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Camarote do King aposta em sustentabilidade

Por Rennan Laurente e Philipe Rabelo

Um dos novos parceiros do King para o carnaval de 2020 é o Restaurante Japonês Hachiko. A marca já existe há mais de 20 anos e foi eleita em 2007 como o quarto melhor restaurante da América do Sul. Para o camarote, além da comida de qualidade, o restaurante também se preocupou com a sustentabilidade e criou, uma embalagem feita de papéis biodegradáveis. Também teve novidade na forma de servir os clientes do King. Este ano os combos já eram distribuídos montados, o que diminuiu a fila para comida japonesa. O proprietário Maurício Eskinasi, torcedor da Portela, afirmou que a culinária tem que ser divertida. Fotos de Paulo Rodrigues.

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“Gostamos muito de brincar com a culinária, não somos um restaurante tradicional, servimos arraias, patos, cordeiros, coelhos. Mesclando sempre a comida brasileira com a japonesa. O nosso cliente é tratado como rei”.

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Não foi apenas a comida japonesa que apostou em sustentabilidade.O Camarote do King apostou na questão ambiental e por esse motivo, substituiu o tradicional copo de plástico, por copos de papel. Com o objetivo de diminuir o volume de lixo e produzir resíduos que causem menos impacto ao meio ambiente.

Outra marca que segue esta filosofia e também se alinhou ao Camarote do King em 2020 foi OH A ÁGUA, que traz uma proposta totalmente diferenciada. Ela é distribuída em “garrafinhas” plásticas, que são como um sacolé e é composta por apenas um modelo de plástico flexível. Comparada com uma garrafa de água comum, o resíduo é 75% menor. O inventor da marca, Márcio Gonzales, explicou que esta água é alcalina, isotônica e ozonizada, isso quer dizer que é uma água de PH mais elevado e que hidrata mais rapidamente o consumido. A ideia de criar uma água mais ionizada surgiu a partir de uma perda. A mãe de Márcio faleceu vítima do Câncer.

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“Quando minha mãe estava em tratamento, eu estudava tanto sobre a doença e eu descobri que as células cancerígenas não se multiplicam com tanta facilidade em ambientes alcalinos, por isso uma água mais iônica é ideal para a saúde”, relatou.

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Outros parceiros do camarote são Suelane Almeida e sua família, que há dois anos frequentam o King. Eles são moradores da Vila Vintém, Zona Oeste do Rio de Janeiro, torcedores da Unidos do Padre Miguel e desfilantes na Mocidade.

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A família já frequentou outros camarotes na Sapucaí, e viram no King, um espaço de primeira, começando por ter uma visão privilegiada, com serviços qualificados, ótimo atendimento e presteza, pessoas bonitas e com a oportunidade de todos ficarem juntos no mesmo espaço, que completou: “Aqui todos ficamos juntinhos”.

Fotos: alegorias da Mangueira na área de concentração

Fotos: alegorias da Viradouro na área de concentração

Galeria de fotos: Desfile do Rosas de Ouro no Carnaval 2020

Em sua estreia, Camarote Bateria Nota 10 recebe elogios do público

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    Por Danilo Freitas

    O Camarote Bateria Nota 10 estreou na Sapucaí arrancando pontuação máxima do público presente. Situado em local privilegiado, ao lado do primeiro recuo de bateria, o espaço reuniu amantes do carnaval e celebridades, entre elas, Dandara Mariana, que neste ano se desdobrou entre o título de musa do camarote e integrante da comissão de frente da Unidos de Padre Miguel. Quem passou pelo espaço ao longo dos cinco dias de desfiles elegeu como ponto alto os serviços oferecidos e o privilégio de poder conferir de perto o esquenta da bateria.

    “O Camarote Bateria Nota 10 é muito bem localizado, a gente já sente o esquenta da bateria. Eu amo o carnaval, já chego sambando e me requebrando toda”, contou a atriz que está no ar na TV Globo, com a personagem Bel, em ‘Salve-se quem puder’.

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    O ator Pedro Novaes, que está no ar em ‘Malhação’ com o personagem Filipe, aproveitou cada momento do Camarote Nota 10 e lembrou dos tempos que frequentava o Sambódromo com os pais, Marcello Novaes e Letícia Spiller.

    “Desde que eu me entendo por gente eu venho para Sapucaí, meu pai e minha mãe me traziam desde pequeno para cá. Meu negócio no carnaval é estar do lado da bateria e quando me surgiu o convite para vir pro camarote eu disse: é esse! Do lado do recuo! Agora só quero vir pra cá nesse camarote”, confessou o ator.

    Entrevistão com Leandro Vieira: ‘Não consigo enxergar o que eu faço como algo de esquerda ou direita’

    Campeão duas vezes pela Mangueira e indo para o seu sexto carnaval como carnavalesco, Leandro Vieira é, hoje, o principal nome da festa e tem causado na mídia por conta de seus enredos críticos. Apesar de ter dois campeonatos ele explica que não trabalha pensando no título e que a liberdade artística é primordial para a realização de trabalho em uma escola.

    Leandro conversou com a reportagem do site CARNAVALESCO e falou sobre o desafio de fazer duas grandes escolas, Mangueira e Imperatriz, e sobre a permanência na verde e rosa.

    Qual o maior desafio de, ao mesmo tempo, buscar o bi na Mangueira e buscar um campeonato no grupo de acesso?

    Leandro: “O desafio… Assim, eu nunca trabalhei pensando em campeonato. Então, não é muito a minha onda, olhar para, simplesmente, o campeonato. O desafio de fazer duas escolas, para mim, o principal, é me apresentar como dois Leandros. Embora eu seja um artista que tem um interesse na manutenção de algumas características que são próprias do meu trabalho, o desafio é me apresentar para uma escola como a Mangueira, apresentar um perfil visual e estético para a Mangueira, e, também, apresentar um perfil visual e estético para a Imperatriz. São escolas distintas, e que precisam de coisas distintas. Então, o maior desafio é ser dois, sendo um”

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    Você sempre agradece o Chiquinho da Mangueira. Você acredita que isso é fundamental para o sucesso do seu trabalho?

    Leandro: “Total. Na verdade, eu sou extremamente grato à figura do Chiquinho da Mangueira. Nós temos todas as divergências políticas possíveis, mas nós temos todas as afinidades que me qualificam a ser o carnavalesco que eu sou hoje. Eu só estou carnavalesco da Mangueira porque isso foi uma decisão do Chiquinho da Mangueira que, inclusive, em 2016, foi muito criticado pela direção da escola ao apresentar um carnavalesco tão jovem. E, mais do que apresentar um carnavalesco tão jovem e sem nome nenhum, ele não só me colocou carnavalesco da Mangueira como também comprou tudo o que eu queria fazer na Mangueira. E, acho que tudo que eu faço na Mangueira é muito diferente. Eu quis romper essa tradição exacerbada do verde e rosa, encontrei muita resistência e ele comprou a minha ideia. Eu quis caminhar por enredos distantes de alguns enredos patrocinados e ele comprou a minha ideia. Eu quis assumir um perfil um pouco mais crítico e ele comprou a minha ideia. Então, ele não apenas me deu a oportunidade de ser carnavalesco, que tem pessoas que permitem, mas, talvez, a permissão de ser carnavalesco não seja acompanhada da possibilidade de se fazer o que quer. E, aqui na Mangueira, eu tenho feito o que eu quero, e isso é uma herança que o Chiquinho deixou para mim como legado. Inclusive, eu sou respeitado pelo atual presidente da Mangueira, que não é mais o Chiquinho, pelo legado de confiança que o Chiquinho deixa em mim”

    Ter essa liberdade é uma condição para você estar na escola?

    Leandro: “Total. É difícil realizar carnaval na Mangueira. As pessoas de fora não imaginam como é difícil fazer carnaval competitivo na Mangueira e o quanto é sacrificante fazer. O meu sacrifício, pelo menos, é recompensado com a liberdade artística, porque é o que me motiva a fazer carnaval. Eu não faço carnaval ganhando tanto dinheiro”

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    Você tem Iza e Evelyn como rainhas. Duas mulheres empoderadas e que inspiram. Por que você acha que os sambistas, em sua maioria, não participam de políticas e questões sociais no Rio?

    Leandro: “Porque desfile de escola de samba é uma coisa careta. As pessoas são caretas no desfile de escola de samba, no carnaval, sobretudo porque se acostumaram com o apoio dos órgãos oficiais. Então, escola de samba, de uma forma geral, ela prefere se manter no centrão, vamos dizer assim. Escola de samba é de centrão, não à toa apoiaram o Crivella. Se posicionar… não tem como você se posicionar sem desagradar, e eles procuram não desagradar ninguém. E aí são isentos, né? É difícil, não é fácil, não”

    Seu trabalho transcende, muitas vezes, a Avenida, e anda por todas as classes sociais e intelectuais. O que você sente com isso?

    Leandro: “Eu acho isso bacana pra caramba. Os desfiles das escolas de samba perdeu muito tempo preocupado, restritamente, em como uma atividade que acontece no carnaval. Ficou muito focado no dinheiro que tem que ter para fazer o desfile, e aí esvaziou o sentido, virou uma atividade mais festiva e televisiva. Antes era uma atividade que a TV tinha interesse em televisionar. Hoje em dia virou mais televisiva, quer dizer, atende mais aos interesses da televisão, e isso é uma coisa muito ruim. E o carnaval se preocupa muito com isso. Como ele se preocupa muito com isso, eu acho que ele se desconectou da sociedade, da importância que ele pode ter de propagar ideias e tudo mais. Então, quando eu vejo algumas das minhas ideias saírem do universo carnavalesco eu acho bacana, porque é o carnaval que volta a dialogar com outras possibilidades”

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    Muita gente diz que você quer lacrar e não aceita mais críticas. É verdade isso?

    Leandro: “Eu não aceito críticas? Não, nossa. Isso é conversa fiada. Lacrar, de forma nenhuma, até porque esse termo lacração é um termo político contemporâneo que ficou associado à esquerda, vamos dizer assim. Nem sempre eu tenho oportunidade de falar sobre isso e acho importante, porque é uma oportunidade de falar. Hoje em dia, com um país polarizado politicamente, a discussão do carnaval político virou uma coisa esquerda e direita, bolsominion e Lula livre. Virou uma coisa assim. Isso é uma tolice. Reduzir a importância política, a discussão política brasileira entre esquerda e direita, ou bolsominion e Lula livre é de um vazio intelectual gigante. Então, assim, eu não consigo enxergar o que eu faço como algo de esquerda ou direita. Eu acho que o que eu faço é algo engajado culturalmente. Só que eu sou engajado culturalmente a serviço de uma comunidade favelada. Eu não posso ficar engajado culturalmente estando a serviço de uma comunidade favelada, minoritária, apresentando enredo que não vá encontrar os interesses de grupos minoritários e favelados e que de alguma forma o Estado vira as costas. Então isso não é ser esquerda ou direita. Isso é estar em sintonia com a comunidade que eu represento. Então, o carnaval de 2018, por exemplo, que era um carnaval que se colocava a favor do carnaval e da liberdade do carnaval, e contra o corte de verbas que já se mostrou infundado, já se mostrou infundado, porque ele já cortou a verba, não vai mais dar verba para o carnaval, e a cidade do Rio está falida, não tem mais saúde, não tem nada… Então, a Mangueira tem que se posicionar a favor, porque o carnaval é válvula que produz o orgulho do morro da Mangueira. Então ela tem que se posicionar, isso não é ser de esquerda nem oposição. A bandeira que se coloca em 2018 para defender o carnaval é a Mangueira comunidade, pobre, preta, favelada, que se orgulha de fazer carnaval e que se orgulha de fazer carnaval. A Mangueira de 2019, que defende índios, negros e pobres, não é Mangueira nem de esquerda nem de direita. É a Mangueira que defende, de fato, quem forma aquele território, porque aquele território do morro da Mangueira foi morar descendentes de índios, de negros e de pobres. Então, defender índios, negros e pobres, defender o protagonismo de mulheres negras, de homens pobres, defender que a história oficial deu ênfase a nomes da alta sociedade e abaixou nomes de mulheres e homens das classes mais baixas, não é ser de esquerda nem de direita. É defender os interesses da comunidade que eu represento. Apresentaram um Jesus negro, periférico, não é ser de esquerda nem de direita, é apresentar um Jesus próximo a comunidade que eu defendo. A comunidade que eu defendo produz o carnaval para Mangueira, é uma comunidade negra e pobre. É bonito eu dizer para eles que Jesus era um homem preto e pobre. Então, eu não vejo lacrar, de jeito nenhum, porque a lacração estaria se eu estivesse pensando em fazer carnavais partidários, e eu não faço isso. Não faço carnaval de partido, eu faço carnaval engajado com a comunidade para quem eu faço carnaval. Não é partidário, não é para defender o político A ou B. O Brasil contemporâneo reduziu o debate político, ficou tudo nessa pasta vazia, e não é. Você acha que tem como eu produzir carnaval para uma comunidade preta, pobre e favelada, que se orgulha de fazer carnaval, e não apresentar o que eu apresento? Isso não é política. A Mangueira tem que entender que eu tento produzir coisas que tem a ver com a Mangueira. Só que é preciso ter uma consciência do que se canta. As pessoas tentam ver uma ideologia partidária onde não tem, porque eu não tenho esse interesse. Tenho interesse em orgulhar a comunidade. Apresentar carnavais que venham a apresentar que o ato do componente que desfila tem que ser motivo de orgulho”

    Tem muita gente critica, diz que você não tem que ser tão crítico nas suas fantasias e alegorias. O que você diz para essas pessoas?

    Leandro: “Eu acho que isso é gosto. Tem os que gostam e não gostam, acho que é normal. Eu tenho muita consciência disso. Eu não dito e não quero ditar moda no carnaval. O que acho bacana é que tenha eu, mas que tenham outros, que façam outras coisas. É importante ter um repertório, para que o dia do desfile seja um dia de apresentação de repertórios múltiplos. Não sou e nem quero ser unanimidade. Acho que tem que ter os que gostam e os que não gostam, para que os que gostam do meu trabalho não gostem de outros, ou para que os que gostam de outros não gostem dos meus, ou gostem de todos… Acho que é possível que gostam e que não gostam. A gente, enquanto artista, oferece um repertório. Tem quem gosta e quem não gosta”

    Tem muitos carnavalescos que opinam e até mandam na comissão de frente. Como é essa relação com o Rodrigo e Priscila?

    Leandro: “É maravilhosa. Priscila e Rodrigo estão na Mangueira porque foi eu que trouxe. Eu trouxe com carta branca do Chiquinho da Mangueira, que me autorizou a conversar com eles. Tanto que eu conversei com eles antes do Chiquinho. Então, isso, para mim, é muito bom, porque são pessoas queridas, e trabalhamos em conjunto. Não mando em Comissão de Frente. Nunca mandei, na verdade. Se eu soubesse fazer Comissão de Frente eu era carnavalesco e coreógrafo, e eu só sou carnavalesco”

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    Existe, hoje, um rótulo que colocaram em você de crítico e político. Você gosta disso?

    Leandro: “Eu não gosto disso. A Rosa eu sei que não gosta disso, e o Renato eu também sei que não gosta disso. É muito ruim, para qualquer artista, ganhar esse tipo de rótulo. Primeiro porque eu só tenho cinco carnavais, e cinco carnavais não me definem como artista. E um rótulo é uma coisa que te define, né? Então, assim, eu tenho cinco carnavais, mas as pessoas colocam muito rótulo. Eu já tive muitos. O do carnavalesco que só faz enredo religioso, o rótulo do carnavalesco dos tons pastéis, agora eu estou com o rótulo do carnavalesco crítico e político porque apresentei dois carnavais críticos e políticos. Se eu fizer mais cinco carnavais, e os próximos não forem críticos e políticos, vão procurar um outro rótulo. Acho que em 2019 eu fui o carnavalesco crítico, em 2020 eu sigo sendo um carnavalesco crítico, mas 2021 eu posso ser um carnavalesco água com açúcar. Então, não acho legal essa definição, para ninguém. O Renato e a Rosa têm décadas de atuação, e aí você reduzir… Por exemplo, pra mim, o Renato é quem melhor representa a temática afro no carnaval carioca. Como é que um cara que melhor trabalha a temática afro no carnaval carioca pode ser taxado de Hightech? A estética afro não tem absolutamente nada a ver com a estética High Tech. Então, são rótulos que muitas vezes são determinados pelo sucesso que, em determinado momento, esse carnavalesco alcançou. Ele ficou associado a isso por causa da Mocidade dos anos 1990, quando ele experimentou essa estética, que nos anos 1990 era vanguarda. A Rosa ficou conhecida como a carnavalesca com estética barroca porque, nos anos 1990, a experimentou uma estética que, na Imperatriz Leopoldinense a possibilitou esse rebuscamento. Mas, depois, a Rosa já fez uma série de coisas que não foram barrocas, e ela continuou sendo considerada barroca. Talvez, o sucesso do carnaval de 2019, para mim, tenha me rotulado, neste momento, como um crítico político. Mas depois pode não ser. Eu compreendo, mas não é uma coisa legal para nenhum artista. Eu ainda tenho muito o que fazer e aprender”

    Muita gente diz que o desfile de 2017 foi o grande desfile de Leandro Vieira. O que você sentiu quando perdeu aquele ano?

    Leandro: “Não senti nada. Primeiro que eu não acho que o desfile de 2017 seja meu grande desfile. Eu acho que meu grande desfile com a Mangueira foi o carnaval 2019. As pessoas têm uma tendência a julgar desfile por estética, porque o olho é traiçoeiro. O olhar da gente tem uma tendência a se encantar pelo visual, pela beleza. Então, eu acredito que o carnaval de 2017 talvez tenha feito que as pessoas enxerguem dessa forma, porque ele se debruçava sobre um material plástico muito comum, a estética religiosa brasileira, a questão do barroquismo religioso é muito bonito. Aquilo é muito ligado ao gosto médio, as pessoas gostam daquele visual. Então, talvez aquilo encante. Mas acho que meu melhor trabalho na Mangueira é o de 2019, primeiro porque a produção artística é o mais próximo do que eu acho que seja o carnaval. Acho que a produção artística das escolas de samba deve se manter distante dessa questão luxuosa e dependente de verba. Cada vez mais eu acredito menos no carnaval emplumado. Então, acho meu carnaval de 2019 um carnaval de produção artística com vigor. Tem um vigor diferente do carnaval, e é isso o que eu acredito. E, aí, o meu enredo teve um poder de encantamento no meu componente que proporcionou um desfile arrebatador via componente. Então, o trabalho de um carnavalesco, e o meu, eu acho que começo a entender o meu papel como carnavalesco mais em 2019. O meu papel não é fazer a Mangueira ser bonita ou feia, mas se reconhecer como identidade, como massa que desfila. E acho que 2019 a Mangueira não deixou dúvida nenhuma do que estava fazendo e cantando”

    O maior desfile que você viu e o maior enredo que você gostaria de fazer?

    Leandro: “O maior desfile que eu vi na Sapucaí foi o desfile de Angola, da Rosa, de Vila Isabel. Eu assisti lá, eu estava lá, achei aquilo de uma loucura estética… Não tinha nada de barroca, aquilo é incrível, divino. Tive uma inveja branca daquele negócio. Na Mangueira, eu acho que eu gostaria de ter feito Chico Buarque, o desfile campeão de 1998”

    Os enredos e os sambas da Mangueira avançaram para fora da quadra e da Avenida. O que isso representa para você?

    Leandro: “Acho que isso é uma das coisas que têm a ver com o meu entendimento que o meu maior desfile na Mangueira é o de 2019. Porque não é só fazer bonito, entendeu? É propor algo que extrapola, que vá para a sala de aula. Depois do carnaval teve gente estudando, ensinando criança a história do Brasil com o enredo, com o samba, com imagens da Mangueira. Eu acho que é isso. Acho que por isso 2019 é tão grande, porque desfile de escola de samba não é só alegoria bonita, é um conjunto. O nome é desfile de escola de samba, não é desfile de alegorias, de fantasia, porque isso aí é São Paulo Fashion Week. É legal quando você propõe algo que extrapola, né?”

    Sobre seguir ou não na Mangueira… Só após a quarta-feira de cinzas ou até quando o presidente permitir que você fique?

    Leandro: “A última vez que eu decidi antecipadamente, se eu ia ficar mais de um ano na Mangueira, foi quando o Chiquinho da Mangueira, esse presidente que eu falo sempre, chegou pra mim e conversou comigo, disse que não aguentava mais o assédio e que, enquanto ele fosse presidente da Mangueira, eu seria carnavalesco. A gente apertou a mão e eu resolvi com ele que, enquanto ele fosse presidente da Mangueira, eu seria carnavalesco de lá, e isso eu cumpri e foi feito. Depois disso eu não tenho esse acordo, esse compromisso, não recebi esse convite. Então, a última conversa que eu tive com a Mangueira era para ser o carnavalesco 2020. Se ela vai querer que eu seja o carnavalesco de 2021 a Mangueira vai ter que me procurar para falar. Eu não tenho nem contrato, meu contrato com a Mangueira é com a ponta da língua. São cinco anos sem contrato assinado, e eu cumpro a minha palavra”

    Supremacia em verde e branco. Imperatriz coloca a mão na taça da Série A após noites de desfiles

      A grande protagonista do sábado de desfiles da Série A foi a Imperatriz Leopoldinense. Voltando às suas raízes, a escola passou correta nos quesitos de chão e com fantasias deslumbrantes, confirmando o favoritismo, apesar dos problemas apresentados em duas, das três alegorias. A noite ainda foi marcada pela exaltação à jogadora Marta, na Inocentes, e a Unidos de Padre Miguel, que cometeu seus costumeiros erros de evolução, que podem custar não concorrência nota a nota com a co-irmã de Ramos.

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      Veja abaixo como foram os desfiles de sábado

      Sossego – No ano em que comemora seu jubileu de ouro, a Acadêmicos do Sossego contou com novos reforços em sua equipe e o aporte financeiro da prefeitura de Niterói para tentar fazer história na Marquês de Sapucaí. Mas, com graves problemas no acabamento de suas alegorias, e, uma evolução irregular, a proteção de Olokum pode não ser suficiente para garantir que a escola alcance o objetivo de ficar nas primeiras colocações.

      Inocentes – Segunda escola a desfilar no sábado Inocentes entrou na avenida empolgada. O samba elevou o nível do desfile com sua letra emocionante sobre a trajetória da seis vezes melhor jogadora do mundo, Marta. Mestre Washington se destacou no desfile fazendo bossas bem realizadas e com isso conseguiu levantar o público. No último carro, Marta passou na avenida e foi ovacionada pelos presentes sob os gritos de rainha. O enredo “Marta do Brasil – Chorar no começo para sorrir no fim” foi desenvolvido pelo carnavalesco Jorge Caribé e encerrou o desfile com 53 minutos.

      Bangu – Em uma noite de grande desempenho do intérprete Igor Vianna, o samba-enredo foi o principal destaque da apresentação da Unidos de Bangu, que enfrentou problemas em quase todos os quesitos. A vermelha e branca foi a terceira escola a desfilar e apresentou o enredo “Memórias de um Griô: a diáspora africana numa idade nada moderna e muito menos contemporânea” em 52 minutos.

      Santa Cruz – A Acadêmicos de Santa Cruz pisou forte na avenida para falar da cidade de Barbalha, no Ceará. A escola pareceu não se importar com a chuva para fazer um desfile correto e empolgante. Porém, alguns erros de evolução, harmonia e acabamento nas alegorias podem comprometer a nota máxima da escola nesses quesitos. A verde e branco da Zona Oeste foi a quarta agremiação a desfilar nesta noite de sábado, com o enredo “Santa Cruz de Barbalha, um conto popular no Cariri cearense”. Os destaques do desfile ficaram por conta da comissão de frente, que levantou as arquibancadas com sua coreografia simples e funcional.

      Imperatriz – Reeditando o enredo de 1981, “O teu cabelo não nega”, a Imperatriz Leopoldinense fez um grande desfile porém teve problemas na iluminação do abre-alas e do segundo carro. Na luta pelo título de campeã do carnaval e o retorno ao Grupo Especial a escola fez o melhor desfile da Série A. Fazendo uma arrancada arrebatadora a escola entrou com os pés firmes na Sapucaí. O casal de mestre-sala e porta-bandeira se destacou com uma fantasia belíssima e com uma dança impecável. Mesmo com os problemas de iluminação, as alegorias estavam lindas e com um acabamento impecável. O canto da comunidade gresilense foi extremamente forte, a agremiação mostrou a vontade de retornar para o principal grupo do carnaval. O samba, já conhecido pela comunidade, foi o ponto alto da escola, favoreceu o canto e empolgou a Sapucaí.

      Unidos de Padre Miguel – Sexta escola a cruzar a Marquês de Sapucaí, a Unidos de Padre Miguel teve na força de seu carro de som, no canto da comunidade e no ritmo envolvente da bateria, as bases necessárias para o excelente rendimento do samba-enredo que conduziu a apresentação do enredo “Ginga”. Porém, algumas falhas no conjunto alegórico e o buraco aberto na frente da primeira cabine de jurados podem atrapalhar a vermelha e branca da Vila Vintém na disputa pelo título da Série A. O desfile terminou com 54 minutos, um a menos do tempo máximo permitido.

      Império da Tijuca – Fechando a última noite de desfiles da Série A, o Império da Tijuca fez um desfile com poucos erros, mas com problemas na leitura das fantasias. Em contraste, as alegorias passavam bem a mensagem do enredo. O destaque ficou por conta do primeiro casal, Renan Oliveira e Lais Lúcia, que dançaram muito bem em todas as cabines dos jurados. Com uma belíssima fantasia e uma coreografia com alto grau de dificuldade, o casal mostrou uma grande sintonia. Mestre Jordan comandou bem a bateria e fez boas apresentações, empolgando o público com uma coreografia. Desfilando com o enredo “Quimeras de um Eterno Aprendiz” o Império da Tijuca encerrou o desfile com 54 minutos.

      Como foram os desfiles de sexta-feira

      A primeira noite de desfiles da Série A ficou marcada pelo seu desfecho melancólico. O Império Serrano, dono de 8 títulos do Grupo Especial, confirmou a preocupação dos sambistas que girava em torno dele: a escola se apresentou de forma dramática, com muitas alas sem fantasias e alegorias com problemas na estrutura, na composição e no acabamento. Cubango e Porto da Pedra, abusaram dos erros e viram as esperanças de título ficarem distantes.

      Vigário Geral – Depois de 21 anos, a Vigário Geral voltou a desfilar na Sapucaí. Chegando da Intendente e abrindo o primeiro dia de desfiles, depois de uma chuva forte, a escola apresentou problemas estéticos com carros e fantasias com problemas de acabamento.

      Rocinha – Segunda escola a cruzar a Marquês de Sapucaí na noite desta sexta-feira, a Acadêmicos da Rocinha apostou em uma estética simples e de fácil leitura para contar a trajetória de Maria Conga, através do enredo “A guerreira negra que dominou dois mundos”, o que rendeu no melhor resultado plástico da escola desde o desfile de 2017, quando homenageou o carnavalesco Viriato Ferreira. No entanto, problemas de locomoção no abre-alas e na última alegoria comprometeram a evolução da tricolor de São Conrado, que abriu dois buracos em frente a módulos de julgamento. A agremiação encerrou sua apresentação com 54 minutos.

      Ponte – A Unidos da Ponte foi a terceira escola a pisar na Sapucaí, na noite desta sexta-feira, e o carnavalesco Lucas Milato apresentou o enredo “Elos da Eternidade”, que propôs uma reflexão sobre a relação da humanidade e a preservação do samba. A agremiação exibiu uma comissão de frente que arrancou aplausos do público e jurados, com o marcante “E o samba resiste com os sambistas” ao final da apresentação e a garra dos integrantes. No entanto, os erros nas estruturas dos carros dificultaram o visual estético, reduzindo sua qualidade. A azul e branca de São João de Meriti terminou o desfile com 53 minutos.

      Cubango – Vice-campeã da Série A em 2019, a Acadêmicos do Cubango entrou na Marquês de Sapucaí determina a conquistar o inédito título em sua história. Com uma comissão de frente impactante e de grande comunicação com público, seguido de um casal entrosado, exibindo um bailado envolvente, a agremiação parecia já estar com uma mão no caneco. Entretanto, o que se viu adiante foi uma série de falhas nas alegorias, uma evolução extremamente problemática e uma harmonia melancólica perante a imagem de um campeonato perdido.

      Porto da Pedra – O Tigre de São Gonçalo lavou, literalmente, a alma na avenida, cantando forte e com um desfile para cima, empolgando o público a escola desfilou bem, porém com problemas no abre-alas abriu um grande buraco logo no primeiro módulo de jurados. Comissão de frente muito bem dançada e sincronizada foi um dos pontos altos do desfile junto com o primeiro casal que arrancou aplausos e gritos do público em toda Sapucaí. Porto da Pedra levou para a Sapucaí o enredo “O que a Baiana Tem? Do Bonfim à Sapucaí” desenvolvida por Annik Salmon. O desfile encerrou com 53 minutos, sem atrasos.

      Renascer – A Renascer foi a sexta agremiação a desfilar no primeiro dia de desfiles da Série A e, apesar da qualidade estética nas alegorias, a vermelha e branca oscilou no canto. A comissão de frente foi realista e teatralizada. O samba-enredo fez o desfile crescer.

      Império Serrano – Fechando a primeira noite dos desfiles da Série A, o Reizinho de  Madureira tropeçou em diversos quesitos e pode enfrentar problemas na apuração. Demorando sete minutos para começar o desfile, a escola teve dificuldade com o deslocamento do abre-alas que, acoplado, colidiu um com o outro atrapalhando o andamento do desfile. Baianas desfilaram sem saia e parte dos ritmistas sem chapéu, além de outras alas que passaram com peças faltando. Apresentando o enredo “Lugar de Mulher é onde ela quiser!” e depois de correr para não estourar o tempo, o Império Serrano fechou o seu desfile cravando o tempo máximo de 55 minutos.

      Comunidade canta forte, mas Rosas de Ouro peca em fantasia e evolução

      Fechando os desfiles do Grupo Especial do carnaval de São Paulo, a Rosas de Ouro, assim como nos ensaios técnicos, mostrou um canto forte e claro, muito devido a bateria de mestre Rafa, que coloca a escola para cima e o sincronismo com o carro de som, que juntamente se entrosaram nos arranjos, além do samba que tenha uma ótima letra e uma melodia que puxa a comunidade. Outro destaque foi a comissão de frente, que se apresentou de forma lúdica, contando um pouco de toda a história da tecnologia, tendo como exemplo as revoluções industriais. Mais um destaque, o casal estreante, Everson Sena e Isabel Casagrande, mostrou um desempenho consistente. O quesito fantasia deixou a desejar, os materiais escolhidos foram errôneos e deu a impressão de que tudo foi feito às pressas. O enredo da escola se chama “Tempos Modernos”, que fala sobre a história e o futuro da tecnologia. A Rosas de Ouro fechou seu desfile em 63 minutos.

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      Comissão de frente

      A comissão de frente usou um figurino branco com detalhes em branco e dourado. A ala teve como personagem principal o robô símbolo do enredo, chamado ROXP4, e contou de tudo um pouco, com personagens entrando e saindo do elemento alegórico, tendo componentes fazendo acrobacias com o objetivo de representar a evolução da tecnologia e a relação com o ser humano, onde o homem exaltam os seres tecnológicos.

      Mestre-sala e Porta-bandeira

      Usando fantasias luxuosas, nas cores laranja, dourada e vermelha, o casal realizou todos os movimentos que são previstos no regulamento, com as finalizações sendo executadas de forma correta. O sorriso no rosto foi contagiante e a dupla mostrou um belo desempenho em sua estreia.

      Harmonia

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      A escola cantou forte em seu desfile. A Rosas de Ouro é outra escola que tem como característica a leveza e a forte harmonia, e não foi diferente, a comunidade da Brasilândia teve um desempenho satisfatório, mesmo sendo a última escola a desfilar, e o samba foi o principal responsável. O êxito se deve muito a obra, que é de fácil assimilação, tem uma melodia que faz com que o samba seja alegre e uma letra positiva, um exemplo melhor disso são as últimas estrofes da obra, como “é tempo de amar” e “unir os corações”, são fatos que prosperou a favor da comunidade.

      Enredo

      A ideia do enredo é ser narrado pelo personagem ROXP4, que foi criado para ser brinquedo de uma criança, mas com o passar do tempo, novas tecnologias surgem e ele foi esquecido. Após, o enredo se desenvolveu com as invenções das revoluções industriais e do que a mente humana seria capaz de inventar, como a máquina à vapor, o ferro, automóveis, até chegar à tecnologia 4.0. Apesar do mediano aspecto visual, a assimilação dos elementos foi fácil e a proposta na avenida, desenvolvida pelo carnavalesco André Machado, foi sucedida de maneira correta, que foi de explicar o que foi a tecnologia e o que será na história da humanidade.

      Evolução

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      A evolução teve um desempenho satisfatório, mas houve um pequeno buraco na ala 6, os componentes da própria fileira foram separados com três de cada lado, durou aproximadamente um minuto, e rapidamente foi corrigido pelos chefes de ala. De resto, as alas estavam alinhadas, sincronizadas e não houve presença de buracos ou invasão de alas.

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      Samba-enredo

      O samba da comunidade traz uma letra positiva do que pode vir a ser a tecnologia, como frases que diz “é tempo de amar”, “unir os corações”, e é de fácil assimilação por parte dos componentes, pois tem uma melodia agradável. Mas o maior fator positivo foi a ala musical, que desde os primeiros ensaios mostrou muito entrosamento com o samba. Destaque principal para o experiente intérprete Royce do Cavaco, que jogou várias vezes o samba para a comunidade.

      Fantasias

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      Pelo fato de desfilar com o dia claro, a escola optou por materiais mais brilhosos, pouco se preocupou com o uso de plumas e fantasias ricas, preferiram priorizar o fácil entendimento. Entretanto, algumas alas, especificamente do setor 3 em diante, tinham materiais que dificulta a leitura e encarece a vestimenta. Porém, as fantasias de mestre-sala e porta-bandeira se destacaram, com cores fortes e uso de muito brilho, que combinou com a claridade.

      Alegorias

      O abre-alas foi um carro grandioso, representou uma máquina mortífera, com escultura de ‘cyborgues’ na parte de cima, dando ideia de destruição por parte da tecnologia. Dourado e preto predominante, o segundo carro simboliza a máquina a vapor, invenção que marcou a primeira revolução industrial. O terceiro carro predomina as cores dourado, preto e cinza, com muito brilho e representa a transição entre a segunda e terceira revolução industrial, com uma alusão ao Fordismo. O quarto carro veio nas cores azul e rosa, retratando o desenho animado Jetson, dos anos 70, que falava sobre tecnologia. Último carro veio azul com prateado, com uma escultura de um robô amamentando um bebê humano, usando a tecnologia para coisas boas no futuro, algo bem pensado, e que retrata bem o que será a humanidade daqui para frente. As alegorias do Rosas de Ouro obviamente foram pensadas para um desfile em claro, mas exceto o abre-alas, os demais não tinham vida, falta de movimentos e alas com encenações.

      Outros destaques

      Movimentação da bateria no recuo, entram e saem algumas vezes, o que acarretou em um visual interessante.

      Gabriel Haddad e Leonardo Bora, carnavalescos da Grande Rio: ‘Não existe o ‘correto’ em arte’

      Gabriel Haddad e Leonardo Bora formam a dupla de carnavalescos que está à frente do enredo da Acadêmicos do Grande Rio em 2020 que trará a figura de Joãozinho da Gomeia para a Avenida. Estreantes no Especial, ambos formam parte da nova onda de artistas que ocupam hoje um novo espaço no carnaval carioca, mudando as estéticas e propondo novas perspectivas para a festa. Mas a trajetória de trabalho deles não é nova, são mais de 10 anos atuando no meio carnavalesco, como contam sobre suas passagens pessoais e em dupla entre a Intendente Magalhães, o Grupo de Acesso e com a oportunidade em 2020 de estrear no Especial com a escola caxiense.

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      Vocês esperavam essa oportunidade no Especial tão rapidamente?

      Gabriel Haddad: “Foi rápida mesmo pelo tempo em que fomos contratados, logo uma semana depois do carnaval, o que até nos deixou apreensivos, gerou uma expectativa muito grande. Mas não rápida se pensar na nossa trajetória carnavalesca em sentido amplo, porque começamos a trabalhar com carnaval em 2008, são 12 anos já atuando no meio, foram 4 anos na Intendente Magalhães, 2 anos na Mocidade Unida do Santa Marta já assinando como carnavalescos junto com o Léo, depois Acadêmicos do Sossego, Cubango, então foi um lastro que fomos produzindo ao longo desses anos. E eu também já trabalhei como assistente na Cidade do Samba, fui do Louzada e de outros, passei pela Portela, Mangueira, Mocidade, e até mesmo aqui na Grande Rio. Então isso gerou uma expectativa muito grande, principalmente pela escolha do enredo, para saber o que a gente iria conseguir produzir. E, bom, foi um enredo que já queríamos fazer e que tínhamos muita vontade de criar e isso foi nos deixando mais tranquilos”.

      Como vocês visualizam a chegada de artistas tão engajados e jovens como vocês no carnaval?

      Gabriel Haddad: “O carnaval é muito cíclico, a gente vê sempre esses ciclos acontecendo no meio. O pessoal têm chamado de renovação, mas é como eu estava falando, eu já fui assistente do Louzada e hoje eu “disputo” com ele, claro que só na Avenida. E essa disputa é um pouco esquisita, porque eu conheço muito do trabalho dele e do trabalho de outras pessoas, mas é algo natural do carnaval, essa secularidade, essas mudanças, o carnaval é feito disso. O João Vitor agora no Especial com a Tuiuti, o Jorge Silveira na São Clemente, eu e o Leonardo e outros carnavalescos mais jovens, esses que vem tentando fazer com que as escolas de samba voltem a se entender enquanto esse espaço cultural. Você vê, por exemplo, o enredo do Jorge esse ano na São Clemente ligado com as características da escola, o João trazendo a Tuiuti homenageando o seu padroeiro, a Grande Rio homenageando uma personalidade de Caxias, então eu acho que é uma tentativa que se começou dentre essas pessoas que chegaram agora no Grupo Especial, de buscar uma comunicação maior entre a comunidade e a escola de samba”.

      Leonardo Bora: “O Gabriel até menciona “os que apareceram” mas às vezes a gente toma o Grupo Especial apenas enquanto vitrine, mas na verdade não são aparições, todos esses artistas possuem uma trajetória longa de vivências carnavalescas em sentido amplo e não apenas assinando carnavais, mas como assistentes e também como foliões, enquanto amantes dos festejos carnavalescos, dos desfiles das escolas de samba em sentido mais restrito. Essa bagagem é múltipla, cada artista possui uma com suas características, seus referenciais estéticos, suas linguagens narrativas, opções e vivências, e é isso que faz com que tenhamos uma grande expectativa. Proporciona também uma ‘cara’ diferente para esse carnaval de 2020, seguramente será um ano em que as escolas irão apresentar uma visualidade inusitada, esperamos pelo menos, visto não apenas o número de artistas estreantes nas escolas grandes mas também como essa “dança das cadeiras” daqueles que já ocupavam essa posição, que também foi grande”.

      Todo artista que está começando procura um referencial estético? Vocês se inspiram em quem?

      Leonardo Bora: “Nos entendemos enquanto artistas mediadores em trânsito, em diálogo permanente e que vamos construindo um sistema simbólico inclusivo, absorvente. Óbvio que existem referências que contribuem para a nossa formação como um todo, às vezes a gente fica muito preso ao universo do carnaval. As pessoas sempre nos perguntam o “em que carnavalesco vocês se inspiram?” até porque a autorreferência é inevitável, estamos trabalhando com uma linguagem que possui as suas especificidades e características. Então no meu caso é inevitável mencionar a Rosa Magalhães, enquanto narradora, que foi parte da minha pesquisa e que é algo em que eu venho desenvolvendo, é óbvio que a produção da Rosa enquanto narradora me interessa. Gabriel já mencionou o Alexandre Louzada, que ele trabalhou durante um bom tempo nas diferentes escolas em que passou, e é natural, a forma de pensar carnaval do Gabriel traz muitos dos ensinamentos que ele exercitou enquanto assistente do Louzada. Mas para além desses, podemos mencionar carnavalescos como Joãosinho Trinta, Renato Lage, Fernando Pinto, Arlindo Rodrigues, Oswaldo Jardim e muitos outros com os quais nós já trabalhamos. Existem artistas, em sentido amplo, que referenciam o nosso trabalho ano após ano, das artes plásticas, do teatro, do cinema, são inúmeras as referências”.

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      Mesmo antes de desfilar muitos já dizem que a Grande Rio esse ano resgatou seu DNA com o enredo e o samba escolhido. Vocês se consideram orgulhosos por isso?

      Gabriel Haddad: “A escola está muito feliz, isso a gente consegue ver realmente nos ensaios. E essa é peça fundamental, uma escola de samba que tem um samba que agrada a comunidade, que tem sido considerado um dos melhores para o carnaval de 2020, eu acho que é algo que pode impulsionar a harmonia e outros setores do desfile. O samba, como a Rosa diz, é quase 60% de um desfile, o samba pode levar uma escola ao campeonato. E tudo isso tem feito com que os ensaios pulsem de maneira diferente”.

      O que a Intendente Magalhães ensinou a vocês e pode ensinar a todos que por lá passaram e ainda vão passar?

      Gabriel Haddad: “A Intendente é mesmo uma escola incrível, porque é onde você tem o mínimo de recursos mas o carnaval tem que ser entregue de qualquer forma. E lá a gente não tinha dinheiro para pagar a equipe de adereços, de alegorias, teve um ano na Santa Marta em que tivemos que fazer uma alegoria em 11 dias com toda a decoração, e éramos em quatro carnavalescos, eu, Leonardo, Rafael Gonçalves e Vitor Saraiva, então o trabalho era muito intenso e tínhamos que produzir muita coisa e isso acaba te dando uma visão muito grande do que é o carnaval das escolas de samba, do que é essa produção, claro que de maneira menor e reduzida, mas você consegue entender de fato como é que se dá essa produção. A Intendente é mesmo uma escola para quem tem interesse em trabalhar com carnaval, em participar como carnavalesco, pesquisador, claro que viemos de lá e a gente aconselha, é um espaço muito amplo para se exercitar a arte carnavalesca”.

      Leonardo Bora: “A Intendente te obriga a exercitar a experimentação, então não é possível naquele contexto você seguir uma cartilha das coisas que são preestabelecidas ou consideradas ideais em um cenário das escolas de samba, a escala é outra e os recursos são outros, então lá é preciso experimentar o tempo todo. Com isso, perdemos um pouco do medo de fazer, ou muito, porque lá a gente faz praticamente tudo, acho que a única frente de trabalho pela qual nós não nos aventuramos foram as ferragens, a gente nunca soldou ferro mas em todas as outras como lidar com escultura, pintura, marcenaria, adereçaria em sentido amplo, forração, tudo isso nós já passamos. E isso fez com que possamos compreender o modo de produção dos outros profissionais que estão ali, e mais importante, a gente adquire esse senso do experimental, da prática, que é fundamental, que não é preso a uma receita. E chegamos no Especial com esse olhar não viciado e sem essa ilusão do ‘precisamos fazer dessa forma, porque é a correta’, não existe correção em arte, existe apenas uma receita a ser seguida, a gente gosta de misturar essa receita e criar algo diferente”.

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      Vocês acham que o papel do carnaval é mostrar e ensinar as pessoas que existiram histórias como a de Joãozinho da Gomeia?

      Leonardo Bora: “É curioso porque às vezes eu mencionava isso, de dar visibilidade a figuras como o Joãozinho da Gomeia, e vários amigos me questionavam com o “dar visibilidade para quem?” porque entre o povo de axé, Joãozinho da Gomeia é uma celebridade, uma figura muitas vezes criticada, polêmica. E o nosso intuito é dar visibilidade para um grande público que muitas vezes tende a ignorar ou menosprezar personalidades ligadas ao nosso panteão afro-ameríndio. E até porque nós estamos trabalhamos com uma figura que, segundo os levantamentos realizados, muito das pesquisas do Vinícius Natal que nos acompanha na feitura desse enredo com a biblioteca digital, a nacional e nos arquivos da imprensa, no ano 1969, por exemplo, Joãozinho da Gomeia aparece mais de 250 vezes em diferentes matérias naquele ano, claro que em determinados períodos mais, como na época de carnaval porque ele desfilava em diversas escolas e participava dos bailes, mas essa quantidade em uma época em que não havia internet ou redes sociais e a tv ainda estava engatinhando no Brasil, é muita coisa, ele era mesmo uma celebridade. Determinados veículos da imprensa acompanhavam cada passo dele, o enterro foi um mega acontecimento e que está fixado na memória coletiva da cidade de Caxias, sendo amplamente noticiado por toda a imprensa televisiva, radiofônica e escrita no Brasil. É mesmo uma grande celebridade, mediador cultural e artista que não está no panteão da glória perante muitas pessoas, que ainda perguntam ‘quem foi Joãozinho?’ então o carnaval tem esse papel social, de olhar para figuras apagadas, que passaram por uma espécie de apagamento histórico que está diretamente relacionado ao racismo, a homofobia, ao preconceito que permanece infelizmente agindo contra as religiões de matriz africana. Então o enredo da Grande Rio, nesse sentido, presta esse serviço que é jogar as luzes para essa figura, figura que já é iluminada por muita gente e que continua sendo celebrada e vivenciada e que está presente na memória viva de milhares de pessoas, mas que em outras esferas acaba um pouco sendo esquecida. E a gente espera que todo mundo passe a conhecer Joãozinho da Gomeia e que ele entre em definitivo para o panteão dos grandes personagens carnavalescos da história do Brasil”.

      O que vocês preferem, enredos politizados e com mensagens importantes ou apenas entretenimento e show?

      Leonardo Bora: “O carnaval sempre viveu esse dilema, na década de 30 já se tinha essa discussão entre as escolas, no caso por exemplo da escola Vizinha Faladeira que naquela época apresentava desfiles mais espetacularizados e outras que eram mais escolas de raiz, de resistência, que respeitavam o samba original, então essa é uma discussão que já tem 100 anos. O desfile das escolas de samba é completo porque ele é isso, uma mistura de facetas, é um espetáculo audiovisual que é comercializado e vendido para o mundo todo, pode ser um ato político e o é por si só, é uma festa popular, então dentro desse grande campo a gente prefere abraçar a ideia, que foi até defendida pelo Gabriel na dissertação de mestrado dele, que é uma grande obra de arte e que a nós compete uma direção artística dessa grande obra, que se transforma em grande ato poético. A gente transita sempre nessa intercessão entre a poética e a política, uma figura como Joãozinho da Gomeia é política por excelência em sentido estrito porque dialogou intimamente com os presidentes da república, o alto escalão do governo federal, como Getúlio Vargas, JK e para além disso foi um grande agente comunitário que transitou pelos mais variados espaços e na contemporaneidade adquire um viés político ainda mais intenso porque é uma figura síntese da luta contra o racismo religioso, a intolerância religiosa, contra a homofobia. E isso tudo vai receber no nosso desfile uma roupagem profundamente poética e acredito que é isso que vai tocar o coração de cada desfilante da Grande Rio e a gente espera que de cada espectador e jurado também”.

      Vocês se consideram responsáveis pelo samba da Grande Rio ser considerado o melhor do carnaval?

      Leonardo Bora: “É um conjunto de fatores, o enredo foi pensado coletivamente a partir de inúmeras reuniões e diálogos, amplas e longas discussões entre eu, Gabriel, Vinícius e outros agentes que nos visitaram no barracão. Então esse enredo possui inúmeros fios narrativos e caminhos possíveis, gerou um grande samba entre outros grande sambas também, já que foi uma safra extraordinária que a nossa escola teve. Esse samba apresenta uma leitura poética entre muitas, assim como o nosso enredo, a gente não pretende fechar uma leitura sobre quem foi ou quem é Joãozinho da Gomeia e essa é uma construção coletiva. Nada adianta o nosso trabalho sem o trabalho dos compositores, dos adereçistas, ferreiros, carpinteiros, escultores, costureiras e costureiros e de tanta gente que está dia e noite se dedicando a feitura desse carnaval”.

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      Como conciliar os pedidos de vagas para famosos e musas na escola? Vocês acham que a escola sofre preconceito por conta disso?

      Gabriel Haddad: “Na verdade essa é uma parte do desfile em que a gente não se prende muito, pensamos mesmo no desenvolvimento do enredo e das fantasias para apresentar todas as nossas referências visuais. Por exemplo, na nossa última alegoria a gente traz personalidades negras e personalidades que lutam pela liberdade religiosa, como Conceição Evaristo, Frei David, Frei Tatá, Padre Gegê, Mônica Francisco, Mãe Meninazinha d’Oxum, são famosos que representam o nosso enredo e de certa forma a gente consegue inserir essas pessoas no desfile. Mas em relação as vagas de musa, vaga em alegorias isso a gente não trata muito e fica mais a cargo do diretor de destaques e dos presidentes da escola”.

      Leonardo Bora: “No caso específico da Grande Rio existe um fator interessante, porque é a escola ideal para se tratar de uma personalidade tão importante para memória de Duque de Caxias, que é Joãozinho da Gomeia. Na época em que ele viveu a escola ainda não havia sido fundada, mas, caso contrário, ele seguramente desfilaria e participaria ativamente da Grande Rio, principalmente pelas cores da escola que são as mesmas do caboclo da Pedra Preta. E era uma personalidade midiática e que recebia em seu terreiro todos os artistas da cena brasileira, do teatro, da tv, do cinema, do rádio, cineastas estrangeiros e ao mesmo tempo em que recebia a intelectualidade francesa e embaixadores. Então é uma figura de uma complexidade grande e uma escola de samba acaba sendo isso, todas as escolas têm os seus famosos que desfilam e tem a sua base comunitária, que são mais de 3500 pessoas se você pensar só no corpo do desfile. A gente sempre direciona esse olhar para essa comunidade, que está cantando o samba a plenos pulmões na quadra, nas ruas de Caxias, nessas inúmeras pessoas que vão participar do desfile e que o guardam na memória. E acredito que é esse conjunto, de visões, fatores e sistemas que vai resultar nesse grande desfile”.

      O que vocês têm a dizer para a comunidade de Caxias?

      Gabriel Haddad: “O recado que a gente gostaria de deixar é mesmo para que todos continuem cantando, vibrando como já estão com o enredo e o samba, continuem participando dos ensaios que tem sido muito cheios, tanto os de rua como os de quadra. E que se empolguem cada vez mais com o nosso desfile, porque estamos preparando um grande carnaval para a Grande Rio”.

      Enredos da Série A: ‘Um ano de narrativas simples e que renovaram a linguagem da festa’

        Por Leonardo Antan

        Foi uma festa variada de enredos o carnaval da Série A. Em dias de desfiles desnivelados, as escolas de samba do grupo lutaram para colocar seu carnaval na rua com pouca verba e muitas dificuldades. Com desfiles fracos no grupo, se viu refletir a falta de investimento no que deveria ser uma das bases da folia carioca. Mas mesmo em meio ao cenário da famigerada crise, se provou um ano de renovação e aposta em novos talentos. Quase metade das agremiações apostou em carnavalescos que desenvolveram seu primeiro trabalho solo na Sapucaí esse ano, mostrando a importância de trazer novas linguagens para festa e promover sua renovação. Além disso, as escolas apostaram em enredos de forte apelo cultural e artístico, variando temáticas e tratamentos. Vamos aos apontamentos sobre como passaram as narrativas nesses dois dias de cortejos.

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        A crítica social, que se consolidou com uma tendência dos últimos anos na folia carioca, marcou tanto o início dos cortejos quanto seu encerramento. Surpreendendo com uma boa apresentação, a Vigário Geral trouxe uma fábula batizada de O Conto do Vigário que lançava um olhar crítico e debochado sobre a história brasileira e suas mazelas. O enredo se desenhou de maneira menos inspirada e apostou em críticas políticas conhecidas, mas ganhou um excelente final ao trazer uma enorme escultura de palhaço fazendo um gesto de arma, trajando uma faixa presidencial. A mensagem direta e contundente viralizou nas redes sociais Brasil a fora, mostrando a importância de uma imagem símbolo que represente o que a escola pretende artisticamente. Desfiles aclamados do último ano, como Paraíso do Tuiuti e Mangueira, também tinham essa característica, conseguindo condessar sua mensagem numa forte construção imagética.

        Em tons menos exaltados, mas ainda sim urgentes, as pautas sociais também apresentaram em outras ocasiões durante os desfiles. O Império da Tijuca fez um importante alerta sobre a educação. O enredo conduzido pelo personagem Homem-Livro tomou decisões perigosas na sua narrativa, passeando tanto por clássicos da literatura como pela formação da imprensa no Brasil, além da própria história da agremiação verde e branco que completa 70 anos. Apesar da importância da discussão, a apresentação deixou a desejar num desencadear de ideias mais bem construído.

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        Outra pauta social que apareceu em outros cortejos foi a força feminina. O Império Serrano fez um enredo conduzido por essa máxima, exaltando grandes mulheres da história brasileira. O tema que tinha tudo para passar de maneira relevante na Avenida foi ofuscado por lamentáveis problemas da agremiação, marcado por situações trágicas e que roubaram os holofotes. Também falando de empoderamento, a Inocentes fez uma apresentação que homenageou a jogadora Marta e exaltou a luta feminina. O enredo de desenvolvimento simples, mas correto funcionou muito bem, em um belo tributo à rainha do futebol brasileiro. Na materialização do tema, o carnavalesco Jorge Caribé surpreendeu positivamente com um trabalho criativo e de forte comunicação. Disto, fica o destaque para a alegoria formada inteiramente por bolas de futebol, investindo num visual menos tradicional e sem tanto acetato e galão das alegorias tradicionais. Um acerto.

        Falando tanto em força feminina quanto em soluções visuais criativas, o desfile da Rocinha reuniu estes dois elementos. A narrativa abordou a trajetória de Maria Conga, negra africana tornada escrava no Brasil, que construiu um quilombo na cidade de Magé e ao desencarnar integrou a falange de pretos velhos na umbanda. A bela e necessária história dessa personagem, pouco conhecida da história nacional, teve momentos plásticos bem marcados pelo competente trabalho de Marcus Paulo, que integra também a Comissão de Carnaval da Unidos da Tijuca nos últimos anos. O destaque ficou para uma alegoria decorada completamente com bambus e apostou num visual que fugiu a tentativa de uma opulência plástica vazia.

        Se soluções visuais originais marcaram Inocentes e Rocinha, não foi o que se viu em outras apresentações do grupo. A velha fórmula de enormes esculturas e caixotes com elementos em pouca harmonia marcou muitas das alegorias que passaram pela Sapucaí nesse dois dias de desfile, unindo falta de apuro estético na sua concepção e problemas graves de acabamento. Coincidentemente, trate-se de escolas que apresentaram enredos confusos e desenvolvidos de maneiras menos interessantes. Foram o caso da Unidos da Ponte, numa frágil narrativa sobre a relação do homem com a eternidade; da Acadêmicos do Sossego, que cantou os Tambores de Olokum de maneira confusa; e da Unidos de Bangu, apostando num enredo africano com signos clichês e já reutilizados várias vezes na Avenida.

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        Além do enredo guiado por um griô da vermelho e branco da zona oeste, as chamadas temáticas africanas passaram ainda mais duas vezes no grupo em enredos mais bem resolvidos. A Cubango fez uma bela homenagem ao escritor Luiz Gama, passando pela história da escravidão do Brasil, o tema se entrecruza ao ótimo Ginga, da Unidos de Padre Miguel. A interessante e multifacetada história da Capoeira foi bem desenvolvida pela agremiação, que contou ainda com um trabalho plástico interessante e bem resolvido que apostou em referências artísticas, como as obras de Carybé e Rubem Valentim.

        Outro tom percebido entre os temas foi a aposta na simplicidade, que deu bons resultados em desfiles que juntaram leitura e enredos mais bem estruturados. Como foi o caso da Santa Cruz ao cantar o nordeste de maneira competente; a Renascer, que homenageou as rezadeiras e falou da religiosidade brasileira; e a Porto da Pedra, que levou uma homenagem a figura da baiana, desde o aspecto religioso e cultural da personagem como sua relação com o carnaval.

        Encerrando esse giro pelas narrativas das escolas da Série A, a Imperatriz Leopoldinense fez a grande apresentação da Série A e contou também com um excelente enredo. A homenagem ao compositor Lamartine Babô, feita originalmente pelo excepcional Arlindo Rodrigues, ganhou nova roupagem nas mãos de Leandro Vieira, que optou por uma sequência mais poética ao abordar o imaginário das canções do artista. Se em 1981, pesou o estilo histórico e mais cartesiano, a leveza deu o tom da sequência de alegorias e fantasias que apostaram na nostalgia. Em comum entre esses dois artistas, é inegável o bom-gosto e requinte que unem a estética de Leandro e Arlindo. O carnavalesco bicampeão pela Mangueira tem um evidente diálogo com o artista que fez história na Imperatriz há três décadas atrás e ajudou a definir as bases da linguagem da festa carnavalesca.

        Dificuldades aqui e ali, fica deste carnaval a importância de olharmos para as escolas do acesso com mais atenção e cobrar ações para melhorar as condições de trabalho dos artistas que atuam nesse cenário. Mesmo com tanta dificuldade, a nova safra de artistas que se apresentou esse ano mostrou competência em propor temas interessantes e que renovam o público do carnaval.