venha a fazer enredos nesse tom. Dar voz na parte social, de mostrar histórias de representação do nosso povo nessa parte social e cultural, muito mais do que ser diretamente e objetivamente algo politizado”.

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    O que você pensa sobre comunicação, marketing e imagem para Liga e escolas de samba?

    “Acho que como você disse, envolve tanta coisa, como você disse, envolve a relação com o poder público, porque por exemplo, esse ano a gente ficou muito preocupado com essas questões das verbas e dessa mudança repentina e outras coisas, e você acaba perdendo tempo e energia focando em um lado para poder solucionar e isso é natural. E eu não tenho essa fórmula mágica não, é algo que eu entendo que acabando o carnaval, é algo que a gente possa conversar, identificar alguns pontos que possam ser corrigidos e ser proativo para que isso aconteça. Não acha que seja uma conversa tão simples e seria leviano da minha parte chegar aqui para você batendo papo aqui e dizer em dez minutos qual é a solução do carnaval, até porque seria arrogante da minha parte de ‘que eu pensei isso e ninguém nunca pensou’. Acho que não é esse o caminho, mas de fato que conversar, e como você falou, adaptar e melhorar esses processo de comunicação do carnaval de uma maneira geral é sadia e satisfatória, e claro, vai sempre engrandecer e aumentar nossas vendas e contribuir para que a gente aumente como espetáculo. Tudo o que for para incrementar, para melhorar, eu sou a favor da gente conversar, para obviamente, respeitando toda a parte conservadora que é fundamental para a nossa festa e a nossa cultura, porque antes de ser uma grande festa é uma grande representação da cultura e da identificação do nosso povo. Sou a favor da gente trocar figurinha sempre para que não só as escolas, a Liga, como imprensa, julgadores, profissionais do carnaval, todo mundo pode contribuir para melhorar”.

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    O sambista fica preocupado muitas vezes com declarações dos jovens, como o Gabriel David, o Bernardo Coutinho e o Luizinho Guimarães. O que você ouve e percebe deles sobre os rumos do carnaval?

    “Primeiro que eu acho que a nova geração é muito mais ampla e muito mais abrangente do que eu, o Gabriel, o Luiz, o Bernardo. Tem muita gente, até pessoas mais velhas com ideias novas e outras pessoas que contribuem muito para a festa. Nunca houve esse tipo de conversa de tirar ala de baianas ou mudar certas coisas, isso não procede, eu nunca vi isso e nunca participei dessa conversa, nem tive deles nunca isso, muito pelo contrário. Agora sobre opinião, é individualizar, não tem como eu falar o que cada um pensa, eu tento falar o que eu penso, tudo na vida são ciclos, você faz isso na sua empresa, eu faço isso na minha e na Liga o carnaval não é diferente. A Liga é uma empresa com grande êxito na sua história, ela pegou carnaval e uma situação e hoje o carnaval é muito melhor, de uma maneira geral, no todo, muito melhor como quando ela encontrou. E o processo natural da vida é esse, a gente evolui, se repensa, individualmente, como profissionais, isso faz parte da vida, se a gente vive uma época de repensar e refletir sobre algumas coisas, não é falha necessariamente de alguém, faz parte do processo e o que a gente não pode, claro, é ficar parado. Se é preciso adaptar alguma coisa, com bom senso e com coerência e paciência a gente vai conseguir dar um rumo maravilhoso para nos adaptar a esses novos modelos, todos nós, tanto as pessoas mais novas como as mais velhas, sempre respeitando sempre o samba. A essência será sempre respeitada”.

    Para o futuro, você falou que quer fazer enredos biográficos. Quando será e quem?

    “Eu não posso precisar para você o ano, mas gosto muito de enredos biográficos, não faço ideia de quem, até porque eu vou jogar contra, daqui a pouco isso sai e eu vou perder meu enredo. Do fundo do meu coração eu falo que não tem nada pensado para 2021 e falei isso para você ano passado. Não começo a pensar em 2021 antes de encerrar o ciclo de 2020, não tenho nem tempo agora para me preocupar com o próximo carnaval. Eu tenho algumas vontades ainda no carnaval como reeditar o “Alabê”. Espero um dia vê-la ainda na Avenida com a Viradouro, mas isso lá pra frente. A Viradouro é exatamente eclética com enredo, já teve sucesso com enredos biográficos, Anita Garibaldi, Dercy Gonçalves, Bibi Ferreira, Orfeu mais cultural, teve sucesso com enredos autorais como “Vira o Jogo” e “Vira Viradouro”, teve sucesso com um grande projeto com Alabê de Jerusalém. Ela não tem uma cara de enredos, a Viradouro trabalha com bons enredos, boas histórias e a escola abraça essa ideia, se for uma ideia rica e que agregue para o carnaval e para a escola”.

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    Você é a favor do carnaval competição, na disputa quesito a quesito?

    “Acho que sim, eu primeiro sou fã da festa, do espetáculo, da arte e não sou um cara que vai ficar engessado, a gente gosta do carnaval solto, livre, de brincadeira, é a essência da nossa festa. Mas eu acho até que você desmembrar a competição como um todo, o papel até de vocês na imprensa e especificamente do CARNAVALESCO é fundamental até para aproximar. Você imagina, vou assistir a NFL, o futebol americano, mas chega uma hora que eu gosto de entender a regra. Seria interessante se cada já um chegasse com o enredo lido em casa, por exemplo, ou com um vídeo dizendo como foi seu enredo, não sei, ou sabendo como é o julgamento de cada quesito. Quanto ao julgamento, também saber exatamente como é feito, e acho que isso é muito legal e estimula o público de uma maneira geral a cada vez se interessar mais pela nossa festa e é o nosso papel cada vez mais trazer o público”.

    O ensaio na Amaral Peixoto se tornou referência nesse ano e muito cobiçado pelos sambistas. Qual foi o segredo?

    “Niterói abraça esse ensaio, como já é tradicional em outras escolas, que nunca foi interrompido. A prefeitura, a cidade de Niterói sempre teve uma relação boa e próxima desse ensaio da Amaral, a comunidade vai em peso. Paralelo a isso, é o momento da escola, que estava mais instável e agora teve um grande carnaval em 2019 e um grande projeto em 2020 e isso aproxima ainda mais. A comunidade voltar a abraçar as decisões e tudo o que vem sendo feito, e acho que tecnicamente a gente tem feito um trabalho considerável. E o ensaio, como dizem no popular, “tem bombado” o ensaio da Amaral. Está cheio e com energia, está quente”.

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    Vocês (pai e filho) são queridos pela comunidade. Como você sente esse período de vocês na escola? E o que pensa com as pessoas te identificarem como gestor?

    “Acho que você tem que estar em um lugar onde é respeitado, onde você é querido. A partir do momento em que você já não é mais querido no lugar onde você está, eu não vou ficar agarrado aqui pelo resto da vida. Hoje, eu sou de fato o responsável pela escola, mas nesse sentido, carinhosamente abraçamos a Viradouro e acho que contribuímos para que ela saísse de um lugar que não estava tão confortável para figurar novamente entre as grandes escolas do carnaval. Nos sentimos contribuintes e estaremos juntos com a Viradouro para tudo quando ela precisar e que seja estando diretamente de frente, seja por trás e auxiliando. Acho que palavras como ‘dinastia’ ou essa perpetuação na marra não é algo que eu vejo como sadio. Temos que ser, antes de tudo, queridos e respeitados onde a gente está. Eu e meu pai trocamos muita figurinha e essa troca é extremamente positiva, a gente vai e decide tudo junto. Durante o dia nós nos falamos muito e até com a direção de carnaval também, temos esse hábito de falar muito e trocar muita ideia sobre os rumos da escola. Cada um tem um jeito, por exemplo, nos ensaios de terça eu fico diretamente ligado ao carro de som e com a parte mais técnica da bateria, ele é um cara que adora essa parte motivacional, apesar de claro entender e estar antenado a isso, brinca muito com isso e vai sempre ao microfone, assim como eu também, mas às vezes eu fico um pouco mais concentrado por uma questão mesmo de análise do ensaio musicalmente. Lá de cima eu consigo ver bem a comunidade, como ela evolui, como ela canta. Ser visto como gestor, eu fico feliz porque o carnaval é uma paixão e eu torço muito para que o carnaval tenha rumos cada vez melhores, do que precisar de mim o carnaval vai sempre ter, eu sou uma apaixonado e um contribuinte para que essa nossa festa. Saber que as pessoas têm visto na Viradouro um modelo de gestão, tanto no barracão, quanto na escola de uma maneira geral, é um honra, e o que eu puder ser espelho para outras escolas eu acho que é muito satisfatório, assim como tantos outros já foram espelhos para a gente”.

    A família Calil pode passar a família Monassa na história da Viradouro em termos de títulos e resultados?

    “Na nossa cabeça primeiro a gente tem muito carinho e respeito pelo José Carlos Monassa, uma pessoa em que tínhamos uma amizade fora do carnaval, e não nos vem em nenhum momento querer comparar ou superar nada da gestão e do trabalho que ele teve na escola, que foi um trabalho importantíssimo. Ele conseguiu colocar a Viradouro em um patamar de grande escola do carnaval do Rio de Janeiro, isso é total mérito dele, mas são coisas do destino, a gente veio e não estamos agarrados a nenhum tipo de comparação. A gente está aqui para fazer o melhor, fazer nosso trabalho e já que Viradouro tem um título eu espero sim conseguir mais títulos, obviamente, mas sem algum tipo de vontade de comparar o que foi, simplesmente de acrescentar. O Monassa fez esse grande trabalho até o seu falecimento e cabe a nós agora, depois de um período da escola um pouco conturbada, acrescentar e agregar à Viradouro e tentar botar muitas outras estrelas no pavilhão da Viradouro. Eu não me sinto, nem meu pai, donos de nada”.

    Justiça autoriza liberação total do Sambódromo para o Carnaval 2020

      Em audiência especial realizada nesta segunda-feira na 1ª Vara de Fazenda Pública do Rio entre Riotur, Liga Independente das Escolas de Samba do Rio (Liesa), Ministério Público, Procuradoria Geral do Município e Corpo de Bombeiros, ficou decidido que o Corpo de Bombeiros realizará uma vistoria final na próxima quinta-feira para liberação da Passarela do Samba.

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      Marquês de Sapucaí. Foto: Riotur

      O Ministério Público informou, através de seu representante, não haver motivos para a suspensão do Sambódromo para o Carnaval 2020 já que todas as obras necessárias foram atendidas para a realização dos desfiles neste ano.

      O juiz da 1ª Vara de Fazenda Pública, Marcelo Martins Evaristo da Silva, concordou com o MP:

      “Assiste razão ao MP. A adoção das medidas de salvaguarda revela a existência de condições mínimas de segurança para a realização do evento, de modo que não se justifica, no atual cenário, a intervenção judicial postulada em sede no aditamento à inicial. Determino à Riotur a juntada da autorização definitiva do Corpo de Bombeiros, tão logo seja expedida. Venham conclusos para apreciação das questões processuais pendentes”.

      O Corpo de Bombeiros alegou que as exigências foram cumpridas, mas ainda faltam as instalações de estruturas provisórias, como extintores de incêndios e placas de sinalização. De acordo com os Bombeiros, esses equipamentos ainda não foram instalados por motivo de furto. Para evitar o problema nos próximos anos, a Liesa destacou a importância, e necessidade, da Passarela do Samba ter uma guarda patrimonial.

      Série Barracões: Unidos da Tijuca terá ‘cinco DNAs’ em desfile à imagem e semelhança do estilo Paulo Barros

      Dias antes da Unidos da Tijuca entrar na avenida em 2004 havia uma preocupação grande com uma alegoria supostamente ainda no ferro dentro do barracão. Em estrutura piramidal causava pavor em que a via na fábrica de alegorias da escola. Na concentração instantes antes do desfile ela intrigava e causava pânico nos desfilantes: com aquela estrutura a escola cairia? O que se viu na avenida foi uma alegoria histórica, inaugurando a era Paulo Barros de carros humanos.

      Se passaram 16 anos, Paulo conquistou quatro títulos, três deles na Tijuca e agora de volta à escola onde teve seu nome projeto recebeu a equipe do CARNAVALESCO para falar sobre o enredo ‘Onde moram os sonhos’. A temática pretende falar da arquitetura e urbanismo. Paulo fala mais uma vez que é preciso aguardar o desenrolar de seu projeto na avenida e que a estética deste ano contempla cinco DNAs em termos de conceitos alegóricos.

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      “Eu posso dizer que é um ano de dificuldade financeira, e todos nós sabemos. Esperamos que esse quadro seja revertido para o ano que vem. Estamos fazendo um projeto dentro da realidade e para que dois, três dias antes estejamos aptos a desfilar. Se você olhar para o barracão da Tijuca você verá cinco ‘DNAs’. O DNA foi um carro que as pessoas olhavam para o barracão e diziam que não ia ficar pronto e já estava pronto. Dizem que o barracão da Tijuca está atrasado. Para mim está pronto”, avisa.

      Paulo Barros conta com o apoio de Marcos Paulo e Hélcio Paim para o desenvolvimento do projeto. Marcos falou da ideia inicial do enredo e do desenvolvimento das pesquisas.

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      “A ideia é da escola, de nosso departamento de marketing. A partir daí começamos a desenvolver o tema. Quando ouvimos que seria esse tema, o primeiro que veio à cabeça seria uma estética dura. Mas em cima das pesquisas a gente foi percebendo que daria carnaval. As grandes construções. Costumamos dizer que contamos a história da humanidade pelo olhar da arquitetura. O Paulo optou por um lado mais solto, alegre, os estilos arquitetônicos”, explicou.

      Paulo Barros complementou a explanação de Marcos definindo o projeto como uma grande peça de design. O artista complementa avaliando que se trata de uma grande observação do passado para chegar nos dias de hoje.

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      “A palavra que resume esse projeto é design. Por que arquitetura é design puro. O samba diz ‘curva-se o concreto’. Uma referência aos trabalhos de Niemeyer. Apaixonei-me tanto por essa frase que estou produzindo um carro da catedral de Brasília. “Esse enredo faz uma passagem na antiguidade. A história da arquitetura começa nesse momento. Minha carreira como carnavalesco começou observando o passado. Fernando Pinto, João 30, Rosa Magalhães, Renato Lage. Mas o foco do enredo é a cidade do Rio, a beleza. Falaremos de causas que o homem deixou de lado, preocupado sempre em criar sem pensar nas consequências. Têm aquecimento global, lixo, reciclagem. Hoje um projeto arquitetônico tem essas preocupações, para não agredir o meio-ambiente. Por isso aqui será a capital mundial da arquitetura. Aqui temos uma floresta dentro do espaço urbano. Praias, montanhas. Obviamente terminamos cantando um lugar melhor para se viver, fazendo um link com a favela, um local que sofre por conta do abandono”, explica Paulo.

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      Entenda o Desfile

      A Unidos da Tijuca apresentará seu carnaval através de 28 alas, cinco alegorias e nove elementos alegóricos, que não são tripés, pois para o regulamento um tripé precisa ter até no máximo três pessoas sobre ele para ser assim considerado. Marcos Paulo explica os setores do desfile para o site CARNAVALESCO.

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      Setor 1 – Fala da arquitetura patrimônio da humanidade, que carrega em suas paredes a história e os traços culturais dos seres-humanos.

      Setor 2 – Os estilos arquitetônicos brasileiros. Índios, Brasil Colônia, Império e República. Terminamos com art-nouveau.

      Setor 3 – As causas e efeitos das ocupações desordenadas e o que ele está causando. Os assoreamentos, deslizamentos, alagamentos.

      Setor 4 – Trazemos soluções. O que arquitetos e urbanistas pensam para a humanidade. Modelos de cidades ideais com espaços de convivência perfeitos. A reciclagem. Estamos criando uma favela perfeita.

      Série Barracões: Em seu cinquentenário, Sossego reforça quesitos para fazer história

      Por Diogo Sampaio

      No carnaval em que celebra seu jubileu de ouro, a Acadêmicos do Sossego aposta, pelo quarto ano consecutivo, em uma temática ligada à religiosidade e à cultura negra. Através do enredo “Os Tambores de Olokun”, a agremiação do bairro do Largo da Batalha, em Niterói, irá narrar às origens do maracatu, manifestação cultural afro-brasileira, criada por escravos no estado de Pernambuco, por volta do século XVIII, inspirada nas cerimônias de coroação dos reis e rainhas do Congo. Com a presença de diversos elementos religiosos no cortejo, a Sossego dará destaque em seu desfile aos relacionados à Olokun, o senhor dos mares, considerado o patrono da diáspora africana e responsável por abrir os caminhos durante a travessia da chamada Calunga Grande.

      O projeto, inicialmente concebido pelo carnavalesco Marco Antonio Falleros, e que vinha sendo desenvolvido por Alex de Oliveira, será levado para Avenida pela dupla Guilherme Diniz e Rodrigo Marques. Os dois artistas assumiram o comando do carnaval da Sossego há menos de 15 dias do desfile e terão a missão de correr contra o tempo para conseguir colocá-lo na rua. Em conversa com a reportagem do site CARNAVALESCO, Rodrigo contou como foi feita a proposta e os motivos que fizeram com que eles aceitassem o desafio.

      “A gente recebeu o convite por intermédio do presidente Hugo Júnior, de toda staff dele e da escola. Confesso que pegou a gente um pouco de surpresa porque, em tese, não iríamos trabalhar no carnaval do Rio nesse ano. Tanto eu, quanto o Guilherme, estávamos envolvidos no projeto do Os Rouxinóis, que é uma escola de Uruguaiana, e quando a gente voltou, recebemos esse convite que muitos nos orgulhou. O pior dos cenários para a gente era ficar de fora do carnaval esse ano, porque na nossa concepção, a gente vinha de um ano bom, por conta do desfile da Unidos da Ponte de 2019. Então assim, nós sabemos que é um desafio grande, mas fazer o Carnaval hoje em dia, com a estrutura que nós temos, já por si só um desafio monstruoso. E a questão do tempo, de ter menos de quinze dias para fazer um carnaval, é um outro desafio, mas nesse momento a gente entendeu que é um desafio que dá pra ser superado. A gente entende que quanto o maior desafio, maior a recompensa. É um momento bom de desempenhar o nosso trabalho e vamos ver no que vai dar”, relatou Rodrigo.

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      Para o artista, a batalha contra o relógio é realmente o maior obstáculo da dupla neste carnaval. Tanto que, de acordo com Rodrigo, o principal objetivo é aprontar um trabalho digno, para tentar aperfeiçoá-lo conforme houver oportunidade.

      “Aumenta o grau de dificuldade de você fazer um bom trabalho porque o tempo, de fato, você não consegue driblar. Você não tem uma solução para o tempo, tem que executar o trabalho naquele momento, afinal o carnaval não vai ser adiado. É uma situação que eu diria ser um pouco incomoda. Mas, ao mesmo tempo, também não posso usar isso de desculpa, porque nós aceitamos esse desafio e a nossa lógica de desenvolvimento desse carnaval é executar aquilo que foi proposto. A gente entende que o objetivo maior desse trabalho é executar, fazer o melhor possível, no menor tempo possível”, declarou.

      Rodrigo também frisou que apesar do pouco tempo, a dupla fez algumas alterações pontuais no projeto de carnaval que vinha sendo desenvolvido pelos carnavalescos anteriores na escola. Porém, nada que alterasse a base já existente do desfile.

      “Lógico que a gente fez algumas adaptações, conforme a necessidade do que a gente entendia relevante. Mas digamos que a estrutura do carnaval, no que se refere a enredo, a desenvolvimento, a desfile, isso já estava meio esquematizado. Portanto, a gente pegou aquilo que consideramos bom e mantivemos; enquanto aquilo que a gente considerou que não era bom, nós mudamos na medida do que era possível. Então assim, a gente aproveitou muita coisa, cada um deu a sua contribuição. O esqueleto do carnaval, principalmente a parte teórica, já estava montada. A escola já estava com ateliê em funcionamento, os carros já estavam começando o seu trabalho… A gente apenas mudou o que tinha que mudar. E o mais importante, respeitando o que era, digamos assim, proposto desde o início, o que foi escrito. Na medida do que é possível por nós, estamos dando a leitura do que foi proposto, mas com um toque e um pouco da nossa cara”, assegurou.

      Estética e temática afro

      Assim como em 2019, Rodrigo Marques e Guilherme Diniz têm em mãos um enredo de temática africana. Questionado pela reportagem do site CARNAVALESCO sobre como a dupla faz para se reinventar e não cair em repetições, Rodrigo destaca que a solução é pensar para além do lugar comum.

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      “Há de ser entendido que quando você tem uma temática afro, já meio que define alguns materiais alternativos. Muito por conta da crise, você tem que tirar praticamente leite de pedra, então você revê muitas coisas. Daí as pessoas falam: ‘Ah, fez o carnaval afro e usou tal material’ ou ‘Está usando muita palha e etc..’. Isso é mais pela necessidade, do que por opção do profissional, apesar de não achar que seja a mesma estética. Acho que cada trabalho tem a sua leitura, tem sua proposta. Você está contando uma história, tem que sintetizar isso nas suas alegrias, nas suas fantasias, no seu samba E aí que tem que fugir da caixa, trazer conceitos novos, trazer coisas novas e é nisso que a gente aposta, pensar um pouco diferente. É lógico que, infelizmente, não será possível em sua totalidade por falta de tempo. E até porque a gente tá respeitando o que foi proposto no início, o que foi escrito. Então, a gente está mais preocupado em finalizar o carnaval a tempo. Claro, dando aquele tempero ali, dando um pouco da nossa cara no que for possível. Falta pouco tempo e a gente precisa ter um carnaval que honre as cores da Sossego, que honre o Largo da Batalha e a sua comunidade. Estamos apostando que esse conjunto, esse mix de soluções que a gente está propondo, junto com aquilo que foi pensado anteriormente e o que foi escrito, tragam coisas que sejam diferentes e interessantes na Avenida”, argumentou.

      Apoio da Prefeitura de Niterói

      Em um ano marcado pelo fim do repasse de verba da Prefeitura do Rio para as escolas do Grupo Especial e da Série A, a Acadêmicos do Sossego não ficou completamente desamparada ao receber um aporte financeiro, vindo da administração municipal de Niterói, estimado em R$ 1 milhão. Indagado pelo site CARNAVALESCO se essa receita pode ser caracterizada com uma espécie de vantagem para agremiação na disputa, Rodrigo minimiza:

      “Esse apoio de fato é importante para as escolas de Niterói. Qualquer dinheiro nessa época de crise, qualquer um real empregado a mais, é muito bem vindo. Mas não diria que isso dá uma vantagem, até porque dinheiro não compra tudo. Se fosse assim, nós compraríamos tempo para desenvolver esse carnaval com um pouco mais de calma, com soluções mais bem implementadas e elaboradas. Então, não considero essa verba uma vantagem, porque acho que o talento prevalece sobre o dinheiro. É lógico que isso é bem quisto, afinal todo mundo quer ter condições mínimas financeiras”, respondeu Marques.

      Reforços para não passar sufoco na quarta-feira

      Além do tempo, outro desafio que a dupla terá de encarar é o de melhorar os resultados alcançados pela Sossego. Desde que chegou a Série A, a maior colocação da agremiação foi um 11º lugar em 2017, primeiro ano dela no grupo. Em 2018, ficou em último lugar na classificação, mas foi beneficiada pelo cancelamento do rebaixamento. Já no carnaval passado, conseguiu escapar da degola apenas na última nota lida.

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      “Infelizmente, nós não podemos precisar os motivos que levaram a escola a ter colocações que não fossem boas. Mas é claro que a gente tem uma ideia do que é necessário para reverter este quadro e estamos, de fato, trabalhando para isso. Acreditamos muito que a escola precisava de certa dose de ânimo e a direção da Sossego fez boas contratações, afinal não se faz carnaval com uma pessoa, se faz com uma equipe. E neste ano, a escola passou a ter quesitos muito fortes: a gente tem um casal de mestre-sala e porta-bandeira consagrado, um coreógrafo da comissão de frente consagrado, um intérprete consagrado, temos um mestre de bateria jovem e muito promissor, fora outras coisas. Então, a gente veio pra somar com esse trabalho. A escola está tentando chegar em um patamar acima do que ela vem apresentando”, apontou Rodrigo Marques.

      Entenda o desfile:

      No carnaval de 2020, a Acadêmicos do Sossego irá abrir o segundo dia de desfiles da Série A, com o enredo “Os Tambores de Olokun”. A azul e branco do Largo da Batalha levará para Marquês de Sapucaí um total de 23 alas, três alegorias, um tripé e aproximadamente 2100 componentes. A apresentação será dividida em quatro setores, como explica o carnavalesco Rodrigo Marques:

      Setor 1: “Abrimos o primeiro setor com os mares, sendo este o reino de Olokun. Tudo o que se vê no azul-marinho é domínio de Olokun: ora azul-sossego no cristalino espelho d’água, ora azul-mistério em profundezas intocáveis. O senhor dos mares habita a infinitude dos abissais onde ergueu o seu reino de encante com seu séquito de tritões e ninfas do mar. Sua presença é evocada pelo ressoar de grandes conchas que ecoam triunfantes por todos os mares”.

      Setor 2: “Ao longo da história das culturas da diáspora africana no Brasil, os tambores muitas vezes contaram o que a palavra não podia dizer. Este mesmo mar trouxe estranhos de um velho mundo. Desembarcaram lusitanos, franceses e holandeses em ‘Fernambouc’, território indígena até então. O maracatu teria se originado a partir das cerimônias onde os africanos escravizados remontavam a coroação dos reis e rainhas do Congo”.

      Setor 3: “O maracatu é reconhecido como uma prática cultural de Negros, relacionado às religiões de terreiros, como candomblé, jurema e umbanda; pois os escravos o colocavam no cortejo junto a elementos religiosos. Assim, neste setor representamos todo o cortejo na forma de seus personagens, louvando Dona Santa, sendo esta a rainha do maracatu”.

      Setor 4: “Celebramos ‘Os Tambores de Olokun’, grupo percussivo e de dança carioca que homenageia o sagrado orixá da nação Nagô Egbá. Por tanta admiração a todos os elementos sagrados e profanos que envolvem o folguedo, o grupo realiza oficinas de percussão e dança, respeitando e contribuindo para divulgar estas tradições musicais, históricas e religiosas de nossa identidade afro-brasileira. Ação que acaba por transformar a vida de inúmeras pessoas, através da sua arte singular, e traz para o Rio de Janeiro um pedacinho de Pernambuco”.

      Nany People é convidada para desfilar no Império Serrano

      2A62608E BB7B 47C4 8B6F 434B0FED7509Nany People será destaque no desfile do Império Serrano. A convite do diretor artístico Arthur Rozas, ela será destaque no desfile de 2020, com o enredo “Lugar de Mulher é Onde Ela Quiser!”.

      Nascida em Machado, Minas Gerais, tendo sido criada em Poços de Caldas, estudou teatro no Teatro Escola Macunaíma. De 1997 a Janeiro de 2003, assinou uma coluna na revista G Magazine e é frequentemente contratada como apresentadora de shows, eventos performáticos, telegramas animados, feiras e convenções.

      Na TV, ganhou projeção nacional em 1997, como repórter do programa “Novo Comando da Madrugada”, de Goulart de Andrade, na extinta Rede Manchete. Em 1998, atuou na peça “Um Homem é um Homem”, com direção de Alexandre Stockler. Estreou no Programa Hebe fazendo entrevistas e links ao vivo, entre 2001 e 2006.

      Nany esteve no Reality Show A Fazenda, participou dos Quadros do Programa da Xuxa na Record, atriz com vários espetáculos solos em sua carreira, como Meninas Crescidas Não Choram, 3 em 1, De Boca Cheia, Meias Verdades e atualmente em cartaz com Tsunani no Rio e em São Paulo. Indicada a Atriz Revelação na novela global O Sétimo Guardião.

      Sendo uma transexual, Nany quebrou barreiras e foi uma das pioneiras dentro da televisão brasileira. Seu nome de batismo era Jorge Demétrio Cunha Santos, mas após 20 anos de batalha judicial, conseguiu o direito de usar o nome Nany People Cunha Santos em todos os seus documentos.

      “Foi com grande surpresa muita alegria e lisonja que recebi o convite do Império Serrano para desfilar esse enredo tão providente e necessário: ‘Lugar de Mulher é onde ela quiser!’. Esse convite veio coroar toda uma conduta e filosofia de vida que toda mulher ‘Sis’ ou ‘Trans’ batalha pra ter seu lugar reconhecido e respeitado em sua vida! Obrigada Império Serrano por esse privilégio que aquece o coração de todas as mulheres que lutam por um mundo mais digno sustentável e amável”, disse Nany People.

      Nany People vem como destaque na quarta alegoria do desfile, representando a Mulher Trans Emponderada, sob os cuidados do Diretor Ari Guimas.

      Série Barracões: Enredo com contexto histórico e leitura moderna promete impactar durante desfile da Dragões

      O especial de barracões do carnaval de São Paulo visitou a confecção da Dragões da Real para o carnaval de 2020, que está localizado na Fábrica do Samba. Na data em questão, o projeto já estava praticamente finalizado, com poucos ajustes a se fazer. O carnavalesco Mauro Quintaes recebeu a equipe do CARNAVALESCO e detalhou o tema: “A Revolução do Riso: A arte de subverter o mundo pelo divino poder da alegria”.

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      “O nosso enredo fala justamente da evolução do riso, o poder que a alegria tem nas pessoas em transformação, cura. Pra não ficar muito simples, porque a função do carnaval é passar informação, a gente traz a história da comédia desde os seus primórdios. A gente abre o desfile com uma invasão de ataques de risos, é uma estrutura bélica e engraçada pra provocar o riso. Aí falamos da criação da comédia grega, das peças do Molière. Temos uma parte delicada, mas gostosa de fazer que é sobre o humor em tempos de cólera, e como o indivíduo pode usar a comédia para protestar, pra subverter a lei através do humor, e isso nos remete aos anos 80 e 90. Em plena ditadura militar eles passavam mensagens, e eu usei como referência principal a obra O Grande Ditador, do Chaplin. É um setor todo preto e branco e apenas as bandeiras de protesto são coloridas. A gente fecha com a expressão que mais define o enredo que são os Doutores da Alegria”.

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      Durante a pesquisa de elaboração da sinopse, o carnavalesco conta que curiosidade histórica do século XVII foi o que mais chamou atenção.

      “No setor do Molière, a gente fala um pouco da caricatura política que eram feitas na época, de Maria Antonieta, Luis XV, Napoleão, isso também aparece no enredo. Nessa época surgiu a questão de você desenhar uma rainha, a caricatura, a gente pegou o modelo das ilustrações originais. Acho muito importante, porque ali surgiu uma nova leitura da política baseada também na comédia”.

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      Analisando o estilo de desenvolvimento do projeto do Mauro Quintaes, nota-se uma preocupação com o público nas arquibancadas, e também aos que assistem pela televisão.

      “Eu sempre falo que o samba de enredo é a legenda do meu filme, e o nosso samba tem um refrão que vai pegar na terceira passagem. Outra coisa que costumo fazer é trazer personagens populares, e eu consigo essa ligação. Em um dos nossos carros vamos trazer as nossas crianças fantasiadas de Chaplin, e é um exemplo. Isso faz com que os torcedores torçam para as escolas, mesmo não sendo sua agremiação”, disse.

      Mauro revela também que ideia do tema surgiu da direção da escola.

      “A ideia veio do vice-presidente, o Binho. A gente sentou pra criar um roteiro pra que não caíssemos no clichê. Eu e o Gustavo Melo trilhamos uma linha histórica que desemboca nos Doutores da Alegria”.

      Leitura do enredo promete surpreender

      Quem escuta o samba, lê o nome do enredo e projeta o modelo de desfile da Dragões da Real pode se surpreender com o resultado. Isso porque a escola está bem atenta para fugir do “clichê”. Durante a entrevista, o artista conta que desfile carrega um contexto histórico importante e inesperado.

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      “Certamente o público vai esperar algo relacionado a circo, palhaço. A nossa logomarca remete a isso. Mas o nosso enredo é sobre a história da comédia, a maneira de como o ser humano percebeu de como o sorriso é terapêutico. O carnaval tem que causar surpresa. Se faço um enredo sobre palhaço, vai ser aquele clichê. O carnaval tem que ter a carta na manga, impactar o público com a surpresa. Até pelo samba, o público imagina que vai vir vários palhaços, e não temos nenhum momento de circo, ninguém espera ver a Grécia, um ditador. É importante deixar o público esperando uma coisa, e apresentar outra, isso é o grande triunfo do carnaval. A escola gosta disso, eu gosto”.

      O final do carnaval da agremiação desemboca no contexto principal, que são os Doutores da Alegria. Uma coroação ao trabalho que efetuam desde os anos 90.

      “Os Doutores da Alegria nunca tiveram uma homenagem desse tamanho, eles estão envolvidos na maior festa popular do país. O Wellington Nogueira, fundador do projeto, visitou o barracão e se emocionou muito. Comentei com o presidente Tomate que estamos no caminho certo, e evidente que a escola se preparou nos outros quesitos. O resultado não vai tardar a chegar”, garantiu o carnavalesco.

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      Mauro Quintaes aproveita pra defender julgamento mais criterioso ao contexto histórico, com menos importância aos pequenos defeitos.

      “Eu fiz um abre-alas ano passado, que modéstia à parte foi belíssimo, e pontuaram que um componente descascou o piso. Cadê o equilíbrio? Nos anos anteriores, pontuaram a Dragões por causa de um grão de milho que caiu. Isso não é motivo pra descaracterizar a nota. Aqui a gente tem que se preocupar em grudar tudo, não deixar nada cair, porque se soltar uma coisinha, você perde. Falta uma visão mais do enredo, por exemplo, se eu coloco o Molière vestido de bolinha, eu só preciso deixar que elas estejam iguais e sem nenhum adereço faltando. Não tem um julgamento como ‘Molière nunca se vestiu de bolinha, 9.9’. O julgador não pode apenas conferir, ele tem que ter o punho pra falar se aquela roupa não é daquela época, por exemplo”.

      Carnavalesco destaca importância da escola em momento difícil

      No começo do ano a mulher do Mauro Quintaes, Kátia Sharp, faleceu por problemas de saúde. Durante a conversa, o artista comentou sobre importância da comunidade da Dragões da Real no episódio.

      “Eu me sinto muito bem aqui na Dragões. Toda a minha família está no Rio, e a escola preenche muito bem esse vazio familiar. Eu tive um episódio muito triste recentemente, e fui ao ensaio logo depois. O presidente me fez uma grande homenagem na quadra, e isso me comoveu muito, principalmente ao ver a comunidade toda participando da minha dor. Não sei qual é o futuro, mas a minha passagem por aqui já me deixou muito feliz”, finalizou.

      Conheça o desfile

      A Dragões da Real terá 2 mil componentes, em 22 alas, com cinco alegorias.

      1° SETOR – Ataque de risos

      “Nós partimos do achado de um papiro de ladis, onde ele subverte essa versão de gênesis. No papiro tá escrito que Deus criou o mundo através de uma gargalhada, e baseado nisso, se Deus criou o mundo através da gargalhada, quem somos nós pra não rirmos? Abrimos aqui com o ataque de risos. É um trecho muito bélico, tem canhões, tanques de guerra, todo um projeto de guerra”.

      2° SETOR – Comédia Grega

      “Aqui traremos um carro bastante clássico, mesmo com as cores vibrantes. Tem cortejo de baco, o baco, faunos, centauros. É diferente, e não é um caixotão, ele é bem arejado”.

      3° SETOR – Comédia Molière

      “Já aqui é um setor mais clássico, mais carnavalzão. Tem cortinas de veludos, encenações. Teremos dois palcos laterais e vamos encenar uma peça. Tem uma série de coisas, eu brinco um pouco nessa alegoria. Ela tem dois momentos, é um pouco parecido com o que fiz ano passado onde tinha quatro momentos”.

      4° SETOR – Grande ditador

      “Esse carro é todo em preto e branco, onde o falo da peça ‘O Grande Ditador’ do Charles Chaplin, e tem teatro também. As crianças vêm também pra amenizar o impacto do carro, a gente teve essa preocupação também de equilibrar”.

      5° SETOR – Celebração da cura pelo riso

      “O fechamento é uma grande brincadeira. É o Welington Nogueira saudando o povo do Anhembi e dizendo para o que veio. Os Doutores da Alegria vão estar presentes, juntamente com a alas das crianças. Tem muitas luzes e efeitos especiais, porque a Dragões é uma escola que se preocupa com isso e eu sempre faço carnavais para arquibancada. Se você conseguir fazer com o público entenda, você consegue também com o julgador”.

      Milton Cunha sobre o Carnaval 2020: ‘Grande expectativa é que o dinheiro não define o carnaval’

        Emoção e improviso. Foi com essa mistura que Milton Cunha conduziu a abertura da Cerimônia de Lavagem da Marquês de Sapucaí, neste domingo. A celebração, que já faz parte do calendário do Rio era, anteriormente, feita pelo ator Milton Gonçalves, que segue internado no Hospital Samaritano, após sofrer um acidente vascular cerebral isquêmico (AVC), na última segunda-feira. Debaixo de uma tempestade, o comentarista de carnaval usou de toda a sua capacidade de improvisação e contou com a participação do público presente no Sambódromo para abrir oficialmente o evento e, ainda homenagear Gonçalves, que deve ficar fora do carnaval. * VEJA AQUI FOTOS DA LAVAGEM

        milton cunha

        “Milton Gonçalves é uma referência, um grande ator. As pausas, as respirações que ele utiliza, são sempre um aprendizado. Acontece que hoje (neste domingo) foi caótico, era muita chuva e o texto do Cláudio Vieira dissolveu no meu bolso, então eu não tinha texto aí tive que dar uma improvisada com o que eu lembrava”, revelou Milton Cunha, que decidiu falar de superação, algo que Milton Gonçalves sempre deixava presente em seus discursos.

        “O Milton (Gonçalves) sempre fala da superação, da força do sambista, do que fato que o sambista tem que tirar não do dinheiro, mas do ziriguidum a sua força, aí engatei nisso, mas chovia demais… foi muito emocionante porque a bateria logo rufou por ele, depois pedi os aplausos da multidão e ela respondeu à altura, então foi uma grande homenagem”, relembra.

        Após participar da cerimônia e desfilar pela Marquês de Sapucaí acompanhado pelas baianas que faziam a lavagem e, por representantes das escolas de samba do Rio, Milton Cunha assistiu ao ensaio técnico da Mangueira no camarote Vivant ao lado do marido e amigos. Sem perder nenhum momento da passagem da Estação Primeira, o comentarista falou ao site CARNAVALESCO sobre a expectativa para o Carnaval 2020.

        “A grande expectativa é que o dinheiro não define o carnaval. Acho que vai ser um carnaval de muito samba no pé, luta de bateria, samba… Acredito que vá ser maravilhoso porque quando não temos dinheiro a gente tira recursos da criatividade. Não tem mil plumas de faisão, mas tem uma pena de pato na sua cabeça e você canta com uma felicidade que ninguém tira isso de você”, aposta Milton.