Um bom ensaio técnico da bateria “Tabajara do Samba” da Portela, sob o comando de mestre Nilo Sérgio. Uma apresentação segura durante o percurso garantiu o bom ritmo da Majestade do Samba, além de paradinhas bem vinculadas ao samba da azul e branca de Oswaldo Cruz.
Na parte da frente do ritmo portelense, um naipe de cuícas volumoso e de qualidade auxiliou no preenchimento das peças leves. Uma ala de agogôs correta executou um desenho rítmico pontuando a melodia do samba da Majestade, inclusive em paradinhas. Um bom naipe de chocalhos contribuiu de forma consistente com a cabeça da bateria da Portela, assim como uma ala de tamborins se exibiu em bom nível,executando um desenho rítmico com certa complexidade, acrescentando bom volume à “Tabajara”.
Na cozinha da bateria da Portela uma afinação correta de surdos foi notada. Um trabalho firme e preciso foi realizado pelos marcadores de primeira e segunda, seja fazendo ritmo ou nas paradinhas. O balanço envolvente dos surdos de terceira deu um bom molho à parte de trás do ritmo, inclusive nas bossas, onde sua acentuação musical era solicitada de modo destacado. Um bom naipe de repiques tocou com coesão, bem como uma ala de caixas com sua clássica rufada contribuiu com qualidade no ressoar dos naipes médios.
As bossas portelenses eram pautadas pelas nuances melódicas do samba da Águia. Terceiras e caixas apresentaram um nível de exigência musical maior dentro dos arranjos propostos, recebendo maior destaque, assim como o trabalho dos agogôs também pôde ser notado dentro das paradinhas, dando boa musicalidade às bossas da bateria da Portela. A boa pressão dos arranjos foi propiciada graças a uma afinação de surdos mais pesada, contribuindo com bossas que misturaram musicalidade e certa potência sonora.
Foto: Thomas Reis/Divulgação Rio Carnaval
A bateria “Tabajara do Samba” da Portela fez um bom ensaio técnico, dirigida por mestre Nilo Sérgio. Um ritmo portelense com sua clássica caixa rufada ecoando pela pista, com a peculiar levada portelense, dando molho inclusive nas boas participações em bossas. Uma apresentação consistente e equilibrada da “Tabajara”, que mostra que a agremiação da Rua Clara Nunes está em um caminho próspero para o tão aguardado desfile oficial.
A bateria “Swingueira de Noel” da Unidos de Vila Isabel fez um ótimo ensaio técnico, na abertura da terceira semana do grupo especial, sob o comando de mestre Macaco Branco. Um ritmo fluído, bem equalizado e com uma afinação potente de surdos foi apresentado. Bossas profundamente integradas à melodia do samba também deram um brilho a mais, na grande apresentação da bateria da Vila.
Na cabeça da bateria “Swingueira de Noel”, uma ala de cuícas ressonante exibiu um trabalho sólido, fazendo um feijão com arroz bem temperado, valorizando o ritmo e marcando o samba. Um naipe de chocalhos acima da média se apresentou muito bem tocando interligados com uma ala de tamborins, que executou um desenho rítmico com certa complexidade com notória eficiência. É possível dizer que o belo entrosamento entre chocalhos e tamborins encheu de virtude sonora o trabalho das peças leves da Vila.
A parte de trás do ritmo da bateria da Vila contou com sua afinação peculiar, bem pesada. Impressionante o timbre puxado mais para o grave da marcação de primeira, com uma potência capaz de tremer o chão da Avenida, junto da resposta da segunda mais aguda, permitindo um Groove exemplar. Marcadores de primeira e segunda foram firmes e precisos durante todo o ensaio. Surdos de terceira foram responsáveis pelo balanço, tanto fazendo ritmo, quanto nas participações pra lá de caprichadas nas bossas. Incrível a sintonia e integração musical das terceiras nas paradinhas da escola do Boulevard. Um naipe de repiques coesos e equilibrados auxiliaram no preenchimento dos naipes médios. Que também contou com a tradicional mescla entre caixas retas eficientes tocadas embaixo dando consistência e de taróis com suas rufadas genuínas contribuindo com um volume sonoro de bastante destaque. Uma cozinha da “Swingueira” exibindo um grande trabalho, com o inconfundível ritmo da Vila.
As bossas eram extremamente integradas ao animado samba-enredo da escola do bairro de Noel. Paradinhas contendo pressão sonora envolvendo a afinação dos surdos foram percebidas, além do fato de aproveitar as terceiras para efetuar frases rítmicas pontuais, demonstrando exímio bom gosto musical. Um leque que, mesmo sendo mais enxuto, se mostrou musicalmente atraente e principalmente dançante. São bossas para os componentes dançarem, contagiando o desfilante e impulsionando a evolução durante o percurso da agremiação. A paradinha da cabeça faz o que pede o samba e imita um trem fazendo um barulho de locomotiva, garantindo interação popular com os ritmistas dançando pra lá e pra cá. Para quem não sabe, Locomotiva de Noel era o apelido do ritmo que fazia a bateria da Vila Isabel, na época do grande mestre Ernesto, que merece a menção musical por ter forjado a identidade rítmica herdada por mestre Mug há muito tempo atrás. A retomada da bossa que, seguindo o pedido pela letra vem do “silêncio” (vazio) tem um charme valioso, pois usa exatamente a forma como historicamente a bateria da Vila sobe seu ritmo no esquenta do Setor 1, desde os tempos do saudoso mestre Amadeu Amaral.
Foto: Vitor Melo/Divulgação Rio Carnaval
Um grande ensaio técnico da bateria “Swingueira de Noel” da Vila Isabel, dirigida pelo mestre Macaco Branco. Uma bateria da Vila genuinamente vinculada à essência do que há de mais tradicional em seu ritmo, tudo isso aliado a bossas contemporâneas com frases musicais bem conectadas à obra da escola. Um ritmo marcado pela boa fluência entre os mais diversos naipes, que tocaram de forma equilibrada por toda a pista de desfile. Certamente mestre, diretores e ritmistas têm motivos de sobra para voltarem orgulhosos para a quadra de ensaios na 28 de Setembro.
Um tema pouco explorado que merece total atenção de mestres, diretores e ritmistas é o tamanho ideal de uma bateria de escola de samba. Tempos atrás vir com trezentos ritmistas ou mais era quase uma cultura rítmica carioca. Cada vez mais esse número vem sendo reduzido ao longo do tempo e hoje em dia dificilmente alguma bateria ainda desfila com três centenas. Sejam por questões estruturais e financeiras referentes às próprias escolas ou mesmo pela avaliação do potencial risco acústico durante o percurso do desfile.
Quantificar em números a bateria ideal é uma tarefa árdua, mas o detalhe técnico crucial para esse tipo de avaliação é medir na verdade o seu tamanho (extensão). A distância entre as caixas de som pela pista de desfile é de 15 metros de uma para a outra. Uma bateria com mais de 45 metros pode sofrer algum tipo de prejuízo acústico, por causa do atraso gerado a partir da quarta caixa de som da Avenida, após o caminhão do carro de som. Dentro do carro de som existe uma espécie de GPS que deixa as três torres de som posteriores da pista sincronizadas com o carro. Somente o retorno de vozes e cordas fica ativo e mais baixo, desligando assim o da bateria, para que o som ambiente aproveite a sonoridade única do ritmo. Esse tipo de cálculo é realizado levando em conta o caminhar da bateria pela pista, exatamente para manter a acústica ambiente propícia para a melhor passagem possível do ritmo pela Avenida.
Baterias maiores que 45 metros podem ser afetadas por um ambiente acústico irregular. Mestres que estiverem mais próximos da quarta caixa do que da terceira tendem a ouvir o som da Avenida levemente atrasado, em relação ao ritmo que está sendo feito por sua bateria. Outro fato que exemplifica isso é quando se está na arquibancada e uma bateria bem grande se aproxima, mas enquanto se locomove parece estar atravessando o ritmo. Assim que ela para de frente para o setor é possível perceber que está tudo em ordem, com o ritmo equilibrado. Isso ocorre, pois a própria locomoção também leva em conta essa teoria das três caixas de sons subsequentes e andar rápido demais com o ritmo também pode potencialmente gerar complicações acústicas pelo som da Avenida. O ideal é sempre entrar e sair dos módulos andando de forma mais ponderada, sem acelerações ou atropelos, assim como por todo o cortejo.
Outro fator a ser levado em conta é a própria organização dos ritmistas pela Avenida. A formação das filas pode ser um agravante muitas vezes sequer notado para elevar a extensão da bateria. Normalmente são formadas fileiras de doze ritmistas, seis do lado par e outros seis do lado ímpar, podendo variar para a formação de dez ritmistas, com cinco de cada lado. A segunda automaticamente aumentará o tamanho do ritmo pela pista. Por vezes, o próprio tamanho da fantasia usada pelo ritmo influencia de modo direto tanto essa organização das fileiras, como a extensão da bateria na Avenida. Fantasias volumosas ou mesmo com chapéus elevados precisam de uma distância maior entre uma fileira e outra, até para garantir a plena execução dos movimentos, visando consolidar os toques. Isso acarreta necessariamente em uma bateria maior em extensão na Sapucaí, podendo gerar eventuais prejuízos sonoros.
Como é possível perceber, ritmo de bateria de Escola de Samba sempre viverá dilemas acústicos eternos, já que seu trabalho é executado através da física envolvendo a propagação do som. Refletir de forma crítica sobre seus eventuais desafios, portanto, é um jeito de buscar uma evolução da nossa cultura rítmica, auxiliando numa passagem cada vez mais regular e consistente de todas as baterias. O ato de caminhar pela pista enquanto toca precisa sempre de atenção e ponderação. Assim a propagação de uma conjunção sonora impecável de todos os naipes ficará em evidência, sem sofrer qualquer tipo de transtorno ou abalo acústico.
Na tarde da última sexta-feira, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, visitou o barracão do Acadêmicos do Salgueiro, na Cidade do Samba, antes de participar do lançamento da campanha “Feminicídio Zero no RioCarnaval 2025”. O evento contou com a presença da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, além de autoridades do estado do Rio e personalidades do mundo do samba.
Recebida pelo carnavalesco Jorge Silveira, Anielle Franco conheceu as alegorias e detalhes do enredo que a vermelha e branca da Tijuca levará para a Marquês de Sapucaí neste carnaval. Em um momento marcante, Jorge Silveira destacou a importância da visita da ministra e a representatividade do enredo salgueirense:
“Olha, hoje é um dia muito especial para nós aqui no Salgueiro. É um ano muito especial para nós. Acho que a jornada do Salgueiro esse ano é uma jornada que tem uma representatividade muito importante e a sua presença aqui representa parte dessa nossa luta e é um somatório de esforços para que a gente possa fazer validar aquilo que é de direito da cultura brasileira. E muito obrigado, seja bem-vinda ao Salgueiro.”, declarou Jorge à ministra.
A ministra foi presenteada pela agremiação com uma figa de madeira, remetendo aos amuletos de proteção destacados no enredo. Emocionada com a recepção, Anielle Franco ressaltou o impacto social do carnaval e a importância de valorizar suas raízes:
“Eu sempre digo que a gente não pode esquecer de onde vem, né? E lembrar de onde vem, respeitar quem veio antes, faz parte dessa história da construção de futuro. E o que vocês fazem aqui, o que o carnaval oferece para as pessoas desse país, de cultura, de esperança, de alegria, porque isso também é político, faz com que a gente entenda a nossa real missão de estar aqui.”
A ministra também destacou a força do enredo e do samba-enredo do Salgueiro, que carrega uma mensagem contundente contra a intolerância religiosa:
“O que a gente está vendo aqui e em várias outras escolas também, é a luta para cada vez mais reforçar o respeito, a empatia. Não à toa o samba de vocês aí está no ‘top dos tops’, como uma das músicas mais ouvidas do momento, mas não só isso, foi das mais baixadas, porque tem um recado para dar. Assim como nós, quando estamos no Ministério, falamos da luta, da importância do povo negro, das pessoas respeitarem, humanizarem esse povo, essa sociedade, assim também é o carnaval.”
A ministra se emocionou ao lembrar da irmã, Marielle Franco, vereadora assassinada em 2018, e fez um apelo pelo respeito e pela empatia:
“Propagar o respeito, a empatia. Propagar que cada pessoa tem direito de cultuar aquilo que acredita, da maneira que acredita. Vocês sabem da história da minha melhor amiga, né? Quando a minha irmã é assassinada, um dos motivos, é por defender pessoas que lutam todos os dias contra essas violências.”, destacou Anielle ao falar da importância das escolas de samba na luta contra a intolerância religiosa.
Em uma iniciativa de combate à violência contra as mulheres, na última sexta-feira, ocorreu na Cidade do Samba, localizada na Zona Portuária do Rio de Janeiro, o evento de lançamento da campanha ‘’Feminicídio Zero; Nenhuma violência contra mulher deve ser tolerada’’ reunindo autoridades, parlamentares, lideranças comunitárias e representantes das escolas de samba do Grupo Especial, tendo como principal objetivo ampliar a conscientização sobre o feminicídio e incentivar ações de prevenção, além de fortalecer a rede de proteção às vítimas de violência doméstica.
Durante o lançamento, a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou a importância da mobilização social no carnaval para enfrentar o problema. “É fundamental porque o samba é uma grande representação da cultura nacional, de resistência, de sabedoria, de construção de valores e comportamento. Aqui é um espaço para que a gente fale, discuta a questão da não violência contra a mulher e o feminicídio zero. È uma grande emoção estar na casa do samba e ni periodo do carnaval a gente estar fazendo esse grande evento para milhões de pessoas ficarem sabendo que o governo do presidente Lula e que o Brasil não aceita violência contra as mulheres”.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
O evento contou com grandes mulheres do samba. A musa da Portela, Amanda Oliveira, foi a mestre de cerimônia e declarou que se sentiu honrada com o convite. “È uma honra ter sido convidada para representar as mulheres do carnaval, as mulheres pretas do carnaval, eu, como musa da Portela, sei de todas as barreiras e estereótipos que nos dão como mulher preta, como passista, que a passista não pode chegar a qualquer lugar, então é uma honra gigantesca estar aqui conduzindo este evento sobre o Feminicídio zero e que cada vez mais essa pauta esteja em alta para que tenhamos um excelente carnaval e não só no carnaval, porque é uma pauta atual”.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
A abertura ocorreu com a apresentação das porta-bandeiras das 12 escolas do Grupo Especial e seus pavilhões, sendo elas, Grande Rio, Portela, Viradouro, Mangueira, Beija-Flor, Paraíso do Tuiuti, Unidos de Padre Miguel, Imperatriz Leopoldinense, Mocidade Independente de Padre Miguel, Unidos da Tijuca, Vila Isabel e Salgueiro. A fala da diretora de Cultura da Liesa, Evelyn Bastos, também rainha de bateria da Estação Primeira de Mangueira, marcou o início da abertura.
“Como rainha de bateria, me coloco no lugar das passistas que por arte, expomos os nossos corpos, e nos colocam em situação de vulnerabilidade diante de ideologias misóginas e patriarcais”, declara a diretora cultural.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
Evelyn agradeceu a esta iniciativa e também reforçou o valor desta parceria. “Quero agradecer a todos vocês e tenho certeza que essa união irá mudar as estatísticas e vai fazer com que o Carnaval e o Brasil acesse a base da nossa pirâmide social que são as mulheres, com uma informação muito mais didática porque as nossas mulheres, negras, principalmente, merecem essa comunicação como forma de cuidado e de preservação”.
As escolas de samba e o próprio Sambódromo são ambientes culturais e sociais fundamentais para desenvolver de maneiras eficazes e contundentes conscientização, prevenção e enfrentamento ao cenário completamente inaceitável da violência contra as mulheres no Brasil. Considerando o direito e a participação de meninas e mulheres em todos os espaços de carnaval, o Ministério das Mulheres, o Ministério da Saúde, a Liga Independente das Escolas de Samba e a Fundação Oswaldo Cruz comprometeram-se em desenvolver esta parceria para promover, disseminar, organizar e operacionalizar ações de combate a violência promovendo a conscientização social.
Um problema de toda sociedade, principalmente dos homens
A violência contra a mulher é uma das mais graves violações dos direitos humanos, é um problema estrutural que assola o Brasil. O feminicídio, sua manifestação mais extrema, reflete a cultura machista enraizada na sociedade, que perpetua a desigualdade de gênero e normaliza as agressões. Diante dessa realidade, a luta contra a violência de gênero não pode ser uma responsabilidade exclusiva das mulheres. Os homens têm um papel fundamental nesse debate e devem assumir a responsabilidade de se posicionar ativamente contra essa violência.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
Pela primeira vez este debate ganha visibilidade no Rio Carnaval através do presidente da Liesa, Gabriel David, que destacou a potência das escolas de samba para disseminar a informação na sociedade brasileira.
“Poucas organizações do Brasil, como as escolas de samba, tem o potencial tão grande de comunicar algo tão importante para a sociedade, entender que nós podemos fazer a mudança, e, tenho certeza que todas as escolas de samba, todos os foliões e todos aqueles que estiverem na Marquês de Sapucaí esse ano, estarão vendo essa mensagem não só para o carnaval, mas uma mensagem que a gente precisa ter todos os dias do ano pelo resto de nossas vidas, para que de fato, possamos chegar ao índice de feminicídio zero”. Gabriel agradeceu a presença de todas as mulheres que trabalham diariamente para a construção do país.
A iniciativa da campanha contra o feminicídio na Cidade do Samba surgiu graças à articulação do presidente da Embratur, Marcelo Freixo, que aproximou o Ministério das Mulheres à Liesa. Esse movimento estratégico tem grande importância, pois aproxima o debate sobre a violência contra a mulher de um dos maiores símbolos da cultura popular brasileira.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
“É um marco importante. Eu conversei com a Ministra Cida lá atrás e a gente pensou em que lugar acontecer essa campanha tão fundamental para o Brasil, e além dos estádios, a gente pensou também no Carnaval. A Cida de forma muito competente colocou isso nos campos de futebol, uma mensagem que tem entrado em todo esse universo, agora, nada é mais potente em termos de expressão e comunicação do que o carnaval. Então, colocar essa mensagem ‘Feminicídio Zero’ dentro da avenida é um posicionamento de um Brasil que é sonhado mas é construído. A gente já avançou muito, mas tem muita coisa para avançar ainda e é bom lembrar que do 8 de março, Dia Internacional da Mulher, cai no sábado das campeãs e não é atoa, a gente tem muita coisa para fazer juntos. Parabéns Cida e a todos”, discursou o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.
A presença da campanha na Cidade do Samba reforça a necessidade de envolver diferentes setores da sociedade na construção de uma realidade mais segura para as mulheres. Marcelo Freixo, ao estabelecer essa conexão entre o Ministério das Mulheres e a Liesa, demonstra a importância de unir esforços institucionais e culturais para enfrentar um problema estrutural que afeta milhares de brasileiras todos os anos.
Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídio
De acordo com dados da ONU, o Brasil apresenta uma das taxas mais altas de assassinatos de mulheres por razões de gênero. Em muitos casos, as vítimas são mortas por parceiros ou ex-parceiros, em contextos de violência doméstica e controle abusivo. Além disso, o feminicídio muitas vezes é o estágio final de um ciclo de agressões físicas e psicológicas que, se não interrompido, resulta na morte da vítima. O índice é ainda mais alarmante quando se faz um recorte de racial.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
“O maior indíce de violência contra as mulheres, são as mulheres negras. Por isso estar aqui com a Anielle Franco, nossa Ministra da Igualdade Racial, se faz tão importante quanto e dizer neste momento que o maior espetáculo da Terra se dá exatamente no Carnaval, que envolve o Brasil como todo’, então essa campanha vai se fazer ouvir e fazer acontecer realmente para milhões de pessoas. Então, quero agradecer às nossas ministras e a todas as mulheres sambistas”, declarou a deputada federal, Benedita da Silva (PT), que discursou durante o evento.
O combate ao feminicídio exige medidas urgentes e eficazes, como o fortalecimento das delegacias especializadas, a ampliação da rede de apoio às vítimas e campanhas de conscientização para desconstruir a cultura machista que naturaliza a violência. Além disso, é fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para pressionar por políticas públicas que garantam a proteção e a vida das mulheres em todos os espaços, inclusive no carnaval.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
“Nós precisamos estar vivas, precisamos estar inteiras, não podemos ser violentadas e maltratadas. Nós somos o quinto país no ranking mundial de feminicídio principalmente na América Latina. Estamos construindo políticas públicas, mas só podemos mudar a realidade desse país se cada cidadã e cidadão entenderem que isso também é um problema de todos. E é através da Cultura, através do samba, que nós vamos conseguir chegar em todas as pessoas para mudança de comportamento”, afirma a Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
Saúde pública para mulher no enfrentamento à violência
A violência contra a mulher é um problema de saúde pública e uma violação dos direitos humanos, impactando profundamente a vida e o bem-estar das vítimas. Para enfrentar essa realidade, é essencial que o sistema de saúde pública esteja preparado para acolher, orientar e proteger as mulheres que sofrem qualquer tipo de violência.
“O Ministério da Saúde também se soma à essa importante iniciativa ao lado da Liesa, porque há muito tempo nós definimos que violência contra mulher é uma questão de saúde pública. Quero agradecer ao Gabriel David por estar conosco nessa parceria tão importante e a Diretora de Cultura, Evelyn Bastos”, ressaltou a Ministra da Saúde, Nísia Trindade.
Carnaval Seguro: Diversão, Respeito e Igualdade para Todas as Mulheres
A segurança no carnaval não é responsabilidade exclusiva das mulheres. Homens e toda a sociedade devem se conscientizar sobre a importância do respeito, combatendo comportamentos abusivos e apoiando iniciativas de proteção feminina.
Foto: Marielli Patrocínio/CARNAVALESCO
“Carnaval bom, é carnaval para todas as pessoas. A gente está aqui hoje, é a reafirmação da vida, onde estamos justamente fazendo uma campanha de conscientização tanto de feminicídio, mas também sobre o combate ao assédio no Carnaval”, diz Joyce Trindade, Secretária das Mulheres do Município do Rio de Janeiro.
A noite de lançamento contou com a presença de mulheres componentes das escolas de samba do Rio, que ouviram atentamente, aplaudiram as ações que serão tomadas nos espaços do Carnaval e aplaudiram a iniciativa. “Eu achei maravilhoso. A gente sabe desde os tempos de primórdios como as passistas são tratadas, principalmente pelos gringos, então mudar essa visão para a arte, porque o que elas fazem na avenida é arte, é muito importante. Ter um evento como esse com ministras, com vereadoras, com mulheres lutando por nós é muito importante”, finaliza Deise Fernandes Sacramento, de 58 anos, componente da Portela há 10 anos.
Por Lucas Sampaio e fotos de Rebeca Schumacker (Agência Enquadrar)
O Brinco da Marquesa realizou na noite da última sexta-feira seu único ensaio técnico previsto no Sambódromo do Anhembi em preparação para o desfile no carnaval de 2025. A bateria “Fantástica” foi o grande destaque, animando o canto da comunidade no treinamento encerrado após 48 minutos na Avenida. A escola da Vila Brasilina será a nona a se apresentar pelo Grupo de Acesso 2 com o enredo “A Marquesa na Cidade do Amor. São Paulo Carnaval 2025″, assinado por uma comissão de carnaval.
Ensaiada pelo coreógrafo Hugo Alves, a comissão de frente do Brinco realizou uma apresentação com duração de duas passagens do samba. Sem as fantasias ainda não é possível definir com clareza a coreografia, tendo em vista que nos primeiros momentos do primeiro ato três atores parecem se destacar nas interações entre si como se fossem uma família, mas em dado momento eles se separam, uma das atrizes passa a se destacar sozinha até que por volta do segundo ato já nenhum dos componentes parece ter algum destaque. É como se a ideia proposta fosse mostrar como uma pessoa, gradualmente, se torna uma só com as características da cidade, que é o que os demais participantes do quesito dão a entender que estão fazendo. Uma atuação intrigante que no dia do desfile, com todos devidamente fantasiados, pode fazer mais sentido.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da Marquesa, formado por Samuel Lemos e Mariana do Carmo, encontrou problemas no andamento do seu ensaio junto com a escola. No primeiro módulo, a dupla realiza sua coreografia com um avanço muito lento na dança, o que faz com que a parte à frente do desfile avance mais do que a que vem atrás, comprometendo a evolução. No terceiro módulo, em menor escala, essa falha persistiu, sanando em definitivo apenas no último grupo de jurados.
A porta-bandeira se mostrou muito mais segura e ativa em seus passos do que o mestre-sala, que se atrasou em algumas finalizações de obrigatoriedades em dados momentos. Será necessário refinar a preparação para chegarem no dia do desfile prontos para garantir as notas para o quesito. Um ponto a se atentar é justamente a parte final da atuação, que parece ser a que mais causa essa “segurada” no andamento da escola.
Harmonia
Um canto acima da média para o Acesso 2 chamou a atenção no ensaio da Brinco da Marquesa. Mesmo com um contingente pequeno, as alas que estavam presentes contaram com muitos componentes cantando o samba, mesmo que outros, em uma escala bem menor, ainda demonstrassem timidez. A ala que mais se destacou no ensaio sem dúvidas foi uma das últimas, cujos desfilantes portavam leques e estavam especialmente animados. O dia e o horário do ensaio podem ter atrapalhado a mais pessoas a participarem do treinamento, mas se a escola conseguir reforçar o samba na voz de todos que forem desfilar, podem sonhar com a nota máxima.
Evolução
A Brinco da Marquesa distribuiu seus segmentos de forma pouco usual na pista. A bateria veio logo depois da comissão de frente, com a ala das baianas vindo logo atrás e em seguida o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira. Só depois de tudo isso e de mais uma ala é que vem a marcação do carro Abre-alas. Curiosidades à parte, a formação não parece ter comprometido o andamento geral da escola, com exceção do que fora apontado na análise do casal. Como nem todas as alas contavam com todos os desfilantes com camisas da escola, a sensação de compactação não foi suave, e em dados momentos algumas alas pareciam mais afastadas de outras que o normal, mas a fluidez no geral da Marquesa na Avenida foi correta. Cabe a preocupação quanto ao tempo do fechar de portões aos 48 minutos mesmo com um baixo contingente. A escola precisa se atentar ao fato de que o regulamento mudou, pois ficou a apenas dois minutos do limite de tempo.
Samba-Enredo
Com o carro de som liderado pelo intérprete Buiu MT, a obra do Brinco da Marquesa funcionou bem no ensaio. A letra é simples, mas de fácil compreensão e assimilação por parte dos desfilantes, que mesmo os mais tímidos foram ganhando coragem conforme evoluíam na Avenida. A combinação de carro de som e bateria foi sublime, e nos momentos em que os ritmistas fizeram apagões, a comunidade respondeu bem e sem atravessar o canto. Se a obra estiver alinhada com o enredo dentro que o regulamento pede, pode render bons frutos para a escola.
Outros Destaques
Mestres Bigode e Maurício Camilo podem se considerar orgulhosos de seus ritmistas. A bateria “Fantástica” esteve em grande noite e foi o grande destaque do ensaio, com instrumentos bem alinhados e bossas muito agradáveis de se ouvir em diferentes momentos do samba. Um pequeno apagão observado logo no começo da primeira parte da letra chama o componente para se envolver no desfile ainda mais. Certamente o quesito honrou o nome que receberam da própria escola.
O Arranco do Engenho de Dentro homenageou em 2024 a psicanalista Nise da Silveira, mulher que revolucionou o setor psiquiátrico do Brasil ao implementar tratamentos humanizados para pacientes com transtornos mentais, em meados dos anos 40. Ela é lembrada até hoje como exemplo de sensibilidade e humanidade. Neste ano, a escola da Zona Norte novamente levará para a Avenida o poder feminino de transformar o mundo através do cuidado, onde as mulheres serão representadas pela figura materna no enredo “Mães que Alimentam o Sagrado”. O CARNAVALESCO entrevistou Annik Salmon, autora do enredo e única mulher no posto de carnavalesca da Série Ouro. Ela nos contou de onde veio a inspiração para construir a história do desfile da escola.
“O meu despertar para desenvolver esse enredo foi quando eu recebi o convite da Tatiana Santos (presidente da escola) para ser a carnavalesca do Arranco e aceitei. O primeiro encontro que eu tive com ela foi na quadra, em uma festa de feijoada. Assim que eu entrei nessa quadra, já me deparei com a Diná Santos, que é a presidente, cozinhando, fazendo a feijoada para todo mundo. Ela mesma que cozinha e fica sempre tão preocupada, sabe? Se todos estavam comendo, se o pessoal da bateria já tinha comido, e perguntava para mim, ‘Niki, já comeu? Vem cá pegar seu prato de feijoada’. E era uma comida deliciosa, feita com carinho, com amor. Com aquilo, já eu fiquei ‘nossa, que interessante’. E uma escola presidida por mulheres: a Diná, a filha, Tatiana, e a filha dela também, que é a secretária, me contratando como carnavalesca, agora então a única carnavalesca mulher. Uma escola muito feminina e matriarcal, com segmentos femininos, como a intérprete do carro de som, a Pâmela. E eu me senti em casa. Me senti abraçada”.
A moça reforça o encantamento pelo tema quando afirma ter escolhido fazê-lo por conta própria, passando pela aprovação da vice-presidente Tatiana Santos. “Eu já cheguei na escola com uma proposta de enredo pronta, mas conversando com ela (Tatiana) e conhecendo essa essência do Arranco, mudei de ideia. Eu também sou muito guiada pela minha intuição, e nesse dia, quando fui para casa depois de ficar muito feliz lá na feijoada, tive um sonho onde eu meio que dei estalo, e conclui que o meu enredo teria que ir por esse caminho. Aí eu quis falar dessa questão de mãe, da alimentação e do afeto de mulheres. Aí veio o desafio: como desenvolver isso dentro de uma narrativa para ser mostrada na avenida? Aí que entrou a pesquisa com o Artur, que já era o pesquisador enredista da escola, e no segundo dia de encontro com ele já começamos a desenvolver tudo”.
Maternar é mais importante do que a maternidade
A figura da mãe nesta narrativa vai muito além do fator biológico. Salmon não foca na capacidade dar a luz ao abordar a relação da maternidade com a mulher na sociedade. O ato de maternar aqui quer dizer cuidar, e não somente dos próprios filhos.
“O primeiro alimento vem dos seus seios, do corpo feminino. Mas aí eu pontuo muito bem nesse enredo que, antes de toda mãe ser uma mãe, ela é uma mulher. Pode ser uma mulher que já nasceu mulher, ou também uma que escolheu ser mulher. O que eu defendo é que toda mulher é uma mãe, mesmo sem gerar uma vida. Tem aquelas mães que cuidam da sua comunidade, tem as mães que cuidam todo de terreiro de Candomblé, tem adotivas, tem as tias que cuidam dos sobrinhos, que também são mães, e as que geram e cuidam dos seus filhos. Mostro que às vezes o ato de maternar é muito mais importante do que a própria maternidade em si. O carinho e o afeto que vem das mulheres, independente delas terem escolhido ser mães biológicas ou não”.
Mães e ancestralidade
Na sua pesquisa, a artista quis explorar a ligação que a mulher tem com o zelo e a proteção no imaginário popular, e buscou referências que comprovam que essa ideia existe no pensamento coletivo desde os primórdios da nossa história.
“Essa temática começa com a questão ancestral que envolve todo o arquétipo da mulher feminina, da mãe, dentro de uma cultura afro-iorubá. Para eles, a mãe é sagrada, e muito mais até que um Orixá. É uma divindade a quem eles são gratos e têm devoção. Aquele ultra, aquela cabaça, aquele símbolo mítico africano que é capaz de gerar e guardar os mistérios da vida. A gente começa essa pesquisa, desenvolve esse enredo por essa pegada da ancestralidade, até chegar nessa pluralidade que é o nosso Brasil, onde essa
crença não está somente nas religiões de matriz africana, mas nas outras também, como, por exemplo, na religião católica, onde há a devoção à Nossa Senhora. E não tem como falar de ancestralidade sem falar dos indígenas. Quando a gente entra também na questão que envolve a mãe nas lendas e crenças dos nossos povos originários. Falar de mãe também é falar da natureza, que, afinal, é conhecida como a ‘mãe Terra’. A associação vem do feminino, da ideia de que, se cuidarmos bem dela, a Terra vai continuar produzindo alimentos para nós, para os nossos filhos e para os nossos outros que ficam”.
O que representa o alimento sagrado na Arranco 2025?
Ao permear entre os conceitos de mãe, mulher, ancestralidade, fé e alimentação, uma pergunta fica no ar: o que, de fato, é sagrado para uma mãe? As prioridades e desejos mudam de acordo com as vivências e o contexto no qual estão inseridas essas mães, que, antes de tudo, são mulheres. Mas é inegável que há um motivo em comum que move a maioria delas, e é neste aspecto que Annik quer se aprofundar.
“O alimento representa a nossa fé, quem a gente cultua dentro da nossa espiritualidade, dentro da nossa crença, seja ela qual for, mas também aquilo que é sagrado para toda mãe, que são seus filhos e sua família”.
Luta das mães representa a luta das mulheres
“As mulheres estão atuando o tempo inteiro na rua, buscando como levar esse alimento para os seus sagrados dentro da sua casa. Elas estão na luta diária dentro dos seus ofícios, sejam eles quais forem. São as mulheres que cuidaram da terra onde se tira o alimento. Elas que vão para a feira, elas que são as donas do mercado. Foram as mulheres, principalmente as mulheres negras, as primeiras a ocuparem as ruas no mercado e ali faziam seu cambio, seu movimento de troca com as suas vendas. Muitas dessas mulheres estão ali vendendo seu alimento, levando o que produziram nas hortas de suas pequenas casas, mas não têm o que comer. A gente também fala dessas mulheres que vão ali no resto da feira buscar o que não se vê beleza, que é o resto, e levar para fazer uma comida maravilhosa para os seus filhos em casa”, complementa.
As mulheres na atualidade
Annik considera o fato de colocar as mulheres em evidência o grande trunfo de seu desfile, por conta da desigualdade social que ainda existe entre os gêneros no mundo atual. Ela relata sua experiência pessoal como a única representante feminina no cargo de carnavalesca da Série Ouro do carnaval carioca, e uma das únicas do carnaval em geral.
“É um enredo que fala da escola, porque é a essência feminina, mas que também fala muito de mim, da minha história, de mim como artista, profissional e mãe. Eu pensei ‘é um momento tão importante para a minha vida, quanto para a história do Arranco. Ainda somos colocadas em lugares subalternos na sociedade, pois somos consideradas para muitos o sexo frágil. Ainda temos desigualdade salarial, sofremos muito machismo, muito preconceito, às vezes simplesmente pelo fato de sermos mulheres. Estou mostrando no meu enredo do início ao fim que a mulher ela é forte e pode ocupar seu espaço onde ela quer, mesmo ainda a gente tendo que driblar o preconceito o tempo. A gente tem que mostrar diariamente que somos capazes de fazer aquilo que a gente quer. E isso cada uma dentro da sua profissão, cada uma dentro da sua área. E quando eu falo de mãe, a gente sempre relaciona, porque o tanto que ela luta diariamente dentro do seu ofício para conseguir levar o sustento para esses seus sagrados, só a mulher é capaz de fazer. Mostro isso no desfile, exatamente a força dessas mulheres, para mostrar que nós somos o sexo
resistente sim”.
Salmon tem um extenso currículo no carnaval. Começou sua carreira como assistente e figurinista de Alexandre Louzada, na Porto da Pedra, em 2003, e estreou como enredista em 2007, na Acadêmicos do Cubango. A partir dali, teve a maioria de seus enredos feitos para as escolas do Grupo Especial. Após dois anos consecutivos à frente da Mangueira, ela retorna para a Série Ouro com a Azul e Branca da Zona Norte, e relata as dificuldades que vem encontrando depois da experiência na Verde e Rosa.
“Voltar a fazer a Série Ouro não é fácil, é muito difícil. Aqui no barracão, a realidade das coisas é muito diferente. A gente não tem uma estrutura como a o do Grupo Especial. Temos que fazer carros melhores, assim como pensar em enredos mais enxutos. Enquanto a gente está no Especial, conseguimos desenvolver o enredo em cinco, seis setores, com seis alegorias. Aqui temos que pensar em uma temática que precisa ser reduzida para três setores e três alegorias. Até pensar em desenvolver esse enredo, com uma temática em que ele seja mais enxugado, é um trabalho mais difícil. Quando a gente começa a abrir esse leque e pensar numa proposta, a gente quer ampliar muito mais. Eu poderia fazer esse enredo em 10 setores, enquanto isso, temos que resumir e fazer em três. Voltar para o Acesso e fazer isso é pensar até em quais pontos são os mais importantes dentro da matemática, quais que vão tocar mais o público, quais são mais interessantes visualmente, e tudo isso dentro de uma dificuldade financeira”.
A artista também contou como faz para ultrapassar as barreiras impostas por essas dificuldades financeiras, admitindo ser “muito pé no chão”.
“Nós dividimos barracões, pois tem barracões que molham quando chove, aí se não dividíssemos teríamos que cobrir esculturas. Isso porque aqui não temos uma verba tão alta. Hoje mesmo estávamos olhando aqui e pensando ‘vamos cobrir esse carro com a lona?’, e a gente não tem essa praticidade. Agora estamos em um barracão que está só a gente, mas o teto direito é muito baixo. Tenho que pensar em como vai ser o carro, e fazê-lo mais baixo do que eu gostaria de fazer, e ainda tenho que pensar como vou fazer para que esse carro cresça lá na avenida. Tem que ter todo estudo com o ferreiro, de como fazer esses carros, ao mesmo tempo todo esse mecanismo tem que ter um custo maior. Se eu já tivesse teto alto, eu sairia na altura que eu queria. É tudo mais complicado, mas pensamos da melhor maneira e estudamos para que consigamos fazer um carnaval bonito e seguro, sem correr tanto risco de carro quebrar ou não chegar inteiro. Eu gosto muito de trabalhar dentro da realidade, dentro do que me permite, então se o que o barracão me permite hoje são carros menores, eu vou fazer carros menores. O desafio hoje é isso, é trabalhar dentro do possível para impactar o público com uma arte bonita, mesmo com uma proporção menor”.
Mas não pensem que a profissional está insatisfeita com o trabalho que está fazendo na Arranco. Apesar das adversidades, ela fala com muito carinho sobre a agremiação.
“Estou muito feliz no Arranco, é uma escola onde fui abraçada por essas mulheres. É uma escola feminina, matriarcal, eu me sinto acolhida, pertencente a essa comunidade, a essa família. Como artista, o importante é estar atuando e fazendo carnaval, independentemente de ser uma escola de Grupo Especial ou da Série Ouro. O importante é a gente estar fazendo o nosso trabalho e eu espero sempre ter espaço mesmo pra poder desenvolver minha arte, que é a coisa que eu mais amo fazer”.
O Arranco encontrou na sustentabilidade a solução para a falta de verba para os desfiles. Essa iniciativa é excelente, tendo em vista o grande percentual de acumulação de resíduos provenientes dos materiais utilizados em fantasias e alegorias das escolas de samba. Artur Amaro, pesquisador de enredo da escola, falou sobre como é o processo de reutilização de materiais no processo criativo da escola.
“Nosso carnaval é muito pensado na sustentabilidade. A gente projeta, faz protótipo com determinados materiais, e quando o dinheiro cai, temos que substituí-los, porque não os encontramos. Vou usar o que eu tenho hoje em mãos. A nossa escola está vindo com quase 90% de materiais de reuso, dentre eles, materiais que já tínhamos, como ferragens de outros carnavais. Fui reaproveitando. Já fiz o projeto pensando nisso, desde o início. É claro que temos materiais novos que a compramos para algumas alas, mas eu realmente pensei o tempo inteiro em fazer um carnaval sustentável mesmo, tanto em alas quanto em alegorias. Não dá para levar para a avenida o discurso que fala sobre como as mulheres conseguem ter o poder de transformação e não apresentar isso. Como que vamos ter um desfile que diz ‘cuide da terra, cuide da natureza’, se a gente sabe o impacto do lixo que o carnaval produz? Desde o início tivemos a preocupação de começar a pensar em como reutilizar esses materiais e leva-los para a avenida de uma forma inédita e impactante. O carnaval precisa ser comunitário, além de ser bonito. Precisa falar do Brasil, e se tem uma coisa que esse terreiro mais fala é do Brasil, porque é o país que tem grande parte das suas famílias chefiadas por mulheres, que é o primeiro instrumento de resistência africana. Eu quero pensar em um carnaval que tenha a força dessas mulheres que eu me inspiro”, comentou Artur.
“Eu chego na escola e me deparo com essas pessoas que também pensam assim como eu. A nossa vice-presidente, a Tatiana, até brinco que ela é acumuladora, porque ela guarda muito material. Temos também o ferreiro Elcio, que é meu amigo, e já trabalhamos juntos em outras escolas. Ele também é assim. Eles dois são importantes para o meu processo de criação, pela maneira como pensam. Hoje você entra ali e vê no barracão um monte de coisas no chão que a gente realmente está reaproveitando”, complementa Annik.
Conheça o desfile do Arranco do Engenho de Dentro
O Arranco do Engenho de Dentro vem em 2025 com cerca de 2 mil componentes, 3 carros alegóricos e 1 tripé na comissão de frente. Annik Salmon, ao CARNAVALESCO, fez a setorização do desfile da escola.
PRIMEIRO SETOR: Abordo a ancestralidade em volta dessa mãe por um ancestral, que vem da África, que é o berço dessas mulheres que são consideradas pelo povo Yorubá como sagradas. Para eles, a mãe é um ser mágico e único, que tem que ser valorizado e cultuado. Eu abro por aí e chego no nosso Brasil mostrando que essas mulheres venceram e conquistaram aqui os seus espaços, que são os terreiros. Foram essas matriarcas que fundaram os primeiros terreiros de Candomblé aqui no Brasil e hoje muitas mães seguem
esse legado que foi dado e colocado aqui pelas mãos delas.
SEGUNDO SETOR: Nesse eu falo da pluralidade que tem aqui no nosso Brasil, que envolve questões religiosas, festivas e culturais relacionadas à mãe. Falo da fé católica, da fé dos povos originários e da fé que brota da terra.
TERCEIRO SETOR: É o setor da resistência, no qual eu falo mais da atualidade, das mulheres que estão na luta dia a dia para vencer, cada uma com seu ofício, cada uma dentro do seu mercado de trabalho, mas que continuam ali lutando e vencendo para levar esse alimento para dentro de casa, para conseguir criar esse seu sagrado que são seus filhos.
O casal Rodrigo Negri e Priscilla Mota são os responsáveis pela comissão de frente da Viradouro desde a preparação para o carnaval de 2023. Os coreógrafos que tem uma carreira vitoriosa na sua trajetória do carnaval ajudando na conquista de diversos títulos por diferentes escolas, como Unidos da Tijuca, Mangueira e o campeonato do último carnaval na Viradouro, além de diversos prêmios pelas comissões de frentes criadas e coreografadas por eles. O CARNAVALESCO conversou com os artistas sobre o trabalho da dupla.
O casal de coreógrafos começou falando sobre a atuação na Viradouro, e como eles casaram bem seus momentos profissionais com o bom momento pelo qual a escola de Niterói passa.
“A Viradouro hoje é uma escola amadurecida em todos os aspectos. É uma escola muito estruturada, em que depois de 15 anos de carreira, nossa quarta escola, em que parece que a gente está em um momento certo de carreira. Juntou um momento bom da escola com um momento bom da nossa carreira de maturidade, de entender o quê funciona, de entender a importância dos processos. É uma escola que não mede esforços para viver os nossos processos, e todos os processos de todos os quesitos”, iniciou Priscilla Mota.
“Acho que o bacana também é que a gente encontrou uma equipe muito coesa. Uma equipe que troca muito conosco nas questões artísticas. É uma parceria que a gente vinha buscando ao longo dessa nossa trajetória e que achamos que finalmente encontramos esse time aqui na Viradouro”, pontuou Rodrigo Negri.
O trabalho com o diretor executivo, Marcelinho Calil, também foi comentado, tendo destaque a forma com que ele trabalha com a comissão de frente da escola em busca do melhor para o segmento comandado pelo casal.
“O Marcelinho é um presidente que entende de carnaval, e ele é muito participativo, extremamente parceiro de tudo que a gente faz e de todo mundo, não só da comissão de frente. Ele ama a comissão de frente, é um quesito que ele curte. Ele é muito atuante no nosso processo e exigente também, mas o bom é que nós também somos exigentes, então normalmente quando ele vem com uma questão, ou a gente já pensou, a gente agrega isso”, explicou Priscilla ao tratar do modo de trabalho em conjunto com o diretor executivo da escola.
“Normalmente são super pertinentes as questões, que muitas vezes fazem a gente refletir e pensar sobre o projeto. É um parceiro que a gente conta muito durante o projeto, para conseguir finalizar, e que as opiniões dele são sempre válidas”, disse Rodrigo sobre o trabalho.
O carinho dos componentes da Vermelha e Branca de Niterói foi o próximo ponto da entrevista, assim como a forma com que a agremiação convive e busca realizar o carnaval a ser levado para a Marquês de Sapucaí.
“Acho que a maturidade traz para nós um senso de caminhada. Porque muito se fala para quem assiste carnaval no resultado, na nota, no prêmio, no campeonato. Mas de nada vale tudo isso se você não tem uma boa caminhada, uma boa temporada, e um bom ano. E eu acho que aqui na Viradouro todos nós somos extremamente exigentes com a nossa performance. Do Marcelinho, ao Alex, e ao Tarcísio, e isso a todo mundo, todos os quesitos. Mas nós também temos muito respeito e amor pelo nosso ofício, e uns pelos outros. Então isso faz com que o dia a dia de tanta exigência seja mais leve. Nós sabemos que a gente tem amigos para contar, pois às vezes a gente precisa mudar a rota. Mas existe um entendimento, porque todo mundo sabe aqui que a grande estrela no final é a própria Viradouro”, afirmou a coreógrafa.
“Quando sempre tem alguma questão no caminho, o time todo se abraça e fala, vamos juntos pra gente tentar resolver essa situação. Mas eu acho que é isso. Apesar da gente saber da expectativa em relação à escola, a gente percebe que o processo é leve, sabe? Não é um processo que é aquele por acesso desgastante, é um processo leve que acho que isso é fundamental para que a gente consiga desenvolver o nosso trabalho também”.
Sobre o trabalho com Tarcísio Zanon, carnavalesco da escola, a dupla pontua a boa interação e a parceria, além da forma coletiva de criar as comissões que a Viradouro levou e levará para a Passarela do Samba, com Priscilla destacando a conexão na forma que cada um entre o trabalho do outro.
“O Tarcísio, ele é um encantado. Ele é intuitivo, ele é parceiro, a gente aprende muito com ele, que está em franca evolução. Quando a gente acha que ele já entregou tudo, ele vem e surpreende a gente. O trabalho é uma parceria linda, ele ouve, ele entende. Não só nos ajuda a resolver, mas ele entende a forma que a gente pensa e hoje a gente entende a forma que ele também pensa. E ele é otimista, um criador otimista, isso é muito bom, porque às vezes a gente fica naquela expectativa, será que a gente faz? Ele fala que vai dar certo, vambora, vambora. E, realmente, ele não larga a nossa mão durante toda a caminhada. Trabalhar com ele é fantástico”, disse Priscilla, pontuando principalmente o otimismo do carnavalesco.
“É bem coletivo essa criação. A gente vem sempre com uma proposta e a gente discute muito se isso funciona, se isso não funciona, às vezes ele também traz uma ideia, e a gente discute muito. É um trabalho muito coletivo, ele é muito parceiro em todos os detalhes. A gente sempre procura estar ali, Tarcísio, o que você acha, o que você pensa disso? Acho que essa parceria é o fruto desse sucesso desses dois últimos anos de trabalho”, afirmou o coreógrafo.
A iluminação cênica da Sapucaí foi comentada pela dupla, falando sobre a utilização dela para as comissões de frente como mais um elemento para ser utilizado pelas escolas para seus desfiles.
“Acho que é mais um elemento que vem para somar. Além de pensarmos agora não só no projeto em si, a gente agrega mais um elemento que é a iluminação cênica. Então, quando a gente pensa no projeto, agora, a gente tem que pensar no todo, não só ali na parte estrutural, da dança, do tripé, mas mais esse elemento que vem para agregar no carnaval. Acho que vem para somar de uma maneira também que não roube o trabalho, mas ele vem para poder potencializar o nosso trabalho”, observou Rodrigo.
“Acho que é um elemento que tanto pode exaltar como prejudicar, se você não souber usar. Então, realmente, desde o início do projeto do desfile, não só da comissão, a gente fica trabalhando para fazer o bom uso da iluminação, para que seja um fator que venha a agregar ao projeto que já é bom da sua célula”, explicou Priscilla.
O casal, responsável por diversas imagens marcantes do carnaval carioca ao longo dos anos, falou sobre essa responsabilidade de acabar marcando muitos desfiles com algo trazido pela comissão de frente ensaiada por eles, e como buscam fazer o melhor trabalho de abrir um desfile de uma escola sem a preocupação de gerar esta imagem, mas sim, realizar o melhor para a agremiação.
“A gente não faz a comissão de frente pensando em criar a imagem do carnaval, mas entendemos a importância da comissão de frente para abrir um desfile. Uma boa comissão de frente é um caminho muito importante para um bom desfile. O jeito que eu e o Rodrigo fazemos, que é aquela coisa de tentar resumir o desfile inteiro, ajudar o público a entender o que virá, os setores, de que forma, como é que essa história é resumida para que ele já curta o desfile de outra maneira. A gente pensa muito nisso, de como vamos trazer o espectador, como vamos melhorar a experiência do espectador em relação ao desfile, porque o espectador tem que participar. Entendemos que esse é o papel da comissão de frente. A gente acha que é, a gente não sabe se é o certo, mas é o jeito que a gente faz. Para a Viradouro, tem funcionado. É mais difícil dessa forma, porque você acaba tendo que, em pouquíssimo tempo, fazer coisas inacreditáveis. Mas é bom quando, no final, isso vira a imagem do desfile, porque é sinal que deu certo”, afirmou a coreógrafa, contando um pouco sobre a intenção do trabalho do casal com a mensagem a ser contada pela comissão de frente.
“Mas também traz uma pressão normal, que a gente já está acostumado. E a gente não tem essa pretensão de buscar todo ano a imagem no carnaval. São apostas. Eu acho que vem dando certo, e é reflexo de muito trabalho. A gente vai tentar buscar isso também para esse carnaval, e acho que também é um estilo de comissão que a gente vem desenvolvendo ao longo dos anos, que é pensar essa coisa de sintetizar o enredo. Eu acho que isso é um ponto positivo”, concretizou Rodrigo.
Priscilla comentou sobre a questão da superação deles mesmos, como o casal encara uma pressão em se superar ao pisar na Sapucaí no ano seguinte, destacando que esta superação pode ocorrer de diversas formas, a partir do enredo a ser contado.
“A gente abandonou um pouco essa ideia de superação, porque eu acho que nosso trabalho está a serviço do enredo. E cada enredo nos guia de alguma forma. Então, às vezes a gente vai se superar na imagem, em um item específico. Às vezes ele vai se superar na mensagem. Às vezes ele vai se superar no sentido da reação do público. Não tem uma fórmula, mas a gente sempre pensa em dar o nosso melhor, mas a serviço da Viradouro e daquele enredo específico. A gente nunca vai passar por cima disso para marcar de alguma forma. Se a gente marcar é mais um ganho, mas a ideia é servir a abertura do desfile do Tarcísio”, salientou a bailarina.
Questão dos tripés
“Voltando a falar no público, acho que ele é nosso principal objetivo. A gente precisa ajudar a escola a fazer um grande desfile, fazer uma grande comissão de frente pertinente ao enredo, mas não podemos esquecer que precisamos impactar o público. Eu estou falando de jurado também, porque os jurados também são seres humanos, e se a gente impacta o público, o jurado vai se impactar também. Acho que o uso dos tripés vai muito em relação ao que você quer dizer. Nós já viemos com comissões sem tripé também, e totalmente pertinente com o nosso enredo, não faríamos diferente. Mas acho que o tripé traz mais possibilidades de recursos para que você traga mais ainda o público para essa experiência. Trazendo recursos, por exemplo, como o uso do gerador, que é a energia que a gente usa para iluminação. Você precisa iluminar o seu tripé, você tem que trazer a tecnologia para dentro do seu palco. É um teatro, é um espetáculo, o carnaval é um espetáculo. E eu acho que o bom uso do tripé com senso de tamanho, com senso de você poder privilegiar a visão do público, ele é bem-vindo”, abordou a coreógrafa.
“A gente tem um elemento, uma nova ferramenta de iluminação, precisa de um gerador. O artista tem a liberdade de criar sua comissão com o tripé, é uma escolha do artista, não uma composição”, destacou Rodrigo.
“Voltando à discussão, que naquela época eu e o Rodrigo fomos veementemente contra, talvez poucos, mas nós fomos contra, eu acho que você não tem que proibir o que não é obrigatório, e nunca foi obrigatório você usar. Realmente, ali ficou um pouco fora de contexto, até a reclamação. Até hoje não entendo o porquê aconteceu, até porque no mini-desfile a gente viu várias escolas com tripé, e se é uma coisa que não faz tanta diferença, a gente não precisa usar. Mas eu achei a discussão totalmente fora do contexto, tanto que uma semana depois caiu por terra, e estamos aí com todas as comissões com tripé novamente. E reiterando, eu e o Rodrigo somos totalmente contra a qualquer tipo de padronização. Não existe padrão para a arte, você não vai dizer qual o tamanho que a escultura tem que ter, você não vai dizer para o pintor o tamanho que o quadro dele tem que ter. Você pode dizer a quantidade de componentes, você pode dizer ter algumas regras, mas padronizar uma altura, padronizar que tem que ter, padronizar que não tem que ter, aí você pode chamar uma pessoa só para fazer todas as escolas que não vai fazer a menor diferença”, comentou Priscila falando sobre todas as questões que envolvem o uso do elemento alegórico pelas comissões de frente.
Por fim, o casal segredo compartilhou um pouco do que podemos esperar da comissão de frente da Viradouro para o Carnaval 2025, destacando que será uma apresentação potente da escola de Niterói.
“Pensando nessas duas últimas comissões, a gente teve essa preocupação mais um ano, de fazer essa síntese do enredo. Acho que é uma comissão muito valente, ela tem uma força muito grande. É uma comissão mais enérgica, ela vem com mais força. Diferente da Rosa, que era mais singela e poética. No ano passado era bela, tinha também a força das guerreiras, mas esse ano ela tem uma potência, é uma comissão muito potente”, finalizou Rodrigo.
“Malunguinho está nos guiando, nos mandando sinais, nos dando afirmações, e a gente está ouvindo esses sinais, a gente está trabalhando muito incansavelmente. Ontem a gente saiu daqui às quatro, e às dez da manhã a gente já estava aqui. É um trabalho que está nos exigindo muito, mas acho que vai valer muito a pena, o público não vai se arrepender, o torcedor da Viradouro vai ficar orgulhoso. É bem potente”, encerrou Priscilla.
“No mês de outubro em Belém do Pará, São dias de alegria e muita fé. Começa com extensa romaria matinal, O Círio de Nazaré”
A complexidade estética, dramática e cênica dos desfiles das escolas de samba na Sapucaí acolhe, a cada ano, as intercorrências da pós-modernidade artística das múltiplas e diversas linguagens que compõe a sua espetacularidade contemporânea desfilada no sambódromo carioca.Este belo rito negro sob forma de procissão engendra-se na trilogia batucar-cantar-dançar identificada pelo filósofo congolense Bunseki Fu-Kiau, estudioso da cultura africana,e que caracterizam também práticas espetaculares afrobrasileiras, como este arrebatador fenômeno do samba carioca, signo-marca da festa de nossas ancestralidades, coletividades e comunidades negras, constituindo-se traçado singular da cultura brasileira.
Inspirado na trilogia negra de Fu-Kiau, este ensaio convida para navegarmos nesse universo de encantamentos revelados na cena sapucainiana, propondo a trilogia samba-fé-tradição para uma imersão na obra musical que embala o Maior Espetáculo da Terra: o samba-enredo!
Há cinquenta anos, um samba-enredo vem atravessando magicamente o tempo, a história e a memória dos sambistas e do imaginário carnavalesco brasileiro: “Festa do Círio de Nazaré”, composto por Aderbal Moreira, Dário Marciano e Nilo Esmera para a Escola de Samba Unidos de São Carlos (atual Estácio de Sá) para o carnaval de 1975 do Rio de Janeiro, e que seconsagrou, desde então, como um dos sambas mais icônicos e emblemáticos do carnaval brasileiro.
Foto: Acervo Liesa
A primeira edição deste samba-enredo foi levadaà cena carnavalesca da passarela do samba carioca há exatos cinquenta anos, no dia 09 de fevereiro de 1975, um domingo de carnaval. Mais precisamente, o samba foi cantado pela escola e ecoado pelas multidões na madrugada da segunda feira de carnaval! Em sua primeira versão, o samba foi gravado e cantado na avenida por Dominguinhos do Estácio. Naquele ano, os desfiles das escolas de samba aconteceram na Av. Presidente Antônio Carlos devido as obras de construção do metrô na Av. Presidente Vargas, local onde os desfiles aconteciam tradicionalmente:
O desfile da Unidos de São Carlos não logrou sucesso. A escola se classificou em décimo lugar, devido algumas falhas em sua apresentação, inclusive os jornais da época dão conta de que a escola perdeu o canto na parte final do desfile, entretanto, de forma empolgada, as arquibancadas não pararam de cantar o samba-enredo. A partir daquele instante,recebeu um especial acolhimento e adesão popular, consagrando-se no universo dos sambas-enredos brasileiros e na história do carnaval!
Decorridos quase vinte anos da primeira edição, em 2004, por ocasião da celebração dos 20 anos do sambódromo carioca, a LIESA (Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro) propôs e incentivou que as escolas de samba revisitassem a antologia dos sambas-enredos cariocas e reeditassem os mais importantes econsagrados pela tradição popular. Entre os sambas eleitosestava de maneira destacada “Festa do Círio de Nazaré”, escolhido pela escola niteroiense Unidos do Viradouro, que reeditou o samba com o enredo rebatizado “Quem Vem ao Pará, Parou. Com a Viradouro eu Vou para o Círio de Nazaré”.
A nova versão do enredo foi assinada pelo carnavalesco Mauro Quintaes, com pesquisade Gustavo Melo e contou com nossa consultoria artística e criações cênicas para o desfile. O consagrado samba-enredo foi novamente cantado por Dominguinhos do Estácio promovendo mais uma vez um arrebatamento emotivo e popular desde os ensaios no pré-carnaval, na quadra da Viradouro, nos ensaios técnicos da Sapucaí e em especial, no desfile. A Viradouro foi uma das escolas que voltou no desfile das campeãs obtendo o quarto lugar.
Nesse desfile, brilhantemente conduzido por Mauro Quintaes na escola de Niterói, “Festa do Círio de Nazaré” cintilou mais uma vez confirmando sua consagração na constelação dos sambas-enredos cariocas e sublinhando Dominguinhos do Estácio como um dos mais importantes intérpretes das escolas de samba e uma das grandes vozes da Sapucaí. Da primeira edição em 1975, quase vinte anos depois, a performance e assinatura personalizada de Dominguinhos rendeu diversas e elogiosas críticas nos jornais cariocas, aliadas mais uma vez, a enorme consagração popular:
Importante destacar em um enredo que desfilou o Círio de Nazaré, a maior procissão católica do mundo, que acontece há duzentose vinte dois anos em Belém do Pará, a relação e importância de Dominguinhos com o carnaval paraense, sua história com a procissãodo Círio e sua comovente devoção por Nossa Senhora de Nazaré.
O cantor, desde a década de setenta, desenvolveu especial relação afetiva, artística e cultural com Belém do Pará. Desde sua participação como cantor nos blocos e nas escolas de samba da cidade, especialmente o Rancho Não Posso me Amofiná, a quarta escola mais antiga do Brasil, para a qual compôs memoráveis sambas-enredos, bem como sua devoção com a padroeira dos Paraenses. Dominguinhos se casou na Basílica Santuário de Nazaré etodos os anos participava do intenso e extenso ciclo quinzenal da Festa do Círio de Nazaré. Seu estúdio de música no Rio de Janeiro se chamava Nazaré Music, uma de suas filhas foibatizada de Lívia de Nazaré, e o cantor carregava no peito um cordão de ouro com a medalha de Nossa Senhora de Nazaré, a qual beijava antes de começar a cantar em todos os desfiles do sambódromo carioca.
Sua trajetória artística e musical hámuito foi atravessada pela cultura carnavalesca, devota e festiva de Belém do Pará.
“Que maravilha, a procissão. E como é linda a Santa em sua berlinda”
A história de Dominguinhos revela-se como uma bela síntese de um sensível amálgama do samba, da fé e da tradição popular que “Festa do Círio de Nazaré” promoveu como traçado da cultura brasileira que reúne a um só tempo festa, devoção popular e espetacularidade em fenômenos como os desfiles das escolas de samba. Herança de nossas matrizes culturais e estéticas ibéricas, que nos vestiram com fantasias-comportamentos aos moldes da sensibilidade barroca investigada por Michel Maffesoli em sua Sociologia da Orgia, da qual o nosso carnaval é encharcado brilhantemente,nos carnavalizando assim, para além do carnaval, enchendo mais ainda de folia e alegria o Rio que passou em nossas vidas enossos corações se deixaram levar…
Outro aspecto extremamente significativo da “Festado do Círio de Nazaré”, enquanto obra musical brasileira, são suas permanentes recorrências observadas nas inúmeras gravações realizadas por diversos artistas de múltiplos gêneros e estilos musicais, desde sambistas, cantores românticos, forrozeiros, entre outras modalidades do mosaico musical da MPB. Além da seminal e antológica gravação de Dominguinhos do Estácio o samba foi gravado por Jamelão, Elza Soares, Lecy Brandão, Beth Carvalho, Alcione, Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Serginho do Porto, Conjunto Nosso Samba, Quarteto em Cy, Junina Babaçu, Junina Matutos do Rei, Zeca Baleiro e Ana Guanabara, entre os que conseguimos registro.
O enorme acolhimento popular e a adesão artística por diversos cantores,sublinhama consagração da obra musical criada pela trilogia de sambistas cariocas, revelando uma permanente recorrência poética de sua beleza. Para além das quadras das escolas, blocos carnavalescos, bailes populares, entre outros formatos comemorativos da festacarnavalesca, este samba atravessa de norte a sul o Brasil popularmente folião.
“E o romeiro a implorar. Pedindo a Dona em oração. Para lhe ajudar.”
Em Belém do Pará, cidade matricial da procissão do Cirio de Nazaré, queacontece desde 1793, atualmente movimenta mais de dois milhões de pessoas pelas ruas da Cidade das Mangueiras, este samba-enredo, para além dos ambientes e ciclos carnavalescos que desenham a geografia festiva do país, é tradicionalmente cantado na Quadra Nazarena, como sãodenominados os quinze dias de festejos em homenagem àNossa Senhora de Nazaré, a qual inclui 13 procissões e diversas comemorações festivas por toda a cidade.
Destacamos de maneira especial, a presença deste samba-enredo durante a procissão do Círio, cortejo religioso com duração média de seis horas, no qual o samba incorpora em muitos momentos um tom mais contrito-religioso, alternando-se muitas vezes pelo seu tom carnavalesco-sambístico original. A multidão de fiéis e devotos quando entoa coletiva eharmoniosamente integradaem umgigantesco coro, confirma mais uma vez o amálgama de fé e devoção da identidade devocional e carnavalesca dos paraenses.
O percurso da procissão de aproximadamente cinco quilômetros é marcado por diversas homenagens realizadas por instituições durante a passagem da berlinda que conduz a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, são colégios religiosos, hospitais, bancos, entre outros. Essas homenagens, em sua maioria na linguagem musical, são realizadas por corais, bandas, cantores locais e cantores nacionais convidados. Nestas homenagens, o samba-enredo“Festa do Círio de Nazaré” é sempre recorrente, alternando indissociavelmente o tom religioso com o carnavalesco. Em algumas instituições, observamos os próprios padres cantando com esta singular alternância dos ritmos.
Confirmamos, mais uma vez, com essas inúmeras cenas musicais para além dos lugares de carnaval, a presença deste samba enredo em um cíclico retorno de sua diversidade de recepção, presença e emocionada consagraçãopopular. Aqui consagrada e abençoada na maior procissão religiosa do país: samba, fé e tradição.
“Oh!Virgem Santa Olhai por nós Olhai por nós Oh! Virgem Santa, Pois precisamos de Paz”
Destacadamenteda Quadra Nazarena, é imperativo falarmos da incorporação espetacular deste samba enredo no espetáculo Auto do Círio. Esse evento é realizado pela Universidade Federal do Pará, por meio da Escola de Teatro e Dança, Instituto de Ciências das Artes e Pró-reitoria de Extensão, em um singular exercício da cultura extensionista em sua dimensão social, cultural e artística de mãos dadas com a multidão.
O espetáculo, em forma de cortejo dramático, acontece desde 1993 nas ruas do bairro da Cidade Velha, o Centro Histórico de Belém do Pará, que guarda a memória da fundação da cidade e da devoção a nossa Senhora de Nazaré, no qual está situada a Catedral da Sé, igreja de onde sai a procissão do Círio no amanhecer do segundo domingo de outubro.
Com mais de trinta anos de tradição, o Auto do Círio foi registrado pelo IPHAN como Bem Imaterial da Cultura Brasileira atrelado ao complexo festivo do Círio de Nazaré.O registro aconteceu na celebração de sua décima edição, em 2003, ano em que a Unidos do Viradouro escolheu a reedição de “Festa do Círio de Nazaré”, e foi também, o ano que Dominguinhos do Estácio cantou pela primeira vez no espetáculo.
A inclusão deste samba enredo no Auto do Cirio foi de nossa autoria no ano que assumimos a direção do espetáculo. O cortejo foi dirigido em seus três primeiros anos por Amir Haddad, e a partir de 1996 dirigi o espetáculo durante quinze anos. Meu traçado principal como encenador foi introduzir e destacar as matrizes carnavalescas da estética das escolas de samba no cortejo, com samba-enredo, bateria, mestre-sala e porta-bandeira, entre outros elementos que compõe a estética cênica das escolas de samba. E de maneira dominante “Festa do Círio de Nazaré” passou a ser cantado na apoteose do espetáculo, consagrando-se mais uma vez e criando outra tradição fora dos lugares carnavalescos tradicionais, no qual mantém-se vivo e pulsante até hoje:
Auto do Círio em sua cena carnavalesca em Belém do Pará. Fonte. Ascom/Ufpa.
O Auto do Círio reúne um público superior a trinta mil espectadores pelas ruas do Centro Histórico de Belémaclamado por uma enorme adesão e consagração popular. Desde 2003 no ano de celebração de sua primeira década e quando Dominguinhos do Estácio passou a cantar o samba em sua apoteose carnavalesca, elevousobremaneira,a tradição e relevância do espetáculo. A presença do artista foi se redimensionado a cada ano, especialmente a partir de 2004 com a reedição da Viradouro, quando esteve presente nesta edição o carnavalesco Mauro Quintaes, sua equipe de criação e a diretoria da escola carioca.
Dominguinhos do Estácio recebeu em 2005, por sua intensa participação e parceria para o engrandecimento e projeção nacional do espetáculo promovido pela UFPA, o título de Padrinho do Auto do Círio. Importante destacar, que esse terceiro título que o sambista recebeu, veio somar-se à outras duas honrarias do artista em Belém do Pará.
Dominguinhos é o único artista brasileiro que possui o título de Cidadão Belenense concedido pela Câmara Municipal de Belém e o título de Cidadão Paraense pela Assembleia Legislativa do Estado do Pará em reconhecimento por sua contribuição ao samba e a devoção dos paraenses.
Nesta edição de 2005, o espetáculo foi marcadoespecialmente, também, pela participação de Fafá de Belém, que pela primeira vez participou como artista convidada e foi homenageada pelos seus trinta anos de carreira. O encontro desses dois artistas promoveu uma das mais bonitas e emocionantes edições do Auto do Círio. Fafá de Belém cantou inicialmente na primeira estação do cortejo em frente à Catedral da Sé, onde tradicionalmente os artistas pedem permissão e as bençãos à sua padroeira para seguir com o cortejo cênico-carnavalesco e, posteriormente, cantou com Dominguinhos do Estácio “Festa do Círio de Nazaré” na última estação do cortejo onde acontece a apoteose.
“Em torno da Matriz As barraquinhas com seus pregoeiros Moças e senhoras do lugar Três vestidos fazem pra se apresentar”
O encontro apoteótico de Fafá e Dominguinhos cantando este samba-enredo reuniu e celebrouum momento cênico-festivo carregado de significados e simbologias especiais para a dimensão devocional do samba. Os dois artistas são conhecidos nacionalmente por sua devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Fafá é uma artista paraense que carrega em seu nome artístico o nome de nossa cidade, e Dominguinhos um cidadão belenense e paraense por afeto, amor e devoção a nossa cidade. Ambos tem marcados em sua trajetória artística, ainda mais especialmente, uma relação com o Círio de Nazaré, o que contribuiu notadamente para a grandeza da cena espetacular comungada com a multidão que acompanha o Auto do Círio.
Fafá de Belém, embora não seja uma cantora de samba, possui uma história especial com as escolas de samba brasileiras, notadamente no Rio de Janeiro, São Paulo e Belém do Pará. A artista desfilou diversas vezes em escolas cariocas desde o início de sua carreira. Em São Paulo, cidade que escolheu morar, recebeu homenagem da escola de samba Império de Casa Verde no carnaval de 2024 com o enredo “Fafá, a Cabocla Mística em Rituais da Floresta”. Em Belém, Fafá também já desfilou em diversas escolas, especialmente no “Rancho Não Posso me Amofiná” da qual é torcedora e foi homenageada com o enredo “Fafá de Belém – Estrela do Norte em Fá Maior” no carnaval de 2002, no qual a escola sagrou-se campeã do carnaval.
Na carreira da cantora é imprescindível destacar que a artista gravou sambas-enredos do Rancho Não Posso me Amofiná em seus Lpsda década de oitenta. Importantes registrosrealizados por uma cantora não sambista que projetou nacionalmente os sambas-enredos paraenses: “Amanheceu” de 1985, “Rei no Bagaço, Coisas da Vida” de 1986, ambosde Oswaldo Garcia e Robertinho Garcia”. Os dois sambas foram cantados na avenida por Dominguinhos do Estácio para a escola jurunense.
“Tem o circo dos horrores Berro-Boi, Roda Gigante As crianças se divertem Em seu mundo fascinante”
A trilogia Samba-Fé-Tradição, indutora deste ensaio carnavalesco pelo samba “Festa de Nazaré”, ganha contornos especiais com as cenas carnavalescas-devocionais que descrevemos, tramadas e enredadas, historicamente a partir dodesfile da Unidos de São Carlos do carnaval de 1975. São tecituras bordadas com linhas brilhantes da cultura popular brasileira que desfilam magicamente também nessa tríade de cortejos brasileiros: as Escolas de Samba, o Círio de Nazaré e o Auto do Círio! São três práticas espetaculares sob a forma de procissõesque se intercruzam culturalmente, se interpenetram em suas espetacularidades e guardam singularidades de suas estéticas cênicas e dramáticas. Nossas escolas de samba marcadas por nossa ancestralidade negro-africana que fundamentam e assentam este espetáculo carioca dando vozes as comunidades pretas em suas multiplicidades e diversidades étnicas. O Cirio de Nazaré guardaa matriz europeia de nossa herança luzitana. O Auto do Cirio, por sua vez, se formatou e se adensou espetacularmente encantado por essas duas matrizes estéticas e culturais para fundar- se emsua singular dramaturgia caminhante na capital paraense no coração da Amazônia.
Essas três procissões enquanto práticas de dramaturgias caminhantes são prenhes do batuque do samba, da emoção devocional do catolicismo popular e do encantamento cênico belenense do Auto do Cirio. São espetacularidades populares brasileiras, aqui refletidas pelo axé do samba “Festa do Círio de Nazaré” em seu cinquentenário e que trabalham simbolicamente o tempo, o espaço, a história e a memória, promovendo o reencantamento do mundo.
“E o vendeiro de iguarias a pronunciar Comidas típicas do estado do Pará. Tem pato no tucupí Muçuã e tacacá Maniçoba e tucumã Açaí e aluá” (No mês de outubro…)
Ao concluirmos nossa navegação com este ensaio, homenageio In MemorianDominguinhos do Estácio pela grandeza de sua obra e bela travessia no carnaval brasileiro e que foi navegar no firmamento para brilhar, ainda mais, em outra dimensão entre as estrelas. Homenageio também Fafá de Belém que junto com “Festa do Círio de Nazaré” celebra e comemora cinquenta anos de carreira como uma das maiores cantoras e intérpretes da cena musical brasileira. Fafá, nossa grande voz feminina que carrega a emoção, a alma, a diversidade e o espírito profundo encantado de Belém, do Pará e da Amazônia para o mundo.
Dedico este ensaio a dois artistas brilhantes da Sapucaí. O carnavalesco Mauro Quintaes, que na reedição do samba-enredo na Viradouro em 2004, me convidou para consultoria, abrindo profissionalmente o portal mágico do Maior Espetáculo da Terra, gesto que me transformou profundamente como artista cênico e pesquisador. Gustavo Melo, jornalista e pesquisador de enredos, cujo singular processo criativo a partir desta reedição pude testemunhar, aplaudir e comungar. Compusemos também, uma trilogia que criou juntos três carnavais: Viradouro (2004), Viradouro(2005), Mocidade Independente de Padre Miguel (2006).Minha maior gratidão e emoção carnavalesca para esses dois gigantes da Sapucaí!
Belém do Pará, 09 de fevereiro de 2025.
Um domingo de pré-carnaval.
Professor Titular do Instituto de Ciências das Artes/Escola de Teatro e Dança da UFPA.
Autor de: “O Maior Espetáculo da Terra – O Desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro como Cena Contemporânea na Sapucaí” (Doutorado 2006-UFBA). “A Dança do Mestre-Sala e da Porta-Bandeira: Magia e Ritual na Cena Afro-carioca” (Pós-doutorado 2010-UNIRIO). “O Sagrado Sorriso de Selminha” (Documentário – UNIRIO 2012)