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Pilares foi CapriXosos: a homenagem para rainha dos baixinhos

O ano é 2004, a escola de samba Caprichosos de Pilares escolheu como enredo fazer uma homenagem a das personalidades brasileiras mais queridas da época, Maria da Graça Meneghel, a eterna Xuxa. Falar sobre uma artista viva, em seu auge, gerou grande expectativa em cima do desfile da Caprichosos – que, para a homenagem, adotou a grafia Caprixosos – gerando também expectativa sobre a presença da Xuxa na avenida. Isso explica o tremendo alvoroço causado quando ela finalmente saiu do camarim para subir na alegoria que fechava o desfile, um grande coração azul composto por várias crianças da fundação Xuxa Meneghel.

Ao longo de toda a apresentação da agremiação nós pudemos ver a significativa presença de crianças em vários setores do desfile. A escolha feita pelo carnavalesco Cahê Rodrigues foi por um desfile voltado para a imagem “Xuxa, rainha dos baixinhos”, isto é, inspirado no público infantil da homenageada, o que fez com que o desfile fosse algo mais lúdico, com traços de contos de fadas, conectado com a forte presença de Xuxa na infância de seus fãs, mesmo os já crescidos, trazendo para estes uma sensação de nostalgia. Essa escolha casava com os interesses da artista a respeito de um desfile em sua homenagem, já que circulou nos jornais da época que Xuxa, após aceitar o convite, fez algumas exigências, dentre elas que não houvesse nudez no desfile e que sua vida pessoal não fosse abordada. Assim sendo e considerando que o projeto, como cantora, “Xuxa só para baixinhos” (XSPB) era um sucesso nessa época, a ideia de desfilar uma Xuxa voltada para o público infantil era a ideal, ou a possível naquele momento.

Na sinopse do enredo essas escolhas ficam mais evidentes, pois de acordo com a narrativa adotada nela, desde o nascimento Xuxa estaria envolta em magia. Numa quase releitura bíblica, o famoso mago Merlin teria escolhido um casal para gerar uma de suas fadas, cujo nome deveria ser Morgana, a rainha das fadas. A parte do seu nome está, de fato, presente na história de Xuxa, mas, por conta de complicações no parto, ela teve seu nome alterado para Maria da Graça, graças a uma promessa que seu pai fez caso a filha fosse salva. Mesmo não se chamando Morgana, a história de Xuxa não deixou de ser representada de forma mágica no desfile, com direito a muitas fadas, duendes e o Merlin, claro, que vinha à frente do carro abre-alas em uma escultura de 12 metros, “O mágico destino”, trazendo o bebê Maria da Graça que havia acabado de nascer. Era uma escultura que chamava muita atenção não só pela altura já que ele sequer cabia dentro do barracão, mas, também, pela composição de modo geral, pois tinha bastante expressão facial, movimentos e iluminação. Essa alegoria também era circundada por belas figuras de fadas que também estavam presentes na comissão de frente que a precedia. A comissão de frente, “A mais pura das criaturas do mundo”, que representava as crianças, era composta por onze meninas vestidas de fadas, além de mais quatro Merlins que empurravam o elemento alegórico da comissão em formato de cogumelos.

As alas e alegorias seguintes ao abre-alas representaram, por exemplo, a cidade de Santa Rosa, onde Xuxa nasceu. Nesse segundo carro a cidade era mostrada como uma floresta encantada, repleta de flores e duendes com roupas coloridas e feições infantis. Esse também era o carro onde vinham os familiares da Xuxa, seus pais e seus irmãos. Depois do segundo carro viam as alas que tratavam da infância da Xuxa, com direito a “príncipe encantado”, uma ala que representava “a menina e seus heróis”, além da fantasia da bateria que era em homenagem ao palhaço Carequinha e uma última só dos “Flintstones”, um dos desenhos preferidos dela. Este setor terminava com a terceira alegoria, “O universo dos sonhos”, outro carro que chamava bastante atenção pelo colorido, possuía uma grande escultura de uma menina loirinha de chuquinhas na frente do carro e, também, um grande carrossel no centro.

O samba se ateve também aos aspectos mágicos, lúdicos e infantis do desfile, em passagens como “E o mágico destino embalou/Lindos sonhos da menina/A princesa o mundo consagrou/Na modelo ideal/O baixinho sorriu, a rainha surgiu/Em uma nave espacial”. Esse trecho do samba, além de atribuir um “Q” de contos de fadas a vida da homenageada, também remete a momentos importantes da sua vida. Como o início da carreira como modelo, seu sucesso como artista voltada para o público infantil, bem como sua eterna alcunha de “rainha dos baixinhos”, e um de seus programas de maior sucesso, o “Xou da Xuxa”, cujo elemento marcante era uma nave espacial de onde Xuxa surgia.

De volta ao desfile, depois desse setor sobre a infância, ele começava finalmente a entrar na fase da vida da homenageada sobre o início de carreira e da fama. Essa fase aparece a partir do carro número quatro, “Embarque para a fama”. Essa alegoria que representava o dia em que um fotógrafo viu a Xuxa em uma estação de trem no subúrbio carioca era constituída por um grande vagão de trem no meio e, ao redor do vagão, algumas esculturas de bichos de pelúcia. Os bichos de pelúcia representavam o desejo da Xuxa em ser veterinária, mas não deixavam de ser um elemento mais infantil, mesmo em uma alegoria que representava já uma fase adolescente dela. Depois dessa alegoria vinha a “O despertar de uma estrela” que representava Xuxa já como uma supermodelo. Esse era um dos carros que destoavam do estilo do restante do desfile possui. Era uma alegoria não tão colorida quanto às outras, cercada de fotos profissionais da homenageada e possuía uma escultura de um paparazzi deitado no centro do carro.

Desse ponto do desfile em diante nós veríamos representados os trabalhos mais famosos da Xuxa enquanto apresentadora, atriz e cantora infantil, ou seja, a consolidação do seu sucesso, o que o carnavalesco chamou na sinopse de “O reino encantado de Xuxa”. A alegoria número seis, “O mito da tv brasileira” representava os muitos programas que Xuxa havia apresentado durante sua carreira até o momento, como o “Xou da Xuxa”, cuja nave espacial estava presente na alegoria, além das paquitas, balões coloridos e uma enorme centopeia colorida que vinha a frente do carro. Teve também referências aos filmes da artista, como uma ala de fadas e duendes (“Xuxa e os duendes”), outra que remetia ao filme “Super Xuxa Contra o Baixo Astral”, dividida ao meio entre componentes com roupas brancas e componentes com roupas pretas. E a alegoria número sete, “Xuperstar”, que era outro elemento que se destacava do restante do desfile também fazia referência ao mesmo filme. Era um carro todo em preto e branco cujo elemento principal era um grande busto, de braços abertos e com movimentos, do vilão do filme, o Baixo Astral, interpretado pelo ator Guilherme Karan.

Em seguida vinham a ala das baianinhas que fazia referência a Sasha, filha de Xuxa a única referência direta a ela de todo o desfile, inclusive, uma ala do personagem Txutxucão do álbum XSPB 2 e um enorme tripé da personagem Bruxa Keka, do programa “Xuxa no mundo da imaginação”, fechando esse setor. O desfile foi encerrado com a velha guarda da Caprichosos seguida do último carro, “Marquei um X no seu coração”, que possuía um grande coração azul com um X no meio, onde Xuxa, cuja fantasia de Xuxa, para a época, era bastante coberta, vinha em cima. Além, é claro, da presença das crianças da Fundação Xuxa Meneghel que vinham em volta da alegoria e encerravam o desfile assim como ele começou: com crianças e voltado para elas. O desfile da Caprichosos de Pilares foi, de fato, voltado mais para a imagem da Xuxa enquanto a “rainha dos baixinhos”, um desfile mais lúdico, com aspectos mais fantasiosos e mágicos. E que, como dito antes, foi uma das opções possíveis para a época, dentro do interesse da homenageada e do que ela representava naquele momento. Apesar de ter amargado um décimo terceiro lugar na apuração, foi um desfile que ficou marcado na memória de muitos foliões, baixinhos e altinhos.

Autora: Raphaela Vaz, graduanda em História – UFRJ, membro efetivo do OBCAR.
Orientador: Max Oliveira, Doutorando em História/Doutorando em História –
PPHR/UFRRJ, Pesquisador OBCAR.
Instagram: @obcar_ufrj

Sambista Mumuzinho está internado com Covid-19

    O sambista Mumuzinho, de 36 anos, revelou nesta sexta-feira que está com Covid-19 após passar por exame no no Hospital Vitoria, no Rio de Janeiro. O artista vinha com um quadro de amigdalite e febre.

    mumuzinho

    Além disso, Mumuzinho foi diagnosticado com pneumonia de grau intermediário. Ele está internado e em observação.

    “O artista permanece no hospital, em observação, já que foi detectado uma pneumonia de grau intermediário. O cantor conta com o apoio e vibrações positivas dos fãs e, em breve, diante da melhora clínica”, diz o comunicado da assessoria do sambista.

    Luto no samba! Morre o intérprete Rico Medeiros

    Faleceu nesta terça-feira Nilzo Medeiros, o intérprete Rico Medeiros. O cantor fez história no Salgueiro e na Viradouro. A suspeita é que o sambista tenha sido vítima de Covid-19, mas que ainda não foi confirmada. Não há informações ainda sobre o enterro do intérprete.

    Rico foi um dos mais emblemáticos intérpretes do carnaval carioca com passagens em agremiações gigantes e atuações memoráveis na avenida.

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    Rico Medeiros marcou época como intérprete do Salgueiro, e foram na sua voz desfiles históricos da academia do samba entre o fim dos anos 70 e o início dos 90. Destaque para o desfile de 1978. Recentemente Rico foi homenageado pela escola na quadra e entoou o lendário samba, para a emoção dos presentes. Veja abaixo o vídeo de Rico Medeiros, em junho de 2014, cantando o samba de 1978 na quadra do Salgueiro.

    Após a saída do Salgueiro passou por diversas agremiações e voltou a brilhar como intérprete na Unidos do Viradouro. Em 1993 como apoio e em 1994 e 1995 já como intérprete oficial da vermelha e branca do Barreto.

    Os cacos e o grito de guerra de Rico viveram no imaginário dos sambistas. O mais marcante era o seu “aí bateria” que conferia um enorme swing às gravações que participava. Nos últimos anos participava do carnaval gravando sambas concorrentes.

    O Salgueiro lamentou a morte de Rico Medeiros. “Faleceu, na tarde desta sexta-feira, Rico Medeiros que emprestou voz inconfundível ao carro de som da nossa escola por duas décadas. Não podemos afirmar que tenha sido esse vírus fatal mas isto também não importa já que o samba perde mais um de seus grandes baluartes. Nos solidarizamos com todos os familiares e amigos do intérprete e pedimos a vocês, orações de conforto a todos”.

    Cantores de São Paulo divulgam vídeo para relembrar sambas antigos durante quarentena

    O perfil “Ala Musical SP” juntou intérpretes e músicos para cantar diversos sambas relevantes da história do carnaval. O primeiro divulgado foi o da Unidos de Vila Maria de 2002, ano em que a agremiação trouxe o enredo “Intolerância não! Viva e deixe viver!”, um carnaval crítico sobre assuntos de tolerância e preconceito.

    Mesmo distante por causa das medidas de segurança em meio à pandemia, os intérpretes cantaram diferentes trechos e juntaram no mesmo vídeo. Participaram da gravação: Marcos Bubba e Edson Ferreira (cordas), Dom Júnior, Renan Biier, Thiago Lima, Rafaela Trigo, Tim Cardoso, Rodrigo Atração, Tuca Maia, Adauto Jr., Douglas Chocolate, Rodney Claudino, William Lima, Tiago Nascimento, Fabio Silva, Digão Lima, Dida Mattos e Fabinho Pires.

    De acordo com a postagem, os idealizadores citaram: “Nesse momento difícil, juntamos alguns integrantes de carros de som do carnaval de São Paulo para cantar esse samba enredo sensacional, um basta à intolerância e uma mensagem de paz e esperança”.

    Enredo da Viradouro surgiu do livro ‘O carnaval da guerra e da gripe’

    Uma releitura do carnaval carioca de 1919, conhecido como o maior do século passado, será o tema do próximo desfile da Unidos do Viradouro. Intitulado “Não há tristeza que possa suportar tanta alegria”, o enredo de Marcus Ferreira e Tarcísio Zanon vai destacar o sentimento dos cariocas que foram às ruas naquele ano para celebrar o fim da pandemia da gripe espanhola.

    logo viradouro2021

    A inspiração dos carnavalescos surgiu a partir da leitura do livro “O carnaval da guerra e da gripe”, do escritor e jornalista Ruy Castro. O título do enredo é um verso de uma marchinha cantada em 19 pelo Democráticos, uma das grandes instituições carnavalescas da época.

    O presidente Marcelinho Calil ressalta a importância cultural do tema escolhido.

    “A escolha do tema se deu principalmente pelo conteúdo cultural, que é muito forte, com muito embasamento. E é exatamente o que estávamos buscando: aliar história à cultura. Aposto que teremos mais um desfile marcado pela emoção como o do último carnaval.

    Lins Imperial contrata coreógrafa para os casais de mestre-sala e porta-bandeira

    Após renovar o contrato dos casais de mestre-sala e porta-bandeira, Weslen Santos e Manoela Cardoso, e Paulo Roza e Manu Brasil para o carnaval 2021, a Lins Imperial contratou a preparadora e coreógrafa Fernanda Costa para coreografar os duplas para o próximo carnaval, quando a agremiação voltará a desfilar na Marquês de Sapucaí pela Série A após 9 anos desfilando na Intendente Magalhães.

    Fernanda iniciou sua carreira no carnaval coreografando alas na Mocidade Independente de Padre Miguel e Unidos da Tijuca. Na escola do Borel se aproximou do então casal Julinho Nascimento e Rute Alves e passou a fazer escola com a dupla. Em 2019 coreografou o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira da Portela e primeiro da Unidos da Ponte, Yuri Souza e Camila Nascimento e em 2020 coreografou o primeiro casal do Acadêmicos da Rocinha, Vinicius Jesus e Viviane Oliveira.

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    “A Lins é uma escola extremamente organizada e estruturada, o que facilitará o trabalho. Particularmente já gosto demais da dança dos casais. Acho que já passamos da fase da dança muito coreografada, vamos fazer um trabalho mais clássico. Nesse momento de pandemia em que não podemos ter contato físico, já iniciamos uma análise à distância. Já identificamos os pontos fortes e fracos de cada um através de vídeos. A mudança de movimentos de mãos, pés de finalização, além de estudo de justificativas”, explica a contratada.

    Além da contratação da coreógrafa, a escola já prepara, pós pandemia, a parceria com um estúdio de dança na Lapa para realizar os ensaios, bem como treinamento funcional para os bailarinos.

    Mocidade perde mais um componente vítima de Covid-19

    A Mocidade Independente de Padre Miguel informou que o componente Rodrigo Richard faleceu na madrugada desta sexta-feira vítima de Covid-19.

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    É o segundo componente da escola que morre após contrair o Coronavírus. O primeiro foi o componente Vagner Prata que faleceu no dia 12 de abril.

    Veja abaixo a publicação da escola:

    A Mocidade Independente de Padre Miguel, profundamente consternada, informa que perdeu mais um componente vitimado com Covid-19. Rodrigo Richard nos deixou nesta madrugada. Prestamos as mais sinceras condolências aos amigos e familiares!Vamos nos proteger! Fiquem em casa!

    Conheça a sinopse e logo do enredo do Tatuapé para o Carnaval 2021

    Título do enredo: ‘Preto Velho conta a saga do café num canto de fé’

    Num cantinho do terreiro, com o congá firmado, velas acesas, ervas, arruda, guiné e alecrim tomam o ambiente. Tudo preparado pois o Preto-Velho vai chegar, ogans, yaôs, pais de santo e cambones se preparam para mais uma linda história que o velho vem contar. Ele vem chegando com seu rosário e seu patuá, saravá Preto-Velho.

    Ê, Preto-Velho chegou! Preto-velho demora, mas chega…Deus abençoe vocês, meus fios! Zambi, meu pai criador, abençoe esse cazuá!

    Preto velho veio cachimbar, vamos prosear e que o tempo passe bem devagar.

    Meus fios, eu sou preto como a noite sem estrelas.

    Sou velho porque trago em mim as marcas do tempo… e põe tempo nisso, meus fios. E essas marcas são que alumia minha alma.

    logo tatuape2021

    Sou velho e hoje espalho no mundo mensagens de fé, trazendo esperança com minha humildade, deixando sementes de caridade, secando a mentira e regando a verdade.

    Sou velho e celebro a vida, mas também trago na lembrança todas as dores que eu passei nesse lugar, nessa Terra de meu Deus que me criou.

    Sou preto, mas a fumaça que sai do meu cachimbo, forma nuvens brancas quando encontra o céu, e pra ajudar vocês meus fios, com muita fé, trago comigo axé e arruda, guiné e café…

    EU sou Velho, eu sou preto, eu sou escuro como o ventre da Mãe África, origem de toda a minha ancestralidade.

    Lá é a fonte de tudo, é o início do mundo! Salve, Zambi, meu “ Pai Maior” e Deus da criação.

    Num sopro de Zambi, o continente se criou e dele nasceram as árvores, os animais, os mares e o Ayê.

    Ayê é Terra. África é Ayê.

    Terra de montes e vales, rios e mares, de danças e mitos, cheia de herança. Terra dos animais selvagens, onde na savana, leões, búfalos, elefantes e outros mais, ensinaram meus irmãos guerreiros a arte da luta e da sobrevivência, da amizade e lealdade.

    Eu sou velho como as vidas de meus irmãos antepassados lá da África, lugar que Deus escolheu pra humanidade crescer e o café nascer.

    Ah, sou preto igual ao café… Ah, o café…

    Meus fios, esse café que hoje vocês oferecem pra esse velho preto, surgiu lá no chifre da Mãe África, na Etiópia, e de grão em grão, se espalhou pelo mundo. E pra isso acontecer, Deus Pai Zambi guiou Kaldi, um pastor de cabras até as montanhas de Kaffa, lugar bonito demais e onde nascia umas frutinhas vermelhas nos arbustos selvagens.

    Ao perceber que as cabras ficavam mais alegres e motivadas ao comerem esse fruto avermelhado foi correndo chamar um monge para conferir a novidade e este julgou que os frutos fossem coisa do demônio. Vê se pode! Levou-os consigo e os atirou no fogo para exorcizá-los. Um aroma delicioso encheu o monastério. O monge teria interrompido a combustão e, como as frutas estavam quentes, derramado água sobre elas. Estava preparado o primeiro cafezinho, meus fios.

    Logo o monge se convenceu de que algo tão delicioso só podia ser divino. Tomou uma dose e rezou a noite toda, sem sentir sono.

    E nas tribos desse meu paraíso, do café logo nasceu um ritual. As Senhoras do Café secavam, torravam e faziam pasta com os grãos para que seus guerreiros africanos, meus irmãos, tivessem mais força física e espiritual.

    Tão sentindo o cheirinho de café no ar, meus fios?

    Pois logo esse aroma pegou fama e viajou para outras terras desse mundo.

    Na Arábia virou bebida sagrada e, com carinho, foi chamada de vinho.

    Na Turquia o sucesso foi tanto que lá nasceu o Kiva Kan, a primeira cafeteria.

    E no Egito, não foi diferente, o café conquistou muita gente.

    Na Holanda, nasceu o primeiro cafezal em terras européias e o café virou fonte de inspirações e idéias.

    Na Inglaterra, terra da realeza, o café roubou o trono do chá, com toda sutileza.

    E assim, meus fios, o café vai seguindo o seu caminho, porque a vida melhora depois de um cafezinho, não é verdade?

    Mas foi na França, lugar de rara beleza, que o Café se tornou uma proeza. O Rei Luís XIV ganha de presente algumas mudas de café de um nobre holandês e, depois desse cultivo, a prosperidade se faz cada vez mais presente na realeza. E tempos depois, meus fios, Paris já tinha as cafeterias mais charmosas da Europa e elas viraram lugar das reuniões de gente que iriam mudar a política e a vida do povo no país. Viva o Café né meus fios?

    E como chegou o café no Brasil?

    O café por aqui é igual preto velho. A estrada é longa e velho caminha devagar. É devagar, é devagarinho, mas quem anda com Preto Velho nunca ficou no caminho.

    Pelas mãos de um fio chamado Francisco de Melo Palheta o café chegou nessa terra sagrada. Mirongueiro igual Preto Velho, ele encantou a mulher do Governador da Guiana Francesa e trouxe pra Belém do Pará, sem pudores, preciosas sementes de café escondidas num ramalhete de flores.

    Mas foi no Rio de Janeiro que o café vingou e a prosperidade por esse país se espalhou. Brasil ainda era colônia e os ricos fazendeiros ganhavam do Imperador, por causa do cultivo do grão, o título de Barão.

    E rapidinho a produção cafeeira superou a açucareira e, com a exportação, o café rompeu fronteira.

    Até apelido ganhou: Ouro Negro, todo mundo assim chamou.

    Ah, meus fios, mas aí que o caldo entornou. Os barões cada vez mais ricos e a escravidão dos pretos cada vez mais se enraizou.

    Valei-me, meu Pai!

    Nasci e morri na Fazenda, no interior de Minas Gerais. Lá, o café era ouro que meu patrão transformava em anel, as custas do trabalho do meu povo, um trabalho muito cruel. Em troca de tanto esforço, nada recebia, apenas vestia uns trapos no corpo e só pão embolorado comia. E assim, vi muito suor e sangue dos meus irmãos no cafezal. Mãos calejadas da enxada e suja de terra, que sempre exigia mais de nossos corpos suados, de nossos corpos cansados.

    Era a senzala, era o tronco, era o chicote que arrancava nosso couro, era a lida, era a colheita, que para nós era estafa, mas para o senhor, era Ouro.

    Quantas vezes, depois que o sol se escondia, lá no fundo da senzala, com os mais velhos aprendia, que o nosso destino no fim, não seria sempre assim…

    E eu só conseguia suplicar: “Meus orixás, livrai-nos de todo esse mal”.

    Com o passar do tempo, das ervas eu fazia remédio e, de mironga em mironga, curava as feridas das chibatadas que meus irmãos levavam dos “homi” sem coração. Até os fios das Sinhazinhas (Ê iá iá), eu fazia curador quando eles não tinham mais jeito nas mãos do doutor. E com as folhas do café, eu fazia defumação na nossa senzala, no nosso cativerá, com muita fé.

    Os brancos me chamavam de negro fedido benzedeiro e nem obrigado diziam, mas meus irmãos agradeciam : “Viva preto velho mirongueiro, viva velho preto curandeiro”.

    Mas era na Senzala que meu povo negro se aliviava da dor da escravidão. Da Casa Grande se ouvia o som do tambor que contagiava e, com fé e alegria, o nosso povo dançava. Banzé e jongo era o que todo mundo mais gostava. Nossas danças, nossos sons… e isso ninguém escravizava. Ao som do tambor, um canto forte ecoava! Sou preto jongueiro e meu povo eu alegrava! Auê, meu cativeiro! Auê, meu CATIVERÁ!

    E era a fé que nos mantinham em pé. Enquanto a senzala dormia, minha oração eu fazia. Ajoelhado pedia clemência, Oh, São Benedito, que meu povo seja bendito! Então, meus fios, sempre que vocês tomarem um golinho de café se lembrem que a semente desse grão tem o ciclo da vida que nossos sofridos irmãos escravos plantaram um dia.

    Chegou a modernização, o café trouxe muitas benfeitorias pra esse chão. Meus fios, nunca vou esquecer da emoção em ver o trem na ferrovia e a luz elétrica que alumiava meu caminho na estrada fria. E bota estrada nisso, meus fios. Eram tantas que a gente até se perdia e tudo pra escoar até os portos o volume de tanto café que a gente produzia.

    Era tanto trabalho que os barões do café tiveram que importar mão-de-obra de outros lugares desse mundo e com isso os imigrantes italianos aqui chegaram e trabalharam para que o café continuasse sendo a riqueza do Brasil.

    Era tanta riqueza que até um ramo de café, depois de tanta súplica, foi parar na bandeira do Brasil quando este virou República.

    E na política, na briga de quem podia mais entre São Paulo e Minas Gerais, ora fazendeiro do café ora fazendeiro do leite, indicava ou se tornava Presidente e isso ficou conhecido como “Política do Café com Leite”.

    O tempo passou e a economia do mundo levou um choque, a bolsa de Nova York quebrou e o café no Brasil virou estoque, era a chegada da crise de 29.

    Meus fios, vocês sabiam que o café foi fonte de inspiração pra muitos artistas?

    Na tela ou no papel, na partitura ou no pincel, é aí que faz parte a coisa mais profunda da vida: a ARTE.

    A Arte é o que nos tira da realidade e nos leva pra um caminho mais bonito, encantador e cheio de liberdade.

    Num cafezal nasci e muitas vezes, torrado pelo sol, pisando na terra vermelha fervente, eu descansava embaixo de um pé de café e de repente a inspiração chegava e eu criava muita cantiga e nem percebia a fadiga. O café era meu irmão! Auê, meu irmão café!

    E por falar em cantiga, o café foi até tema de ópera na era antiga. Bach, o gênio da música clássica, compôs uma cantata cheia de alegria e beleza e, por aqui, Roberto Carlos, o Rei da nossa música popular, cantou “Café da Manhã” e fez todo mundo suspirar.

    E teve um pintor que retratou o café com muito amor! Seu nome era Cândido, numa fazenda de café nasceu e seus quadros sobre o grão e a escravidão o mundo conheceu. Até prêmio na Europa Portinari recebeu.

    Pois é, meus fios. Café é inspiração e os poetas sabem disso. Nos livros, num poema, numa canção, não importa se com amor ou na dor, o café sempre vai ser o melhor amigo do poeta e do escritor. É o líquido da tempestade que gera emoções, não importa a idade.

    Um gole de café gera poesia: a bebida satisfaz e te leva a um mundo de amor e sonhos enquanto um verso se faz.

    Um gole de café estimula a sabedoria, pois hoje em dia, em grupo ou solitário, quem nunca aprendeu alguma coisa num café filosófico ou literário?

    Do grão ou do filtro, do pó ou do líquido, nas mãos do artesão, nato ou não, o café vira artesanato.

    E viva a Arte com café, né meus fios?

    E quem nunca ouviu a frase: “Aceita um café?” ou nunca falou “Um cafezinho, por favor?” pois com café, gente minha, a vida caminha. Um bom café ajuda quem acorda acreditando que tudo vai dar certo e o dia já começa te deixando esperto.

    Puro é bom demais, sabor inconfundível, com leite vira pingado, “eita” bebida irresistível.

    Melhor coisa não há do que numa tarde fria de inverno, você ver descer o café quente no bule reluzente.

    É bom pra saúde, já disse o doutor. Afasta o sono, põe o sangue em movimento, a digestão acelera e faz toda a diferença, então o café é, de fato, uma potência. Delícias se faz com café também: Bolos, tortas, pudim, biscoitos, pães, sorvete, balas e tudo que dele provém.

    Seja na roça ou na cidade, de manhã ou de tarde, a moda antiga ou da modernidade, de máquina ou de bule, seja expresso ou de pano coador, o que importa é que o café sempre nos preenche de amor.

    É por tudo isso, meus fios, que esse Preto Velho gosta de café. E se tiver um bolo de fubá, aí é que esse véio vai mais se alegrar.

    E vocês querem saber mais? Com o café até o futuro se prevê. Os desenhos da borra no fundo da xícara tem significado e aí você escolhe se vai seguir o caminho indicado.

    Mas meus fios, não adianta procurar um caminho novo se não mudar o jeito de caminhar.

    E pra isso, sempre que precisar, é só chamar os pretos velhos que a gente vem aqui ajudar.

    Nossa missão é ajudar vocês, porque não há mal que crie raiz onde o amor é plantado.

    E na energia do café, acreditem, todo mal é retirado, com as folhas de café basta um banho para vocês receberem muito axé.

    Sentir nas mãos uns grãos de café ajuda muito a concentração na hora da meditação.

    E pra defumação não existe coisa melhor. O cheiro do café clarifica sua mente e a fumaça limpa toda a energia ruim do ambiente. Que as Pretas Velhas minhas companheiras de vida e de espiritualidade, continuem preparando esse grande Jakutá sem faltar a principal oferenda o café e o Bolo de Fubá, preparando a volta para Aruanda nossa morada Divina.

    Tudo isso a gente aprende na Aruanda, meus fios. Aruanda é lugar de paz, é o paraíso espiritual, paraíso dos pretos.

    Lá na Aruanda, atravessando a calunga, o mar de Iemanjá, todo negro encontrou a sua liberdade nos braços de Obatalá.

    Que todos os orixás sempre estejam ao meu lado para que eu possa continuar fazendo caridade e ajudando meus fios a seguir na estrada da verdade e com muita humildade.

    E pra vocês meus fios, eu visto meu branco, sim senhor! Eu me visto de paz, muito amor e caridade! Mas esse meu branco é o branco de todo dia. É a roupa da minha alma que me dá essa alegria!

    Saravá, povo do samba! Pai Velho vai embora, a sineta do céu de Aruanda tá tocando, Obatalá já diz que é hora!

    Não fiquem tristes, preto velho volta, tenham fé!

    Tenho muito ainda pra prosear com vocês meus fios da Tatuapé!

    ADORÊ AS ALMAS!!!

    Conheça o logo do enredo da Viradouro para o Carnaval 2021

    A Unidos do Viradouro, atual campeã do Grupo Especial, anunciou na noite desta quinta-feira, feriado de São Jorge, para anunciar seu enredo para o Carnaval 2021. * LEIA AQUI MAIS SOBRE O ENREDO

    logo viradouro2021

    “Tomadas por um sentimento de libertação, em 1919, após Gripe Espanhola, as pessoas usaram o momento para liberarem toda alegria. Transformaram o luto em alegria. Foi um marco na história do Rio de Janeiro e do carnaval. O nosso enredo tem grande densidade cultural, porque foi nesse ano de 1919, que o samba se tornou o principal ritmo do carnaval. O Bola Preta fez seu primeiro desfile”, explicou Tarcísio Zanon.

    O presidente da Viradouro também falou sobre a ideia do enredo para o desfile de 2021.

    “É um enredo que tem a cara da escola. Traz alegria e esperança. Vamos lá atrás em 1919, fazemos paralelo com o momento que vivemos agora, e vamos construindo esse fio juntos. A mensagem pega no respeito a dor, tristeza, mas também são mecanismos de transformação e reflexão. Nosso enredo é de muita alegria”, disse o presidente Marcelinho Calil.

    ‘Não há tristeza que possa suportar tanta alegria’ é o enredo da Viradouro para o Carnaval 2021

    A Unidos do Viradouro, atual campeã do Grupo Especial, anunciou na noite desta quinta-feira, feriado de São Jorge, para anunciar seu enredo para o Carnaval 2021. Para isso, a vermelho e branco caprichou em uma live que teve participação dos carnavalesco Tarcísio Zanon e Marcus Ferreira, além do presidente Marcelinho Calil, o diretor Alex Fab e o intérprete Zé Paulo, que cantou diversas obras histórias da escola. ‘Não há tristeza que possa suportar tanta alegria’ é o titulo do enredo do ano que vem.

    “Tomadas por um sentimento de libertação, em 1919, após Gripe Espanhola, as pessoas usaram o momento para liberarem toda alegria. Transformaram o luto em alegria. Foi um marco na história do Rio de Janeiro e do carnaval. O nosso enredo tem grande densidade cultural, porque foi nesse ano de 1919, que o samba se tornou o principal ritmo do carnaval. O Bola Preta fez seu primeiro desfile”, explicou Tarcísio Zanon.

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    Em um texto do escritor Ruy Castro, que foi citado pelo carnavalesco Tarcisio Zanon, ele fala do Carnaval de 1919. “Quem não morreu sentiu-se no dever de celebrar a vida, brincando o Carnaval como nunca antes. A cidade saiu em peso para os corsos, ranchos e batalhas de confete. Os pierrôs e caveiras não se contentavam em pular —invadiam as casas e arrastavam os renitentes para a folia. Pela primeira vez, o samba superou os outros ritmos nas ruas. E, numa dessas, o menino Nelson [Rodrigues] viu, dançando no alto de um carro, na praça Saenz Peña, uma moça fantasiada de odalisca, com o umbigo à mostra. Ninguém de sua família tinha umbigo —ele próprio só agora descobria o seu”.

    O presidente da Viradouro também falou sobre a ideia do enredo para o desfile de 2021.

    logo viradouro2021

    “É um enredo que tem a cara da escola. Traz alegria e esperança. Vamos lá atrás em 1919, fazemos paralelo com o momento que vivemos agora, e vamos construindo esse fio juntos. A mensagem pega no respeito a dor, tristeza, mas também são mecanismos de transformação e reflexão. Nosso enredo é de muita alegria”, disse o presidente Marcelinho Calil.

    Presidente da Viradouro fala em solidariedade com a comunidade

    Um dos diretores de carnaval, Alex Fab, explicou que o barracão da escola passará por uma higienização completa.

    “Aumentaremos o número de áreas de higiene, criamos já um protótipo para termos uma máquina com álcool em gel, e faremos uma limpeza geral no barracão. Vamos adequar o barracão para quando pudermos iniciarmos os trabalhos para o desfile de 2021”.

    O presidente Marcelinho Calil frisou que a preocupação da escola, nesse momento de pandemia, está em ser solidária com seus componentes e membros da comunidade.

    “Vivemos um momento muito delicado. O que pode ser feito no sentido do auxílio estamos fazendo e buscando estar presente nas vidas de todas pessoas que a gente consiga atingir. A solidariedade está muito forte em nossos corações e é nossa prioridade. Isso não deixar de permitir que a gente desenvolva o que é possível no nosso cronograma para o próximo carnaval. O lançamento do enredo é o pontapé de partida. É uma tradição da escola anunciar o enredo do Dia de São Jorge. Buscando levar virtualmente todo o afeto para a nossa comunidade”.