Ponte estoura tempo e evolução apresenta problemas em desfile irregular
Terceira escola a pisar na Sapucaí na primeira noite de desfiles da Série Ouro, a Unidos da Ponte apresentou um desfile irregular, alternando bons e maus momentos. Com problemas de evolução e erro na apresentação do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, a escola meritiense atravessou a pista em 56 minutos, um a mais que o permitido no regulamento. Outrora criticado, o samba da escola apresentou desempenho satisfatório na avenida. * VEJA FOTOS DO DESFILE

O desfile da escola começou com certo atraso, devido ao acidente ocorrido na dispersão da Em Cima da Hora, o que pode ter ocasionado um certo esfriamento nos componentes. Em seu esquenta, a Unidos da Ponte relembrou sucessos antigos, como “Oferendas” e “Eles verão a Deus”.
Comissão de Frente
Coreografada por Valci Pelé, a Comissão de Frente da Unidos da Ponte veio representando o “O Anjo Bom da Bahia”. O grupo contava com 11 componentes homens e 4 mulheres, sendo uma representante da própria homenageada do enredo, Irmã Dulce, com as vestes características da mesma. Além da homenageada, outros integrantes da comissão representavam os desfavorecidos, com quem a Santa sempre teve relação, ao longo da vida.
Na apresentação, a Comissão de Frente da escola meritiense apostava na dramaticidade, com uma apresentação muito expressiva, na busca de impactar pela emoção. Os desfavorecidos faziam gestos expressivos que remetiam a sofrimento e fome, sendo esses ajudados pela componente que representava a Santa Dulce. O ponto alto da coreografia ocorria quando quatro componentes, anteriormente vestidos com tiras de saco plástico pretas, se transformavam em anjos, com uma bela roupa branca brilhosa e abriam as asas. Além disso, ao final da apresentação, a Irmã Dulce saia pelo alto do tripé, com luzes de led nas mãos.
Entretanto, no desenrolar da apresentação da Comissão, ao longo da avenida, ocorreram algumas falhas de execução na coreografia. No setor 6, a sanfona carregada pela Irmã Dulce, em um dos momentos da coreografia, ficou presa na porta do elemento cenográfico. Na última cabine, na hora da troca de roupas dos anjos, a asa de um dos componentes agarrou e não abriu.
O elemento cenográfico trazido pela Comissão, um barraco de palafitas que, no final se transformava em uma igreja, se mostrou bastante funcional na ideia. Porém, ao longo das apresentações, a cruz da igreja foi tombando para trás.
Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos da Ponte, Emanuel Lima e Camyla Nascimento, vestia uma bela fantasia em tons de branco com bege, que representava a santíssima trindade cristã, “Em nome do pai, do filho e do espírito santo”. Emanuel, que era o segundo mestre-sala da escola, assumiu o posto principal há poucos dias do desfile oficial, já que o antigo ocupante da posição, Yuri Souza, sofreu um acidente.
A dupla, que já desfila junta como segundo casal da Portela, no Grupo Especial, fez uma apresentação bem irregular ao longo da avenida, com falhas na execução. Logo na primeira cabine, do setor três, a mais grave das falhas, na qual a porta-bandeira se desequilibrou e caiu, na frente dos jurados. Nas outras cabines, talvez devido ao ocorrido, o casal apresentou certa insegurança na execução dos movimentos, com algumas falhas na sincronia.
Harmonia
A Harmonia da Unidos da Ponte também apresentou desempenho irregular na Avenida Marquês de Sapucaí, com muitas alas passando com componentes mudos ou cantando apenas o refrão do samba. Além disso, a escola apresentou certo esfriamento na avenida, talvez pelo atraso no início do desfile. De destaque positivo no quesito, a ala 18 da escola da Baixada, que representava “A Bahia de Todos os Santos”, com muita animação e cantando o samba.
O carro de som da escola de São João de Meriti, capitaneado por Charles Silva, teve bom desempenho na avenida. Os cantores conseguiram dar animação ao samba da Ponte, apesar de sua característica muito melódica, como em forma de oração.
Enredo
Com o enredo “Santa Dulce dos Pobres- O Anjo Bom da Bahia”, a Unidos da Ponte propunha contar a história de Irmã Dulce, baiana canonizada recentemente pela Igreja Católica. Ao longo do desfile, o enredo da escola mostrou uma certa dificuldade de compreensão, com algumas alas, sobretudo a partir do segundo setor, dando um certa “embolada” no enredo, perdendo um pouco da linearidade da história a se contar.
Evolução
O quesito evolução foi mais um problema para a escola meritiense. Com os carros apresentando alguns problemas de condução na pista, a escola alternou momentos muito parada, com buracos e momentos de correria.
No setor 4, o abre-alas da escola travou na pista, precisando ser empurrado por diversas pessoas. Com isso, as baianas avançaram, abrindo buraco na frente do módulo de julgadores.
No fim do desfile, mesmo sem a bateria entrar no recuo, devido aos momentos em que ficou excessivamente parada, a escola precisou apertar o passo e correu. Mesmo assim, no fechamento do portão, a Unidos da Ponte ultrapassou um minuto do tempo máximo permitido.
Samba
O samba da Unidos da Ponte, composto por Diego Nicolau, Richard Valença, Sandra de Sá e parceiros, teve bom desempenho no desfile da escola da Baixada. Apesar de sua característica mais “pra baixo”, a obra conseguiu sustentar o desfile da escola durante todo o tempo. O refrão principal da escola, sobretudo o trecho com referência mais clara à homenageada do enredo, “Santa Dulce dos pobres, Maria”, foi bem cantado na avenida.
Fantasias
As fantasias da Unidos da Ponte também mostraram certo desnível entre si, ao longo da avenida, com algumas alas contrastando fantasias com soluções mais elaboradas, como a ala do Sagrado Coração de Jesus e outras mais simples, como a segunda ala, “O vaso escolhido por Deus”.
Outra fantasia a se destacar foi a da ala das baianas da Unidos da Ponte, representando o ingresso de Irmã Dulce na congregação das Irmãs Missionárias, com uma bela roupa em tons de laranja e amarelo e a imagem de uma santa na saia. A ala das passistas de escola da Baixada Fluminense representou as “Pombas da Paz”, na Avenida Marquês de Sapucaí.
Alegorias
As alegorias da Unidos da Ponte, de forma geral, apresentaram bom nível no desfile, sobretudo se contrastadas com o último desfile da escola, em 2020. Ainda assim, algumas falhas de acabamento podiam ser notadas na pista.
O abre-alas da escola, representando os primeiros contatos de Irmã Dulce com a religião, majoritariamente em tons de dourado, com belas composições, sobretudo os elementos que representavam Jesus Cristo, com muita teatralidade nos gestos.
A segunda alegoria, “Estenda as Mãos para Acalentar os Filhos Teus”, representava o início do trabalho social de Irmã Dulce, no subúrbio da cidade de Salvador, onde a santa chegou a transformar um galinheiro em hospital.
A última alegoria, representando “A Bênção Senhora de São Salvador”, que aborda a canonização de Irmã Dulce, com referência a cidade de origem da homenageada e representa a pluralidade de religiões. No carro, os carnavalescos da escola fizeram uma homenagem ao ator Paulo Gustavo, falecido em decorrência da Covid-19, que era devoto da santa e doador para o mantimento das Obras Sociais da Irmã Dulce. Entretanto, nessa alegoria, ocorreram as principais falhas de acabamento, com uma escultura passando, inclusive, com a cabeça “amassada”
Outros destaques
A bateria da Unidos da Ponte, comandada por mestre Branco Ribeiro, representou Santo Antônio, de quem Irmã Dulce era devota. Os ritmistas estavam com uma roupa de fácil leitura e comunicação com o público, devido a popularidade do santo. Ao longo da avenida, na realização de uma das bossas, era lançada uma “chuva de fogo” no meio dos ritmistas.
Porto da Pedra traz importante morada de Xangô em alegoria
Com a segunda alegoria representando “Morada de Xangô”, que fala sobre o Ilê Axé Opô Afonjá, a casa da força de Xangô. Com esculturas do orixá e de seus 12 obás, o carro alegórico veio com detalhes em vermelho, branco e dourado como cores predominantes.
Axé! É o que se aplica no significado do segundo carro da Porto da Pedra. Com um trecho do samba dizendo: “Seis para defender, seis para julgar”. Houve uma cisão com o Candomblé da Barroquinha e o Candomblé da Boa Morte, e Mãe Aninha foi quem fundou o Opô Afonjá. Dividindo o poder masculino dentro do terreiro, ela criou o ministério de Xangô tendo 12 ministros.
Para um dos componentes da alegoria, o artista plástico Gustavo Trelling, de 33 anos, desfilar na Porto da Pedra é uma grande felicidade. Com a fantasia representando guerreiros africanos, ele explica sobre a sua função no carro: “Venho como guerreiro africano. Aqui estamos em quatro semi-destaques e um destaque central”.
Animados, era isso que definia o estado dos integrantes que estavam neste carro alegórico. A energia que emanava dos mesmos estava muito forte e a administradora Marcele Bizzo, de 36 anos, era uma dessas pessoas. “A mistura de culturas, a energia do espírito carnavalesco é algo imprescindível e muito legal de se ver também”, conta a integrante. A fantasia da administradora representava a realeza de Xangô.
A tradição dos 12 ministros de Xangô se mantém no Axé Opô Afonjá até hoje. Em entrevista para a equipe do site CARNAVALESCO, a professora de indumentária da Escola de Belas Artes da UFRJ, Samile Cunha, de 61 anos, é destaque da alegoria “Morada de Xangô” e vem representando uma ekedi de Xangô.
Ela revela o conhecimento sobre os ministros de Xangô: “Temos vários artistas e escritores que foram ministros do orixá. Muniz Sodré, Iltásio Tavares que faleceu recentemente também era ministro de Xangô e intelectuais ao longo de todo o século que foram ogãs”.
Ala das baianas da Porto da Pedra traz para a avenida o axé de Mãe Menininha de Xangô
A Unidos do Porto da Pedra levou para a Marquês de Sapucaí o enredo “Caçador que traz alegria”, que retrata a trajetória da líder religiosa e defensora da cultura negra: Mãe Stella de Oxossi. Quarta escola a desfilar nesta noite de quarta-feira, a Vermelho e Branco de São Gonçalo tem as mesmas cores do Ilê Axé Opô Afonjá, o terreiro de Mãe Aninha de Xangô, responsável pela iniciação de Mãe Stella nas tradições do Candomblé.
Mãe Aninha de Xangô é a matriarca do Ilê Axé Opô Afonjá e foi representada na ala das baianas da Porto da Pedra. A yalorixá dedicou boa parte de sua vida ao sagrado, à família e às questões sociais, servindo de inspiração para a trajetória de Mãe Stella, a grande homenageada da escola neste carnaval.
Maria Inês, de 69 anos, aposentada, contou ao site CARNAVALESCO que começou a desfilar como baiana da Porto da Pedra há 20 anos. Ela revela um pouco da emoção de estar de volta à avenida do samba: “Pra mim tá sendo ótimo, voltando a sair de baiana depois de quatro anos sem desfilar. A fantasia é uma maravilha, levíssima. Vai dar pra evoluir legal”.
A indumentária das senhoras da Porto da Pedra trazia tons quentes de vermelho e laranja sobre o tecido branco. Formas geométricas tribais faziam parte das saias, remetendo à temática afro. Nas costas, um esplendor com penas artificiais em degradê vermelho e branco, as cores da escola. No chapéu, as baianas carregavam ainda muito brilho em aljofre vermelho e dourado, com pedrarias vermelhas no centro.
Maria Hilda, de 81 anos, empregada doméstica, estava empolgada para representar Mãe Aninha de Xangô na passarela do samba, depois de dois anos de pandemia de covid-19. “Desde criança eu sempre gostei de brincar de carnaval. Com essa epidemia a gente ficou triste em casa, não podia fazer nada. Só morrendo gente… Agora que deu uma treguazinha, a gente aproveita”, confessou Maria, que desfila na escola há 5 anos.
Sônia Costa, 70 anos, enfermeira aposentada, veio de São Paulo especialmente para desfilar de baiana na Porto da Pedra. “Acho maravilhoso, porque eu sou do candomblé, sou filha de Oxóssi. Então pra mim está sendo uma benção, um axé muito grande”, revelou a baiana da escola, que disse ainda estar confortável com o peso da fantasia.
Mestre Pablo desfila de tigre guerreiro à frente da bateria da Porto da Pedra
A Unidos do Porto da Pedra foi a quarta agremiação a desfilar nesta noite de quarta-feira pela Série Ouro do carnaval carioca. O tigre de São Gonçalo levou para a avenida o enredo “Caçador que traz alegria”, contando a história da líder religiosa e defensora da cultura negra: Mãe Stella de Oxossi.
O primeiro setor do desfile, chamado “Assim aconteceu o encantamento”, falou da iniciação de Mãe Stella nas tradições do candomblé. A bateria Ritmo Feroz, comandada por mestre Pablo, veio representando os ogãs, que são responsáveis por diversas funções nos terreiros, entre elas o bom andamento do xirê, da roda e da dança.
Mestre Pablo, que costuma vir caracterizado em algum personagem na avenida, estava inteiramente fantasiado de tigre guerreiro. A indumentária utilizada por ele teve direito a garras nas unhas, maquiagem facial realista com bigode e até dentes de felino. O corpo da fantasia do mestre era de pelúcia laranja com detalhes em branco, imitando com fidelidade a pele rajada de um tigre.
“É uma mistura de tigre guerreiro com o tigre de Oxóssi, que eu vou estar lançando flechas na avenida. Eu liguei pra minha carnavalesca e falei que eu queria fazer parte do enredo, queria que representasse a comunidade de São Gonçalo… Ela sugeriu essa roupa, eu achei super massa e abracei a ideia”, revelou mestre Pablo.
Ele contou ao site CARNAVALESCO que apesar do processo de confecção da fantasia ter sido demorado, valeu a pena por conta do resultado final do figurino apresentado na passarela do samba.
“Hoje foi rápido, mas foram quatro dias seguidos… Um dia só para montar a roupa, outro dia para (montar) a espuma, outro dia para pintar. Meu maquiador Jorge Abreu foi muito feliz na escolha do figurino”.
Ao lado de mestre Pablo, a rainha de bateria Tati Minerato desfilou com a fantasia Agbara, representando a potência e a força necessária para os ritmistas dobrarem o couro dos instrumentos de percussão. A Porto da Pedra busca o retorno ao Grupo Especial do carnaval carioca após 10 anos.
Raízes ancestrais de Mãe Stella de Oxóssi: A representatividade da comissão de frente do Tigre de São Gonçalo
Diretamente de São Gonçalo, a Unidos do Porto da Pedra entrou na avenida com o enredo “Caçador que traz alegria”, que fala sobre a história da líder religiosa e defensora da cultura negra do candomblé: Mãe Stella de Oxóssi.
Representando as raízes da ancestralidade, e personificando o imaginário dos antepassados do Ilê Axé Opô Afonjá, a comissão de frente trouxe um Apaoká como elemento cenográfico. Em que deixa claro as raízes ancestrais deixadas por Mãe Stella.
A criação da comissão de frente comandada pelo coreógrafo Paulo Pina foi feita em conjunto com a carnavalesca Annik Salmon.
“A troca foi muito boa, gosto sempre de trocar com o carnavalesco e ela fez isso. É importante a ideia não ser de um e nem de outro e sim dos dois. Nos entendemos muito bem, mesmo sendo cansativo e estressante como é o carnaval, mas a comissão está linda”, conta o coreógrafo.
Estar em uma comissão de frente de uma escola de samba significa muito para todos os bailarinos, pois é uma grande oportunidade na carreira deles e o reconhecimento de todo trabalho feito também. Para o bailarino, Robson Schmoeller, de 40 anos, integrar a comissão de frente é um passo importante na sua profissão.
“Representar toda uma escola é uma posição especial, por mais que seja uma nota e até mesmo como ser-humano, não estou só ali. Somos o abre-alas da agremiação, quem dá a passagem”, explica.
Raízes da árvore de Mãe Stella, é isso que resume o que os integrantes da comissão do Tigre de São Gonçalo vieram representando. A componente do time do coreógrafo Paulo Pina, Enya Moreira é estudante de dança e tem 19 anos. Para ela, estar participando dessa comissão de frente é muito emocionante, e vir representando uma líder religiosa se torna mais gratificante. A estudante relata como foi a experiência de compor uma comissão de frente.
“Está sendo muito emocionante, é a minha primeira vez em uma comissão e depois da pandemia, torna tudo mais sentimental. Representar toda a ancestralidade de Mãe Stella, com Oxóssi e que vem reinando no caminho dela é de uma importância gigantesca”.
Falar sobre a líder religiosa é algo muito especial para os integrantes desta comissão e para o bailarino e artista circense, Elias Oliveira, de 24 anos, não é diferente.
“É uma representatividade muito grande e o que fizemos na avenida vai ficar marcado na história do carnaval do Rio de Janeiro. É sem dúvidas uma experiência única, marcante e especial para todos do elenco”, afirma o artista.
Algumas surpresas foram preparadas para que a comissão de frente de Paulo Pina brilhasse na avenida. Em entrevista para o site CARNAVALESCO, o coreógrafo agradece toda a dedicação da equipe.
“Graças a Deus tenho um time maravilhoso, que vestiu a blusa e ama o carnaval. Confio demais neles e tivemos um ótimo retorno”, revela.
Com uma equipe mista, formada por homens e mulheres, eles entraram na avenida com fantasias afro e também com os rostos pintados. Em detalhes nas cores marrom, azul e laranja.
Bateria da Ponte traz Santo Antônio para avenida, mas quem brilha é a diversidade
Representando Santo Antônio, o santo na qual irmã Dulce era devota, a bateria da Unidos da Ponte trouxe uma fantasia predominantemente marrom, com um adereço na cabeça que remete ao ‘corte’ de cabelo do Santo, sandálias rasteiras em outro tom de marrom e componentes de diversas religiões convivendo em harmonia e alegria.
Componentes como Vinicius, ritmista que desfila na escola desde sua infância, pois é morador de São João de Meriti, tem a família dentro da escola e se identifica enquanto umbandista. Para Vinicius, é importante a Ponte trazer a diversidade religiosa num momento em que o Brasil está registrando o aumento de denuncias de casos de intolerância religiosa e racismo.
“Estar com um enredo que aborda a religiosidade em um momento de muita intolerância religiosa no mundo, é importante para mostrar ao mundo todo o como é possível o combate a intolerância”, declarou Vinicius ao site CARNAVALESCO.
“Eu sair vestido de Santo Antônio é maior barato também, porque enquanto umbandista, eu acredito que eu estar com essa fantasia é um símbolo de que é possível se amar e se respeitar. O amor vem antes de qualquer coisa”, completou Vinicius.
Depois de dois anos sem carnaval, o enredo religioso e a fantasia de Santo Antônio desperta lágrimas de uma colega de bateria de Vinicius, a tocadora de cuíca Maristane. No entanto, ela faz questão de frisar que é um choro de alegria e não de dor.
“Quando eu coloquei a fantasia e me dei conta do enredo e que o carnaval ia voltar, eu fiquei com vontade de chorar, mas não chorar de dor, chorar de alegria, né? Isso é diferente de chorar de tristeza”, contou a ritmista ao CARNAVALESCO.
Para a ritmista, representar o santo no qual irmã Dulce era devota, é levar para avenida a importância e a beleza da fé.
“Eu acredito que a mensagem do enredo é a importância da fé. Acima de tudo temos que ter fé, porque ela é importante demais para nosso bem-estar, sabe? Eu penso que para esse carnaval de 2022, não importa quem vai ganhar ou quem vai perder, ou não sei, o que ta valendo e nosso enredo traz isso é estarmos bem e estarmos uns com os outros”, disse Maristane.
O carnaval voltou com alegria, com a expectativa de ser o carnaval do século e essa harmonia e conforto dos ritmistas da Ponte com o seu enredo, são fundamentais para o sucesso de uma escola de samba que pretende desfilar na Avenida.
Conversando com os componentes da escola, fica claro o quanto diversidade é a cultura do carnaval e como o carnaval de 2022 é símbolo da união.
“Eu não tenho religião, mas vejo muita intolerância no Brasil, então fica evidente como nosso enredo é válido e necessário”, disse Vitor de Oliveira, tocador de surdo que desfila a 3 anos na escola.
“Sou católico, mas não sou muito religioso. Vejo que no Brasil tem muita intolerância sim, principalmente as religiões de matrizes africanas. Penso que a população precisa repensar suas relações e fico feliz de estar num enredo que busca trazer isso para o público”, afirmou Luan.
‘A fé em Nossa Senhora que nos guia’. Unidos da Ponte trouxe à Sapucaí ala das baianas representando padroeira do Brasil
A ala das baianas foi incorporada ao carnaval ainda no ano de 1930 buscando uma forma de homenagear as chamadas tias do samba, que abrigavam os sambistas em suas casas, na época em que o samba ainda era marginalizado por todo o país.
No Rio de Janeiro, a ala deve conter obrigatoriamente 70 componentes e, apesar de
não ser um quesito principal, contabiliza para o quesito fantasia. Maria do Socorro, que desfila na ala das baianas há 5 anos, em entrevista ao CARNAVALESCO comentou sobre a importância dessa ala para escola.
“A ala das baianas é a alma da escola. A bateria é o coração pulsante e nós, a alma. Infelizmente não temos um quesito só para nós, mas o importante é contribuir para a escola e trazer uma representação e contribuição tão importante para o
enredo deste ano.”
Este ano, a ala das baianas da escola de São João de Meriti trouxe em sua fantasia uma representação mais do que especial para a composição do enredo em seu desfile. Com o nome “Sob as bênçãos de Nossa Senhora, a mãe de Deus”, representando assim, o ingresso da Irmã Dulce na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, onde realizou suas primeiras obrigações religiosas como noviça.
Valdirei Dutra, em seu primeiro ano desfilando, destacou a importância da fantasia para o enredo apresentado.
“Nós viemos representando o local onde a Santa Dulce pôde fazer suas primeiras obrigações. Onde a história dela começou, desde seus primeiros passos para hoje se tornar essa força para nossa fé, se tornando assim uma figura canonizada.”
A ala das baianas foi a primeira a passar pela Sapucaí e trouxe uma representação crucial da fé católica: Nossa Senhora, inspiração para o nome da Congregação em que Dulce ingressou. A escolha da fantasia para a ala das baianas, uma das
principais alas de uma escola, homenageou uma das pessoas mais acolhedoras, assim como conta sua história. A fantasia veio à Sapucaí leve, prática e de fácil manuseio, com cores que chamam atenção para uma das alas que mais tem destaque na escola, comentou Zelia Silva de 71 anos em entrevista para o site CARNAVALESCO.
Integrantes de ala da Ponte que lembrou romeiros falam de devoção a Irmã Dulce
A décima sexta ala da Unidos da Ponte a passar pela Sapucaí nesta quarta (20) foi a dos Romeiros – Peregrinos da Fé. As fantasias foram idealizadas e criadas por Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, carnavalescos trazidos de volta para 2022 pelo trabalho realizado em 2019 com a volta da escola para a Sapucaí, tinham como objetivo representar a
devoção dos fiéis à Irmã Dulce.
A palavra Romeiro tem sua origem dos peregrinos que vão à Aparecida do Norte, Roma e a outras cidades que são conhecidas como santuários. Pessoas que dedicam, principalmente os feriados católicos, a sua devoção ou alguma promessa
que deve ser paga aos santos. Os romeiros saem em carros enfeitados, carruagens, em cavalos ou a pé e durante todo trajeto, vão fazendo festa e pregando a fé.
Em entrevista para o site CARNAVALESCO, Arlete Soares, além de devota de Dulce, também é devota de São Francisco de Assis, comentou sobre as promessas que são feitas e sua importância para a fé religiosa.
“A minha fé com a fantasia que eu estou carregando, tem tudo a ver. Tenho depressão e o açúcar está alto, comprei o terço da Santa para pedir que ela me ajudasse e, com isso agora meu açúcar está instável. Então, mais do ninguém
posso dizer o quanto as promessas e essa devoção à ela é justa e necessária.”
Irmã Dulce é a primeira Santa Brasileira e carrega consigo diversos seguidores e fiéis até os dias atuais. Por ser de Salvador, Dulce ganhou destaque, inicialmente em território baiano, e ficou ainda mais conhecida ao cuidar e ajudar qualquer pessoa que cruzasse seu caminho, principalmente, as que estavam doentes. Jussara Novaes, que é nascida e criada no mesmo bairro da Ponte, em entrevista ao Carnavalesco, destacou sobre o que representa, principalmente, para as mulheres.
“A Dulce foi uma mulher, além de tudo que ela representa, ela também mostra a força feminina, nos dá ainda mais garra. Com essa situação difícil que nós passamos recentemente, com a fé, nós conseguimos superar e estamos aqui hoje”.
O samba-enredo que conta com partes que destacam as boas intenções de Irmã Dulce, como por exemplo “Fez da bondade, tua peregrinação”, consegue explicar porque a santa brasileira possuía tantos fiéis. Assim como Dulce foi importante para a expandir a fé católica.
“A irmã Dulce sempre teve um coração puro, sempre buscando atender os mais necessitados. Principalmente no Nordeste, achei muito importante trazê-la à Sapucaí, já que é a primeira Santa brasileira”, destacou Sônia Soares.