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Tijuca tem samba e trabalho primoroso de fantasias como destaque, mas passa por problemas de evolução

A estreia de Edson Pereira trouxe uma escola com boas soluções estéticas, principalmente nas fantasias, que tinham excelente apuro estético, acabamento impecável, desenvolvimento de detalhes, materiais de qualidade e uma leitura satisfatória. O samba, muito elogiado no pré-carnaval, passou muito melhor que nos ensaios técnicos, com grande domínio de Ito Melodia e um canto excelente da comunidade do Borel. Porém, a escola pecou em evolução, apresentando buracos em mais de um módulo e em vários momentos do desfile. A comissão de frente mostrou excelentes soluções, mas o casal de mestre-sala e porta-bandeira foi irregular em algumas passagens. A Tijuca também exibiu qualidade visual em seus carros alegóricos, alguns imponentes como o Abre-Alas, mas com problemas de acabamento que não devem passar ilesos. Com o enredo “Logun-Edé – Santo Menino Que Velho Respreita”, a Unidos da Tijuca encerrou seu desfile em 77 minutos.

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Comissão de Frente

Comandada pelas estreantes na Tijuca Ariadne Lax (ex-Estácio de Sá) e Bruna Lopes (ex-São Clemente), a comissão “Tudo Começa no Orum” trouxe a origem da saga de Logun-Edé no mundo espiritual dos orixás. Os integrantes iniciaram no chão e utilizaram um cenário impressionante com elementos como um vulcão estilizado e um portal em LED, que alternava imagens do orixá com efeitos visuais. Na cena do mergulho no poço de gel azul, as coreografias sincronizadas e o uso do LED criaram um momento mágico. A coroação de Logun-Edé por Oxalá, com uma coroa em formato de pavão, encerrou a narrativa com simbolismo. As fantasias, de alto padrão visual, complementaram a proposta criativa que cumpriu seu papel de introduzir a história.

* LEIA AQUI: Baianas da Tijuca levam o cuidado matriarcal para a Sapucaí

Mestre-sala e Porta-bandeira

O casal Matheus André e Lucinha Nobre representou a conexão entre Orum (mundo espiritual) e Ayê (terra) através de fantasias bipartidas: tons claros acima (Orum) e terrosos abaixo (Ayê), com búzios simbolizando a ligação entre as dimensões. Apesar da qualidade dos materiais e do contraste visual impactante, a coreografia foi conservadora, com momentos de desconexão na primeira apresentação. Lucinha, conhecida por suas bandeiradas vigorosas, pareceu menos energética, e um erro na enrolação da bandeira no quarto módulo pode custar décimos na avaliação.

* LEIA AQUI: Entre o Borel e a Avenida: Logun-Edé na Alma Tijucana

Harmonia

Ito Melodia, apoiado por vozes jovens como Tem-Tem Jr e Toninho Jr, liderou um samba potente e bem executado. Superando críticas anteriores sobre notas graves, o intérprete brilhou com domínio técnico e energia, realçando a qualidade da obra. O único ponto de melhoria seria equilibrar melhor as vozes femininas em certos trechos para contrastar com sua potência. A comunidade do Borel, engajada, elevou o canto coletivo, criando expectativas positivas para a nota do quesito.

Enredo

O enredo “Logun-Edé”, há anos aguardado pela comunidade do Borel, conectou a mitologia do orixá (cujas cores coincidem com as da escola) à identidade local. Edson Pereira dividiu o desfile em seis setores, iniciando no Orum e explorando desde o nascimento mítico do orixá até sua consagração no Borel. A narrativa fluida integrou elementos ancestrais e contemporâneos, como a travessia para o Brasil e a juventude da comunidade, reforçando o vínculo emocional com a agremiação.

* LEIA AQUI: Com Oxum de ponta a ponta, Oyá também traz a força feminina na história de Logun-Edé da Tijuca

O primeiro setor retratou a gestação sagrada e o nascimento mítico de Logun-Edé, no Ayê. Em seguida, a Tijuca mostrou Logun-Edé sendo reverenciado pelo seu povo como Príncipe de Ilexá. Na tradição iorubá, para um ser humano tornar-se orixá, deve ser notável em suas características, linhagem e feitos durante sua trajetória. No terceiro setor vimos o Logun-Edé sendo educado por toda uma aldeia em Ilexá, para exercer sua função de guerreiro, defensor e condutor do povo. Logo depois, Edson Pereira apresentou as batalhas de Logun-Edé em defesa de seu povo durante as guerras entre o Império de Oyó e o Reino do Daomé. O quinto setor fala sobre a travessia encantada dos ijexás em direção ao Brasil, com Logun-Edé renascendo no Novo Mundo. A Tijuca encerrou seu desfile com a atualidade de Logun-Edé na juventude do Borel e a sua consagração na Unidos da Tijuca.

Evolução

O ponto mais frágil do desfile. A escola apresentou espaçamentos frequentes, principalmente entre alas e carros alegóricos. No módulo 1, um buraco significativo surgiu entre a ala dianteira do carro “Meus Afoxés” e a alegoria, que teve dificuldades de locomoção. No módulo 2, o problema persistiu em menor escala, e na cabine 2 houve outro buraco próximo ao carro “Refúgio em Abeokutá”. A falta de compactação e a fluidez irregular, com aceleração no final, comprometeram a avaliação.

Samba-enredo

Com autoria coletiva (incluindo Anitta, Luiz Antonio Simas e outros), o samba destacou-se pelo refrão vigoroso (“Logun-Edé!”) e versos poéticos como “Orixá menino que velho respeita”, sintetizando o enredo. A melodia, com contrastes entre graves e agudos, foi bem executada por Ito Melodia e interagiu com o público, amplificada pela bateria “Pura Cadência” (Mestre Casagrande). O trecho “Oakofaê Odoyá” poderia ter ganhado mais destaque com vozes femininas, mas manteve seu impacto.

Fantasias

Um dos quesitos mais fortes. As baianas, como “Sacerdotisas de Ilexá”, misturaram verde, azul-pavão e amarelo-ouro com maestria. Edson Pereira harmonizou as cores da escola em detalhes sem excessos, usando iluminação para realçar texturas (como efeitos led). As fantasias dos componentes da comissão de frente e do “Exército do Daomé” (passistas) foram elogiadas pelo acabamento e criatividade.

Como nas baianas, em outras fantasias, Edson conseguiu incluir o amarelo ouro e azul da escola em diversas fantasias nos detalhes, não ficando cansativo e mesclando bem com diversos outros tons. A paleta de cores foi um destaque assim como o acabamento. Outro ponto positivo, foi que o carnavalesco também soube aproveitar bem a iluminação do sambodromo com algumas fantasias tendo efeito de ded ou se destacando com cores que brilhavam no escuro. Ótimo conjunto plástico.

Alegorias e adereços

O conjunto alegórico da Unidos da Tijuca era formado por cinco carros e um tripé. Edson apresentou carros grandes, com boas soluções estéticas, bom uso das cores da escola, principalmente nos detalhes, com algumas esculturas que era grandes, mas não necessariamente destacadas nos detalhes. Porém, os adornos dos carros em geral eram muito bem feitos, com maiz riquesa de finalização, ainda que alguns tivessem um ou outro problema de acabamento, muito pelo grande tamanho das esculturas.

O Abre-Alas, com dois módulos, trouxe a poder de Oxum sobre o universo e a gestação sagrada de Logun Edé, fruto do seu desejo por Erinlé. Na primeira parte vem Oxum no centro da alegoria na forma de uma majestosa mulher. Já a segunda parte representou a importância de Erinlé para a manutenção e perpetuação da linhagem e a chegada mítica de Logun-Edé ao Ayê. Um carro imponente e grande como gosta o Edson, com muitos movimentos de esculturas. A segunda parte deslumbrante com muito apuro estético, brilhante e com algumas pitadas na cor da escola, mesmo entregando em sua maioria um tom mais amadeirado. O único ponto negativo foi uma quantidade significativa de poeira no chão da alegoria.

O segundo carro “Sou eu, sou eu” trouxe o o príncipe Logun-Edé, herdeiro de Oxum e Erinlé, consubstanciando à sua própria natureza. O terceiro carro “Refúgio em Abeokutá” falou do centro de chegada dos ijexás, após o encantamento de Logun-Edé na guerra, e de sua partida em travessia encantada em direção ao Brasil. Apesar de bonito, o acabamento no rabo do peixe presente na alegoria não era tão bom.

A quarta alegoria “meus afoxés” mostrou a celebração do axé de Logun-Edé, o mais novo dos orixás, por meio de seus afoxés, candomblés de rua embalados pelo ritmo ijexá, sendo liderado por Oxalá, o mais velho dos orixás. A alegoria também pareceu um pouco mais empoeirada no chão da estrutura. O último carro ” O meu Borel” encerrou o desfile com a alegoria representando o Morro do Borel, onde Logun-Edé, como pavão, sempre esteve zelando pelo vigor da juventude. É neste lugar, berço da Unidos da Tijuca, em que o seu axé é imortal. Foi o carro, talvez, com menor qualidade estética, mas que conseguiu ter um bom efeito dentro da iluminação cênica.

Outros destaques

A bateria “Pura Cadência”, de mestre Casagrande, representou o ” Exército de Ilexá” , liderado por Logun-Edé, que resistiu às investidas de Oyó ao seu território e foi um dos últimos a sucumbir às forças do Daomé. Ótimas bossas afros sem precisar de instrumentos diferentes dos corriqueiros da bateria. Os passistas da Unidos da Tijuca vieram com a fantasia “Exército do Daomé” com o Reino de Daomé sendo referenciado com a serpentes ao redor do chapéu do componente, tudo nas cores da Tijuca. Muito bonita.No esquenta Ito cantou o ótimo samba de exaltação “O dia vai chegar” , o “É segredo” e o ótimo” “Obatalá”. Apesar das problemas em evolução, a ala coreografada “Jovens com os passos ligeiros como os da lebre” fizeram passinhos muito legais e tinham carisma.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Vila Isabel no Carnaval 2025

Um desfile exemplar da bateria “Swingueira de Noel” da Unidos de Vila Isabel, comandada por mestre Macaco Branco. Um ritmo equilibrado, bem equalizado e com ótima fluência entre os mais diversos naipes foi exibido. Paradinhas com sonoridade bastante integrada ao samba da escola deram brilho musical à bateria da Vila.

Na cozinha da “Swingueira”, uma afinação sublime de surdos ajudou na equalização da bateria da Vila, além de permitir impacto sonoro graças ao peso das marcações. Marcadores de primeira e segunda forma firmes, mas tocando com segurança, além de precisão. Belíssimo trabalho envolvendo as terceiras da Vila Isabel, principalmente nas caprichadas participações nas frases musicais nas bossas. Repiques de boa técnica tocaram juntos de uma consistente ala de caixas de guerra com seu tradicional toque reto e de um naipe potente de taróis com sua genuína batida rufada. Um trabalho muito competente dos médios, adicionando profundidade musical à bateria vilaisabelense.

Na parte da frente do ritmo da Vila, um naipe de cuícas se apreendeu com solidez, ajudando a marcar o samba, contribuindo com um feijão com arroz bem temperado. Uma ala de chocalhos de extrema categoria coletiva tocou de forma uníssona interligados a um naipe de tamborins potente e ressonante. O louvável casamento musical entre tamborins e chocalhos na Vila Isabel foi o ponto alto do belíssimo trabalho envolvendo as peças leves.

Bossas profundamente conectadas à obra da escola do bairro de Noel foram exibidas. Arranjos que se aproveitaram do impacto sonoro provocado pela pressão dos surdos tradicionalmente pesados. Simplesmente sensacional o trabalho dos surdos de terceira fazendo frases musicais dentro das bossas, seguindo com classe e qualidade técnica as variações presentes na melodia para consolidar seu toque. Um conjunto de bossas para componentes dançarem, evoluírem e se sentirem impulsionados pelo grande trabalho de criação musical. A paradinha com sonoridade imitando o som de um trem fez sucesso pela dancinha dos ritmos, sem contar sua ligação com primeiro apelido da bateria da Vila Isabel. Ainda na década de 60, após vencer um concurso de ritmos de baterias no Maracanãzinho, a bateria de mestre Ernesto passou a ser culturalmente conhecida como Locomotiva de Noel, por fazer um autêntico ritmo no miudinho. Importante lembrar que mestre Ernesto que moldou e forjou a identidade musical da bateria da Vila, herdada e preservada pelo saudoso Amadeu Amaral, o grande mestre Mug. A retomada da bossa do trecho “Silêncio” tem um impacto sonoro expressivo, sem contar que o charme do arranjo é subir bem parecido como a bateria da Vila Isabel faz nos seus esquentas do setor 1 desde os tempos de Mug. Um leque de bossas não só conectado ao samba da Vila, mas a própria história musical da bateria.

Um desfile irrepreensível da bateria “Swingueira de Noel” da Vila Isabel, dirigida por mestre Macaco Branco. Um ritmo impactante, com boa pressão sonora do peso dos surdos, mas com bastante equilíbrio foi exibido. A apresentação no último módulo de julgador foi soberba, num cortejo da bateria da Vila que tem tudo pra gabaritar e talvez disputar eventuais prêmios.

Freddy Ferreira analisa a bateria do Salgueiro no Carnaval 2025

Um excelente desfile da bateria “Furiosa” do Acadêmicos do Salgueiro, comandada pelos mestres Guilherme e Gustavo. Um ritmo que contou com uma impactante pressão sonora das marcações pesadas, junto de um conjunto de bossas de musicalidade ímpar, plenamente integradas ao que a obra da Academia do Samba solicitava.

Na cozinha da “Furiosa” foi possível notar uma afinação de surdos bem pesada, totalmente inserida no DNA musical da bateria do Salgueiro. Marcadores de primeira e segunda se exibiram com firmeza, mas de modo seguro. Brilhante o destacado trabalho envolvendo os surdos de terceira do Sal. O brilho musical das terceiras salgueirenses deu um molho bem envolvente tanto em ritmo, quanto nas apresentações caprichadas em bossas. Repiques coesos tocaram integrados a caixas de guerra com boa ressonância e uma ala de taróis de qualidade, dando aquele genuíno molho Furioso ao ritmo da escola branca e encarnada da Tijuca. Atabaques também se fizeram presentes, sendo vitais no belíssimo trabalho das paradinhas. Repiques solistas também desfilaram com Cowbell, uma espécie de agogô de uma só campana (boca), mas com uma sonoridade mais seca e sem a ressonância mais metalizada de agogôs.

Na parte da frente da bateria do Salgueiro, um naipe de showcalhos se exibiu com classe e talento técnico, tocando de forma uníssona junto de uma ala de tamborim eficiente e ressonante. O entrosamento rítmico de tamborins e chocalhos foi um dos pontos altos nas peças leves. Uma ala de cuícas competente mostrou boa técnica, ajudando no preenchimento da cabeça da bateria do Torrão Amado.

As bossas do Salgueiro eram pautadas por uma musicalidade ímpar, aliada a uma boa pressão sonora, proporcionada pela afinação de surdos mais pesada. Os arranjos seguem exatamente o que pedia o samba salgueirense, tanto em melodia quanto também na letra. Destaque para a musicalidade da bossa do refrão do meio com um arranjo que misturou Baião e Maracatu, remetendo ao sertão. Já na segunda do samba, a mais elaborada construção musical arrancou aplausos do público, com direito a toque de atabaques e repiques solistas tocando Cowbell, evidenciando a versatilidade rítmica acima da média da “Furiosa”. O trabalho valioso das terceiras em bossas merece menção musical, pela complexidade e dificuldade de execução, além do inegável talento sonoro.

Um desfile excelente da bateria “Furiosa” do Salgueiro, dirigida pelos mestres Guilherme e Gustavo. Um ritmo salgueirense que apresentou uma impactante pressão sonora de surdos, junto de bossas de musicalidade diferenciada. A apresentação na última cabine de jurados recebeu uma ovação popular, coroando um trabalho de destaque dos irmãos salgueirenses. Ritmistas, diretores e os mestres têm motivos de sobra para retornar com o caminhão de peças para a rua Silva Telles orgulhosos de um grande desfile da bateria “Furiosa”.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Beija-Flor no Carnaval 2025

Um desfile muito bom da bateria “Soberana” da Beija-Flor de Nilópolis, sob o comando dos mestres Rodney e Plínio. Uma conjugação sonora valiosa de todos os naipes foi obtida, graças a um ritmo muito bem equalizado e equilibrado. Bossas orgânicas também ajudaram na grande apresentação nilopolitana, graças a um leque recheado de musicalidade intuitiva nos arranjos.

Na cozinha da bateria da Deusa da Passarela, uma afinação de surdos extremamente privilegiada permitiu uma equalização de timbres que proporcionou uma ótima fluidez musical aos mais diversos naipes. Marcadores de primeira e segunda tocaram com segurança, assim como as terceiras imprimiram um balanço envolvente a bateria “Soberana”. Repiques técnicos tocaram de modo coeso junto de um naipe de caixas de guerra com bom volume. O tilintar metálico das tradicionais frigideiras nilopolitanas brilharam. A parte de trás do ritmo também contou com atabaques e agogô de duas campanas (bocas), com participação importante de ambos numa bossa na segunda passada do refrão principal.

Na parte da frente do ritmo da azul e branca de Nilópolis, um naipe de cuícas seguro ajudou no preenchimento da sonoridade da cabeça da bateria da Beija. Assim como um casamento musicalmente valioso entre tamborins e chocalhos foi o ponto alto das peças leves. Chocalhos de grande qualidade musical tocaram entrelaçados a uma ala de tamborins com uma impressionante sonoridade coletiva.

As bossas da bateria da Beija-Flor eram intimamente conectadas à brava canção nilopolitana. Uma criação musical de bom gosto, se pautou nas variações melódicas para consolidar os arranjos, numa lição de intuitividade e um trabalho orgânico de destaque. Os arranjos possuem uma sonoridade que ajudou a impulsionar os desfilantes pela pista, graças à musicalidade dançante das bossas.

Um grande desfile da bateria “Soberana” da Beija-Flor de Nilópolis, dirigida por mestres Rodney e Plínio. Um ritmo bastante equilibrado e com uma sublime equalização de timbres foi exibido. Tudo junto de bossas dançantes e bem integradas ao samba da escola. Uma bateria da Beija-Flor que se apresentou em busca da nota máxima e pensando na melhor evolução possível para sua aguerrida comunidade. Houve ovação popular na bela apresentação no último módulo de jurados, encerrando um desfile poderoso da “Soberana”.

Freddy Ferreira analisa a bateria da Unidos da Tijuca no Carnaval 2025

Um ótimo desfile da bateria “Pura Cadência” da Unidos da Tijuca, comandada por mestre Casagrande. Um ritmo equilibrado, com brilho sonoro das caixas de guerra e bossas bem integradas samba, além de conectadas ao enredo.

A parte de trás do ritmo tijucano exibiu uma afinação primorosa de surdos, junto de marcadores de primeira e segunda precisos. Louvável o belo trabalho dos surdos de terceira do Pavão. Deram balanço fazendo ritmo, assim como nas execuções das bossas. Uma ala de repiques coesa tocou junto de um naipe extremamente acima da média de caixas de guerra. Simplesmente sublime o conjunto sonoro do ressonante toque das caixas da “Pura Cadência”, servindo de base de amparo musical para os demais naipes da bateria.

Na cabeça da bateria da Tijuca, um naipe de tamborins eficiente e funcional fez um bom trabalho, misturando um carreteiro de 2 por 1 e 3 por 1. O toque casou muito bem, impulsionado pela exímia batida das caixas. Chocalhos de grande valor sonoro apresentaram um trabalho de destaque. Cuícas de virtude técnica também contribuíram no preenchimento musical das peças leves com um toque ressonante.

As bossas da Unidos da Tijuca pautavam o toque através das nuances melódicas e do que o belo samba tijucano solicitava. Sempre preocupado com uma condução rítmica de desfile limpa, mestre Casão jogou mais uma vez com o regulamento debaixo do braço, exibindo o musical leque de bossas mais nas cabines julgadoras. Na cabeça do samba, uma bossa com sinal de batida de cabeça do Orixá se aproveitou de tapas ritmados e finalização com molho intenso das caixas e impacto sonoro dos surdos. O toque de Ijexá na segunda passada do refrão do meio era simplesmente encantador, com direito a repiques fazendo alusão musical ao toque do agogô, demonstrando boa versatilidade rítmica. Isso sem contar a bossa da segunda do samba, um Aguerê executado pelos próprios naipes tijucanos, com a sinalização da bossa sendo o arco e flecha de Oxóssi. Muito boa a concepção criativa das bossas tijucanas, bem conectadas ao enredo de matriz africana da escola do Borel.

Um desfile grandioso da bateria “Pura Cadência” da Tijuca, dirigida por mestre Casagrande. Um ritmo com potência sonora permitida pela afinação de surdos de qualidade e bossas bem casadas ao que pedia o samba-enredo tijucano. A exibição no último módulo foi impecável, sendo capaz de garantir a pontuação máxima.

Carnaval e Oscar se encontram no Camarote King no primeiro dia de desfiles do Grupo Especial

Em meio ao primeiro dia de desfiles do Grupo Especial do Carnaval Carioca, na noite deste domingo, o cinema brasileiro fez história ao conquistar pela primeira vez um Oscar. O filme ‘Ainda estou aqui’, de Walter Salles, venceu a categoria de Melhor Filme Internacional de 2025.

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No Camarote King, é claro que a premiação não poderia ficar de fora. O resultado saiu enquanto a Imperatriz Leopoldinense passava pela Passarela do Samba, e os clientes puderam acompanhar a cerimônia através dos telões e TVs instalados nos três andares do espaço. O produtor Philipe Rabelo explicou como a ideia surgiu.

“Quando começou a questão do Oscar ser junto com o Carnaval, a gente pensou que teria que dar para o nosso cliente a possibilidade de acompanhar a cerimônia. Foi algo mais intuitivo. Carnaval e Oscar tem tudo a ver. Na verdade, Carnaval é carnaval, mas tendo o Oscar no jogo, não dá para ignorar. Tem que ter um espetáculo duplo. Tá na Avenida, olhou para trás: tem a televisão”, contou Philipe.

Além da transmissão em tempo real, a equipe do King também produziu máscaras com a ilustração do rosto da atriz Fernanda Torres e até um ‘Oscar’ humano, que interagiu com o público ao longo da noite.

“A gente brinca dizendo que é o Oscar. Um certo dia, eu estava saindo do camarote quando o vi passando todo prateado para vender bala, e pensei: ‘opa, é ele!’. Fiz o convite, e ele topou. Hoje, ainda conquistamos o Oscar. Foi super legal e o público adorou a expectativa de estar com ele na torcida e tirar fotos. Teve um impacto bacana. Ficamos felizes”, revelou.

Por trás da fantasia estava o artista de rua Bruno Ferreira Oliveira, de 35 anos, torcedor da Unidos da Tijuca e da Acadêmicos do Grande Rio. Sempre pintado de prata, ele trabalha no entorno da Marquês de Sapucaí durante os ensaios técnicos. O sucesso foi tanto que, a partir de agora, a pintura de ‘Oscar’ se tornará sua marca registrada.

“Eu estava de prateado trabalhando no ensaio técnico e, do nada, me chamaram para fazer o Oscar. Amei tanto a experiência que vou passar a usar a roupa de Oscar, nem vou fazer o prateado mais. Agora, será o ouro do Oscar. Foi a primeira vez que estive no Camarote do King, e foi ótimo”, comentou o artista.

Nesta segunda-feira, Unidos da Tijuca, Beija-Flor de Nilópolis, Salgueiro e Vila Isabel desfilaram na Passarela do Samba. No King, o público também pode acompanhar os shows de Mc Maneirinho, Xande de Pilares, Entre Elas, Juliana Diniz e Chacal do Sax.

Vila Isabel Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Salgueiro Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile

Matriarcas do samba, baianas do Salgueiro encarnam rezadeiras

A Acadêmicos do Salgueiro desfilou nas primeiras horas de terça na Marquês de Sapucaí. Nesse carnaval, a escola levou à avenida o enredo “Salgueiro de corpo fechado”, sobre a busca pela proteção espiritual. As baianas representaram as rezadeiras e erveiras, matriarcas que aplicam sua sabedoria e esforço em prol da saúde religiosa da população.

“A proposta da fantasia traz um sincretismo religioso, com um pouquinho de cada religião. É a baiana tradicional, do jeito que eu queria. Eu gosto de baiana assim, com roda e pano de costa. Tem que ter responsabilidade, ter carinho, carisma, apego. Se não tiver isso, para mim não pode ser baiana”, pontuou a presidente da ala Tia Glorinha.

Tia Glorinha

As baianas abraçaram a criatividade do carnavalesco Jorge Silveira, que, através da abstração religiosa, proporcionou uma viagem pelos diversos Brasis.

“O enredo é muito bonito, muito bem escrito, muito bem desenvolvido. Ele é propício para o momento que a gente está vivendo. A gente está precisando ficar com o corpo fechado mesmo, se cuidar espiritualmente. Nós vamos receber umas ervas, que nós vamos passar na avenida limpando tudo e fechando o corpo nessa avenida”, comentou a técnica de enfermagem Elizabeth Garcia, de 55 anos.

Elizabeth

“Hoje é a minha estreia no Salgueiro. É um sonho desde os meus 3 anos de idade. A minha mãe me deu uma fantasia de baiana quando eu era criança. Ela é salgueirense e eu cresci com esse amor pelo Salgueiro. Meu grande sonho era estar aqui hoje. Eu estou muito feliz. Está muito bonito”, complementou.

“É muito lindo, muito lindo mesmo. Não é um enredo, é um mantra. Há muitos anos atrás, não tinha médico, mas havia rezadeiras e benzedeiras. As crianças eram levadas para combater doenças e trazer a cura”, pontuou a costureira Maria de Fátima da Silva, de 64 anos, que também estreou em 2025 na Academia do Samba.

Maria de Fatima 2

“A gente está perpetuando a nossa ancestralidade. Os nossos ancestrais vieram para o Brasil e trouxeram essa cultura de benzimento, de rezas. Trouxeram para cá e a gente está dando continuidade. As baianas abrem a escola, elas exaltam a escola, como se tivesse uma preparação da escola para entrar”, encerrou a educadora social Janaína Marcelino, de 59 anos. Janaína completou, nessa segunda, oito carnavais pelo Salgueiro.

 

Beija-Flor Carnaval 2025: galeria de fotos do desfile