Análise da bateria da Viradouro no desfile de 2020
Por Matheus Matttos
Segunda bateria da primeira noite, a Furacão Vermelho e Branco apostou num andamento mais firme pro desfile. A proposta de valorizar o canto da escola foi visível, mas sem deixar de apresentar complexidades de ritmo.
Durante a execução nas cabines, duas mulheres tocando timbal apareceram de dentro de um tripé logo após o maior apagão. Além de levantar as arquibancadas, todo restante da bossa executada após foi realizada com eficiência.
Pra ajudar na precisão do apagão, um surdo de terceira no meio marcava o tempo. A entrada no recuo sofreu com algumas oscilações de andamento e falta de precisão da retomada dos leves. A apresentação na última cabine de jurados também contou com algumas falhas.
Entre os instrumentos, o chocalho mostrou um bom domínio técnico, ritmistas atentos e levada limpa. A maioria dos arranjos apresentados visavam valorizar o canto dos componentes, como o que zerava no “É Viradouro” e o apagão maior da última parte. Especificamente nesse, os ritmistas ficam 16 compassos sem tocar e voltam no mesmo andamento do canto dos componentes, uma boa precisão rítmica apresentada.
No trecho “É a voz da mulher”, os cavacos apresentaram um solo bem executado. No “ensaboa” um diferente arranjo também foi notado.
Quinta alegoria da Viradouro trouxe sincretismo religioso de Nossa Senhora das Candeias
O dia consagrado à Nossa Senhora das Candeias, sincretizada como Oxum nas religiões de matrizes africanas, virou tema da quinta alegoria do Unidos do Viradouro. A vermelha e branca pisou na Marquês de Sapucaí com o enredo “Viradouro de Alma lavada”, contando os pormenores da história das Ganhadeiras de Itapuã. E na alegoria 5, propôs uma alusão a lavagem das escadarias da Igreja Matriz de Itapuã, num carro repleto de simbolismos.
Toda baseada em branco e salmão, a composição tinha elementos religiosos, como um altar e enormes velas distribuídas por toda a alegoria. As peças estavam enfeitadas com pequenas pérolas. Na frente uma escadaria, aconteceu um ato com alguns componentes da escola durante todo o desfile da agremiação.
A integrante Roseclai Laureano, torcedora fanática da Viradouro, demonstrou repleta emoção ao distribuir flores durante a procissão.
“Eu representei uma lavadeira e distribui flores para os participantes da procissão em homenagem à santa. Estou apaixonada. Quando fui convidada para participar fiquei muito emocionada. Pois nutro uma devoção muito grande pela orixá”, declarou.
No topo da escadaria, uma surpresa. A imagem de Nossa Senhora das Candeias, com um manto florido, abriu seu “coração” para revelar um destaque com os trajes de Oxum. A componente era Patrícia Costa, ex-rainha de bateria da Viradouro.
“É um presente imenso e estou muito emocionada. Estou trazendo a orixá dentro de mim, com toda a energia da feminilidade e do amor. Nem sei se sou merecedora disso. Estou muito feliz em fazer parte deste momento com a escola, com quem eu já fui campeã em 1997”, afirmou.
Viradouro leva a sorte para a Avenida com carro em tons prateados
A Viradouro foi a segunda escola a pisar na Marquês de Sapucaí na noite deste sábado. Seu enredo reverenciou as Ganhadeiras de Itapuã, escravas que atuaram até o final do século XIX na Bahia fazendo “lavagem de ganho”. O terceiro carro da escola, intitulado como “Joias de Crioula – A arte Metal e o Ganho da Sorte”, fez alusão às joias e adornos produzidos e utilizados por essas mulheres. Feitos à base de metal, as peças tinham o objetivo de enfeitar de trazer sorte.
A alegoria da agremiação vermelha e branca de Niterói era toda prateada, com muitas pedrarias, flores e elementos espelhados. Brincos, cordões e anéis metálicos, joias conhecidas como balangandãs, pendiam de várias partes da estrutura do carro. Na frente, uma grande escultura de uma mulher enfeitada com alguns desses acessórios feitos de metal.
Nas laterais, uma enorme escadaria abrigava componentes vestidos com coloridas fitas do Senhor do Bonfim, além de um chapéu com uma figa, conhecida por ser usada como proteção para maus agouros. A integrante venezuelana Maria Alejandra Castro, que desfilou pela primeira vez na Viradouro, ficou encantada com o a grandiosidade da alegoria.
“O carro retrata os balangandãs. Minha fantasia representa o amuleto, aquilo que traz sorte para a escola. Está tudo maravilhoso, as cores foram bem combinadas”, disse.
No meio da alegoria estava um grande recipiente, contendo miçangas metalizadas e ladeado por enormes figas. Os pequenos detalhes do carro eram impressionantes. Luiz Cláudio Neves, de 48 anos, acha que a composição foi muito bem elaborada e revelou que estava admirado com a minuciosidade dos carnavalescos. Oriundo da ala de passistas, o componente ficou muito feliz em ter sido convidado para fazer parte de uma alegoria tão imponente e chamativa.
Baianas da Estácio de Sá comemoram a fantasia ‘O Ouro Barroco’
Há 50 carnavais Rosa Magalhães têm brindado o público carioca com carnavais memoráveis. Esse ano, trouxe a Estácio de Sá com o enredo ‘Pedra’. Fantasias de fácil leitura, leves e luxuosas, marcaram o desfile da agremiação na noite deste domingo. Entre tantas, as baians merecem destaque, elas vieram representando “O Ouro Barroco”. Com fantasias na cor dourada elas brilharam, literalmente na Sapucaí.
O subchefe de ateliê Igor Marcelo, achou a fantasia das baianas a mais bonita da escola, com cor dourada, feita de paetê, pena, bolinhas de acetato, capim e pedras.
“Ficou muito exuberante, ela conseguiu surpreender a todos nós, acho que vai funcionar bem na avenida porque na minha opinião, de todas as fantasias, essa é a mais brilhante”, contou.
Mariana Silveira, que desfila na Estácio há 10 anos, também achou que a Carnavalesca caprichou. “A roupa está linda, temos a sorte de ter roupas bonitas sempre, é uma alegria estar vestida com um figurino da Rosa”, disse.
Ivone Coutinho, que tem 86 anos e desfila na Estácio desde que ela era Unidos de São Carlos achou a fantasia incrível. “Achei a fantasia bonita luxuosa”.
Outra baiana, Dina Santana, que desfila há dois anos na ala comemorou a fantasia estar mais leve esse ano. “Conheço uma fantasia pesada, e essa está levíssima, tá maravilhosa, estou me sentindo super luxuosa, com essa fantasia que vai dar pra gente brincar bastante”, comemorou a baiana ainda na concentração.
Isso é Rosa Magalhães! Estácio abre Grupo Especial com aula da professora no enredo e nas alegorias
Por Victor Amancio. Fotos de Allan Duffes e Isabel Scorza
A carnavalesca Rosa Magalhães completou 50 carnavais e para coroar a data fez um desfile brilhante tirando leite de ‘pedra’ pela Estácio de Sá, na abertura do Grupo Especial. Se pensaram que a professora não ia dar conta de desenvolver mais este enredo se enganaram, ela deu uma verdadeira aula sobre a relação do homem com os minérios e os resultados que a falta de cuidado e a cobiça podem levar. Alegorias belíssimas e bem acabadas surpreenderam quem espera um desfile mediano. A Estácio fechou o desfile com 66 minutos e a carnavalesca disse não acreditar no rebaixamento.
“Não vamos descer, se Deus quiser”, afirmou Rosa Magalhães.
Comissão de frente
A comissão veio representando a evolução da humanidade que com o passar dos tempo aprimorou técnicas e criou tecnologias capazes de nos levar para a Lua. Os bailarinos, coreografados por Ariadne Lax, vieram representando homens da idade da pedra e o tripé representando uma espécie de caverna. Dançando e realizando funções da época como a caça a encenação foi bem recebida pelo público. No ato final da comissão a rocha se abria com a presença de dois astronautas e um deles com a bandeira da Estácio, unindo os dois momentos da história e marcando a evolução do homem. O público aplaudiu.
Mestre-sala e Porta-bandeira
O primeiro casal da escola se apresentou com a fantasia que representava o rubi, uma das pedras mais preciosas do mundo. Zé Roberto e Alcione usaram uma fantasia belíssima bem tal como uma pedra preciosa. Alcione segurou firme na dança mesmo parecendo estar com uma fantasia pesada que pareceu atrapalhar os movimentos dela. O casal dançou no mesmo tempo, com sintonia e não cometeu erros em nenhuma das cabines de julgadores.
Harmonia
O componente estaciano iniciou o desfile cantando forte e durante o desfile a altura baixou voltando a crescer nas últimas alas. Serginho do Porto provou ser a cara da agremiação e encaixou perfeitamente sua voz ao samba. Favorecendo a harmonia, a bateria de mestre Chuvisco deu um show de bossas e o público respondeu com aplausos e cantando de volta a obra da escola.
Enredo
O enredo “Pedra” da professora Rosa Magalhães foi apresentado em recortes baseados na história do país. Passando pelas inscrições rupestres e protetora de animais da pré-história; a exploração da riqueza pelos colonizadores; morada de espíritos indígenas e a exploração sem limites que destroem terras. Rosa desenvolveu o enredo de forma clara com alegorias e fantasias de fáceis leitura. Foi possível notar erros em dois momentos do desfile: a ala 20 e o terceiro casal estavam em posições invertidas; e no fim as alas 22, 23 e 24, vieram trocadas ao invés de virem “universo”, “o sol” e “a terra” vieram “o sol”, “a terra” e “o universo” não batendo com as informações presentes no abre-alas. Estácio encerrou o desfile com uma alegoria trazendo a Lua de São Jorge com uma crítica direta a falta de consciência ambiental do homem.
Evolução
O componente da escola poderia ter evoluído muito melhor comparando com os ensaios realizados pela escola. Em alguns momentos foi possível notar pessoas andando e sem evoluir. Nos dois últimos setores isso melhorou e foi perceptível a evolução do quesito, os componentes passaram brincando e mais soltos.
Samba-Enredo
O samba da Estácio de Sá desempenhou bem seu papel, apesar do canto não ter sido muito forte, pode-se notar uma Sapucaí embalada pela obra. O que ajudou no crescimento do samba foi a bateria.
Fantasias
Rosa conseguiu contar o enredo do início ao fim através de suas fantasias. Bem acabadas e com materiais dando um efeito visual bonito para escola, as fantasias conseguiram suprir a necessidade de contar o enredo e apresentar um visual atrativo para quem assistia. Destaque para as alas do terceiro setor que representavam a mineração, as fantasias reluziam e impressionavam pela beleza estética e para as alas do quinto que com simplicidade agradaram visualmente.
Alegorias e Adereços
Rosa com o primor de acabamento em todos os seus carros fez um belíssimo desfile em termos estéticos. Os carros da escola foram um dos pontos altos, em destaque o abre-alas que trouxe fósseis de animais pré-históricos e o símbolo maior da escola: o leão. O quinto carro impactou o desfile representando a busca desenfreada pelo ouro na Serra Pelada. Esta alegoria trazia caveiras, exemplificando as mortes humanas causadas e o mal feito aquela terra e como composições garimpeiros. Fechando com o São Jorge, o padroeiro da escola, e a Lua, um pedaço da terra que hoje é árido e serve como depósito de lixo da Terra.
Outros Destaques
A rainha Jack Maia em sua estreia desfilou bem à frente da bateria com uma fantasia bonita, sambando e interagindo bem com o público.
Componentes da Estácio se orgulham de alegorias de Rosa Magalhães
Com o enredo Pedra, a Estácio de Sá foi a primeira escola a entrar na Avenida na noite deste domingo. O abre-alas, nomeado “Memórias gravadas na pedra”, foi um dos grandes destaques do desfile. A equipe do site CARNAVALESCO conversou com alguns componentes sobre essa e outras alegorias de Rosa Magalhães, a maioria se disse apaixonado pelos carros.
A alegoria possuía desenhos rupestres e outras descobertas arqueológicas, como os da Serra da Capivara, o revestimento do carro dava a impressão quase ral de pedra, muito próximo da realidade, o abuso de cores terrosas e palha ajudou a manter a aparência realística.
Eliclaudio Pereira, que desfila na escola há mais de oito anos, veio no abre-alas e ficou muito feliz de fazer parte do desfile feito por Rosa Magalhães.
“Esse carro é incrível, é grandioso, é o início de tudo, volta ao homem primitivo que escrevia em pedras, é o nosso passado”, conta.
Fernanda Lopes, que fez sua estreia na agremiação, contou que achou o abre-alas mais bonito do desfile.
“O trabalho do carro está lindo, traz a história dos nossos ancestrais e todo trabalho que eles tiveram que começou na época da pedra mesmo. A roupa está linda, a coreografia vocês vão ver na Avenida e também está tudo muito bonito, muito bem preparado”, afirmou a componente ainda na concentração.
Diana Maciel, que também fez sua estreia no desfile da Estácio, conta que é fã da carnavalesca e se apaixonou pelo abre-alas.
“Não tenho palavras para expressar o trabalho da Rosa nesse carro, ele está fantástico, o leão está lindo demais, o trabalho dela é primoroso”, enalteceu.
O carro 5, denominado de “Em busca do ouro”, que segundo a crença, quando eles nasciam, saiam pedras de mundo subterrâneo para habitar a superfície. Ainda com bastante cores terrosas e com um excelente acabamento, dessa vez a carnavalesca também inclui o uso do dourado para remeter ao ouro.
Júlio leite, que desfilou na Estácio pela primeira vez ficou impressionado com o efeito do quinto carro.
“Ele está bem realista, o figurino está bem legal, a coreografia está muito massa também, vocês vão ver na avenida”, contou antes de passar pela Sapucaí.
Gustavo Crellin, que desfila há 15 anos no carnaval do Rio gostou bastante do quinto carro por ser mais crítico.
“É um carro que fala sobre a serra dos Carajás, que mostra toda devastação, o minério, é o lado da ganância”, conta.
Leonardo Reis desfilou na agremiação pelo segundo ano, mas se considera um estaciano desde criancinha, adorou a alegoria.
“É um carro com 100 pessoas, surpreende, eu fico em um desses vasos super realistas, eu testei, pulei bastante e é super resistente, se depender de mim a gente vai ganhar”, conta.
Xica da Silva volta à Sapucaí em desfile da Estácio de Sá
Figura emblemática do período colonial e enredo do Salgueiro de Fernando Pamplona em 1963, Xica da Silva é recorrente no carnaval carioca. Isso pela sua importância para a representação do empoderamento feminino e do contexto de escravidão do negro no Brasil colônia. Com o enredo sobre a posição histórica do elemento pedra, a escola encaixou em sua sexta ala a figura de Xica da Silva que sabiamente tinha uma grande volúpia por receber pedras preciosas, o que também marcava a sua posição social já que teve uma união estável com um rico contratador de diamantes na cidade mineira de Diamantina.
Com o já conhecido bom acabamento de Rosa Magalhães, a fantasia vem em tons em vermelho e rosa, representando a vestimenta de uma fidalga. A aposentada Rita de Cássia mostrou que estudou direitinho a história de Xica antes de desfilar na ala que a representa.
“Eu fico honrada. Eu li um pouco sobre e ela foi uma escrava que teve alforria e depois de um tempo casou com um cara que mexia com diamantes e chegou a ter 104 escravos. Alguns ela deu alforria, outros não. Os que trabalhavam pra ela, ela deu alforria. Mas ela não teve uma vida muito difícil pelo o que eu li”.
Já a instrumentadora cirúrgica, Conceição dos Santos, que desfilou na mesma ala afirmou que a fantasia representou bem todo o glamour da escrava alforriada.
“Eu achei a fantasia interessante porque está falando de uma negra e ela teve bastante exposição no início das épocas e eu achei elegante. Achei a cor bastante delicada, bem feminina para a escola. Também gostei de falar dela, pois ela também teve esse contato com o ouro. Achei linda”, finalizou.